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Comitê Científico: Arthur Heinstein Apolinario de Albuquerque Souto Glauber de Lucena Cordeiro Waleska Bezerra de Carvalho Vasconcelos José Herbert Luna Lisboa Ulisses Leite Crispim Projeto Gráfico: Núcleo de Publicações Institucionais (NPI) Colaboradores: Beatriz Vitória Pereira de Lima Camila Mariel Pereira Morais de Albuquerque Fabrycio Marinho Veras Mascena Giovanna Márcia de Arruda Leite Ilanna de Brito Lyra Silva Meira Costa Jocieli Hermano da Silva Cabral Kalyane Dias de Araújo Melo Larissa Maria da Silva Rodrigues Lucas Vinícius dos Santos Amaral Mariá Adelaide de Sá Varandas Neta Maria Danielma da Silva Rodrigues Maria Júlia Damasceno Bezerra Maria Julia Silva Rezende Maria Rafaela Vitória Silva de Araújo Maryane Dayara Batista de Souza Palloma da Silva Araújo Rayanne Marques Nascimento S586d Silva, Hélcia Macedo de Carvalho Diniz e Diálogos sócio-jurídicos/ Hélcia Macedo de Carvalho Diniz e Silva (org.) - João Pessoa, 2018. 139f. ISBN 978-85-87868-61-9 1. Produção Acadêmica. 2. Pesquisa Científica. 3. Direito. 4. Sociologia. I. Título. UNIPÊ / BC CDU 316:34 Não desperdice papel, imprima somente se necessário. Este e-book foi feito com intenção de facilitar o acesso à informação. Baixe o arquivo e visualize-o na tela do seu computador sempre que necessitar. É possível também imprimir somente partes do texto, selecionando as páginas desejadas nas opções de impressão. Os botões interativos são apenas elementos visuais, utilize-os para navegar pelo documento. Se preferir, utilize as teclas “Page Up” e “Page Down” do teclado ou o “Scroll” do mouse para retornar e prosseguir entre as páginas. Como melhor utilizar este ebook APRESENTAÇÃO Hélcia Macedo de Carvalho Diniz e Silva Professora Titular - UNIPÊ Sob a justificativa de escrever está onde, para quem e o que se escreve, ademais a definição do gênero discursivo, que depende diretamente do contexto em que está inserido. Nesse caso, uma apresentação de uma produção que foi composta paulatinamente, ao longo das pesquisas desenvolvidas por cada um que subscreve cada título. A responsabilidade autoral dos textos é deles e, a mim, coube a responsabilidade de organizar e dialogar com os estudiosos que se debruçaram e elaboraram as suas pesquisas. Contudo, o pretexto de apresentar é o que encaminha o fio condutor de meu discurso, neste momento. Na realidade, para além destas palavras iniciais, as minhas palavras seguem a direção da investigação acerca da sociologia geral e jurídica, o estudo do direito, em sua natureza social. O sociólogo do direito não julga o fenômeno, busca compreender e se propõe a analisar as razões sociais que levaram o indivíduo no contexto da sociedade a tal ação. Assim, com o olhar técnico da pesquisa sociológico-jurídica deve buscar conhecer o sentido dado pelos membros sociais ao acontecimento e às instituições, a fim de explicar as razões que os fazem atuar desta ou daquela maneira, considerando o contexto e as realidades. Explicar a tridimensionalidade do direito, a saber, justiça, validade e eficácia, por meio da abordagem da sociologia, por exemplo, é um ponto relevante para os diálogos entre sociologia e direito, embora não seja possível adentrar profundamente neste tema. O risco de simplificar esse tema é real, seja em qual das áreas o pesquisador se encontre, no direito ou na sociologia. De modo que, à luz da sociologia jurídica é possível adentrar o tema com uma margem um pouco mais segura. A questão da justiça é de cunho filosófica, ao filósofo cabe examinar a idealidade do direito, que fará relações mais profundas entre direito e moral, por exemplo. A validade da norma o estudo interno do direito positivo cabe ao jurista e sua capacidade de interpretação com o foco na identificação das normas válidas, de modo a adaptá-la aos problemas efetivamente concretos. Por fim, a eficácia da norma é o campo do sociólogo jurista, que parte da vida jurídica para examinar a facticidade do direito, ou seja, o direito aplicado à sociedade. Resumindo, a sociologia jurídica dialoga com outras áreas dada a complexidade de variáveis a serem consideradas ao se analisar a facticidade efetiva da sociedade, de seus indivíduos e dos fatos sociais. Cabendo ao jurista sociólogo a capacidade de aplicar as três dimensões de conhecimento supraditas, que se interpenetram, a fim de que sejam feitas as três etapas circunstancialmente, a saber, estabelecimento do fundamento e do conteúdo do sistema jurídico, e, por conseguinte, a análise do impacto das normas na sociedade. Sociólogos do direito deveram agir na sociedade com a capacidade de examinar os impactos sociais das normas ou das previsões legais com relação ao indivíduo e sua correlação no seio social. Perceber, de antemão, que determinada legislação tem a capacidade e o potencial de influenciar, condicionar e transformar pessoas e seus comportamentos diante dos demais indivíduos, e, por fim, emitir pareceres esclarecedores e técnicos quando o tema se refere à eficácia e os efeitos sociais do direito. Diante disso, é preciso prestar atenção na ação do indivíduo em sociedade, este que se relaciona com outras pessoas nos espaços sociais e, sem restrição, interferem de algum modo. As normas escritas (positivas) ou orais (costumes, hábitos), estão sempre presentes na vida em sociedade. Os efeitos da norma são quaisquer resultados que repercutem socialmente, desde que ocasionados pela normatização. As eficácias da norma estão diretamente ligadas ao índice de cumprimento e reconhecimento da norma dentro da prática e da vida em sociedade, isto é, é eficaz a norma que é respeitada pelos indivíduos a recebe ou quando violada é dado ao indivíduo que a desrespeitou a devida punição pelo Estado, que age por meio da intervenção e de modo coercitivo. A adequação interna da norma é aquela que se trata da capacidade da norma em atingir a finalidade social estabelecida pelo legislador, isto é, se a norma jurídica atinge a sua funcionalidade. A finalidade do legislador é respeitada pelos indivíduos e os seus fins são alcançados, isto é, os objetivos internos do legislador, quando ele formula a norma (lei) é coerente aos resultados alcançados na aplicação quando lançada para o meio social. Em todo caso, há algumas normas simbólicas, isto é, quando o legislador cria determinadas normas de difíceis aplicabilidades, ou seja, ineficazes ou inadequadas. Na realidade, esse tipo de efeito tem um fim didático e/ou de sensibilização da sociedade, são as normas colocadas em vigor com baixa eficácia já no momento da sua elaboração. O que se pretende, realmente, é imprimir a ideia, a mensagem e as intenções político-sociológicas, uma vez que se destacam valores. Por fim, há a adequação externa da norma, que está para além da adequação interna e seus fins e resultados. Uma norma analisada externamente ao sistema jurídico é aquela que passa pelos objetivos do legislador e os resultados obtidos, isto é, o legislador analisa e avalia a aplicação da norma em realce à luz dos critérios de justiça. Nesse caso, é uma observação do campo da filosofia do direito, não estando enquadrada nas análises da sociologia jurídica, cuja observação pauta-se no direito positivo. Os pontos apresentados, portanto, perpassam a discussão acima e vão muito além. São composições textuais marcadas pela diversidade das discussões e das abordagens teóricas da sociologia jurídica, cabendo a cada um a responsabilidade de adentrar nas pesquisas desenvolvidas. H.M. | Inverno de 2018. SUMÁRIO TEORIAS QUE FUNDAMENTARAM A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA GERAL: relações com o direito ...........................................................................................8 Maria Julia Silva Rezende SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA: sua importância no âmbito jurídico .................................................................18 Giovanna Márciade Arruda Leite O DIREITO E SUA FUNÇÃO NO SEIO SOCIAL ...................................................25 Fabrycio Marinho Veras Mascena DIREITO COMO PEÇA IMPORTANTE NA SOCIEDADE: relações estabelecidas para o convívio na sociedade moderna ...............31 Beatriz Vitória Pereira de Lima CAUSAS DA INEFICÁCIA DA NORMA: normas que não são cumpridas .........................................................................39 Larissa Maria da Silva Rodrigues SOCIOLOGIA E DIREITO: O surgimento do direito, a divisão deste, as definições e concepções da sociologia .............................................................44 Maryane Dayara Batista de Souza BREVE ANÁLISE SOBRE AS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS: controle social por meio do direito ...................................................................51 Lucas Vinícius dos Santos Amaral O DIREITO, A CONTEMPORANEIDADE E SUAS CRISES: A pós-modernidade e suas mudanças no âmbito jurídico ........................59 Maria Júlia Damasceno Bezerra O ESTADO CONSTITUCIONAL DEMOCRÁTICO E A LEGITIMIDADE: Eficácia das normas jurídicas e direitos dos homens ..................................67 Rayanne Marques Nascimento A PRESENÇA DO DIREITO NA SOCIEDADE: e suas regras sociais .............76 Mariá Adelaide de Sá Varandas Neta ESTADO E DEMOCRACIA: Análise das constituições brasileiras ...............84 Maria Danielma da Silva Rodrigues DIREITO CIVIL: As suas modificações e atualidade ......................................92 Maria Rafaela Vitória Silva de Araújo EPISTEMOLOGIA E SOCIOLOGIA: métodos e pesquisa ................................................................................................100 Ilanna de Brito Lyra Silva Meira Costa O DIREITO E A EXCLUSÃO SOCIAL: fatos que excluem pessoas ................106 Palloma da Silva Araújo ORGANIZAÇÃO DA NORMA JURÍDICA: A falta de coerência do ordenamento jurídico e suas consequências na aplicação do direito ....114 Camila Mariel Pereira Morais de Albuquerque A CRISE NO DIREITO CONTEMPORÂNEO: Uma visão detalhada e crítica do judiciário no Brasil atual. .....................123 Kalyane Dias de Araújo melo LÁGRIMAS E CONQUISTAS: Desafios e Direitos ..............................................132 Jocieli Hermano da Silva Cabral 8 TEORIAS QUE FUNDAMENTARAM A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA GERAL: relações com o direito Maria Julia Silva Rezende1 RESUMO Este presente artigo tem como finalidade apresentar as teorias de alguns pensadores, que contribuíram para a evolução da Sociologia e sua relação com o Direito, como também apresentar a importância destas influências, tanto na sociedade como para o mundo jurídico. Grandes pensadores marcaram essa evolução da Sociologia, mesmo quando esta ainda não era uma disciplina autônoma e reconhecida como ciência, porém ao criar e argumentar suas teorias sobre a sociedade e a interação entre indivíduos inseridos nela, estariam, portanto, construindo as bases essenciais para o que viria tornar-se futuramente uma ciência. As visões clássicas que serão abordadas referem-se às teorias de Platão, filósofo grego que buscou demonstrar por meio de seus diálogos suas concepções de sociedade, Estado ideal, leis, delitos e como estes ideais se relacionavam com os indivíduos. Como também de Aristóteles, discípulo de Platão, que discorreu sobre a justiça, virtude, a relação entre Estado e indivíduos e uma profunda análise sobre as leis. Também será explanado, pensador do no século XIX, Santo Tomás de Aquino com suas ideias sobre justiça nos indivíduos e na sociedade, mas que possuía um posicionamento e princípios religiosos e dogmáticos em todo o seu pensamento filosófico. E por fim, serão expostas as ideias de Émile Durkheim, sociólogo moderno do século XIX, no qual foi marcado por grandes transformações no pensamento da época. Durkheim foi um dos fundadores da Sociologia ao considerá-la como uma ciência autônoma, e em seu pensamento explanou sobre o poder da influência da sociedade nos 1 Graduanda em Direito pelo Centro Universitário de João Pessoa (UNIPÊ). E-mail: Juliarezende15@outlook.com 9 indivíduos, fatos sociais e o poder das leis que são regidas nas sociedades. No decorrer deste artigo, veremos, portanto, as influências, contribuições e ideias desses pensadores, como estas tiveram importância, como afetaram e teve seus efeitos no pensamento sociológico e jurídico. Palavras-chave: Sociologia. Evolução. Direito. 1. INTRODUÇÃO Ao explanar as teorias dos pensadores, objetiva-se mostrar a evolução do pensamento clássico por meio dos filósofos gregos, como Platão, discípulo de Sócrates que fundou a Academia de Atenas e autor de grandes obras de suma importância para a humanidade, como: A República, O Banquete, Apologia a Sócrates entre outros. Também Aristóteles, discípulo de Platão que fundou o Liceu (escola filosófica) e foi um grande sistemático na elaboração de conceitos, nos quais os criavam, em boa parte, a partir de observações empíricas da realidade. Já na Idade Medieval, com Santo Tomás de Aquino, será exposto suas concepções de política, Direito e o papel do homem na civitas, argumentando que o fim último de todas as ações deste devem ser direcionados à Deus, deixando explícito a forte influência de um pensamento religioso em suas ideias. E por fim, Émile Durkheim, Sociólogo da modernidade, que elaborou conceito de fato social, solidariedade, entre outros, apresentando concomitantemente a influência do Direito na sociedade. Estava inserido num contexto de grandes mudanças sociais, dentre elas o momento em que surgiu o reconhecimento científico da Sociologia, no século XIX. No entanto, apresentar a convergência que se deu ao longo da história da humanidade entre os pensamentos que contribuíram para a formação da Sociologia e o Direito é se suma importância, devido à opinião corrente nos dias atuais daqueles que são marcados pelo positivismo jurídico, que afirmam que a Sociologia não apresenta grande relevância para o Direito, uma vez que estes indivíduos são doutrinadores de normas, respaldadas pelo temor das sanções, que devem ser seguidas a todo custo, deixando de lado, portanto, o fundamento de uma norma e de um aspecto sociológico que favorece um fundamento para que o Direito se torne genuíno. Destarte, este estudo tem como finalidade identificar a efetividade do auxílio dos pensadores apresentados na consolidação da Sociologia como disciplina autônoma, até o pensamento moderno, que irá enfatizar a ligação entre esta ciência e o Direito. 10 2. O ESTADO IDEAL EM PLATÃO, SUA CONCEPÇÃO DE JUSTIÇA E A PENA DE MORTE A concepção política de Platão distingue-se da concepção moderna, segundo Mascaro (2016, p. 55): A visão moderna sobre o direito tem muita dificuldade em entender o tipo de visão jusfilosófica proposta por Platão. Para a modernidade, até hoje, costuma-se considerar por justiça ou uma virtude pessoal ou um procedimento automático e vazio de vinculação às leis estatais. Platão, nesse sentido, é revolucionário: a boa adequação à boa sociedade é a essência do justo. Ou seja, Platão argumenta que para o bem da polis, os indivíduos deverão possuir uma harmonia, sendo virtuosos e justos e para ilustrar este discurso, ele utiliza-se de uma analogia ao conceber a polis sendo um todo, como um corpo, e os indivíduos uma grande parte do todo, como os vários órgãos do corpo. Para o discípulo de Sócrates, a polis não era um horizonte relativo, mas sim absoluto da vida do homem. Além disso, argumenta que toda forma política que pretenda ser autêntica deve ter em vista o bem do homem; entretanto, para a concepção platônica o homem é concebido como sendo sua alma, enquanto o corpo é o seu casulo passageiro, configurando assim que o verdadeiro bem do homem é o seu bem espiritual. Perante o exposto, podemos perceber a diferença radical entre a concepção platônicae a concepção moderna. O Estado é sábio pela classe de seus governantes. Daí vem a preocupação do grego em construir e conceber um Estado munido das mesmas virtudes concernentes ao filósofo (que é uma síntese do homem maduro e que alcançou a harmonia): a coragem (virtude do guerreiro, relacionada a capacidade de conservar com vigor a opinião reta), a temperança (virtude da ordem, da disciplina, relacionada a harmonização entre as classes de cidadãos) e a justiça (a função que cada um deve fazer de acordo com sua natureza). O Bem Supremo só pode ser introduzido na comunidade dos homens por meio daqueles (os filósofos) que souberam elevar-se à contemplação desse Bem. Isso só poderia ser alcançado mediante uma seleção daqueles dotados da natureza filosófica para serem educados com a função de administrar a sociedade. Daí a hierarquização do Estado platônico em três categorias de indivíduos: os destinados a serem governantes-filósofos, os guerreiros, agricultores e artesãos. Sendo a polis uma expansão do homem, cada um tinha uma função na harmonização desse corpo social. O Estado ideal de Platão é uma aristocracia no sentido mais forte do termo: um Estado governado pelos melhores educados e fundado sobre a virtude como valor supremo. Com relação aos delinquentes, Platão os considera doentes, pois ‘’segundo o ensinamento socrático, nenhum homem é voluntariamente injusto. ’’ (VECCHIO 2010, p.12). 11 Sendo assim, para o filósofo grego, a pena era um remédio destinado a curar o criminoso. Platão também defende a pena de morte e enuncia: Mas, em razão do delito, também o Estado é, em certo modo, doente, donde, se a saúde do Estado o exige, isto é, quando se trata de um delinqüente incorrigível, o delinquente deverá ser eliminado ou suprimido para o bem comum (VECCHIO 2010, p.12). Como é possível observar, Platão apresentou por meio de seus argumentos, a ideia do Estado ideal e como este se relaciona com o cidadão, como também a importância da polis grega para os indivíduos e a questão da pena de morte, na qual o filósofo grego defende. Vale ressaltar que seu pensamento filosófico corresponde ao contexto histórico de sua época, distinguindo assim do contexto moderno. 3. ARISTÓTELES E SUA CONCEPÇÃO SOBRE ESTADO, JUSTIÇA, LEIS E FORMAS DE GOVERNO A visão aristotélica consiste num fundamento mais sistemático e na valorização de conhecimentos empíricos da sociedade e da política. Assim como Platão, Aristóteles também concebe que o sumo bem é produzido pela virtude, a vida social consiste na própria felicidade, não sendo individual como veremos no pensamento pós-moderno posteriormente, mas sim uma felicidade coletiva, um bem comum a todos que unirá os indivíduos através da philia (amizade) e será de grande importância nas bases da estrutura da sociedade. A amizade parece também manter as cidades unidas, e parece que os legisladores se preocupam mais com ela do que com a justiça; efetivamente, a concórdia parece assemelhar- se à amizade, e eles procuram assegurá-la mais que tudo, ao mesmo tempo que repelem tanto quanto possível o facciosismo, que é a inimizade nas cidades. Quando as pessoas são amigas não têm necessidade de justiça, enquanto mesmo quando são justas elas necessitam da amizade; considera-se que a mais autêntica forma de justiça é uma disposição amistosa (ARISTÓTELES, p.153). Com relação ao Estado e os cidadãos, Aristóteles afirma que o Estado controla estes por meio das leis, nas quais dominam toda a vida, pois o homem não seria autônomo, mas pertencente ao Estado. As leis seriam justas e sobre justiça, o discípulo de Platão elaborou uma extensiva análise e divisão. Aristóteles separou a justiça entre universal e particular. No sentido universal, seria, segundo MASCARO (2016, p.67) ‘’manifestação geral da virtude quanto uma apropriação do justo à lei que, no geral, é tida por justa. ’’. Aristóteles considera que a virtude universal está contida em outras virtudes existentes, como por exemplo, 12 A caridade não é uma virtude em si própria sem que se lhe acresça a virtude da justiça. O mesmo com a paciência. Mas alguém pode ser justamente caridoso e impaciente. A caridade presume justiça, a paciência presume justiça, mas a caridade não presume paciência. A justiça está em todas as demais virtudes, e por isso é a única virtude universal (MASCARO, 2016, p.68). A justiça tem como base fundamental a igualdade e a primeira justiça particular que Aristóteles aborda é sobre a justiça distributiva de dar a cada um o que é seu, ou seja, na distribuição bens e honrarias segundo os méritos de cada um, que fora utilizada no Direito Romano nos preceitos do Direito de Roma, sendo assim existente a proporcionalidade de homem para homem. Com relação às leis, Aristóteles concebe que as leis produzidas pela polis que tenham um fundamento ético, estará diretamente ligada ao justo, não por causa de sua validade, mas sim por causa de seu teor. Aristóteles também argumenta sobre as formas de governo e classifica em boas formas de governo e formas degeneradas ou corruptas. Um governo bom seria aquele que buscaria o bem comum para a sociedade e diante disso ele cita que as melhores formas de governo que são: Monarquia (governo de um), Aristocracia (governo de alguns) e República (governo da maioria). Essas três formas de governo exerceriam seu poder no interesse comum e no bem comum dos cidadãos. E assim seriam os governos, respectivamente aos governos virtuosos, porém decaídos: Tirania (governo de um), Oligarquia (governo de alguns) e Democracia (governo da maioria). Estas três formas de governo exerceriam seu poder no interesse próprio e não em função do bem comum. Aristóteles entende por “democracia” um governo que, desleixando o bem comum, visa a favorecer de maneira indébita os interesses dos mais pobres e, portanto, entende “democracia” no sentido de “demagogia”. O erro em que recai essa forma de governo demagógico consiste em considerar que, como todos são iguais na liberdade, todos também podem e devem ser iguais também em todo o resto. A monarquia seria no plano abstrato, a melhor forma de governo, desde que existisse na Cidade um homem excepcional; e a aristocracia, da mesma maneira, seria a melhor forma desde que houvesse um grupo de homens excepcionais. Mas como tais condições normalmente não se verificam, Aristóteles, com o seu sentido realista, indica substancialmente a república (politeia) como a forma de governo mais conveniente para as cidades gregas do seu tempo, nas quais não existiam um ou poucos homens excepcionais, mas muitos homens, que embora não sobressaindo na virtude política, eram capazes de governar e ser governados segundo as leis. A república (politeia) é praticamente, uma via média entre a oligarquia e a democracia, ou uma democracia temperada com oligarquia. 13 Entretanto, Aristóteles não considera “cidadãos” todos aqueles que vivem em uma cidade e sem os quais a cidade não poderia existir. Para ser cidadão é preciso participar da administração da coisa pública, ou seja, fazer parte das Assembléias que legislam e governam a cidade e administram a justiça. Segundo Reale, 2007: Nessa questão, as estruturas sociopolíticas do momento histórico condicionam o pensamento aristotélico a ponto de levá-lo a teorização da escravidão. Para ele, o escravo é como que “um instrumento que precede e condiciona os outros instrumentos”, servindo para a produção de objetos e bens de uso, além dos serviços. E o escravo é tal “por natureza”. (REALE, 2007, p.222). E como os escravos eram frequentemente prisioneiros de guerra, Aristóteles sentiu necessidade de estabelecer também que os escravos não deveriam resultar de guerras dos gregos contra os gregos, mas sim das guerras dos gregos contra os bárbaros, dado que estes são inferiores “por natureza”. Como o fim do Estado é moral, é evidente que aquilo a que ele deve visar é o incrementodos bens da alma, ou seja, o incremento da virtude. Segundo Reale 2007, p. 223: Com efeito, escreve Aristóteles, “podemos dizer que feliz e florescente é a cidade virtuosa. É impossível que tenha êxitos felizes quem não cumpre boas ações e nenhuma boa ação, nem de um indivíduo, nem de uma cidade, pode realizar-se sem virtude e bom senso. O valor, a justiça e o bom senso de uma cidade têm a mesma potência e forma cuja presença em um cidadão privado faz com que ele seja considerado justo, ajuizado e sábio.” (REALE, 2007, p.223) Como a felicidade da cidade depende da felicidade dos cidadãos singulares, seria necessário tornar cada cidadão o mais possível virtuoso, mediante adequada educação. Viver em paz e fazer as coisas belas (contemplar) é o ideal supremo a que deve visar o Estado. Portanto, diz Aristóteles, é preciso fazer guerra apenas tendo como finalidade a paz, trabalhar para poder libertar-se das necessidades do trabalho, fazer as coisas necessárias e úteis para poder ganhar o livre repouso, e enfim fazer as coisas belas, isto é, contemplar. 4. A CONCEPÇÃO TOMISTA DA POLÍTICA E DO DIREITO Para São Tomás de Aquino, o intelecto divino é a causa primeira do universo estando impresso na estrutura do mundo, ou seja, a descrição ordenada do mundo resultará num sistema que descreve a verdade de Deus. Todos os seres e o homem em particular tem sua 14 ratio (razão), seu sentido, na hierarquia da criação divina e encontra realização de sua existência ordenando-se ao fim último, isto é, Deus. Aquino fora fortemente influenciado pelos preceitos aristotélicos, assumindo-os conseguindo harmonizá-los em sua descrição filosófica. O que para Aristóteles era a polis, para Aquino chamava-se civitas. Santo Tomás remonta a interpretação platônica e traça uma série de analogias: Deus como o governante do universo; a alma como governante do corpo e o príncipe como governante da civitas, diante o exposto, há de se perceber o paralelo às funções de criar e governar o universo e as funções principescas de fundar e governar a civitas. Com relação aos cidadãos, se os membros da comunidade cooperam livremente nas tarefas da existência comum, o governo é bom, tenha forma de monarquia, aristocracia ou politeia. Se um ou muitos são livres e conduzem o governo em proveito próprio, explorando os restantes, o governo é corrompido. Para Aquino, o que constituía uma comunidade humana era a finalidade comum de amar a Deus e a ordenação da vida para a beatitude eterna. O homem político de Aristóteles encontra sua realização na existência da polis ao passo que para Santo Tomás o homem está orientado a um fim transcendental espiritual e é também entre outros aspectos importantes, um animal político. Para Aquino, por um lado a monarquia seria a melhor forma de governo, pois é análoga ao governo divino do mundo. Por outro lado, não seria a melhor forma de governo, porque os homens são fracos e a ameaça da tirania requer instituições que a impeçam. Com relação às normas constitucionais, estas não devem ser aplicadas incondicionalmente e o objetivo do governo constitucional é a prevenção da tirania. A politeia de São Tomás deve ter como seus magistrados o rei, os chefes da nobreza e os representantes do povo eleitos por sufrágio universal. Se o sufrágio democrático resultar numa tirania da parte inferior da escala social, será indicado regressar às formas aristocráticas de governo. Como fontes principais de onde deriva o pensamento tomista político, pode se destacar: A teoria política aristotélica; A constituição romana; A democracia original; A monarquia de Israel e O sentimento de liberdade cristão. O que resulta da harmonia desses elementos é a evocação da ideia de um governo constitucional fundamentado na estabilidade de um governo que depende da participação do povo e o princípio espiritual cristão da liberdade do homem maduro. No que se refere ao Direito, São Tomás concebe sua teoria como sendo a teoria da instrução dada por Deus ao homem para motivar os seus atos com vistas ao objetivo último: a beatitude. 15 Como o homem é imperfeito, ele possui a Lex Aeterna apenas em seus princípios gerais; a adaptação e a elaboração para as contingências da existência humana pelo próprio homem, produz a Lex Humana. Uma vez que o homem se orienta para a beatitude espiritual, foram necessárias revelações especiais da lei divina no antigo e no novo testamento e estes são chamados Lex divina. As quatro leis- eterna, natural, humana e divina- são assuntos da teoria do direito. (Voegelin, 2012, p. 260) Ou seja, a participação da Lex humana na Lex divina consiste em encontrar elementos retos da lei de acordo com a lei divina e natural. A lei eterna é impressa nas criaturas racionais e dota-os de uma inclinação para as ações e fins corretos. Essa participação da criatura racional na lei eterna é chamada de lei natural. A filosofia tomista ao explanar sobre o direito tem uma importância duradoura no pensamento político ocidental, pois harmoniza a personalidade espiritual cristão com a comunidade natural perfeita. A Lex humana como conteúdo da lei é descrita como a ação racional humana inventando regras detalhadas que preenchem o arcabouço geral da lei natural por derivação desta e por sua aplicação a uma situação concreta. 5. A QUESTÃO DO FATO SOCIAL POR ÉMILE DURKHEIM Durkheim foi um importante pensador para a sociologia, pois foi um dos fundadores da Sociologia como ciência, no século XIX. Lucena (2010) nos lembra que Durkheim entende que o indivíduo nasce da sociedade, e não a sociedade nasce do indivíduo. Como cita Sabadell (2010, p.47): ‘’ Durkheim entende como fato social qualquer norma que é imposta aos indivíduos pela sociedade. ’’ Diante disso, Durkheim faz a divisão de fatos sociais em três camadas: • Coercitividade- padrões culturais, relaciona-se com poder, pois obrigam os indivíduos a seguirem. • Exterioridade- modelo já existente antes do nascimento do indivíduo, com suas próprias características culturais vigentes, então cabe ao indivíduo aprendê-las por algum meio educacional. • Generalidade- os fatos sociais existem para todos. Em toda e qualquer sociedade existem leis que visam organizar a vida no meio social. Dessa forma o indivíduo isolado não cria regras nem pode individualmente modificá-las. As leis vistas como Fatos Sociais são transmitidas para as gerações seguintes, na forma de Normas Culturais, Códigos, decretos, Constituições etc. Os indivíduos quando fazendo parte de uma 16 sociedade deve aceitar suas regras, sob a pena de sofrer o castigo por violá-las. (ADRIAN, 2012, [s.p]) Portanto, as regras do Direito seriam fatos sociais, quando uma vez que impõem aos indivíduos normas para ordenar seu comportamento em sociedade de forma harmônica. Além disso, Durkheim elabora o conceito de solidariedade que, segundo Sabadell (2010), a solidariedade social só poderia ser efetiva se houvesse regras com a finalidade de controlar o comportamento social, reprimindo, portanto, àqueles que não obedecem tais regras causando uma ameaça para a harmonia da sociedade. A solidariedade é um pressuposto fundamental para a definição de consciência coletiva dada pelo sociólogo. A consciência coletiva seria ‘’o conjunto das crenças e dos sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade’’ (Durkheim, 1999, p.50), na qual estaria presente nas mentes individuais que seria eficaz para direcionar nossa conduta em sociedade. Durkheim caracteriza como tipos de solidariedade: o direito repressivo, que pune as faltas ou crimes e o direito cooperativo, cuja essência não é a punição das violações das regras sociais, mas organizar a cooperação entre os indivíduos. O direito repressivo revela a consciência coletiva nas sociedades de solidariedade mecânica. Quanto maior é a consciência coletiva, mais forte e particularizada, maior será o número de atos considerados como crimes.Atos que violam um imperativo que ferem diretamente a consciência da coletividade. O crime é um ato proibido pela consciência coletiva e só pode ser definido do exterior tomando como referência o estado de consciência coletiva da sociedade considerada. O criminoso não é aquele que consideramos culpado com relação a Deus, e nem através dos nossos valores. Criminoso é aquele que, numa sociedade determinada, deixou de obedecer às leis do Estado. (ARON, 2002) Com isso, sendo a Lei um modelo de fato social, cabe aos legisladores e pessoas jurídicas fundamentar o Direito na Sociologia, como também na Filosofia, pois uma vez que as leis são feitas sem conhecimentos sociais, haverá certa anomia na sociedade e poderá gerar ausência de justiça e igualdade. CONSIDERAÇÕES FINAIS O desenvolvimento deste estudo resultou na análise histórica de como a Sociologia e a Filosofia exercem grande influência no Direito, como também, apresentou a convergência que se deu ao longo dos anos entre o estudo dos indivíduos em sociedade e o mundo jurídico, das normas que regem estes indivíduos. Ao longo deste trabalho, foram explanadas as diferentes ideias de filósofos e sociólogos que contribuíram para o surgimento da Sociologia como ciência e suas demais influências exercidas na sociedade e no Direito. Além disso, destacou-se a efetividade das teorias que fundamentaram a sociologia, como aquelas apresentadas por alguns filósofos da antiguidade, e as teorias sociológicas de 17 Émile Durkheim que contribuíram e teve como influência direta de tais ideias com as leis. Dito isso, observou-se que por detrás de normas e regras há um fundamento e ideais que devem ser seguidos pelo Direito, com base nos costumes de cada sociedade. Dada à importância do assunto, faz-se necessário o desenvolvimento de conhecimentos que possam contribuir na busca pela fundamentação de algo que é cumprido, para que não haja vítimas de leis injustas, podendo tornar um comportamento imoral justificável apenas pelo argumento de se executar uma norma. Portanto, o conhecimento filosófico e sociológico para a fundamentação do Direito é essencial para a formação de leis justas e de condutas mais éticas dos operadores do Direito. REFERÊNCIAS ADRIAN, Nelson. Émile Durkheim e o fato social. Disponível em: <http://www.primeiroconceito.com.br/site/?p=2157>. Acesso em: 17 mar. 2018. AQUINO, Santo Tomás De. Suma Teológica III. São Paulo. Editora Permanência. 2016. ARON, Raymond. Etapas do Pensamento Sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 2002. LUCENA, Carlos. O pensamento educacional de Émile Durkheim. Revista HISTEDBR On-line, v.10, n.40, p. 295-305, 2010. MASCARO, Alysson Leandro. Filosofia do Direito: 5. Ed. São Paulo. Editora Atlas. 2016. REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia: Filosofia Pagã e Antiga. São Paulo. Paulus. 2007. VECCHIO, Giorgio Del. História da Filosofia do Direito. Minas Gerais: Líder. 2006. VOEGELIN, Eric. História das ideias políticas: Idade Média até Tomás de Aquino. São Paulo: É Realizações, 2012. 18 SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA: sua importância no âmbito jurídico Giovanna Márcia de Arruda Leite2 RESUMO Este artigo é referente ao surgimento da Sociologia, com enfoque nos aspectos e acontecimentos que levaram ao seu surgimento no século XIX, bem como a importância desta grande ciência na área jurídica, com o nome de Sociologia Jurídica, como é bastante conhecida e chamada. Este ramo da Sociologia se faz muito presente na sociedade. Por meio da visão de grandes pensadores, como o fundador do termo “Sociologia” e o pai do positivismo, Augusto Comte e outros três grandes pensadores que formam a “ Tríade Clássica da Sociologia” que são: Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx são de fundamental importância para a compreensão do desenvolvimento desta ciência ao longo da história e que surgiu em meio a uma grande mudança na sociedade como um todo. Advinda da Revolução Francesa (França, 1789 até 1799) e, também, da Revolução Industrial (Inglaterra nos séculos XVIII e XIX) levou o homem a voltar os seus pensamentos, estudos e ideias para a sociedade e ele mesmo, para poder, então, a partir de tudo isso, compreender as transformações que estavam passando. O objetivo deste artigo, em geral, é de analisar o surgimento e o desenvolvimento da Sociologia, uma ciência nova, mas que, até então, já demonstrou a ampla área de estudo a qual é voltada: o homem e a sociedade e, também de poder compreender o forte papel da Sociologia na área Jurídica. No decorrer de sua leitura apresentará as ideias de pensadores que até hoje estão presentes na sociedade e a importante função de cada um na formação dos diversos estudos que temos não só presentes na área jurídica, mas em tantas outras áreas. Palavras-chave: Surgimento. Pensadores. Sociologia geral. Direito 2 Graduanda em Direito pelo Centro Universitário de João Pessoa (UNIPÊ). E-mail:Unipê. giovannamarcia.al@gmail.com 19 1. INTRODUÇÃO Este artigo tem como objetivo apresentar o surgimento e o desenvolvimento da Sociologia como ciência autônoma, bem como a sua presença no âmbito jurídico, sendo chamada de sociologia jurídica, elucidando a visão de grandes pensadores como Augusto Comte, considerado o pai do positivismo e fundador do termo sociologia, além de Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx, também conhecidos como “ Tríade Clássica da Sociologia” e que são de total importância para o entendimento da sociologia como ciência autônoma. A definição de Sociologia é fundamental para a compreensão do desenvolvimento desta ciência ao longo do tempo, sendo assim, Sabadell (2010, p.82) explica: “A sociologia define-se, de modo geral, como a ‘ciência da sociedade. De modo mais concreto, a sociologia examina o comportamento humano no âmbito social”. Além de tal definição Sabadell (2010, p.82 ) afirma “ a sociologia observa e analisa as regras que regem as relações sociais, ou seja, estuda a interação entre pessoas e grupos” O artigo, em geral, consiste numa análise ampla de uma ciência que surgiu no século XIX, em meio as grandes transformações sociais no âmbito político, econômico, social e tantos outros que levaram as pessoas a procurarem compreender tantas mudanças que surgiram devido a Revolução Francesa e Revolução Industrial. Além de explanar o desenvolvimento da sociologia no direito com a chamada sociologia jurídica que surgiu, como disciplina, no inicio do século XX. 2. AUGUSTO COMTE E O SURGIMENTO DO TERMO SOCIOLOGIA Auguste Comte nasceu em Montpellier, França, em 1798 e foi o responsável pelo surgimento da Sociologia, uma vez que foi o primeiro a tentar delimitar o campo de estudo da Sociologia. Aron (1999, p.69) afirma a criação da Sociologia por Comte em uma de suas obras mais famosas “No Curso de filosofia positiva, é criada a nova ciência, a sociologia, que, admitindo a prioridade do todo sobre o elemento e da síntese sobre a análise tem por objeto a historia da espécie humana.” Sua linha de pensamento era o positivismo, no qual diz que o conhecimento verdadeiro só é obtido, unicamente, pelo conhecimento científico. Segundo Sell, compreende a sociologia de maneira ampla, pois abrange outras ciências humanas, como por exemplo a história, filosofia, economia. Seus pensamentos foram se desenvolvendo dentro de um contexto histórico que abrange duas grandes revoluções – Francesa e Industrial – Logo, suas ideias sofreram fortes 20 influências de intensas transformações sociais, econômicas e políticas que fundamentaram a formação do capitalismo. 3. ÉMILE DURKHEIM E SEU PENSAMENTO SOBRE A SOCIOLOGIA E O DIREITO Émile Durkheim foi um grande sociólogo e pensador francês que nasceu em 1858 em Épinal. Sabadell (2010, p. 46) constata “Durkheim foi o primeiro professor a ser titular de uma cadeira universitária de ‘Sociologia’ [...] É considerado como o precursor imediato da sociologia jurídica”. Tambémmostra a visão de Durkheim em relação ao direito “ Durkheim entende que o direito é um fenômeno social. A sociedade humana é o meio onde o direito surge e se desenvolve, pois a ideia do direito liga-se à ideia de conduta, de organização e de mudança.” Sabadell (2010, p.46) explica a visão que Durkheim aborda em seus estudos: Durkheim adotou a visão metodológica positivista do fundador da sociologia Augusto Comte (1798-1857), mas criticou o caráter filosófico e inclusive “metafísico” das teorias de Comte, insistindo na necessidade da pesquisa empírica antes de fazer afirmações e elaborar leis sociológicas. Um ponto importante dos estudos de Durkheim é o fato social como Arom (1999, p.325) explica “ A concepção da sociologia de Durkheim se baseia em uma teoria de fato social. Seu objetivo é demonstrar que pode e deve existir uma sociologia objetiva e cientifica, conforme o modelo das outras ciências, tendo por objeto o fato social.” Sabadell (2010, p.47 ) explica o termo “ fato social ” : Denomina de fatos sociais as normas vigentes em determinada sociedade indicando dois elementos importantes: primeiro, que a origem de todas as normas que influenciam o comportamento individual é a sociedade (e não o legislador ou determinados indivíduos). Segundo, que as normas não são simples palavras ou ordens, mas existem objetivamente na sociedade e o sociólogo deve estuda-las como fatos, ou seja, como “coisas”. Sabadell (2010, p.47) afirma “ Nesta perspectiva, as regras do direito são fatos sociais muito importantes, porque impõem aos indivíduos obrigações e modos de comportamento, aptos a garantir a coesão social”. Durkheim determina que o vínculo entre os membros da sociedade é chamado de solidariedade e há dois tipos, a mecânica e a orgânica. Sendo a primeira encontrada nas sociedades antigas, onde os valores sociais vinham da religião e questões tradicionais, e a orgânica encontra-se na sociedade moderna. 21 Sabadell (2010, p.48) elucida “A solidariedade mecânica fundamenta-se na semelhança dos membros da sociedade, ou seja, na uniformidade do comportamento. Quem não respeita as regras é considerado agressor da ordem social.” Aron (1999, p. 288) afirma sobre a solidariedade mecânica: [...] Quando esta forma de solidariedade domina uma sociedade, os indivíduos diferem pouco uns dos outros. Membros de uma mesma coletividade, eles se assemelham porque têm os mesmos sentimentos, os mesmos valores, representam os mesmos objetos como sagrados. A sociedade tem coerência porque os indivíduos ainda não se diferenciaram. A solidariedade orgânica é diferente, pois é fundamentada na divisão do trabalho e como Sabadell (2010, p.49) ilustra neste tipo de solidariedade: O individuo não se vincula diretamente a valores sociais, não está submetido a liames tradicionais, a obrigações religiosas ou comunitárias. A solidariedade cria-se através de redes de relacionamento entre indivíduos e grupos, onde cada um deve respeitar as obrigações assumidas por contrato. O próprio individuo se autopolicia, porque sabe que se não atua de uma determinada forma (estudar, trabalhar, ganhar salário, investir), não poderá sobreviver nesta sociedade fundamentada na propriedade privada, na concorrência e no intercambio de bens e valores equivalentes. Em geral, Durkheim afirma que a solidariedade mecânica exprime o direito penal e a sanção é repressiva, já a orgânica exprime o direito comercial, administrativo, constitucional e civil, onde há sanções restitutivas. 4. AS IDEIAS DE MAX WEBER A RESPEITO DA SOCIOLOGIA E DO DIREITO Max Weber nasceu em Efurt, na Alemanha (1864) e é um dos principais pensadores que colaboraram para a construção da Sociologia. A sociologia surgiu em a uma dupla revolução – industrial e francesa – que ajudaram na formação do processo de uma sociedade capitalista. Weber, assim como tantos outros pensadores de sua época, procurava compreender as mudanças sociais que surgiram através da Revolução Industrial. Aron (1999, p. 457) explica “ Max Weber considera a sociologia uma ciência da conduta humana na medida em que esta conduta é social” Martins (2006, p.64) afirma: A formação da sociologia desenvolvida por Webber é influenciada enormemente pelo contexto intelectual alemão de sua época. Incorporou em seus trabalhos algumas ideias de Kant, como a de que todo ser humano é dotado de capacidade e vontade diante do mundo. 22 Martins (2006, p. 65) explana a sociologia de Weber: A sociologia por ele desenvolvida considerava o indivíduo e a sua ação ponto chave da investigação. Com isso, ele queria salientar que o verdadeiro ponto de partida da sociologia era a compreensão da ação dos indivíduos e não a análise das “ Instituições sociais “ ou do “ grupo social”. As ideias e estudos de Weber além de serem voltadas para a Sociologia, também foi voltada para a questão do Direito. Trubeck (2007, p.153) explica a questão do Direito em Weber “ A discussão weberiana sobre o direito é marcada por alguns temas centrais. O direito está associado à coação organizada, à legitimidade e normatividade; e à racionalidade.”. Sabadell (2010) afirma que Weber abordou sobre a sociologia jurídica em seu livro “Economia e Direito” e até hoje é de fundamental importância para sociólogos e juristas do mundo. 5. PENSAMENTO DE KARL MARX SOBRE O DIREITO Karl Marx nasceu em Tréveris ou Trier em Alemão no ano de 1818 e foi um grande filósofo e sociólogo. Suas ideias e estudos são de fundamental importância para muitas ciências atualmente, incluindo o Direito. Ao observar a sociedade, Karl Marx abordou em seus estudos as relações de produção decorrentes do capitalismo, a partir disso, determinou a existência de classes socais, aqueles que detém o poder, os proprietários dos meios de produção e os que não são donos desses meios. Assim, Sabadell (2010, p.45) afirma que Marx ao observar a sociedade percebeu que “ [...] o direito desenvolvido na sociedade capitalista estabelece normas universais e uniformes para sujeitos desiguais, perpetuando assim as diferenças sociais, baseadas na exploração dos trabalhos das classes populares pelos detentores de capital” Mascaro (2016, p.258) desenvolve as ideias iniciais de Marx: As descobertas empreendidas por Marx no que diz respeito à forma política do capitalismo se desdobram imediatamente para o campo da forma jurídica capitalista. Do mesmo modo que o Estado moderno, sendo um terceiro da exploração entre o capital e o trabalho, faz de todos os indivíduos cidadãos, torna-os também sujeitos de direito. A lógica que preside o direito é intimamente ligada à lógica da reprodução do capital. Na verdade, no campo do direito, muito explicitamente essa vinculação se manifesta. Marx, na Ideologia alemã, trata da relação histórica entre direito e capitalismo. Sendo assim, em geral, a contribuição de Karl Marx, por meio de estudos, observações e pesquisas, foi fundamental na área do direito 23 6 DESENVOLVIMENTOS E ABORDAGENS PRESENTES NA SOCIOLOGIA JURÍDICA No inicio do século XX, nasce a sociologia jurídica como uma disciplina específica. Sabadell (2010, p.52) afirma: “ [...] Durkheim e Weber dedicaram-se ao estudo dos vários fenômenos sociais, e foi dentro de uma tal perspectiva que analisaram o direito ao lado da economia, da moral, da politica, das classes sociais, da religião, da família etc.” em geral, tanto Durkheim como Weber contribuíram imensamente para o desenvolvimento da sociologia jurídica. Sabadell (2010, p.53) explica “[...] O direito se manifesta como uma das realidades observáveis na sociedade: a sua criação, evolução e aplicação podem ser explicadas por meio da análise de fatores, de interesses e de forças sociais.” Em relação as abordagens, há duas da sociologia jurídica que são: sociologia do direito e sociologia no direito. Sabadell (2010, p.55) explana: Esta primeira abordagem opta por fazer um estudo sociológico,colocando-se numa perspectiva externa ao sistema jurídico. Seus adeptos consideram que a sociologia do direito faz parte das ciências sócias, sendo um ramo da sociologia. Por outro lado, o direito deve continuar utilizando o seu método tradicional, que lhe garante ima posição autônoma em relação às outras ciências. Grande pensadores são adeptos desta corrente como Vincenzo Ferrari na Itália e Ramón Soriano na Espanha. Sabadell (2010, p. 55) explica: Quase todos os sociólogos que se dedicam à sociologia jurídica adotam esta posição metodológica. A sua origem deve ser buscada na obra de Max Weber, que queria construir uma sociologia livre de avaliações [...] e, em parte, nas análises de Kelsen sobre a “pureza” da ciência jurídica que não deve ser confundida nem “misturada” com análises filosóficas ou sociológicas. Sabadell (2010, p.56) expõe a outra abordagem: A segunda abordagem adota uma perspectiva interna com relação ao sistema jurídico. Os seus adeptos contestam a exclusividade de um método jurídico tradicional, afirmando que a sociologia jurídica deve interferir ativamente na elaboração, no estudo dogmático e inclusive na aplicação do direito. Nesta perspectiva, Sabadell (2010) afirma “[...] Não há uma ciência jurídica autônoma porque o direito, ademais dos métodos tradicionais, também emprega ou deve empregar métodos próprios das ciências sociais.” A sociologia do direito tem uma abordagem positivista, já a sociologia no direito há a abordagem evolucionista. 24 CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente artigo mostrou o surgimento e o desenvolvimento da sociologia na visão de Augusto Comte, Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx, grandes e importantes filósofos que contribuíram imensamente para a construção desta ciência autônoma relativamente nova, pois surgiu apenas no século XIX, mas que se faz muito presente na sociedade e em muitas áreas de estudo, como por exemplo a área jurídica, com a sociologia jurídica, no qual pudemos compreender o seu nascimento e as suas abordagens, sociologia do direito e sociologia no direito. Dessa forma, pudemos analisar a sociologia no contexto histórico ao qual a mesma estava inserida no momento em que surgiu, diante de duas grandes revoluções (Francesa e Industrial), sendo assim as pessoas precisavam compreender as transformações que estavam passando em diversos âmbitos, logo, o nascimento da sociologia foi fundamental, uma vez que esta estuda o homem no âmbito social, assim como Sabadell (2010) afirma. A presença desta grande ciência no Direito foi fundamental como apresentado no decorrer do artigo, muito sociólogos que foram apresentados ao longo do trabalho tiveram importante participação na construção de termos e conceitos na área jurídica, voltando os seus estudos para a sociologia e para o direito, para que então, ambos andassem lado a lado, contribuindo para o desenvolvimento e crescimento de cada ciência. REFERÊNCIAS ARON, Raymond. Etapas do Pensamento Sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 1999. MARTINS, Carlos Benedito. O que é Sociologia. São Paulo: Brasiliense, 2006. MASCARO, Alysson Leandro. Filosofia do Direito. São Paulo: Atlas, 2016. SABADELL, Ana Lucia. Manual de sociologia jurídica: introdução a uma leitura externa do direito. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. SELL, Carlos Eduardo. Sociologia Clássica: Marx, Durkheim e Weber. Petrópolis. RJ: Vozes, 2017. TRUBEK, David M. Max Weber sobre direito e ascensão do capitalismo. Revista Direito GV. São Paulo, v. 3, n. 1, jan-jun 2007. 25 O DIREITO E SUA FUNÇÃO NO SEIO SOCIAL Fabrycio Marinho Veras Mascena3 RESUMO O artigo estuda como o Direito é importante para sociedade e como um completa o outro em uma interação mútua, e com isso a necessidades de criação de normas equitativas e justas para que a sociedade seja harmoniosa e seus indivíduos tenham seus direitos garantidos pela mesma. Palavra-chave: Direito, Sociedade, Interação, Normas. 1 INTRODUÇÃO O Direito está presente em todas as sociedades existentes, desde as primitivas até as mais complexas. Ele aparece para mediar os conflitos existentes em um convívio em grupo, para que todos possam viver em harmonia. Se apresentando de várias formas na sociedade, seja ela por forma de costumes, moral, religiosa ou normas escritas que regem o funcionamento da mesma, porém cada uma atua de forma diferente na sociedade, seja por meio da fé ou até mesmo por meio da força física, para que se mantenha a ordem. Com isso, podemos observar que a sociedade e o direito se influenciam mutuamente, seja a sociedade moldando o direito com sua cultura e costumes ou o mesmo moldando a sociedade, fazendo-a se adequar e obedecer às normas. Nesse sentido, há também o Direito Natural, que possui leis advindas da natureza, essas não foram criadas, e por isso não pode ser classificado como processo de adaptação social, porém a presença do Direito Natural na formação do direito é de fundamental importância para a construção da sociedade, como o direito à vida, à liberdade 3 Graduando em Direito pelo Centro Universitário de João Pessoa (UNIPÊ). 26 1.1 A relação mútua entre direito e sociedade O Direito esteve presente na sociedade desde antiguidade, desse momento em que o homem precisou conviver em sociedade para enfrentar as adversidades impostas pelos fenômenos da natureza, e ao transcorrer a vida social o homem sempre buscou satisfazer suas necessidades e por muitas vezes impondo sua vontade ao outro, com isso foi preciso criar normas, para que a convivência em grupo fosse harmônica e esse papel de tutelar as relações sociais e de tentar evitar os conflitos surge o Direito. Ele surge mais como um conjunto de costumes sociais e senso comum do que um conjunto de normas jurídicas como conhecemos hoje. GUSMÃO (2002, p.52) Conceitua o Direito como “conjunto de normas executáveis coercitivamente, estabelecidas ou reconhecidas e aplicadas por órgãos institucionalizados”. Ao analisar esse conceito podemos observar que ele está certo em sua essência, mas podemos dizer que ele está incompleto, pois para definir o direito de uma forma eficaz, devemos partir da sua essência, que é o regulamento do convívio humano em sociedade, como isso podemos afirmar que o direito é um conjunto de normas executáveis coercitivamente, estabelecidas e reconhecidas por órgãos institucionalizados, visando regular o convívio social para obter harmonia na sociedade. Como podemos observar, o Direito e a sociedade andam de mãos dadas, um com o outro, de um modo que um não existiria sem o outro, pois uma sociedade sem normas, sem o Direito sucumbiria em meio ao caos e não duraria por muito tempo, enquanto a se não existisse a presença da sociedade, O Direito como fato social, não existiria, e mesmo existindo seria desnecessário, pois sua função é regular o convívio social. Ao entender isso, podemos afirmar que, o Direito não pode ser formar alheia a sociedade, pois cada sociedade tem seus próprios costumes, sua própria cultura e isso implica em fatos sociais diferentes. O Direito junto com a sociedade molda um contorno legal que indica os direitos, deveres, limites de atuação e proibições, ou seja, regras, isso tem grande interferência na vida das pessoas, pois nem todos têm ideia de quanto o Direito se faz presente no meio social, de como está interligado com quase tudo que se passa na sociedade, desde a mais simples às mais complexas relações sociais. A existência de um direito, seja em sentido forte ou fraco, implica sempre a existência de um sistema normativo, onde por “existência” deve entender-se tanto o fator exterior de um direito histórico ou vigente quanto o reconhecimento de um conjunto de normas como guia da própria ação. A figura do Direito tem como correlato a figura da obrigação. (BOBBIO, 1922, p. 77-80). 27 Ao compreender isso, percebesse que o Direito tem uma função social, vem em busca de trazer o queé justo, mas a criação de normas acaba gerando uma série de limitações que, em certos momentos e em determinados lugares, são tão grandes e frequentes que chegam a afetar diretamente a própria liberdade humana. Então o Direito deve assumir uma função para trazer harmonia às relações sociais intersubjetivas, resolver os conflitos com o mínimo de desgaste e sacrifícios. A busca para a solução de conflitos de ser ordenada a usar critérios justos e equitativos de acordo com as convicções presentes na sociedade. Então o direito tem um papel de ação e reação dentro de uma sociedade, onde ele vai moldar a realidade social e ao mesmo tempo vai ser determinado por essa realidade. O direito exerce um duplo papel dentro da sociedade: ativo e passivo. Ele atua como um fator determinante da realidade social e, ao mesmo tempo, com o um elemento determinado por esta realidade. Dentro deste contexto identificam-se as pressões dos grupos dc poder que podem induzir tanto para que se dê a elaboração de determinadas regras, bem como para que as regras em vigor não sejam cumpridas, levando a um processo de anomia generalizada. ( SABADELL, 2002, p. 92-93) Com isso Sabadell mostra que as normas jurídicas necessariamente precisam suprir os interesses e as necessidades sociais, fazendo com a norma seja efetiva na sociedade, e que a relação social não se mantém estáveis ao longo dos anos, elas passam por modificações que alteram o ordenamento jurídico vigente, fazendo com que normas antes válidas sejam substituídas por novas normas que supra a necessidade da sociedade atual, tirando assim a eficácia e vigência da norma antiga. Ao entender que o direito está totalmente interligado nas mudanças sociais, percebe-se que essa ligação pode ser entendida de duas formas, a primeira de que o direito impede a mudança, devido ao sistema jurídico que tarda ao detectar as necessidades sociais, tornando-se um freio às mudanças sociais, e a segunda é a de que o direito é o responsável pela mudança social, que ao realizar mudanças jurídicas transforma a sociedade como um todo. A relação entre o direito é mudanças sociais pode ser um meio termo de cada corrente supracitada, que em alguns casos se torna um freio e uma interrupção de alguma mudança social, como pode promover uma mudança, pois o direito é um fator social e junto com eles existem vários outros fatores como economia, clima, cultura, religião, entre outros. O direito é um a variável dependente, ou seja, um fenômeno social que muda historicamente com função de outros fenômenos. A relação entre os grupos e as classes sociais, definida principalmente pelo fator econômico, determina as estruturas jurídicas. O direito pode ser, então, considerado como um produto de interesses sociais, que dependem das relações de dominação em cada sociedade. (SABADELL, 2002, p. 96) O Direito é influenciado por diversos fatores presentes na sociedade, que muitas vezes são particulares de cada uma delas, tornando o direito único em cada sociedade. 28 Por ser derivado de vários outros fatores o direito dificilmente é o único propulsor de uma mudança social, pois normalmente a mesma acontece devido os outros fatores, e a uma grande dificuldade para o direito ser um propulsor, devido à tradição jurídica e o processo de criação de normas que dificulta o direito acompanhar a sociedade em suas mudanças. (SABADELL,2002, p.96) A importância da tradição jurídica explica também o fato do que países com semelhantes estruturas política e econômica possuam sistemas jurídicos totalmente diferentes. Nenhuma sociedade é totalmente igual e isso faz com que o Direito se torne único, partindo de uma base universal de trazer harmonia e justiça para a sociedade se adaptando de acordo com os conceitos morais,e como eles sempre estão em constante movimento torna-se difícil para o direito os mesmo, devido consistência é necessária uma força política para fazer essa mudança, então essa força política deve tentar acompanhar as mudanças sociais para que o direito torna-se atual como a sociedade. Quanto mais aberto, flexível e abstrato é o sistema jurídico mais fácil será operar uma mudança social através de sua interpretação. Um sistema jurídico completo e detalhado, com rígidos procedimentos de controle e com “cláusulas pétreas” que dificultam as reformas, dificilmente permite mudanças sem ruptura.( SABADELL, 2002, p.98) Para que o direito seja realmente efetivo na mudança social, além da força política é necessário um sistema jurídico flexível, que junto com os legisladores que detém o poder político, devem moldar as normas a fim de acompanhar a sociedade e não deixar o direito vigente tão retrógrado, como por exemplo em questões dos direitos das mulheres, que há anos estão lutando por igualdade, e para que não tenha seus direitos suprimidos devido à legislação antiga e machista. O Direito mostra que além de modificar a sociedade, ele apresenta uma função social, dando legitimidade a causas, que antes eram reprimidas pela sociedade, combatendo assim o preconceito, que por muitas vezes foi criado pelo próprio Direito, como por exemplo a escravidão no Brasil, que o direito vigente na época, legitimava o trabalho forçado, em condições desumanas, devido somente a cor de pele negra, denominada de raça inferior, e mesmo com o fim da escravidão, a população negra sofreu com o preconceito predominante na sociedade, com políticas de tentar branquear o Brasil, trazendo mão de obra estrangeira e deixando eles a margem da sociedade, então o direito atual tenta amenizar os erros causados no passado com leis que proíbem qualquer tipo de preconceito, além de cotas em universidades e programas de combate ao racismo. Fazendo-se assim alusão ao movimento chamado de “ uso alternativo do direito” que é basicamente usufruir das brechas existentes nas normas e de suas ambiguidades para favorecer classes e grupos sociais mais fracos. 29 A aplicação do direito deveria tornar-se um instrumento de solidariedade social. O operador jurídico deveria tirar proveito do caráter genérico e ambíguo das normas, empregando métodos de interpretação inovadores, que lhe permitiriam fazer justiça social. A proposta era a de tentar mudar a sociedade a partir das estruturas formais do direito.(SABADELL, 2002 , p.99) Nesse sentido o Direito torna-se um grande fator de mudança social, pois ele proporciona a igualdade aos menos desfavorecidos, tornando-o mais justo na medida do possível, para que se possa realmente acontecer uma mudança social Surge então a ideia de que o verdadeiro direito alternativo, não seria aquele que faria a mudança social, segundo Sabadell (2002, p. 99-100): O verdadeiro direito alternativo seria então um novo sistema jurídico. Os representantes deste movimento exprimiram à vontade de responder às verdadeiras necessidades sociais dos países “subdesenvolvidos” e de conseguir um a mudança na sociedade através da aplicação de um “outro” direito, gerado espontaneamente no seio dos movimentos sociais e substituindo paulatinamente o “opressor” direito do Estado. Por base nas brechas e ambiguidades na norma seria um novo sistema jurídico capaz de suprir a necessidades sociais, fazendo assim ele próprio a mudança social. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante dos fatos apresentados nota-se que Direito é um elemento de fundamental importância para a sociedade, pois o mesmo tem a função de proporcionar uma vida harmoniosa e justa no meio social, levando em consideração contexto histórico e seus costumes. Além disso, apresenta-se como elemento essencial para garantir direitos que devem ser assegurados pelo Estado, para que com isso haja um equilíbrio entre direitos e deveres. E não uma sociedade sem regras, caótica que priva o direito primordial de seus cidadãos, a liberdade dos indivíduos. REFERÊNCIAS CURY, Carlos Roberto. Direito à Educação: Direito à igualdade, Direito à Diferença.Cadernosde Pesquisa. Minas Gerais, n. 116, p. 245-262, julho 2002. BOBBIO, N. A Era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992. GUSMÃO, Paulo Dourado de – Introdução ao Estudo do Direito – Rio de Janeiro: Forense, 2002 30 SABADELL, Ana Lúcia. Manual de Sociologia Jurídica- São Paulo Revista dos Tribunais, 2002 31 DIREITO COMO PEÇA IMPORTANTE NA SOCIEDADE: relações estabelecidas para o convívio na sociedade moderna Beatriz Vitória Pereira de Lima4 RESUMO Este trabalho aborda a função da Sociologia em conjunto com o Direito, pretendendo mostrar como a interdisciplinaridade entre os dois facilita a compreensão e interpretação de casos judiciais, e assim, o andamento das questões que envolvem a sociedade como um todo. É difícil praticar um ato que não esteja no mundo do direito. Campos de pesquisa jurídica diferentes, como a própria Sociologia, contribuem para um desenvolvimento do estudo da sociedade e assim, iremos observar como essas matérias atuam sobre a sociedade e como esta lida com os problemas e soluções desenvolvidas a partir do direito, que torna o homem um ser social, capaz de opinar sobre as questões levantadas a partir dessa interdisciplinaridade. Direito é ordenamento jurídico, conjunto de normas expressas em lei, que estabelece uma ordem a qual todos devem respeitar e obedecer. Ele promove a justiça e equidade para todos e desse modo, ajuda o homem na busca de suas necessidades sem infringir o espaço de seu semelhante. Neste presente trabalho, também será relacionado à presença do direito na sociedade com a obra “Amor Líquido” de Zygmunt Bauman, um dos maiores sociólogos da atualidade. Veremos que, segundo ele, as relações estabelecidas na modernidade líquida são as causas da falência de nossas relações com o próximo e do preconceito com as pessoas que são diferentes do nosso convívio. Podemos assim, compreender a sociedade moderna 4 Graduanda em Direito pelo Centro Universitário de João Pessoa (UNIPÊ). E-mail: beatrizvplima@hotmail.com mailto:beatrizvplima@hotmail.com 32 e seus problemas com as mudanças imprevisíveis e rápidas. Essa modernidade, como será apresentado no decorrer do trabalho, altera o Estado e traz uma fragilidade as relações sociais e uma insegurança que estreita laços e os mantêm frouxos. Adentrando mais no contexto do Estado, veremos como ele e o Direito tem sua relação a respeito das normas penais. Palavras-chave: Sociologia, Direito, Sociedade, Interdisciplinaridade, Sociedade Líquida, Convívio, Modernidade, Relação. 1. INTRODUÇÃO A Sociologia é um estudo das relações que os seres humanos estabelecem, seu interesse é analisar e verificar o comportamento humano diante das situações que ocorrem no tempo. O Direito pode ser regra de conduta obrigatória, sistema de conhecimentos jurídicos e a faculdade de exigir um determinado comportamento a outro. A Sociologia Jurídica nasce como disciplina específica para pesquisar, analisar e compreender as relações jurídicas na sociedade. Juntos, visam regular o comportamento social e trazer o direito para a realidade. As relações sociais estabelecidas ao longo da modernidade estão perdendo sua força e tornando cada vez mais as relações frágeis e sem garantia de permanência. A fragilidade desses vínculos, a insegurança e as incertezas são pontos importantes para a discussão de toda situação líquida em que a sociedade se encontra; a velocidade dos fatos e os avanços das tecnologias também acarretam para esse aspecto. Por isso temos a modernidade atual como um mundo confuso e imprevisível que nos traz apenas a certeza de que o homem necessita de uma liberdade que ele não sabe relacionar com os seus vínculos e desejos. Os refugiados também é um assunto importante, pois com o aumento de todos os medos instalados na sociedade moderna, os governos utilizam de artimanhas que ao mesmo tempo em que são utilizados para promover campanhas políticas e inclusão sociais, são culpados por aspectos da doença social e do aumento dos casos de terrorismo, o que leva a deportação dessas pessoas que não tem nenhum lugar para ficar, já que foram expulsos de suas terras. 2. SOCIOLOGIA JURÍDICA E A FUNÇÃO DO JURISTA- SOCIÓLOGO A Sociologia Jurídica, que é uma especialização da Sociologia, retrata a relação entre o social e o jurídico tendo como função analisar as causas e os efeitos das normas jurídicas 33 na sua aplicação na sociedade. Assim, é necessário o jurista-sociólogo, que faz uma leitura diferente do sistema jurídico, sem apego aos dogmas, tentando compreender as razões sociais que levaram à elaboração daquela determinada norma e sua aplicação, por isso deve ter uma postura neutra e objetiva. Ele observa o direito de forma externa, analisando as relações entre este e a sociedade. Justificando esta definição de distanciamento, Luhmann esclarece: O primeiro refere-se ao sentido da observação externa. (...) Quando se diz que a abordagem sociológica observa o direito “de fora”, isto quer dizer que o pesquisador procura olhar o direito, abandonando por um momento a ótica do jurista, e colocando-se numa outra perspectiva, que pode ser a política, a econômica, a social, dependendo do tipo de análise que ele está fazendo. (...) O segundo esclarecimento refere-se à relação entre direito e sociedade, ou seja, à relação entre o social e o jurídico que estabelecemos aqui como objeto de análise da sociologia jurídica. Como já mencionado, o jurista-sociólogo interessa-se por relacionar as normas jurídicas com a estrutura social e, apesar do desapego a dogmática do direito, ele permanece ligado a este com o objetivo de analisar a atuação dele na sociedade. 3. DIREITO E SOCIOLOGIA PARA COMPOR A SOCIEDADE Desde o século XX, o estudo do direito vem acompanhado de outras ciências, a chamada interdisciplinaridade. Esse conhecimento, de troca, facilita a aplicação e a criação do direito. A Sociologia, como já dito, não é apenas a ciência das relações entre os fenômenos sociais, ela é também o estudo dos fenômenos não sociais, o que facilita o entendimento das características gerais da sociedade. O direito é um fato social, que vem como resultado de fatores sociais, como religião, economia, moral e ele também se apresenta como costume, instituições sociais (como família). Dessa forma, o estudo em conjunto da sociologia e direito é importante para observar e analisar as consequências da aplicação do direito na prática. O modo de aplicar a lei depende do poder executivo e judiciário, dos operadores do direito e estes, apesar das regras que limitam a interpretação, não seguem as previsões legais e dão um sentido ao texto que não condiz com a vontade do legislador ou com a interpretação de outro operador. Para compor a sociedade o direito tem que conhecê-la e é exatamente a interdisciplinaridade com a sociologia jurídica que fará esse trabalho. Quando entram em estudo conjunto, o sistema jurídico é levado à realidade e assim, com as opiniões e impactos 34 das normas reconhecidos, pode-se trabalhar de maneira mais significativa e ligado à vida social, que muda com o tempo e o direito deve acompanhá-la. É evidente que a mudança social relaciona-se com as mudanças do direito, ou seja, com a modificação das normas legais e sua aplicação no seio da sociedade. Para explicar como o tema da mudança social é tratado no âmbito da sociologia jurídica, devemos situar em primeiro lugar o debate acerca do papel do direito na sociedade. (SABADELL, 202, p. 91). 4. O DIREITO NA SOCIEDADE Diferentes opiniões e interesses são o ponto chave da sociedade, eles criam conflitos que muitas vezes modificam a organização social e dessa maneira, o direito, como sendo um dos fatos sociais não deve se afastar muito da opinião pública. Alguns estudiosos entendem que o direito é determinado pela sociedade, ou seja, que a sociedade produz o direito que lhe é necessário. Outros entendem que o direito é que determina ocontexto social, atuando sobre a realidade e a modificando. No entanto, uma terceira posição pode ser sustentada que é a de que o direito pode ser produzido por interesses sociais e mesmo assim, influenciar a sociedade. o direito exerce um duplo papel dentro da sociedade: ativo e passivo. Ele atua como um fator determinante da realidade social e, ao mesmo tempo, como um elemento determinado por esta realidade. (SABADELL, 202, p. 92). Portanto, o direito e o homem se influenciam mutuamente. Ora, a maioria das relações sociais, ou mais importantes para a sociedade, seja por serem essenciais à mesma, seja por serem geradoras de graves conflitos, capazes de ameaçar a paz e a ordem sociais, tornam-se relações jurídicas (§ 144) ao serem regidas por norma jurídica (lei, costume, precedente judicial, case-law). (GUSMÃO, 2013, p. 35). O direito ajuda o homem a se adequar e obedecer às normas e o homem influencia na criação do direito, já que este deve obedecer aos valores que a sociedade tem como fundamentais. 5. AMOR LÍQUIDO SEGUNDO ZYGMUNT BAUMAN De acordo com as análises de Bauman, no mundo moderno vivemos imersos em incertezas, inseguranças em relação à ordem e estabilidade da sociedade, como um todo e de cada sujeito. As relações sociais são frágeis e acabam se tornando, cada vez mais, relações 35 mercantilizadas e individualizadas. Isso se justifica na nova forma de relacionamento que possibilita a troca de parceiros, sem remorso, por outros melhores, o que torna as relações cada vez mais pautadas num comércio de seres humanos com propósito de preencher um vazio. Vínculos e liames tornam “impuras” as relações humanas – como o fariam com qualquer ato de consumo que presuma a satisfação instantânea e, de modo semelhante, a instantânea obsolescência do objeto consumido. (BAUMAN, 2004, p. 31). A situação de insegurança e incerteza também se relaciona com um quesito bastante discutido na obra de Bauman, que é “amar o próximo como a ti mesmo”. Segundo ele, essa seria a máxima da moralidade, pois o amor-próprio é resultado de ser amado e não algo natural; quando o sujeito percebe que é amado, que é ouvido e que faz falta então ele começa a se amar, pois nós nos amamos quando nos identificamos com o outro e com o amor que aquele nos dá. Dessa forma, amamos a nós e amamos ao outro identificado. O “relacionamento puro” tende a ser, nos dias de hoje, a forma predominante de convívio humano, na qual se entra “pelo que cada um pode ganhar” e se “continua apenas enquanto ambas as partes imaginem que estão proporcionando a cada uma satisfações suficientes para permanecerem na relação”. (BAUMAN, 2004, p. 52). Existem ainda duas contradições centrais, uma que traz a vontade de ser livre e uma busca constante pela individualização e outra que traz a busca por uma pessoa perfeita, ideal para viver, porém essa pessoa perfeita não existe, mas existe a pessoa que é capaz de nos entender e amar. 6. MODERNIDADE LÍQUIDA As novas formas de se relacionar se opõem com as antigas – “nossas ferramentas de relacionamento estão engajadas com nossa época fluida, então o caminho da sociedade é a autodestruição após um longo definhamento”. A sociedade moderna e globalizada sustenta a busca pela individualização, pela liberdade ao invés de uma vida afetiva e estável. Ela torna as relações descartáveis, sem vínculos, seguindo o consumismo desenfreado e levando-o para além das relações econômicas; as pessoas viram objetos de consumo e passam a ser julgados pelo prazer que oferecem e pelo seu “valor monetário”. A modernidade é líquida e veloz, “um mundo repleto de sinais confusos, propenso a mudar com rapidez e de forma imprevisível”. Com as tecnologias, podemos nos movimentar sem sair do lugar, criar perfis, fazer amigos, desfazer as amizades feitas e assim viver instantaneamente e temporariamente. A partir disso, a liberdade individual cresce e se 36 opõe á segurança de uma vida estável. Por isso entendemos a modernidade atual como um mundo confuso e imprevisível. Esse termo “modernidade líquida” foi empregado porque a única certeza que temos desse novo período é que a mudança e a incerteza são as únicas certezas. Em entrevista ao jornal italiano Il Messaggero, o Bauman diz que buscamos um estado de maior solidez. “Ainda estamos em uma sociedade líquida, mas em que nascem sonhos de uma sociedade menos líquida”. 7. O DIREITO NA MODERNIDADE LÍQUIDA Na modernidade líquida o Estado perde força, algumas funções que eram de cargo dele tornam-se de iniciativa privada e responsabilidade dos indivíduos. Bauman identifica uma crise da democracia e o colapso na confiança na política, pois ele acredita que os sistemas democráticos não cumprem com suas promessas; ai a descrença das pessoas. Para ele, a economia também passa por crises e tudo isso aumenta as desigualdades sociais, fazendo com que a luta não seja mais de classes e sim de cada pessoa com a sociedade. Com a intervenção do Estado diminuindo conduz a uma aplicação do Direito Penal Máximo e em vez de políticas assistenciais, o Estado aplica penas. Assim, seria a forma do Estado punir quem não consegue se inserir na sociedade de consumo. Pessoas desgastadas e mortalmente fatigadas em consequência de testes de adequação eternamente inconclusos, assustadas até a alma pela misteriosa e inexplicável precariedade de seus destinos e pelas névoas globais que ocultam suas esperanças, buscam desesperadamente os culpados por seus problemas e tribulações. Encontram-nos, sem surpresa, sob o poste de luz mais próximo – o único ponto obrigatoriamente iluminado pelas forças da lei e da ordem: “São os criminosos que nos deixam inseguros, são os forasteiros que trazem o crime.” E assim “é reunindo, encarcerando e deportando os forasteiros que vamos restaurar a segurança perdida ou roubada”. (BAUMAN, 2004, p. 66). Como já mencionado, a segurança também é fluida, e assim o medo se torna o maior vilão do nosso tempo. Esse medo vem de situações que não produzimos e nem conseguimos controlar; relaciona-se com o medo da violência e do terrorismo, que está muito evidente na atualidade. Mas, manter esse medo seria uma estratégia de determinados grupos para continuar no poder, assim, com o crescimento da criminalidade e o aumento dos índices de endurecimento das normas penais, o discurso nacionalista e preconceituoso seriam aceitos pela população. E desse jeito os refugiados, que são expulsos de seus países, terminam sendo indesejados e excluídos nos países em que são recebidos (quando não tem sua entrada recusada); eles 37 são transformados em alvos para descarregar todos os problemas do mundo globalizado, seja a violência ou o desemprego. A atual tendência a reduzir drasticamente o direito de asilo político, acompanhada pela firme recusa ao ingresso de “migrantes econômicos” (exceto nos momentos, poucos e transitórios, em que as empresas ameaçam mudar-se para onde a mão-de-obra está, se esta não for trazida para onde elas estão), (...) Nessas circunstâncias, o ataque terrorista de 11 de setembro ajudou enormemente os políticos. Além das acusações comuns de viverem à custa da previdência social e de roubarem empregos, ou de trazerem para o país doenças há muito esquecidas, como a tuberculose, ou recentemente surgidas, como a AIDS, os refugiados podem agora ser acusados de fazer o papel de “quinta coluna” em favor da rede terrorista global. Há finalmente um motivo “racional” inatacável para recolher, encarcerar e deportar pessoas com as quais não se sabe mais lidar nem se deseja ter o trabalho de descobrir. (BAUMAN, 2004, p. 74). CONSIDERAÇÕES FINAIS Vale ressaltar que o direito é um fato social que tem origem nas inter-relações sociais e que disciplina as relações sociais. Ele é um grande facilitador do convívio do homem com seus semelhantes e possibilita o desenvolvimento destes em relação a conflitos, que são amenizados com a presença do direito,
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