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T cnicas avan adas de anamnese para é ç pacientes desafiadores Mesmo se um paciente for desafiador, lembre-se sempre da importância de ouví-lo e de esclarecer as suas preocupações. Paciente calado O silêncio tem muitos significados, não precisa se sentir desconfortável. Geralmente, os pacientes ficam em silêncio para organizar seus pensamentos, lembrar-se de detalhes ou decidir se podem confiar em você para determinadas informações. É crucial que o profissional seja atencioso e respeitoso e que encoraje o paciente a falar quando estiver disposto. Além disso, deve-se observar o paciente atentamente à procura de indícios não verbais, tais como dificuldade de controlar emoções. Os pacientes com depressão ou demência podem parecer apáticos e sem afeto, dando apenas respostas curtas às perguntas, e, em seguida, ficando em silêncio. Se o início da anamnese não fluiu bem, comece um exame exploratório do estado mental e faça perguntas mais diretas sobre os sintomas de depressão. #Bônus Analise o silêncio do paciente– Confirme que o silêncio do paciente é uma reação ou não ao modo como você faz o questionamento. Se for esse o caso, é preciso perguntar ao paciente diretamente: “Você parece muito quieto. Eu fiz alguma coisa que o aborreceu? Ocasionalmente, as perguntas podem ter sido curtas e feitas em sequência muito rápida; ou você pode ter ofendido o paciente ao manifestar desaprovação ou crítica; ou você pode não ter reconhecido um sintoma importante como dor, náuseas ou dispneia. Paciente confuso Quando o relato do paciente é confuso e parece não fazer sentido, é preciso usar suas habilidades de questionamento direcionado, de esclarecimento e de resumo, para construir uma história da doença atual coerente. Ademais, deve-se estar atento(a) para um problema subjacente, que esteja interferindo na comunicação. Se houver suspeita de transtorno psiquiátrico ou neurológico, obter um relato detalhado pode deixar você e seu paciente cansados e frustrados. Deve-se, então, passar para o exame do estado mental, focalizando o nível de consciência, a orientação no tempo e no espaço, a memória e a capacidade de compreensão. OBS.: Para facilitar essa transição, use perguntas como: “Quando foi sua última consulta na clínica? Deixe-me ver faz quanto tempo?” “Seu … endereço agora é ? e o número do seu … … telefone?”. Você pode confirmar essas respostas no prontuário ou pedir permissão para falar com membros da família ou amigos para obter relatos deles. Com os pacientes que parecem ter todos os sintomas perguntados ou “uma revisão de sistemas positiva”, é preciso focar no contexto do sintoma, enfatizando a perspectiva do paciente, e orientando a entrevista para uma avaliação psicossocial. Paciente com cogni o alteradaçã Alguns pacientes não conseguem informar seus problemas por causa de delirium, demência ou transtornos da saúde mental. Outros não conseguem lembrar-se de partes da própria história, como eventos relacionados com doença febril ou crise epiléptica. Então, procure as informações de outras fontes, como membros da família ou profissionais de saúde. OBS1.: Sempre busque a fonte mais bem informada. OBS2.: Lembre-se de que, enquanto estiver reunindo as informações sobre a história com o(a) acompanhante do paciente, você não deve divulgá-las a menos que o informante seja o responsável legal ou o procurador para cuidados de saúde ou se você tiver permissão do paciente. Estabeleça como eles conheceram o paciente caso não seja um familiar.– #Bônus O que fazer se o paciente não tiver – capacidade de tomada de decisão sobre o seu atendimento? Identifique um procurador para cuidados de saúde ou um representante com procuração para cuidados da saúde. E, se o paciente não tiver identificado um responsável legal para tomar as decisões, então, essa função pode ser transferida para o cônjuge ou membro da família. É importante lembrar que a capacidade de tomar decisões é tanto “temporal como situacional”, já que pode variar dependendo das condições clínicas do paciente e da complexidade da decisão envolvida. Mesmo que os pacientes não tenham capacidade para tomar determinadas decisões, ainda assim é importante pedir sua opinião, para saber como eles querem ser atendidos. Paciente prolixo Deixe o paciente falar por 5 a 10 minutos, enquanto o escuta com atenção. Talvez ele só precise de um bom ouvinte e esteja apenas verbalizando preocupações guardadas há algum tempo ou talvez apenas goste de contar histórias. É preciso focalizar no que parece ser mais importante para o paciente. Mostre seu interesse fazendo perguntas sobre esses tópicos. Interrompa apenas se for necessário, mas seja cortês. Um resumo conciso pode ajudar a mudar o assunto e, ao mesmo tempo, validar quaisquer anseios do paciente. Uma opção é perguntar ao paciente: “Deixe- me ver se compreendi. Você descreveu vários problemas. [ ] Qual é o seu problema hoje?”… Evite demonstrar impaciência. Se o tempo acabar, explique a necessidade de uma segunda consulta e prepare o paciente, definindo um limite de tempo. “Sei que temos muito para conversar ainda. Você pode retornar na próxima semana? A consulta será de 30 min.” Paciente choroso O choro sinaliza emoções fortes, que variam de tristeza a raiva ou frustração. Faça uma pausa, sonde com gentileza o motivo do choro e responda-o com empatia. Isso transmite para o paciente a sensação de que ele pode chorar. Além disso, ofereça um lenço de papel e espere o paciente se recompor. E finalize com um comentário de apoio, como: “Chorar faz bem. Fico feliz por você ter conseguido expressar seus sentimentos, colocando isso para fora”. A partir daí, a maioria dos pacientes se recompõe rapidamente e retoma o relato OBS1.: De modo geral, o choro é terapêutico. OBS2.: Se o choro costuma te causar desconforto como profissional da assistência., aprenda a aceitar demonstrações de emoção de modo a poder apoiar seus pacientes nesses momentos. Paciente zangado ou agressivo Pelo fato de estar doentes, de ter sofrido uma perda, de ter perdido o controle de sua saúde e/ou de sentir-se subjugados pelo sistema de saúde, muitos pacientes têm motivos para estar zangados. E, infelizmente, eles podem direcionar essa raiva para você, como reflexo da própria dor ou frustração.. Aprenda a aceitar os sentimentos de raiva dos pacientes sem retornar o sentimento ou distanciar-se. Evite reforçar a crítica a outros médicos, ao ambiente clínico ou hospital, mesmo concordando. É possível validar os sentimentos dos pacientes sem concordar com seus motivos. Depois de o paciente se acalmar, ajude-o a superar os sentimentos de raiva e avance para outras questões. Antes de abordar pacientes agressivos, beligerantes ou fora de controle, alerte a equipe de segurança, pois uma das responsabilidades dos profissionais de saúde é garantir um ambiente seguro. É importante permanecer calmo e não confrontar o paciente. Mantenha uma postura relaxada e não ameaçadora. Em primeiro lugar, não tente fazer os pacientes agressivos baixarem a voz ou pararem de ameaçar a equipe ou você. Escute-os com atenção. Tente compreender o que eles estão falando. Após estabelecer a comunicação, sugira gentilmente que se desloquem para um local mais tranquilo. Paciente que fala outro idioma Apesar de ser menos provável que essas pessoas recebam cuidados preventivos ou atendimento primário, é mais provável terem problemas com a assistência à saúde e desfechos adversos por erros médicos. Por isso, aprender a trabalhar com intérpretes qualificados é essencial para obter desfechos de saúde ótimos e prestar assistência custo-efetiva. Se o paciente fala um idioma diferente do usado no país, esforce-se ao máximo para encontrar um intérprete treinado. Falar algumas palavras na língua do paciente pode ser uma abordagem simpática, mas não substitui uma anamnese completa. Atente-se, afinal, mesmo se você forfluente, pode perder nuances importantes nos significados de algumas palavras. Ademais, recrutar os membros da família como tradutores é perigoso, já que pode violar a confidencialidade e as informações podem ser incompletas, enganosas ou prejudiciais. Explicações longas dos pacientes podem ser abreviadas, omitindo detalhes importantes. O intérprete ideal é um “navegador cultural”, que é neutro e qualificado nos dois idiomas e culturas. OBS.: No entanto, mesmo os intérpretes qualificados podem não estar familiarizados com as várias subculturas em muitas sociedades. #Bônus Como trabalhar com um intérprete?– Comece sendo simpático(a) e revisando as informações que são mais valiosas. Peça ao intérprete a tradução completa, sem condensações ou resumos. Apresente todas as pessoas que estão no recinto, incluindo suas funções. Arrume o recinto de modo que você tenha contato visual com o paciente. Peça para o intérprete sentar-se perto do paciente ou atrás de você, o que evita a necessidade de ter que mover a cabeça para lá e para cá. Faça perguntas curtas, simples e diretas. Ajude o intérprete e informe as metas de cada segmento da anamnese. OBS.: O paciente deve ser o foco da consulta, interaja com ele e não com o intérprete. E mantenha o controle da interação e não deixe o paciente ou o intérprete dominar a conversa. No final, agradeça ao intérprete e ao paciente. E, no prontuário, anote a necessidade do intérprete e quem atuou como intérprete durante o atendimento. Quando for possível, use questionários escritos em dois idiomas, os quais são muito úteis, especialmente, no Interrogatório Sintomatológico. Mas antes de tudo, verifique se o paciente consegue ler no próprio idioma. Se não souber, peça ajuda ao intérprete. Ademais, em alguns ambientes clínicos, é possível usar um tradutor automático de voz, se disponível. Paciente com baixa escolaridade ou pouco conhecimento de sa deú Antes de fornecer orientações escritas, verifique se o paciente sabe ler. OBS.: A baixa escolaridade pode ser o motivo de muitos pacientes não fazerem uso da medicação prescrita ou de não seguirem as recomendações. Tenha paciência e não confunda falta de escolaridade com falta de inteligência. Explore os motivos da baixa escolaridade barreiras linguísticas, distúrbios de – aprendizagem, déficit visual ou nível de escolaridade. A incapacidade de compreender informações sobre saúde vai além da leitura. Inclui as habilidades práticas das quais o paciente precisa para deslocar-se nas instalações de assistência à saúde: capacidade de interpretar informações de saúde impressas ou de usar informações quantitativas para tarefas como interpretar rótulos de alimentos ou aderir a esquemas medicamentosos ou capacidade de falar e escutar efetivamente. Tal dificuldade pode resultar em desfechos de saúde insatisfatórios e comprometimento do uso dos serviços de saúde. Paciente com d ficit auditivo é Essa população trata-se de um grupo heterogêneo que engloba pessoas com graus variáveis de perda auditiva, que falam muitos idiomas e pertencem a culturas diferentes. Os fatores que precisam ser levados em conta incluem grau de perda auditiva, idade do paciente quando ocorreu a perda auditiva, o idioma preferido e questões psicológicas.. OBS.: O risco de erros na comunicação é elevado. Em primeiro lugar, deve-se descobrir se o paciente pertence à cultura surda ou à cultura ouvinte, quando a perda auditiva ocorreu em relação à aquisição da fala e da linguagem e os tipos de escola que o paciente frequentou. Alguns pacientes podem usar a linguagem de sinais, já outros podem usar combinações variáveis da linguagem de sinais e da fala. É possível contar com a ajuda de um intérprete também. Os déficits auditivos parciais variam. Se o paciente tiver aparelho auditivo, descubra se ele o está usando. Certifique-se de que este funcione. Para pacientes com perda auditiva unilateral, sente-se no lado em que escutam. A pessoa com comprometimento auditivo leve a moderado pode não ter consciência do problema; por isso, essa situação deve ser abordada com delicadeza. Elimine o ruído de fundo oriundo da televisão ou do corredor. Faça a entrevista olhando de frente para pacientes que conseguem fazer leitura labial, com boa iluminação. Fale em volume e frequência normais. Não deixe que sua voz fique mais baixa no final das frases, não cubra sua boca, nem olhe para seus papéis enquanto fala. Ao encerrar, escreva as instruções para que eles possam levá-las para casa. Paciente com d ficit visualé Se o paciente for cego, aperte suas mãos para estabelecer contato; além disso, explique quem é você e o motivo da consulta. Se o paciente não conhecer o recinto, oriente-o e avise se houver mais alguém no local. Se for útil, ajuste a luz. Encoraje os pacientes com déficit visual a usar óculos sempre que for possível. Procure fazer explicações mais verbais, até porque suas posturas e gestos podem não ser vistos. Paciente com retardo mental Geralmente, as pessoas com inteligência limitada de forma moderada conseguem fornecer relatos adequados. Se você suspeitar de comprometimento intelectual, dê atenção especial ao registro escolar do paciente e à sua capacidade funcional independente. A história sexual é igualmente importante, embora, muitas vezes, não seja pesquisada. Descubra se o paciente é sexualmente ativo e forneça informações sobre gestação ou infecções sexualmente transmissíveis (IST), se necessário. Ademais, faça uma transição para o exame do estado mental e avalie a capacidade de realizar cálculos simples, o vocabulário, a memória e o pensamento abstrato. No caso de pacientes com retardo mental importante, peça informações aos familiares ou cuidadores, mas sempre demonstre interesse primeiro no paciente. Estabeleça comunicação, faça contato visual e inicie uma conversação com termos simples. Paciente com problemas pessoais Os pacientes podem pedir conselhos sobre problemas pessoais que não pertencem à sua competência profissional. Em vez de responder, pergunte sobre quais alternativas o paciente ponderou, prós e contras relacionados, e sobre as opiniões de outras pessoas. O simples ato de deixar o paciente falar sobre o problema é mais terapêutico do que dar sua própria opinião. Paciente sedutor Os profissionais de saúde, ocasionalmente, sentem atração física por seus pacientes. Do mesmo modo, pacientes podem fazer insinuações sexuais ou flertar. A intimidade física e emocional do relacionamento entre o paciente e os profissionais de saúde pode provocar esses sentimentos de ordem sexual. Tais sentimentos não devem afetar seu comportamento profissional. Qualquer contato sexual ou relacionamento romântico com pacientes viola a ética profissional. Mantenha o relacionamento com o paciente no nível profissional e procure ajuda se for necessário. Se não tiver certeza de que o paciente tem atitudes de sedução, você pode ignorar tal comportamento ou, ainda sim, deixar claro, de forma calma, que o relacionamento é de natureza profissional, não pessoal. Avalie e evite quaisquer insinuações indevidas para com o paciente. Referência bibliográfica: BICKLEY, Lynn S. Bates, propedêutica médica / Lynn S. Bickley, Peter G. Szilagyi; editor convidado Richard M. Hoffman; tradução e revisão técnica Maria de Fátima Azevedo. - 12. ed.. - Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018.
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