Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Autora: Profa. Neusa Meirelles Costa Colaboradoras: Profa. Maria José da Silva Dias Profa. Tânia Sandroni Tópicos de Atuação Profissional Professora conteudista: Neusa Meirelles Costa Doutora em Ciências Sociais, desde 1968, na área de Ciência Política pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), o tema da tese é “Poder local: aparência e realidade, um estudo dos reflexos do Golpe de 1964 em Rio Claro”. Desde 1992, é professora titular de Sociologia da Universidade Paulista (UNIP), ministrando cursos de Sociologia e de Ciência Política nos Institutos de Ciências Sociais e Comunicação, Ciências Jurídicas e de Ciências Humanas da universidade. Desde 1994, é pesquisadora do Programa de Apoio à Pesquisa do Corpo Docente, da Vice-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da UNIP. Desde então, desenvolveu vários projetos de pesquisa sobre música popular e cinema nacional, focalizando, sob uma abordagem foucaultiana, temas como o discurso das letras, corporeidade, inclusão e exclusão social, ordem social e seu avesso, subjetividade e formação social. Concluiu, em 2014, pesquisa sobre a subjetividade masculina construída pelo cinema nacional, e ainda como pesquisadora passou a integrar o Grupo de Pesquisa e Núcleo de Estudos Interdisciplinaridade: Movimento e Transformação, desde sua criação, em 2014. Desde 2005, produz textos didáticos para cursos presenciais que ministra na UNIP, em Sociologia Geral, Filosofia e Ciência Política. Em 2007, desenvolveu conteúdo para divulgação on-line de cursos especiais de Sociologia e de Sociologia da Comunicação, como líder de disciplina de Sociologia da Comunicação. No curso de Sociologia da UNIP EAD, professora e autora dos livros-texto das disciplinas Sociologia da Comunicação (2013), Pensamento Político Moderno (2014) e Pensamento Social Brasileiro (2015). Membro da Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS). Membro da Associação Internacional para Estudos da Música Popular – América Latina (IASPM-AL), em cujos congressos nacionais e internacionais tem apresentado trabalhos. Publicou a obra De amor, cotidiano e outras falas na música brasileira popular. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) C837t Costa, Neusa Meirelles. Tópicos de atuação Profissional. / Neusa Meirelles Costa. 2. ed. São Paulo: Editora Sol, 2020. 96 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Atuação Profissional. 2. Sociologia. 3. Identidade Profissional. I. Título. CDU 301 U420.48 – 20 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcello Vannini Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Aline Ricciardi Vitor Andrade Sumário Tópicos de Atuação Profissional APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7 Unidade I 1 IDENTIDADE PROFISSIONAL: QUEM É O SOCIÓLOGO?........................................................................9 1.1 Ser sociólogo (a) seria uma identidade? ..................................................................................... 10 1.2 Ser sociólogo seria uma vocação? ................................................................................................ 11 1.3 Ser sociólogo, a escolha de uma profissão ................................................................................ 12 2 O REGISTRO PROFISSIONAL ........................................................................................................................ 19 3 SER SOCIÓLOGO E PROFESSOR DE SOCIOLOGIA ................................................................................ 20 3.1 Lecionar Sociologia é atividade privativa do sociólogo? ..................................................... 21 3.2 O exercício do magistério – exigências ....................................................................................... 23 3.3 O que é ser professor de sua própria profissão? ...................................................................... 25 4 QUAL SOCIOLOGIA DEVA SER LECIONADA, COM QUAIS OBJETIVOS E TEMAS? .................... 26 4.1 Qual sentido de ministrar Sociologia para jovens do Ensino Médio? ............................. 26 4.2 Objetivos e finalidades a atingir com o ensino da disciplina ............................................. 31 4.3 A Sociologia a ser ensinada: temas e assuntos considerados ............................................ 32 Unidade II 5 AUTOFORMAÇÃO CONTINUADA DO PROFESSOR DE SOCIOLOGIA ............................................. 37 5.1 Recursos para autoformação continuada do professor de Sociologia .......................... 40 5.2 A integração do professor de Sociologia na comunidade científica nacional e internacional .............................................................................................................................................. 47 5.2.1 A comunidade científica nacional ................................................................................................... 47 5.2.2 A comunidade científica internacional .......................................................................................... 48 6 A ÉTICA PROFISSIONAL DO SOCIÓLOGO ................................................................................................ 49 7 TÓPICOS ESPECIAIS SOBRE A SOCIOLOGIA .......................................................................................... 60 7.1 A escolha do objeto de pesquisa .................................................................................................... 61 7.2 Poder, metodologia, procedimentos de pesquisa e questões paralelas ......................... 61 7.2.1 Quando os dados empíricos obrigam à revisão teórica conceptual .................................. 63 7.2.2 A prática do poder político e a norma legal ................................................................................ 64 7.3 Os procedimentos de pesquisa ....................................................................................................... 65 8 EMPIRICIDADES, SOCIOLOGIA E FILMES ................................................................................................ 67 8.1 Discurso e imagem na construção da sociabilidade .............................................................. 72 8.2 A fresta e o olhar para a disjunção entre norma e prática ................................................. 74 8.3 Subjetividade e subjetivação, as práticas ................................................................................... 75 8.4 As práticas e seus agentes, os segmentos em foco ................................................................ 76 8.5 Quando a pesquisa se impõe à pesquisadora ...........................................................................77 8.6 Subjetividade e subjetivação, deslizamento para além das telas ..................................... 79 8.7 Espiando pela fresta do cinema e vídeos: procedimentos e material ............................ 81 7 APRESENTAÇÃO Caros (as) alunos (as) Bem-vindos (as) à disciplina Tópicos de Atuação Profissional; ela se destina à preparação do profissional sociólogo, tarefa que envolve questões teóricas, relacionadas à epistemologia das Ciências Sociais e temas afins, mas também abrange questões da prática profissional, sobretudo na condição de professor de Sociologia no Ensino Médio, sem desconsiderar outras possibilidades que podem existir, razão pela qual a formação continuada do profissional aparece com relevância nessas páginas. A atuação profissional do sociólogo (a) na sociedade brasileira, especialmente como professor de Ensino Médio, de Sociologia e disciplinas afins, implica competência e isenção para analisar e compreender a realidade social brasileira, em seus vários aspectos, o que só é possível com sólida formação teórica e metodológica, além disso, a prática da atuação profissional, em especial na docência do Ensino Médio, remete diretamente à dimensão ética da produção da verdade, sempre presente no fazer das Ciências Sociais. Da complexidade da tarefa do profissional de Sociologia e disciplinas afins decorre o caráter desse livro-texto: nele, primeiramente, há uma discussão sobre as implicações formais da condição de sociólogo (a), completando com os temas a serem trabalhados no Ensino Médio. Depois, são discutidos os recursos para formação continuada e inserção na comunidade científica, passando para a discussão de dois exemplos de pesquisa, compreendendo construção do “objeto”, a escolha de metodologia, dos procedimentos etc. Aos novos sociólogos (as) é bom lembrar que a profissão é fascinante, e que vai se revelando quanto mais com ela se envolve o profissional, mesmo porque, integrada na formação de jovens, cidadãos e cidadãs, ela mantém sempre um tempero de utopia, ou talvez, de poesia, por que não? INTRODUÇÃO O profissional de Sociologia, independentemente do exercício de uma eventual condição de professor ou pesquisador, está presente no palco social em que se inserem as demais profissões, mas há sobre ele uma áurea de dúvida: “o que fazem os sociólogos?” Trata-se de uma dúvida distinta daquela que cerca o luthier, profissional de constrói ou reforma instrumentos de corda, visto que seu fazer é imediatamente entendido: “Ah! Reforma e conserto de violinos...” Mas, na Sociologia, é diferente, porque, em geral, as pessoas não entendem que sociedade não é o conjunto dos habitantes de um lugar, nem o povo, mas algo mais complexo, e não pode ser “consertada” por qualquer ação profissional. Desse estranhamento, parte o exame da profissão de sociólogo e suas implicações, que são cada vez mais complexas. 9 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL Unidade I 1 IDENTIDADE PROFISSIONAL: QUEM É O SOCIÓLOGO? A princípio, falta ao sociólogo a imagem social que outras profissões já formaram: médico? Saúde, doença, roupa branca. Dentista? Boca, dor de dente, medo, roupa branca. E assim também para o advogado, com seus ternos, palavras difíceis e leis; para o engenheiro, com as construções, capacetes etc. Mas, e o sociólogo? Ele é uma espécie de enigma para o Outro: aparentemente uma pessoa comum, com carro, poupança (quando dá), fim de semana, um look de moda despojado e uma profissão que...“É igual à daquele ex-presidente”, arremata o Outro, confundindo tudo, tentando, com o recurso da semelhança, reconhecer uma profissão tão diferente, numa pessoa tão comum. Nem adianta resgatar o diálogo que comumente se instala, a partir dessa tentativa de entendimento, porque seria demorado e cansativo. A imagem social formada é a de alguém que tem assumidamente um compromisso político, (o que é verdade), uma determinada filiação política, (que não é a regra), com um determinado partido, (menos verdadeiro ainda). Se o Outro ensaia desvendar o enigma a partir dessa imagem herdada dos anos da repressão, fala quase sem querer: “Ah! Sociólogo, socialista...” O discurso que segue deveria ser destinado a desfazer preconceitos, enganos e ilusões forjados pela mídia, mas não é assim: em algumas situações, a fala, que supostamente desfaria enganos, vem construída em “sociologês antigo”, uma modalidade de discurso pretensamente intelectual e preciso, mas que de fato é pernóstico, consistindo na articulação de “palavras difíceis”. Diante disso, o interlocutor desiste, mesmo porque, em sua tentativa de entendimento, não esperava uma suposta aula teórica. Segue pensando “se não é socialista, nem assistente social, o que é essa profissão, de sociólogo?” Talvez a resposta deva partir do exame de aspectos que caracterizam o sociólogo, como profissional. Em poucas palavras: o olhar, que não se detém nas aparências, mas perscruta desconfiado para além da aparência das coisas o sentido e implicações; seu pensamento sobre o que vê, lê e ouve, que é racional e crítico; sua perspectiva, que é sempre a da sociedade, e da história. Se esses traços da sua formação profissional o levam, como um cidadão, para uma determinada filiação política, seja para o socialismo, seja para a social-democracia, ou se a sua escolha recai sobre um ou outro partido político, são questões de foro e opção individual, e não de vínculo profissional. É bem verdade que os traços característicos, apontados anteriormente, não se aplicam apenas ao sociólogo, mas também aos outros profissionais das Ciências Sociais: aos antropólogos, arqueólogos, historiadores... É verdade também que aqueles traços, o olhar, a perspectiva e o pensamento crítico podem ser cultivados por qualquer pessoa que assim o deseje. Contudo, nas Ciências Sociais, especialmente na 10 Unidade I Sociologia, embora não vestidos em roupas especiais, esses traços constituem parte fundamental da formação profissional específica. Em todos os campos em que o sociólogo possa exercer sua profissão, seja no ensino, no planejamento ou na produção cultural, dentre muitos outros, ele deve manter sempre aquele olhar desconfiado, o pensamento crítico e a perspectiva do conjunto da sociedade, peculiares à profissão. 1.1 Ser sociólogo (a) seria uma identidade? Até agora o sociólogo esteve sob a mira do texto, refletindo o modelo social androcêntrico (Bourdieu), mas haveria distinção quando se trata de uma mulher, de uma socióloga? Difícil resposta, todavia certo é que as complexas questões de gênero constituem temas de pesquisa frequentes na produção intelectual e acadêmica de sociólogas, permitindo supor que a vivência da posição de mulher, em uma sociedade androcêntrica, reforce o olhar desconfiado das sociólogas para as supostas “igualdades”, quando o assunto for a posição da mulher. De qualquer forma, todo processo de profissionalização empresta à pessoa em formação alguns traços de comportamento, eles podem ser, ou não, assumidos como pessoais, embora não constituam, a rigor, elementos de identidade pessoal, subjetivação ou de individualização. Isso porque o processo de identidade se caracteriza por ser um “reconhecimento de si”, a percepção do Sujeito de si mesmo, de seus gostos, preferências, atitudes, valores, corpo etc. Nesses termos, o aspecto significativo é saber como o Sujeito se apercebe em meio dos outros, dos que lhe são próximos, amigos, pais, família, bem como em meio da sociedade em geral, nas ruas, no cotidiano, ou em ocasiões e momentos especiais, nos lugares desconhecidos e situações não experimentadas anteriormente. Essa dimensão social psicológica do processo de identidade repercute nos relacionamentos sociais, gerando uma imagem social que atrai receptividade ou um sentimento de “pertencimento”, de acolhimento, reforçado pelas semelhanças entre indivíduos do mesmo grupo. Contudo, quando se trata de identidade profissional, é a imagem social a que é a projetada, e não a do sujeito paraele mesmo, portanto não se pode dizer que o sujeito se reconheça pela profissão, apesar de as profissões contaminarem os profissionais com suas características, conforme anteriormente apontado. Quanto à Sociologia, a formação profissional, ao longo de quatro anos, vai reforçando traços de comportamento que integram o processo de construção do sujeito e de individuação, mesmo porque o olhar desconfiado, o pensamento crítico e a perspectiva social e histórica da existência são dimensões compatíveis e coerentes com a vida contemporânea, especialmente na sociedade brasileira. Um sociólogo observa, analisa, compreende e interpreta o que vê em sociedade, e por isso as coisas não lhe parecem tão simples como, em geral, os meios de comunicação querem fazer crer. O olhar profissional, e o pensamento treinado para examinar criticamente a “realidade” dos fatos, são afinados com a tendência em considerar a dimensão histórica das mudanças em curso, em indagar o futuro, buscando extrair os rumos prováveis. Como indivíduo, o sociólogo torce para que tudo dê certo e cultiva 11 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL a esperança, mas em geral a profissão lhe confere uma espécie de ressaca, o “desencanto do mundo”, como disse Weber e, mais tarde, repetiu J. Habermas... Por isso sociólogos, em geral, não são seduzidos pelos consensos planejados e midiáticos. Pode-se dizer que a Sociologia impõe aos profissionais seguir por um caminho de saber que vai para além do espelho, ou para além da superfície dos fatos e notícias, como se formassem um lago tranquilo. A reflexão sociológica se dirige para um espaço imaginário que fica antes da poesia, mas vizinho da filosofia. Nesse lugar talvez o Outro reconhecesse o sociólogo, e não importa o gênero, despido dos rótulos e etiquetas que lhe prenderam o jogo das profissões na sociedade de mercado; poderia então pensar: “ele é um sujeito assim como eu, remando contra a maré”. E com estas palavras seria esclarecido o enigma: a Sociologia é destinada a desvendar o movimento das ondas, e o sociólogo a pensar sobre a direção do barco... 1.2 Ser sociólogo seria uma vocação? A palavra “vocação” significa o ato de chamar, e o próprio chamamento. Por decorrência, a palavra implicitamente alude à atitude de resposta do Sujeito para quem o chamamento foi dirigido, seu atendimento ao chamado, sua anuência. Assim, vocação implica a escolha do Sujeito, e sua disposição em seguir o rumo para o qual foi chamado. Quanto à origem, esse ato de chamar pode ser considerado externo e sagrado, caracterizando o que seria a predestinação ou uma vocação religiosa, mas também o chamado pode ser fruto do autorreconhecimento do Sujeito, de seus desejos, e preferências, reconhecimento de um pendor, talento ou aptidão; e no caso da vocação profissional, reconhecimento de suas inclinações, tendências e facilidade para o exercício de uma dada profissão. Max Weber tratou dessa questão, discutindo, em duas conferências, a inclinação profissional para a ciência e para a política como duas vocações distintas, as quais implicam a vivência de condições sociais e adoção de escolhas diferenciadas. As duas conferências proferidas em Munich, 1917, encontram-se publicadas em português, no livro Ciência e Política, duas vocações (1970). O discurso de Weber é um exemplo de exercício da sociologia compreensiva, ao analisar dificuldades e possibilidades que, na Alemanha, ao fim da Grande Guerra, configuravam os caminhos da ciência e da docência universitária. Com franqueza e simplicidade, inicia Weber (1970, p. 17): Pediram-me os senhores que lhes falasse da ciência como vocação. Ora, nós economistas temos o hábito pedante, a que me agradaria permanecer fiel, de partir sempre do exame das condições externas do problema. No caso presente, parto da seguinte indagação: quais são, no sentido material do termo, as condições de que se rodeia a ciência como vocação? Hoje em dia essa pergunta equivale, praticamente e em essência, a esta outra: quais são as perspectivas de alguém que, tendo concluído seus estudos superiores, decida dedicar-se profissionalmente à ciência, no âmbito da vida universitária? 12 Unidade I Em princípio, a dedicação de alguém à ciência implicaria adotar a racionalidade como modelo de pensar e objetivo do pensamento, posturas coerentes com o desencantamento do mundo, corrente na cultura ocidental moderna. Todavia, a ciência não permite resposta para como viver em um mundo desencantado, e muito menos as ciências históricas “que nos capacitam a compreender os fenômenos políticos sociais da civilização [...] não dão por si mesmas resposta à pergunta: esses fenômenos mereceriam ou merecem existir?” (WEBER, 1970, p. 38). Para exame da ciência como vocação, Weber se desloca para o exercício docente e, nesse contexto, examina a prática do cientista como professor, sobretudo a dimensão ética dessa condição. Importante lembrar que Weber está falando do ambiente universitário alemão antes do fim da Grande Guerra, mesmo assim um ambiente em que ele já percebia emergência de tendências políticas que mobilizavam estudantes e professores para manifestação política, e não para a análise científica de uma situação política. Para ele (WEBER, 1970, p. 39): [...] o profeta e o demagogo estão deslocados em uma cátedra universitária. Tanto ao profeta quanto ao demagogo cabe dizer: “Vá à rua e fale em público”, o que vale dizer que ele fale em lugar onde possa ser criticado. Numa sala de aula, enfrenta-se o auditório de maneira inteiramente diversa: o professor tem a palavra, mas os estudantes estão condenados ao silêncio. A postura de Weber reflete um ambiente intelectual acadêmico bem distinto do atual, porém hoje frequentemente estudantes ficam “condenados ao silêncio” por não disporem de um conteúdo para análise, inclusive das informações que circulam livremente pelas redes sociais e imprensa. Evidentemente que não existe uma ciência “sem pressupostos”, muito menos no caso das Ciências Sociais, porém não cabe ao professor assumir o papel de líder ou de condutor da juventude. Cabe a ele conduzir a análise das situações com clareza, validade lógica e conteúdo preciso, expor conceitos, esmiuçar os processos focalizados, revelando sentido e significado das posições adotadas e de seus encadeamentos. A lição de Weber permitiu apontar para uma particular dimensão da vocação pela Sociologia: quando o gosto por essa ciência se torna um chamado, o fascínio que ela exerce sobre aquele que escolhe um curso de graduação universitária o leva a identificar, em certas situações, oportunidades que nem sempre são reais, a desconsiderar barreiras, a deixar de perceber que os ambientes corporativos e acadêmicos são também redes de privilégios e favoritismos, enfim, que eles refletem a sociedade em que se inserem. Todavia, se todos esses alertas não silenciarem a voz do chamado, a vocação pela Sociologia se torna uma escolha profissional que, seja no ambiente corporativo, seja na vida acadêmica, manterá o fascínio exercido durante a juventude, e sem arrependimentos, mesmo na velhice... 1.3 Ser sociólogo, a escolha de uma profissão A Sociologia exige que o profissional se inteire de diversos assuntos, de distintos saberes elaborados ao longo da História. Por isso as cercas disciplinares não costumam deter os sociólogos: os temas 13 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL pesquisados, a partir de problematizações que desafiaram o pensamento crítico, sempre implicam conhecimentos desenvolvidos por outras ciências. Na realidade, o profissional de Sociologia está preparado para se ocupar de uma multiplicidade de temas, em vários níveis e aspectos da vida, por exemplo: o estudo e proposição de ações e políticas públicas, pesquisas acadêmicas ou em outras modalidades de investigação, e tratar de temas diversos como: violência, artes, moda, música popular ou erudita, tendências de mercado, religiões, modernidade e tradição, dentre muitos, muitos outros. Pela legislaçãobrasileira – Lei nº 6.888 (BRASIL, 1980) – que criou a profissão e regulamentou seu exercício, compete ao sociólogo, nos termos dos Art. 2º: I – elaborar, supervisionar, orientar, coordenar, planejar, programar, implantar, controlar, dirigir, executar, analisar ou avaliar estudos, trabalhos, pesquisas, planos, programas e projetos atinentes à realidade social; II – ensinar Sociologia Geral ou Especial, nos estabelecimentos de ensino, desde que cumpridas as exigências legais; III – assessorar e prestar consultoria a empresas, órgãos da administração pública direta ou indireta, entidades e associações, relativamente à realidade social; IV – participar da elaboração, supervisão, orientação, coordenação, planejamento, programação, implantação, direção, controle, execução, análise ou avaliação de qualquer estudo, trabalho, pesquisa, plano, programa ou projeto global, regional ou setorial, atinente à realidade social. A mesma legislação, no Art. 3º, cria a obrigatoriedade de órgãos públicos e empresas privadas contratarem sociólogos conforme: Art. 3º Os órgãos públicos da administração direta ou indireta ou as entidades privadas, quando encarregados da elaboração e execução de planos, estudos, programas e projetos socioeconômicos ao nível global, regional ou setorial, manterão, em caráter permanente, ou enquanto perdurar a referida atividade, Sociólogos legalmente habilitados, em seu quadro de pessoal, ou em regime de contrato para prestação de serviços. Os três artigos vinculam o exercício da profissão a estudos, projetos, programas e planos “atinentes à realidade social” ou de caráter “socioeconômico”, tanto na esfera pública, governamental, quanto privada. Essa vinculação revela alguns aspectos interessantes quando examinada detalhadamente, por exemplo: a) o texto pressupõe a atuação do sociólogo como agente em projetos e programas de intervenção planejada, conquanto não haja referência ao sentido previsto na intervenção; b) a lei data de 1980, ainda na vigência da ditadura, governo João Baptista Figueiredo, mas sua origem é anterior, 14 Unidade I com o projeto de lei datado de 1974. Estranhamente, a ditadura regulamentou a profissão de sociólogo, mas foi a época de repressão em que sociólogos e demais cientistas sociais sofreram perseguições etc. Há uma contradição apenas aparente entre os dois posicionamentos, dado que a dimensão social e psicológica da chamada “revolução” foi tratada com cuidado pelo general Golbery, na Escola Superior de Guerra (ESG). Conforme demonstra Rezende, a ditadura instalada tinha pretensões à legitimidade que iam para além de (REZENDE, 2013, p. 31): [...] conseguir obediência para um determinado sistema de poder. Ela significava um processo muito mais complexo do que isto, na medida em que se procurava construir, de maneira contínua, uma determinada ordem, em que todos aderissem, nos âmbitos objetivo e subjetivo, a uma dada forma de organização social. Nesse sentido, comenta a mesma autora, que “os valores sociais” consistiam em “dimensão essencial para se compreender a pretensão de legitimidade da ditadura militar: a Escola Superior de Guerra (ESG) e seu papel na articulação da denominada estratégia psicossocial” (REZENDE, 2013, p. 36). Desse modo, a figura funcional do sociólogo se harmonizava com esse plano mais amplo, o que não significa que seja esse o motivo do reconhecimento da profissão. Lembrete Observar a aplicação do pensamento reflexivo e crítico a um fato da história política brasileira: a associação (espúria) entre a figura profissional do sociólogo e o pensamento do ideólogo da ditadura. Vale lembrar, contudo, que, nessa época, dos governos Médici e Geisel, a ditadura promovia a “ocupação da Amazônia”, com projetos que visavam à exploração econômica dos recursos naturais da área, com grandes projetos pecuários, com rodovias, exploração de jazidas minerais etc. As empresas de consultoria, especialmente de engenharia de recursos naturais, construção de hidrelétricas, estradas e outras obras de grande impacto, estavam localizadas principalmente em São Paulo e Rio de Janeiro e precisavam de sociólogos para “dar conta” das questões sociais envolvidas nos projetos, tais como nos planos de desenvolvimento regionais, canteiros de obras, nas desapropriações para represas etc. Em 1972, a Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) contratou estudos básicos da região amazônica, visando ao Plano de Desenvolvimento Regional em 1974, a exemplo do que antes havia sido feito com o Plano da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Vários sociólogos integraram a equipe desses estudos, contudo a atuação profissional nesse contexto apresentava aspectos políticos e ideológicos delicados, visto que o propósito econômico tinha primazia sobre as questões ambientais, sobre as questões pertinentes à população local, ou mesmo sobre os 15 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL interesses dos contingentes de trabalhadores rurais atraídos do Nordeste e dos estados do Sul. No ambiente em que predominava o pensamento tecnocrático, os interesses econômicos eram a afinação perfeita, mas a abordagem sociológica desafinava. De qualquer forma, a regulamentação da profissão, pelo Projeto de Lei original de 1974, foi se arrastando entre 1974, 1976, para ressurgir em 1980. O contexto político nessa data era outro: os Projetos-Impacto de desenvolvimento econômico, fundamentados em uma estratégia de política econômica autoritária, já não contavam com tanto apoio, a intervenção “sociológica” na chamada “realidade social” visando ao desenvolvimento já não integrava mais a política de segurança nacional nos termos que foram colocados pelo general Golbery. Os sociólogos, que antes eram olhados com preconceito pelas equipes de tecnocratas economistas, como estranhos “socialistas”, agora eram ouvidos, integrando o coro de críticos do regime e dos planos afobados. O planejamento econômico foi uma faceta decisiva na legitimação da ditadura, e sem dúvida, sociólogos participaram do processo de planejamento, mas não como legitimadores do autoritarismo, e sim como críticos das medidas adotadas. A esfera de atuação a eles reservada era a da chamada “infraestrutura econômica e social” dos grandes projetos. Sob esse rótulo, engenheiros e economistas entendiam particularmente: levantamento demográfico, sobretudo a qualificação da PEA, educação e saúde; nos projetos voltados para o setor primário, a “infraestrutura” incluía dados oficiais, em geral, não muito confiáveis, sobre estrutura fundiária e áreas reservadas. Todavia a leitura de documentos da época demonstra que, apesar de haver limitações, a atuação profissional se caracterizou pelo exercício do pensamento crítico. Na verdade, a Sociologia, ao se constituir com Augusto Comte, tinha finalidade prática de minimizar contradições sociais e morais emergentes do capitalismo industrial, conforme o pensamento positivista. Essa “destinação” também esteve presente no pensamento das elites e na prática política dos brasileiros positivistas e simpatizantes, militares e civis; aliás, se, de um lado, a proximidade da engenharia civil com a militar vem desde a origem da famosa Escola Nacional de Engenharia, mais tarde integrada na UFRJ, versão carioca da Poli de São Paulo, de outro, a crença na intervenção racional visando à ordem faz parte tanto do ideário positivista quanto da política conduzida por engenheiros, e daquela observada sob inspiração e controle militar. Sem dúvida que há, nas entrelinhas do discurso positivista, a intenção autoritária de imprimir uma dada direção à vida social e assim garantir “ordem e progresso”, paz social e equilíbrio. Todavia, próxima a essa perspectiva, com outro conteúdo e discurso, encontra-se a crença na ciência e superioridade intelectual como fator imprescindível ao exercício da prática política. O caráter elitista dessas ideias aparece reafirmado no Manifesto de criação da ESPSP, em 1933, disponívelno site da entidade, assinado por “uma centena de figuras eminentes da sociedade paulistana, dentre as quais se destacam os dirigentes das principais entidades de ensino de São Paulo, como a Faculdade de Direito, a Escola Politécnica, a Faculdade de Medicina, a Escola de Comércio “Álvares Penteado” e a Escola de Belas Artes, além de representantes da Ordem dos Advogados do Brasil, do Instituto de Engenharia, da Federação das Indústrias, dentre outros (FESPSP, 2014a).” 16 Unidade I O Manifesto, escrito ainda sob o efeito da derrota paulista de 1932, reafirma o interesse em “melhorar as nossas condições de existência”, mas explica que as várias iniciativas adotadas foram malogradas e decepcionantes. Embora os fatores responsáveis por tal situação fossem vários, para os signatários do documento... Dentre eles, entretanto, destaca-se naturalmente por seu caráter básico, a falta de uma elite numerosa e organizada, instruída sob métodos científicos, a par das instituições e conquistas do mundo civilizado, capaz de compreender, antes de agir, o meio social que vivemos [...] o povo sente-se mais ou menos às tontas e vacilante. Quer agir, tem vontade de promover algo de útil, cogita de uma renovação benéfica, mas não encontra a mola central de uma elite harmoniosa, que lhes inspire confiança, que lhe ensine passos firmes e seguros (FESPSP, 2014b). Os bacharéis de Sociologia e Política formados na ESPSP seriam preparados para desempenhar o papel de elite política governativa do estado, mesmo porque, ainda segundo o Manifesto: “A história universal encerra exemplos de grandes civilizações construídas sem base na instrução popular. Mas não há exemplo de civilização alguma que não tivesse por alicerce elites intelectuais sábia e poderosamente constituídas (FESPSP, 2014b)”. Esse elitismo dos fundadores da ESPSP foi sendo desbastado ao longo dos anos, inclusive pela elaboração teórica e pesquisa dos professores e alunos que nela tiveram sua formação básica, como Florestan Fernandes e Darcy Ribeiro. Os cursos de Ciências Sociais criados posteriormente, na USP e na PUC-SP, não mantiveram propósitos elitistas explícitos; em ambos, a excelência de formação teórica e de pesquisa sempre foram dimensões cuidadas e reafirmadas em ambas as universidades. Nos anos 1930, a formação em Ciências Sociais não se constituía com um perfil profissional preciso, conquanto decididamente acadêmico, abrangendo antropólogos, arqueólogos, geógrafos, historiadores. Nas três décadas seguintes, especialmente nos anos 1950 e primeiros anos de 1960, verifica-se um delineamento mais preciso especialmente de caráter político e ideológico, conferindo ao sociólogo um perfil profissional compromissado com a mudança social e industrialização. Schwartzman (2009), sobre a profissão de sociólogo, associou esse compromisso à célebre frase de Marx: “os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo” (MARX, [s.d.]). De fato, Octavio Ianni, analisando, em breve artigo, A Sociologia de Florestan Fernandes, reconhece que (IANNI, 1996, p. 26): Uma parte importante da sociologia de Florestan Fernandes concentra-se na pesquisa e interpretação das condições e possibilidades das transformações sociais. A revolução social é um dos seus temas mais frequentes. Está 17 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL presente em boa parte dos seus escritos, umas vezes como desafio teórico e outras como perspectiva prática. Segundo o mesmo autor, esse compromisso com a revolução social decorreu das “próprias condições sociais, nas quais emergiram as ciências sociais, que as levaram a defrontar as diversidades, desigualdades e antagonismos” (IANNI, 1996, p. 26). Dessa forma, o pensamento crítico se desenvolveu na Sociologia como reflexo das condições de origem da ciência na Europa, mas no Brasil, Florestan Fernandes incorporou as características peculiares presentes nas diversidades, desigualdades e antagonismos emergentes na sociedade de classes na expansão internacional do capital. Como explica Ianni se reportando a Fernandes: Para estar em condições de “apanhar tais contradições em suas condições, causas e efeitos, [a sociologia] precisou adaptar suas técnicas de observação, de análise e de explicação a um padrão de objetividade que incorporasse a negação da ordem social” (FERNANDES apud IANNI, 1996, p. 26). É verdade que os sociólogos, e não somente os alunos e leitores de Florestan Fernandes, identificavam no processo de transformação social uma possibilidade aberta à práxis política, na qual a Sociologia crítica encontrava seu lugar. Contudo, vários processos sociais intervieram nesse curso, dentre eles, a implantação do projeto político da ditadura e o modelo de economia capitalista excludente que a caracterizou. Em paralelo, verificou-se o esvaziamento do socialismo, como linha política de estado, afetada pelo avanço do capitalismo global, construindo o cenário da chamada pós-modernidade. Schwartzman ainda aponta nesse quadro as obras da Escola de Frankfurt, especialmente as de Habermas, e também a crítica de Foucault. De fato a obra teórica de Escola de Frankfurt veio apontar para a dimensão sociológica da comunicação, um campo que, no Brasil, foi rapidamente ocupado pelos profissionais de comunicação; quanto à produção de Foucault, ela ampliou a produção sociológica porque contribuiu com novas e produtivas problematizações. De qualquer forma, não se trata de esvaziar o sentido e utilização da Sociologia, mas de redefinir seu papel e diversificação, aliás, como o fez, em 2004, Michael Burawoy, então presidente da American Sociological Association (ASA), citado pelo próprio Schwartzman (2009, p. 274): Burawoy propõe quatro tipos diferentes de sociologia, que, segundo ele, poderiam e deveriam coexistir. A primeira seria a “sociologia profissional”, que ele define como a sociologia acadêmica, organizada como uma ciência empírica convencional, que existe e se desenvolve nos departamentos de sociologia das universidades. A segunda, também acadêmica, é o que ele denomina de “sociologia crítica”, preocupada com os debates e discussões sobre a natureza da sociologia. [...] A terceira seria a sociologia aplicada, orientada para a implementação de políticas públicas, a “sociologia para políticas públicas”, trabalhando para clientes, preocupada com resultados práticos e efetivos. A quarta, finalmente, seria a “sociologia pública”, em que o sociólogo participa e se envolve em redes que vão além do mundo 18 Unidade I acadêmico, ajudando a criar públicos com os quais se comunica e que atestam a relevância de suas contribuições. Tanto a sociologia profissional quanto a aplicada seriam “instrumentais”, enquanto que a sociologia crítica e pública seriam críticas. Embora essa classificação não constitua uma novidade no exercício profissional dos sociólogos brasileiros, visto que, em geral, eles exerceram e exercem a profissão em todas essas modalidades, pode-se registrar como “sinal dos tempos” a linha divisória separando a sociologia instrumental e aplicada da sociologia crítica e pública. Parece que a classificação, nos termos de Burawoy, diz mais respeito à relação entre sociólogo e eventuais públicos, que propriamente ao pensamento teórico sociológico e conteúdo da produção. De qualquer modo, no Brasil, a produção acadêmica em Sociologia tem observado um crescimento, embora não se compare com aquele observado em outras áreas profissionais, nas quais o pensamento crítico não é predominante, imperando o pragmatismo político, a eficiência econômica, acrescidos do normativismo jurídico, campos como Direito, Administração, Economia, Contabilidade. Além dessas áreas que são consideradas “ciências sociais aplicadas” pelo CNPq, vale mencionar o fantástico crescimento dos estudos acadêmicos compreendidos sob a rubrica de “educação”, embora parcela significativa dessa produção seja constituída por estudos antes denominados e apontadoscomo “sociologia da educação”. Considerando esse quadro, qual seria o espaço reservado ao profissional sociólogo nos dias atuais no Brasil? Schwartzman considerou Tom Dwyer um otimista quando, em seu discurso de posse como presidente SBS, em 2007, definiu como prioridades: Que a reintrodução da Sociologia no ensino médio seja feita com qualidade e de modo a fortalecer a disciplina; reforçar a capacidade da Sociologia brasileira de refletir de maneira rigorosa sobre as transformações no país; contribuir a manter a disciplina aberta à variedade de objetos e de abordagens teóricas e epistemológicas sem levar à excessiva fragmentação; garantir o espaço das ciências sociais dentro de um cenário marcado pela tendência de crescente padronização da mensuração da produtividade científica; e internacionalizar não apenas o foco, mas também o alcance da nossa sociologia (DWYER apud SCHWARTZMAN, 2009, p. 272). O exame dos congressos da SBS (disponíveis no site da entidade) demonstra ampliação de temas desenvolvidos nos Grupos de Trabalho (GT) e, principalmente, evidencia a relação estreita entre a pesquisa sociológica de caráter acadêmico no Brasil e o estudo das tensões e questões que percorrem a sociedade brasileira: a conformação e alcance do Estado Nacional, conteúdo e condução das políticas públicas, as questões pertinentes aos direitos civis e sociais, formação de tendências políticas e atuação dos sujeitos coletivos são temas que integram a produção dos grupos de trabalho, assim como os programas de ensino. 19 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL Saiba mais A Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, além dos cursos de graduação e pós-graduação, oferece cursos de extensão, seminários e outras atividades de interesse. Maiores informações no site: <http://www.fespsp.org.br/>. O site da Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS) também pode ser consultado: <http://www.sbsociologia.com.br/>. 2 O REGISTRO PROFISSIONAL Recebido o diploma de licenciatura ou o de bacharel em Ciências Sociais, como proceder para obter o registro profissional? Antigamente o registro era obtido diretamente nas Delegacias do Ministério do Trabalho, mediante comprovação documental. Desde 2013, o Ministério do Trabalho e Emprego, segundo o site do órgão, concede o registro profissional a quatorze categorias profissionais: agenciador de propaganda, artista, atuário, arquivista, guardador e lavador de veículos, jornalista, publicitário, radialista, secretário, sociólogo, técnico em espetáculos de diversões, técnico de segurança do trabalho, técnico em arquivo e técnico em secretariado. Para o profissional obter o registro, deve acessar o Sistema Informatizado de Registro Profissional (SIRPWEB) e protocolar os documentos necessários em uma das Superintendências Regionais do Trabalho e Emprego ou Gerências e Agências Regionais do Trabalho e Emprego, as etapas da obtenção do registro estão na sequência: • preenchimento dos dados pessoais; • seleção da categoria profissional e dos documentos de capacitação; • resumo para conferência dos dados informados; • transmissão da solicitação; • impressão da solicitação; • protocolo dos documentos na SRTE. 20 Unidade I Saiba mais A seguir, o site do SIRPWEB: <http://sirpweb.mte.gov.br/>. Os documentos necessários para registro são: requerimento em duas vias, devidamente assinado; fotocópia autenticada do documento de identificação que será apresentado ao órgão; fotocópia autenticada do Cadastro de Pessoa Física (CPF); fotocópia autenticada do número, série e qualificação civil da Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) e documentos de capacitação específicos da profissão. As fotocópias poderão ser autenticadas em cartório ou poderão ser autenticadas por um servidor do órgão do MTE, desde que o interessado apresente, juntamente com a fotocópia, o documento original. Em caso de alteração de nome, deverá ser apresentada, também, fotocópia autenticada da certidão de casamento ou o documento que motivou a alteração do nome. Saiba mais No caso do sociólogo, o documento para registro é o diploma de curso superior na área, autenticado, desde que o curso tenha sido reconhecido pelo MEC; a informação pode ser obtida em: PRINCIPAIS licenciaturas. Seja um professor, [s.d.]. Disponível em: <http://sejaumprofessor.mec.gov.br/internas.php?area=como&id= licenciaturas>. Acesso em: 23 set. 2016. FORMAÇÃO. Seja um professor, [s.d.]. Disponível em: <http://sejaum professor.mec.gov.br/internas.php?area=como&id=formacao>. Acesso em: 23 set. 2016. O registro profissional será lançado na Carteira Profissional do interessado. 3 SER SOCIÓLOGO E PROFESSOR DE SOCIOLOGIA Se a identidade profissional do sociólogo tem sido objeto de discussão, da qual apenas alguns aspectos foram apresentados aqui, o que se pode dizer quando o sociólogo se vê na condição de lecionar Sociologia? Nesse caso, três questões devem ser colocadas e discutidas: 1) Lecionar sociologia é privativo do sociólogo? 2) O que é ser professor de sua própria profissão? 3) Qual Sociologia deve ser lecionada, com quais objetivos e temas? As três questões são discutidas a seguir, mas sem a pretensão de esgotá-las. 21 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL 3.1 Lecionar Sociologia é atividade privativa do sociólogo? À primeira vista a resposta seria afirmativa, porém retornando à Legislação que instituiu a profissão, nos termos do Art. 1º da Lei nº 6.888 (BRASIL, 1980), o registro profissional como sociólogo não ficou restrito aos formados em Ciências Sociais ou titulados nessa área acadêmica, conforme: a) aos bacharéis em Sociologia, Sociologia e Política ou Ciências Sociais, diplomados por estabelecimentos de ensino superior, oficiais ou reconhecidos; b) aos diplomados em curso similar no exterior, após a revalidação do diploma, de acordo com a legislação em vigor; c) aos licenciados em Sociologia, Sociologia Política ou Ciências Sociais, com licenciatura plena, realizada até a data da publicação desta Lei, em estabelecimentos de ensino superior, oficiais ou reconhecidos; d) aos mestres ou doutores em Sociologia, Sociologia Política ou Ciências Sociais, diplomados até a data da publicação desta Lei, por estabelecimentos de pós-graduação, oficiais ou reconhecidos; e) aos que, embora não diplomados nos termos das alíneas a, b, c e d, venham exercendo efetivamente, há mais de 5 (cinco) anos, atividade de Sociólogo, até a data da publicação desta Lei. Por princípio, a lei, ao estabelecer como critério a formação específica, ou anos de atividades na área, estava exigindo competência do profissional, porém, considerando-se que as Ciências Sociais abrangem pelo menos três ciências distintas: Antropologia, Ciência Política e Sociologia, o perfil profissional se torna mais generalista, perdendo em especificidade. Outro aspecto negativo dessa “abertura” na lei residiu em facultar aos graduados de várias áreas buscarem o registro profissional como sociólogos, apesar de o piso salarial não ser vantajoso. Nessa situação estão incontáveis advogados (bacharéis em direito), os formados em comunicação, administradores, pedagogos, economistas e outros profissionais. Lembrete Apesar de existir discussões entre os sociólogos (a possibilidade de criação de um Conselho Regional de Sociologia), a profissão continua sendo uma “terra de ninguém”, aberta aos leigos. Esse problema foi objeto do Projeto de Lei n.º 1.446-B, de 2011 (de Chico Alencar), que alterou a Lei nº 6.888, de 10 de dezembro de 1980; tendo parecer da Comissão de Educação e Cultura, pela aprovação, com emenda (relator: deputado Luiz Noé); e da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, pela 22 Unidade I constitucionalidade, juridicidade e técnica legislativa e da Emenda da Comissão de Educação e Cultura (relator: deputado Alessandro Molon). Conforme constava na Justificativa do deputado Chico Alencar, Este projeto foi originalmente apresentado pelo Deputado Mario Heringer (PDT/MG),em março de 2009 (PL 4781/2009), e foi arquivado no início de 2011 em razão da mudança de legislatura, sem sua apreciação pelas comissões respectivas. Dados os nobres propósitos do projeto, estou reapresentando-o, de modo a permitir a sua discussão pelo Parlamento. O exercício da profissão de Sociólogo foi regulamentado no Brasil no ano de 1980, por meio da Lei nº 6.888. De acordo com esse diploma legal, uma das competências do sociólogo é o ensino de Sociologia geral ou especial nos estabelecimentos de ensino. Como a lei não previu ao sociólogo exclusividade na competência do magistério das disciplinas de Sociologia, ocorre que, tanto no ensino médio como no ensino superior, os sociólogos vêm gradativamente perdendo a cátedra de Sociologia para profissionais de outras áreas sem a devida formação na matéria A alteração que propomos na Lei nº 6.888, de 1980, visa a atribuir competência exclusiva ao sociólogo na atividade de docência da Sociologia, de modo a evitar que profissionais de outras áreas assumam cátedras que devem ser ocupadas pelo profissional da Sociologia. Nosso intuito, com essa alteração, é o de assegurar a qualidade das disciplinas de Sociologia ministradas nas escolas de ensino médio e nas instituições de ensino superior. Entendemos que, por possuir uma formação mínima de quatro anos especificamente dedicados às Ciências Sociais, o professor mais adequado para o ensino da Sociologia não pode ser outro senão o próprio sociólogo. Sala das sessões, 25 de maio de 2011. Chico Alencar Deputado Federal PSOL/RJ (BRASIL, 2011, p. 2-3). Encaminhado o Projeto à Comissão de Educação e Cultura (CEC), a relatora, Dep. Rosane Ferreira, julgou de bom alvitre retardar a implantação, conforme consta de seu voto: “No entanto, considero, após ouvir as ponderações de meus Pares nesta Comissão, que é preciso dar um prazo mínimo para que os sistemas de ensino possam se adequar às mudanças introduzidas pela lei” (BRASIL, 2011, p. 7). Com a mudança da Legislatura, o parecer dessa relatora não foi votado, assumiu novo relator (deputado Luís Noé), que concordou com os termos do relatório. Encaminhado o Projeto para a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, ele foi analisado pelo Relator (deputado Alessandro Molon) e aprovado por unanimidade, no dia 22 de outubro de 2015, “apenas” quatro anos após ser proposto, considerando ainda que os sistemas de ensino terão cinco anos para adequação às mudanças introduzidas. 23 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL Isso significa que, à pergunta se o ensino de Sociologia seria privativo do sociólogo, embora a resposta óbvia fosse sim, tal como se passa com outras profissões, ainda permanece a possibilidade de um bacharel em Direito, um economista, jornalista ou marqueteiro “ser registrado” como sociólogo, portanto o número de tais profissionais lecionando Sociologia continua sendo bem significativo, e talvez até maior que o de sociólogos. Como foi apontado, a própria lei de regulamentação da profissão que permitiu tal prática, além de ela ser justificada porque o professor cursou um determinado número de horas de Sociologia, em sua graduação, ou porque fez licenciatura, ou ainda pela “falta” de professores na área etc. 3.2 O exercício do magistério – exigências Os cursos de graduação em Ciências Sociais conferem título de bacharel em Ciências Sociais, mas, para o exercício do magistério, é necessário curso de Licenciatura, conforme determinação do MEC: [...] os cursos de bacharelado não habilitam o profissional a lecionar. São cursos superiores de graduação que dão o título de bacharel. Para atuar como docente, o bacharel precisa de curso de complementação pedagógica. E para lecionar no Ensino Superior exige-se que o profissional tenha, no mínimo, curso de Pós-Graduação Lato Sensu (especialização) (FORMAÇÃO..., [s.d.]). Em relação às Ciências Sociais, a distinção entre bacharelado e licenciatura ficou definitivamente estabelecida conforme as determinações do MEC, datadas de abril de 2010, as quais também caracterizaram o perfil do egresso, os temas incluídos na formação e as áreas de atuação. Conforme: Área III – Humanidades Referencial das Ciências Sociais – Bacharelado Carga Horária Mínima: 2400 horas Perfil do Egresso O Bacharel em Ciências Sociais deve reunir conhecimentos de Sociologia, Antropologia e Ciência Política que permitam atuar na formulação, execução, acompanhamento e avaliação de políticas públicas e programas em órgãos governamentais; em planejamento, consultoria, formação e assessoria a sindicatos, partidos políticos e movimentos sociais, organizações sociais, não governamentais e do terceiro setor e em empresas privadas; no desenvolvimento de projetos em instituições de pesquisa social, com enfoques qualitativos e quantitativos. O cientista social deve ser capaz de produzir conhecimentos que articulem a teoria, a pesquisa e a prática profissional para uma atuação qualificada diante de problemas relevantes do contexto político e cultural em que se insere. Temas Abordados na Formação Sociologia; Antropologia; Ciência Política; Processos Sociais, Culturais e Políticos Clássicos, Contemporâneos e Emergentes; Metodologias de 24 Unidade I Pesquisa Quantitativas e Qualitativas; Ciências Humanas, Filosofia e Ciências Sociais Aplicadas. Áreas de Atuação O Bacharel em Ciências Sociais pode atuar em órgãos governamentais e em empresas privadas; em sindicatos, partidos políticos e movimentos sociais; em organizações sociais, organizações não governamentais e do terceiro setor; e na docência em ensino básico. Infraestrutura Recomendada Laboratórios e/ou núcleos de pesquisa social. Área III – Humanidades: Referencial das Ciências Sociais – Licenciatura Carga Horária Mínima: 2400 horas Perfil do Egresso O Licenciado em Ciências Sociais deve reunir conhecimentos de Sociologia, Antropologia e Ciência Política que permitam atuar na formulação, execução, acompanhamento e avaliação de políticas públicas e programas em órgãos governamentais; em planejamento, consultoria, formação e assessoria a sindicatos[,] partidos políticos e movimentos sociais, organizações sociais, não governamentais e do terceiro setor e em empresas privadas; no desenvolvimento de projetos em instituições de pesquisa social, com enfoques qualitativos e quantitativos; no exercício da docência em Sociologia, Antropologia, Ciência Política e disciplinas correlatas, no ensino fundamental e médio, e em diferentes formas de educação promovidas por agentes sociais, como movimentos sociais, sindicatos, organizações não governamentais e empresas. Além disso, o cientista social deve ser capaz de produzir conhecimentos que articulem a teoria, a pesquisa e a prática profissional para uma atuação qualificada diante de problemas relevantes do contexto político e cultural em que se insere. Temas Abordados na Formação Sociologia; Antropologia; Ciência Política; Processos Sociais, Culturais e Políticos Clássicos, Contemporâneos e Emergentes; Metodologias de Pesquisa Quantitativas e Qualitativas; Ciências Humanas, Filosofia e Ciências Sociais Aplicadas. 25 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL Áreas de Atuação O Licenciado em Ciências Sociais pode atuar em instituições de ensino públicas e privadas; em sindicatos, partidos políticos e movimentos sociais; em organizações sociais, organizações não governamentais e do terceiro setor; e na docência em ensino básico, fundamental e médio. Infraestrutura Recomendada Laboratórios e/ou núcleos de pesquisa social (PRINCIPAIS..., [s.d.]). É importante esclarecer que o exercício da profissão de sociólogo difere radicalmente do exercício da condição de professor de Sociologia porque essa é uma condição profissional sujeita a peculiaridades, tais como: nível de ensino (superior ou médio), ensino público ou privado etc. Considerando essas distinções, é possível tecer alguns comentários, por exemplo: • O professor que leciona no ensino universitário, nas universidadespúblicas, goza de maior autonomia, conta com maior interesse dos alunos, principalmente se o ensino se dá em cursos de Ciências Sociais; mas, nas universidades particulares, a Sociologia acaba por integrar o rótulo amplo de “Ciências Sociais”, disciplina oferecida para todos os cursos de graduação, os quais são de orientação pragmática. Nessas condições, alunos, mas também alguns dos colegas professores, frequentemente, questionam: “afinal, para que Sociologia?” • O professor que leciona no Ensino Médio, em escola pública, encontrará dificuldade em conseguir atrair e reter a atenção dos alunos. Nesse caso, ensinar Sociologia implicará desenvolver estratégias de ensino que levem os alunos a pensar criticamente as condições vividas em sociedade, a examinar as possibilidades abertas, enfim, a pensar o social e nele se situar como sujeito e cidadão. Como será discutido em outro tópico, essa é a principal tarefa do professor de Sociologia, e os jovens esperam que o professor seja capaz de conduzi-la a contento, indo ao encontro de suas expectativas. 3.3 O que é ser professor de sua própria profissão? Dizem as más línguas que, se alguém não domina um dado conteúdo de conhecimento, será professor desse conteúdo. Sempre há um pouco de verdade no saber popular, mas, no caso do sociólogo, essa situação se apresenta de modo peculiar, visto que, pela sua formação, o professor de Sociologia possivelmente terá facilidade em se relacionar com os estudantes. Contudo deve-se oferecer aos alunos exemplos para que eles exercitem a problematização, ou em outros termos, para que eles trabalhem com as questões suscitadas pelos temas do programa. É importante notar que o suporte teórico deve permitir a condução do questionamento, do raciocínio, mas, em poucos momentos, a teoria deve constituir o ponto de partida de uma aula. Outro aspecto relevante reside na linguagem utilizada em aula: não é possível abrir mão do instrumental conceitual, mas ele não pode se constituir em uma barreira ao entendimento, nem deve ser objeto de memorização. 26 Unidade I Evidente que o jovem que cursou Ciências Sociais tem facilidade em ler textos volumosos, em interpretar tais textos, jogar com as ideias e conceitos; além de ser muito bem informado, ele redige com concisão, objetividade etc. Pois bem, os alunos que estarão nas salas de aula do Ensino Médio, especialmente da escola pública, provavelmente não apresentam essas características. Cabe ao sociólogo-professor reconhecer e superar as dificuldades decorrentes de uma formação escolar precária, pois elas integram o modelo brasileiro de socialização excludente e pouco democrática. Em muitos casos, o trabalho do professor precisa começar pelo resgate da autoestima dos alunos. Observação Resgatar a autoestima não significa uma prática individual, ou de valorização pessoal, mas sim uma orientação para desgastar um processo social de construção da baixa estima. Sabendo-se que boa parte dos alunos das escolas públicas é proveniente de bairros e segmentos sociais desprivilegiados, é fundamental que esses alunos interiorizem que não são responsáveis pelas situações vividas, e principalmente, o fato de não interpretarem facilmente um texto não significa comprometimento cognitivo, mas simplesmente falta de hábito no trato com a chamada linguagem culta. É comum, mesmo no ensino universitário, alunos dizerem “minha cabeça não é boa”, e vencer essa modalidade de preconceito é fundamental na condição de professor de Sociologia. A produção dos meios de comunicação e a produção artística popular formam dois campos de inúmeros e valiosos recursos para serem explorados pelo professor de Sociologia, notadamente, letras de música popular e filmes. As letras da música brasileira popular, do samba de partido alto ao rap, passando pelo rock, funk e variações oferecem “instantâneos discursivos” da sociedade brasileira ao longo de sua história e tragédias; essas letras formam uma “sociologia popular brasileira”, paralela à acadêmica, e que se mostra atraente para análise dos jovens alunos. Os filmes nacionais “representificam” a sociedade brasileira, filmes de curta e de longa-metragem exploram a ordem social e seu avesso, as diferenciações sociais, gêneros e gerações, jogos de poder etc. e, desse modo, eles constituem um acervo de inestimável valor para estudo de Sociologia. 4 QUAL SOCIOLOGIA DEVA SER LECIONADA, COM QUAIS OBJETIVOS E TEMAS? Das três questões apontadas anteriormente, essa é a mais complexa e extensa e, por vários motivos, inclusive porque envolve questões políticas e ideológicas. Desse modo, é esclarecedor considerar as três dimensões constitutivas da questão: a) Qual sentido de ministrar Sociologia para jovens do Ensino Médio; b) objetivos e finalidades a atingir; c) a opção teórica e metodológica da Sociologia a ser ensinada, temas e assuntos considerados. 4.1 Qual sentido de ministrar Sociologia para jovens do Ensino Médio? A inserção da Sociologia no ensino brasileiro não constitui uma tradição continuada, ao contrário, foi inserida e retirada várias vezes ao longo do tempo. Vários estudos foram desenvolvidos sobre o tema 27 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL e, dentre eles, o estudo de Bispo Santos e Ileizi (apud MORAES, 2010) focaliza o vai e vem da Sociologia nas reformas educacionais brasileiras, desde 1891 a 2008, a fonte de onde foi retirado o quadro síntese a seguir. Note-se que do fim dos anos 1920 até a Reforma Capanema, em 1942, a Sociologia era oferecida para alunos de Ensino Médio e, nos anos 1950, ela era vista como disciplina importante e quase exclusiva do curso normal, ou seja, da preparação de professores, juntamente com Psicologia. Nos institutos de educação, as duas disciplinas tinham conteúdo voltado para educação. Quadro 1 – A Sociologia no contexto das reformas educacionais – 1891-2009 1891-1941 Institucionalização da Sociologia no Ensino Médio. 1891 A Reforma Benjamin Constant propõe, pela primeira vez no Brasil, a Sociologia como disciplina do ensino secundário. 1901 A Reforma Epitácio Pessoa retira oficialmente a Sociologia do currículo, disciplina que nunca chegou a ser ofertada. 1925 A Reforma Rocha Vaz coloca novamente a Sociologia como disciplina obrigatória do curso secundário, no 6º ano. Como decorrência dessa Reforma, ainda em 1925, a Sociologia é ofertada aos alunos do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, tendo como professor Delgado Carvalho. 1928 No Rio de Janeiro, tendo como professor Delgado Carvalho, a Sociologia passa a constar dos currículos dos cursos normais de estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco, onde foi ministrada por Gilberto Freyre, no Ginásio Pernambucano de Recife. 1931 A Reforma Francisco Campos organiza o ensino secundário num ciclo fundamental de cinco anos e num ciclo complementar dividido em três opções destinadas à preparação para o ingresso nas faculdades de Direito, de Ciências Médicas e de Engenharia e Arquitetura. A Sociologia foi incluída como disciplina obrigatória no 2º ano dos três cursos complementares. 1933 Criação da Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo. 1934 Fundação da Universidade de São Paulo, que conta com Fernando de Azevedo como o primeiro diretor de sua Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, e como catedrático de Sociologia. 1935 Introdução da disciplina Sociologia no curso normal do Instituto Estadual de Educação de Florianópolis com o apoio de Roger Bastide, Donald Pierson e Fernando de Azevedo. 1942 A Reforma Capanema retira a obrigatoriedade da Sociologia dos cursos secundários, com exceção do curso normal. 1942-1981 Ausência da Sociologia como disciplina obrigatória. 1949 No Simpósio O Ensino de Sociologia e Etnologia, Antônio Cândido defende o retorno da Sociologia aos currículos da escola secundária. 1954 No Congresso Brasileiro de Sociologia, em São Paulo, Florestan Fernandes discute as possibilidades e limites da Sociologia no ensino secundário. 1961 Aprovação da Lei 4.024, de20 de dezembro, a primeira Lei de Diretrizes e Bases promulgada no País. A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) manteve a divisão do Ensino Médio em dois ciclos: ginasial e colegial. 1962 O Conselho Federal de Educação e o Ministério da Educação publicam Os novos currículos para o ensino médio. Neles constava o conjunto das disciplinas obrigatórias, a lista das disciplinas complementares e um conjunto de sugestões de disciplinas optativas. Sociologia não constava de nenhum dos três conjuntos. 1963 Resolução nº 7, de 23 de dezembro, do Conselho Estadual de Educação de São Paulo, na qual a Sociologia estaria presente como disciplina optativa nos cursos clássicos, científico e eclético. 1971 Lei nº 5.692, de agosto, a Reforma Jarbas Passarinho torna obrigatória a profissionalização no Ensino Médio. A Sociologia deixa também de constar como disciplina obrigatória do curso normal. 1982-2001 Reinserção gradativa da Sociologia no Ensino Médio. 28 Unidade I 1982 Lei 7.044, de 18 de outubro, que torna optativa para escolas a profissionalização no Ensino Médio. 1983 Associação dos Sociólogos de São Paulo promove a mobilização da categoria em torno do “Dia Estadual de Luta pela volta da Sociologia ao 2º Grau”, ocorrido em 27 de outubro. 1984 A Sociologia é reinserida nos currículos das escolas de São Paulo. 1986 A Sociologia passa a constar dos currículos das escolas do Pará e do Distrito Federal. 1989 A Sociologia torna-se disciplina constante da grade curricular das escolas de Pernambuco, Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro. A constituinte mineira e fluminense torna obrigatório o ensino de Sociologia. 1996 Nova Lei de Diretrizes e Bases – Lei nº 9394, de 20 de dezembro, na qual os conhecimentos de Sociologia e Filosofia são considerados fundamentais no exercício da cidadania. 1997 A Sociologia torna-se disciplina obrigatória do vestibular da Universidade Federal de Uberlândia. 1998 Aprovação do Parecer nº 15, de 1º de junho, com as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM), nas quais os conhecimentos de Sociologia são incluídos na área de Ciências Humanas e suas Tecnologias. 1999 Ministério da Educação lança os Parâmetros Curriculares para o Ensino Médio (PCNEM), que trazem as competências relativas aos conhecimentos de Sociologia, Antropologia e Ciência Política. 2000 No novo currículo das escolas públicas do Distrito Federal, a Sociologia aparece como disciplina obrigatória das três séries do Ensino Médio, com carga semanal de duas horas-aula. 2001 Vetado pelo Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, do PDSB, o projeto de lei do Deputado Padre Roque, do Partido dos Trabalhadores do Paraná, que torna obrigatório o ensino de Sociologia e Filosofia em todas as escolas públicas e privadas. 2001 Veto presidencial em apreciação no Congresso Nacional. 2003 Inicia-se nova equipe no MEC e nas secretarias de Ensino Médio e Ensino Profissionalizante (Governo de Luiz Inácio Lula da Silva – LULA, 2003-2006). UEL introduz Sociologia nas Provas do Vestibular. 2004 Forma-se uma equipe para rever os PCNEM. O MEC solicita às sociedades científicas a indicação de intelectuais ligados ao ensino para reformularem os PCNEM. Amaury Moraes e sua equipe inicia a elaboração das Orientações Curriculares para o Ensino Médio – Sociologia. 2005 Amaury Moraes elabora o Parecer que questiona as DCNEM e as envia ao MEC, que as encaminha ao Conselho Nacional de Educação (CNE). Cria-se o Grupo de Trabalho (GT) Ensino de Sociologia na Sociedade Brasileira de Sociologia e ocorrem duas sessões especiais sobre as questões do ensino no Congresso em Belo Horizonte. 2006 O CNE analisa a matéria e vota favorável ao Parecer e à mudança das DCNEM, tornando a Filosofia e a Sociologia componentes ou disciplinas curriculares obrigatórias em ao menos uma série do Ensino Médio. 2007 Vários estados da federação questionam essa medida junto ao CNE e aguardam o debate antes de implementarem; foram os casos de SP e RS. A maioria dos estados continuou a implantação da disciplina, elaborando diretrizes curriculares estaduais, realizando concursos públicos para professores de Sociologia e estruturando materiais didáticos. A SBS realiza junto com a USP o 1° Seminário Nacional de Ensino de Sociologia nos dias 28 de fevereiro a 2 de março, na Faculdade de Educação da USP. Cria-se a Comissão de Ensino de Sociologia no Congresso da SBS em Recife e mantém-se o Grupo de Trabalho (GT) Ensino de Sociologia, entre outras tantas atividades. O Sinsesp e a Apeosp organizam o 1° Encontro Nacional sobre Ensino de Sociologia e de Filosofia, em julho, em São Paulo, com a participação de cerca de 800 pessoas. A UFPR introduz Sociologia nas provas do vestibular. A Editora Escala cria a Revista mensal Sociologia: Ciência & Vida, revista vendida na maioria das bancas do País. 29 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL 2008 Diante das resistências de alguns estados em acatar a mudança das DCNEM, o Sindicato dos Sociólogos de São Paulo (Sinsesp) liderou mais um movimento de pressão pela aprovação da lei que obriga o ensino de Filosofia e Sociologia nas três séries do Ensino Médio, no Congresso e Senado Federal. Em 2 de junho de 2008, o Presidente da República em exercício, José de Alencar, assinou a Lei nº 11.684. A Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), com o apoio da SBS, realiza o 1° Seminário Nacional de Educação e Ciências Sociais, nos dias 18 e 19 de abril, em Natal. A Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com o apoio do MEC e SBS, realizou o 1° Encontro Estadual sobre Ensino de Sociologia na Educação Básica, no Rio de Janeiro, em 19 a 21 de setembro de 2008. A FCS da UFG realizou o 5° Seminário sobre Sociologia no Ensino Médio, em Goiânia-GO, em setembro de 2008. 2009 O CNE regulamenta o modo de implantação da Filosofia e Sociologia nas três séries do Ensino Médio pela Resolução n° 1, de 15 de maio de 2009, ordenando que se conclua a efetivação dessa medida até 2011. A SBS realiza o 1º Encontro Nacional de Ensino de Sociologia na Educação Básica, nos dias 25 a 27 de julho na UFRJ (participação de cerca de 300 pessoas) e mantém o GT Ensino de Sociologia no seu Congresso Bianual, realizado na sequência e que comemorou os 60 anos de existência da entidade. A FCS da UFG realizou o 6º Seminário sobre Sociologia no Ensino Médio, em Goiânia (GO), em setembro de 2009. Fonte: Santos; Ilezi apud Moraes (2011, p. 40-4). No início dos anos 1960, havia vários cursos de Ciências Sociais em São Paulo, sendo os mais tradicionais, ESPSP, USP e PUC; no interior, Campinas (Unicamp) e institutos isolados em Marília, Araraquara e Rio Claro, esses dois incorporados primeiramente à Unicamp, mas logo depois vieram a constituir a Unesp. Todavia, no âmbito do Ensino Médio, sob o pretexto de emprestar a esse nível de ensino um perfil profissionalizante, Sociologia e Filosofia foram retiradas do Ensino Médio, inclusive do curso normal! As Ciências Sociais ficaram reservadas aos cursos universitários, mesmo assim, os anos 1970 foram uma fase de grande e inovadora produção acadêmica, seguida pela expansão dos cursos de Comunicação Social. Em São Paulo, em 1971, formou-se a Associação dos Sociólogos do Estado de São Paulo (ASESP) segundo informação de Sérgio Sanandaj Mattos (2009): O primeiro presidente da ASESP foi o Prof. Dr. Luiz Pereira, livre-docente da Universidade de São Paulo. Posteriormente presidiram a Associação dos Sociólogos do Estado de São Paulo, intelectuais que formavam boa parte da tradição sociológica brasileira, como Duglas Teixeira Monteiro, Carmen Sylvia A. Junqueira, Cândido, Procópio Ferreira de Camargo, Francisco de Oliveira, José Álvaro Moisés, Gabriel Cohn, Sedi Hirano, Eder Sader, Antônio Gonçalves, Levi Bucalém Ferrari, Nancy Valadares de Carvalho, Paulo Edgar de Almeida Resende e Heleieth Iara Bongiovani Saffioti. De fato, sociólogos e demais cientistas sociais foram contra a ditadura, favoráveis ao retornoda democracia, além de participarem dos movimentos de oposição e de resistência ao regime autoritário. Conta Sergio Mattos que: Depois do reconhecimento da profissão em 1980 e da regulamentação por Decreto em 1984, muitas entidades sindicais foram fundadas nos Estados, 30 Unidade I propiciando o aparecimento do Sindicato de Sociólogos, até então uma novidade para estes profissionais das Ciências Sociais. Uma das maiores conquistas da ASESP foi sem dúvida o reconhecimento da profissão e também a criação em 1º de outubro de 1982 da APSESP, entidade pré-sindical, convertida em Sindicato em 1985. A criação do Sindicato dos Sociólogos é consequência de um processo de debates que se iniciou em 1980, entre os sociólogos paulistas (MATTOS, 2009). Após a queda do regime autoritário, no clima democrático que se formara, todos esperavam que houvesse a reinserção de Sociologia e Filosofia no Ensino Médio, o que parecia justificável, inclusive para os integrantes do Senado e da Câmara dos Deputados, perante a necessidade de fortalecer a cidadania. Na verdade, esse era o conteúdo do Art. 36 e incisos da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394 (BRASIL, 1996). Todavia, no ambiente político de franca predominância neoliberal, a referência a disciplinas como Sociologia e Filosofia parecia inconveniente, ou desnecessário. Carvalho (2007) relembra que: Foi assim que, nesse mesmo ano, o então deputado Padre Roque (PT/PR) apresenta em outubro um projeto de Lei que altera o artigo 36 da LDB, dando-lhe um caráter obrigatório a ambas as disciplinas. Tal Lei tramitou por quatro anos e, em 18 de setembro de 2001, foi, finalmente, aprovada no Senado da República (mesmo com orientação contrária da liderança do governo FHC, a votação foi de 40 votos a favor e 20 contrários). A comunidade acadêmica e estudantil, que tanto lutou por essa aprovação, comemorou com festas. Mas, a felicidade duraria pouco. Em 8 de outubro desse mesmo ano, o sociólogo e presidente Fernando Henrique Cardoso veta integralmente a Lei aprovada (que, na Câmara, o fora por unanimidade). Podem ser realizadas distintas interpretações do veto presidencial, mas, na leitura de Carvalho (apud OLIVEIRA, 2013. p. 358), ele se deveu ao fato de que “[...] era preciso impedir que os milhões de jovens do Ensino Médio pudessem ter acesso a duas disciplinas que lhes propiciassem uma melhor condição de reflexão e análise da realidade social em que estão inseridos.“ Sem dúvida que outros motivos, mais complexos e sutis, poderiam ser alegados para explicar finalidades do gesto de FHC. Moraes (2011), embora recuse o argumento ideológico como simplista, reconhece uma intencionalidade política no gesto, diz ele que “apesar das manobras do governo que se opunha frontalmente ao projeto, este é aprovado em 18 de setembro de 2001” (MORAES, 2011, p. 369). Citando parte da justificativa do veto presidencial, destaca: [...] o projeto de inclusão da Filosofia e da Sociologia como disciplinas obrigatórias no currículo do ensino médio implicará a constituição de ônus para os estados e o Distrito Federal, pressupondo a necessidade da criação de cargos para a contratação de professores de tais disciplinas, com a agravante de que, segundo informações da Secretaria de Educação Média e Tecnológica, não há no país formação suficiente de tais profissionais para atender à demanda que advirá caso fosse sancionado o projeto, situações 31 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL que por si só recomendam que seja vetado na sua totalidade por ser contrário ao interesse público (BRASIL, 2011). Seja porque não houve suficiente convencimento da necessidade das duas disciplinas, seja porque houve pressão conservadora, o fato é que esse veto foi derrubado e, desde 2008, as duas disciplinas, Sociologia e Filosofia, se tornaram obrigatórias em todas as escolas do Ensino Médio; isso graças ao esforço e participação das organizações profissionais, grupos de trabalho de sociólogos e de outros profissionais. De toda a luta realizada, especialmente a dos últimos anos, pode-se extrair uma resposta para a primeira parte da questão: “qual é o sentido de lecionar Sociologia para jovens no Ensino Médio?” Sem dúvida que, para despertar-lhes o pensamento crítico e analítico, para devolver-lhes, ainda que em parte, as possibilidades para exercício pleno da condição de sujeito e de cidadão. Parece ser nesse sentido que se coloca a reflexão sobre finalidades e objetivos da disciplina. Observação A perspectiva pragmática subjacente ao neoliberalismo que impregnou a política de Fernando Henrique Cardoso possivelmente responde por seu gesto. Reforçar a formação democrática das camadas populares seria compatível com o exercício de uma cidadania plena, mas essa linha política não era cogitada pela política neoliberal do Conselho de Washington. 4.2 Objetivos e finalidades a atingir com o ensino da disciplina A aprovação da obrigatoriedade de ensino de Sociologia nas escolas brasileiras de nível médio (Parecer CNE/CEB nº 38/2006 e Lei nº 11.684/2008) se deu graças a um exaustivo processo de envolvimento dos órgãos representativos dos sociólogos, discussão e produção intelectual, sobretudo na discussão das Orientações Curriculares para Ensino Médio Sociologia (OCEM), segundo Moraes e Guimarães (2010, p, 10): Para isso, a Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS) vem desenvolvendo atividades, pela sua Comissão de Ensino, quer na divulgação das OCEM-Sociologia (I Seminário Nacional sobre Ensino de Sociologia no nível médio, USP, São Paulo, março de 2007), quer na divulgação de pesquisas sobre o ensino de Sociologia (XIII Congresso Brasileiro de Sociologia, UFPE, Recife, GTs Ensino de Sociologia, maio e junho de 2007; I Seminário Nacional de Educação em Ciências Sociais, UFRN, Natal, março de 2008; I Encontro Estadual de Ensino de Sociologia, UFRJ, Rio de Janeiro, junho de 2008; I Simpósio Estadual sobre a Formação de Professores de Sociologia, UEL, Londrina, setembro de 2008; I Encontro Nacional sobre Ensino de Sociologia na Escola Básica, UFRJ, Rio de Janeiro, julho de 2009). 32 Unidade I Essa síntese do processo de discussão do ensino de Sociologia consta na introdução da obra coordenada por ele: Sociologia: Ensino Médio. Dessa obra, disponível na internet, participaram vários especialistas discutindo aspectos e questões pertinentes ao ensino de Sociologia, inclusive fazendo sugestões importantes. Moraes e Guimarães (2010, p. 45) escreveram o capítulo Metodologia de Ensino de Ciências Sociais: relendo as Ocem-Sociologia, nele discutem os princípios epistemológicos de estranhamento e desnaturalização que fundamentam a Sociologia, os princípios metodológicos que abrangem a utilização de conceitos, temas e teorias, e finalmente apresentam a utilização da pesquisa como um princípio transversal. Para os autores, a adoção desses recursos pelo professor permite aos alunos avançar na sistematização do conhecimento: Procurando fazer uma ponte entre o estranhamento e a desnaturalização, pode-se afirmar que a vida em sociedade é dinâmica, em constante transformação; constitui-se de uma multiplicidade de relações sociais que revelam as mediações e as contradições da realidade objetiva de um dado período histórico. É representada por um conjunto de ações que se caracterizam pela capacidade de alterar o curso dos acontecimentos, e provocar transformações no processo histórico. Os saberes sociológicos são construídos a partir da sistematização teórica e prática do processo social e a ação concreta dos homens delimita o campo de análise sociológica; além disso, a dinâmica da vida social oferece as ferramentas fundamentais para a sistematização do conhecimento. Lembrete A leitura desse capítulo converge para a postura sociológica indicada anteriormente como a de um “olhar desconfiado” dirigido para a aparência, embora as indicações de Moraes (2010) emprestem à expressão o necessário refinamento teórico, assim
Compartilhar