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ESTUDOS DISCIPLINARES Tomo II Prof. Me. Alexandre Furniel Reflexões sobre a democracia no Brasil No livro “Raízes do Brasil”, Sérgio Buarque de Holanda afirma que a democracia no Brasil nasceu como um mal-entendido, uma vez que o conceito e o termo eram empregados de modo desconectado da realidade. O historiador referia-se ao fato de que, no século XIX, faltavam as bases econômicas, políticas, culturais e sociais para a existência desse sistema. Os empecilhos para a consolidação da democracia no Brasil foram também abordados em outras obras. Raymundo Faoro, em “Os donos do poder”, observa que a formação do Estado brasileiro é a combinação de privatismo e de arbítrio, que acarretaram o “exercício privado de funções públicas e [...] o exercício público de atribuições não legais”. (FAORO, 1989) Florestan Fernandes foi outro pensador que se destacou nos estudos sobre a democracia brasileira. De acordo com o estudioso, os problemas do sistema democrático brasileiro deviam-se à demora cultural, ou seja, a um desequilíbrio na estrutura social, causado pela diferenciação de ritmos das transformações em diversas esferas. Para o sociólogo, os aspectos institucionais e legais modernizavam-se conforme o modelo dos países desenvolvidos, ao passo que o pensamento e o cotidiano do brasileiro permaneciam pautados por referências tradicionalistas. No seu artigo “Existe uma crise da democracia no Brasil?”, escrito a partir de uma palestra proferida em 1954, Florestan Fernandes esclarece as diversas perspectivas sobre o problema. Havia os estudiosos que explicavam a crise como resultado do processo econômico do momento, os que a colocavam no plano moral e aqueles que a atribuíam à incompetência das elites brasileiras. Para Fernandes, a democracia brasileira ainda estava em elaboração, pois não havia atingido a maturidade. Segundo ele, “o Brasil se constituiu em Nação, econômica, cultural e socialmente, em condições altamente desfavoráveis à difusão de ideais democráticos de vida política”. (FERNANDES, 1979) Assim, aquilo a que se estava chamando de crise era, na realidade, a lentidão do processo de antigas práticas por outras mais compatíveis com a ordem democrática. Cabe ressaltar que, na época da palestra, o Brasil atravessava um momento politicamente delicado, no segundo governo de Getúlio Vargas. Após ficar 15 anos no poder, sendo oito deles em regime ditatorial do Estado Novo, Vargas havia retornado à presidência em 1950 por meio do voto direto. Em 1954, pressionado pela oposição a deixar o cargo, ele se suicidou. Questão 6 “Em 1954, convidado a dar palestra sobre a crise da democracia no Brasil, Florestan abre polêmica ao questionar o próprio tema formulado, perguntando como seria possível a democracia estar em crise numa sociedade que estava longe de ser democrática.” FÁVERO, O. (org.). Democracia e Educação em Florestan Fernandes. São Paulo: Autores Associados; Niterói, RJ: Editora da Universidade Federal Fluminense, 2005, p. 160 (com adaptações). Da palestra surgiu um artigo intitulado “Existe uma crise democrática no Brasil?” (1954). Nele, o autor aborda aspectos relevantes da implantação e do desenvolvimento da democracia no Brasil daquela época. Apesar de a reflexão de Florestan ter completado seu 60º aniversário, ainda é atual frente às dificuldades em estabelecer um regime político verdadeiramente democrático no Estado brasileiro. Com base nas ideias de Florestan Fernandes, é correto afirmar que, no contexto político do Brasil nas décadas de 1950 e 1960: a) A evolução da democracia dependia da restrição à quantidade de partidos políticos. b) As tendências da constituição democrática estavam sendo neutralizadas ou contrariadas social e culturalmente. c) As elites estavam preparadas para a efetivação da democracia, mas a massa não aceitava tal condição política. d) A instauração da República no Brasil foi acompanhada por uma revolução no sistema de ensino, o que contribuiu para a consolidação democrática brasileira. e) A democracia iria instaurar-se de qualquer forma; era apenas uma questão de tempo até que as pessoas se acostumassem com o novo regime democrático. Análise das alternativas A – Alternativa incorreta. Justificativa. A democracia pressupõe a existência de partidos políticos que traduzam posições ideológicas distintas. Florestan Fernandes não critica a quantidade de partidos políticos existentes nas décadas de 1950 e 1960. B – Alternativa correta. Justificativa. Para Florestan Fernandes, havia descompasso entre os aspectos institucionais e legais da democracia e os valores culturais arcaicos do brasileiro. Análise das alternativas C – Alternativa incorreta. Justificativa. As elites não estavam amadurecidas para a concretização da democracia. D – Alternativa incorreta. Justificativa. Não houve revolução no ensino após a proclamação da República. As mudanças mais significativas no âmbito educacional só ocorreram após a Revolução de 1930. E – Alternativa incorreta. Justificativa. O autor não considera que a instauração da democracia no Brasil iria inevitavelmente acontecer. Ele aponta as contradições da sociedade brasileira que dificultavam esse processo. A imaginação sociológica Wright Mills, sociólogo da linha norte-americana, desenvolveu, na década de 1960, o conceito de “imaginação sociológica”, descrito como a capacidade de relacionar as experiências individuais com as condições sociais. A conscientização das relações entre o indivíduo e a realidade em que vive, promovida pelo conhecimento sociológico, permite a reflexão sobre os interesses em disputa em uma sociedade. Trata-se de um olhar que faz com que o indivíduo encare suas experiências pessoais como parte do todo social. A questão do divórcio é um bom exemplo. Em vez de encarar a separação apenas como um fato da biografia individual que altera as condições de vida de um casal, o indivíduo deve perceber as mudanças na instituição da família provocadas pelo aumento de divórcios na sociedade. Com a perspectiva da “imaginação sociológica”, Mills deseja que o conhecimento sociológico faça a pessoa relacionar sua trajetória com a realidade histórico-social. Para isso, não é suficiente apenas ter mais informações: é necessário ampliar a capacidade analítica dos indivíduos. De acordo com Mills (1969), é necessária uma qualidade de espírito que lhes ajude a usar a informação e a desenvolver a razão a fim de perceber, com lucidez, o que está ocorrendo no mundo e o que pode estar acontecendo dentro deles mesmos. Questão 7 No Ensino Médio, uma importante contribuição da Sociologia para a formação do educando é o desenvolvimento da “imaginação sociológica” no sentido atribuído por Wright Mills. Com o objetivo de desenvolver a “imaginação sociológica” dos estudantes, o professor poderá propor atividades, leituras e discussões que: a) Forneçam elementos para a reflexão sobre as interconexões entre a biografia individual e a conjuntura histórico-social. b) Promovam o exercício da cidadania e o espírito crítico, preparando-os para se adaptarem, com flexibilidade, à vida social. c) Possibilitem a imaginação, ampliando-lhes a capacidade de detectar os problemas sociais e encontrar soluções para eles. d) Estimulem a criatividade e instiguem seus alunos a imaginar situações sociais que correspondam aos conceitos da sociologia clássica. e) Desenvolvam a habilidade de aprender a aprender, preparando-os, de forma indireta, para a inserção social, inclusive no mercado de trabalho. Resolução da questão A atuação do professor deve ser no sentido de desenvolver a capacidade analítica dos estudantes a fim de que eles estabeleçam relações entre suas experiências e o contexto social em que vivem. Alternativa correta: A. INTERVALO Distribuiçãoda população brasileira ocupada por grupamentos de atividades, segundo o sexo (%) (2003 e 2011) MULHERES HOMENS 2003 2011 2003 2011 Indústria 14,5 13,0 19,9 19,3 Construção 1,0 1,0 12,5 13,2 Comércio 17,9 17,5 21,9 19,6 Serviços prestados a empresas 11,6 14,9 14,8 17,0 Administração pública 22,8 22,6 10,5 10,5 Serviços domésticos 16,7 14,5 0,7 0,7 Outros serviços 15,1 16,3 18,6 19,0 IBGE. Pesquisa Mensal de Emprego NIB-2011. Disponível em <https://www.ibge.gov.br/>. Acesso em 22 jul. 2014 (com adaptações). A era da globalização e o mercado de trabalho Sendo multinacional, a empresa também não hesita em trocar de país-sede, movendo-se em direção aos menores impostos, salários e embaraços legais. Ela transfere suas fábricas para locais onde o custo do trabalho for menor e busca terceirizar suas operações, visando a minimizar seus custos de todos os tipos. A era da globalização e o mercado de trabalho Já no final do século XX, Milton Santos contrariava o discurso hegemônico de que a globalização traria desenvolvimento a todo o mundo. De acordo com ele, para a maior parte da humanidade, a globalização está se impondo como uma fábrica de perversidades. O desemprego crescente torna-se crônico. A pobreza aumenta e as classes médias perdem em qualidade de vida. O salário médio tende a baixar. A fome e o desabrigo se generalizam em todos os continentes. Considerando o quadro e o trecho anterior, avalie as afirmativas a seguir. I. A divisão sexual do trabalho ainda é muito presente em algumas atividades econômicas, como se pode inferir dos dados sobre a atividade de construção. A diferença entre a participação de homens e mulheres nessa atividade em 2011 foi de 12,2 pontos percentuais, o que demonstra tal desigualdade nesse setor. II. A redução do percentual de mulheres economicamente ativas nos serviços domésticos e na indústria entre 2003 e 2011 e o aumento de sua participação nas áreas de serviços indicam que elas estão migrando para ocupações que exigem domínio sobre um volume maior de conhecimentos específicos. III. No setor de comércio, a participação de mulheres manteve-se praticamente estável, mas houve queda percentual da participação de homens. Pode-se inferir, portanto, que as mulheres costumam manter-se na mesma área de emprego, enquanto os homens diversificam suas atividades e, portanto, mudam de área com frequência. É correto o que se afirma em: a) I, apenas. b) III, apenas. c) I e II, apenas. d) II e III, apenas. e) I, II e III, apenas. Questão 8 I. Afirmativa correta. Justificativa. De fato, excetuando-se o caso de ocupações para as quais o mercado tem a percepção de que o emprego de trabalhadores homens é vantajoso (como no caso do setor de construção), a opção por mão de obra feminina é perfeitamente consistente com a visão de mundo globalizada. No entanto, permanece uma distorção remunerativa em relação aos gêneros. II. Afirmativa correta. Justificativa. De fato, as mulheres estão migrando para ocupações que exigem domínio de volume maior de conhecimentos específicos, mas a razão fundamental para essa migração, como já foi dito, é que mulheres são, em geral, menos remuneradas do que homens exercendo a mesma função. Comentário adicional. Os dados fornecidos no enunciado referem-se à população ocupada, ou seja, não são dados sobre PEA (população ocupada e população não ocupada). Além disso, não é possível ter certeza de que a mudança ocorre no sentido apontado na afirmativa II (novos entrantes). III. Afirmativa incorreta. Justificativa. Os dados mencionados não são suficientes para se inferir que as mulheres costumam se manter na mesma área de emprego enquanto os homens mudam de área com frequência. O fato é que também homens migraram em direção ao setor de serviços. Alternativa correta: C. INTERVALO A era da globalização e o mercado de trabalho A globalização pode ser encarada como o auge da internacionalização do capitalismo, possibilitada pela evolução da tecnologia. A diluição das fronteiras geográficas, os acordos comerciais e o fim da Guerra Fria permitiram a circulação intensa de mercadorias e de capital e promoveram o enfraquecimento da capacidade de o Estado-nação intervir na esfera econômica. O mundo globalizado é como uma rede internacional de sistemas econômicos e financeiros interligados. Nesse cenário, segundo os críticos do processo de globalização, a economia transnacional é dominada pelos interesses de empresas multinacionais, cujo objetivo central é o de produzir o máximo possível de lucro aos seus acionistas. A era da globalização e o mercado de trabalho Sendo multinacional, a empresa também não hesita em trocar de país-sede, movendo-se em direção aos menores impostos, salários e embaraços legais. Ela transfere suas fábricas para locais onde o custo do trabalho for menor e busca terceirizar suas operações, visando a minimizar seus custos de todos os tipos. As alterações na economia mundial impuseram, portanto, mudanças nas relações de trabalho em geral. Observa-se, atualmente, um processo de precarização dos postos de trabalho, marcado por perdas de garantias e de direitos conquistados. Em outras palavras, a flexibilização de contratos de trabalho sujeitou ainda mais os trabalhadores aos interesses do capital. A era da globalização e o mercado de trabalho No mercado de trabalho, a situação é mais grave para as mulheres, uma vez que o atual quadro das forças produtivas é permeado pelas desigualdades de gênero historicamente determinadas. A era da globalização e o mercado de trabalho Segundo Hirata (2002), a divisão sexual do trabalho é sempre indissociável das relações entre homens e mulheres, que são relações desiguais, hierarquizadas, assimétricas e antagônicas. Assim, apesar da maior inserção da mulher no mercado de trabalho, ainda é nítida a diferença entre as posições hierárquicas dos homens e das mulheres em muitas empresas, assim como se observam salários menores pagos às mulheres que exercem a mesma função que os homens. Questão 9 “Nunca estivemos tão perto uns dos outros. Fronteiras geopolíticas se diluem, articulações supranacionais se organizam, fluxos migratórios são cada vez mais intensos, instâncias e agendas planetárias de todo tipo são cada vez mais presentes. No entanto, de forma contrastante com esses movimentos que visam – e de certo modo supõem – a uma perspectiva mais encompassadora do mundo e o estabelecimento de formas de vida coletiva, vemos crescer, de modo espantoso e assustador, o nacionalismo, a xenofobia, o preconceito, a exclusão. Um mal-estar parece infiltrar-se por todo o tecido social. Contingentes imensos são postos à margem desses processos inclusivos. Que destino está reservado aos deserdados da chamada globalização? Qual o lugar, numa cultura planetária, para os que não se inserem, de algum modo, nas expectativas e exigências ditadas pela lógica totalizante e imperativa do mercado (de bens, serviços, identidades, itens culturais, consumo)?” BEZERRA JR., B. Somos todos migrantes. In FERREIRA, A. P. O Migrante na rede do outro. Rio de Janeiro: Te Corá, 1999 (com adaptações). Os fluxos migratórios e a xenofobia A globalização dos mercados também facilitou o maior fluxo de pessoas pelo mundo. À primeira vista, esse fluxo parece indicar integração de povos e culturas, mas esse movimento não acontece, em grande parte dos casos, de forma harmoniosa. A migração é consequência de vários fatores, como dificuldades econômicas, desastres naturais e imposições de conflitos políticos e religiosos. As necessidades de sobrevivência impelem indivíduos a buscarem outras oportunidades em regiões com melhores condições. Por isso, assistimos atualmente a um grande movimento de refugiados e imigrantes, especialmente paraos países mais desenvolvidos. Os fluxos migratórios e a xenofobia Esse fluxo, por sua vez, provoca tanto ações de acolhimento e solidariedade quanto reações de repulsa e ódio, movidas pelo nacionalismo e pela xenofobia. Em várias partes do mundo, têm sido recorrentes manifestações de preconceito, discriminação e violência contra estrangeiros. O crescimento de partidos e políticos de extrema-direita tem reforçado a rejeição ao imigrante. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, por exemplo, venceu o pleito com um discurso nacionalista e contrário à entrada de estrangeiros. Entre suas promessas estava a construção de um muro na fronteira com o México para impedir o fluxo de latinos para o território estadunidense. Recentemente, em agosto de 2017, uma marcha no estado da Virgínia reuniu supremacistas brancos que se manifestaram contra negros, imigrantes, gays e judeus. Os fluxos migratórios e a xenofobia Episódios desse tipo têm acontecido em diversos países. No mesmo mês, no Rio de Janeiro, por exemplo, alguns comerciantes hostilizaram um imigrante sírio que vendia esfirras em Copacabana. Essas reações de ódio e intolerância normalmente apoiam-se em ideias de superioridade racial ou em argumentos econômicos. De acordo com essa lógica fascista, os imigrantes devem ser rejeitados ou pela sua etnia ou pelo fato de que contribuem para o desemprego local. Com relação a um mundo em que os Estados Nacionais não são mais os principais determinantes das questões de identidade, verifica-se que: a) O aumento dos fluxos migratórios contribui para diminuir a tolerância. b) As agendas planetárias contribuem para incrementar a inclusão social. c) A globalização tem como efeitos colaterais o nacionalismo e a xenofobia. d) A porosidade das fronteiras geopolíticas conduz à dissolução do Estado-Nação. e) As articulações supranacionais são pautadas pelas identidades coletivas locais. Análise da questão 9 Paradoxalmente, a globalização, caracterizada pela integração econômica, tem como efeitos colaterais o sentimento nacionalista e a xenofobia. As situações de crise econômica, com a ampla oferta de mão de obra, incitam as ideias favoráveis ao fechamento de mercado, ao preconceito e à rejeição ao estrangeiro. Alternativa correta: C. INTERVALO Diversidade cultural Claude Lévi-Strauss, um dos principais nomes da Antropologia, em seu texto “Raça e História”, critica o etnocentrismo, ou seja, o modo como o homem analisa, com base nos seus próprios referenciais, outras culturas. Lévi-Strauss considera fundamental o respeito à diversidade cultural. O autor, que foi o responsável pela introdução do método estruturalista nas ciências humanas, buscava identificar as estruturas que sustentam os valores e os costumes de outros povos e realizou um extenso trabalho com os indígenas brasileiros no período em que viveu no país. Diversidade cultural De acordo com Lévi-Strauss, é necessário esforço para relativizar outros modos de vida, sem tomar como únicos e verdadeiros os pressupostos do nosso. Deve-se combater a visão etnocêntrica, que considera válidos apenas os princípios da cultura hegemônica. Essa é imposta pela força e pelo domínio econômico. A base de tal postura pressupõe que algumas culturas são melhores do que as outras e que há necessidade de “evolução” dessas outras. Na questão dos índios americanos, por exemplo, prevaleceu o olhar do colonizador europeu, que submeteu as culturas originais do novo continente aos seus valores. Questão 10 No texto “Raça e História”, o antropólogo Claude Lévi-Strauss argumenta: “É a diversidade que deve ser salva. É necessário, pois, encorajar as potencialidades secretas, despertar todas as vocações para a vida em comum que a história tem de reserva; é necessário também estar pronto para encarar, sem surpresa, sem repugnância e sem revolta, o que estas novas formas sociais de expressão poderão oferecer de desusado. A tolerância não é uma posição contemplativa dispensando indulgências ao que foi e ao que é. É uma atitude dinâmica, que consiste em prever, em compreender e em promover o que quer ser.” LÉVI-STRAUSS, C. Raça e História. In: Antropologia estrutural II. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1993 (com adaptações). Um líder Guarani Kaiowá declarou: “‘Disseram pros nossos estudantes que eles não deveriam estudar ali’, conta a liderança da aldeia. ‘Disseram aos nossos jovens que, se eles continuassem estudando o ano todo, iam encher a sala e a escola de terra porque temos ‘pés sujos’. E ‘chulé’, que as indígenas femininas têm aquele cheiro de mulher”, conta. O diretor colocou o grupo do lado de fora da sala de aula, enquanto o professor continuou dando aula para os não indígenas. ‘Às vezes o professor ia lá fora passar alguma atividade para os indígenas’.” Chamados de “sujos” e “fedidos”, indígenas são expulsos de sala de aula. Campanha Guarani. Disponível em <http://campanhaguarani.org/>. Acesso em 12 set. 2014 (com adaptações). Lévi-Strauss defende a promoção da diversidade cultural como fundamental para a manutenção da criatividade e a dinâmica das sociedades humanas. O líder Guarani Kaiowá aponta uma situação de racismo ocorrida no ambiente de sala de aula. A partir dos textos e das Orientações Curriculares Nacionais, avalie se as práticas pedagógicas apresentadas a seguir são adequadas para trabalhar a promoção do respeito à diversidade na escola. I. Aula expositiva sobre a diversidade social em datas comemorativas, como o Dia do Índio. II. Escolha de temas que possibilitem aos alunos expor diferentes visões de mundo e estimulem a troca de conhecimento e a desnaturalização do cotidiano. III. Divisão de um texto entre grupos de alunos para apresentação na forma de seminários. IV. Utilização de filmes que ilustrem diferentes realidades e incitem a construção de novas perspectivas sobre as diferenças culturais. É correto apenas o que se afirma em: a) I e II. b) I e III. c) II e IV. d) I, III e IV. e) II, III e IV. I. Afirmativa incorreta. Justificativa. Aulas expositivas em datas convencionais não são eficientes para desenvolver nos alunos o respeito à diversidade. II. Afirmativa correta. Justificativa. Para a construção do respeito, é fundamental a desconstrução de estereótipos e preconceitos. III. Afirmativa incorreta. Justificativa. A fragmentação de temas entre grupos e a mera exposição de pesquisa não são boas estratégias para o desenvolvimento da empatia e do respeito em relação a outras culturas. IV. Afirmativa correta. Justificativa. As narrativas, especialmente as fílmicas, envolvem normalmente os jovens e são capazes de promover reflexões sobre questões importantes da nossa sociedade. Alternativa correta: C. ATÉ A PRÓXIMA! ESTUDOS DISCIPLINARES Tomo III Prof. Me. Alexandre Furniel Questão 1 Questão 1 O crime não se produz só na maior parte das sociedades desta ou daquela espécie, mas em todas as sociedades, qualquer que seja o tipo destas. Não há nenhuma sociedade sem crime. O crime é, portanto, necessário; está ligado às condições fundamentais de qualquer vida social e, precisamente por isso, é útil, porque estas condições a que está ligado são indispensáveis para a evolução normal da moral e do direito. Por outro lado, pode, sem dúvida, acontecer que o crime tome formas anormais; é o que acontece quando, por exemplo, atinge uma taxa exagerada. Efetivamente, não será de duvidar da natureza mórbida deste excesso. DURKHEIM, E. As regras do método sociológico. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 119-121 (com adaptações). Questão 1 Considerando o crime como um fato social, elabore um plano de aula para estudantes do Ensino Médio, relacionando uma situação da atualidade ao pensamento de Durkheim. Seu plano de aula deve conter objetivo,metodologia, recursos didáticos e avaliação. Questão discursiva 5 – Enade 2014. Questão 2 Questão 2 1 Fonte: <http://www.nikkeyweb.org.br>. Acesso em: 27 ago. 2014 (com adaptações). Questão 18 Enade 2014. A taxa de desemprego começou a se ampliar gradualmente, até chegar a níveis elevados para os padrões japoneses, em torno de 5%, após 2000, com a taxa de inflação caindo de 3,5% para praticamente zero entre 1991 e 1998, e tornando-se negativa entre 1999 e 2006 – fora os dois anos (2004 e 2006) em que foi nula. No entanto, a princípio, era esperado que a economia do país respondesse de forma rápida, uma vez que se acreditava que ela passava por uma recessão cíclica normal, não necessitando de uma política agressiva do governo, dados os sinais de recuperação, entre 1994 e início de 1997, do PIB e da taxa de inflação. A percepção do grave problema pelo qual passava a economia japonesa tornou-se evidente, contudo, quando eclodiu uma crise no setor bancário em 1997. O colapso dos ativos japoneses deixou o setor bancário diante de grandes problemas com os no-performing loans (empréstimos próximos de se tornarem inadimplentes), o que aumentou os riscos de mais um longo período de economia fraca. FRAGA, J.; STRACHMAN, E. Crise Financeira: o caso japonês. Revista Nova Economia, v. 23, n. 3, 2013 (com adaptações). Questão 2 Se, portanto, as crises industriais ou financeiras aumentam os suicídios, não é por empobrecerem, uma vez que as crises de prosperidade têm o mesmo resultado; é por serem crises, ou seja, perturbações da ordem coletiva. Toda ruptura de equilíbrio, mesmo que resulte em maior abastança e aumento da vitalidade geral, impele à morte voluntária. Todas as vezes que se produzem graves rearranjos no corpo social, sejam eles devidos a um súbito movimento de crescimento ou a um cataclismo inesperado, o homem se mata mais facilmente. DURKHEIM, E. O suicídio. São Paulo: Martins Fontes, 2004 (com adaptações). A partir do gráfico apresentado, que mostra a evolução da taxa de suicídios no Japão, e das citações apresentadas, avalie as afirmativas a seguir. I. No período de 1990 a 1997, as taxas de suicídio no Japão não se modificaram, o que indica forte estabilidade social nesse país. II. No período de 1997 a 2004 houve um súbito crescimento da taxa de suicídios no Japão, que pode ser associado à crise financeira iniciada em 1997 no setor bancário. III. No início da primeira década dos anos 2000 houve crescimento das taxas de suicídio, o que indica avanço da crise social japonesa. Questão 2 IV. No período de 1980 a 2004 ocorreram diversas variações nas taxas de suicídio no Japão, o que pode ser explicado pelas variações entre crises e momentos de estabilidade na estrutura econômica dessa sociedade. É correto apenas o que se afirma em: a) I e III. b) I e IV. c) II e III. d) I, II e IV. e) II, III e IV. Questão 2 Introdução teórica 1.1 O fato social em Durkheim Os fatos sociais são o principal objeto de estudo da sociologia, segundo David Émile Durkheim, cientista social francês, considerado um dos fundadores da sociologia moderna. No livro intitulado “As Regras do Método Sociológico”, publicado em 1895, a definição principal do sociólogo francês para fatos sociais consiste nas maneiras de agir, pensar, ser e sentir que podem exercer coerção externa sobre os indivíduos. Um modo alternativo e equivalente de definir esse conceito, proposto também por Durkheim, é que os fatos sociais correspondem a práticas generalizadas em grupos sociais cuja existência não depende de manifestações individuais. O autor argumenta que as duas definições são equivalentes porque se existem práticas recorrentes nas sociedades que se distinguem das manifestações individuais é porque, de alguma forma, tais práticas exercem coerção sobre os indivíduos. 1.2 Fatos sociais polêmicos: o crime e o suicídio Durkheim afirma que um dos papéis da ciência é distinguir os fenômenos normais dos fenômenos patológicos (também chamados de anormais). Os fenômenos normais seriam aqueles que se repetem na maioria dos indivíduos de uma sociedade, se não em todos, de maneira mais ou menos parecida. Geralmente, esses fenômenos são importantes para o próprio funcionamento da sociedade. Os fenômenos patológicos são aqueles que desviam muito da normalidade e aparecem em um número pequeno de indivíduos, muitas vezes por um período limitado da vida. Durkheim também vê o suicídio como um fato social e define no seu estudo de 1897, “O Suicídio”, como a morte resultante de um ato da própria vítima que sabia que tal ação teria uma consequência fatal, independentemente de o suicida ter o falecimento como seu objetivo principal (DURKHEIM, 2004). Assim, a definição inclui, por exemplo, a morte de uma mãe que sacrifica sua própria vida em prol da sobrevivência de um filho. O suicídio é entendido como um fato social normal por ser recorrente em todas as sociedades e por ter causas sociais, ainda que fatores psicológicos ou biológicos individuais possam influenciar na decisão pessoal de tirar a própria vida. 1.2 Fatos sociais polêmicos: o crime e o suicídio Entre as evidências de que o suicídio tem causas sociais, Durkheim elenca o fato de que as taxas de suicídio observadas na mesma sociedade tendem a ser estáveis no tempo e diferentes das taxas de outras sociedades. Além disso, observa que mudanças bruscas no ambiente social são associadas a variações abruptas das taxas de suicídio. 1.2 Fatos sociais polêmicos: o crime e o suicídio O autor identifica três tipos principais de suicídio relacionados a causas sociais específicas: suicídio egoísta, ligado ao enfraquecimento dos laços sociais, das crenças tradicionais e ao individualismo; suicídio altruísta, associado ao dever com a coletividade de, por exemplo, militares, revolucionários e mártires; suicídio anômico, relacionado à incompatibilidade entre as normas sociais e os objetivos do indivíduo. Para Durkheim, nos momentos em que há crises financeiras ou ímpetos bruscos de prosperidade, a sociedade não consegue regular adequadamente as aspirações dos indivíduos e os números de suicídio aumentam. Se a recessão econômica persistir por muito tempo, porém, espera-se que as sociedades criem normas para a vida em condições de pobreza e que as taxas de suicídio se estabilizem. 1.2 Fatos sociais polêmicos: o crime e o suicídio Resposta da questão 1 Padrão de resposta do Inep O estudante deve elaborar um plano de aula em que: leve em consideração a presença e a inter-relação entre objetivos, métodos, recursos didáticos e avaliação; estabeleça um diálogo adequado entre a teoria de Durkheim e as situações da atualidade; seja prevista uma adequada mediação pedagógica entre a teoria sociológica e o nível médio de ensino. Fonte: <http://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/padrao_resposta/2014/padrao_resposta_cienc ias_sociais_licenciatura.pdf>. Acesso em 12 jul. 2017. Análise das afirmativas Questão 2 I. Afirmativa incorreta. Justificativa. Entre 1990 e 1997, as taxas de desemprego no Japão aumentaram e o crescimento econômico foi baixo ou “negativo”, o que pode indicar que, na realidade, o país tenha passado por instabilidade social. O gráfico mostra ainda que as taxas de suicídio no Japão aumentaram durante o período, ainda que lentamente. Por isso, não se pode dizer que as taxas de suicídio não se modificaram nem que houve forte estabilidade social. II, III e IV. Afirmativas corretas. Justificativa. Entre 1980 e 2004, a sociedade japonesa enfrentou diversas oscilações nas taxas de suicídio, de crescimento econômico e de desemprego. Segundo o referencial teórico de Durkheim, as perturbações da ordem social e econômica, tanto nos períodos de crise econômica quanto nos momentos de abrupto crescimento, estãoassociadas à incapacidade de a sociedade regular as aspirações e os objetivos dos indivíduos e à maior incidência do suicídio anômico. Alternativa correta: E. Análise das afirmativas INTERVALO Questão 3 Questão 3 A cultura original de um grupo étnico, na diáspora ou em situações de intenso contato, não se perde ou se funde simplesmente, mas adquire uma nova função, essencial e que se acresce às outras, enquanto se torna cultura de contraste: este novo princípio que a subentende, o do contraste, determina vários processos. A cultura tende, ao mesmo tempo, a se acentuar, tornando-se mais visível, e a se simplificar e enrijecer, reduzindo-se a um número menor de traços que se tornam diacríticos. CUNHA, E. Etnicidade: da cultura residual mas irredutível. In: CUNHA, M. Antropologia no Brasil: mito, história e etnicidade. São Paulo: Brasiliense, 1986 (com adaptações). Questão 3 Considere a situação em que um pesquisador tenha sido contratado por uma federação de associações de imigrantes, para examinar as razões da “baixa adesão” dos descendentes ao legado cultural da imigração. Ao longo da pesquisa, o estudioso se deparou com o seguinte contexto: Questão 23 – Enade 2014. 1) a incorporação da celebração pelos imigrantes de festejos e danças tidos como “típicos” às práticas dos grupos; 2) o desinteresse de muitos descendentes de participar de tais grupos de imigrantes; 3) o interesse das populações sem quaisquer vínculos com o passado imigrante de participar de tais festejos e da construção da memória dos grupos imigrantes. Com base no fragmento do texto e nessa situação hipotética, avalie as afirmativas a seguir quanto às condutas adequadas do pesquisador. I. O pesquisador deveria questionar a validade dos festejos e das danças, já que não correspondem a um autêntico legado cultural original dos imigrantes. Questão 3 II. O pesquisador deveria considerar, em sua análise etnográfica, os outros grupos em relação, a fim de situá-los contrastivamente. III. O pesquisador deveria considerar válidas todas as manifestações, porque, afinal, a construção da memória e dos sinais refere-se ao tempo presente. IV. O pesquisador deveria empenhar-se em averiguar o que havia de irredutível na etnicidade: a invocação de uma origem comum. É correto apenas o que se afirma em: a) I e II. b) I e III. c) II e IV. d) I, III e IV. e) II, III e IV. Questão 3 1. Análise das afirmativas I. Afirmativa incorreta. Justificativa. O contato intenso entre os descendentes e os não descendentes de imigrantes motiva a transformação da cultura de ambos os grupos e essas mudanças podem ser importantes para a afirmação da identidade étnica dos imigrantes. O pesquisador não deve desqualificar a validade de fenômenos culturais simplesmente por entender que eles não correspondem às suas versões originais. Análise das afirmativas II e IV. Afirmativas corretas. Justificativa. O pesquisador deve considerar que os descendentes e não descendentes de imigrantes estão em relação entre si e que essas festividades, mesmo que sejam diferentes das manifestações culturais dos grupos imigrantes originais, ajudam os descendentes a invocarem uma origem comum. III. Afirmativa correta. Justificativa. A cultura é mutável e dinâmica. Assim, o pesquisador deve perceber que todas as manifestações culturais são válidas, pois respondem às condições e às necessidades presentes dos dois grupos, inclusive àquelas relacionadas à construção da memória. Alternativa correta: E. Análise das afirmativas Etnicidade e cultura de contraste O texto “Etnicidade: da cultura residual, mas irredutível”, da antropóloga Manuela Carneiro da Cunha, apresentado inicialmente em 1978 e republicado em 1986, está inserido em um momento em que muitos antropólogos apoiaram as demandas do movimento indigenista no contexto do regime autoritário militar. Para dar andamento a grandes projetos de infraestrutura e integração nacionais, como a construção da Transamazônica, o governo militar promoveu a remoção forçada de populações indígenas e omitiu-se perante as mortes de contingentes nativos por agentes privados interessados em suas terras ou pelo contato com doenças trazidas pelos novos grupos que ocupariam essas regiões para as quais não tinham imunidade. A própria Fundação Nacional do Índio (Funai), responsável por promover os direitos dos povos indígenas, dava suporte às políticas governamentais de violência contra os índios. Análise das afirmativas A Comissão Nacional da Verdade, órgão oficial criado em 2011 para investigar as violações de direitos humanos ocorridas durante o regime militar, estima que mais de 8.350 indígenas morreram no período por ação ou por omissão dos agentes governamentais (CNV, 2014). Nesse contexto, falar sobre etnicidade não era mero detalhe teórico, mas tinha importância política, uma vez que reconhecer um grupo como indígena significava atestar seu direito à terra. Análise das afirmativas INTERVALO Questão 4 Quilombos no Brasil De um modo geral, os territórios quilombolas originaram-se de diferentes situações, tais como doações de terras a partir da desagregação da lavoura de monoculturas, como a cana-de- açúcar e o algodão; compra de terras pelos próprios sujeitos, possibilitada pela desestruturação do sistema escravista; terras conquistadas por meio da prestação de serviços, e inclusive, de guerra; bem como áreas ocupadas por negros que fugiam da escravidão. Há também as chamadas terras de preto, terras de santo ou terras de santíssima, que indicam uma territorialidade vinda de propriedades de ordens religiosas, da doação de terras para santos e do recebimento de terras em troca de serviços religiosos prestados a senhores de escravos por sacerdotes de religiões afro-brasileiras. Questão 4 Os quilombos permaneceram invisibilizados durante todo o período republicano e reapareceram como resultado da ação dos movimentos negros apenas com a Constituição de 1988 como comunidades detentoras de direitos. Transcorreram, portanto, cerca de cem anos da abolição até a aprovação do Artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias: “Aos quilombolas que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos”. Tais comunidades se distinguem pela identidade étnica, tendo desenvolvido práticas de manutenção e reprodução de modos de vida característicos em determinado lugar. São grupos étnico- raciais, segundo critérios de autoatribuição, com trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida. BRASIL. Seppir. Programa Brasil Quilombola: Diagnóstico das Ações Realizadas. Brasília, 2012. Fonte: <http://www.seppir.gov.br/>. Acesso em 24 jul. 2014 (com adaptações). Entre as demandas das comunidades quilombolas estão o acesso à escola e ao saneamento básico. A esse respeito, elabore um esboço de projeto de política pública que vá ao encontro de uma dessas demandas. Em seu texto, considere os referenciais teóricos das Ciências Sociais e os elementos básicos de um projeto. Questão 4 O tratamento do Estado brasileiro aos territórios e às comunidades quilombolas A Lei n. 601, de 18 de setembro de 1850, conhecida como Lei de Terras, regulamentou a propriedade privada de terras no Brasil e determinou que só se reconheceria a aquisição de terras por compra ou por doação do Estado. Assim, tornava- se muito difícil assegurar legalmente a ocupação coletiva de terras (sem um proprietário individual) ou a posse por usucapião (pela ocupação contínua de uma área por muitos anos, mesmo sem o registro formal de propriedade). Questão 4 A Lei das Terras foi publicadapoucos dias após a Lei Eusébio de Queirós (Lei 581, de 4 de setembro de 1850), a qual proibia o tráfico marítimo de escravos, mas não proibia compras e vendas em território nacional nem a escravização dos negros já adquiridos e dos filhos dos cativos. Assim, no momento em que o Brasil dava seus primeiros passos em direção à abolição e começava a substituir a mão de obra escrava pelo trabalho de imigrantes estrangeiros assalariados, não se garantiu que os negros tivessem acesso à terra para sua subsistência. Questão 4 Depois das reivindicações dos movimentos negros durante a década de 1970, o tema das comunidades quilombolas atraiu finalmente a regulação do Estado – cem anos depois da abolição – com a Constituição Federal de 1988 que, no art. 68 de seu Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, determinou que o Estado deveria reconhecer a propriedade das terras das comunidades remanescentes dos quilombos. A atual definição dessas comunidades é dada pelo Decreto 4.887, de 20 de novembro 2003: “grupos étnico-raciais, segundo critérios de autoatribuição, com trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida”. Questão 4 A despeito de a constituição reconhecer a propriedade dos territórios dos quilombolas, assegurar esse direito na prática só é possível por meio de um processo burocrático e longo, estipulado pelo próprio Decreto 4.887/2003. Primeiramente, a comunidade quilombola deve solicitar à Fundação Cultural Palmares (FCP) a emissão de uma certidão de autodefinição, nos termos da Portaria n. 98 da FCP, de 26 de novembro de 2007. A segunda etapa do processo é a regulação fundiária, pela qual a comunidade recebe o título de reconhecimento de domínio de territórios. A responsabilidade dessa etapa era da FCP até a publicação do Decreto 4.887/2003 e, desde então, passou para o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). Questão 4 Conforme as exigências da Instrução Normativa 57 do INCRA, de 20 de outubro de 2009, para cada comunidade que requerer o título de domínio, a Superintendência Regional do INCRA nomeia um grupo técnico interdisciplinar responsável por elaborar um Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID) que contém, entre outros, um laudo antropológico das características históricas, econômicas, sociais e culturais da comunidade quilombola; um levantamento fundiário, agroambiental e cartográfico do território reivindicado e um cadastro geral das famílias quilombolas da comunidade. Concluído o RTID, a decisão sobre a titulação do território cabe ao Comitê de Decisão Regional do INCRA, com possibilidade de duas instâncias de recurso dos solicitantes ou de outros órgãos do governo. Questão 4 Os títulos de territórios quilombolas localizados em áreas privadas ou públicas federais são emitidos pelo INCRA. Já a Secretaria de Patrimônio da União e os estados e municípios conferem os títulos às comunidades localizadas em áreas sob suas respectivas gestões. Os títulos são coletivos e imprescritíveis e as terras não podem ser alienadas, vendidas ou penhoradas. Caso seja necessário desapropriar terras privadas, ainda é necessário resolver judicialmente o valor da compensação dos então proprietários. Questão 4 Padrão de resposta do Inep O estudante deve construir a estrutura do projeto, contendo pelo menos os referenciais teóricos, o(s) objetivo(s) e a metodologia de ação, definidos com clareza e inter- relacionados. Em relação aos referenciais teóricos, espera-se que o aluno mobilize conteúdos e/ou conceitos das Ciências Sociais que contribuam para explicar o fenômeno e fundamentem propostas de ação, tais como: identidade, territorialidade, o debate atual sobre raça/etnia, relações étnico-raciais no Brasil e direitos sociais. Fonte: <http://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/padrao_resposta/2014/padrao_ resposta_ciencias_sociais_licenciatura.pdf>. Acesso em 12 jul. 2017. Questão 4 INTERVALO Questão 5 Não há nenhuma dificuldade em demonstrar que a forma ideal de governo é aquela em que a soberania ou o poder supremo de controle, em última instância, cabe de direito a todo o agregado da comunidade; torna-se evidente que o único governo que pode satisfazer plenamente todas as exigências do Estado social é aquele em que todo o povo participa; que toda a participação, mesmo na menor das funções públicas, é útil; que a participação deverá ser, em toda parte, tão ampla quanto o permitir o grau geral de desenvolvimento da comunidade; e que não se pode, em última instância, aspirar a nada menos do que à admissão de todos a uma parte do poder soberano do Estado. STUART MILL. J. Governo Representativo. In: WEFFORT, F. (org.). Os Clássicos da Politica, v. 2. São Paulo: Ática, 2000, p. 220-223 (com adaptações). Questão 5 Com base no texto e no gráfico, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas. I. O comportamento dos índices de sufrágio no Brasil ao longo do período de 1894 a 1998 é coerente com a proposta de Stuart Mill de ampliação da participação do povo no poder do Estado. Porque II. O nível atual de participação eleitoral no Brasil, tal como ilustrado pelo gráfico, expressa o grau de maturidade da democracia representativa no país. Questão 5 A respeito dessas asserções, assinale a opção correta. a) As asserções I e II são proposições verdadeiras e a II é uma justificativa correta da I. b) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa correta da I. c) A asserção I é uma proposição verdadeira e a II é uma proposição falsa. d) A asserção I é uma proposição falsa e a II é uma proposição verdadeira. e) As asserções I e II são proposições falsas. Questão 5 I. Asserção correta. Justificativa. Ao longo da história brasileira, o direito ao voto foi sendo conquistado por diversos grupos sociais. Passou- se, assim, do voto censitário ao voto universal, o que é coerente com a proposta de Governo Representativo de Stuart Mill. Comentário adicional. Deve-se lembrar que o direito ao voto, por si só, mesmo com grandes índices de comparecimento, não garante que o povo detenha maior participação no poder do Estado. Problemas como o desinteresse dos eleitores pela política, a corrupção e a captura das decisões políticas por grupos de interesse podem comprometer a capacidade da representação política. Análise das afirmativas II. Asserção correta. Justificativa. O nível atual de participação eleitoral é um indicador possível de grau de maturidade da democracia representativa, embora não seja uma garantia perfeita de funcionamento do sistema político. No entanto, é seguro que essa asserção (que se refere ao tempo presente) não justifica, de forma alguma, a asserção I (que se refere à evolução do comparecimento eleitoral entre 1894 e 1998), pois os acontecimentos do passado não podem ser consequência dos eventos do presente. Alternativa correta: B. Análise das afirmativas A extensão do direito ao voto no Brasil O voto popular no Brasil independente foi instituído pela Constituição de 1824, sendo sempre obrigatório, jamais facultativo. O que mudou, ao longo do tempo, foi a definição de quem é eleitor e, portanto, cidadão pleno, e de quem não o é (ou porque não é cidadão pleno, ou porque nem mesmo é cidadão). Em 1824, todos os homens alfabetizados, brasileiros natos, com pelo menos 25 anos e renda anual igual ou superior a 100 mil réis tinham a obrigação de votar. Proclamada a República, a Constituição de 1891 redefiniu os eleitores como todos os homens alfabetizados, brasileiros natos e com pelo menos 21 anos. Não podiam votar as mulheres, os analfabetos, os clérigos, os soldadose os cabos das Forças Armadas, todos os que – ainda que nascidos no Brasil – não fossem capazes de se expressar em português, os mendigos e os presos. Todas as eleições até 1930 foram realizadas com esse perfil de eleitor. Análise das afirmativas A Emenda Complementar n. 25, de 15 de maio de 1985, concedeu aos analfabetos o voto facultativo, o que foi confirmado pela Constituição de 1988, que também tornou facultativo o voto de pessoas entre 16 e 18 anos de idade, mas passou de 65 para 70 anos a idade mínima em que o voto se torna facultativo. Passaram a ter direito (e dever) de votar os soldados e os cabos das Forças Armadas (os quais ainda permaneciam alijados desse processo). Análise das afirmativas Esse permanece sendo o perfil do eleitor no Brasil contemporâneo, um dos 31 países do mundo em que o voto permanece obrigatório. Cabe ressaltar que, por ser o voto obrigatório para os cidadãos plenos, o comparecimento às eleições, no Brasil é, principalmente nos períodos recentes, bastante próximo ao número total de votantes existentes no momento da votação considerada. Vejamos, por exemplo, o caso das eleições presidenciais de 1945: naquele ano, a população brasileira era de 46.215.000 pessoas, das quais 7.425.825 eram eleitores, ou seja, 16,1% da população eram eleitores e 13,4% da população compareceram para votar. Houve, portanto, uma taxa de comparecimento de 83,2% do eleitorado em 1945. Análise das afirmativas O Governo Representativo de Stuart Mill John Stuart Mill (1806-1873), economista e filósofo britânico, foi um dos maiores defensores do liberalismo político e do Governo Representativo. Para ele, a representação proporcional é o caminho para a soberania popular. Segundo seu pensamento, todos os cidadãos têm o dever de participar dos negócios do Estado. Na sua concepção, cabe ao governo permitir que a maioria prevaleça nas questões políticas por meio do voto. Como membro do Parlamento, Stuart Mill propôs, em 1865, o direito das mulheres ao sufrágio. Análise das afirmativas ATÉ A PRÓXIMA! ESTUDOS DISCIPLINARES Tomo III Prof. Me. Alexandre Furniel Questão 6 A Antropologia e o Direito, cada qual como um domínio do saber, contribuem para a eficácia dos laudos antropológicos. Há regras e expectativas que não se limitam à produção antropológica. A busca e a apresentação de provas durante a perícia não podem ficar restritas ao domínio da teoria antropológica. A Ciência do Direito contribui com a orientação de como proceder na investigação, que leva à apresentação de provas para o conhecimento do Dr. Juiz Federal e fornece fundamentos antropológicos ao laudo. O Direito define o que é a perícia. A Etnografia que o antropólogo produz sobre determinado povo indígena contribui para informar sobre o território, a antiguidade da ocupação indígena, a língua falada, ou as línguas faladas (o kaingang e o português, por exemplo), Questão 6 o tipo de organização social, as relações sociais e de parentesco, o papel da família, a família nuclear, a família extensa, a monogamia, a poliandria, a poliginia, as relações que se estabelecem entre índios e não índios no contexto das relações inter-étnicas, ou intratribais, como o povo indígena elabora e manifesta a sua identidade, como explora o meio ambiente, como organiza as suas roças, a coleta, a caça, a pesca com armadilhas, observa as plantas, cria saberes sobre as plantas que encontra na natureza, realiza a medicina caseira. HELM, C. M. V. A Etnografia, a perícia e o laudo antropológico nos processos judiciais. Cadernos da Escola de Direito e Relações Internacionais, v. 1, n. 15, 2011, p. 5-17, (com adaptações). A partir do texto acima, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas. I. A comunidade indígena constitui-se como sujeito de direitos diante de instituições, normas e procedimentos administrativos. PORQUE II. Os laudos antropológicos são elaborados com base nas perícias jurídicas e na etnografia produzida por antropólogos sobre determinados povos indígenas. Questão 6 A respeito dessas asserções, assinale a opção correta. a) As asserções I e II são proposições verdadeiras e a II é uma justificativa correta da I. b) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa correta da I. c) A asserção I é uma proposição verdadeira e a II é uma proposição falsa. d) A asserção I é uma proposição falsa e a II é uma proposição verdadeira. e) As asserções I e II são proposições falsas. Questão 6 As Primeiras Nações As Américas foram originalmente habitadas por povos asiáticos, que chegaram aqui possivelmente há 13.100 anos ou mais; indícios recentemente encontrados parecem indicar datas mais antigas, de 18.500 anos. Esses povos (as chamadas “primeiras nações”) tiveram, portanto, a primazia de descoberta, sendo deles o direito sobre a terra. De mais a mais, cada um dos seus integrantes, enquanto ser humano, sempre possuiu direitos naturais inalienáveis, elencados na Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada pela ONU em 1948, quando então, Questão 6 finalmente tais direitos passaram a ser universalmente reconhecidos, ainda que, muitas vezes, apenas em princípio. Atualmente, a própria Constituição Federal de 1988 reconhece os direitos dos povos indígenas à organização social, aos costumes, às línguas, às crenças e às tradições próprios, além da posse das terras tradicionalmente ocupadas. Questão 6 No entanto, quando os europeus chegaram às Américas, a partir de 1492, os direitos das “primeiras nações” foram violados de todas as formas porque: o “direito de conquista” (uma variação da lei do mais forte) prevalecia naquele momento; os europeus consideravam estar trazendo a “salvação” e a “civilização” aos povos que aqui viviam; a cobiça, a crueldade e o desejo de “fazer a América” estavam presentes; muitas enfermidades às quais os nativos não tinham qualquer resistência foram trazidas de forma involuntária. Questão 6 Apenas a partir da segunda metade do século XX tais posturas foram revertidas, ainda que, muitas vezes, apenas em princípio, pois: apesar de os Estados, de forma cada vez mais completa, reconhecerem agora os direitos das “primeiras nações”, as ações de efetiva proteção desses direitos são poucas e ineficazes; demarcações de terras (reservas indígenas) são lentas e sujeitas a todas as formas de pressões políticas; interesses econômicos continuam a expulsar e chacinar populações nativas e a grilar suas terras, já demarcadas ou não. Questão 6 Análise das afirmativas Análise das asserções I. Asserção correta. Justificativa. A comunidade indígena, de fato, constitui-se como sujeito de direitos, tal qual toda comunidade humana. Seus membros são dotados de direitos naturais inalienáveis, delineados pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada pela ONU em 1948. Quanto às comunidades em si, seus direitos emanam de terem sido os primeiros a ocupar a terra nas Américas. II. Asserção correta. Justificativa. Os laudos antropológicos, elaborados com base nas perícias jurídicas e na etnografia, referentes a um dado povo indígena, constituem-se, em parte, da documentação necessária para comprovar a autenticidade de uma dada comunidade, sua antiguidade e seu território tradicional. Eles contribuem para o reconhecimento da comunidade, para a demarcação de seus territórios e para a proteção de seus direitos, ao menos em princípio. Entretanto, como já referido, os direitos da comunidade indígena não emanam nem derivam dos laudos antropológicos e das perícias jurídicas. Alternativa correta: B. Análise das afirmativas INTERVALO Questões 7 Questão 7 Pensar as dinâmicas culturais no contexto da Internet implica uma reflexão prévia sobre asespecificidades desse campo empírico, angulada pelas questões que a problematização da investigação suscita. O método etnográfico pode ser pertinente e operativo, apesar de, muitas vezes, demandar a complementação de outros aportes teórico-metodológicos. A técnica etnográfica até então foi aplicada a grupos sociais presencialmente sendo uma novidade no ambiente de comunicação online, representando desafios metodológicos e requerendo ajustes nos pressupostos da etnografia. BRAGA. A. Técnica etnográfica aplicada à comunicação online: uma discussão metodológica. Unirevista, v. 1, n. 3, 2006 (com adaptações). A partir do texto acima, pode-se inferir que a modernização tecnológica tem modificado os contextos de pesquisa, gerando novos desafios metodológicos nos estudos etnográficos, entre os quais se inclui: a) a exigência de mais atenção do pesquisador ao fato de que, na etnografia realizada de forma virtual, perdem-se dados como expressões faciais, gestos e pausas na fala, importantes para a realização das análises dos dados. b) a opção pela criação de um perfil falso para conversas em ambiente on-line, fundamental para a participação em salas de bate-papo e garantia de observação participante com coleta de dados objetivos. Questões 7 c) o uso das redes sociais para a observação participante e para a etnografia garante o rigor metodológico na coleta de dados, pois o pesquisador pode usar ferramentas de interação para direcionar comportamentos. d) a diferenciação entre o comportamento das pessoas no cotidiano e no meio virtual, que invalidaria os dados obtidos pelo pesquisador. e) a exposição da real identidade dos atores no ambiente virtual – diferentemente do que ocorre na etnografia tradicional –, em situações como entrevistas on-line, o que exige a substituição, na divulgação dos dados, dos nomes dos envolvidos. Questões 7 Questão 8 Questão 8 Inicialmente, por causa da demarcação rígida dos limites da Antropologia, os instrumentais de pesquisa fundamentados na Teoria da Ação restringiram-se tão somente a refinar e aperfeiçoar a observação de campo. Entretanto, tendo em vista a necessidade de serem explicitadas as condições sob as quais ocorre a mudança, com base em uma visão da economia política mais ampla, algumas vertentes da "teoria da ação” começaram a diferenciar os limites da observação dos limites da investigação. Essa diferenciação possibilitou a elaboração de instrumentais capazes de integrar a história e os dados documentais à análise antropológica de processos sociais. FELDMAN-BIANCO. B. Introdução. In FELDMAN-BIANCO, B. (org.). Antropologia das Sociedades Contemporâneas: Métodos. São Paulo: Editora da Unesp, 2010 (com adaptações). Com relação aos debates sobre métodos empregados na elaboração de pesquisa etnográfica, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas. I. Ao elaborar uma pesquisa acerca dos efeitos locais do turismo em uma localidade, o pesquisador que compartilhasse da perspectiva teórico-metodológica mencionada no texto haveria de considerar as limitações do modelo etnográfico preconizado na visão funcionalista clássica de Malinowski. PORQUE II. De acordo com a perspectiva da Teoria da Ação, a apreensão da totalidade e dos sentidos das práticas pressupõe, além da observação, a consideração, na análise, da presença de diversos processos sociais, de diferentes escalas, que podem ter efeito nas dinâmicas sociais locais. Questão 8 A respeito dessas asserções, assinale a opção correta. a) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I. b) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa correta da I. c) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. d) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. e) As asserções I e II são proposições falsas. Questão 8 Etnografia Ao estudo sistemático de povos, culturas e grupos sociais dá-se o nome de etnografia. Um estudo etnográfico é uma tentativa de descrição holística, qualitativa e minuciosa do grupo em estudo e do contexto ecológico, geográfico e histórico no qual ele se encontra inserido. Tipicamente, o pesquisador conduz o estudo por meio da observação participativa in loco e em pessoa do grupo em estudo, complementada por entrevistas de informantes selecionados entre os membros do grupo analisado e filtrada por uma reflexão extensiva sobre o material coletado, tanto durante o período em que o pesquisador se encontra imerso no objeto de estudo quanto a posteriori, com o objetivo de explicitar as relações e simbologias, construídas socialmente, e os nexos que elas criam para dar sentido e organização à vida social. Questão 8 Ciber-etnografia Com o advento da internet, dos fóruns e grupos de discussão e, mais recentemente, das chamadas “redes sociais” e com a generalização ao acesso a esses meios, tornado realidade pelos celulares inteligentes que hoje fazem parte indispensável do dia a dia da população mundial, abriu-se uma nova dimensão para os estudos etnográficos: a etnografia virtual. No entanto, como nesse ambiente os interlocutores não se veem, podem ser perdidos dados (como gestos manuais, expressões faciais, tom de voz e pausas na fala) e a própria prática da observação participativa torna-se complexa, pois não se pode mais ter certeza se os demais presentes estarão conscientes, ou não, da presença do observador. Questão 8 Isso leva à adoção de uma atitude de observador silencioso ou ao movimento em direção a uma participação mais integral e ativa do que aquilo que seria visto como próprio para uma observação participativa em um contexto não virtual, correndo- se o risco de o observador “tornar-se nativo”. Além disso, em vários desses ambientes, existe o conceito de “amizade”, definido de forma vaga e ressignificado de um contexto ou lugar virtual para outro, podendo vir a ser mais ou menos do que seria considerado “amizade” no mundo físico. Essas são apenas duas das questões colocadas pelo surgimento da ciber-etnografia, sobre as quais os pesquisadores não podem deixar de refletir nem de tomar posição. Questão 8 Questão 7 a) Afirmativa correta. Justificativa. Sem dúvida, ao se realizar uma investigação etnográfica no ambiente virtual, podem ser perdidos dados como expressões faciais, gestos e pausas na fala, importantes para a realização das análises dos dados. Isso tem de ser levado em conta e, até onde possível, compensado por meio da observação das particularidades próprias do ambiente virtual, como o uso de emoticons (também chamados de emojis). Análise das afirmativas b) Afirmativa incorreta. Justificativa. A criação de um perfil falso não chega a ser obrigatória, mas é uma opção bastante comum entre os próprios usuários a serem estudados. O uso de um perfil falso por parte do pesquisador não é um desafio metodológico e não garante que ele obterá dados objetivos nem que recuperará os diversos dados referentes às expressões faciais, vocais e corporais dos entrevistados. c) Afirmativa incorreta. Justificativa. O rigor metodológico com que é conduzido dado trabalho é completamente independente do fato de se realizar tal trabalho por meio de redes sociais ou por qualquer outro meio, inclusive entrevistas pessoais presenciais. Análise das afirmativas d) Afirmativa incorreta. Justificativa. A diferenciação entre o comportamento das pessoas no cotidiano e o comportamento das pessoas no meio virtual pode ocorrer ou não, mas isso não invalida, de forma alguma, os dados coletados pelo pesquisador. e) Afirmativa incorreta. Justificativa. A substituição dos nomes dos entrevistados (ou, mais provavelmente, em um ambiente virtual, dos apelidos) sempre que justificada para preservar as pessoasenvolvidas, é uma prática comum e trivial em etnografia, tanto no meio virtual quanto fora dele, e não representa qualquer desafio metodológico para o pesquisador. Análise das afirmativas Questão 8 I. Asserção correta. Justificativa. As pesquisas de campo funcionalistas privilegiam a observação das instituições criadas para organizar a vida social e dos símbolos e representações que os indivíduos compartilham, os quais dão sentido à vida social e aos papéis por eles desempenhados. Essa perspectiva teórica geralmente não dá enfoque aos impactos locais das práticas concretas dos agentes. Se o objetivo teórico do pesquisador for enfatizar esses impactos concretos relacionados à introdução do turismo em uma localidade sobre as relações sociais dos agentes específicos, os pressupostos da vertente funcionalista serão pouco adequados, uma vez que o turismo coloca em contato indivíduos que, muitas vezes, não partilham as mesmas representações culturais. Análise das afirmativas II. Asserção correta. Justificativa. A pesquisa fundamentada na Teoria da Ação enfatiza a investigação das relações sociais concretas e das dinâmicas locais das práticas dos atores. Uma orientação teórico-metodológica nesse sentido, para uma análise do turismo, irá possibilitar que se estudem as relações que os turistas e as populações nativas desenvolvem cotidianamente e os impactos locais dessas interações. A asserção II justifica a I porque apresenta os princípios teóricos da perspectiva metodológica adotada. Alternativa correta: A. Análise das afirmativas INTERVALO Questão 9 Questão 9 Em determinados tipos de sociedade, a exemplo das sociedades de consumo, a educação tende a se relacionar à ideia de riqueza e de mobilidade social. Logo, a escola aparece como instituição capaz de promover transformações não somente na melhoria das condições de vida do trabalhador, como também na formação/qualificação dele, principalmente em tempos de crises econômicas, marcadas pela retração na oferta de empregos e pela precarização do trabalho. Assim, estudar e se qualificar se tornaram condições indispensáveis para a obtenção de melhores empregos e condições salariais. Considerando a relação qualificação e empregabilidade, avalie as afirmativas a seguir. I. A escola como instituição modelada pelo capitalismo tende a oferecer ao trabalhador formação compatível com as necessidades do mercado. II. A valorização da escolarização e a elevada qualificação do trabalhador garantem seu ingresso e sua permanência no mercado de trabalho. III. O Estado assume a condição de ator estratégico, no sentido de garantir condições para a qualificação dos trabalhadores. IV. A correlação entre qualificação e emprego encontra respaldo na teoria do capital humano. Questão 9 É correto apenas o que se afirma em: a) I e II. b) II e III. c) III e IV. d) I, II e IV. e) I, III e IV. Questão 28 – Enade 2014. Questão 9 1.1. Capitalismo e educação Em uma economia capitalista, na qual a educação seja obrigatória e fornecida de forma gratuita (ou subsidiada) pelo Estado, deve-se imaginar que o Estado vai propiciar uma educação que, ao mesmo tempo, satisfaça as necessidades de mão de obra dos seus financiadores e atenda às necessidades de ocupação produtiva da população que nele vive de forma a contribuir para o equilíbrio e o bem-estar sociais e, ao menos em teoria, propiciar uma rota de ascensão social acessível a todos. Questão 9 Essa descrição fortemente idealizada de um Estado capitalista é profundamente simplificadora e não ressalta, de forma alguma, os problemas decorrentes do capitalismo real (ainda que não se trate de um “capitalismo selvagem”): sempre se poderá dizer que o capitalismo visa apenas ao lucro e reflete nada mais do que a exploração do trabalhador pelo capitalista, que não tem o menor interesse em bem-estar social. No entanto, essa também é uma visão simplificadora (só que pessimista). Questão 9 1.2. Capital humano Como definido por Gary Becker (1930-2014) e Jacob Mincer (1922-2006), capital humano é o conjunto conhecimentos, experiências, personalidades, hábitos, habilidades e demais atributos pessoais e sociais detidos por um indivíduo que se refletem na produtividade de seu trabalho e, portanto, na sua capacidade de gerar valor econômico. Nessa concepção, um agente capitalista que demite uma equipe coesa e bem treinada de trabalhadores para contratar, em seu lugar, novatos inexperientes, por salários menores, economiza em salários, mas perde em capital humano, o que pode acarretar prejuízo real para a produção. Por exemplo, é possível que se aumente o número de produtos retornados para remanufatura pelo controle de qualidade. Questão 9 Análise das afirmativas I. Afirmativa correta. Justificativa. A escola, como instituição modelada pelo capitalismo, tende a oferecer ao trabalhador potencial uma formação compatível com as necessidades do mercado, tanto para melhorar suas chances de tornar-se um funcionário de fato quanto para aumentar o número de candidatos disponíveis por vaga, o que beneficiaria o empresário. II. Afirmativa incorreta. Justificativa. Existe correlação positiva entre salários e escolaridade, mas isso não significa que a qualificação do trabalhador garanta, com total certeza, seu ingresso no mercado de trabalho. Análise das afirmativas III. Afirmativa correta. Justificativa. Nas sociedades capitalistas, em geral, o Estado tende a prover algum nível de qualificação aos trabalhadores, o que geralmente aumenta o bem-estar dos próprios empregados e o lucro dos empresários empregadores. IV. Afirmativa correta. Justificativa. A teoria do capital humano afirma que o trabalhador qualificado é mais produtivo e tende a receber salários maiores. Assim, firmas intensivas em tecnologia e em mão-de-obra qualificada tendem a empregar mais trabalhadores qualificados. No entanto, a maior ênfase da teoria do capital humano é na correlação positiva entre salários e escolaridade ou qualificação, e não entre emprego e qualificação. Alternativa correta: E. Análise das afirmativas INTERVALO Questão 10 Questão 10 A “desnaturalização das concepções ou explicações dos fenômenos sociais” e o “estranhamento” dos fenômenos que aparecem como “ordinários, triviais, corriqueiros, normais” são duas importantes contribuições da disciplina Sociologia ao estudante de Ensino Médio. BRASIL Ministério da Educação. Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Brasília, 2006 (com adaptações). Assinale a opção que apresenta prática pedagógica capaz de provocar os processos de estranhamento e desnaturalização nos alunos do Ensino Médio, tal como previsto nas Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. a) Debate sobre os fenômenos da vida cotidiana que parecem estranhos, associado à tentativa de identificação da natureza social dos fatos. b) Interrogação e problematização de situações e fenômenos da experiência cotidiana, associadas à tentativa de identificação da presença da ação humana. Questão 10 c) Passeio dos alunos pelas ruas do próprio bairro, para observarem pessoas, edificações, situações e eventos, como se fossem desconhecidos, mas, ao mesmo tempo, naturais. d) Leitura de autores clássicos das Ciências Sociais que tratam do estranhamento e da desnaturalização, como Malinowski, para posterior apresentação de seminários em sala de aula. e) Simulação, em sala de aula, de uma situação corriqueira, de forma a serem identificados os fatores estranhos que poderiam explicá-la e contribuiriam para o desenvolvimento de um olhar sociológico. Questão 29 – Enade 2014. Questão 10 Processos de estranhamento e de desnaturalização As sobrecargas de informações propiciadas pelo acesso contínuo a meios de comunicação,sites jornalísticos e fontes alternativas de informação cuja confiabilidade é incerta e a desilusão com uma classe política envolvida em corrupção e com uma realidade diária de desemprego, insegurança e desigualdade social têm contribuído para apatia e desilusão da população e progressiva alienação da população em idade formativa. Nesse contexto, para que a democracia possa não só funcionar, mas funcionar cada vez melhor, é preciso despertar no jovem a percepção dos moventes dos fatos e a quebra da sensação de normalidade e imutabilidade da injustiça que o leva à apatia e à desilusão. Questão 10 Recuperar a capacidade de se indignar requer a compreensão de certos fatos, que precisam deixar de ser percebidos como “normais”. A "desnaturalização das concepções ou explicações dos fenômenos sociais" e o “estranhamento" desses fatos “normais” são estratégias que contribuem para tornar o indivíduo consciente do seu entorno e mais plenamente capaz de contribuir, controlar e lutar para melhorar e valorizar a democracia na qual ele se encontra inserido. Em um sentido mais amplo, a ideia de "desnaturalização das concepções ou explicações dos fenômenos sociais" é um dos pilares da sociologia que contribui para uma contínua revisão dos valores da sociedade ocidental e mostrou, por exemplo, pela análise das chamadas “sociedades primitivas”, que a estrutura patriarcal da sociedade não é um dado da natureza humana, mas é, na verdade, apenas um construto social. (MEAD, 2003). Questão 10 Análise das alternativas a) Alternativa incorreta. Justificativa. Os fenômenos estranhos da vida cotidiana não estão naturalizados, porque já não são vistos, de partida, como “ordinários, triviais, corriqueiros, normais”. b) Alternativa correta. Justificativa. A análise e a problematização de situações e fenômenos do cotidiano, associadas à tentativa de identificação da presença da ação humana e de suas implicações e consequências, atendem precisamente ao preconizado pelas Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Análise das afirmativas c) Alternativa incorreta. Justificativa. O estranhamento e a desnaturalização das situações cotidianas não admitem que se observem os fenômenos sociais como se fossem naturais, pois o estudo sociológico exige que se indague sobre as razões e motivações que levaram os indivíduos e as sociedades a adotarem determinados padrões e representações de edificações, situações e eventos. O estudante de Ensino Médio deve aprender a analisar a realidade social não como um dado da natureza, mas como uma consequência de relações humanas e decisões sociais, em interação com as possibilidades e limitações do ambiente em que vivem. Análise das afirmativas d) Alternativa incorreta. Justificativa. A simples leitura de autores que trabalharam o estranhamento e a desnaturalização não garante que o estudante exerça sua própria capacidade analítica de estranhar e desnaturalizar o mundo a seu redor. Essa técnica, portanto, não atende ao solicitado pelas Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. e) Alternativa incorreta. Justificativa. A mera simulação em sala de aula de uma situação corriqueira não implica o desenvolvimento de um olhar sociológico e de pensamento analítico. A análise sociológica baseia-se em constatações empíricas sobre a realidade social, mesmo quando se usam observações qualitativas ou raciocínios abstratos. Análise das afirmativas ATÉ A PRÓXIMA!
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