Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
FONTES DO DIREITO PENAL Conceito: “Fonte é o lugar de onde o direito provém. Deriva do latim, fonatus, fons, fontis, palavra de origem religiosa significando nascente, manancial. Por conseguinte, transposta a ideia a seu sentido jurídico, passou a significar o lugar de nascimento, o manancial de onde provêm as normas de direito.” (CAPEZ, 2020, p.108) “Fontes do direito, enfim, são todas as formas ou modalidades por meio das quais são criadas, modificadas ou aperfeiçoadas as normas de um ordenamento jurídico.” (BITENCOURT, 2020, p.411) Espécies: Fonte Material, de produção ou substancial A fonte de produção do Direito penal é o Estado. Cabe à União legislar, conforme Art. 22 da CF/88: “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; (...) Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo.” Previsão do parágrafo único de competência suplementar através de lei complementar para situações específicas, de interesse meramente local, não podendo os Estados-membros legislar sobre matéria fundamental de Direito Penal, somente nas lacunas da lei federal e ainda em questões específicas. (Ex. Proteção da Vitória-régia na Amazônia.) Fonte formal, de cognição ou de conhecimento Instrumento de exteriorização do Direito Penal, modo como as regras são reveladas. “só a lei abre as portas da prisão” (MEZGER apud DAMASIO, 2020, p.60) Fonte Imediata - a lei formal, estrita, norma geral e abstrata emanada do Poder Legislativo. Excluem-se os decretos, regulamentos, resoluções, portarias ou medidas provisórias. PRINCÍPIO DA REPRESENTATIVIDADE Art. 1º, parágrafo único da CRFB/88: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.” Princípio da Reserva legal - art. 5º da Constituição Federal: “XXXIX - Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal” Modernamente, a doutrina inclui a Constituição Federal, os princípios, a jurisprudência, os tratados internacionais de direitos humanos e os complementos das normas penais em branco, como fontes imediatas do direito penal, reservando, contudo, a criação de infrações penais e cominação de penas para a lei (ordinária ou complementar). CRFB/88 - mandados de criminalização: crime de racismo (art. 5°, XLII, CF/88), crimes hediondos e equiparados (art. 5°, XLIII, CF/88) ação de grupos armados contra a ordem constitucional e o Estado Democrático (art. 5°, XLIV, CF/88) crimes ambientais (art. 225,§3°, CF/88) Tratados internacionais que versam sobre direitos humanos, após aprovação, tem força de Emenda Constitucional. “É necessária a edição de lei em sentido formal para a tipificação do crime contra a humanidade trazida pelo Estatuto de Roma, mesmo se cuidando de Tratado internalizado.”(STJ. REsp 1.798.903-RJ, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, Terceira Seção, por maioria, julgado em 25/09/2019, DJe 30/10/2019) Jurisprudência - Súmulas vinculantes (art.103-A da CRFB/88) Ex. Súmula Vinculante 24 - “Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei 8.137/1990, antes do lançamento definitivo do tributo.” Outras decisões - Ex. STJ regra período não superior a 30 dias no crime continuado, Art. 71 do CP. Princípios - Ex. Princípio da insignificância, excludente da tipicidade material. Complementos - Ex. art. 33 da Lei n2 11.343/06, em que se necessita de complemento para definir que substâncias podem ser definidas como drogas. Fonte mediata - os costumes e os princípios gerais do direito. Doutrina Moderna - somente é fonte formal mediata a Doutrina. “objetivam sistematizar as normas jurídicas, construindo conceitos, princípios, critérios e teorias que facilitem a interpretação e aplicação das leis vigentes” (BITENCOURT, 2020, p.420) O costume seria fonte informal. “o costume é uma regra de conduta praticada de modo geral, constante e uniforme, com a consciência de sua obrigatoriedade.” (MIRABETE apud GRECO, 2017,p.93) Os costumes não criam delitos nem cominam penas Princípio da reserva legal Não revogam tipos penais, crimes e contravenções. Art. 2º da LINBD: “a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue”. Espécies: contra legem (contrários à lei) Não tem o condão de revogar a lei, pode no máximo se inserir no princípio da adequação social. praeter legem (além da lei, preenchendo lacunas) Não pode criar figuras típicas, mas podem ser causa supra legal de exclusão da ilicitude ou mesmo da culpabilidade. secundum legem (dentro dos limites do tipo penal) Contribui com aplicação da lei, dando definição a expressões como: “repouso noturno” (art. 155, §1°) “reputação” (art.139); “dignidade e decoro” (art. 140); “ato obsceno” (art. 233); STF- Primeira Turma- HC 98898- Rei. Min. Ricardo Lewandowski- DJe 20/04/2010. No mesmo sentido, decidiu o Pretória Excelso que o princípio da adequação social não incide sobre a manutenção de casa de prostituição, dada a necessidade de lei para revogação do delito e, portanto, a insuficiência dos costumes para operarem este Efeito (STF- Primeira Turma- HC 104467- Rei. Min.Cármen Lúcia - DJe 09/03/2011). Súmula 502: "presentes a materialidade e a autoria, afigura-se típica, em relação ao crime previsto no artigo 184, parágrafo 2º, do Código Penal, a conduta de expor à venda CDs e DVDs piratas". Atenção! Analogia (integração da lei penal) “a analogia não é fonte formal mediata do Direito Penal, mas método pelo qual se aplica a fonte formal imediata, isto é, a lei do caso semelhante. De acordo com o art. 4º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, na lacuna do ordenamento jurídico, aplica-se em primeiro lugar outra lei (a do caso análogo), por meio da atividade conhecida como analogia; não existindo lei de caso parecido, recorre-se então às fontes formais mediatas, que são o costume e os princípios gerais do direito.” (CAPEZ, 2020, p.115) Classificação da Lei Penal Normas penais não incriminadoras Normalmente encontradas na parte geral do código penal. “são aquelas que estabelecem regras gerais de interpretação e aplicação das normas penais em sentido estrito, repercutindo tanto na delimitação da infração penal como na determinação da sanção penal correspondente.” (BITENCOURT, 2020, p. 405) Subdividem-se em: I. Permissivas: permitem a realização de uma conduta em abstrato proibida. São exceções que afastam a ilicitude da conduta. Pode ser: Justificantes: afastam a ilicitude (antijuridicidade) da conduta Ex. Legítima defesa. Exculpantes: eliminam a culpabilidade, isentando de pena. Ex. Art 26 - inimputabilidade (incapaz, doente mental). II. Finais Complementares ou Explicativas: esclarecem, complementam ou limitam o âmbito de aplicação das normas penais incriminadoras. Ex. Art 327 - conceito de funcionário público. Art. 5º - aplicação da lei penal no território. Art. 31 estabelece que a conduta do partícipe não é punível se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado. (limitação do preceito primário da norma penal incriminadora) III. Extensivas ou integrativas Viabilizam a tipicidade de alguns fatos, que não seriam alcançados pelo tipo penal. Exemplos: Tentativa (art. 14, II do CP) “II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente.” Participação (art. 29 do CP) “Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. “ Normas penais incriminadoras “têm a função de definir as infrações penais, proibindo (crimes comissivos) ou impondo (crimes omissivos) a prática de condutas, sob a ameaça expressa e específica de pena, e, por isso, são consideradas normas penais em sentido estrito.”(BITENCOURT,2020, p. 405) A norma penal incriminadora é composta por dois preceitos: Preceito Primário (preceptum juris) - descreve de forma detalhada a conduta que se procura proibir ou impor, o comportamento humano ilícito. Ex. Furto: Art. 155. Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel. Preceito secundário (sanctio juris) - comina a sanção penal de forma abstrata, possibilitando a individualização da pena. Ex. Furto: Pena – reclusão, de 1(um) a 4 (quatro) anos, e multa. Teoria Geral da Norma Penal A lei é a fonte imediata do direito penal, como leciona o inciso XXXIX do art. 5º da Constituição Federal e o art. 1º do Código Penal: “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal.” Assim, pode-se fazer tudo que não está proibido pela lei. O princípio da intervenção mínima, limita o legislador, e o direito penal somente protege bens necessários à manutenção da sociedade. “A proibição e o mandamento, que vêm inseridos na lei, são reconhecidos como normas penais, espécies do gênero norma jurídica” (GRECO, 2017, p.95) Teoria de Binding Na técnica legislativa adotada para descrever a norma penal incriminadora não se diz expressamente que a conduta é proibida, mas que a realização da conduta descrita leva à sanção penal. Ex. Homicídio - Art. 121 - matar alguém. Para Binding, o criminoso não viola a lei, pois realiza o comportamento exato previsto no tipo penal, e sim a norma penal, preceito proibitivo anterior a lei, que constitui um mandamento, no exemplo: não matarás. Lei - Dispositivo legal Norma - preceito de conduta Para a maioria da doutrina não há distinção entre a lei e a norma, quanto o momento de surgimento, conteúdo, natureza. “Deve-se reconhecer, com efeito, que a lei é a fonte da norma penal. A norma, pode-se afirmar, é o conteúdo daquela.” (BITENCOURT, 2020, p.401) “Essas normas sociais ou culturais só se tornam jurídicas, e, portanto, revestidas da autoridade estatal, quando o direito positivo as incorpora ao seu sistema como preceitos seus. Quando a norma jurídico-penal sanciona determinado fato, é que o comando ou proibição que ele transgride foi por ela elevado à categoria de imperativo jurídico e está implícito, como elemento normativo, na sua disposição, e é, assim, um preceito do Direito punitivo” (BRUNO apud JESUS, 2020, p.65) Importância da técnica da norma incriminadora Caráter Fragmentário do Direito Penal (nullum crimen sine lege) Recomenda a descrição pormenorizada da conduta. A normas penais não incriminadoras podem ser encontradas na Parte Geral do Código Penal, e não utilizam a mesma técnica legislativa da incriminadoras, mas proposições jurídicas para interpretação e delimitação do alcance da norma penal incriminadora. São regras comuns que repercutem nos crimes em geral, evitando a repetição. Ex. Art. 14 do CP: “Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços.” Normas penais completas, incompletas e abertas. Completas - dispensa complemento, valorativo (dado pelo Juiz) ou normativo (dado por outra norma). Ex. Art. 121 do CP. Incompletas - depende de complemento, valorativo (aberta) ou normativo (norma penal em branco). Tipo aberto - depende de complemento valorativo dado pelo Juiz. Ex.: crimes culposos, a lei não determina o que se entende por imprudência, negligência e imperícia. Norma penal em branco - depende de complemento normativo, ou seja, o preceito primário não é completo, sendo que para determinar qual a exata conduta proibida, deve haver complemento de outra norma. São espécies: Norma penal em branco própria (sentido estrito ou heterogênea) - o complemento emana de fonte normativa diversa, ou seja, não é trazido por outra lei, mas por outro tipo de norma. Ex. Crimes de tráfico e posse de drogas, a lei 11343/06 não determina quais são as drogas proibidas, o que fica a cargo da Portaria do Ministério da Saúde nº 344/2008 (Poder Executivo). Art. 268 do CP - Infringir determinação do poder público, destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa: Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa. (Norma pode ser complementada por decreto federal, ‘ estadual ou municipal.) Norma penal em branco própria, é a regra, técnica legislativa utilizada no mundo todo para dar agilidade ao processo de modernização da lei em relação a evolução da sociedade. Norma penal em branco imprópria (sentido amplo ou homogênea) - o complemento normativo emana da mesma fonte de produção, ou seja, o legislador. Podendo ser encontrado no próprio dispositivo legal ou em lei diversa. norma penal em branco imprópria homovitelina - chamada quando o complemento se encontra no mesmo diploma legal. Ex. Art. 317 do CP tipifica o crime de corrupção passiva, crime cometido por funcionário público, sujeito ativo próprio. A definição de funcionário público se encontra no art. 327 do CP. norma penal em branco imprópria heterovitelina O complemento se encontra em instância legislativa diversa, ou seja, lei extapenal. Ex. Art. 237 do CP define como crime o fato de “contrair casamento,conhecendo a existência de impedimento que lhe cause a nulidade absoluta”. O Código Civil no Art. 1521 e 1523 e ss dizem quais são esses impedimentos. O art. 22,I, da CRFB/88 diz que compete à União legislar sobre Direito Civil e Penal, portanto o complemento emana da mesma fonte legislativa. “Este entendimento, no entanto, está longe de ser majoritário. Emende a quase unanimidade da doutrina, ser constitucional a lei penal em branco, mesmo quando complementada por norma inferior, exigindo, porém, que o recurso à técnica da remissão seja absolutamente excepcional, necessário, somente, por razões de técnica legislativa.” (CUNHA, 2016, p.90) Norma penal em branco e instâncias federativas diversas As normas complementares podem ser oriundas de instâncias federativas diversas (Poder Executivo ou Legislativo Federal, Estadual ou Municipal). Ex. Art 63 da lei de crimes ambientais. “É preciso, no entanto, que se atente para o fato de que a iniciativa dessas instâncias federativas no complemento das normas penais em branco deve ser restrita, sob pena de se caracterizar generalizada delegação de competência legislativa privativa da União, expediente vedado pela Constituição Federal.” (CUNHA, 2016, p.93) Norma penal em branco ao avesso (ou invertida) Trata-se de norma incompleta em seu preceito secundário, ou seja, a conduta criminosa está perfeitamente delimitada, mas a sanção fica a cargo de uma norma complementar, somente lei, única fonte capaz e cominar penas. Ex. Crime de Genocídio, Lei n° 2.889/56: “Art. 1º Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso, como tal: a) matar membros do grupo; b) causar lesão grave à integridade física ou mental de membros do grupo; c) submeter intencionalmente o grupo a condições de existência capazes de ocasionar-lhe a destruição física total ou parcial; d) adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo; e) efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para outro grupo; Será punido: Com as penas do art. 121, § 2º, do Código Penal, no caso da letra a; Com as penas do art. 129, § 2º, no caso da letra b;Com as penas do art. 270, no caso da letra c; Com as penas do art. 125, no caso da letra d; Com as penas do art. 148, no caso da letra e;” Norma penal em branco ao quadrado (raiz quadrada da norma penal em branco) Quando a norma penal necessita de dois complementos. Art. 38 da Lei de Crimes ambientais. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art121%C2%A72 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art129%C2%A72 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art270 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art125 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art148http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art148 Destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente, mesmo que em formação, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção: Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. Conceito de floresta pode ser obtido no Código Florestal. O Código Florestal também prevê a possibilidade de decretos estaduais ou municipais também podem estabelecer o que é floresta. Norma penal em branco de dupla face Tanto o preceito primário, descrição da conduta, quanto o preceito secundário, cominação da pena, precisam de complementação. Ex. art. 304 do CP: “Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se referem os arts. 297 a 302: Pena - a cominada à falsificação ou à alteração.” Norma penal em branco de fundo constitucional O complemento do preceito primário está na Constituição Federal. Ex. Art. 246 do CP: “Deixar, sem justa causa, de prover à instrução primária de filho em idade escolar: Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.” Complemento no art. 208, I, da CF/88: “educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria” Homicídio Funcional: “VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição:” Características das normas penais. Exclusividade - somente a lei define infrações (crimes e contravenções) e comina sanções penais (penas e medidas de segurança). Imperatividade - Impõem-se coativamente a todos, independente da vontade de cada um. Generalidade - Têm eficácia erga omnes, dirigindo-se a todos, inclusive inimputáveis, passíveis de medida de segurança. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art142 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art144 Impessoalidade - dirige-se abstratamente a fatos (futuros) e não a pessoas. Interpretação da Lei Penal Conceito: “É a atividade que consiste em extrair da norma penal seu exato alcance e real significado.” (CAPEZ, 2020 p.117) Importante atividade para determinar as relações humanas subordinada a lei. “a própria conclusão de ser clara a lei depende de ser interpretada. Assim, a verificação da clareza, em vez de afastar o trabalho exegético, implica e pressupõe o seu uso. Como saber se uma lei é clara senão depois de interpretá-la?” (JESUS, 2020, p.85) Natureza Busca-se a vontade da lei, de seus preceitos, e não a do legislador. Espécies: I. quanto ao sujeito que interpreta (origem) Autêntica - (ou legislativa) realizada pelo próprio órgão de que emana, interpretação dada pelo próprio sujeito que elaborou a norma, através da letra da lei, pode ser: Contextual - realizada no próprio texto da lei. Ex. Conceito de funcionário público art. 327 do CP. Posterior - feita em lei distinta e posterior. Alguns autores dizem se tratar de nova lei e não interpretação. Mas mesmo assim, se for concebida apenas para dar sentido ao precedente, o caráter é interpretativo, não criador de direito. Anteprojetos, projetos e debates parlamentares, revelam a intenção do legislador. Exposição de motivos não é lei e, portanto, é considerada fonte doutrinária. Científica - (ou doutrinária) interpretação feita pelos estudiosos, escritores do direito, de observância não obrigatória. Chamada “communis opinio doctorum” Jurisprudencial - (judicial ou judiciária) realizada pelos juízes e tribunais quando da análise do caso concreto. Em regra não tem força obrigatória. Podendo, no entanto, adquirir caráter vinculante, dada a possibilidade de edição, pelo STF, das "súmulas vinculantes". “Jurisprudência é o conjunto de decisões judiciais sobre determinado tema, reiteradas de forma mais ou menos frequente. Jurisprudência, em outros termos, é a declaração do direito, em caráter individual e vinculada ao caso concreto, ao contrário da lei, que é genérica e abstrata.” (BITENCOURT, 2020, p.428) II. quanto ao modo ou meios empregados Gramatical, filosófica ou literal - Leva-se em conta o sentido literal das palavras. Menor valor hierárquico, orienta-se a não ser o único critério, para não se tornar um formalista. Serve também para estabelecer limites, diante dos princípios da legalidade e taxatividade. “Por isso, nesse método interpretativo, recomenda-se que nunca se olvidem duas regras básicas: a) a lei não tem palavras supérfluas; b) as expressões contidas na lei têm conotação técnica e não vulgar”. (BITENCOURT, 2020, p.434) Teleológica ou lógica - busca a vontade da lei, seus fins e à sua posição dentro do ordenamento jurídico. Histórica - fornece dados históricos das razões e fundamentos da norma. Não vinculante, mas importantes dados que auxiliam na interpretação teleológica. Lógico-sistemática - investiga o sentido global do sistema em que a norma está inserida, justificando sua razão de ser, situando-a como parte de um todo. Ex. Tribunal de Júri e latrocínio. Progressiva ou Evolutiva - representa a busca do significado legal de acordo com o progresso da ciência. III. quanto ao resultado Declarativa - a letra da lei reflete exatamente a sua vontade. A interpretação não restringe nem adiciona nada. Restritiva - “Lex dixit plus potius quam voluit” (a lei diz mais do que quer), procura limitar a amplitude da lei, adequando a sua real vontade. Ex. Art. 28, I e II - imputabilidade pela paixão, emoção e embriaguez, restringindo o art. 26. Extensiva - “Lex minus dixit quam voluit ou Lex minus scripsit, plus voluit.”, o texto legal diz menos do que queria dizer, as palavras não expressam a vontade da lei na extensão desejada. Ex. Art. 235 - ao tipificar a bigamia, a lei quis também tipificar a poligamia. Interpretação extensiva e o princípio do “in dubio pro reo” Na busca da vontade da lei, ou seja, realizada a interpretação gramatical, histórica, sistemática, teleológica, o resultado pode ser restritivo ou extensivo, sendo ou não favorável ao réu. Para a maioria da doutrina, persistindo a dúvida na interpretação da lei penal, deve-se aplicar o princípio do “in dubio pro reo”. “no caso de irredutível dúvida entre o espírito e a letra da lei, é força acolher, em matéria penal, irrestritamente, o princípio in dubio pro reo (i.e., o mesmo critério de solução nos casos de prova dúbia no processo penal). Desde que não seja possível descobrir-se a voluntas legis, deve guiar-se o intérprete pela conhecida máxima: favorabilia sunt amplianda, odiosa sunt restringenda. O que vale dizer: a lei penal deve ser interpretada restritamente quando prejudicial ao réu, e extensivamente no caso contrário.” (HUNGRIA apud JESUS, 2020, p.98) Interpretação analógica A interpretação analógica (intra legem), é uma espécie de interpretação extensiva. A própria lei determina a extensão do conteúdo, estabelecendo uma cláusula genérica após uma fórmula casuística. Ex. 121, §2°, I, do CP, homicídio qualificado quando cometido: ''mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe" Fórmula casuística : “mediante paga ou promessa de recompensa” Cláusula genérica: “ou por outro motivo torpe" Analogia (integração da lei penal) Não se confunde com a interpretação extensiva ou analógica. Neste caso não há lei para ser aplicada e interpretada, o que existe é uma lacuna, ausência de lei. A analogia é uma forma de autointegração da lei, consiste em aplicar uma hipótese não prevista em lei a disposição relativa a um caso semelhante, conforme ensina o art. 4º da LINDB (Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942): “Art. 4o Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o casode acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.” "ubi eadem ratio ibi idem jus" (onde houver o mesmo fundamento haverá o mesmo direito) "ubi eadem legis ratio ibi eadem dispositio" (onde impera a mesma razão deve prevalecer a mesma decisão) Espécies: I. analogia legal, ou legis - a integração da lacuna se dá através de outro dispositivo normativo que regula caso semelhante. II. analogia jurídica, ou juris. - a lacuna é suprida através da utilização dos princípios gerais do direito. “Em matéria penal, por força do princípio de reserva, não é permitido, por semelhança, tipificar fatos que se localizam fora do raio de incidência da norma, elevando-os à categoria de delitos. No que tange às normas incriminadoras, as lacunas, porventura existentes, devem ser consideradas como expressões da vontade negativa da lei. E, por isso, incabível se torna o processo analógico. Nestas hipóteses, portanto, não se promove a integração da norma ao caso por ela não abrangido.” (LEIRIA apud GRECO, 2017, p.123) A doutrina permite, no entanto, o emprego da analogia em matéria penal, se presentes os seguintes requisitos: a) aplicação a favor do réu (in bonam partem); b) efetiva lacuna a ser preenchida; "Até mesmo o emprego da analogia para favorecer o réu deve ser reservado para hipóteses excepcionais, uma vez que o princípio da legalidade é a regra, e não a exceção"'· (NUCCI apud CUNHA, 2016, p.64) Ex. art. 181, I, do CP - escusa absolutória, isenção de pena prevista nos crimes contra o patrimônio em relação ao cônjuge e analogicamente ao companheiro.
Compartilhar