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SEMINÁRIO DE DIREITO CIVIL - Contratos PROFESSOR: Prof. CARLOS ALEXANDRE HEES Aluna: ANA PAULA DE FREITAS RA 106.434 Aluno: FRANK HIDEKI KIRYU RA 65.644 Aluna: PALOMA SILVA MOREIRA DOS SANTOS RA 120.086 CONTRATO DE FIANÇA 1- INTRODUÇÃO O contrato de fiança é uma celebração entre o fiador e o credor. O fiador garante satisfazer ao credor uma obrigação assumida pelo devedor, caso este não a cumpra. A fiança é uma espécie de contrato de caução ou de garantia de execução de um contrato principal, acessório e subsidiário. 2- CONTRATO DE FIANÇA 2.1 CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA Conforme preleciona TARTUCE (2015, p.446), a fiança, também denominada caução fidejussória, é o contrato pelo qual alguém, o fiador, garante satisfazer ao credor uma obrigação assumida pelo devedor, caso este não cumpra (arts.. 818 a 838 do Código Civil). O contrato é celebrado entre o fiador e o credor, assumindo o primeiro uma responsabilidade sem existir um débito propriamente dito (“Haffung sem Schuld” ou, ainda, “obligatio sem debitum”). De acordo com TARTUCE (2015), existem duas formas de garantia: a garantia real e a garantia pessoal ou fidejussória. Na garantia real uma determinada coisa garante a dívida, como no caso do penhor, da hipoteca e a alienação fiduciária em garantia. Já na garantia pessoal, uma pessoa garante a dívida como acontece na fiança e no aval. A fiança é uma espécie de contrato de caução ou de garantia. É um contrato complexo, especial, sui generis, possui características próprias, não encontradas em qualquer outro negócio. Segundo GAGLIANO (2012), a fiança é uma modalidade de garantia pessoal ou fidejussória. É um negócio jurídico por meio do qual o fiador garante satisfazer ao credor uma obrigação assumida pelo devedor, caso este não a cumpra (art. 818 do CC-02; art. 1.481 do CC-16). A fiança é um contrato firmado entre credor e fiador, não tendo a participação obrigatória do devedor. (GAGLIANO, 2012, p.628). De acordo com o código civil de 2002: Art. 818: Pelo contrato de fiança, uma pessoa garante satisfazer ao credor uma obrigação assumida pelo devedor, caso este não a cumpra. Art. 819. A fiança dar-se-á por escrito, e não admite interpretação extensiva. Art. 820. Pode-se estipular a fiança, ainda que sem consentimento do devedor ou contra a sua vontade. Não se quer dizer que o devedor não tome ciência da instituição da garantia, pois tal comunicação é decorrência do próprio princípio da boa-fé objetiva. Pode até indicar ou sugerir o fiador, pessoa de sua confiança, que deverá ser aceito pela outra parte. Mas o que pretende o dispositivo é deixar claro que esta modalidade de garantia tem em mira o interesse do credor, e não do devedor, que não pode, como visto, opor-se à estipulação. (STOLZE, 2002, p.629) 2.2 CARACTERÍSTICAS Conforme ensina GAGLIANO (2012, p. 629), a fiança é, evidentemente, um contrato típico e nominado, pois se encontra previamente definida na lei civil, com nomenclatura consagrada e ampla utilização em relações civis, comerciais e consumeristas. Algumas de suas características mais marcantes são: a. Unilateralidade: uma vez celebrado o contrato de fiança, impõe-se obrigação apenas para uma das partes, no caso, o fiador. Por isso, não podem ser classificados como contratos comutativos ou aleatórios. b. Acessoriedade: sempre acompanha um contrato principal, criador da obrigação principal que é garantida. Por exemplo, um contrato de locação firmado com fiança locatícia: a locação é o contrato principal; a fiança, o contrato acessório. É um contrato definitivo, em relação às partes contratantes (fiador e afiançado), mesmo tendo a sua produção de efeitos condicionada ao (des) cumprimento da obrigação do contrato principal. c. Gratuidade: apenas traz benefício para uma das partes (credor), sem que se lhe imponha contraprestação alguma. Possui característica de não onerosidade, excepcionalmente, todavia, a fiança poderá ser onerosa, caso o fiador seja remunerado. Tal retribuição, dada a natureza sui generis deste contrato, ausente a característica geral do sinalagma, há de ser efetuada pelo próprio afiançado, ou seja, quem se onera não é o credor — parte do contrato de fiança — mas o devedor afiançado. Trata-se de uma onerosidade especial, a exemplo do que ocorre na fiança bancária, pois o onerado não é parte do próprio contrato. d. Forma: a fiança escapa ao princípio geral da liberdade da forma, pois, em virtude de dispositivo específico (art. 819 do CC-02), é exigido instrumento escrito, não admitindo interpretação extensiva. Caso as partes pretendam dar eficácia erga omnes a este contrato, deverão registrá-lo no Cartório de Títulos e Documentos. Reforçando o seu formalismo, em determinadas situações exige-se a outorga uxória, a teor do art. 1.647. e. Modalidades de celebração: paritária e adesão. Na modalidade paritária as partes estão em iguais condições de negociação, livremente estabelecem as cláusulas contratuais. Na modalidade adesão, um dos pactuantes impõe as cláusulas do negócio jurídico. É um contrato individual, estipulado sempre entre pessoas determinadas. Preleciona GAGLIANO (2012), que: “Trata-se de um contrato individual, estipulado sempre entre pessoas determinadas”. STOLZE ensina ainda que: As obrigações da fiança se transmitem mortis causa, até os limites das forças da herança, conforme estabelecido no art. 836 do CC-02 (art. 1.501 do CC-16): “Art. 836. A obrigação do fiador passa aos herdeiros; mas a responsabilidade da fiança se limita ao tempo decorrido até a morte do fiador, e não pode ultrapassar as forças da herança”. Dessa forma, podemos afirmar que a fiança é, sim, um contrato personalíssimo, mas que, constituído o dever de pagar (pela inadimplência do devedor da obrigação principal), antes do advento da morte do fiador, esta responsabilidade se transmite a seus herdeiros. (p.631) Quanto ao tempo, é um contrato de duração temporário. A duração pode ser determinada ou indeterminada, na medida em que haja ou não previsão expressa de termo final ou condição resolutiva a limitar a eficácia do contrato. Quanto à função econômica, a fiança é um contrato de prevenção de riscos, pois resguarda a possibilidade de dano futuro e eventual que se refere ao eventual inadimplemento por parte do devedor da obrigação principal. 2.3 PARTES Segundo GAGLIANO (2012), as partes, no contrato de fiança, são o credor e o fiador. Trata-se de uma estipulação pactuada entre estas duas partes, e não com o devedor afiançado. Pressupõe-se a capacidade das partes envolvidas. De acordo com o Código Civil de 2002, em seu artigo 826: “Se o fiador se tornar insolvente ou incapaz, poderá o credor exigir que seja substituído.” 2.4 OBJETO Segundo GAGLIANO (2012, p. 633), o objeto de todo contrato de fiança é a dívida que se quer garantir. Apenas terá efeito a fiança quando: a obrigação principal se tornar exigível, admitindo, o legislador, nessa linha de intelecção, que se possa estipular a garantia fidejussória em face de débito futuro, embora, neste caso, o fiador não seja demandado senão depois que se fizer certa e líquida a obrigação do principal devedor (art. 821 do CC-02). Não teria sentido a fiança, garantia pessoal prestada por terceiro, superar o valor da obrigação principal. Se assim o fosse, estar-se-ia, indiscutivelmente, incrementando o enriquecimento sem causa do credor. Observamos, apenas, que o legislador, em vez de utilizar a expressão “não valerá”, deveria ter dito “não terá eficácia”, uma vez que a impropriedade se refere ao plano de eficácia, e não ao de validade. Ao garantir a obrigação principal, o fiador assume-a de maneira ampla, compreendendo-se os seus acessórios, inclusive as eventuais despesas processuais assumidas pelo credor, desde a sua citação. Conforme dispõe os artigos 822 e 823 do código civil de 2002: Art. 822. Não sendo limitada, a fiança compreenderá todos os acessórios da dívidaprincipal, inclusive as despesas judiciais, desde a citação do fiador. Art. 823. A fiança pode ser de valor inferior ao da obrigação principal e contraída em condições menos onerosas, e, quando exceder o valor da dívida, ou for mais onerosa que ela, não valerá senão até ao limite da obrigação afiançada. As obrigações nulas não são suscetíveis de fiança. Qualquer outra causa de nulidade da obrigação principal prejudica a fiança, salvo se o devedor for absoluta ou relativamente incapaz. Visando a protegê-lo, o legislador preferiu manter a fiança. De acordo com o art. 824 do código civil de 2002: As obrigações nulas não são suscetíveis de fiança, exceto se a nulidade resultar apenas de incapacidade pessoal do devedor. Assim, se um menor de 14 anos (absolutamente incapaz) contrai uma obrigação, esta poderá ser exigível do fiador, que não terá ação regressiva contra ele. Assumiu, pois, o risco de garantir uma dívida alheia sem direito ulterior ao reembolso. 2.5 ESPÉCIES DE FIANÇA: Existem duas espécies de fiança: a civil e criminal. Segundo GAGLIANO (2012, p. 635), a expressão “fiança” tem objetivos completamente distintos, a depender do campo de atuação em que se esteja trabalhando, qual seja, civil (o que se define por exclusão, ou seja, todas as relações não criminais, como civis stricto sensu, comerciais, consumeristas etc.) ou penal. Ambas têm o sentido de garantia. Diferem, todavia, na finalidade específica. A fiança civil é uma relação jurídica contratual, estabelecida entre o credor de uma obrigação e um sujeito garantidor, com seu patrimônio pessoal, para eventual hipótese de descumprimento de uma prestação principal, pelo efetivo devedor. Trata-se, portanto, de um contrato que reforça a solvabilidade de uma obrigação patrimonial. A unificação da disciplina das obrigações civis e comerciais fez perder o sentido da especificação de fiança civil e fiança comercial. Já a fiança criminal garante não o cumprimento de uma prestação patrimonial, mas, sim, o direito à liberdade do acusado, na efetivação da presunção de sua inocência até o trânsito em julgado do processo penal correspondente. 2.6 EFEITOS DA FIANÇA Segundo GAGLIANO (2012), a celebração deste tipo de contrato gera efeitos tanto para os sujeitos contratantes (credor e fiador) quanto para o devedor afiançado. O instituto do benefício de ordem é uma das mais importantes características deste contrato. O fiador é um sujeito passivo de segundo grau, ou seja, um garantidor da obrigação principal. Como a natureza jurídica do contrato de fiança é uma garantia pessoal ou fidejussória, acessória da obrigação principal, conclui-se que, na essência do instituto, a obrigação do fiador é, em princípio, meramente subsidiária. A subsidiariedade nada mais é do que uma solidariedade com preferência. Vale lembrar que a expressão “subsidiária” se refere a tudo que vem em reforço de... Ou em substituição de..., ou seja, não sendo possível executar o efetivo devedor — sujeito passivo direto da relação jurídica obrigacional —, devem ser executados os demais responsáveis pela dívida contraída. Obrigação subsidiária traduz-se, pois, como uma verdadeira responsabilidade subsidiária. Afinal de contas, nem sempre quem tem responsabilidade por um débito se vinculou originariamente a ele por causa de uma relação jurídica principal, sendo este, justamente, o caso do fiador. (Gagliano, 2012, p. 638). O fiador dispõe um instrumento jurídico eficaz para fazer valer a sua responsabilidade subsidiária: o benefício de ordem ou excussão. É um meio de defesa patrimonial pelo qual o fiador, demandado pelo credor, aponta bens livres e desembargados do devedor, para serem excutidos em primeiro lugar, pois a sua responsabilidade é meramente subsidiária. Apresentado no novo Código Civil: Art. 827. O fiador demandado pelo pagamento da dívida tem direito a exigir, até a contestação da lide, que sejam primeiro executados os bens do devedor. Parágrafo único. O fiador que alegar o benefício de ordem, a que se refere este artigo, deve nomear bens do devedor, sitos no mesmo município, livres e desembargados, quantos bastem para solver o débito. Na forma do art. 828 do código civil, não aproveita este benefício ao fiador: I - se ele o renunciou expressamente; II - se se obrigou como principal pagador, ou devedor solidário; III - se o devedor for insolvente, ou falido. Sobre a renúncia, GAGLIANO (2012, p. 640), diz que: A renúncia é uma declaração de vontade abdicativa de um direito. Na hipótese vertente, o fiador voluntariamente afasta de si o direito de indicar preferencialmente bens do devedor, de maneira que, se for demandado primeiro, nada poderá alegar. É o que também ocorre quando se obriga como principal pagador ou solidariamente vincula-se ao cumprimento da obrigação. Em ambos os casos, é como se estivesse renunciando ao benefício legal. Quanto à solidariedade passiva, em uma determinada obrigação, concorre uma pluralidade de devedores, cada um deles obrigado ao pagamento de toda a dívida. O benefício não pode ser alegado se o devedor for insolvente ou falido, ou seja, se o devedor não tem mais bens livres e desembargados para solver o débito, incidindo, portanto, na hipótese básica de responsabilidade do fiador. GAGLIANO (2012). 2.7 DIREITOS E DEVERES DAS PARTES Conforme preleciona GAGLIANO (2012), o credor tem um dever geral de respeitar o benefício de ordem, caso seja este aplicável, em uma espécie de “dever geral de abstenção”. O credor só poderá exigir a fiança no termo fixado para a obrigação principal. Ainda assim, tais “deveres” não descaracterizam a unilateralidade do contrato. O credor tem o direito de exigir, observando o termo da obrigação ou, se for o caso, o mencionado benefício, o cumprimento da prestação pelo fiador, no caso de descumprimento pelo devedor. A obrigação fundamental do fiador é responder pela dívida na ausência do devedor. Segundo GAGLIANO (2012): Pagando a dívida, outrossim, por medida de justiça e respeito ao princípio da vedação ao enriquecimento indevido, terá o fiador direito de regresso contra o devedor, podendo reclamar não somente o valor histórico da divida, mas, também, todos os acessórios, como correção monetária, juros, despesas com o desembolso e perdas e danos, sub-rogando-se nos direitos do credor, [...] (p. 640). 2.8 EXTINÇÃO DA FIANÇA Segundo GAGLIANO (2012): A fiança, enquanto contrato acessório, extingue-se, em princípio, com o pagamento da obrigação principal. Além disso, podem ser invocadas, por óbvio, as modalidades extintivas do contrato, sejam causas anteriores ou contemporâneas à sua formação (ex.: invalidade), sejam supervenientes, com a dissolução da obrigação (ex.: por resolução, resilição ou rescisão) [...]. (p.649). Segundo GAGLIANO (2012): Extingue-se também com o advento do seu termo final, ou quando, (...), houver exoneração da garantia (art. 835 do CC-02), ou em caso de novação da obrigação principal (art. 366 do CC-02) [...] (p. 651) Conforme preleciona TARTUCE (2016, p. 895): Além da extinção da fiança em decorrência da morte do fiador e da resilição unilateral (...), os arts. 837 a 839 do CC trazem outras causas de extinção. Vejamos: - Nos termos do art. 837 do CC, o fiador poderá opor ao credor as defesas ou exceções que lhe forem pessoais e que geram a extinção do contrato (v. G., nulidade, anulabilidade, incapacidade). Poderá alegar também as defesas extintivas da obrigação que competem ao devedor principal (v. G., pagamento direto ou indireto, prescrição). - O fiador, ainda que solidário, ficará desobrigado se, sem o seu consentimento, o credor conceder moratória ao devedor (art. 838 I). O Superior Tribunal de Justiça entende que a regra também se aplica no caso de transação entre as partes, o que parece óbvio: "Conquanto a transação e a moratória sejam institutos jurídicos diversos, ambas têm o efeito comum de exoneração do fiador que não anuiu com oacordo firmado entre credor e devedor (art. 838, I, do CC)" (STJ, REsp 1.0 1 3.436/RS, Rei. Min. Luis Felipe Salomão, j. 1 1.09.20 1 2, publicado no seu Informativo n. 504). A fiança será extinta se, por fato do credor, for impossível a sub-rogação nos seus direitos e preferências. A título de exemplo, pode ser citado o caso em que o credor renuncia a eventual preferência sobre coisa que detinha, em decorrência de direito real de garantia, hipótese em que não interessará a sub-rogação ao fiador. A fiança ainda será extinta se o credor, em pagamento da dívida, aceitar amigavelmente do devedor objeto diverso do conteúdo da dívida obrigada, ainda que depois venha a perdê-lo em decorrência de evicção (dação em pagamento). O art. 839 do Código Civil enuncia que se for invocado o benefício de ordem e o devedor, retardando-se a execução, cair em insolvência, ficará exonerado o fiador que invocou este benefício. Para tanto, deverá o fiador comprovar que os bens por ele indicados eram, ao tempo da penhora, suficientes para a solução da dívida afiançada. A norma tende a punir a inoperância do credor, a negligência do mesmo em receber a sua dívida. Além do que consta nesses dispositivos, a extinção da fiança pode ocorrer também por ato amigável entre o fiador e o credor (distrato) ou por decisão judicial em ação de exoneração de fiança, que seguia o rito ordinário (CPC/ 1973), atual procedimento comum (CPC/2015). Nessa ação, caberá ao fiador alegar todas as causas aqui elencadas, seja em relação à fiança, seja em relação à dívida garantida. 3- CONCLUSÃO O contrato de fiança é uma garantia ao credor de uma obrigação assumida pelo devedor, caso ele não venha a cumprir. Importante salientar os casos em que o fiador poderá ficar desobrigado de pagar a fiança e os casos de extinção deste contrato. 4- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Novo Código Civil Brasileiro. Legislação Federal. Sítio eletrônico internet - planalto. Gov. Br GAGLIANO, P.S. Novo curso de Direito Civil. Volume 4: Contratos, Tomo II: Contratos em espécie. 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012. TARTUCE, F. Direito Civil. Volume 3: Teoria Geral dos contratos e contratos em espécie. 10ª ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2015. TARTUCE, F. Manual de Direito Civil: Volume único. 6ª ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2016.
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