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PNEUMONIA ADQUIRIDA NA COMUNIDADE A pneumonia adquirida na comunidade é caracterizada como a pneumonia que ocorre em crianças que não foram hospitalizadas nos últimos 30 dias. A pneumonia é definida como a inflamação do parênquima pulmonar e é a principal causa de morte entre crianças com menos de 5 anos de idade. Embora a maioria dos casos de pneumonia seja causada por microrganismos, as causas não infecciosas são aspiração, reações de hipersensibilidade e pneumonite induzida por radiação ou substâncias. A causa da pneumonia é, muitas vezes, difícil de determinar porque a cultura direta de tecido pulmonar é invasiva e raramente executada. Com o uso de teste diagnóstico molecular, uma causa bacteriana ou viral da pneumonia pode ser identificada em 40% a 80% das crianças com pneumonia adquirida na comunidade (PAC). Vários estudos apontam que os vírus como os principais agentes de PAC em crianças até 5 anos em países desenvolvidos. Quando mais jovem a criança, excluindo-se os primeiros 2 meses de vida, maior a chance de ocorrência de doença de etiologia viral. Dentre os patógenos mais frequentes: Vírus: podem ser responsáveis por até 90% das pneumonias no 1º ano de vida e por 50% dos casos na idade escolar Vírus sincicial respiratório (VSR) é o mais frequentemente encontrado Vírus influenza Parainfluenza Adenovírus Rinovírus Menos frequentes: varicela-zóster, coronavírus, enterovírus, citomegalovírus, Epstein- Barr, herpes simples, vírus da caxumba e do sarampo e hantavírus. Bactérias: principais responsáveis pela maior gravidade e mortalidade por PAC na infância Streptococcus pneumoniae (pneumococo) Haemophilus influenzae Staphylococcus aureus Streptococcus pyogenes (estreptococos do grupo A) O Streptococus pneumoniae (pneumococo) é o patógeno bacteriano mais comum em crianças em 3 semanas a 4 anos de idade, ao passo que o Mycoplasma pneumoniae e Chlamydophila pneumoniae são os patógenos bacterianos mais frequentes em crianças com 5 anos de idade ou mais Infecção por S. pneumoniae, H. influenzae e S. aureus são as principais causas de internação e morte por pneumonia bacteriana entre crianças de países em desenvolvimento, embora devam ser considerados o Mycobacterium tuberculosis, micobactérias atípicas, Salmonella, E. coli e Pneumocystis jiroveci em crianças com infecção por HPV. A incidência de pneumonia causada por H. influenzae ou S. pneumoniae reduziu-se significativamente em áreas onde a vacinação habitual foi implementada. Os patógenos virais constituem uma importante causa de infecções no trato respiratório inferior em bebês e crianças entre 1 mês e 5 anos da idade. Os vírus podem ser detectados em 40-80% das crianças com pneumonia utilizando-se métodos de diagnóstico molecular. Entre os vírus respiratórios, o vírus sincicial respiratório (VSR) e o rinovírus são patógenos identificados em crianças com menos de 2 anos de idade. Outros vírus comuns causadores da pneumonia são vírus influenza, vírus parainfluenza, adenovírus, enterovirus e metapneumovírus humano. A infecção com mais de um vírus respiratório ocorre em até 20% dos casos. A idade do paciente pode ajudar a identificar possíveis agentes patogênicos. As infecções virais do trato respiratório inferior são muito mais comuns no outono e no inverno nos hemisférios Norte e Sul do que as epidemias sazonais de infecção viral respiratória que ocorrem a cada ano. Comumente iniciam-se no outono, quando surgem infecções por parainfluenza e, com frequência, se manifestam como crupe (laringotraqueobronquite). Mais tarde, no inverno, o VSR, o metapneumovírus humano e o vírus influenza causam infecção disseminada, incluindo infecções do trato respiratório superior, bronquiolite e pneumonia. O estado da imunização é relevante porque crianças totalmente imunizadas contra o H. influenzae tipo B e o S. pneumoniae são menos suscetíveis à infecção por esses agentes patogênicos. Os fatores de risco incluem: Desnutrição Baixa idade Comorbidades Baixo peso ao nascer Creche História de sibilância ou pneumonia anterior: devido a alteração do epitélio facilitando a colonização de bactérias. Em casos de pneumonia anterior investigar alterações de imunidade, fibrose cística. Ausência de aleitamento materno Vacina incompleta Baixa condição socioeconômica O trato respiratório inferior costuma ser mantido estéril por mecanismos de defesa fisiológicos como a depuração mucociliar, propriedades de secreções normais como IgA secretora e desobstrução das vias aéreas por meio da tosse. Os mecanismos de defesa imunológicos do pulmão que limitam a invasão por organismos patogênicos são macrófagos presentes nos bronquíolos e alvéolos, IgA secretora e outras imunoglobulinas. A pneumonia viral é, muitas vezes, consequência da difusão de infecção ao longo das vias aéreas, acompanhada por lesão direta do epitélio respiratório, o que resulta na obstrução das vias aéreas em razão de edema, secreções anormais e restos celulares. O pequeno calibre das vias aéreas em crianças torna esses pacientes particularmente suscetíveis a uma infecção grave. A obstrução das vias aéreas pode ser acompanhada de hipoxemia expressiva causada por atelectasia, edema intersticial e desequilíbrio entre a ventilação e a perfusão. Devido a alteração dos mecanismos de defesa normais do hospedeiro, das secreções e da flora bacteriana, a infecção viral pode levar a uma predisposição a posterior infecção bacteriana. A pneumonia bacteriana ocorre com mais frequência quando organismos do trato respiratório colonizam a traqueia e, em seguida, alcançam os pulmões, mas também pode resultar da disseminação direta do tecido pulmonar após bacteremia. Quando a infecção bacteriana é estabelecida, o processo patológico varia de acordo com o organismo invasor: M. pneumoniae: fixa-se ao epitélio respiratório, inibe a ação ciliar e provoca a destruição celular e uma resposta inflamatória na submucosa. Conforme a infecção progride, detritos celulares, células inflamatórios e muco descartados causam a obstrução das vias aéreas e a propagação da infecção ocorre ao longo da árvore brônquica. S. pneumoniae: causa edema local que auxilia na proliferação de organismos e em sua propagação para partes adjacentes do pulmão, muitas vezes resultando no característico envolvimento lobar focal Estreptococos do grupo A: resulta em infecção mais difusa com pneumonia intersticial. A patologia compreende necrose da mucosa traqueobrônquica, formação de grandes quantidades de exsudato, edema e hemorragia local, com extensão para os septos interalveolares, envolvimento de vasos linfáticos e aumento da probabilidade de envolvimento pleural. Pneumonia por S. aureus: manifesta-se como broncopneumonia confluente, que costuma ser unilateral e caracterizada pela presença de amplas áreas de necrose hemorrágica e áreas irregulares de cavitação do parênquima pulmonar, resultando em pneumatoceles, empiema ou, por vezes, fístulas broncopulmonares. PNEUMONIA RECORRENTE = 2 ou mais episódios em 1 ano ou 3 ou mais episódios durante a vida com melhora radiográfica entre as ocorrências. SEMPRE INVESTIGAR DOENÇA DE BASE EM CASO DE PNEUMONIA RECORRENTE O quadro clínico pode variar com a idade da criança, estado nutricional, presença de doença de base e o agente etiológico. Os principais sinais e sintomas são: Febre Tosse Taquipneia: é a manifestação mais consistente da pneumonia e possui alto valor preditivo negativo, ou seja, se não há taquipneia, há grandes chances de não ser pneumonia. Dispneia Sintomas gripais são comuns, bem como a otite média Dor abdominal quando há envolvimento dos lobos pulmonares inferiores Nas crianças pequenas, dificilmente se encontram alterações localizadas à ausculta respiratória. A sibilância ocorre com maior frequência nascrianças com infecções virais ou por M. pneumoniae e C. pneumoniae. Na criança com IRA, a FR deve sempre ser pesquisada visando o diagnóstico de PAC. Na ausência de sibilância, as crianças com tosse e taquipneia devem ser classificadas com diagnóstico de PAC, porém, doenças como asma, bronquiolite, sibilância induzida por vírus podem causar taquipneia e devem ser tratadas com broncodilatador antes da classificação do paciente em relação à PAC a fim de evitar superprescrição de antibióticos e subdiagnóstico da doença obstrutiva da via aérea inferior. Os pontos de corte para taquipneia são: < 2 meses: FR maior ou igual a 60 irpm 2 a 11 meses: FR maior ou igual a 50 irpm 1 a 4 anos: FR maior ou igual a 40 irpm Existem alguns sinais de perigo que indicam internação hospitalar imediata do paciente: Menores de 2 meses: pneumonia nesta idade sempre é grave e com conduta de internação FR acima de 60 irpm Tiragem subcostal Febre alta Recusa do seio materno por mais de 3 mamadas Sibilância Estridor em repouso Sensório alterado com letargia, sonolência anormal ou irritabilidade excessiva. Maiores de 2 meses: Tiragem subcostal Estridor em repouso Recusa de líquidos Convulsão Alteração sensorial Vômitos PNEUMONIA GRAVE = TIRAGEM SUBCOSTAL PNEUMONIA MUITO GRAVE = OUTROS SINAIS DE PERIGO Outros sinais de PAC grave incluem SatO2<92%, abolição do MV, complicações da PAC, desnutrição grave, alteração sensorial e recusa alimentar. Em menores de 2 meses, são considerados sinais de doença muito grave: recusa alimentar, convulsões, sonolência excessiva, estridor em repouso, febre ou hipotermia, além da tiragem subcostal grave. Quadros de pneumonia afebril podem ocorrer em lactentes e em maiores de 5 anos. Em lactentes, podem cursar com antecedentes de conjuntivite e parto vaginal, e sugerem infecção por C. trachomatis. Em crianças maiores, é comum tosse coqueluchoide e história de contato com pacientes com quadro semelhante. Sugere PAC por Mycoplasma pneumoniae. O diagnóstico de PAC é clínico, dispensando a realização de radiografia de tórax, com exceção dos casos graves que demandam internação. Não é indicado solicitar exames que não levarão a mudança de conduta. Em caso de suspeita da necessidade de antibióticos, pode-se realiza-lo para tomada de decisão como crianças com crise de asma e após tratamento ainda houver a presença de estertor. Em geral, consolidação alveolar, pneumatoceles, derrames pleurais e abscessos sugerem etiologia bacteriana. O padrão intersticial está mais frequentemente associado a vírus e Mycoplasma pneumoniae ou Chlamydia pneumoniae. Os demais exames complementares são inespecíficos, mas em caso de necessidade: o Hemograma: eosinofilia maior ou igual a 300 sugere clamídia. o PCR maior ou igual a 40 ou procalcitonina maior ou igual a 0,75 a 2 ng/mL sugere etiologia bacteriana: A procalcitonina elevada é sugestivo de uma etiologia bacteriana porque é um biomarcador infeccioso específico de infecção bacteriana. Pode-se realizar o VHS no lugar do PCR, porém, é menos específico em casos de pneumonia. o Microbiologia: hemocultura, cultura do liquido pleural pode ser realizada para casos graves o Sorologia: micoplasma, clamídia o PCR-RT: micoplasma, clamídia, legionela, estafilo, VSR, bordetela, BK, pneumococo O RX de tórax pode sugerir o agente etiológico da pneumonia: Micoplasma: infiltrado intersticial, lobo inferior unilateral Pneumococo: consolidação lobar Estafilococo: broncopneumonia confluente, áreas de necrose (pneumatocele e empiema) Pneumonia viral: hiperinsuflação com infiltrado intersticial bilateral O tratamento da PAC é geralmente empírico, pois é raro identificar sua etiologia antes da introdução da antibioticoterapia. No Brasil, não há pneumococo com resistência absoluta à penicilina e deve-se usar doses habituais para os casos de pneumonia. Nos lactentes menores de 2 meses de idade, os agentes mais frequentes são: estreptococo do grupo B, enterobactérias, Listeria monocytogenes, Chlamydia trachomatis, Staphylococcus aureus e vírus. Os pacientes devem sempre ser hospitalizados. Em lactentes a partir de 2 meses até pré-escolares aos 5 anos de idade, o VSR, parainfluenza, influenza, rinovírus e adenovírus são agentes frequentes de PAC. O pneumococo é o agente bacteriano mais frequente, inclusive nas PAC com derrame pleural parapneumônico (DPP). Nessa faixa etária, a maioria das crianças será tratada ambulatorialmente, sendo indicado iniciar o tratamento o mais rápido possível e é necessário reavaliar a criança em 48-72h, além de orientar os pais/responsáveis sobre sinais de alerta e prescrição de amoxicilina 50mg/kg/dia de 8/8 ou 12/12h com exceção de pacientes imunodeficientes ou doença de base, sendo indicado internação mesmo em pneumonias leves devido a maior probabilidade de complicações. Crianças de 2 meses a 5 anos que estejam com PAC e tiragem subcostal, com ou sem outros sinais de perigo devem ser hospitalizadas e receber penicilina cristalina ou ampicilina. Crianças em fase escolar também possuem aumento de incidência de microrganismos atípicos como o Mycoplasma pneumoniae e a Chlamydia pneumoniae. Nesses casos, é possível utilizar macrolídeos como a azitromicina para ampliação do espectro. Para pneumonias muito graves optar pela introdução de oxacilina associada a cefalosporina de 3ª geração como a ceftriaxona visto a possibilidade de infecção por Staphylococcus aureus ou por Haemophilus influenzae. Esses medicamentos cobrem pneumococos com resistência intermediária, staphylococcus sensíveis e haemophilus. Os critérios de internação além dos sinais clínicos de gravidade incluem falha do regime ambulatorial, doença grave concomitante e sinal radiológico de gravidade como derrame pleural, pneumatoceles e abscessos. Deve ser indicada a hospitalização nas seguintes situações: Menores de 2 meses Presença de tiragem subcostal Convulsões Sonolência excessiva Estridor em repouso Desnutrição grave Ausência de ingestão de líquidos Sinais de hipoxemia Presença de comorbidades como anemia, cardiopatias, pneumopatias Problemas sociais Falha na terapêutica ambulatorial Complicações radiológicas como derrame pleural, pneumatocele, abscesso pulmonar Paciente com insuficiência respiratória aguda Suspeita de pneumonia estafilocócica ou por germe gram-negativo, sarampo, varicela ou coqueluche precedendo a PAC Imunodepressão Pneumonia hospitalar Além do uso adequado dos antimicrobianos, algumas recomendações são importantes: manter a alimentação da criança, particularmente o aleitamento materno, aumentar a oferta hídrica e manter as narinas desobstruídas. Além disso, a criança hospitalizada pode necessitar de uso de broncodilatadores, hidratação venosa, correção de distúrbios hidroeletrolíticos, oxigenoterapia, entre outros cuidados. As principais complicações das PAC são: Abscesso Atelectasia Pneumatocele: são lesões císticas de paredes finas, que acometem sobretudo crianças com pneumonia bacteriana, mas também podem decorrer de trauma torácico, ventilação pulmonar mecânica invasiva e aspiração Pneumonia necrosante: em geral causada por pneumococo, é caracterizada por focos necróticos em áreas de consolidação pulmonar. Derrame pleural Pneumotórax Fístula broncopleural Hemoptise Septicemia Bronquiectasia Infecções associadas: otite, sinusite, conjuntivite, meningite, osteomielite
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