Buscar

Alterações imunológicas que o HIV proporciona

Prévia do material em texto

2. Explique as alterações imunológicas que o HIV proporciona. (imunologia) 
Histórico do vírus 
 O primeiro caso de AIDS foi descrito em 1981. A síndrome foi caracterizada por predisposição a infecções oportunistas, 
isto é, infecções facilmente evitadas por um sistema imune com função normal. Em 1983 o HIV-1 foi isolado e identificado. Há, na 
verdade, dois HIV estreitamente relacionados, o HIV-1 e o HIV-2 (menos virulento) que diferem tanto na origem quanto na 
sequência. A maioria dos casos de AIDS é causada pelo HIV-1. O HIV-2 é encontrado principalmente no oeste da Africa. 
 Tanto o HIV-1 quanto o HIV-2 originaram-se em primatas não humanos. Com base nas semelhanças de sequências com os 
vírus da imunodeficiência símia (SIV), o HIV provavelmente é o produto da evolução dos SIV estreitamente relacionados que 
passaram de seus hospedeiros primatas não humanos para seres humanos entre o início e o meio do século XX. A principal hipótese 
é de que os subtipos de SIV foram transmitidos para seres humanos por exposição da pele ou da mucosa a sangue de animais 
infectados. Esse quadro é compatível com a exposição direta frequente de caçadores de animais selvagens ao sangue de primatas. 
Subtipos de HIV 
 De acordo com as sequências virais, o HIV-1 é classificado em quatro grupos: M (main), O (outlier), N (não M, não O) e 
P (um vírus recém-descoberto provavelmente transmitido de gorilas para seres humanos), e cada um deles representa uma zoonose 
diferente. O HIV-2 é classificado em oito grupos, de A a H. O HIV-1 do grupo M disseminou-se por todo o mundo e é 
subclassificado em clados A a K, que predominam em diferentes regiões geográficas. Os outros três grupos, N, O e P, estão 
basicamente limitados ao Gabão, Camarões e países vizinhos do oeste da África. 
 A evolução dos diferentes clados do grupo M provavelmente ocorreu na população humana após um evento de transmissão 
cruzada entre espécies. Estima-se que o ancestral comum mais antigo do grupo M date do início do século XX, sugerindo que o 
HIV-1 vem infectando seres humanos há mais tempo do que se pensava, não notado clinicamente em populações da África Centro-
Ocidental. A disseminação inicial da AIDS pode ter resultado de vários fatores econômicos, sociais e comportamentais (p. ex., uso 
de agulhas não esterilizadas para injeção parenteral e vacinação) que facilitaram a transmissão do vírus. 
 Em geral, o HIV não causa AIDS de imediato e ainda há controvérsia em relação ao mecanismo preciso de danos ao sistema 
imune pelo vírus e se todos os indivíduos infectados pelo HIV-1 sempre desenvolverão a doença. 
Transmissão 
 A infecção inicial costuma ocorrer por exposição a líquidos corporais de uma pessoa infectada. O HIV é encontrado na 
forma de partículas virais livres e células infectadas no sêmen, no líquido vaginal e no leite materno. Atualmente, a via mais comum 
de transmissão em todo o mundo é a relação sexual. O uso de agulhas contaminadas para administração intravenosa de drogas e o 
uso de sangue e derivados para fins terapêuticos também são meios comuns de infecção pelo HIV. A pesquisa de HIV no sangue 
doado praticamente eliminou a transmissão por administração acidental de sangue humano infectado nos países desenvolvidos. 
Outra importante via de transmissão é de mães infectadas para os filhos. As mães podem transmitir HIV para o filho durante o parto 
ou ao amamentar. Na África, a taxa de transmissão perinatal é de cerca de 25%. A chance de transmissão perinatal é 
significativamente reduzida com a terapia antirretroviral materna. 
Evolução clínica da doença: da infecção à AIDS 
 Duas a 8 semanas após a infecção, 80% das pessoas têm viremia aguda. Os sintomas assemelham-se a uma gripe e 
compreendem febre alta, dor de garganta, cefaleia e aumento de volume dos linfonodos. Esse quadro é denominado síndrome 
retroviral aguda e os sintomas cessam espontaneamente em 1 a 4 semanas. Durante essa fase aguda, há uma explosão da replicação 
viral, sobretudo nas células T CD4+ intestinais, e um declínio acentuado correspondente das células T CD4+ circulantes. Nesse 
momento, a maioria das pessoas também inicia uma forte resposta de células T CD8+ HIV-específicas, que destrói as células 
infectadas, seguida por produção de anticorpos HIV-específicos (soroconversão). As células T CD8+ são consideradas importantes 
no controle da viremia primária. Os níveis de vírus alcançam um pico e caem à medida que as células T CD4+ ressurgem, mas em 
níveis ainda abaixo do normal (800 células/ml em comparação com 1.200 células/ml). Atualmente, o nível de vírus persistente no 
sangue depois de cessarem os sintomas de viremia aguda (o "ponto de equilíbrio") é o melhor indicador do prognóstico. 
 Após a infecção primária, segue-se um período de latência clínica (assintomático ou com poucos sintomas) durante o qual o 
HIV continua a se multiplicar, enquanto há declínio gradual da função e do número de células T CD4+. Existem vários mecanismos 
propostos de contribuição para a depleção de células T CD4+ durante a infecção pelo HIV. Primeiro, há os efeitos citopáticos 
diretos do vírus sobre a célula T hospedeira. Segundo, as células infectadas têm maior suscetibilidade à indução de apoptose. 
Terceiro, efeitos inespecíficos (bystander) podem levar à perda de células não infectadas por exposição a produtos virais ou 
moléculas que levam à ativação imune. Por fim, há eliminação de células T CD4 + infectadas por células T CD8+ que reconhecem 
os peptídios virais exibidos pelo MHC classe I. 
 A grande maioria dos indivíduos infectados pelo HIV desenvolve AIDS com o passar do tempo. O período assintomático 
costuma durar entre 2 e 15 anos; no entanto, o número de células T CD4 + funcionais acaba por cair abaixo de um limiar (cerca de 
400 células/ml) e começam a surgir infecções oportunistas. Depois que o número de células T CD4 + cai abaixo de 200 
células/ml, diz-se que a pessoa tem AIDS. 
 Nos estágios iniciais da doença pelo HIV-1, os micróbios oportunistas típicos que escapam do sistema imune celular 
comprometido são espécies orais de Candida e o Mycobacterium tuberculosis, que causam monilíase oral e tuberculose, 
respectivamente. Mais tarde, os pacientes costumam ter herpeszóster por ativação de vírus varicela-zóster latente de um caso prévio 
de varicela. Também é comum o desenvolvimento de linfomas de células B induzidos por EBV e sarcoma de Kaposi, um câncer de 
células endoteliais, provavelmente por causa dos efeitos das citocinas secretadas em resposta tanto à infecção pelo HIV existente 
quanto por um herpes-vírus (HHV-8) encontrado nesses tumores. A coinfecção de hepatite C/HIV também é comum e o avanço da 
hepatite C é acelerado. A pneumonia pelo fungo Pneumocystis jirovecii é frequente em pacientes e costumava ser fatal antes da 
introdução de terapia antifúngica eficaz. Nos estágios finais da AIDS, os principais patógenos causadores de infecção são 
Mycobacterium avium e citomegalovírus. As infecções respiratórias são a principal causa de morte em vítimas de AIDS. Embora as 
infecções e cânceres citados sejam típicos, nem todos os pacientes com AIDS têm essas doenças e também há vários outros tumores 
e infecções dignos de nota, embora menos proeminentes. 
 O tempo de avanço da infecção pelo HIV para AIDS varia muito em razão das variações genéticas no vírus e/ou 
hospedeiro. Por exemplo, alguns vírus são naturalmente atenuados e estão associados ao avanço mais lento da doença. 
 Dois pequenos grupos de pessoas despertam especial interesse para os pesquisadores em razão da capacidade de não 
adoecer após exposição ao HIV. O primeiro grupo, sobreviventes em longo prazo ao HIV, é claramente infectado pelo vírus, mas 
controla a replicação viral em baixos níveis e não desenvolve a doença. Nesse grupo, alguns indivíduos quase não têm vírus 
detectáveis e são denominados controladores de elite. O segundo grupo, de indivíduos soronegativos com alta exposição, foi 
exposto repetidasvezes ao HIV, mas não tem doença nem vírus detectável. É intrigante notar que alguns membros desse último 
grupo parecem ter células T CD8+ HIV-específicas, sugestivas de exposição prévia ao vírus ou ao menos a antígenos virais não 
infecciosos. 
 
 
 
REFERÊNCIA 
ROITT, Ivan M. Fundamentos de imunologia. 12 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013.

Continue navegando