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1 Introdução O presente trabalho visa sistematizar e facilitar a vida daqueles que se aventuram a viajar pelas particularidades de um ramo do direito que a muito vem sendo deixado de lado pelas instituições de ensino superior, o que dificulta em sobre maneira essa árdua tarefa. Não bastasse o exposto ainda o Direito Penal Militar carece muito de obras doutrinárias e de jurisprudência sobre assuntos divergentes, que muitas vezes nunca foram enfrentados, somado a isso a parte geral do referido diploma legal encontra redigida com base em um sistema penal diferente do utilizado na parte geral do Código Penal Comum, o que embaraça o entendimento de institutos jurídicos comuns a ambos os ramos do direito, que entretanto sofrem tratamentos distintos em certos pontos. Com uma forma simples de abordagem, e sem a preocupação de rigorismo na confecção dessa breve obra, esperamos de alguma forma simplificar o estudo do Direito Penal Militar, sem, contudo, aprofundarmos em divergências doutrinárias e jurisprudenciais, ora tecendo breves comentários sobre os dispositivos legais que o CPM, ora expondo, por meio de quadros comparativos, institutos jurídicos comuns ao CP e ao COM que, entretanto, possuem regramento distinto. Dessa forma esperamos que de alguma forma contribuir, mesmo que de forma simplória, para a compreensão e estudo do nosso CPM facilitando de alguma forma a vida do acadêmico que pretende compreende-lo, ainda que de forma superficial. Bons estudos. 2Noções introdutórias 2.1 Direito penal militar Conforme preleciona Nucci “O direito penal militar é um ramo especializado, cujo corpo de normas se volta a instituição de infrações penais militares, com as sanções pertinentes, voltadas a garantir os princípios basilares das Forças Armadas, constituídos pela hierarquia e pela disciplina.” (NUCCI, 2014, p.17). Já Neves e Streifinger conceituam o direito penal militar como sendo: “[...] conjunto de normas jurídicas que têm por objeto a determinação de infrações penais, com suas consequentes medidas coercitivas em face da violação, e, ainda, pela garantia dos bens juridicamente tutelados, mormente a regularidade de ações das forças militares, proteger a ordem jurídica militar, fomentando o salutar desenvolver das missões precípuas atribuídas às Forças Armadas e às Forças Auxiliares.” (NEVES E STREIFINGER, 2012, p. 58). Pode-se observar dos conceitos acima, que os citados autores utilizam de forma central a definição de direito penal militar, o bem jurídico penal militar, sendo que tais autores divergem sobre tal bem jurídico inerente a todo fato típico tutelado por esse ramo do direito, dessa forma analisaremos a seguir o conceito de bem jurídico penal militar propostos por Nucci e por Neves e Streifinger. 2.2 Bem jurídico penal militar O CP tutela inúmeros bens penais, em uma relação estrutural e hierárquica começa por tutelar a vida, como expresso em seu Capítulo I, do Título I da parte especial, dentre diversos outros. Já o CPM também tutela inúmeros bens jurídicos, entretanto sempre estará no escopo de proteção dos tipos penais militares a tutela da regularidade das instituições militares, é o que afirmam Neves e Streifinger, por outro lado, Nucci afirma ser o binômio hierarquia e disciplina, bases organizacionais das Forças Armadas (art. 142, caput, CF). A regularidade das instituições militares pode ser entendida como “a condição necessária, interna e externamente, para que determinada instituição militar possa cumprir seu escopo constitucional, não turbando os direitos fundamentais. (Neves e Streifinger). 2.3 Princípios Em uma análise principiológica a respeito desse ramo específico do direito, podemos nos socorrer nos princípios adotados pelo Direito Penal comum, utilizaremos aqui a classificação de Guilherme de Souza Nucci, que enumera os princípios naqueles expressamente previstos em lei, princípios implícitos, princípios constitucionais implícitos e explícitos: Princípios Penais Constitucionais Explícitos Princípio da Legalidade Previsão: art. 5º, XXXIX, da CF; art. 1º do CPM. Conceito: trata-se do fixador do conteúdo das normas penais incriminadoras, ou seja, os tipos penais incriminadores, que somente podem ser criados por meio de lei em sentido estrito, emanada do Poder Legislativo. Princípio da anterioridade Previsão: art. 5º, XXXIX, da CF; art. 1º do CPM. Conceito: uma lei penal incriminadora somente pode ser aplicada a um fato concreto, caso tenha tido origem antes da prática da conduta para a qual se destina, ou seja, as leis penais, via de regra, só podem ser aplicadas a fatos futuros. Princípio da retroatividade da lei penal benéfica ou princípio da irretroatividade da lei penal Previsão: art. 5º, XL, da CF; art. 2º, § 1º, CPM. Conceito: significa que a lei penal não retroagirá para abranger situações já consolidadas, sob a égide da legislação distinta. Aplicando-se para as situação que ocorram durante sua vigência. A exceção fica por conta da novatio legis in melius e da abolitio criminis, sendo que nessas hipóteses, ainda que o fato tenha sido decidido por sentença condenatória transitada em julgado, podem favorecer o agente. Princípio da personalidade ou da responsabilidade pessoal Previsão: art. 5º XLV, da CF. Conceito: significa que a punição, em matéria penal não deve ultrapassar a pessoa do delinquente. Entretanto, pode-se garantir à vítima do delito a indenização civil. Princípio da individualização da pena Previsão: art. 5º, XLVI, da CF. Conceito: quer dizer que a pena não deve ser padronizada, a pena deve individualizada, seguindo-se os parâmetros legais, mas estabelecendo a cada um o que lhe é devido. Princípio da humanidade Previsão: art. 1º, III e art. 5º, XLVII e XLIX , da CF. Conceito: significa que o direito penal deve pautar-se pela benevolência, garantindo ao condenado respeito a sua integridade física e moral bem como a vedação de penas cruéis, como penas de morte (salvo no caso de guerra declarada), penas de trabalho forçado, pena perpétua e de banimento. Princípios Penais Constitucionais Implícitos Princípio da intervenção mínima (subsidiariedade ou fragmentariedade) Conceito: o direito penal não deve interferir em demasia na vida do indivíduo, retirando-lhe totalmente sua liberdade. A lei penal não deve ser vista como a primeira opção (prima ratio) do legislado. O direito penal é considerado a ultima ratio, isto é, só entrará em cena quando os demais ramos do direito forem insuficientes para a tutela de um bem jurídico. Nesse sentido, a fragmentariedade, demostra ser o direito penal apenas um fragmento jurídico, não devendo regular e punir todos os ilícitos. No âmbito militar, podemos observar condutas consideradas infrações militares que não possuem correspondente típico penal, ficando adstrita a órbita administrativa. Devendo assim ser visto como subsidiário dos demais ramos do direito. Princípio da culpabilidade Conceito: ninguém deve ser punido se não houver agido com dolo ou culpa, vedando assim a responsabilidade objetiva (nullum crimen sine culpa). Previsto expressamente no art. 33 do CPM, no qual estabelece que somente há crime quando estiver presente o dolo ou culpa. Princípio da taxatividade Conceito: significa que as condutas típicas, merecedoras de punição, devem ser suficientemente claras e bem elaboradas, de modo a não deixar dúvidas em relação ao seu cumprimento em relação ao destinatário da norma. Princípio da proporcionalidade Conceito: a pena deve ser proporcional a violação cometida, ou ao mal cometido pelo agente. Encontrando-se em um meio termo. Dessa forma a CF em seu art. 5º, XLVI, várias espécies de pena, como a provação da liberdade, perdade bens, multa, entre outras. Princípio da lesividade ou ofensividade Conceito: trata-se de corolário do princípio da intervenção mínima, pois assegura que somente a crime quando houver lesão ou perigo de lesão a bem juridicamente tutelado. Diante disso reconhece-se o crime de bagatela, com base no princípio da insignificância. É que no âmbito penal militar a aplicação do princípio da insignificância resta-se um tanto quanto restrita, pos na maior parte das vezes as condutas tipificadas na legislação castrense violam bens jurídicos indisponíveis e indispensáveis a regularidade das instituições militares. Princípios Indispensáveis as Instituições Militares Princípio da disciplina Conceito: Poder que o superior hierárquico tem de impor condutas e dar ordens aos inferiores. Princípio da hierarquia Conceito: vínculo de subordinação escalonada e graduada de inferior a superior. 3 Tratamento constitucional 3.1 Justiça Militar e sua competência Conforme o art. 122 da CF, são órgãos da Justiça Militar da União: o STM e os Tribunais e Juízes Militares instituídos por lei, sendo órgão de 2º instancia o STM, já o órgão de primeira instância é denominado de auditoria militar que subdivide em dois conselhos: Escabinato: é o órgão colegiado formado por cinco juízes, sendo um juiz auditor, também denominado de juiz togado, e quatro juízes militares, que possuem a função de processar e julgar crimes militares em primeira instância. De acordo com o art. 124 da CF, compete a Justiça Militar da União processar e julgar os crimes militares definidos em lei, ou seja, só julga o que está previsto no CPM. Já na esfera estadual devemos, antes de qualquer coisa, conceituar o que vem a ser militar estadual. Conforme o art. 42 da CF são militares dos estados, do DF e dos territórios os membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, instituições organizadas com base na hierarquia e disciplina, subordinadas diretamente ao chefe do executivo estadual. Já em relação à organização da Justiça Militar Estadual aduz o art. 125, § 3º da CF: “A lei estadual poderá criar, mediante proposta do Tribunal de Justiça, a Justiça Militar estadual, constituída, em primeiro grau, pelos juízes de direito e pelos Conselhos de Justiça e, em segundo grau, pelo próprio Tribunal de Justiça, ou Conselhos Especial: julga oficiais; é composto por 5 membros (1juiz togado e 4 oficiais); De justiça: julga praças e civis; é composto por 5 membros (1 togado e 4 oficiais); Auditoria Militar por Tribunal de Justiça Militar nos Estados em que o efetivo militar seja superior a vinte mil integrantes.” Atualmente no Brasil somente os estados Rio Grande do Sul, São Paulo e Minas Gerais possuem Tribunal de Justiça Militar como órgão de segunda instância. Relativa à competência da Justiça Militar estadual o § 4º, do art. 125, da CF prevê que compete a Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos estados (não julga civil, só militar estadual – PM e BM), nos crimes definidos lei (só julga o que está previsto no CPM), ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, cabendo também ao Tribunal decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças. Outra peculiaridade da Justiça Militar estadual em relação a da União, é que o § 5º do art. 125, da CF dispões que compete aos juízes de direito do juízo militar processar e julgar, singularmente, os crimes militares cometidos contra civis e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, restando ao Conselho de Justiça, sob a presidência do juiz de direito, processar e julgar os demais crimes militares, disposição essa que não encontra correspondente na Justiça Militar da União. Resumo: competência da JME Art. 124, §§4º e 5º da CF: “§4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças.” “§5º Compete aos juízes de direito do juízo militar processar e julgar, singularmente, os crimes militares cometidos contra civis e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, cabendo ao Conselho de Justiça, sob a presidência de juiz de direito, processar e julgar os demais crimes militares.” Especial: julga oficiais nos crimes militares definidos em lei; é composto por 5 membros (1 togado e 4 oficiais -ESCABINATO) Conselhos De justiça: julga praças nos crimes militares definidos em lei; é composto por 5 membros (1 togado e 4 oficiais- ESCABINATO); 1ª Instância Juiz de Direito singular Processar e julgar os crimes militares cometidos contra civil; Processar e julgar as ações judiciais contra atos disciplinares militares. ATENÇÃO: CRIMES DOLOSOS CONTRA VIDA, QUANDO A VÍTIMA FOR CIVIL, A COMPETÊNCIA SERÁ DA JUSTIÇA COMUM. ATENÇÃO: A JME NÃO JULGA CIVIL. ATENÇÃO: ASSIM COMO NA JMU A JME SÓ JULGA O DISPOSTO NO CPM, NÃO JULGA, COMO EXEMPLO, CRIME DE ABUSO DE AUTORIDADE E NEM DE TORTURA OU QUALQUER OUTRO DISPOSTO EM LEI DIVERSA, OS QUAIS SÃO DE COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM. ATENÇÃO: A COMPETÊNCIA DA JM, SEJA ELA ESTADUAL OU DA UNIÃO, É FIXADA EM RAZÃO DA MATÉRIA, E, PORTANTO, É ABSOLUTA E IMPRORROGÁVEL. ATENÇÃO: O CRITÉRIO DE DEFINIÇÃO DE CRIME MILITAR É “RATIO LEGIS”, OU SEJA, EM RAZÃO DA LEI (DOUTRINA CONTEMPORÂNEA). 4 Crimes Militares 4.1 Critério de configuração Como dito anteriormente o critério adotado em nosso país para a configuração do crime militar foi o critério ratione legis, ou seja, crime militar é aquele definido como tal pela lei penal militar. (NEVES E STREIFINGER, 2014, p.76). Em que pese o acima exposto, os autores clássicos enumeram diversos critérios para a configuração do crime militar, como relatam Neves e Streifinger (apud BANDEIRA, 2014, p. 75 e 76), tais critérios utilizados foram: A. Ratione materiae: será delito militar aquele cujo cerne principal da infração seja matéria própria da caserna, ligada a vida militar; B. Ratione personae: será delito militar quando houver a qualidade de militar nos sujeitos ativos e passivos da relação que envolve o delito; C. Ratione temporis: será delito militar quando praticado em determinado período e afete a instituição militar; D. Ratione loci: será delito militar quando praticado em determinado local. 4.2 Crimes militares próprios e impróprios A doutrina especializada afirma de modo quase uníssono que não há, nos dias atuais, qualquer dispositivo legal que defina e distinga os crimes propriamente e impropriamente militares, ficando a tarefa a cargo da doutrina e jurisprudência. O estudo sobre o tema é fundamental, uma vez que a legislação atribui efeitos jurídicos distintos, são eles: Conforme o disposto no art. 5º, LXI da CF “ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar”, assim o art. 18 do CPPM, recepcionado em parte, aduz que independente de flagrante delito, o indiciado poderá ficar detido durante as investigações policial, até 30 dias, comunicando-se a detenção a autoridade judiciária competente, o prazo poderá ser prorrogado por mais 20 dias, observado o dispositivo. Portanto, nos casos de crime propriamente militar, o indiciado, aindaque não esteja em situação de flagrância, poderá ser detido sem ordem judicial. Já o Código Penal comum prevê em seu art. 63, II a impossibilidade de indução à reincidência por crime propriamente militar anteriormente praticado. Diante das considerações feitas passaremos agora a analisar as teorias elaboradas pela doutrina visando à distinção de crimes militares próprios e crimes militares impróprios. I. TEORIA CLÁSSICA (Professores Célio Lobão e Jorge Cesar de Assis) Para a teoria clássica, crimes propriamente militares seriam os que só podem ser cometidos por militares, pois consistem em violação de deveres que lhes são próprios, ex.: deserção (art. 187), dormir em serviço (art. 203), etc. Em contraposição aos crimes comuns em sua natureza, perpetrados por qualquer pessoa, civis ou militares, os quais se denominam crimes impropriamente militares, ex.: violência contra sentinela (art. 158). Essa teoria admite uma exceção, qual seja, o crime de insubmissão (art. 183), considerado o único crime propriamente militar que somente o civil pode cometer, entretanto, é condição de procedibilidade, nos termos do art. 464, §2º do CPPM, a incorporação do faltoso, caso contrário não poderá ser processado e julgado. II. TEORIA TOPOGRÁFICA (visão da doutrina penal comum, ex.: Nucci, Delmanto e Capez) A doutrina penal comum, simplificou a cisão, encontrando na posição dos crimes, ou nos elementos constitutivos do tipo, a resposta ideal. Segundo esse entendimento, seriam crimes propriamente militares os definidos de modo diverso na lei penal comum ou que nela não houvesse correspondente, conforme redação do art. 9º, I do CPM. Já os crimes impropriamente militares seriam os comuns a ambos os ramos do direito, conforme art. 9º, II do CPM. III. TEORIA PROCESSUAL (Jorge Alberto Romeiro) A exceção à teoria clássica, isto é, o caso da insubmissão, levou o professor Romeiro, a adaptar a teoria clássica, concluindo que crime propriamente militar seria aquele que a ação penal, no momento da prática do crime, somente pode ser proposta contra militar. Já os crimes impropriamente militares seriam aqueles que poderiam ser praticados tanto por civil quanto por militar. IV. TEORIA TRICOTÔMICA (Ione de Souza Cruz e Cláudio Amin Miguel) Atentos às dificuldades em relação ao tema, os autores Ione de Souza Cruez e Cláudio Amin Miguel idealizaram a teoria tricotômica, cindindo os crimes militares em propriamente militares (o que só pode ser cometido por militar), tipicamente militar (aquele que só possui previsão no CPM, não importando a qualidade do sujeito ativo, ex.: insubmissão) e impropriamente militares (aqueles previstos tanto no CPM quanto no CP). RESUMO – TEORIAS SOBRE O CRIME MILITAR Teoria clássica (Lobão e Assis) Crimes propriamente militar: aqueles que só podem ser cometidos por militar, ex.: deserção; Crimes impropriamente militar: aqueles que podem ser cometidos por civil ou militar, ex.: violência contra sentinela. Teoria topográfica (Nucci e Capez) Crimes propriamente militar: os previstos de modo diverso pela lei penal comum ou nela não previstos (art. 9º, I do CPM). Crimes impropriamente militar: os previstos tanto no CPM quanto no CP (art. 9º, II do CPM). Teoria processual (Romeiro) Crimes propriamente militar: aqueles em que a ação penal só pode ser intentada contra militar; Crimes impropriamente militar: aqueles que podem ser cometidos por civil ou militar. Teoria tricotômica (Cruz e Miguel) Crimes propriamente militar: aqueles que só podem ser cometidos por militar; Crimes tipicamente militar: aqueles que só possuem previsão no CPM; Crimes impropriamente militar: aqueles previstos tanto no CPM quanto no CP. 5 Sistema penal Sistema penal nas palavras de Estefan e Gonçalves (2012) consiste em “um conjunto de elementos, cuja interação, segundo determinadas teorias e por meio de um conjunto de normas (princípios e regras), formam o conceito analítico de crime.” O nosso código penal comum, o qual teve sua parte geral reformulada em 1984, foi desenhado sobre a égide das teorias do chamado sistema finalista, já o código penal militar, desenvolvido em 1969 se estatuiu sob o sistema neoclássico, a seguir veremos, de forma resumida, as principais teorias e características de ligadas a cada estrutura de crime: Sistemas Neoclássico Finalista Precursores Frank, Mezger Welzel Principais teorias - Teoria causal ou naturalista da ação; - Teoria normativa da culpabilidade (ou psico-normativa) - Teoria finalista da ação; - Teoria normativa pura da culpabilidade. Características ligadas à estrutura do crime A culpabilidade passa a ser considerada um juízo de reprovação sobre o ato, mas ainda contém dolo e culpa. A culpabilidade torna-se exclusivamente normativa, dolo e culpa passa a integrar o fato típico. 6 Código Penal Militar – Parte Geral A partir desse ponto passaremos a analise dos dispositivos legais da Parte Geral do CPM, sempre de forma comparada com os dispositivos correspondentes no CP comum, dando ênfase as principais diferenças entre os institutos. LIVRO ÚNICO TÍTULO I DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL MILITAR Princípio de legalidade Art. 1º Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal. Igual teor prevê a redação do art. 1º do CP e art. 5º, XXXIX, da CF. Lei supressiva de incriminação Art. 2° Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando, em virtude dela, a própria vigência de sentença condenatória irrecorrível, salvo quanto aos efeitos de natureza civil. Retroatividade de lei mais benigna § 1º A lei posterior que, de qualquer outro modo, favorece o agente, aplica-se retroativamente, ainda quando já tenha sobrevindo sentença condenatória irrecorrível. Apuração da maior benignidade § 2° Para se reconhecer qual a mais favorável, a lei posterior e a anterior devem ser consideradas separadamente, cada qual no conjunto de suas normas aplicáveis ao fato. A respeito desse instituto jurídico o destaque fica para o §2º, o qual traz a vedação expressa da combinação de leis penais para criar terceiro diploma legal, o que em matéria penal comum também não é admitido pela jurisprudência, conforme Sum. 501 do STJ. Medidas de segurança Art. 3º As medidas de segurança regem-se pela lei vigente ao tempo da sentença, prevalecendo, entretanto, se diversa, a lei vigente ao tempo da execução. Tal dispositivo deve ser interpretado à luz da nova CF, uma vez que a medida de segurança do direito penal militar pode possuir caráter pessoal ou caráter patrimonial. Assim, em um primeiro momento o CPM adota o sistema vicariante, entretanto pode haver casos em que a medida de segurança será aplicada de forma cumulativa com a pena principal. (ver art. 110 do CPM). Lei excepcional ou temporária Art. 4º A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência. Tratamento igual ao art. 3º do CP. Tempo do crime Art. 5º Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o do resultado. Tratamento igual ao art. 4º do CP. Lugar do crime Art. 6º Considera-se praticado o fato, no lugar em que se desenvolveu a atividade criminosa, no todo ou em parte, e ainda que sob forma de participação, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. Nos crimes omissivos, o fato considera-se praticado no lugar em que deveria realizar-se a ação omitida. Nos crimes comissivos o código prevê a teoria da ubiquidade (atividade+ resultado), igual à regra prevista no art. 6º do CP, entretanto prevê exceção para o crime omissivo, o qual adotará a teoria da atividade, o que não possui correspondente no CP. Territorialidade, Extraterritorialidade Art. 7º Aplica-se a lei penal militar, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido, no todo ou em parte no território nacional, ou fora dêle, ainda que, neste caso, o agente esteja sendo processado ou tenha sido julgado pela justiça estrangeira. Quanto à territorialidade aplica-se a mesma teoria do CP, a teoria da territorialidade temperada, entretanto para os casos de extraterritorialidade o CPM prevê uma extraterritorialidade incondicionada, já o CP traz hipóteses de extraterritorialidade condicionada e incondicionada. Território nacional por extensão § 1° Para os efeitos da lei penal militar consideram-se como extensão do território nacional as aeronaves e os navios brasileiros, onde quer que se encontrem, sob comando militar ou militarmente utilizados ou ocupados por ordem legal de autoridade competente, ainda que de propriedade privada. Ampliação a aeronaves ou navios estrangeiros § 2º É também aplicável à lei penal militar ao crime praticado a bordo de aeronaves ou navios estrangeiros, desde que em lugar sujeito à administração militar, e o crime atente contra as instituições militares. Conceito de navio § 3º Para efeito da aplicação dêste Código, considera-se navio tôda embarcação sob comando militar. Pena cumprida no estrangeiro Art. 8° A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas. Tratamento igual ao art. 8º do CP. Crimes militares em tempo de paz Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: I - os crimes de que trata este Código, quando definidos de modo diverso na lei penal comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição especial; II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum, quando praticados: A figura do assemelhado não existe mais, e o conceito de militar trazido pelo art. 22 do CPM encontra-se ultrapassado, o conceito encontra-se disposto no art. 3º do Decreto-lei nº 6880/80, acrescido dos militares estaduais. a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma situação ou assemelhado; b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à administração militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil; c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou reformado, ou civil; (Redação dada pela Lei nº 9.299, de 8.8.1996) d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil; STM- Militares de serviço que abandonam o posto e vão para um bar, onde depois acabam roubando civis. 1º crime militar (abandono de posto) 2º crime comum, pois já haviam abandonado o posto. e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a administração militar, ou a ordem administrativa militar; http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9299.htm#art1 f) revogada. (Vide Lei nº 9.299, de 8.8.1996) III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as instituições militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso I, como os do inciso II, nos seguintes casos: a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem administrativa militar; b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade ou assemelhado, ou contra funcionário de Ministério militar ou da Justiça Militar, no exercício de função inerente ao seu cargo; c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância, observação, exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras; d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função de natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação da ordem pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para aquêle fim, ou em obediência a determinação legal superior. Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo quando dolosos contra a vida e cometidos contra civil serão da competência da justiça comum, salvo quando praticados no contexto de ação militar realizada na forma do art. 303 da Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica. (Redação dada pela Lei nº 12.432, de 2011) I-os crimes previstos apenas no CPM ou previsto de modo diverso na lei penal comum, qualquer que seja o agente (ratione legis); II-os crimes previstos nesse código a)militar da ativa contra militar da ativa; embora com igual previsão na lei b)militar da ativa em local sujeito a adm. penal comum: militar contra qualquer pessoa; c)militar em serviço ou atuando em razão da função contra qualquer pessoa; d)militar em período de manobra contra qualquer pessoa e)militar da ativa contra patrimônio sob a administração militar ou a ordem adm. militar. CRIMES MILITARES EM TEMPO DE PAZ a)contra o patrimônio sob a adm. militar, ou contra a ordem adm. militar; III-os crimes praticados por militar b)em lugar sujeito a adm. militar contra da reserva ou reformado, ou por civil militar da ativa; contra as instituições militares não c)contra militar em formatura, período de só os compreendidos no I como os do prontidão, vigilância, observação, etc. inciso II nos seguintes casos: d)contra militar em função de natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação da ordem pública, adm. ou judiciária; http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9299.htm#att1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L7565.htm#art303 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L7565.htm#art303 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12432.htm#ART1 Para o STF para enquadrar um crime militar na hipótese do art. 9º, II, “a”, do CPM o crime deve abalar as instituições militares, ex.: militar pratica crime contra militar desconhecendo tal situação, vai para a justiça comum; Já para o STM sempre será crime militar, independente se o agente sabia ou não da condição do outro sujeito; O STM declarou o parágrafo único do art. 9º inconstitucional por entrar emconflito com o art. 124 da CF. Crimes militares em tempo de guerra Art. 10. Consideram-se crimes militares, em tempo de guerra: I - os especialmente previstos neste Código para o tempo de guerra; II - os crimes militares previstos para o tempo de paz; III - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum ou especial, quando praticados, qualquer que seja o agente: a) em território nacional, ou estrangeiro, militarmente ocupado; b) em qualquer lugar, se comprometem ou podem comprometer a preparação, a eficiência ou as operações militares ou, de qualquer outra forma, atentam contra a segurança externa do País ou podem expô-la a perigo; IV - os crimes definidos na lei penal comum ou especial, embora não previstos neste Código, quando praticados em zona de efetivas operações militares ou em território estrangeiro, militarmente ocupado. Não serão aqui tratados, uma vez que não são cobrados em âmbito estadual. Militares estrangeiros Art. 11. Os militares estrangeiros, quando em comissão ou estágio nas fôrças armadas, ficam sujeitos à lei penal militar brasileira, ressalvado o disposto em tratados ou convenções internacionais. Equiparação a militar da ativa Art. 12. O militar da reserva ou reformado, empregado na administração militar, equipara- se ao militar em situação de atividade, para o efeito da aplicação da lei penal militar. Célio Lobão sustenta a inaplicabilidade desse artigo, já Nucci entende perfeitamente possível aplica-lo, uma vez que a figura da equiparação está presente em diversos dispositivos nas leis penais. Militar da reserva ou reformado Art. 13. O militar da reserva, ou reformado, conserva as responsabilidades e prerrogativas do pôsto ou graduação, para o efeito da aplicação da lei penal militar, quando pratica ou contra êle é praticado crime militar. O disposto nesse artigo deve ser interpretado a luz do art. 9º do mesmo diploma, sob pena de gerar conflitos entre as normas. Defeito de incorporação Art. 14. O defeito do ato de incorporação não exclui a aplicação da lei penal militar, salvo se alegado ou conhecido antes da prática do crime. Tempo de guerra Art. 15. O tempo de guerra, para os efeitos da aplicação da lei penal militar, começa com a declaração ou o reconhecimento do estado de guerra, ou com o decreto de mobilização se nêle estiver compreendido aquêle reconhecimento; e termina quando ordenada a cessação das hostilidades. Contagem de prazo Art. 16. No cômputo dos prazos inclui-se o dia do comêço. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendário comum. Contagem de prazo penal material, com igual previsão a trazida pelo art. 10 do CP. Legislação especial. Salário-mínimo Art. 17. As regras gerais dêste Código aplicam-se aos fatos incriminados por lei penal militar especial, se esta não dispõe de modo diverso. Para os efeitos penais, salário mínimo é o maior mensal vigente no país, ao tempo da sentença. Crimes praticados em prejuízo de país aliado Art. 18. Ficam sujeitos às disposições dêste Código os crimes praticados em prejuízo de país em guerra contra país inimigo do Brasil: I - se o crime é praticado por brasileiro; II - se o crime é praticado no território nacional, ou em território estrangeiro, militarmente ocupado por fôrça brasileira, qualquer que seja o agente. Infrações disciplinares Art. 19. Êste Código não compreende as infrações dos regulamentos disciplinares. Crimes praticados em tempo de guerra Art. 20. Aos crimes praticados em tempo de guerra, salvo disposição especial, aplicam-se as penas cominadas para o tempo de paz, com o aumento de um têrço. Assemelhado Art. 21. Considera-se assemelhado o servidor, efetivo ou não, dos Ministérios da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, submetido a preceito de disciplina militar, em virtude de lei ou regulamento. Não existe mais a figura do assemelhado por força da Lei 8.112/90. Pessoa considerada militar Art. 22. É considerada militar, para efeito da aplicação deste Código, qualquer pessoa que, em tempo de paz ou de guerra, seja incorporada às forças armadas, para nelas servir em posto, graduação, ou sujeição à disciplina militar. Equiparação a comandante Art. 23. Equipara-se ao comandante, para o efeito da aplicação da lei penal militar, tôda autoridade com função de direção. Norma de equiparação, todo militar com função de direção é comandante natural . Conceito de superior Art. 24. O militar que, em virtude da função, exerce autoridade sôbre outro de igual pôsto ou graduação, considera-se superior, para efeito da aplicação da lei penal militar. Crime praticado em presença do inimigo Art. 25. Diz-se crime praticado em presença do inimigo, quando o fato ocorre em zona de efetivas operações militares, ou na iminência ou em situação de hostilidade. Referência a "brasileiro" ou "nacional" Art. 26. Quando a lei penal militar se refere a "brasileiro" ou "nacional", compreende as pessoas enumeradas como brasileiros na Constituição do Brasil. Estrangeiros Parágrafo único. Para os efeitos da lei penal militar, são considerados estrangeiros os apátridas e os brasileiros que perderam a nacionalidade. Os que se compreendem, como funcionários da Justiça Militar Art. 27. Quando êste Código se refere a funcionários, compreende, para efeito da sua aplicação, os juízes, os representantes do Ministério Público, os funcionários e auxiliares da Justiça Militar. Casos de prevalência do Código Penal Militar Art. 28. Os crimes contra a segurança externa do país ou contra as instituições militares, definidos neste Código, excluem os da mesma natureza definidos em outras leis. Princípio da especialidade. TÍTULO II DO CRIME Relação de causalidade Art. 29. O resultado de que depende a existência do crime somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. § 1º A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado. Os fatos anteriores, imputam-se, entretanto, a quem os praticou. § 2º A omissão é relevante como causa quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; a quem, de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; e a quem, com seu comportamento anterior, criou o risco de sua superveniência. O caput e o parágrafo 1º possuem a mesma redação do art. 13 e seu parágrafo primeiro do CP, adotando assim a mesma teoria, qual seja, “conditio sine qua non” ou teoria da equivalência dos antecedentes. Já a omissão imprópria do CPM e a prevista no CP possuem redação pouco distinta, entretanto carregam o mesmo sentido, ambos os códigos adotaram a teoria normativa ou jurídica da omissão. O estudo das concausas dever ser encarado da mesma forma que no direito penal comum. Art. 30. Diz-se o crime: Crime consumado I - consumado, quando nêle se reúnem todos os elementos de sua definição legal; Tentativa II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. Pena de tentativa Parágrafo único. Pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime, diminuída de um a dois terços, podendo o juiz, no caso de excepcional gravidade, aplicar a pena do crime consumado.Desistência voluntária e arrependimento eficaz Art. 31. O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados. Crime impossível ATENÇÃO: em relação a tentativa a regra é a teoria objetiva, ou seja, o foco e a lesão ou perigo de lesão que o bem jurídico efetivamente sofreu no caso concreto, entretanto o CPM adota no paragrafo único a teoria subjetiva, ou seja, em casos de excepcional gravidade pode o juiz aplicar a pena do crime consumado. Art. 32. Quando, por ineficácia absoluta do meio empregado ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime, nenhuma pena é aplicável. Art. 33. Diz-se o crime: Culpabilidade I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo; II - culposo, quando o agente, deixando de empregar a cautela, atenção, ou diligência ordinária, ou especial, a que estava obrigado em face das circunstâncias, não prevê o resultado que podia prever ou, prevendo-o, supõe levianamente que não se realizaria ou que poderia evitá- lo. Excepcionalidade do crime culposo Parágrafo único. Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente. Sem maiores entraves a observação aqui fica por conta, como já observado anteriormente, do sistema penal adotado pelo CPM, sendo que por esse motivo o dolo e a culpa são analisados na culpabilidade. Nenhuma pena sem culpabilidade Art. 34. Pelos resultados que agravam especialmente as penas só responde o agente quando os houver causado, pelo menos, culposamente. Erro de direito Art. 35. A pena pode ser atenuada ou substituída por outra menos grave quando o agente, salvo em se tratando de crime que atente contra o dever militar, supõe lícito o fato, por ignorância ou erro de interpretação da lei, se escusáveis. ERRO DE DIREITO ERRO DE PROIBIÇÃO Conceito Quando o agente atua de forma consciente acreditando que sua conduta é lícita, está conforme o direito, incide na potencial consciência sobre a ilicitude do fato, elemento da culpabilidade. Previsão Art. 35 do CPM Art. 21 do CP Finalidade Atenuar a pena ou substitui por outra menos grave Isenção de pena ou atenuação de pena Graduação do erro Inescusável: não se aplica o instituto Escusável: diminui a pena ou substitui por outra menos grave; Inescusável: atenua a pena Escusável: exclui a pena Observação Não se aplica o instituto nos crimes que atentam contra o dever militar, quais sejam, dos arts. 183 ao 204 do CPM Previsibilidade subjetiva incide na culpabilidade; Previsibilidade objetiva incide na conduta (Consciência e vontade) Erro de fato Art. 36. É isento de pena quem, ao praticar o crime, supõe, por êrro plenamente escusável, a inexistência de circunstância de fato que o constitui ou a existência de situação de fato que tornaria a ação legítima. Erro culposo 1º Se o erro deriva de culpa, a este título responde o agente, se o fato é punível como crime culposo. Erro provocado 2º Se o erro é provocado por terceiro, responderá este pelo crime, a título de dolo ou culpa, conforme o caso. ERRO DE FATO ERRO DE TIPO Conceito É o erro que recai sobre as elementares, circunstâncias ou qualquer dado que se agregue à determinada figura típica, ou incide sobre os pressupostos de fato de uma causa de justificação ou dados secundários de uma norma penal incriminadora. Espécies Essencial: é o erro de tipo por excelência, que incide sobre as elementares, circunstâncias ou outro dado que venha a se agregar a figura típica. Acidental: é o que recai sobre o objeto (error in objeto), sobre a pessoa (error in persona), sobre a execução (aberratio ictus), sobre o resultado (aberratio criminis), ou sobre o nexo causal (aberracio causae). Previsão Art. 36 do CPM Art. 20 do CP Finalidade Isenção de pena Sempre exclui o dolo Graduação do erro excencial Inescusável: não se aplica o instituto Escusável: exclui a pena Inescusável: exclui o dolo, mas permite punição por crime culposo se previsto no tipo; Escusável: exclui dolo e culpa, torna o fato atípico Observação Nos casos de erro acidental, como por exemplo no aberratio ictos com unidade complexa a consequência será diversa, pois ocorrerá concurso de crimes e aqui o CP e o CPM trazem regras distintas sobre o concurso de crimes, sendo assim ficar atento a isso. Outro ponto relevante é o error in persona e a competência da justiça comum para julgar crimes dolosos contra vida praticados contra civis, pois se um militar acredita que está assassinando um desafeto o qual é militar, entretanto mata um civil deverá ser julgado pela Justiça Militar, pois no caso se levam as condições da vítima virtual. Êrro sôbre a pessoa Art. 37. Quando o agente, por êrro de percepção ou no uso dos meios de execução, ou outro acidente, atinge uma pessoa em vez de outra, responde como se tivesse praticado o crime contra aquela que realmente pretendia atingir. Devem ter-se em conta não as condições e qualidades da vítima, mas as da outra pessoa, para configuração, qualificação ou exclusão do crime, e agravação ou atenuação da pena. Aqui somam-se os institutos do aberratio ictus e o error in persona, e em que pese o CP tratar do assunto separadamente ele atribui iguais efeitos a suas incidências. O que deve ser lembrado é onde incide o erro, no aberratio ictus o erro se manifesta na execução do delito (externo ao agente) enquanto no error in persona o erro é na percepção do agente (interno ao agente). *Atenção: a incidência do caput pode trazer o deslocamento de competência no caso do militar da ativa que acredita estar atentando contra a vida de outro militar da ativa quando na verdade atenta contra a vida de um civil. Êrro quanto ao bem jurídico (Aberratio criminis com resultado simples) § 1º Se, por êrro ou outro acidente na execução, é atingido bem jurídico diverso do visado pelo agente, responde êste por culpa, se o fato é previsto como crime culposo. Duplicidade do resultado (Aberratio criminis com resultado complexo) § 2º Se, no caso do artigo, é também atingida à pessoa visada, ou, no caso do parágrafo anterior, ocorre ainda o resultado pretendido, aplica-se a regra do art. 79. Aqui a observação fica por conta do concurso de crimes no direito penal militar, que ao contrário do direito penal comum não distingue o concurso de crimes material e formal, tratando, no art. 79 do CPPM, de forma padronizada dos institutos. Traz como regra o mencionado dispositivo a unificação das penas, quando idênticas, ou, quando distintas, a aplicação da mais grave acrescida da metade da correspondente a menos grave – uma espécie de exasperação – respeitando as regras do art. 58 do CPPM. Art. 38. Não é culpado quem comete o crime: (inexigibilidade de conduta diversa) Coação irresistível a) sob coação irresistível ou que lhe suprima a faculdade de agir segundo a própria vontade; *ATENÇÃO: o CPM não distingue a coação moral irresistível da coação física irresistível, atribuindo a incidência de ambos os institutos jurídicos a consequência da exclusão da culpabilidade. Isso se da pelo fato de que o CPM, ao contrário do CP, adota o sistema neoclássico, onde o dolo e a culpa são analisados na culpabilidade, e, portanto, não haveria consequências distintas da incidência de tais institutos. Já no CP enquanto a coação física irresistível afasta a própria conduta e, por conseguinte, o fato típico, a coação moral irresistível afasta a culpabilidade por inexigibilidade de condutadiversa. **A coação moral, mesmo que irresistível, não pode ser invocada nos crimes em que há violação do dever militar – art. 183 a 204 do CPM. Obediência hierárquica b) em estrita obediência a ordem direta de superior hierárquico, em matéria de serviços. 1° Responde pelo crime o autor da coação ou da ordem. 2° Se a ordem do superior tem por objeto a prática de ato manifestamente criminoso, ou há excesso nos atos ou na forma da execução, é punível também o inferior. *Princípio das baionetas inteligentes – Romeiro. *ATENÇÃO! Coação física ou material Art. 40. Nos crimes em que há violação do dever militar, o agente não pode invocar coação irresistível senão quando física ou material. Atenuação de pena Art. 41. Nos casos do art. 38, letras a e b, se era possível resistir à coação, ou se a ordem não era manifestamente ilegal; ou, no caso do art. 39, se era razoavelmente exigível o sacrifício do direito ameaçado, o juiz, tendo em vista as condições pessoais do réu, pode atenuar a pena. Estado de necessidade, com excludente de culpabilidade Art. 39. Não é igualmente culpado quem, para proteger direito próprio ou de pessoa a quem está ligado por estreitas relações de parentesco ou afeição, contra perigo certo e atual, que não provocou, nem podia de outro modo evitar, sacrifica direito alheio, ainda quando superior ao direito protegido, desde que não lhe era razoavelmente exigível conduta diversa. REQUISITOS I- Bem salvo de igual ou menor valor que o bem sacrificado; II- Direito próprio ou de pessoa a quem está ligado por estreitas relações de parentesco ou afeição; III- Situação de perigo certa e atual, que não provocou; IV- Não podia de outro modo evitar; *O CPM adotou a teoria alemã diferenciado a respeito do estado de necessidade, distinguindo o estado de necessidade justificante, o qual exclui a antijuridicidade, (bem salvo possui maior valor que o sacrificado) do estado de necessidade justificante, o qual exclui a culpabilidade (bem salvo possui igual ou menor valor que o bem salvo). *Atentar para o art. 41, ou seja, na hipótese em que era razoável o sacrifício do bem salvo a pena será atenuada. Atenção No CP existem 2 formas expressas de inexigibilidade de conduta diversa, quais sejam: I- Coação moral irresistível (art. 22, CP); II- Obediência hierárquica (art. 22, CP); Sendo o excesso exculpante em causas excludentes da ilicitude admitido pela doutrina. Já no CPM são previstas 4 formas expressas: I- Coação moral e física irresistível (art. 38, CPM); II- Obediência hierárquica (art. 38, CPM); III- Estado de necessidade exculpante (art. 39, CPM); IV- Excesso exculpante (art. 45, parágrafo único, CPM). EXCLUDENTES DE ANTIJURIDICIDADE Art. 42. Não há crime quando o agente pratica o fato: I - em estado de necessidade; II - em legítima defesa; III - em estrito cumprimento do dever legal; IV - em exercício regular de direito. Parágrafo único. Não há igualmente crime quando o comandante de navio, aeronave ou praça de guerra, na iminência de perigo ou grave calamidade, compele os subalternos, por meios violentos, a executar serviços e manobras urgentes, para salvar a unidade ou vidas, ou evitar o desânimo, o terror, a desordem, a rendição, a revolta ou o saque. *Obs.: salvo na hipótese do inciso I, onde o legislador adotou teoria diversa da utilizada no CP, os demais institutos são tratados de modo semelhante ao do CP. **Obs.: o parágrafo único do art. 42 prevê a denominada “excludente do comandante”, entretanto seria melhor que o legislador a tivesse tratado como excludente de culpabilidade por inexigibilidade de conduta diversa. Art. 43. Estado de necessidade como excludente do crime *Observações já feitas. Art. 44. Legítima defesa *Igual ao instituto do CP. Excesso culposo Art. 45. O agente que, em qualquer dos casos de exclusão de crime, excede culposamente os limites da necessidade, responde pelo fato, se êste é punível, a título de culpa. Excesso escusável Parágrafo único. Não é punível o excesso quando resulta de escusável surprêsa ou perturbação de ânimo, em face da situação. Embora admitido pela doutrina de penal comum o excesso escusável só é previsto expressamente no CPM. Excesso doloso Art. 46. O juiz pode atenuar a pena ainda quando punível o fato por excesso doloso. Tal previsão só é prevista no CPM. Elementos não constitutivos do crime Art. 47. Deixam de ser elementos constitutivos do crime: I - a qualidade de superior ou a de inferior, quando não conhecida do agente; II - a qualidade de superior ou a de inferior, a de oficial de dia, de serviço ou de quarto, ou a de sentinela, vigia, ou plantão, quando a ação é praticada em repulsa a agressão. *O STM recentemente entendeu que no caso de crime cometido por militar das forças armadas praticado contra militar estadual, incide o art. 9º, II, “a”, do CPM. TÍTULO III DA IMPUTABILIDADE PENAL Inimputáveis Art. 48. Não é imputável quem, no momento da ação ou da omissão, não possui a capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento, em virtude de doença mental, de desenvolvimento mental incompleto ou retardado. Redução facultativa da pena Parágrafo único. Se a doença ou a deficiência mental não suprime, mas diminui consideravelmente a capacidade de entendimento da ilicitude do fato ou a de autodeterminação, não fica excluída a imputabilidade, mas a pena pode ser atenuada, sem prejuízo do disposto no art. 113. *No CPM as Medidas de Segurança não são aplicadas exclusivamente aos inimputáveis. *O critério adotado pelo CPM é o critério Bio-psicológico, o mesmo utilizado pelo art. 26 do CP. *No caso de semi-impitáveis, o parágrafo único do art. 26 do CP a redução de 1/3 a 2/3 é obrigatória, já no CPM a redução é facultativa, e sendo admitida pelo magistrado deverá ser aplicada a regra prevista no art. 73, do CPM – redução de 1/5 a 1/3. Embriaguez Art. 49. Não é igualmente imputável o agente que, por embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou fôrça maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter criminoso do fato ou de determinar-se de acôrdo com êsse entendimento. Parágrafo único. A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente por embriaguez proveniente de caso fortuito ou fôrça maior, não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de entender o caráter criminoso do fato ou de determinar-se de acôrdo com êsse entendimento. No CPM a embriaguez pode ser: I- Voluntária: não isenta a responsabilidade; II- Patológica: pode levar a inimputabilidade – art. 48, CPM; III- Habitual: Apresentar-se para o serviço embriagado; IV- Acidental: proveniente de caso fortuito ou força maior, pode levar a inimputabilidade ou a diminuição de pena, a depender da graduação da embriaguez; V- Preordenada: agravante. *A redução de pena prevista aqui é a mesma fração da prevista no §2º, do art. 28, do CP. Art. 50 a 52 – não recepcionados. TÍTULO IV DO CONCURSO DE AGENTES Co-autoria Art. 53. Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a êste cominadas. Condições ou circunstâncias pessoais § 1º A punibilidade de qualquer dos concorrentes é independente da dos outros, determinando-se segundo a sua própria culpabilidade. Não se comunicam, outrossim, as condições ou circunstâncias de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime. Agravação de pena § 2° A pena é agravada em relação ao agente que: I - promove ou organiza a cooperação no crime ou dirige a atividade dos demais agentes;II - coage outrem à execução material do crime; III - instiga ou determina a cometer o crime alguém sujeito à sua autoridade, ou não punível em virtude de condição ou qualidade pessoal; IV - executa o crime, ou nêle participa, mediante paga ou promessa de recompensa. Atenuação de pena § 3º A pena é atenuada com relação ao agente, cuja participação no crime é de somenos importância. *O CP traz parâmetros de redução da pena (1/6 a 1/3), já o CPM não. Cabeças § 4º Na prática de crime de autoria coletiva necessária, reputam-se cabeças os que dirigem, provocam, instigam ou excitam a ação. *Refere-se a aquelas pessoas que tem um verto poder de decisão. *Sempre quando houver concurso entre oficiais e praças os oficiais serão considerados cabeças. *Exemplo de responsabilidade objetiva no CPM. § 5º Quando o crime é cometido por inferiores e um ou mais oficiais, são êstes considerados cabeças, assim como os inferiores que exercem função de oficial. Casos de impunibilidade Art. 54. O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição em contrário, não são puníveis se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado. *Igual o disposto no art. 31 do CP – Princípio da acessoriedade da participação. DAS PENAS PRINCIPAIS *As penas principais estão nos preceitos secundários de cada tipo penal incriminador. *Já as acessórias podem ser declaradas na sentença e estão previstas no art. 98 do CPM, de forma cumulada. Penas principais Art. 55. As penas principais são: a) morte; b) reclusão; c) detenção; d) prisão; e) impedimento; f) suspensão do exercício do pôsto, graduação, cargo ou função; g) reforma. *Observações: a) A pena de morte só poderá ocorrer, nos termos da CF (art. 5º, XLVII), em caso de guerra declarada; b) A reclusão e a detenção são penas privativas de liberdade que no CP possuem distinção qualitativa, ou seja, distinção no regime de cumprimento, já no CPM não há tal distinção, a diferença aqui é quantitativa. A pena de detenção varia entre 30 dias a 10 anos, já a reclusão varia de 1 ano a 30 anos; c) A pena de prisão é aquela onde o sujeito fica em estabelecimento militar quando oficial, ou se praça permanecerá em estabelecimento penal militar; d) A pena de impedimento é aquela prevista para o crime de insubmissão, permanecendo o agente na OM; e) A doutrina entende que a reforma, enquanto pena, foi revogada, pois seria tal pena uma pena de caráter perpétuo. Pena de morte Art. 56. A pena de morte é executada por fuzilamento. Comunicação Art. 57. A sentença definitiva de condenação à morte é comunicada, logo que passe em julgado, ao Presidente da República, e não pode ser executada senão depois de sete dias após a comunicação. Parágrafo único. Se a pena é imposta em zona de operações de guerra, pode ser imediatamente executada, quando o exigir o interêsse da ordem e da disciplina militares. Mínimos e máximos genéricos Art. 58. O mínimo da pena de reclusão é de um ano, e o máximo de trinta anos; o mínimo da pena de detenção é de trinta dias, e o máximo de dez anos. Pena até dois anos imposta a militar Art. 59 - A pena de reclusão ou de detenção até 2 (dois) anos, aplicada a militar, é convertida em pena de prisão e cumprida, quando não cabível a suspensão condicional: (Redação dada pela Lei nº 6.544, de 30.6.1978) I - pelo oficial, em recinto de estabelecimento militar; II - pela praça, em estabelecimento penal militar, onde ficará separada de presos que estejam cumprindo pena disciplinar ou pena privativa de liberdade por tempo superior a dois anos. Separação de praças especiais e graduadas Parágrafo único. Para efeito de separação, no cumprimento da pena de prisão, atender-se-á, também, à condição das praças especiais e à das graduadas, ou não; e, dentre as graduadas, à das que tenham graduação especial. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6544.htm#art59 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6544.htm#art59 Pena superior a dois anos, imposta a militar Art. 61 - A pena privativa da liberdade por mais de 2 (dois) anos, aplicada a militar, é cumprida em penitenciária militar e, na falta dessa, em estabelecimento prisional civil, ficando o recluso ou detento sujeito ao regime conforme a legislação penal comum, de cujos benefícios e concessões, também, poderá gozar. A pena superior a dois anos deve ser cumprida em penitenciária militar, e não havendo, cumprirá em estabelecimento prisional civil, ficando o condenado submetido a Lei de Execução Penal de forma integral. Pena de impedimento Art. 63. A pena de impedimento sujeita o condenado a permanecer no recinto da unidade, sem prejuízo da instrução militar. *Aplica-se ao crime de insubmissão, sendo que o insubmisso fica em menagem. Pena de suspensão do exercício do pôsto, graduação, cargo ou função Art. 64. A pena de suspensão do exercício do pôsto, graduação, cargo ou função consiste na agregação, no afastamento, no licenciamento ou na disponibilidade do condenado, pelo tempo fixado na sentença, sem prejuízo do seu comparecimento regular à sede do serviço. Não será contado como tempo de serviço, para qualquer efeito, o do cumprimento da pena. Caso de reserva, reforma ou aposentadoria Parágrafo único. Se o condenado, quando proferida a sentença, já estiver na reserva, ou reformado ou aposentado, a pena prevista neste artigo será convertida em pena de detenção, de três meses a um ano. Art. 65 – não se aplica. Superveniência de doença mental Art. 66. O condenado a que sobrevenha doença mental deve ser recolhido a manicômio judiciário ou, na falta dêste, a outro estabelecimento adequado, onde lhe seja assegurada custódia e tratamento. Tempo computável Art. 67. Computam-se na pena privativa de liberdade o tempo de prisão provisória, no Brasil ou no estrangeiro, e o de internação em hospital ou manicômio, bem como o excesso de tempo, reconhecido em decisão judicial irrecorrível, no cumprimento da pena, por outro crime, desde que a decisão seja posterior ao crime de que se trata. DETRAÇÃO Transferência de condenados Art. 68. O condenado pela Justiça Militar de uma região, distrito ou zona pode cumprir pena em estabelecimento de outra região, distrito ou zona. DA APLICAÇÃO DA PENA Fixação da pena privativa de liberdade Art. 69. Para fixação da pena privativa de liberdade, o juiz aprecia a gravidade do crime praticado e a personalidade do réu, devendo ter em conta a intensidade do dolo ou grau da culpa, a maior ou menor extensão do dano ou perigo de dano, os meios empregados, o modo de execução, os motivos determinantes, as circunstâncias de tempo e lugar, os antecedentes do réu e sua atitude de insensibilidade, indiferença ou arrependimento após o crime. Determinação da pena § 1º Se são cominadas penas alternativas, o juiz deve determinar qual delas é aplicável. Limites legais da pena § 2º Salvo o disposto no art. 76, é fixada dentro dos limites legais a quantidade da pena aplicável. *Aplicação da pena realizada pelo concelho: Cada juiz, iniciando-se pelo juiz auditor e posteriormente o juiz mais moderno, assim sucessivamente até o juiz presidente, cada um fará sua dosimetria da pena. *Apesar de não expresso aplica-se o sistema trifásico de aplicação da pena. Circunstâncias agravantes Art. 70. São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não integrantes ou qualificativas do crime: I - a reincidência; II - ter o agente cometido o crime: a) pormotivo fútil ou torpe; b) para facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime; c) depois de embriagar-se, salvo se a embriaguez decorre de caso fortuito, engano ou fôrça maior; d) à traição, de emboscada, com surprêsa, ou mediante outro recurso insidioso que dificultou ou tornou impossível a defesa da vítima; e) com o emprêgo de veneno, asfixia, tortura, fogo, explosivo, ou qualquer outro meio dissimulado ou cruel, ou de que podia resultar perigo comum; f) contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge; g) com abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo, ofício, ministério ou profissão; h) contra criança, velho ou enfêrmo; i) quando o ofendido estava sob a imediata proteção da autoridade; j) em ocasião de incêndio, naufrágio, encalhe, alagamento, inundação, ou qualquer calamidade pública, ou de desgraça particular do ofendido; l) estando de serviço; m) com emprêgo de arma, material ou instrumento de serviço, para êsse fim procurado; n) em auditório da Justiça Militar ou local onde tenha sede a sua administração; o) em país estrangeiro. Parágrafo único. As circunstâncias das letras c , salvo no caso de embriaguez preordenada, l , m e o , só agravam o crime quando praticado por militar. Reincidência Art. 71. Verifica-se a reincidência quando o agente comete nôvo crime, depois de transitar em julgado a sentença que, no país ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior. Temporariedade da reincidência § 1º Não se toma em conta, para efeito da reincidência, a condenação anterior, se, entre a data do cumprimento ou extinção da pena e o crime posterior, decorreu período de tempo superior a cinco anos. Crimes não considerados para efeito da reincidência § 2º Para efeito da reincidência, não se consideram os crimes anistiados. Art. 72. São circunstâncias que sempre atenuam a pena: Circunstância atenuantes I - ser o agente menor de vinte e um ou maior de setenta anos; II - ser meritório seu comportamento anterior; III - ter o agente: a) cometido o crime por motivo de relevante valor social ou moral; b) procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime, evitar-lhe ou minorar- lhe as conseqüências, ou ter, antes do julgamento, reparado o dano; c) cometido o crime sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima; d) confessado espontâneamente, perante a autoridade, a autoria do crime, ignorada ou imputada a outrem; e) sofrido tratamento com rigor não permitido em lei. Não atendimento de atenuantes Parágrafo único. Nos crimes em que a pena máxima cominada é de morte, ao juiz é facultado atender, ou não, às circunstâncias atenuantes enumeradas no artigo. Quantum da agravação ou atenuação Art. 73. Quando a lei determina a agravação ou atenuação da pena sem mencionar o quantum , deve o juiz fixá-lo entre um quinto e um têrço, guardados os limites da pena cominada ao crime. 1/5 a 1/3. Mais de uma agravante ou atenuante Art. 74. Quando ocorre mais de uma agravante ou mais de uma atenuante, o juiz poderá limitar-se a uma só agravação ou a uma só atenuação. Concurso de agravantes e atenuantes Art. 75. No concurso de agravantes e atenuantes, a pena deve aproximar-se do limite indicado pelas circunstâncias preponderantes, entendendo-se como tais as que resultam dos motivos determinantes do crime, da personalidade do agente, e da reincidência. Se há equivalência entre umas e outras, é como se não tivessem ocorrido. *Circunstâncias preponderantes – igual ao CP (RPM). Majorantes e minorantes Art. 76. Quando a lei prevê causas especiais de aumento ou diminuição da pena, não fica o juiz adstrito aos limites da pena cominada ao crime, senão apenas aos da espécie de pena aplicável (art. 58). Parágrafo único. No concurso dessas causas especiais, pode o juiz limitar-se a um só aumento ou a uma só diminuição, prevalecendo, todavia, a causa que mais aumente ou diminua. *Terceira fase do sistema trifásico igual ao CP. Pena-base Art. 77. A pena que tenha de ser aumentada ou diminuída, de quantidade fixa ou dentro de determinados limites, é a que o juiz aplicaria, se não existisse a circunstância ou causa que importa o aumento ou diminuição. Art. 78 Criminoso habitual ou por tendência – não se aplica. Concurso de crimes Art. 79. Quando o agente, mediante uma só ou mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, as penas privativas de liberdade devem ser unificadas. Se as penas são da mesma espécie, a pena única é a soma de tôdas; se, de espécies diferentes, a pena única e a mais grave, mas com aumento correspondente à metade do tempo das menos graves, ressalvado o disposto no art. 58. *O instituto jurídico denominado “concurso de crimes”, no CPM possui regras mais severa que as previstas para o mesmo instituto no CP. No CPM não há distinção entre concurso formal e concurso material, a regra é que se o agente mediante uma ou mais de uma ação ou omissão (concurso formal e material) pratica dois ou mais crimes as penas devem ser somadas/unificadas. Ou seja, via de regra aplica-se o sistema do cúmulo material (somam-se as penas). A exceção fica por conta das penas de espécies diferentes, sendo que nesse caso a pena única é a mais grave, mas com aumento correspondente a metade do tempo das menos graves. Ou seja, aplicação só sistema da exasperação – pena mais grave + ½ das menos graves. *No de unidade de ação ou omissão (concurso formal ou ideal) o juiz pode aplicar a diminuição facultativa de pena, de 1/6 a 1/4, prevista no § 1ºdo art. 81. Crime continuado Art. 80. Aplica-se a regra do artigo anterior, quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subseqüentes ser considerados como continuação do primeiro. Parágrafo único. Não há crime continuado quando se trata de fatos ofensivos de bens jurídicos inerentes à pessoa, salvo se as ações ou omissões sucessivas são dirigidas contra a mesma vítima. Enquanto no CP aplica-se o sistema da exasperação para o instituto do crime continuado aplicando-se uma só pena ou a maior delas acrescida de 1/6 a 2/3, no CPM a regra é mais severa, aplica-se aqui o sistema do cúmulo material, em regra. O parágrafo único excepciona a regra do cúmulo quando forem fatos ofensivos a bens jurídicos incerentes à pessoa, como a vida por exemplo, entendemos que aplica-se o concurso de crimes, o que ná prática não possui distinção alguma. *No caso em concreto o juiz pode aplicar a diminuição facultativa de pena, de 1/6 a 1/4, prevista no § 1ºdo art. 81. Limite da pena unificada Art. 81. A pena unificada não pode ultrapassar de trinta anos, se é de reclusão, ou de quinze anos, se é de detenção. Redução facultativa da pena § 1º A pena unificada pode ser diminuída de um sexto a um quarto, no caso de unidade de ação ou omissão, ou de crime continuado. Graduação no caso de pena de morte § 2° Quando cominada a pena de morte como grau máximo e a de reclusão como grau mínimo, aquela corresponde, para o efeito de graduação, à de reclusão por trinta anos. Cálculo da pena aplicável à tentativa § 3° Nos crimes punidos com a pena de morte, esta corresponde à de reclusão por trinta anos, para cálculo da pena aplicável à tentativa, salvo disposição especial. Ressalvado art. 78, § 2º, letra b Art. 82. Quando se apresenta o caso do art. 78, § 2º, letra b , fica sem aplicação o disposto quanto ao concurso de crimes idênticos ou ao crime continuado. (NÃO SE APLICA MAIS) Penas não privativas de liberdade Art. 83. As penas não privativas de liberdade são aplicadas distinta e integralmente, ainda que previstas para um só dos crimes concorrentes. DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA Pressupostos da suspensão Art. 84 - A execução da pena privativa da liberdade, não superior a 2 (dois) anos, pode ser suspensa, por 2 (dois) anos a 6 (seis) anos, desde que: I - o sentenciado não haja sofrido no País ou no estrangeiro, condenação irrecorrível por outro crime a pena privativa da liberdade, salvo o disposto no 1º do art. 71; II - os seus antecedentes e personalidade, os motivos e as circunstâncias do crime, bem como sua conduta posterior, autorizem a presunção de que não tornará a delinqüir. Restrições Parágrafo único. A suspensão não se estende às penas de reforma, suspensão do exercício do pôsto, graduação ou função ou à pena acessória, nem exclui a aplicação de medida de segurança não detentiva. Condições Art. 85. A sentença deve especificar as condições a que fica subordinada a suspensão. Revogação obrigatória da suspensão Art. 86. A suspensão é revogada se, no curso do prazo, o beneficiário: I - é condenado, por sentença irrecorrível, na Justiça Militar ou na comum, em razão de crime, ou de contravenção reveladora de má índole ou a que tenha sido imposta pena privativa de liberdade; II - não efetua, sem motivo justificado, a reparação do dano; III - sendo militar, é punido por infração disciplinar considerada grave. Revogação facultativa § 1º A suspensão pode ser também revogada, se o condenado deixa de cumprir qualquer das obrigações constantes da sentença. Prorrogação de prazo § 2º Quando facultativa a revogação, o juiz pode, ao invés de decretá-la, prorrogar o período de prova até o máximo, se êste não foi o fixado. § 3º Se o beneficiário está respondendo a processo que, no caso de condenação, pode acarretar a revogação, considera-se prorrogado o prazo da suspensão até o julgamento definitivo. Extinção da pena Art. 87. Se o prazo expira sem que tenha sido revogada a suspensão, fica extinta a pena privativa de liberdade. Não aplicação da suspensão condicional da pena Art. 88. A suspensão condicional da pena não se aplica: I - ao condenado por crime cometido em tempo de guerra; II - em tempo de paz: a) por crime contra a segurança nacional, de aliciação e incitamento, de violência contra superior, oficial de dia, de serviço ou de quarto, sentinela, vigia ou plantão, de desrespeito a superior, de insubordinação, ou de deserção; b) pelos crimes previstos nos arts. 160, 161, 162, 235, 291 e seu parágrafo único, ns. I a IV. PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE O SUSRSIS NO CP E NO CPM ART. 77 ss do CP ART. 84 e ss do CPM Espécies a) Simples (art. 78, §1º); b) Especial (art. 78, §2º); c) Etário (art. 77, §2º); d) Humanitário (art. 77, §2º); e) Ambiental (art. 16 e 17 da L. 8.905) *Só existe uma espécie – condenado a PPL menor ou igual a 2 anos, etc. Requisitos objetivos e subjetivos a) PPL menor ou igual 2 anos (s. simples) ou 4 anos (s. humanitário ou etário); b) Circunstâncias judiciais favoráveis; c) Quando incabível PRD; d) Não reincidente em crime doloso (salvo quando o 1ª pena foi convertida em multa). a) PPL menor ou igual a 2 anos; b) Condenado primário; c) Circunstâncias judiciais favoráveis; d) E o criem não for: - crime praticado em tempo de guerra; - crime contra a segurança nacional; - violência contra superior, oficial de dia, de serviço ou de quarto, sentinela, vigia ou plantão; - crime de desrespeito a superior; -crime de insubordinação; - deserção; - desrespeito a símbolo nacional; - pederastia (termo não recepcionado); - receita ilegal; Prazo S. simples = 2 a 4 anos S. etário/humanitário = 4 a 6 anos 2 a 6 anos Condições - Art. 78: 1º ano – prestar serviço a comunidade e limitação de fim de semana; - §2º: reparou o dano, salvo..., e circunstâncias favoráveis, serão aplicadas cumulativamente... - Art. 79: outras a cargo do juiz. Art. 85: sentença deve especificar. Revogação obrigatória a) condenado por crime doloso; b) não repara o dano, salvo motivo justificado; c) descumpre as condições do art. 78, §1º. a) condenado na JM, JC, ou Jesp; b) não repara o dano, salvo motivo justificado; c) punido por infração disciplinar grave. Revogação facultativa a) condenado descumpre qualquer outra condição imposta; b) condenado por crime culposo ou contravenção, a PPL ou PRD. - condenado que descumpre condições impostas. Prorrogação a) nos casos de revogação facultativa; b) quando processado por outra infração. a) nos casos de revogação facultativa; b) quando processado por outra infração; LIVRAMENTO CONDICIONAL Requisitos Art. 89. O condenado a pena de reclusão ou de detenção por tempo igual ou superior a dois anos pode ser liberado condicionalmente, desde que: I - tenha cumprido: a) metade da pena, se primário; b) dois terços, se reincidente; II - tenha reparado, salvo impossibilidade de fazê-lo, o dano causado pelo crime; III - sua boa conduta durante a execução da pena, sua adaptação ao trabalho e às circunstâncias atinentes a sua personalidade, ao meio social e à sua vida pregressa permitem supor que não voltará a delinqüir. Penas em concurso de infrações § 1º No caso de condenação por infrações penais em concurso, deve ter-se em conta a pena unificada. Condenação de menor de 21 ou maior de 70 anos § 2º Se o condenado é primário e menor de vinte e um ou maior de setenta anos, o tempo de cumprimento da pena pode ser reduzido a um têrço. Especificações das condições Art. 90. A sentença deve especificar as condições a que fica subordinado o livramento. Preliminares da concessão Art. 91. O livramento somente se concede mediante parecer do Conselho Penitenciário, ouvidos o diretor do estabelecimento em que está ou tenha estado o liberando e o representante do Ministério Público da Justiça Militar; e, se imposta medida de segurança detentiva, após perícia conclusiva da não periculosidade do liberando. Observação cautelar e proteção do liberado Art. 92. O liberado fica sob observação cautelar e proteção realizadas por patronato oficial ou particular, dirigido aquêle e inspecionado êste pelo Conselho Penitenciário. Na falta de patronato, o liberado fica sob observação cautelar realizada por serviço social penitenciário ou órgão similar. Revogação obrigatória Art. 93. Revoga-se o livramento, se o liberado vem a ser condenado, em sentença irrecorrível, a penal privativa de liberdade: I - por infração penal cometida durante a vigência do benefício; II - por infração penal anterior, salvo se, tendo de ser unificadas as penas, não fica prejudicado o requisito do art. 89, nº I, letra a Revogação facultativa § 1º O juiz pode, também, revogar o livramento se o liberado deixa de cumprir qualquer das obrigações constantes da sentença ou é irrecorrivelmente condenado, por motivo de contravenção, a pena que não seja privativa de liberdade; ou, se militar, sofre penalidade por transgressão disciplinar considerada grave. Infração sujeita à jurisdição penal comum § 2º Para os efeitos da revogação obrigatória, são tomadas,
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