Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Diarreias agudas da infância Stephanie Soares M7 O que são diarreias agudas? É a eliminação anormal de fezes amolecidas/líquidas com uma frequência anormal maior ou igual a três vezes por dia e duração de até 14 dias. Se passar de 14 dias, denomina-se diarreia persistente. Disenteria: Diarreia com a presença de sangue e/ou leucócitos nas fezes, podendo vir acompanhada de dor. Tipos de diarreias: O robbins classifica a diarreia em 4 categorias: 1. Diarreia secretora é caracterizada por fezes isotônicas e persiste durante o jejum. 2. Diarreia osmótica, tal como aquela que ocorre com deficiência de lactase, é devida às forças osmóticas exercidas por solutos luminais não absorvidos. O líquido diarreico tem concentração de mais de 50 mOsm em comparação ao plasma, e a condição diminui com o jejum. 3. Diarreia disabsortiva causada pela absorção inadequada de nutrientes está associada a esteatorreia e é aliviada por jejum. 4. Diarreia exsudativa é causada por doença inflamatória, caracterizada por fezes purulentas, sanguinolentas, que continuam durante o jejum. Já a SBP determina que são de dois mecanismos: 1. Diarreia osmótica: mecanismo de produção no qual o conteúdo do lúmen exerce uma força osmótica em relação ao meio interno. Dessa forma, os agentes infecciosos que atingem porções mais apicais das vilosidades intestinais (delgado) podem provocar alterações anatômicas e ou funcionais da mucosa intestinal (como a redução das enzimas das microvilosidades do enterócito na borda estriada, tendo como exemplo as dissacaridases como a lactase). Assim, o açúcar não absorvido se acumula no lúmen intestinal provoca o afluxo de água e eletrólitos, e, uma vez no intestino grosso, sofre metabolização bacteriana formação de partículas menores e na produção de ácidos orgânicos (acético, butírico, lático, propiônico) e gases (H2+, CO2- e metano) elevação ainda maior da osmolalidade do conteúdo luminal. Diarreias agudas da infância Stephanie Soares M7 A produção de gases promove distensão abdominal, aumento dos movimentos peristálticos e dos ruídos hidroaéreos. 2. Diarreia Secretora: O mecanismo secretor ocorre quando há aumento da secreção ativa de ânions, principalmente do Cl- e HCO3-, pelas células das criptas do intestino delgado. Geralmente ocorre pela colonização de alguma enterotoxina. Assim, após a colonização no intestino, algumas bactérias, como a V. cholerae, produzem enterotoxinas que promovem o aumento intracelular de mediadores de secreção intestinal, a adenosina monofosfato cíclico (AMPc), a guanosina monofosfato cíclico (GMPc) e o Ca++. O aumento de AMPc e GMPc é promovido pelas enzimas localizadas na membrana basolateral do enterócito, a adenilatociclase e a guanilatociclase, respectivamente, após serem ativadas pelas toxinas bacterianas. aumento dos mediadores da secreção ativa as proteinocinases, promovem a desestabilização das proteínas da membrana celular consequência, ocorre a abertura dos canais do Cl-, afluxo desses íons para a luz intestinal, seguindo-se o Na+ e a água. Diarreias agudas da infância Stephanie Soares M7 Diarreias agudas da infância Stephanie Soares M7 Como abordar uma criança com diarreia aguda? 1. Faça uma anamnese bem detalhada 2. Fique atento aos sintomas, pois a criança pode apresentar febre, vômitos, dores abdominais, perda ou diminuição do apetite, redução do volume urinário 3. Quanto menor a idade e maior o comprometimento do estado nutricional, maior será a gravidade do episódio diarreico. 4. Desidratação e desnutrição são as 2 complicações mais frequentes. A desidratação resulta de um desequilíbrio entre o déficit hidrossalino provocado pela infecção intestinal e a oferta de água e eletrólitos. 5. A desnutrição pode ser secundária à perda entérica aumentada, aos vômitos, ao aumento do consumo calórico e do catabolismo nitrogenado, à diminuição do apetite, ao jejum prolongado e à oferta de dietas de baixo conteúdo calórico. Diagnóstico: Em sua grande maioria, os casos de diarreia aguda são autolimitados e a reposição de água e eletrólitos é, na quase totalidade dos episódios, o tratamento fundamental, independentemente do agente envolvido. Desse modo, a solicitação de exames complementares tem sua indicação reservada a casos especiais que envolvem lactentes muito jovens, desnutridos graves, imunodeprimidos. Exames solicitados: • Parasitológico das fezes e coprocultura, para a determinação de parasitas e bactérias patogênicas, respectivamente; • pesquisa de vírus nas fezes, detectados usualmente por métodos imunoenzimáticos como o ELISA; • pH fecal e pesquisa de substâncias redutoras, que têm baixa acurácia para determinar o mecanismo fisiopatológico predominante do processo diarreico. • A presença de grande quantidade de leucócitos nas fezes pode evidenciar reação inflamatória do intestino grosso (colite), decorrente diretamente da presença local de enteropatógeno ou indiretamente pelos seus efeitos fisiopatológicos. Tratamento: O objetivo fundamental do tratamento da doença diarreica aguda é prevenir a desidratação pela reposição das perdas fecais de água e eletrólitos, restabelecendo o equilíbrio hidreletrolítico do paciente até que o processo diarreico evolua para cura, assim como proporcionar um aporte proteico-calórico suficiente para impedir a instalação ou o agravo da desnutrição. Após o exame físico da criança, ela pode ser classificada em 1 das 3 possibilidades a seguir: a) a criança apresenta diarreia e não apresenta sinais clínicos de desidratação; b) criança com sinais de desidratação; c) criança com desidratação grave. Segundo essa classificação, a criança é então incluída nos planos A, B ou C da terapia de reidratação. 1. Plano A: o objetivo é manter o estado de hidratação e prevenir Diarreias agudas da infância Stephanie Soares M7 sua desidratação. A reparação e/ou reposição hidrossalina devem ser iniciadas precocemente; se possível, pesar a criança despida. Se não está desidratada, é incluída no plano A. 2. Plano B: Caso o paciente apresente algum grau de desidratação também perda de peso em curto período, deve-se estabelecer o plano B de hidratação: a reidratação oral, bem-sucedida na grande maioria dos pacientes. Para corrigir a desidratação, oferecem-se os sais de reidratação em volume de 50 a 100 mL/kg, que pode ser administrado em pequenos intervalos de tempo, em um período de 4 a 6 horas. 3. O plano C: deve ser também empregado de imediato na criança que chega gravemente desidratada, com alterações no estado de vigília, com toxemia, comatosa, hipotônica, ou com outros sinais de hipovolemia e hipoperfusão tecidual graves. Incapacidade de ingestão oral, íleo adinâmico, sinais sugestivos de septicemia ou concomitância de infecções graves são, da mesma forma, indicações para a reidratação venosa. Os probióticos podem ser úteis para reduzir a gravidade e a duração da diarreia aguda infecciosa infantil, abreviando em cerca de 1 dia a sua duração, principalmente nas diarreias de etiologia viral. Os antiperistálticos, como a loperamida, não são recomendados para tratar crianças, pois aumentam a gravidade e as complicações da doença, particularmente em crianças com diarreia invasiva. As evidências são maiores com o Sacaromices bulardi e Lactobacillus GG. A racecadotrila é uma droga antissecretora que inibe a encefalinase intestinalsem reduzir o transito intestinal ou promover o supercrescimento bacteriano. A medicação reduz a duração da diarreia e o volume de fezes. Os estudos recentes de metanálises apoiam o uso da racecadotrila, associado à SRO, para a conduta terapêutica da diarreia aguda em crianças. Os quadros de diarreia aguda em geral são autolimitados e, portanto, o uso racional de antibióticos evita o aparecimento de complicações, bem como de resistência bacteriana, sendo excepcionalmente indicados. Os antimicrobianos são indicados para os casos mais graves: na diarreia com sangue, nos pacientes imunodeprimidos e em lactentes jovens, menores de 4 meses; sua escolha deve se basear nos padrões de sensibilidade das cepas dos patógenos presentes na localidade ou região. Os antimicrobianos de escolha para os principais agentes bacterianos e parasitários são: • cólera: azitromicina, ciprofloxacino; • Shigella: azitromicina, ceftriaxona e ácido nalidíxico; • ameba invasiva (presença de hematófago em microscopia de fezes ou disenteria sem outro patógeno): metronidazol seguido do uso da nitazoxanida para a total eliminação dos cistos. A nitazoxanida é um antiparasitário eficaz para o tratamento da diarreia provocada por parasitas como Giardia lamblia, Entamoeba hystolitica e Cryptosporidium parvum. Alguns estudos têm demonstrado a ação da nitazoxanida reduzindo a replicação do rotavírus no hospedeiro; • giardíase: metronidazol, tinidazol, secnidazol; Diarreias agudas da infância Stephanie Soares M7 • Campylobacter: azitromicina, ciprofloxacino; • E. coli enteropatogênica, enterotoxigênica e invasiva: ciprofloxacino, ceftriaxona; • Clostridium difficile: metronidazol, vancomicina. Fique atento aos: osmorreceptores comuns do intestino no caso do mecanismo osmótico. Lembre que a diarreia é uma doença comum e recorrente na infância, e, quando não tratada, pode levar ao óbito.
Compartilhar