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A corrupção social: uma visão antropológica

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A corrupção natural do estado civil
De acordo com o antropólogo Jean-jaques Roussseau, o homem já é corrompido naturalmente por fazer parte de uma sociedade. O homem nasce perfeito e se corrompe através das situações impostas pelos contratos sociais que forma. O autor aponta, no entanto, que essa corrupção pode ser sinal de evolução, ao passo que a característica de perfectibilidade (capacidade de buscar a perfeição) também está intrínseca ao comportamento humano.
 “Depois de ter mostrado que a perfectibilidade, as virtudes sociais e as outras faculdades que o homem natural recebera potencialmente jamais poderão desenvolver-se por si próprias, pois para isso necessitam do concurso fortuito de inúmeras causas estranhas, que nunca poderiam surgir e sem as quais ele teria permanecido eternamente em sua condição primitiva”
A sociedade que corrompe o homem, portanto, é a mesma que o oferece a oportunidade de crescimento e evolução. A partir do momento que os contratos sociais passam a existir e o estado de natureza do homem se extingue, esse homem se corrompe e passa a agir em busca de uma perfeição utópica. 
O autor distingue o homem animal (natural) do homem corrupto (social) através da perfectibilidade, sendo somente o segundo capaz de agir em busca de um sentindo perfeito – sendo esse sentido extremamente manipulado por noções coletivas e individuais, assim como fatores externos, é necessário compreender tais fatores e noções para compreendermos o processo de atualização da perfectibilidade e de desenvolvimento da corrupção do gênero humano.
Rousseau parte da premissa de que, a corrupção do gênero humano está relacionada com a progressão das formas de vida em sociedade. E mais, a progressão da sociedade equivale à progressão da desigualdade entre os homens. A causa de tal mudança reside em dois fatores principais: natureza humana e eventos naturais, isto é, na conjugação dos aspectos subjetivo e objetivo. Starobinski completa: 
“A perfectibilidade, potência latente, não manifesta seus efeitos a não ser com a ‘ajuda das circunstâncias’, quando o obstáculo e a adversidade obrigam os homens, para sobreviver, a mostrar todas as suas forças e todas as suas faculdades”
A corrupção como patologia social
Por que o homem trai os valores fundamentais da comunidade a que pertence e particularmente a honestidade? Responder a esta pergunta é tão difícil quanto esclarecer por que o homem peca. É claro que vem de um conceito individualista-utilitarista, segundo a qual é sempre lícito procurar e obter vantagens para si, independentemente dos meios. A justificativa para a falta de reconhecimento social (alteridade e empatia), no entanto, fica cada vez mais impossível de elaborar a medida em que os sintomas da desigualdade tornam-se mais visíveis.
Quanto mais visível é a distinção entre propriedade pública e privada e a desigualdade entre os homens, mais injustificável torna-se a corrupção. Percebe-se, portanto, que a corrupção é uma patologia social, uma doença que atrasa o desenvolvimento da sociedade e cada vez mais tende a distinguir o homem civil do homem natural (animal).
O homem que é incapaz de perceber seus arredores, age em prol de si mesmo as custas de outrem, não respeita as leis impostas pelo contrato social e foge das suas reponsabilidades como agente civil
A corrupção pública
A corrupção, em qualquer de suas manifestações, representa um ônus insustentável para qualquer sociedade, principalmente para as que são permeadas por grandes desigualdades sociais, como são as Latino-Americanas. A corrupção pública, no entanto, é sem dúvida uma das mais perversas categorias criminosas, pois mina a capacidade dos Estados em prover serviços essenciais para a população. Ela retarda a ruptura dos ciclos de pobreza, da mesma forma que compromete a consolidação e o avanço da democracia. Pode acabar por deslegitimar ou minar a credibilidade de um regime. Como argumenta Adam Przeworski (1997, p. 37), ela faz parte do menu que torna um determinado regime indesejável. Em outras palavras, converte-o numa alternativa não preferida pela população.
Utilizando-se do conceito de Poliarquia de Robert Dahl (1997) que aponta um estado social em que a existência de um marco institucional (leis) que definem o que é público e o que é privado (assim como o que é uso ilegal das coisas públicas), podemos definir a corrupção pública como o uso do poder de um cargo público, à margem da lei, para a obtenção de ganhos privados.
De acordo com o jurista e filosofo Norberto Bobbio (BOBBIO, 1986) a corrupção é um “Fenômeno pelo qual um funcionário público é levado a agir de modo diverso dos padrões normativos do sistema, favorecendo interesses particulares em troca de recompensas. Corrupto é, portanto, o comportamento ilegal de quem desempenha um papel na estrutura estadual. Podemos encontrar três tipos de corrupção: a prática de recompensa para mudar em seu favor o sentir de um funcionário público, o nepotismo que é a concessão de empregos ou contratos públicos, baseando não no mérito, mas sim na parentela e o peculato PR desvio ou apropriação e destinação de fundos públicos ao uso privado. ”
Pode-se compreender, portanto, que para existir corrupção é necessário um agente público que desempenhe uma determinada função dentro do aparelho estatal e também que este agente se preste a atender interesses, particulares ou de terceiros que destoam de suas funções típicas e do respectivo órgão ao qual presta serviços.
Fatores que desestimulam a corrupção
Entre os fatores que desestimulam a corrupção, pode ser citado a crença religiosa. Entretanto, essa condenação à corrupção não é monopólio da religião. Leis morais estabelecidas e obedecidas somente para o pertencimento do grupo religioso abrem brechas para a corrupção mesmo em tal meio. 
A corrupção pode então ser desestimulada através da reprovação social, porém a única influência concreta e efetiva é o exercício da alteridade e a percepção de pertencimento social. O homem deve ser capaz de perceber a influência das suas ações em seu ambiente e círculo social, deve ser capaz de se autopoliciar através do exercício de empatia e capaz de repreender e reforçar os valores morais e a consciência coletiva em frente à corrupção de outrem.
Referências bibliográficas
Bobbio, Norberto. O futuro da democracia (uma defesa das regras do jogo). Trad. Marco Aurélio Nogueira. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1986. 171 p.
LAUNAY, Michel. Jean-Jacques Rousseau, écrivain politique. Grenoble-Cannes: CEL/ACER, 1971.
PRZEWORSKI, Adam. Reforma do Estado: responsabilidade política e intervenção econômica. Revista Brasileira de Ciências Sociais, n. 32. São Paulo: ANPOCS, 1996.
Rousseau, J.-J. (1943). Du contrat social. Paris, FR: Aubier-Montaigne
Rousseau, Jean-Jacques. Org. Raymond Trousson. Paris: Presses de l’Université de ParisSorbonne, 2000
Rousseau, Jean-Jacques. (2000). Textos escolhidos/Rousseau (2 Vol., Lourdes Santos Machado, trad.,). São Paulo, SP: Nova Cultural.
STAROBINSKI, Jean. Jean-Jacques Rousseau: a transparência e o obstáculo. São Paulo: Cia das Letras, 1991

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