Buscar

Perda de mandato- Batista

Prévia do material em texto

Perda de mandato
O art. 55 da CF enumera os casos em que um congressista pode perder o seu mandato. É importante saber que, variando o fundamento da perda, variará o procedimento para que isso aconteça.
A primeira hipótese de perda de mandato é a violação de qualquer vedação prevista pelo art. 54. O inciso I fala de hipóteses que começam a contar da diplomação, enquanto que o inciso II começa a contar da posse. Em seu inciso I, alínea a, deste artigo veda a celebração de contratos com pessoas jurídicas da administração pública, salvo se obedecer cláusulas uniformes. Essas cláusulas são, por exemplo, as que regem os contratos de fornecimento de água ou energia elétrica. Esses contratos são permitidos. A alínea b, veda a ocupação de cargo de confiança no poder público.
O art. 55, II, fala da incompatibilidade do ato com o decoro exigido de um parlamentar. Um exemplo muito bom é da congressista Jaqueline Roriz. Berthier acha que o decoro parlamentar se relaciona com a ética esperada de um congressista. Porém, argumenta-se que, como a falta foi cometida por Jaqueline antes da sua diplomação, não deve-se falar em falta de decoro. A opinião do professor sobre esse assunto leva em consideração o fato de que o episódio só teve publicidade depois da sua posse. Assim, seus eleitores não tinham conhecimento desse fato à época da sua diplomação, muito menos à época das eleições. Essa clandestinidade seria quebra de decoro.
O inciso III do art. 55 fala do abandono das funções legislativas. O período de quatro anos é considerado uma legislatura. Dentro desta, cada ano tem uma sessão legislativa, havendo, portanto, quatro sessões legislativas dentro de uma legislatura. Cada sessão tem dois períodos legislativos (art. 57). Perderá o mandato aquele que, a cada sessão legislativa, faltar um terço das sessões ordinárias sem justificativa.
O inciso IV é incompleto. Fala que perderá o mandato o deputado federal ou senador que perder ou tiver suspensos os seus direitos políticos. Porém, não trata quais são os casos de suspensão ou perda de direitos políticos. Para compreendê-lo, devemos ir ao art. 15 da CF. O caput desse artigo veda expressamente a cassação de direitos políticos. Esse termo é utilizado para representar a perda de direitos políticos em decorrência de uma repressão política. Neste dispositivo, a CF também é incompleta já que não determina quais hipóteses são de perda ou de suspensão. 
No art. 15, inciso I, vemos que perdem os direitos políticos aquele que tiver a sua naturalização cancelada por sentença transitada em julgado. Devemos dar uma interpretação extensiva a esse inciso já que esta não é a única hipótese de perda de nacionalidade. Esta segunda hipótese é prevista pelo art. 12, §4º. Essa é uma hipótese de perda de direitos políticos, já que há uma perda de nacionalidade.
Em seu inciso II, vemos uma hipótese de suspensão dos direitos políticos. Como a incapacidade civil absoluta pode cessar, será um caso de suspensão. Para isso, basta a perda de mandato, não é necessário que haja a perda total dos seus direitos políticos. O inciso III é o único que não se aplica aos congressistas, mas isso será explicado mais a frente. 
O inciso IV fala da escusa de consciência. Para melhor entendermos esse conceito, devemos considerar o art. 5º, VIII. Quando se alega a escusa de consciência, uma pessoa deixa de cumprir uma obrigação legal imposta a todos em razão de ofensa à sua crença religiosa, convicção filosófica ou política. Para o descumprimento de algumas dessas obrigações legais, há lei que estabelece uma prestação alternativa. Aquele que se recusa a cumprir essa obrigação alternativa, perderá seus direitos políticos. O art. 15, IV, coloca como ideias alternativas, mas é necessário que as vejamos como ideias cumulativas, isto é, devemos descumprir a obrigação legal e a obrigação alternativa. 
Segundo a doutrina, esse é um caso de perda de direitos políticos. Berthier discorda desse entendimento e defende que a pessoa deveria ter seus direitos políticos suspensos. O cumprimento de uma dessas obrigações ensejaria a concessão de direitos políticos novamente. O art. 15, V, fala da improbidade administrativa. É necessário que se leve em consideração a sentença condenatória já que o judiciário que tem competência para suspender os direitos políticos em decorrência de improbidade. A condenação precisa ser expressa.
Voltando ao art. 55, vemos que o inciso VI tem redação idêntica ao art. 15, III, que, como vimos, não se aplica aos congressistas. Essa diferenciação é feita para que haja um procedimento específico para essa perda de mandato. No caso do inciso IV, que remete ao art. 15, a perda é líquida e certa, assim como nos casos nos incisos III e V (art. 55, §3º). O inciso VI, porém, se encaixa no §2º, que determina que a perda de mandato deve ser apreciada pela Câmara dos Deputados ou pelo Senado. Por isso que muitos congressistas têm sentença criminal transitada em julgado, mas não perdem seu mandato. No §3º, a perda do mandato é vinculada, enquanto que no §2º, o comportamento é discricionário.

Continue navegando