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93 GESTÃO DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA Unidade III 5 DECISÕES LOGÍSTICAS 5.1 Decisões logísticas Alavancagem é um ato de melhoria, de crescimento, por meio do qual a logística busca suprir as necessidades apontadas pelo mercado. A decisão logística de como atuar para ganhar espaço competitivamente no mercado em que atua depende do tipo de unidade de negócio em que está envolvida (indústria, comércio ou serviços). Contudo, todas essas categorias consideram três tipos básicos de decisões estratégicas: • serviço ao cliente; • definição e formação da rede logística; • análise comparativa entre outsourcing e integração vertical. O serviço ao cliente é a primeira e principal classe de decisões estratégicas logísticas. Uma vez que a logística envolve a entrega do produto certo ao cliente certo, no local certo, no momento certo e com o custo e qualidade certos, o serviço ao cliente é um indicador direto da logística. Tradicionalmente, as empresas têm determinado o seu serviço ao cliente com base no que os seus clientes querem e não no que realmente precisam. Identificar a necessidade do cliente é o passo principal no estabelecimento de um sistema logístico. A relação entre dois indicadores: custo e serviço ao cliente, chamada de trade-off, define o quanto a empresa pretende investir para melhorar vários aspectos do negócio (como equipamentos, formação de trabalhadores, melhorar as estruturas e os transportes etc.), o custo e o nível de serviço que atende as necessidades de seus clientes. É quase impossível fornecer um plano de serviço ao cliente que tenha um equilíbrio ótimo entre o custo e o serviço. Algumas empresas preferem uma estratégia de minimização de custos, enquanto outras preferem uma estratégia de maximização de serviços. Na estratégia de minimização, a empresa entrega o mesmo produto, mas a um custo mais barato; já na de maximização, a empresa fornece produtos ou serviços que nenhum outro concorrente pode dar. A decisão sobre qual escolher depende do tipo de negócio, dos produtos que oferece, e do mercado em que compete. Essas duas abordagens são geralmente discutidas e comparadas como estratégias enxutas e ágeis. 94 Unidade III As estratégias competitivas ajudam uma organização a compreender os seus concorrentes e o mercado em que compete, para que possa auditá-los e encontrar as lacunas existentes e as oportunidades disponíveis para preencher essas lacunas nas exigências dos clientes. Em geral, um plano de serviço ao cliente é dividido em três fases: pré-venda, venda e pós-venda. Monitorar essas fases é crucial para otimizar resultados empresariais. O ideal é definir, para cada cliente, o conceito de encomenda perfeita, composta pelos elementos tempo, entrega total e sem erros. Na concepção da rede logística, uma organização deve assegurar que a sua estrutura e fluxo de materiais e informação são apropriados. Consideram-se, assim, a rede de instalações físicas e a rede de comunicação e informação. Essas decisões são críticas porque a maior parte do capital investido é das próprias empresas. Quanto à localização das instalações físicas, se faz necessário determinar número, tamanho, localização e equipamento necessário de novas instalações, juntamente com a alteração das existentes, mas sempre considerando a dinâmica do mercado em relação a espaço, volumes distribuídos, oscilações de mercado, economia, impostos etc. 5.1.1 Outsourcing — terceirização ou parcerias As decisões relacionadas com o outsourcing (ou terceirização) trazem maior flexibilidade, menor risco de investimento, melhor fluxo de caixa e menores custos potenciais de mão de obra. Contudo, nesse modelo, o negócio pode perder o controle sobre o seu processo, pode ter longos prazos de entrega ou faltas, ou ainda trabalhar com uma empresa inadequada ao seu perfil. As decisões de outsourcing determinam quais funções devem ser terceirizadas, bem como a natureza e extensão dos acordos de terceirização, de modo a proteger a empresa de possíveis prejuízos, principalmente à sua imagem. Quando uma empresa é incapaz de construir um item (especialmente um de rotina) ou tem dúvidas sobre o volume necessário e os fornecedores oferecem custos favoráveis ou têm pesquisas especializadas sobre o trabalho, então a subcontratação do trabalho de terceiros parece ser a melhor escolha (terceirização). Em contraste, as decisões sobre integração vertical (também conhecida como insourcing) têm maior controle sobre as entradas e maior visibilidade sobre o processo. Contudo, mais integração requer maior volume e maior investimento, e há menos flexibilidade na utilização dos equipamentos. As decisões em matéria de integração vertical incluem a natureza da integração, a sua direção (descendente para os clientes ou ascendente para os fornecedores), e a sua extensão (que atividades, partes, ou componentes devem ser incluídos). Na integração vertical, também chamada de “terceirização interna”, o setor ou projeto que foi terceirizado é recolocado dentro da empresa, criando uma área focada em um serviço ou trabalho específico. Ela é utilizada quando a empresa: 95 GESTÃO DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA • quer integrar as operações da fábrica; • precisa ter controle direto sobre a produção e qualidade; • deseja algum segredo industrial ou comercial; • não tem fornecedores fiáveis ou tecnologia de produção estratégica para a empresa. A partir da década de 1980, muitas empresas perceberam que não podem fazer tudo, motivo pelo qual recorreram à terceirização para evitar peças ou atividades que não têm qualquer competência ou valor primordial para o seu negócio. Passaram, então, a dedicar-se a aprimorar sua atividade-fim, o núcleo de seu negócio. 5.1.2 A logística e os canais de distribuição da indústria A logística da manufatura refere-se a todas as funções de planejamento, coordenação e serviços necessários para realizar as atividades de fabricação. O âmbito temporal da logística de fabricação começa a partir do ponto em que as exigências do cliente final são determinadas, e estende-se até o ponto em que essas exigências são satisfeitas. Nesse processo, o fluxo de material, informação e serviço pode ir além das fronteiras empresariais, industriais e nacionais. A coordenação da complexa variedade de atividades nesse ambiente coloca desafios significativos ao processo de fabricação. Hoje a logística industrial pode ser vista como uma área de pesquisa acadêmica que engloba muitos aspectos da gestão de operações e desenvolvimentos na logística da cadeia de abastecimento. Também pode ser vista como um domínio de problemas industriais em evolução que são impulsionados por inovações tecnológicas e pela economia global, oferecendo oportunidades para os profissionais de logística e qualidade, e melhorando o nível de produção e dos produtos, que mais provavelmente serão capazes de atender consumidores com diversos perfis. Entendendo-se que uma indústria hoje oferece vários itens, em volumes diferentes, fracionados ou não, atendendo áreas extensas, a parte da logística dedicada à indústria associa-se à engrenharia de produção para exercer influência na tomada de decisões das empresas e na inovação de softwares. Assim, as tecnologias de informação e comunicação (TICs) contribuem para modelar as incertezas e a imprevisibilidade desse cenário no qual vivemos atualmente. Além disso, a tarefa da logística de fabricação consiste em reduzir os prazos de produção, ou seja, o tempo desde o momento em que uma ordem de trabalho é criada até se tornar um produto acabado. São fatores cruciais na logística aplicada aos processos industriais: a definição de eventuais terceirizações e a gestão de estoque de matérias-primas, que é fundamental para se conseguir uma 96 Unidade III produção mais rápida. Para tanto, o armazém tem de ser capaz de gerir eficazmente os dois tipos de procura que afetam a logística de fabricação. O primeiro é a procura do cliente final, quer baseada em previsõesde vendas ou em encomendas feitas ao centro de produção. O segundo é a procura da própria indústria, em que todas as matérias-primas necessárias para criar o produto são solicitadas ao armazém pelo processo de produção. A coordenação das áreas de produção e logística envolve, portanto, o controle desses dois tipos de procura e a organização de armazéns industriais com base em cada tipo. As instalações de armazenamento ligadas às unidades de produção podem: alojar produtos acabados, peças, matérias-primas (utilizadas no processo de fabricação), componentes ou peças sobressalentes para o serviço pós-venda. Transporte Transporte Fábrica Armazenamento Vendedores/plantas/portosTransporte Fluxos de informação Transporte ClientelaArmazenagem Figura 21 – Cadeia de suprimentos imediata da empresa Fonte: Ballou (2007, p. 30). Saiba mais Conheça a transformação da logística frente às novas tecnologias e demandas do mercado no artigo: SILVA, E. F. KAWAKAMA, M. S. Logística 4.0: Desafios e inovações. In: IX CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO (CONBREPRO), 2019, Ponta Grossa. Anais eletrônicos... Ponta Grossa, 2019. Disponível em: https://bit.ly/2WnmVwC. Acesso em: 28 fev. 2021. 97 GESTÃO DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA 5.1.3 A importância da logística para o comércio varejista No setor varejista, as operações logísticas têm um papel estratégico para o sucesso das lojas. O desempenho logístico não é entendido apenas como uma atividade operacional, mas sim como uma variável estratégica e um fator-chave para a satisfação do consumidor. De fato, quando as necessidades do cliente não são satisfeitas, os efeitos da insatisfação podem se multiplicar rapidamente, uma vez que esse consumidor pode não só mudar seus hábitos e ir para outra loja concorrente, mas também propagar sua experiência negativa entre outros clientes. Hoje em dia, a experiência de felicidade do consumidor é um novo conceito na pesquisa de marketing. Um conceito não intuitivo, amplificado pelas TICs. Cabe à empresa a criação de um sentimento de felicidade, para que essa relação seja bem-sucedida e sustentável, por exemplo com a preparação de ambientes adequados, treinamento de colaboradores, recursos tecnológicos, espaços confortáveis e ofertas de mais serviços. Ao sistematizar o controle de compras, o estoque e a quantidade de produtos, a alimentação dos pontos de venda, a interação do marketing com a estrutura da loja, e a distribuição física dos produtos nas prateleiras, por exemplo, o desempenho logístico no varejo foca a interação entre os clientes e a sua percepção do serviço. Contribui, assim, para o desenvolvimento de estratégias de venda e para o design das lojas, com o objetivo de criar a experiência de felicidade e satisfação dos consumidores e sua consequente fidelização. Supermercados, hipermercados, lojas de departamento, de conveniência ou de especialidades, todos os perfis varejistas no mercado atual procuram aumentar essa fidelização, inclusive agregando outros serviços (cartões, garantia estendida). Contudo, todos têm sempre em mente que o consumidor procurará escolher aquele que atender completamente a suas necessidades. Uma clara dificuldade nesse setor, para o profissional de logística, é a quantidade de itens fracionados oferecidos, pois eles exigem controle e rastreabilidade ainda mais cuidadosos. Essa quantidade de dados dificulta a capacidade preditiva e, consequentemente, a boa resposta ao consumidor. As cadeias de abastecimento estão mais visíveis do que nunca. Perceptíveis em logomarcas nos caminhões de entrega, caixas de produtos, códigos de barra ou QR codes que identificam cada item, atendimento ao consumidor nos portais dos fabricantes: tudo constrói uma estrutura nítida para o consumidor. Assim, espera-se que os varejistas forneçam aos clientes uma visão de qualidade realmente refinada sobre todos os detalhes da cadeia de abastecimento em que se inserem. A empresa deve responder às questões de seus clientes, por exemplo: quem fez o produto e onde, de que é feito, quantos estão na minha loja local, onde está a minha entrega num mapa nesse momento? Isso significa que a própria logística cria um sistema no qual os seus erros e fraquezas são visíveis e expostos como nunca. 98 Unidade III É nesse cenário que o gestor em logística que trabalhar nesse setor tem que se especializar: em otimizar os acertos e corrigir rapidamente os erros da cadeia de suprimento, sempre procurando utilizar todos os recursos tecnológicos e o maior número de dados possível. 5.1.4 Importância da logística em serviços Recentemente o Council of Logistics Management (Conselho de Gestão Logística) encomendou estudos para determinar o potencial de aplicação dos princípios logísticos nas organizações de serviços, algo ainda mais difícil de ser mapeado. O papel da logística nas prestações de serviços tem é atender de maneira estratégica à demanda, considerando alguns pontos, como: • O serviço: é aquilo que o cliente percebe que está sendo ofertado? • Lugar e tempo: a entrega de elementos do serviço para os clientes envolve decisões sobre o lugar e o tempo da entrega. Pode envolver canais de distribuição física ou eletrônica ou ambos, dependendo da natureza do serviço que está sendo prestado. • Processos: quando os processos não estão bem desenvolvidos e, consequentemente, são deficientes, ocorre a insatisfação do cliente, tornando, por exemplo, a entrega burocrática, ineficiente e lenta. Dessa forma, todo o trabalho do pessoal da linha de frente é comprometido, pois há diminuição na produtividade e aumento nas falhas dos serviços. Planejar as necessidades de recursos e demanda é fundamental. • Produtividade e qualidade: a logística tem como objetivo fazer com que esses dois elementos sejam visualizados pela organização de uma forma conjunta, pois a produtividade é primordial para diminuir os custos, e a qualidade do serviço é relevante para diferenciar o produto e, assim, fidelizar o cliente. Analisando serviços prestados ao consumidor por redes de telecomunicações (desde telefonia, internet, streaming) conclui-se que mesmo o tráfego global da internet merece uma cuidadosa aplicação da logística de dados. Outros serviços também já protocolam fluxogramas e controles bem claros do caminho das informações até chegar ao atendimento adequado do cliente: hospitais, hotéis, companhias aéreas, restaurantes, bancos, entre outros. Dessa forma, a logística de serviços é definida como a gestão de atividades que respondem aos clientes numa base individual e prevê a entrega de benefícios, processos de entrega, orientação de entrega, planeamento de resposta, e um modelo de serviço ao cliente que se concentra nas necessidades particulares dele. 99 GESTÃO DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA Pode-se considerar que todos os setores utilizam conceitos básicos da logística e da engenharia de produção, mas cada um como uma abordagem final diversa. A indústria busca um atendimento de excelência, mais amplo, o varejo utiliza as informações do marketing para fidelizar perfis de consumidores em suas lojas e os serviços levam a experiência da qualidade do atendimento ao indivíduo. Saiba mais O livro a seguir é um manual interativo sobre logística empresarial que discute a relação entre logística e marketing de forma muito útil para os profissionais da área. Consulte-o: MIRA, C. A. Logística: o último rincão do marketing. 3. ed. São Paulo: Truckpad, 2020. Disponível em: https://bit.ly/3gAkn5c. Acesso em: 2 mar. 2021. Frente a momentos de insegurança econômica, os profissionais devem aprender a gerir crises, em toda a cadeia de suprimentos, o que implica redobrar a atenção nesses conceitos básicos da logística, os indicadores que permitirão correções ou ajustes estratégicos. Lembrete Os indicadores de desempenho são informações quantitativas ou qualitativas que expressam o desempenho de um processo, em termos de eficiência, eficácia ou nível de satisfação docliente. Pode-se acompanhar sua evolução ao longo do tempo e compará-la com outras organizações. Classificam-se em indicadores operacionais, táticos ou estratégicos: lucratividade, rentabilidade, inadimplência, absenteísmo, produtividade, retorno do investimento, nível de endividamento, faturamento, custos fixos e custos variáveis etc. 5.2 Segmentação de mercado e serviços logísticos associados 5.2.1 Conceitos de marketing Os princípios do marketing voltado ao cliente nos ensinam que a estratégia de negócios deve ser focada no cliente, seja ele qual for, na medida em que é esse cliente que confere efetivo valor às operações. Conhecer e atender as necessidades e desejos dos clientes é o pilar da construção estratégia do negócio em si e da logística em particular. Bowersox et al. (2014) afirmam que o conceito de marketing se apoia em quatro ideias fundamentais: 100 Unidade III • As necessidades e os requisitos dos clientes são mais importantes que produtos ou serviços. • Clientes diferentes têm necessidades e requisitos distintos. • Bens e serviços só se tornam significativos quando disponíveis e posicionados a partir da perspectiva do cliente, que é o foco da estratégia logística. • Volume é menos importante que lucro. Vejamos cada uma dessas ideias. As necessidades e os requisitos dos clientes são mais importantes que produtos ou serviços porque é necessário entender as oportunidades de mercado descobrindo a melhor combinação possível entre produtos e serviços. Não tem sentido oferecer ao mercado um produto com seis opções de cores diferentes se o mercado deseja apenas três e, ao inverso, oferecer um produto apenas na cor branca se o cliente deseja ter opção de cor. Uma estratégia bem-sucedida começa com a correta identificação dos requisitos desejados pelos clientes. Clientes diferentes têm necessidades e requisitos distintos porque não há um único mercado para um produto ou serviço. Os mercados são compostos de vários segmentos, cada um deles com necessidades e requisitos próprios. Segmentar o mercado consiste em separar e agrupar os clientes (e potenciais clientes) em diferentes grupos de acordo com suas características. Normalmente se usa quatro bases de segmentação, conforme a figura a seguir: Geográfica Psicográfica Comportamental Segmentação de mercado Demográfica – Idade – Gênero – Renda – Ocupação – Tamanho da família – Ocasião de compras – Benefícios – Utilização – Atitudes em relação aos produtos – Estilo de vida – Opiniões – Atitudes – Valores – Região – Clima – Concentração – Tamanho da unidade política Figura 22 - Bases de segmentação A ideia é que aqueles que pertencem a um mesmo grupo apresentam características similares e, portanto, imagina-se que tenham um comportamento comercial semelhante. 101 GESTÃO DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA Não existe um modelo único e obrigatório de segmentação. Os clientes finais ou institucionais podem ser agrupados com base em suas características geográficas (localização dos pontos de entrega, por exemplo); demográficas (tamanho da empresa; faixa de idades; tamanho da empresa); comportamentais (frequências com que compra; volume dessas compras) etc. Convencionalmente, as empresas segmentam seu mercado a partir de características facilmente identificáveis, que normalmente fazem parte do banco de dados de clientes da empresa. Dimensões como localização, faturamento, volume de compras, fluxo de compras entre outros. Assim uma empresa pode estabelecer estratégias, por exemplo, de acordo com o tamanho do cliente ou com a localização dele. Pode, por exemplo, ter políticas diferentes para quem adquire em grandes quantidades dos que adquirem em pequenas quantidades ou então oferecer prazos de entrega diferentes de acordo com a região geográfica, entregas no Sudeste do Brasil podem ser mais rápidas do que no Nordeste ou vice-versa. Pode ainda oferecer produtos de diferentes graus de sofisticação de acordo com o segmento econômico específico (classe social). Imagina-se então que a identificação desses segmentos com algumas características em comum indique necessidades e expectativas semelhantes e assim o pacote de serviços oferecido possa ser ajustado a cada segmento. Essa ideia traz, no entanto, dois riscos. O primeiro é que não obrigatoriamente todos os clientes de um mesmo segmento terão necessidades idênticas, e segundo, essas necessidades (do grupo) foram determinadas de maneira reativa, ou seja, feitas posteriormente à definição do grupo. Suponha que segmentemos nossos clientes por idade. Nada garante que todos nossos clientes na faixa de, digamos, 50 a 60 anos terão as mesmas necessidades de serviço. Pessoas nessa idade são tidas como mais resistentes à tecnologia, o que pode indicar para a empresa que se evite o uso da internet, mas isso não é verdade para todas as pessoas dessa idade. Além disso, essa ideia de que pessoas dessa idade são resistentes à tecnologia é uma verificação feita a posteriori, ou seja, depois que a segmentação foi feita. Uma alternativa a essa forma de segmentação é a formação dos segmentos a partir das expectativas relacionadas aos serviços a serem prestados aos clientes pelos seus fornecedores. Desse modo, ao contrário do tradicional neste método, é preciso primeiro identificar as necessidades do cliente, para aí então agrupá-los de acordo com elas. Assim cada segmento existirá se houver necessidades específicas e diferentes. Essa segunda alternativa de segmentação a que alguns autores dão o nome de “segmentação por benefícios” é muito mais trabalhosa que a tradicionalmente usada, mais simples e de implantação mais elementar, por ser intuitiva e fazer uso de dados secundários. Porém é a que mais se aproxima do objetivo final da segmentação, ou seja, dividir o mercado para que as estratégias e políticas de serviço possam ser particularizadas de modo a atender às diferentes expectativas dos consumidores, ao mesmo tempo em que direciona os recursos de forma eficiente e eficaz. Maria Fernanda Hijjar (2000) afirma: 102 Unidade III É importante perceber, entretanto, que apesar da existência de algumas restrições, a segmentação realizada a partir das expectativas dos consumidores pode levar a um melhor planejamento dos serviços a serem oferecidos. Como consequência, consegue-se gerar uma maior garantia de que o esforço logístico adicional, necessário para a melhoria do nível de serviço, está sendo percebido pelo cliente como algo de valor. Bens e serviços só se tornam significativos quando disponíveis e posicionados a partir da perspectiva do cliente, que é o foco da estratégia logística, isso porque é necessário que os clientes devam poder obter de modo imediato os produtos desejados. A empresa fornecedora de estar concentrada no cliente e no posicionamento do produto. Bowersox et al. (2014) consideram que quatro utilidades econômicas agregam valor e as relaciona com as funções organizacionais. • Forma do produto é em sua maior parte gerada pela função produção, ou seja, pelas operações de manufatura. Um aparelho de televisão é formado pela junção de peças, placas e componentes que lhe confere forma e desempenho. • O desejo de propriedade é criado por marketing ao informar a existência do produto ou serviço, suas características e desempenho e criar as condições de comercialização. • O tempo e o lugar são utilidades fornecidas pela logística. Significa que a logística deve garantir que o produto ou serviço esteja disponível quando e onde o cliente desejar, o que normalmente tem um custo alto e significativo para a empresa fornecedora. O sucesso das transações só ocorrerá efetivamente quando as quatro utilidades forem combinadas de maneira significativa para os clientes. Volume é menos importante que lucro porque as operações só são interessantes ao longo do tempo para uma empresa se retornarem uma margem de lucro interessante. O sucesso para a empresa é o nível de lucratividade com que opera e não o volume negociado. Assim,alterações nas quatro utilidades básicas, forma, propriedade, tempo e lugar, só encontram justificativas se o cliente ou o segmento de mercado reconhecer o valor da variação e pagar por ela. A estratégia de marketing baseia-se na observação de que todos os aspectos envolvidos podem sofrer alterações desde que sejam justificados pela lucratividade obtida. Digamos que sua empresa, produtora de máquinas eletrônicas sofisticadas decida oferecer o serviço de um instalador/instrutor para cada máquina vendida. Caso o mercado reconheça isso como valor e se disponha a pagar mais, a estratégia é justificada, mas se isso não ocorrer sua empresa estará apenas introduzindo um custo que reduzirá a lucratividade, mesmo que você venha a vender mais máquinas com esse argumento de venda. 103 GESTÃO DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA 5.2.2 Marketing orientado ao cliente Estratégias tradicionais de marketing concentram-se nas trocas comerciais, operações isoladas normalmente de curto prazo e sem nenhuma garantia de repetição. É o que se costuma intitular de marketing transacional, está orientado para a transação comercial em si. O objetivo é obter sucesso em uma determinada transação ou grupos de transações sem a preocupação com relações de longo prazo entre vendedor e comprador. Com a evolução dos conceitos de gestão da cadeia de suprimentos surge a ideia de relacionamento mais perene entre os parceiros comerciais. A essa ideia se dá o nome de marketing de relacionamento e tem como objetivo o relacionamento de longo prazo entre todos os elos da cadeia. Clientes finais, intermediários e fornecedores. Nesse tipo marketing está implícito que é tão importante conseguir novos clientes como manter a fidelidade dos existentes e se possível obter maiores parcelas das suas compras. O máximo de segmentação possível, aliado ao marketing de relacionamento é concentrar-se em relação individual com o cliente. É o que se chama de estratégia de micromarketing ou marketing one-to-one. Nessa estratégia, a empresa fornecedora customiza sua logística aos desejos e necessidades individual de cada cliente. Uma empresa que fornece, por exemplo, para duas grandes redes de supermercado deverá pesquisar os desejos de cada e projetar operações específicas para cada uma delas. Uma montadora de automóveis pode desejar receber determínadas peças componentes just in time a partir das instalações do fornecedor enquanto outra pode desejar que essas peças sejam produzidas pelo fornecedor, mas dentro das instalações da montadora. Saiba mais A fábrica de caminhões da Volkswagen em Resende adota como modelo de produção o chamado consórcio modular. Neste momento a fábrica é dividida em módulos, cada um administrado por um fornecedor específico. O controle de qualidade é da Volkswagen mais toda a operação de manufatura, incluindo montagens, é feita pelos fornecedores. Isso reduz custos e aumenta flexibilidade. Veja mais em: CONSÓRCIO modular. Volkswagen, [s.d.]. Disponível em: https://bit.ly/3peQmuM. Acesso em: 28 maio 2021. Nem todas as organizações desejam utilizar o marketing one-to-one e mesmo o marketing de relacionamento, mas eles podem reduzir significativamente os custos de transação, adaptar-se melhor às necessidades dos clientes e tornar rotineiras transações individuais. 104 Unidade III 5.2.3 Serviços na cadeia de suprimentos: resultados Não existe na sociedade atual um indivíduo ou uma empresa que seja totalmente autônoma. As empresas e indivíduos produzem e comercializam produtos e serviços que atendem cliente e que foram feitos a partir de insumos vindos de fornecedores. Nas cadeias de suprimentos, isso é especialmente notado, como foi citado anteriormente. Cada elo necessita do anterior e é demandado pelo posterior. Isso cria discrepâncias de espaço, tempo e quantidade/variedade. A ocorrência dessas discrepâncias é fácil de entender. As produções e os consumos raramente são feitos no mesmo espaço. Por exemplo, grande parte da indústria moveleira do Brasil localiza-se na região Sul, mas o maior mercado consumidor está no Sudeste. Temos aí uma discrepância de espaço: o móvel é feito no Rio Grande do Sul, mas é consumido no Rio ou em São Paulo. Essa discrepância causa efeitos consideráveis nos aspectos ligados a transportes e armazenagem. Os cronogramas diferentes de produção e consumo produzem discrepância de tempo. Alguns produtos são produzidos muito antes de serem consumidos. Safras agrícolas normalmente são sazonais, enquanto o consumo perdura durante o ano todo. Alguns produtos são consumidos em um espaço curto de tempo, em altos volumes, portanto tem que ter sua produção adiantada. Ovos de páscoa, por exemplo. Isso leva a complexos e custosos processos de formação de estoque e armazenagem. Uma boa parte do conteúdo deste livro-texto está voltada para esses aspectos de equilíbrio entre demanda e fornecimento. Visando operações produtivas as empresas preferem, se possível, produzir grandes quantidade de um número reduzido de itens. Os consumidores por outro lado demandam uma quantidade pequena de um número grande de itens. Isso cria uma discrepância do continuum volume/variedade. Alguma estratégia deve ser empreendida para conciliar essa discrepância de modo a atender ao cliente. Observação As operações produtivas são condicionadas pelo que se convencionou chamar de continuum volume/variedade que significa em primeira análise que operações com altos volumes têm que ter baixa variedade e operações com alta variedade devem ter baixos volumes. Por exemplo, uma loja de fast-food faz grandes quantidades de lanches, mas com pequena variedade, os lanches são “padrões”. Um restaurante gourmet faz poucas refeições, mas muito variadas. Bucklin (apud BOWERSOX et al., 2014) sugere para eliminar as discrepâncias, quatro resultados genéricos do serviço, necessários para satisfazer os requisitos dos clientes: • conveniência geográfica; • tamanho do lote; 105 GESTÃO DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA • tempo de espera ou de entrega; • variedade de produtos. Evidentemente que clientes diferentes apresentam requisitos diferentes, o que exige múltiplas estruturas da cadeia de suprimentos para atender a essas diferenças. A conveniência geográfica é a facilitação da oportunidade de compras por parte do consumidor. Altos níveis de conveniência geográfica estão ligados a disponibilidades dos produtos em variados pontos de vendas, o mais próximos possível do consumidor. Caso você queira comprar um sabonete Dove, por exemplo, basta ir a qualquer supermercado, já um sabonete Granado é encontrado em um número muito menor de pontos de venda. O tamanho do lote refere-se à quantidade mínima que pode ser adquirida. Caso você queira comprar uma unidade de seu chocolate preferido, o mercadinho da esquina te atende, mas provavelmente cobrará mais caro que um atacadista como Sam’s Club. Mas no Sam’s Club pode ser que você só consiga comprar em lotes de 24 chocolates, por exemplo. Lotes menores tendem a ser mais caros, lotes maiores a ter custo unitário menor, mas incorre-se em custos de armazenagem entre outros. O tempo de espera ou de entrega, normalmente nomeado como lead-time, é o intervalo de tempo entre a manifestação de compra do cliente e seu efetivo atendimento. Você pode comprar um tênis, se deslocando até o shopping center mais próximo e obter o produto, praticamente sem esperas, mas pode fazer essa compra pela internet e esperar algum tempo. Quanto maior o tempo de espera, maior a impaciência do comprador, mas que eventualmente pode ser recompensado por preços mais baixos. A variedade de produtos relaciona-se com a oferta de diversidade aos clientes. Um grande supermercado pode oferecer algumas dezenas de marcas e tipo de cerveja. O pequeno mercado de esquina terá uma variedade menor, mas ainda considerável. A loja de conveniência de um posto de gasolina terá uma ou talvez duas marcas apenas. Ofertar variedade significa aumentar o número de itens armazenados, ouseja, de estoques, que é um importante componente de custo das organizações. Além dessas dimensões outras poderão aparecer, tais como informação, customização dos produtos, apoio pós-vendas etc., que para alguns clientes podem ser ainda mais críticos do que os citados anteriormente. É importante notar que os mercados não são homogêneos onde todos os consumidores têm as mesmas expectativas de serviço. Ocorrem divergências de percepção da qualidade do serviço, na definição de qual serviço é mais importante e qual o nível de serviço desejado. Você pode desejar adquirir um computador rapidamente ou pode aceitar esperar alguns dias para que seu computador seja customizado pelas suas preferências. Importante observar que os clientes diferem muito em termos de preço que estão dispostos a pagar pelos serviços. Níveis elevados de serviço custam caro. Nem sempre um cliente está disposto a pagar por um menor prazo de entrega ou pela maior conveniência de aquisição ou por outro resultado qualquer dos serviços logísticos. 106 Unidade III 6 INDICADORES ESTRATÉGICOS 6.1 Análise de custo versus nível de serviço Atender aos desejos e necessidades dos clientes em relação aos resultados do serviço é condicionante para a configuração das cadeias de suprimentos, definindo que tipo de empresa participante pode contribuir para satisfazer a necessidade de serviço e os custos decorrentes. Para entender essa lógica, vamos nos deter em análises mais específicas dos resultados dos clientes dentro do contexto logístico. Três níveis de comprometimento da operação logística com o cliente são possíveis: • serviço ao cliente; • satisfação do cliente; • sucesso do cliente. 6.1.1 Serviço ao cliente Podemos definir serviço ao cliente como o papel da logística no desempenho do conceito de marketing, ou seja, serviço ao cliente é o que a logística pode e deve oferecer à empresa para atender os objetivos mercadológicos. Estabelecer um plano de serviço ao cliente é definir os padrões de desempenho das atividades e mensurar o desempenho em relação a esses padrões. Os planos logísticos básicos concentram-se nos aspectos operacionais garantindo que a empresa ofereça o que alguns autores chamam de os sete “certos” do atendimento logístico: a quantidade certa do produto certo no momento certo no local certo nas condições certas pelo preço certo com a informação certa. Claro está que a excelência no serviço ao cliente agrega valor em toda a cadeia de suprimentos, mas isso conduz a uma preocupação fundamental: qual o custo a ser arcado para que um determinado desempenho nos serviços seja alcançado e é aconselhado fazer esse investimento? A estratégia básica do serviço ao cliente é obtida a partir do conhecimento do desempenho dos concorrentes e do grau de sensibilidade dos clientes aos atributos oferecidos. Os atributos básicos podem ser identificados como: • disponibilidade; • desempenho operacional; • confiabilidade do serviço. 107 GESTÃO DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA Disponibilidade significa ter o produto em estoque quando o cliente o solicita. É algo que parece evidente, mas muitas vezes uma série de esforços para motivar a compra do produto é invalidada pela sua falta em estoque. Estoques são responsáveis por grande parte dos custos de uma operação e a disponibilidade está, evidentemente, ligada a eles. Grandes estoques permitem maior disponibilidade, mas devido aos custos, o grande desafio é trabalhar com um planejamento que permita grande disponibilidade a custos aceitáveis. Esse planejamento parte de previsões de demanda, nem sempre com elevada precisão. Além disso, valores médios nem sempre ajudam no dimensionamento dos estoques e na obtenção da disponibilidade. Três indicadores ajudam a determinarmos o nível de disponibilidade que nossa operação está oferecendo: • Frequência de falta de estoques: ocorre quando a empresa não tem produtos para atender o cliente. A soma de todas as faltas de estoque mostra o posicionamento da empresa em relação ao atendimento dos clientes, apesar de não diferenciar produtos mais vitais de outros menos vitais. • Taxa de atendimento: o fato de um produto estar em falta no estoque não indica o real impacto disto, visto que se o cliente não solicitar o produto não haverá consequência dessa falta. A taxa de atendimento mostra o efetivo impacto sobre o atendimento. Essa taxa pode ser individualizada por item ou cliente avaliando o nível de atendimento. Caso um cliente peça dez unidades e só existam 9 para atendimento, a taxa nesse caso isolado estará em 90%. Essas taxas mostram uma visão do problema, mas não são absolutas. Um atendimento de 90% pode ser adequado caso o cliente tenha alguma flexibilidade, mas nada abaixo de 100% será tolerável se ele tiver a produção paralisada por falta do item. • Pedidos completos enviados: é o indicador mais exato. Refere-se à quantidade de pedidos que foram entregues de modo completo, sem faltar unidades. Caso o cliente tenha pedido cem unidades, todas as cem foram enviadas. A falta de um item sequer torna o pedido incompleto, o que é registrado como inaceitável. A combinação destes três itens mostra como a empresa se posiciona em relação à disponibilidade revelando se as estratégias de estocagem estão atendendo ao necessário. Ela irá parametrizar as políticas de estocagem. Estoques altos aumentam a disponibilidade, mas também os custos, estratégias atuais baseadas nas tecnologias da informação permitem que a disponibilidade seja elevada sem que isso ocorra com a estocagem e o custo. Desempenho operacional relaciona-se com o tempo necessário para atender o cliente, em seus diversos aspectos, manufatura, entrega de suprimento etc. O desempenho operacional é dependente de quatro fatores: velocidade; consistência; flexibilidade e recuperação de falhas. A velocidade é função do tempo decorrido necessário para o atendimento do cliente. Inclui o lead-time, mas não é um exclusivamente, na medida em que um aumento de velocidade em atividades não percebidas pelo cliente (característica do lead-time) pode reduzir tempo de ciclos percebidos por ele. 108 Unidade III Essa velocidade é decorrente do projeto do sistema logístico e devido à combinação atual do aumento das exigências competitivas; evolução na tecnologia das comunicações e transportes pode produzir ciclos de horas, apesar de que, de acordo com a natureza da operação, esse ciclo pode durar dias, meses e até anos. Pense em você como consumidor, a velocidade que você exige ao comprar um lanche num fast-food e ao comprar um apartamento na planta. Os tempos são totalmente diferentes, mas você deseja um rápido desempenho de ambos os ciclos. A velocidade é componente essencial da estratégia da maioria das operações na medida em que ciclos rápidos reduzem as necessidades de estoques, inclusive aqueles percebidos pelos clientes. No entanto, aumentar a velocidade normalmente significa um aumento apreciável do custo total. Desta forma a busca de uma melhor solução de compromisso na qual o valor da velocidade do serviço é percebido pelo cliente justifica os custos envolvidos. Consistência é a capacidade de manter constantes os ciclos do modo que foram projetados. A irregularidade nos tempos de ciclo é muitas vezes muito mais sentida negativamente pelos clientes do que o tempo em si. Variações no tempo de ciclos significam surpresas para os clientes e contratempos normalmente desagradáveis, que levam a adotar estoques de segurança e estratégias diversas que terão impacto nos seus custos. Esse aspecto é fundamental para que uma operação logística seja eficaz, os clientes notam esses fatos como pontualidade de entrega e valorizam muito esse aspecto. Flexibilidade é a capacidade dos sistemas logísticos de atender a alterações nos pedidos já colocados. O dinamismo e a volatilidade do ambiente de negócios atual levam muitas vezes nossos clientes a solicitar alterações naquilo que foi pedido, alterações como: modificação de acertosbásicos, por exemplo, endereço de entrega; mudança nos programas de vendas ou marketing; lançamentos de novos produtos; substituições de produtos defeituosos; interrupção de fornecimento; atendimento a clientes especiais; modificações no produto já dentro do sistema logístico e principalmente alterações de volume ou mix. Ser flexível é a alma da excelência logística. Lembrete Como visto anteriormente o termo mix significa pequenas variações dentro de um mesmo produto. Por exemplo: as camisetas produzidas por uma empresa têm cores e tamanhos diferentes. O mix delas é, portanto, a distribuição de um determinado volume nas cores e tamanhos existentes. Um programa de recuperação de falhas é necessário visto que falhas, por mais indesejáveis que sejam, irão ocorrer em qualquer sistema logístico por melhor que ele seja. Alternativas criadas contornam essas falhas com ciência do cliente ou não. Uma caixa extraviada no transporte deverá ser reposta com presteza através de um processo especial: burocracias, separações de material e transporte fora dos processos normais, para que sejam mais rápidos e não comprometam o serviço ao cliente. 109 GESTÃO DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA Confiabilidade do serviço é a capacidade da empresa executar todas as atividades do pedido corretamente, sem surpresas. Confiabilidade significa mais do que disponibilidade, e desempenho operacional envolve inúmeros outros fatores como embarques sem danos, documentação correta, entregas nos locais determinados etc. Aspecto importante é a disponibilização de informações. Os clientes detestam ser surpreendidos. Informar previamente problemas ocorridos previne o cliente, permitindo que ele se prepare para as consequências. Muitos clientes aceitam pedidos incompletos, desde que avisados com clareza e antecipadamente. A excelência em serviços logísticos é fazer tudo correto da primeira vez. Não adianta entregar a quantidade correta no local correto, se a documentação contiver erros, ou então se parte da carga estiver danificada ou então se houver atrasos. Tradicionalmente as empresas criavam indicadores para cada uma dessas dimensões, por exemplo, índice de pedidos entregues sem erros de documentação. Esse raciocínio traz um erro estatístico implícito. Suponha que a empresa controle quatro dimensões, todas elas com 99% de probabilidade de não ocorrer erros. A probabilidade total de não ocorrer erros será, portanto, de 0,99 x 0,99 x 0,99 x 0,99 = 0,9606 ou 96,06%. Isso significa que em cem pedidos, 96 estarão perfeitos, mas significa que quatro estarão com problemas. Atualmente destro dos conceitos de zero defeito ou seis sigmas isso pode não ser suficiente para um serviço logístico excelente. Isso leva a empresa a perseguir o pedido perfeito. As falhas mais comuns no atendimento logístico podem ser vistas no quadro a seguir: Quadro 7 – Falhas mais comuns nos pedidos Quantidades erradas (para mais ou para menos) Itens errados Atraso ou adiantamento na entrega Informações insuficientes ou incorretas (por exemplo, preços ou códigos promocionais) Modal de transporte errado Destino errado Documentação incorreta (por exemplo, conhecimento de carregamento, fatura) Itens danificados Carregamento/sequenciamento de carregamento incorretos Processamento incorreto de pagamento Fonte: Bowersox et al. (2014, p. 68). Nem sempre será possível oferecer a todos os clientes uma estratégia de zero defeito, mas a perseguição dessa estratégia levará a um nível de desempenho alto. 110 Unidade III A ideia de produzir pedidos perfeitos tem evidentemente um custo elevado, muitas vezes lastreado em altas estocagens, mas que pode ser minorado com o uso da tecnologia da informação, relacionamentos inovadores com fornecedores e clientes entre outras possibilidades. A combinação de disponibilidade, desempenho e confiabilidade forma um pacote que deve ser conhecido pelo cliente em termos de nível de atendimento oferecido. Esse nível, muitas empresas fixam por comparação com os concorrentes, mas é frequente que estratégia de serviço ao consumidor possa ser uma vantagem competitiva da empresa. Esse nível de atendimento ao cliente é mensurado através de padrões internos que devem ser cumpridos ou superados, visto que oferecer zero falha é algo nem sempre possível ou interessante. Exemplos desses padrões: atender aos pedidos em até 12 horas ou taxa de pedidos perfeita de 98%. Esses padrões serão acompanhados e balizaram o efetivo nível de serviço oferecido. 6.1.2 Satisfação do cliente Satisfazer o cliente é um conceito arraigado em marketing e significa basicamente atender as expectativas do cliente. O problema é como saber com exatidão quais são as expectativas dos clientes e de cada cliente na medida na enorme subjetividade contida nesse conceito. Quando um cliente faz negócios com um fornecedor ele tem uma série de expectativas, muitas delas, inclusive, controladas por indicadores internos, mas qual seria a natureza dessas expectativas? Bowersox et al. (2014) citam um estudo de Parasuraman, Zeithaml e Berry no qual são listados dez tipos de expectativas criadas pelos clientes. Mostramos as características dessas dez expectativas. Confiabilidade. A confiabilidade é um dos aspectos da plataforma de serviços básicos da empresa. Neste contexto, no entanto, ela se refere ao desempenho de todas as atividades, conforme prometido pelo fornecedor. Se este promete fazer uma entrega no dia seguinte ao pedido e a faz em 2 dias, ele é considerado não confiável. Se o fornecedor aceita um pedido de cem caixas de um produto, implicitamente ele está prometendo entregar as caixas. O cliente espera e só fica satisfeito com o fornecedor se todas as caixas são entregues. Os clientes julgam a confiabilidade considerando todos os aspectos da plataforma de serviços básicos. Portanto eles têm expectativas em relação a danos, acurácia da documentação etc. Capacidade de resposta. A capacidade de resposta se refere às expectativas dos clientes em relação à disposição e à capacidade de o fornecedor prestar um serviço imediato. Isso se estende para além da mera entrega e inclui questões relacionadas a uma rápida resposta a dúvidas e à solução de problemas. A capacidade de resposta é claramente um conceito orientado pelo tempo, e os clientes têm expectativas acerca da administração dos prazos de todas as interações. 111 GESTÃO DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA Acesso. O acesso envolve as expectativas do cliente relacionadas à facilidade de contato e de aproximação com o fornecedor. Por exemplo, é fácil fazer pedidos, obter informações acerca do estoque ou do status do pedido? Comunicação. Comunicação significa manter os clientes informados de modo proativo. Em vez de aguardar os questionamentos do cliente quanto ao status do pedido, os clientes têm expectativas relacionadas à notificação do status pelo fornecedor, especialmente quando surgem problemas com a entrega ou a disponibilidade. Os clientes não gostam de ser surpreendidos, e é essencial um aviso antecipado. Credibilidade. A credibilidade refere-se às expectativas do cliente de que as comunicações do fornecedor são, de fato, confiáveis e honestas. Embora seja questionável que fornecedores enganem seus clientes intencionalmente, a credibilidade também inclui a noção de integridade na comunicação necessária. Segurança. A segurança lida com os sentimentos de risco ou dúvida do cliente ao negociar com um fornecedor. Muitas vezes, os clientes fazem planos com base em sua previsão acerca do desempenho do fornecedor. Por exemplo, eles assumem riscos quando programam a produção e realizam as configurações de máquinas e linhas de produção em antecipação à entrega. Se os pedidos se atrasam ou chegam incompletos, seus planos têm de ser alterados. Outro aspecto da segurança lida com as expectativas do cliente de que suas negociações com um fornecedor serão confidenciais. Isso é especialmente importante em arranjos da cadeia de suprimentos, quando um clientetem um acordo de operação exclusivo com um fornecedor que também atende a seus concorrentes. Cortesia. A cortesia envolve a educação, a simpatia e o respeito do pessoal que tem contato com os clientes. Isso pode ser um problema especialmente incômodo, visto que os clientes podem ter contato com inúmeros indivíduos na organização, desde representantes de vendas até pessoal de serviço ao cliente e motoristas de caminhão. A falha de um indivíduo pode destruir os maiores esforços de todos os outros. Competência. A competência é julgada pelos clientes em cada interação com um fornecedor e, assim como a cortesia, pode ser problemática porque é percebida em todas as interações. Em outras palavras, os clientes julgam a competência dos motoristas de caminhão no momento das entregas; do pessoal dos depósitos quando os pedidos são verificados; do pessoal de serviço ao cliente quando precisa telefonar para a empresa; e assim por diante. A falha de um indivíduo em demonstrar competência afeta a percepção do cliente sobre a organização como um todo. Tangíveis. Os clientes têm expectativas acerca da aparência física de instalações, equipamentos e pessoal. Considere, por exemplo, um caminhão de entregas que está velho, danificado ou em condições ruins. Tais características tangíveis constituem pistas adicionais usadas pelos clientes como indicadores do desempenho total de uma empresa 112 Unidade III Conhecimento do cliente. Embora os fornecedores pensem em grupos de clientes e segmentos de mercado, os clientes pensam em si mesmos como únicos. Eles têm expectativas em relação aos fornecedores entenderem essa exclusividade e estarem dispostos a atender a seus requisitos específicos. Fonte: Bowersox et al. (2014, p. 70). Deve-se notar que avaliar as expectativas dos clientes é algo bem complexo, em especial porque o comportamento do cliente é diferente em cada um dos seus diferentes departamentos. Um fornecedor pode ser visto de uma forma pelo departamento de compras e de outra forma totalmente diferente pelo departamento de produção, na medida em que os departamentos criam expectativas a partir de diferentes necessidades. Apesar das dificuldades, focar nas expectativas dos clientes é um passo além de oferecer simplesmente um serviço ao cliente de excelência. Pode inclusive se tornar vantagem competitiva para a empresa. Atender às expectativas dos clientes não significa fazê-los felizes e garantir a fidelidade deles, isso porque atender às expectativas é uma comparação entre o que o cliente espera e o que realmente acontece. Assim, se ele espera um serviço de média qualidade e o fornecedor entrega um serviço de média qualidade, a expectativa é atendida e ele estará satisfeito, mas não obrigatoriamente feliz com o serviço. Suponha que um determinado fornecedor entrega a seu cliente material com um lead-time previsto de 10 dias. Fornecimento após fornecimento o prazo é atendido, muitas vezes no último momento, mas atendido. O cliente certamente estará satisfeito visto que a expectativa está batendo com a realidade, mas não obrigatoriamente feliz. Esse prazo, por exemplo, aumenta seus estoques. Caso outro fornecedor concorrente ofereça um lead-time de 5 dias e o cumpra no prazo, o cliente mudará rapidamente de fornecedor, para o que o deixará mais feliz. Assim atender às expectativas garante a satisfação do cliente, mas não sua felicidade e fidelidade. 6.1.3 Sucesso do cliente A filosofia e a estratégia do serviço ao cliente consistem basicamente em respeitar padrões internos, colocando os mais elevados possíveis. Já o foco na satisfação do cliente é atender às suas expectativas. Uma terceira abordagem é alinhar a estratégia logística com os requisitos do cliente. Focar no sucesso dele. Atualmente o sucesso das empresas passa muito pela relação com clientes diferenciados no mercado e com a obtenção de grande participação nos fornecimentos a eles. Para as empresas, é interessante fornecer para aquelas que têm grande sucesso, porque esse sucesso sustentará negócios a médio e longo prazo, e tendo grande participação nos fornecimentos terá uma operação mais nobre e facilitada. Atender às expectativas do cliente pelo seu caráter relativo pode não ser o suficiente para o sucesso da empresa, atender aos reais requisitos dos clientes provavelmente contribuirá para esse sucesso. Por exemplo, suponha que determinado fornecedor tenha um nível de atendimentos perfeitos 113 GESTÃO DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA de 98%, isso atende às expectativas do cliente, que consequentemente fica satisfeito, mas talvez para ter um maior sucesso no ambiente competitivo, precisaria receber um atendimento de 100%. O fornecedor, elevando esse nível de atendimento para 100%, estaria contribuído diretamente para o sucesso do cliente, beneficiando-se consequentemente com isso. Evidentemente, para atender os requisitos do cliente, é necessária uma relação muito mais íntima entre fornecedor e cliente, possivelmente não será possível para a maioria dos clientes de uma empresa, mas na medida em que isso for possível, as relações na cadeia de suprimentos agregarão valor que será certamente percebido pelo consumidor final, tornando-a mais competitiva. A percepção do valor agregado pelo cliente possibilitará, possivelmente, trabalhar com preços que justifiquem os maiores custos logísticos, inevitáveis quando se aumenta o grau de comprometimento. Resumo Apresentamos uma abordagem gerencial e operacional da gestão dos serviços ao cliente. Esse tema teve grande enfoque porque cumpre uma das mais importantes finalidades dos processos logísticos: a entrega dos produtos e serviços aos clientes de forma a satisfazer as suas necessidades. Fizemos um estudo de marketing visando ao entendimento de como, para quem e por quanto oferecer serviços e produtos aos clientes. Além disso, analisamos a relação entre os custos e os níveis de serviços oferecidos para estabelecer uma relação de custo versus benefícios aos clientes. 114 Unidade III Exercícios Questão 1. Em relação ao marketing, à logística e à integração entre eles, analise as afirmativas. I – A eficiência na logística não é a única competência que contribui para o sucesso de uma empresa, mas ela é fundamental para o bom atendimento ao cliente. II – O elo formado entre a logística e o marketing é importante para que as necessidades dos clientes sejam conhecidas e atendidas. III – Os serviços logísticos e de marketing articulam-se em vários âmbitos, com exceção de aspectos que envolvem o mix de marketing. Com base na análise, assinale a alternativa correta: A) Apenas a afirmativa I é correta. B) Apenas a afirmativa II é correta. C) Apenas a afirmativa III é correta. D) Apenas as afirmativas I e II são corretas. E) Todas as afirmativas são corretas. Resposta correta: alternativa D. Análise da questão O sistema de logística integrada é formado pelas funções marketing e serviços ao cliente. Assim, os serviços logísticos e de marketing estão ligados pelo mix (ou composto) de marketing, formado pelos chamados 4 Ps: produto, preço, promoção e praça. A logística é responsável pela colocação, no local certo, do produto correto, no tempo certo. Logo, trata-se de uma área fundamental para o bom atendimento ao cliente. Questão 2. Bowersox et al. (2014) consideram que as utilidades econômicas enumeradas a seguir são agregadoras de valor aos produtos e serviços: • forma do produto; • desejo de propriedade; • tempo e lugar. 115 GESTÃO DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA Em relação a essas utilidades, avalie as afirmativas: I – A forma do produto é, preponderantemente, oriunda da função produção. II – O desejo de propriedade é gerado pela função marketing. III – O tempo e o lugar são parâmetros vindos da função logística. É correto o que se afirma em: A) I, apenas. B) II, apenas. C) III, apenas. D) I e II, apenas. E) I, II e III. Resposta correta: alternativa E. Análise das afirmativas I – Afirmativa correta.Justificativa: segundo Bowersox et al. (2014), a forma do produto é, majoritariamente, criada pelas operações de manufatura (pela função produção). II – Afirmativa correta. Justificativa: segundo Bowersox et al. (2014), o desejo de propriedade é gerado pelo marketing quando essa função: • informa a respeito da existência do produto ou serviço e das suas características; • mostra as condições de comercialização. III – Afirmativa correta. Justificativa: segundo Bowersox et al. (2014), o tempo e o lugar são utilidades providas pela logística.
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