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CURRÍCULOS DE GEOGRAFIA Autoria: Sidelmar Alves da Silva Kunz UNIASSELVI-PÓS Indaial - 2019 1ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jóice Gadotti Consatti Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2019 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. K96c Kunz, Sidelmar Alves da Silva Currículos de geografia. / Sidelmar Alves da Silva Kunz. – In- daial: UNIASSELVI, 2019. 125 p.; il. ISBN 978-85-7141-416-7 ISBN Digital 978-85-7141-417-4 1. Geografia - Currículos. - Brasil. II. Centro Universitário Leon- ardo Da Vinci. CDD 372.19 Impresso por: Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 A Construção do Saber Geográfico: Ideologias Geográficas e o Ensino e Aprendizagem de Geografia Escolar ......................................... 7 CAPÍTULO 2 O Ensino de Geografia e o Papel do Estado: os Elementos Normativos Que Compõem a Construção de um Currículo ................................................... 43 CAPÍTULO 3 A Construção de um Currículo: A Bncc e as Novas Possibilidades, Tendências Didáticas e Pedagógicas Previstas Para o Ensino De Geografia .......... 87 APRESENTAÇÃO A Geografia possui seu campo de saber dentro do rol das ciências humanas e, como tal, é estruturada por conceitos, temas, métodos, teorias, correntes de pensamento e paradigmas epistemológicos. A partir desta perspectiva, da exis- tência do escopo teórico e metodológico do pensamento geográfico é que são apresentados os objetivos para este livro, que trata especificamente da questão dos Currículos de Geografia. A estruturação de uma orientação curricular para a ciência geográfica deve, portanto, levar em consideração tais aspectos. O caminho, portanto, inverte-se em direcionamento, para que os objetivos propostos neste livro sejam alcança- dos. Se a atual proposta do Estado brasileiro se estrutura entorno da Base Nacio- nal Comum Curricular a BNCC, então é preciso que façamos um caminho que nos leve à construção deste novo currículo. E, mais do que nos debruçarmos sobre a BNCC, é importante que realizemos uma apreciação mais detalhada dos elementos constitutivos das competências, habilidades e conteúdos presentes para a Geografia, de modo a identificar quais foram as influências teóricas e metodológicas que serviram de fundamento para a apresentação desta proposta de um novo currículo para o ensino da ciência ge- ográfica em âmbito nacional. Por esta razão, observa-se uma linha de agregação de novos elementos a este questionamento e análise, conforme caminhamos ao longo dos capítulos deste livro, iniciando nas referências ideológicas do pensa- mento geográfico, passando pela concepção de currículo e normatização escolar por parte do Estado para então chegarmos, de fato, a análise da BNCC para o Ensino Básico da Geografia escolar. Seguindo, desta maneira, o que já foi exposto em relação ao caminho a ser trilhado até chegarmos na BNCC para a Geografia, temos o primeiro capítulo deste livro, intitulado “A construção do saber geográfico: ideologias geográficas e o ensino e aprendizagem de Geografia escolar” no qual serão trabalhadas as ideologias geográficas e o seu impacto e influência no ensino e aprendizagem da Geografia escolar. Para que tal discussão alcance os seus objetivos, deve-se pautar o debate ao redor das categorias, temas e conceitos do pensamento ge- ográfico, ao mesmo tempo em que é necessário que haja uma contextualização didático e pedagógica deste arcabouço teórico no cerne do processo de ensino e aprendizagem da Geografia. Somente a partir deste movimento, entre a teoria e metodologia e a didática e aprendizagem, é que poderemos chegar à construção de uma Geografia escolar. No segundo capítulo “O ensino de Geografia e o papel do Estado: os ele- mentos normativos que compõem a construção de um currículo” a atenção se volta para a relação entre a construção do currículo, o ambiente escolar e a pre- sença das normatizações didático-pedagógicas propostas pelo aparelho estatal. Este quadro geral será especificado pela análise no recorte da Geografia escolar, especialmente no que se refere às dimensões curriculares, habilidades, compe- tências e direcionamentos das aprendizagens e conhecimentos geográficos exigi- dos na construção das propostas curriculares do Ensino Básico. Como fechamento do livro, no terceiro capítulo “A construção de um currículo: a BNCC e as novas, possibilidades, tendências didáticas e pedagógicas previstas para o ensino de Geografia”, há a questão da BNCC, que é a mais atual proposta estatal voltada para uma orientação curricular do Ensino Básico brasileiro. Neste sentido, apresentar-se-ão algumas das prerrogativas conceituais, instrumentais e metodológicas para o ensino geográfico em particular, e para as ciências huma- nas como um todo. Ressalta-se, desta forma, que a BNCC possui como ponto de partida uma visão holística e dialógica entre os saberes, de modo a trazer um currículo à luz da interdisciplinaridade, principalmente quando há pontos de convergência entre ciências de campos de estudos correlatos, formando trilhas didático-pedagógicas com múltiplas vias de acesso pelos diferentes componentes curriculares desta nova base. A Geografia se enquadra nesta proposta como das principais ciências a parti- lhar pontos de tangenciamento discursivo e metodológico em sua chegada ao am- biente escolar, um dos principais pontos que precisamos retomar quando pensamos em uma proposta curricular para a ciência geográfica, ou seja, colocar em pauta a formação do profissional de educação formado no cerne geográfico sem deixar que esta formação deixe de tecer aproximações com as demais áreas do saber científi- co que comporá os currículos a serem trabalhados na sala de aula. Sidelmar Alves da Silva Kunz CAPÍTULO 1 A Construção do Saber Geográfico: Ideologias Geográficas e o Ensino e Aprendizagem de Geografia Escolar A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Estabelecer conexões entre os conceitos e pensamentos das diferentes geográficas com os saberes e conteúdos presentes e exigidos na Geografia escolar. � Conhecer e reconhecer as diferentes correntes e ideologias geográficas e como suas visões a respeito desta ciência foram transpostas para o ensino da Geografia. � Enriquecer a formação docente no sentido de obter maiores conhecimentos teóricos, metodológicos e epistemológicos a respeito de sua área de formação, e como repassar tais conhecimentos aos desafios do ensino e aprendizagem escolares. 8 Currículos de Geografia 9 A Construção do Saber Geográfico: Ideologias Geográficas e o Ensino e Aprendizagem de Geografia Escolar Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Antes que façamos uma análise das novas propostas curriculares para o en- sino de Geografia é preciso um passo de observação e perscrutação sobre esta ciência. Conseguiremos chegar a uma compreensão mais bem fundada da Geo- grafia escolar ao elencar e compreender os meandros historiográficos, alguns dos principais suportes e fundamentos epistemológicos e as conexões destas funda- mentações com as tendências pedagógicas vigentes e pretéritas. Esta observação e organização sintética do pensamento geográfico é o que será apresentado neste capítulo, para assim chegarmos à discussão sobre o ensi- no, a aprendizagem e as propostas curriculares para a Geografia.As ciências possuem seus desdobramentos discursivos, de pensamento e desenvolvimento de seus referenciais teóricos e metodológicos. Com a Geografia não seria diferente, e é de fundamental importância que os profissionais da edu- cação que atuam com a formação geográfica, básica ou superior, apropriem-se deste escopo epistemológico, de maneira que ele sirva como aporte instrumental e de reflexão em sua prática docente. Observaremos neste capítulo que a base conceitual e categorial da Geogra- fia permite que o acadêmico desta área do conhecimento construa uma sólida fundamentação de sua ciência. Ter conhecimento da diversidade de conceitos, dos princípios lógicos, dos encontros e desencontros da historiografia científica e filosófica que permeiam a ciência geográfica vem ao em encontro desta retomada do aperfeiçoamento formativo tão caro aos profissionais da educação. Somente a partir do momento em que estes alicerces conceituais e históricos estiverem bem-dispostos é que poderemos refletir sobre uma epistemologia do ensino geográfico ou da Geografia escolar. E este é o ponto no qual o capítulo de entrada deste livro se volta, ou seja, atentar-se e demonstrar aos acadêmicos da Geografia o panorama pretérito e contemporâneo de sua ciência é sumário para o seu diálogo constante e necessário também com sua formação didático pedagó- gica, formando uma rede de conexões, composições e justaposições essenciais para o entendimento da formação discente e docente em Geografia, evidenciado no fechamento deste livro quando chegarmos ao debate da construção do currí- culo desta ciência. 10 Currículos de Geografia 2 O SABER GEOGRÁFICO: CATEGORIAS, CONCEITOS E TEMAS DA GEOGRAFIA A Geografia, assim como outras ciências, possui um escopo epistemológico, a partir do qual seu discurso, método, metodologias, práticas e correntes de pensamento se desmembram em múltiplas aplicações de conceitos, em análises ou sínteses da natureza e sociedade. Esta aparente dualidade de áreas do pensamento geográfico o acompanha, complemente e coloca em o constante debate, especialmente quando pensamos nas grandes especializações que a Geografia vem passando nas últimas décadas, favorecendo muito mais uma cisão e afastamento que o uma aproximação e diálogo entre as denominadas Geografias Física e Humana. FIGURA 1 - MÚLTIPLAS GEOGRAFIAS FONTE: <https://pixabay.com/pt/photos/globos-esferas-mapas- bola-mundo-1246245/>. Acesso em: 20 abr. 2019. No entanto, independente do curso de desenvolvimento teórico trilhado pelas múltiplas geografias que conhecemos, uma coisa permanece: a presença da pre- missa categorial da espacialidade. Temos, então, o espaço como categoria primeira e basilar do pensamento geográfico e, a partir desta, o desmembramento conceitual 11 A Construção do Saber Geográfico: Ideologias Geográficas e o Ensino e Aprendizagem de Geografia Escolar Capítulo 1 tão caro à Geografia por meio do lugar, território, paisagem e região. Vejamos, a seguir, um breve aprofundamento a respeito de cada um destes conceitos advindos da categoria espaço, fundamento epistemológico primário da Geografia. A categoria diz respeito à agregação de sentidos múltiplos que um objeto ou fenômeno podem receber, seja em sua concretude ou abstração. Uma categoria, desta forma, reverte em si a complexidade de diversas possibilidades de desdobramento e aplicações de pen- samento e método. Os conceitos são desmembramentos categoriais, assim como os princípios lógicos. Toda ciência possui tanto catego- rias primárias como miríades de princípios e conceitos que compõem o seu escopo epistemológico. E, tanto a categoria como os conceitos e princípios possuem diferentes modulações espaciais e temporais, pois representam os contextos de suas concepções e usos, refletin- do a sociedade e os discursos científicos em que estão inseridos. Podemos organizar a epistemologia do pensamento geográfico com base em uma categoria primária e fundamental, que é o espaço, e seus conceitos- chave, desmembrados desta referência categorial, que são o território, o lugar, a paisagem e a região. Vejamos, separadamente, as principais características de cada uma destes referenciais epistemológicos, e metodológicos, do pensamento geográfico (CALLAI, 1995; CASTELLAR, 2005; PONTUSCKHA et al., 2007). QUADRO 1 – REFERENCIAIS EPISTEMOLÓGICOS E METODOLÓGICOS DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO Referenciais Principais características Espaço O espaço pode ser considerado a categoria maior do pensamento geográfico. Por agre- gar em si todos os demais conceitos e princípios da Geografia o espaço assume um protagonismo teórico ímpar. Quando pensamos em quaisquer referenciais geográficos sempre haverá, de forma inerente, a presença da espacialidade, já que há uma ligação direta da ciência geográfica com seu objeto de estudo, que é o espaço, seja na elabo- ração de metodologias de análises ou na composição de discursos epistemológicos em diferentes correntes de pensamento, ideologias de escolas geográficas e nas matrizes paradigmáticas presentes no processo de desenvolvimento da própria Geografia. O espaço, portanto, seja aquele mais próximo dos aspectos naturais e físicos, ou mais conectado com as características culturais e históricas, contém e fundamenta todo o escopo teórico e metodológico do pensamento geográfico. 12 Currículos de Geografia Território Este conceito está ligado a dois pontos ora distintos ora complementares. De um lado há as relações de poder que podem ser encontradas e estudadas no espaço geográ- fico. O controle, domínio, disputas, encontros e choques dos interesses e poderes na espacialidade definem o território, em estabelecimento de fronteiras, expansão ou re- tração de limites espaciais, estabelecimento de referenciais de apoderamento ao local em que se vive, em detrimento de outro grupo que ali também pode viver etc. O outro aspecto ligado ao conceito-chave geográfico território é sua proximidade com a ideia de lugar, quando a identidade e o sentido do habitar faz parte da totalidade da presen- ça humana numa determinada espacialidade, sendo utilizado, inclusive, a denomina- ção de “territorialidade” para esta característica identitária comum, por exemplo, em histórias de formação territorial de diferentes povos e nações. Lugar O conceito-chave mais ligado à questão da identidade, sendo muito explorado na corrente geográfica de pensamento conhecida como Geografia Cultural ou Humanista. Além desta relação com o a significação do espaço o lugar obteve importante protagonismo conceitual na vertente mais crítica do pensamento geo- gráfico contemporâneo, pelo fato de poder ser utilizado como pêndulo escalar ao movimento de globalização e os fluxos produtivos do mercado mundial. O local e o global, desta forma, receberam (e ainda recebem) atenção em tais linhas de estudos geográficos, assim como a questão do lugar mais próximo da ligação afetiva e simbólica com o espaço, também com grande perenidade científica em discursos, teorias e metodologias geográficas. Paisagem Este conceito-chave da Geografia possui sua importância para esta ciência desde o surgimento o seu surgimento. Sua ideação aproxima-se de um recorte imagético do meio, compondo-o em seus diferentes elementos, em sobreposição, justaposi- ção ou mesclagem, originando as diversas paisagens que conhecemos. Antes de se configurar como um campo científico estabelecido era a paisagem que congregava os estudos geográficos, normalmente aproximando mais de uma abordagem mais descritiva e não analítica - elencando os elementos, tanto naturais como sociais do espaço. Durante a passagem das décadas, a partir do início do século XX, a pai- sagem recebeu maior protagonismo, inicialmente no possibilismo francês e, poste- riormente, ganhando notoriedade na Geografia Cultural, em novas interpretações e aplicações deste conceito em diferentes morfologias da paisagem. Região A região, assimcomo os demais conceitos-chave da Geografia, perpassou por dife- rentes correntes geográficas de pensamento. De modo geral a região é o conceito que podemos estabelecer limites epistemológicos mais claros, já que sua comple- xidade se dá pela diferenciação entre a região e regionalização. Desta forma, a re- gião é já o recorte espacial estabelecido, de acordo com algum critério específico, elegido como tal a partir do interesse econômico, político, científico, cultural a que se deseja dividir determinada porção do espaço. Do outro lado há a regionalização, que é, sempre, um processo, um movimento contínuo de busca pela melhor divisão do espaço para se chegar a uma integração mais aprimorada da sua diversidade como ocorre, por exemplo, nas diferentes propostas regionais de países, estados e cidades, que precisam passar constantemente por atualizações. FONTE: O autor 13 A Construção do Saber Geográfico: Ideologias Geográficas e o Ensino e Aprendizagem de Geografia Escolar Capítulo 1 Percebemos que há grandes diferenciações entre os conceitos-chave do pensamento geográfico e de como o espaço, como categoria mestra da Geografia perpassa todos os eles, assim como nos princípios do raciocínio geográfico. Os princípios e postulados geográficos também podem ser localizados nestes refe- renciais teóricos como a circulação, os fluxos, os objetos espaciais, a dinâmica de produção e uso de recursos etc. Veremos, no decorrer deste capítulo que a partir da apropriação deste ins- trumental teórico o professor agrega valor pedagógico à sua prática docente, ao mesmo tempo em que se coloca em desafio de levar toda esta riqueza e espes- sura conceitual para o ambiente escolar. A Geografia escolar precisa se pautar na referencial base de sua ciência de origem, um caminho a ser trilhado pelos profis- sionais da educação geográfica. Atividade de Estudo 1 Assista ao seguinte vídeo no YouTube <https://www.youtube.com/ watch?v=QEYqoH4sZ5I>, que se trata de uma entrevista do pro- fessor Aziz Nacib Ab’Sáber promovida pelo Programa Roda. Em seguida, disserte sobre a importância do conhecimento científico da geografia em face das profundas mudanças na realidade. R.:____________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Em concordância e concomitância com esta exigência da apropriação epis- temológica por parte dos professores é que a BNCC de Geografia elenca alguns princípios do raciocínio geográfico, todos relacionados tanto com a espacialida- de categorial como seus desdobramentos conceituais, ressaltando ainda mais o papel de preencher a prática pedagógica cotidiana com o fundamento teórico da ciência geográfica, conforme podemos observar no quadro a seguir 14 Currículos de Geografia QUADRO 2 - PRINCÍPIOS DO RACIOCÍNIO GEOGRÁFICO Princípio Descrição Analogia Um fenômeno geográfico sempre é comparável a outros. A identificação das semelhanças entre fenômenos geográficos é o início da compreensão da unidade terrestre. Conexão Um fenômeno geográfico nunca acontece isoladamente, mas sempre em interação com outros fenômenos próximos ou distantes. Diferenciação É a variação dos fenômenos de interesse da geografia pela superfície terrestre (por exemplo, o clima), resultando na diferença entre áreas. Distribuição Exprime como os objetos se repartem pelo espaço. Extensão Espaço finito e contínuo delimitado pela ocorrência do fenômeno geográfico. Localização Posição particular de um objeto na superfície terrestre. A localização pode ser absoluta (definida por um sistema de coordenadas geográficas) ou relativa (expressa por meio de relações espaciais topológicas ou por interações espaciais). Ordem Ordem ou arranjo espacial é o princípio geográfico de maior complexidade. Refere-se ao modo de estruturação do espaço de acordo com as regras da própria sociedade que o produziu. FONTE: BNCC (BRASIL, 2017, p. 358). Considerando a Geografia como uma ciência dinâmica que visa conhecer o espaço geográfico em suas distintas escalas, para se ter melhor compreensão dos princípios do raciocínio geográfico, indicamos assistir ao seguinte vídeo: “Princípios da Geografia” do canal Curta Geografia, no YouTube. Disponível em: <https://www. youtube.com/watch?v=kUJ0H525myA>. Cada um destes princípios dialoga entre si e com a espacialidade categorial do pensamento geográfico além, é claro, de trazerem consigo diferentes possibili- dades de análise e síntese dos conceitos e temas da Geografia. Princípios como extensão e circulação, por exemplo, são facilmente passíveis de uso em campos da Geografia em relação com economia ou ocupação do espaço, de modo a cor- relacionar o movimento de mercadorias e pessoas no território. Aplicados à realidade escolar, permitem que o estudante adquira um instru- mental de compreensão das transformações naturais e sociais da realidade que 15 A Construção do Saber Geográfico: Ideologias Geográficas e o Ensino e Aprendizagem de Geografia Escolar Capítulo 1 o cerca. “Alguns princípios precisam ser discutidos se quisermos que o professor se constitua em pesquisador: domínio do conhecimento geográfico a ser ensinado e dos caminhos teórico-metodológicos existentes para trabalhar sua disciplina e a necessidade da colaboração das diferentes disciplinas para a compreensão da complexidade do mundo” (PONTUSCHKA; PAGANELLI; CACETE, 2007, p. 26). Importância da apropriação epistemológica pelos professores do Ensino Básico: A formação de professores deve se pautar na apro- priação das bases históricas, teóricas e metodológicas de sua ciência formativa. Esta é uma condição mister para que tenhamos cada vez mais clareza na hora de propor currículos e pensar sobre a didática, o ensino e as aprendizagens das diferentes ciências e saberes. Os saberes e conhecimentos da academia precisam chegar às salas de aula. Esta “tradução” será feita pelos professores das diferentes áreas. No caso da Ge- ografia o instrumental teórico do professor se coloca como ponto fundamental para realização deste processo: “O conhecimento produzido na universidade, funda- mentado em pesquisas de campo de laboratório e de bibliografia e dominado pelo professor, deve constituir instrumental teórico a ser elaborado, recriado, para trans- formar-se em saber escolar, ou seja, em saber a ser ensinado” (PONTUSCHKA; PAGANELLI; CACETE, 2007, p. 26-27). A Geografia possui grande fragmentação das explanações do seu objeto de estudo, ao mesmo tempo que traz consigo a riqueza de múltiplas possibilidades de representação do saber geográfico: No afã de descrever os lugares a Geografia na sala de aula é uma geografia que fragmenta a realidade, privilegia o natural em detrimento do humano e apresenta o espaço como algo produzido por forças naturais, sem incorporar o homem (a sociedade), o aluno como um ser que tem história, que tem uma trajetória de vida (desde a sua família), e que constrói neste processo um (o seu espaço) (CALLAI, 1995, p. 43) Ao professor de Geografia, tanto em nível básico como superior, cabe ter com clareza as aproximações e distanciamentos das definições deste referencial teórico da Geografia. Princípios, categorias, conceitos, temas, conteúdos, fatos e fenôme- nos, conteúdos, habilidades e competências curriculares, todos entremeados pela sociedade e a natureza; todos estes pilares do pensamento geográfico possuem sua rota de chegada à sala de aula e à formação do professor de Geografia. 16 Currículos de Geografia O passo inicial a ser dado é o da apropriação teórica e metodológica por parte dos professores de Geografia. Apósesta consciência epistemológica de seu labor didático e pedagógico haverá diversas maneiras de se buscar formas para que o conhecimento que representa, o geográfico, ser apresentado aos seus alu- nos, este é o desafio posto na chegada da ciência ao ambiente escolar. 3 CORRENTES DE PENSAMENTO E PARADIGMAS ACADÊMICOS DA GEOGRAFIA 3.1 OS PARADIGMAS DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO As ciências se desenvolvem por etapas, nichos acadêmicos de aprimora- mentos conceituais e por figuras históricas que representam frentes de aperfei- çoamentos de métodos e teorias. Estas grandes fases ou etapas de desenvolvi- mento do pensamento científico são chamados de paradigmas, que congregam diferentes elementos que fazem parte da historiografia científica e filosófica. FIGURA 2 - OS PARADIGMAS DA CIÊNCIA E DA GEOGRAFIA FONTE: <http://bit.ly/2BjdcsL>. Acesso em: 22 abr. 2019. 17 A Construção do Saber Geográfico: Ideologias Geográficas e o Ensino e Aprendizagem de Geografia Escolar Capítulo 1 Na Geografia temos também um cenário de etapas, fases e paradigmas de pensamento. Há momentos de reflexão, inflexões ou saltos epistemológicos, a depender da época que analisamos e observamos. Desde sua institucionaliza- ção como ciência no século XIX, a Geografia passou por diferentes momentos de avanços, recuos, redefinições, depurações ou sincretismos em seus postulados epistemológicos. Resgatar os principais representantes do legado historiográfico da ciência geográfica soma-se ao esforço de apropriação epistemológica mencionada na se- ção anterior deste capítulo. Identificar os elementos constituintes dos desdobra- mentos teóricos de sua ciência estabelece diante do cientista ou professor uma base segura do uso, importância e relevância dos saberes que ele possui e de como encontrará os melhores meios argumentativos, discursivos, sintéticos ou analíticos de apresentar tais passagens paradigmáticas aos seus estudantes. A Geografia, assim como as demais ciências, possui, portanto, um legado cultural dos seus temas, métodos e teorias. Por fazer parte de um todo maior e mais complexo, é preciso que façamos, sempre, um exercício de abertura e contextualização destes paradigmas no âmbito social e histórico, encontrando as influências e aspectos que determinaram o direcionamento destas diretrizes dos postulados de compreensão da realidade e do mundo, assim como nos alerta Lu- ckesi (2011, p. 175): O legado cultural da sociedade – conhecimentos, habilidades, valores, bens – constitui os conteúdos escolares, especialmen- te na sua vertente elaborada. A cultura cotidiana é aprendida e vivida espontaneamente no dia a dia; não necessita de uma in- tervenção intencional para ser adquirida. A cultura elaborada é complexa, coerente, consistente, orgânica, por isso necessita de um trabalho sistemático e intencional para ser assimilada e adquirida. Por ser assim, ela possibilita ao sujeito que a possui um patamar mais universal de compreensão do mundo, com possibilidades mais amplas de ação. Admitir que a ciência possui uma multiplicidade de caminhos de desenvol- vimento, com seus encontros e desencontros, colabora para que consigamos perscrutar suas características, avanços e recuos. Particularmente quando tra- tamos da Geografia, por se tratar de uma ciência que possui a sociedade na essência dos seus estudos, exige-se uma atenção redobrada para a observação dos principais acontecimentos e contextos nos quais suas teorias foram desen- volvidas e, também, nos recortes acadêmicos, de autores, obras e métodos, que suas correntes de pensamento emergiram como referenciais para as geografias de seus tempos. 18 Currículos de Geografia Um paradigma é formado por um conjunto de postulados, teorias, conceitos, princípios e fundamentos que, juntos, compõem uma corrente de pensamento de determinada ciência. Nas ciências exatas e biológicas há a presença do método científico de maneira mais contundente, estabelecendo a prova e contraprova como fronteira entre a vigência e importâncias dos seus paradigmas. Nas humanidades o discurso, as interpretações e remodelações reflexivas são determinadas pelo movimento de fatos e fenômenos contemporâneos é que estabelecem o alcance de suas teorias e remodelação de seus escopos teóricos e metodológicos. Os modelos paradigmáticos são postos e dispostos de maneira que possam representar uma grande quantidade de características de uso de conceitos, hipóteses, metodologias e teorias que justifiquem a sua identificação como fase ou período de uma determinada ciência. A Geografia Quantitativa ou Neopositivista e a Geografia Crítica e Radical formaram o principal ponto de distanciamento entre corren- tes de pensamento geográfico mais recentes. No entanto, ressalta- -se que muitos geógrafos críticos iniciaram suas carreiras em estu- dos de quantificação e, atualmente, a Geografia Crítica passa por um momento de revisionismo de seus postulados, de modo a resgatar a formação e conceituação de cunho mais sistemático e próximo da quantificação, como complementação aos seus métodos e estudos. No caso da Geografia, a diferenciação das matrizes paradigmáticas está rela- cionada a três fatores: o contexto histórico e geográfico no qual o paradigma surgiu e permaneceu dominante; o arcabouço epistemológico que permitiu o surgimento, expansão e aplicação dos métodos, categorias e pesquisas envolvendo a referên- cia teórica da hegemônica no período; e, por último, há a questão da abrangência destes paradigmas com relação ao seu alcance em diferentes escolas ou correntes de pensamento geográfico, pois muitas vezes não há um alcance que justifique o 19 A Construção do Saber Geográfico: Ideologias Geográficas e o Ensino e Aprendizagem de Geografia Escolar Capítulo 1 entendimento de demarcação para uma matriz paradigmática, especialmente em ciências que lidam com fatos e fenômenos relacionados à sociedade. Atividade de Estudo: 1 Assista ao seguinte vídeo: <https://www.youtube.com/watch?v=y MMnL6cZbHk&list=PLvVXA4osrGZQW7ed1r3EjKh-bfSNnZvrT>, que se trata de uma palestra do Professor Antônio Carlos Robert Moraes no Programa CPFL Cultura. Em seguida, disserte sobre o valor da fundamentação teórica com base na ciência geográfica para explicar o mundo contemporâneo. R.:____________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Para que possamos compreender melhor os grandes momentos e fronteiras do pensamento geográfico, organizamos um quadro no qual é possível observar a matriz paradigmática, pautada no critério do período em que a mesma esteve em evidência e protagonismo teórico, metodológico e discursivo, as correntes de pensamento da Geografia que surgiram a partir destras matrizes e, por fim, alguns dos principais autores que compõem ou fizeram parte destas correntes de pensamento. Observe o quadro a seguir, no qual podemos identificar as nomenclaturas, correntes, teóricos, categorias e conceitos-chave e autores de referência para as principais correntes do pensamento geográfico. 20 Currículos de Geografia QUADRO 3 - MATRIZES PARADIGMÁTICAS DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO Matriz Paradigmática Período Correntes de Pensamento Autores de Referência Geografia Tradicional ou Clássica Final do século XIX e início do século XX Geografia Geral e Regional Antropogeografia Determinismo Zoogeografia PossibilismoMonografias Regionais Alexander von Humboldt Carl Ritter Friedrich Ratzel Paul Vidal de la Blache Geografia Moderna Pós-Segunda Guerra Mundial Estudo das áreas Geografia dos sistemas Geografia Ativa Geossistemas Geografia Teorética Richard Hartshorne Alfred Hettner Walter Christaller Pierre George Raymond Gluglielmo Bernard Kayser Willian Bunge Viktor Sochava Georges Bertrand Speridião Faissol Antonio Christofoletti Geografia Contemporânea Final do século XX e início do século XXI Geografia Crítica Geografia Humanista/ Cultural Geografia Ambiental Yves Lacoste David Harvey José Willian Vesentini Milton Santos Yi-Fu Tuan Anne Buttimer Edward Relph Aziz Nacib Ab’Sáber Bertha Becker FONTE: O autor A Geografia, assim como outras ciências humanas, muitas vezes não possui muito claro quais são as suas fronteiras nas correntes de pensamento que fazem parte de seu desenvolvimento epistemológico. Desta maneira, é sempre bom ter em mente que podemos encontrar obras e autores em diferentes fases (especialmente em situações de passagem temporal) da história do pensamento da Geografia. Além das características expostas no quadro anterior, podemos apontar algumas características complementares a respeito destas ma- trizes do pensamento geográfico e seus desdobramentos conceituais, teóricos, metodológicos e discursivos. Alguns destes pontos estão des- tacados no quadro a seguir: A Geografia, assim como outras ciências humanas, muitas vezes não possui muito claro quais são as suas fronteiras nas correntes de pensamento que fazem parte de seu desenvolvimento epistemológico. Desta maneira, é sempre bom ter em mente que podemos encontrar obras e autores em diferen- tes fases (especial- mente em situações de passagem temporal) da história do pensamento da Geografia. 21 A Construção do Saber Geográfico: Ideologias Geográficas e o Ensino e Aprendizagem de Geografia Escolar Capítulo 1 QUADRO 4 - CARACTERÍSTICAS DAS MATRIZES PARADIGMÁTICAS Matriz Paradigmática Características Geografia Clássica ou Tradicional Esta matriz paradigmática possui sua origem em meio ao grande mo- vimento científico do final do século XIX, envolvendo principalmente as humanidades. Buscava-se um reconhecimento destes campos do saber a partir do estabelecimento de métodos e procedimentos de análise dos fatos e fenômenos da realidade objetiva. Geografia Moderna Nesta matriz paradigmática observa-se uma fase de transição do pensa- mento geográfico. Por estar localizada no período pós-guerra, emergiram diferentes propostas de rotas epistemológicas a partir das quais a Geo- grafia poderia encontrar suas novas identidades científicas. Geografia Contemporânea Seria mais correto chamarmos de “Geografias Contemporâneas” como será trabalhado logo adiante, pois ainda estão surgindo desdobramentos, aperfeiçoamentos e novas dialogias teórico-conceituais no âmbito da ci- ência geográfica na atualidade. FONTE: O autor Aos professores de Geografia fica a questão de se aprofundarem ao máximo nas diferenciações de autores, conceitos e periodizações da história do pensa- mento geográfico. Ter ciência desta diversidade nas correntes de pensamento e matrizes paradigmáticas apenas colaborará com seu instrumental didático-peda- gógico no seu cotidiano escolar. Conteúdo e método, embora distintos, não existem um sem o outro na edu- cação. Decidir por um método passivo ou por outro interativo e participativo de- certo incide de modo diferente no desenvolvimento do pensamento e do raciocínio do aluno em sua formação social, levando-o a direções também diferentes: ”A dis- cussão com o professor em formação inicial ou continuada sobre a consciência e a coerência de sua opção teórico-metodológica é fundamental para trabalhar com a educação geográfica dos alunos e, sobretudo, ter o respeito dos estudantes como educador e profissional que sabe Geografia” (PONTUSCHKA; PAGANELLI; CACETE, 2007, p. 38-39). E esta discussão teórico-metodológica pode ser obser- vada nas novas tendências da Geografia acadêmica e que pode ser levada para o seu campo escolar, como exemplificado na figura a seguir: 22 Currículos de Geografia FIGURA 3 - GEOGRAFIAS CONTEMPORÂNEAS - NOVAS TENDÊNCIAS FONTE: O autor Na figura anterior podemos notar as principais corrente desenvolvidas em período mais recente no que tange ao pensamento geográfico, vejamos, com mais profundidade, algumas destas características, que podem ser encontradas em relatórios da ONU sobre os Objetivos de Desenvolvimento e os Objetivos do Milênio, bem como periódicos geográficos como Geosaberes, Mercator, GEOUSP, Revista de Geografia de Rio Claro, Ateliê Geográfico, Geotextos, dentre outras fontes de produções atuais relacionadas à Geografia: QUADRO 5 - CARACTERÍSTICAS DAS CORRENTES DE PENSAMENTO GEOGRÁFICO RECENTES Corrente de Pensamento Geográfico Características Geografia Ecológica Agenda 2030: Em continuidade aos acordos e tratados ambientais assinados nas últimas décadas e, em especial na esteira do Rio-ECO/92 e Rio +20, a UNESCO estabeleceu novas metas ambientais e ecológicas para 2030, e a Geografia, tanto acadêmica como e a escolar, deve estar atenta aos rumos dessa nova fase da agenda ambiental global. Geografia Existencial Como um passo adiante no desenvolvimento da corrente de pensamento hu- manista e cultural, como desmembramentos também da liquidez pós-moder- na, atualmente o existencialismo e o método fenomenológico estão encontran- do novos nichos acadêmicos, pautando seus estudos na escala do sujeito, em aspectos psicoemocionais e de interação pessoal. Traduzir e levar estas 23 A Construção do Saber Geográfico: Ideologias Geográficas e o Ensino e Aprendizagem de Geografia Escolar Capítulo 1 novas direções epistemológicas para a sala de aula é um desafio, mas que pode ofertar novas estratégias pedagógicas aos professores de Geografia. Geotecnologias Novamente um movimento de evolução e aprimoramento de correntes de pensamento, método e pesquisa já existentes, que são as tecnologias de georreferenciamento. A análise dos fatos e fenômenos geográficos por meio destes recursos matemáticos, sistemáticos e computacionais faz com que se abra uma porta de atualização de linguagem dos conteúdos para o públi- co contemporâneo, cada vez mais próximo de interagir com estas novas fer- ramentas de pesquisa e análise, assim como sua aproximação e correlação com as tecnologias da informação e comunicação. Geografia Pós-Crítica A Geografia Radical sofreu alguns recuos teóricos e metodológicos nas últimas décadas. Como resposta a esta inflexão, houve um movimento de incremento epistemológico e resgate histórico dos caminhos que poderiam ser trilhados para sua atualização aos novos tempos, especialmente no que se refere ao estudo da diversidade escalar da cultura, em micro ou macro análise, um dos campos de maior desenvolvimento das atuais geografias de análise histórico-dialética. Planejamento Urbano Metropolitano O planejamento urbano obteve grandes momentos de evidência e protago- nismo na história do pensamento geográfico, seja no ordenamento territorial pautado no futurismo e modernismo pré-guerra, seja nas releituras das(s) urbanidade(s) no pós-guerra, com a explosão demográfica e multiplicação do modo de vida metropolitano. Atualmente há grande quantidade de es- tudos voltados para uma nova visão e entendimento do conceito de cidade para o século XXI, revisitando e revisando muitos dos postulados e referen- ciais antes tidos como fundamentos da Geografia urbana e planejamento e ordenamento territorial. Geopolítica da Nova Ordem Global A política sempre será tanto um desafio como uma porta aberta para os es- tudos geográficos. Acompanhar os desdobramentos das relações de poder locais, regionais e globais, sempre será fonte de grandes possiblidades di- dático e pedagógicas para a Geografia escolar. FONTE: O autor AsGeografias Contemporâneas apresentadas formam algumas das tendên- cias da ciência geográfica atual. É importante lembrarmos, sempre, que este pro- tagonismo temático ou de análise varia de acordo com o contexto e ambiente que analisamos, sendo que estas tendências sofrem constantes mudanças e atualiza- ções por parte do meio científico geográfico e da ciência como um todo. O mundo contemporâneo está em transformação, e assim sempre foi e con- tinuará sendo com a realidade objetiva, como pode ser observado na figura 04. Às ciências que se dispõem a estudar tais transformações cabe o esforço de não se negarem a rever suas bases, argumentos e teorias. No caso da Geografia, o 24 Currículos de Geografia espaço e seus conceitos e princípios, que buscam explicar este mundo, sempre terão em suas essências o tangenciamento destas mudanças o mundo que vive- mos, e que devem ser transpostas para linguagem escolar dos currículos, mate- riais didáticos e aulas dos professores. FIGURA 4 - DIFERENTES FACETAS DO MUNDO CONTEMPORÂNEO FONTE: <https://pixabay.com/pt/photos/xiamen-moradores- da-favela-824233/>. Acesso em: 24 abr. 2019. Visite o site da Marinha sobre a “Amazônia Azul” no seguinte endereço eletrônico: <https://www.marinha.mil.br/amazonia-azul>. Podemos correlacionar este campo de estudos das ciências naturais e geociências com os novos recursos tecnológicos, como as de ge- orreferenciamento, que nos permitem estudar melhor esta porção do território nacional brasileiro. Muitas das questões existentes tanto na Geografia Ambiental como na Política e Nova Ordem Global fazem parte do debate envolvendo recursos hídricos e potencial ultramarino do Brasil e demais países do globo, temas caros e recorrentes nos currículos escolares. 25 A Construção do Saber Geográfico: Ideologias Geográficas e o Ensino e Aprendizagem de Geografia Escolar Capítulo 1 No documentário “Alta Ansiedade - A Matemática do Caos” que pode ser assistido no seguinte link do YouTube <https://www.youtube. com/watch?v=PCnxd9wX91c>, promovido pela TV Escola, fica mais evidente como temos que estar sempre alertas para as mudanças, cotidianas, do mundo que habitamos. Observar, analisar, pesquisar e ensinar os meios pelos quais tais mudanças ocorrem compõe o desafio para o ensino escolar de cada dia. O caminho que os professores de Geografia possuem para chegar nesta requerida e necessária atualização constante de sua prática docente é voltar-se, sempre, para os estudos e pesquisas em sua área de formação. O professor- pesquisador conseguirá encontrar, na Geografia e nos métodos de aprendizagens, formas de abarcar em seu cotidiano escolar os conteúdos, temas, habilidades e competências exigidos nos currículos de Geografia. A perspectiva é trabalhar de forma investigativa pressupõe uma mudança na atitude perante o conhecimento. Significa ultrapassar a visão da prática pedagógica como simples trans- missão de um conhecimento pronto e acabado que os alunos não possuem e implica outra concepção de educação, de acor- do com a qual o conhecimento é visto à luz de seu processo de produção e apropriação, como produto social de contextos históricos determinados – relevando-se, portanto, alvo provi- sório, em permanente processo de construção e reconstrução (PONTUSCHKA; PAGANELLI; CACETE, 2007, p. 96). O domínio epistemológico do profissional da educação lhe dá segurança ar- gumentativa, discursiva e recursos para sua desenvoltura quanto à instrumenta- ção de ensino que fará uso em sala de aula. A realidade do mundo é ampla, com- plexa e está em constante mudança. As matrizes paradigmáticas alteram-se, as correntes de pensamento multipli- cam-se e as influências de outras áreas do saber também se mostram próximas. Correlacionar esta totalidade de influências numa mescla profícua de ensino e aprendizagem da Geografia escolar é o que deve ter como compreensão os futu- ros professores da ciência geográfica: “Além de dominar conteúdos, é importante que o professor desenvolva a capacidade de utilizá-los como instrumentos para desvendar e compreender a realidade do mundo, dando sentido e significado à aprendizagem” (PONTUSCHKA; PAGANELLI; CACETE, 2007, p. 97). Conectar os conteúdos a realidade que se estuda e ensina não deve configurar-se como 26 Currículos de Geografia uma dificuldade, mas sim como um campo de imensurável possibilidade de uso e exploração didático-pedagógica para o professor de Geografia, no ambiente esco- lar e do cotidiano da sala de aula: “À medida que os conteúdos deixam de ser fins em si mesmos e passam a ser meios para a interação com a realidade, fornecem ao aluno os instrumentos para que possa construir uma visão articulada e organi- zada do mundo (PONTUSCHKA; PAGANELLI; CACETE, 2007, p. 97). FIGURA 5 - O PROFESSOR-PESQUISADOR FONTE: <https://pixabay.com/pt/photos/conhecimento-livro- biblioteca-1052011/>. Acesso em: 25 abr. 2019. O professor-pesquisador é um investigador de sua realidade, conectado aos movimentos e mudanças tanto das teorias de sua ciência como aos fatos e fenômenos do mundo. Levar este esforço de atualizar-se epistemologicamente é um dos maiores desafios na formação de profissionais da educação, tanto em sua fase inicial como a continuada. A escola, como reflexo da sociedade, oferece diferentes possibilidades de conexão com a realidade que está inserida. Observar e aproveitar o potencial desta inerente relação entre o ambiente escolar e seu contexto social traz benefícios para a prática docente, construindo pontes entre o que está em voga na academia com os acontecimentos contemporâneos e, ambos, direcionados 27 A Construção do Saber Geográfico: Ideologias Geográficas e o Ensino e Aprendizagem de Geografia Escolar Capítulo 1 para os currículos escolares e o dia a dia da sala de aula para a formação integral do estudante e sua relação com o mundo e sociedade que faz parte, interage e transforma. 3.2 IDEOLOGIAS GEOGRÁFICAS E O AMBIENTE ESCOLAR: DISCURSOS, INTERLOCUÇÕES E REPRESENTAÇÕES Qual seria a diferença entre a matriz paradigmática, a corrente de pensamento e a ideologia teórica? Tal diferenciação é fundamental. Muitas das correntes de pensamento das ciências ficam próximas de contextos políticos e individuais específicos, formando o que costumamos chamar de ideologias científicas. Em outras palavras adiciona-se a questão ideológica aos postulados científicos quando as descobertas, postulações e análises das ciências estão direcionadas para fins pré-determinados ou então são apoderadas para estes interesses, ou seja, um roteiro contextual não tão difícil de ser encontrado na história da ciência. A disciplina geografia deve encaminhar o aluno a desvendar o mundo de vida, percebendo que a globalização atual se faz, se concretiza no local. Deve, portanto, permitir que o aluno tenha os fundamentos essenciais para conhecer e reconhecer o lugar em que vive como uma reprodução do mundo globalizado, para estudar o local de sua vida cotidiana e compreendê-lo no contexto maior (CALLAI, 1995, p. 266). Portanto, podemos perceber uma diferença intrínseca entre a ideologia científica e o paradigma teórico e metodológico, que ao mesmo tempo paradoxal e esclarecedor. Como vimos a neutralidade científica é uma projeção mítica do entendimento popular da figura da ciência e dos cientistas em geral, e a produção do conhecimento sempre estará entremeado em contextos específicos e interesses específicos. Vejamos, a seguir, quais são as principais características de uma ideologia científica: • A maior influência perceptível nas ideologias científicas são àquelas direcionadas ao modo de produção dominante. É comum que haja demandas políticas para programas, planos e estratégias econômicas ao meio científico, e este último forneça, direta ou indiretamente, os meios pelos quais a economia fará uso de suas pesquisas. 28 Currículos de Geografia• Questões bélico-militares também possuem grande infiltração na produção de ideologias científicas. Novamente, muitas vezes não há presença direta dos postulados científicos nesta influência, mas suas teorias afetam ou são aproveitadas pelos representantes do Estado, como, por exemplo, a teoria geopolítica da área pivô-central no período das grandes guerras. • A formulação de currículos e a organização da estrutura escolar de um estado nacional sempre estão ligados aos representantes do poder. Conhecimento é símbolo de domínio e controle e obter os meios pelos quais direcionar a maneira como as informações e sabres chegarão nas salas de aula sempre será objeto de interesse e exploração em qualquer cenário histórico, geográfico, político e econômico. • O fomento a pesquisa sempre será foco de grandes debates. Sabe- se que há áreas do saber que retornam seus investimentos de forma mais direta e imediata à sociedade, ao mercado ou ao Estado. Por haver esta diferenciação de importância, aparente, entre os diferentes saberes e ciências, sempre haverá o domínio ou vigência de correntes de pensamento próximos a determinados posicionamentos ideológicos. • Os meios de comunicação podem favorecer ou dificultar a produção de conhecimento. Muitas vezes as ideologias científicas ora se beneficiam ora são afetadas negativamente pelos meios de comunicação em massa. A explicação para este fenômeno se dá pelo fato de as grandes corporações midiáticas também estarem direcionadas aos seus próprios interesses, sejam de estado ou ligadas a algum governo, e possuem os meios de apresentar os estudos científicos para a sociedade. A neutralidade científica possui um dos mais longos e complexos debates sobre ao conhecimento científico. Fazer ciência é ter que lidar com escolhas, recortes temáticos, opções de métodos e conceitos, abrangência do alcance das amostragens e cruzamentos de dados e, finalmente, apresentação dos resultados obtidos. A intencionalidade sempre fará parte da produção científica, e no ensino escolar esta intencionalidade transparece muitas vezes no direcionamento discursivo dos temas e conteúdos. A ideologias científicas fazem parte da produção do conhecimento e a presença da neutralidade científica, como uma espécie de mitologia social sobre 29 A Construção do Saber Geográfico: Ideologias Geográficas e o Ensino e Aprendizagem de Geografia Escolar Capítulo 1 a ciência também é algo que devemos ter como presença ativa na representação arquetípica do cientista. No entanto, devemos não negar a presença das ideologias, o que seria inevitável e impossível, mas ter em mente que é possível sempre ter uma postura crítica sobre a infiltração dos interesses individuais e coletivos na produção do conhecimento. Nestas obras, são encontradas contundentes reflexões sobre a importância que devemos ter do labor científico e seus impactos na sociedade. Os autores trabalham com a ideia de que não devemos relegar à ciência o papel de detentora de verdades absolutas ou neutralidade perante suas formulações. Livros: “Ideologia” de Terry Eagleton e “O mito da neutralidade científica” de Hilton Japiassu. FIGURA 6 - AS IDEOLOGIAS E AS CIÊNCIAS (1) FONTE: <https://cdn.pixabay.com/photo/2018/01/14/18/51/ communist-3082369_960_720.jpg>. Acesso em: 25 abr. 2019. 30 Currículos de Geografia FIGURA 7 - AS IDEOLOGIAS E AS CIÊNCIAS (2) FONTE: <https://pixabay.com/pt/vectors/capit%C3%B3lio-washington- pol%C3%ADtica-32309/>. Acesso em: 26 abr. 2019. Como visto na relação entre diferentes ideologias e modos de produção, capitalismo/socialismo e neoliberalismo e marxismo (socialismo) de Estado, quando transpomos esta questão da ideologia científica para o ambiente escolar o cuidado deve ser ainda maior. Há sempre o risco de pautarmos nossas intepretações e discursos pedagógicos de acordo com nossas bases formativas e referenciais teórico-metodológicos. Deve-se sempre colocar em primeiro plano a formação plena do estudante, possibilitando ao mesmo o contato com as diferentes visões de mundo que fazem parte das correntes de pensamento e matrizes paradigmáticas das ciências que este estuda no ambiente escolar: Em síntese, quando se fala em apropriação do legado cultural da humanidade como um dos núcleos fundamentais de atenção da ação escolar, não se está expressando a exclusiva necessidade de retenção de informações, mas sim a apropriação ativa dos conhecimentos, o que implica apropriação da informação, apropriação da metodologia e sua utilização, assim como a sua utilização na inventividade (LUCKESI, 2011, p. 109). Esta não é uma tarefa tão simples, pois estamos inseridos em situações e contextos, e como a escola faz parte de uma totalidade social, também seremos influenciados pelos movimentos dos acontecimentos desta totalidade: “Socialmente, a apropriação dos conhecimentos é um direito de todos os seres 31 A Construção do Saber Geográfico: Ideologias Geográficas e o Ensino e Aprendizagem de Geografia Escolar Capítulo 1 humanos. Esses conhecimentos foram produzidos dentro da sociedade e, por isso, a ela pertencem” (LUCKESI, 2011, p. 109). Indicamos a leituras das histórias em quadrinhos: V de Vingança, Entre a Foice e o Martelo e Maus de Alan Moore, Mark Millar e Art Spiegelman. Nestas obras, é possível perceber como, por vezes, teorias científicas ou filosóficas podem afetar toda uma visão de mundo hegemônica numa determinada sociedade. Os seguintes filmes apresentam ideologias sociais pautadas, no primeiro caso, em uma visão específica de sociedade e, no segundo exemplo, em uma organização produtiva e econômica também específica. Ambas as obras buscam mostrar os impactos diretos e indiretos de visões ideológicas no cotidiano das pessoas. Filmes: “Adeus Lenin!” e o “Grande Ditador”. Reitera-se, desta maneira, como a formação dos professores deve se pautar em um embasamento claro de função social, ou seja, a de apresentar e problematizar os saberes acadêmicos de sua formação aso estudantes. Seus posicionamentos fazem parte tanto de sua individualidade como sujeito como de sua inserção espaço-temporal em uma corrente de pensamento ou matriz paradigmática vigente ou dominante. Deve-se sempre observar estas questões, para que o conhecimento ofertado nas escolas abarque a complexidade de visões de mundo que compõem a realidade. 32 Currículos de Geografia 4 A GEOGRAFIA ESCOLAR E OS POSTULADOS ACADÊMICOS: APROXIMAÇÕES E AFASTAMENTOS 4.1 POR UMA EPISTEMOLOGIA DO ENSINO GEOGRÁFICO Como visto anteriormente, houve diferentes correntes de pensamento da Geografia, provindas das matrizes paradigmáticas que fazem parte desta ciência. Quando pensamos na prática docente, no cotidiano escolar, há infiltrações destas ideologias, correntes de pensamento e matrizes paradigmáticas, por meio da escolha e direcionamento da atividade pedagógica do professor de Geografia. FIGURA 8 - EPISTEMOLOGIA DO ENSINO FONTE: <https://pixabay.com/pt/photos/tecnologia-sala-de-aula- educa%C3%A7%C3%A3o-1095751/>. Acesso em: 27 abr. 2019. Desta maneira, é necessário que os professores se apropriem da prática in- vestigativa e de pesquisa, para sua formação própria e para sua atividade do- cente diária: “Se considerarmos a docência como atividade intelectual e prática, revela-se necessário ao professor ter cada vez maior intimidade com o processo investigativo, uma vez que os conteúdos, com os quais ele trabalha, são cons- truções teóricas fundamentadas na pesquisa científica” (PONTUSCHKA; PAGA- NELLI; CACETE, 2007, p. 95-96). 33 A Construção do Saber Geográfico: Ideologias Geográficas e o Ensino e Aprendizagem de Geografia Escolar Capítulo 1 Requer-se, portanto, um olhar para si, como professor(a), estudioso de sua própria área de formação, isto é esforçar-se para construir uma epistemologia do ensino do seu campo de saber: “Assim, sua prática pedagógicarequer de si refle- xão, crítica e constante criação e recriação do conhecimento e das metodologias de ensino, o que pressupõe uma atividade de investigação permanente que ne- cessita ser apreendia e valorizada”. A formação inicial e continuada devem estar conectadas, se complementa- rem, como um processo contínuo de aperfeiçoamento dos profissionais da edu- cação, que precisam acompanhar as transformações do seu público-alvo, que demandam esta constante atualização de suas formações: “Nesse sentido, é im- portante que os professores, em seu processo formativo, sobretudo inicial, pes- quisem como são produzidos os conhecimentos por eles ensinados” (PONTUS- CHKA; PAGANELLI; CACETE, 2007, p. 95-96). Epistemologia ou Filosofia da Ciência? É comum encontrarmos, nos materiais de formação docente e de iniciação a graduação em geral, referências tanto à Epistemologia como à Filosofia da Ciência. A principal diferença de ambas é que, no primeiro caso, estamos nos referindo aos meta-estudos científicos, ou seja, é a ciência estudando ela mesma, seus métodos, teorias e conceitos. No segundo caso, temos uma proximidade maior com a filosofia, a produção do conhecimento, na ciência como um todo ou em áreas específicas, a depender do interesse do filósofo que escreve a obra em questão. Para responder à pergunta “o que é epistemologia (teoria do conhecimento)?”, indicamos o seguinte vídeo: <https://www.youtube. com/watch?v=Dsa6IySMURI>. As ciências propõem explicações para a realidade, a sociedade e a natureza, o mundo e o sujeito. A Geografia insere-se neste contexto, como vimos, em matri- zes paradigmáticas e correntes de pensamento. Desta maneira, utilizemos como referência das tendências pedagógicas de Luckesi (1991) para que possamos re- lacioná-los com a proposta de uma epistemologia do ensino geográfico: 34 Currículos de Geografia Conhecimento significa uma forma de entendimento da reali- dade, ou seja, uma forma de compreensão de alguma coisa, tanto no seu modo de ser quanto no seu modo de operar com ela. O conhecimento não é apenas uma forma de obter e reter informações. É muito mais que isso. E uma forma de entender a realidade como ela é e no seu funcionamento, a partir dos múltiplos elementos que a explicam. […] Conhecimento é, por- tanto, um instrumento de vivência e sobrevivência. Não signifi- ca apenas uma “ilustração da mente” (LUCKESI, 2011, p. 110). A escola, como instância educativa, tem por papel a elevação cultural dos seus educandos. Ela é uma instância importante e significativa da sociedade (LUCKESI, 2011, p. 110). A epistemologia do ensino de Geografia deve voltar-se para esta dialogia entre as tendências pedagógicas os temas e teorias da ciência geográfica, permitindo ao estudante encontra-se como sujeito na elaboração e compreensão deste conhecimento em sua prática social: “A cultura elaborada é um elemento que obriga a uma ruptura com a situação cultural anterior do indivíduo, possibilitando-lhe “ser outro” (LUCKESI, 2011, p. 110). Em concordância com Luckesi (2011), podemos relacionar as considerações de Castellar (2005), que vão ao encontro destas reflexões do autor – sobre a cultura elaborada no ambiente escolar - sobre a aprendizagem da Geografia na Educação Básica: Assim, toda a aprendizagem da geografia na educação básica, entendida como um processo de construção da espacialidade que corresponde a orientar-se, deslocar-se no espaço, pode ser associada aos seguintes objetivos: 1) Capacitar para a aplicação dos saberes geográficos nos trabalhos relativos a outras competências e, em particular, capacitar para a utilização de mapas e métodos de trabalho de campo. 2) Aumentar o conhecimento e a compreensão dos espaços nos contextos locais, regionais, nacionais, internacionais e mundiais e, em particular: - conhecimento do espaço territorial; - compreensão dos traços característicos que dão a um lugar a sua identidade; - compreensão das semelhanças e diferenças entre os lugares; - compreensão das relações entre diferentes temas e problemas de localizações particulares; - compreensão dos domínios que caracterizam o meio físico e a maneira como os lugares foram sendo organizados socialmente (CASTELLAR, 2005, p. 2011). 35 A Construção do Saber Geográfico: Ideologias Geográficas e o Ensino e Aprendizagem de Geografia Escolar Capítulo 1 Atividade de Estudo: 1 Assista ao seguinte vídeo: <https://www.youtube.com/watch?- v=FroyMvgYfm0>, que se trata de um curta-metragem intitulado “Meu amigo Nietzsche”. Em seguida, disserte sobre a relação en- tre cultura, aprendizado e o espaço geográfico do estudante. R.:____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 4.2 TEORIAS E MÉTODOS GEOGRÁFICOS NO ENSINO BÁSICO Após termos trabalhado com a ideia de uma epistemologia do ensino geo- gráfico ou da Geografia escolar, podemos partir, agora, em direção ao diálogo, necessário e constante, das teorias e métodos da pedagogia com o arcabouço conceitual e metodológico da Geografia, conforme explicitado no início deste ca- pítulo, tanto com os conceitos-chave da Geografia como, também, nas correntes de pensamento clássicas e direcionamentos contemporâneos da Geografia como um todo e a Geografia Escolar, particularmente. Este é um desafio não apenas da ciência geográfica, mas de todo compo- nente curricular, quando este passara do ambiente restritamente acadêmico para a realidade escolar: “Um dos grandes desafios dos cursos de formação de profes- sores de geografia diz respeito à necessidade prática de articulação dos conteú- dos desse componente curricular com os conteúdos pedagógicos e educacionais, ou seja, aos mecanismos de transposição didática, que envolvem metodologias do ensinar a ensinar” (PONTUSCHKA; PAGANELLI; CACETE, 2007, p. 99). Ensinar é saber que haverá propósitos e sentidos no que está sendo apre- sentado, a cada dia, na sala de aula, portanto trata-se de uma prática social: “A educação escolar constitui-se num sistema de instrução e ensino com propósitos 36 Currículos de Geografia intencionais, práticas sistematizadas e alto grau de organização, ligando intima- mente às demais práticas sociais” (LIBÂNEO, 2013, p. 23). E, mais do que isto, é importante que o conhecimento, discurso e argumento presente em cada aula ou atividade pedagógica realizados na escola estejam conectados ao âmbito de maior escala que é a sociedade na qual esta instituição escolar está inserida: As formas que assume a prática educativa, sejam não inten- cionais ou intencionais, formais ou não formais ou não formais, escolares ou extraescolares, se interpenetram. O processo educativo, onde quer que se dê, é sempre contextualizado so- cial e politicamente; há uma subordinação à sociedade que lhe faz exigências, determina e lhe provê condições e meios de ação (LIBÂNEO, 2013, p. 16). A Geografia escolar, portanto, enquadra-se nesta concepção de prática so- cial pedagógica, e deve pautar seus esforços no sentido de atentar e justificar sua importância, de forma ininterrupta, a cada novo conceito, avaliação, tema ou ativi- dade proposta. Vejamos então, quais seriam então os principais métodos geográ- ficos que podem ser direcionados para o Ensino Básico de Geografia, utilizando como base o que foi exposto nas seções anteriores deste capítulo: • Utilização, com maior frequência das tecnologias da informação e comunicação (TIC) na sala de aula, principalmente colocando em pauta os recursos interacionais multimídias da geração atual com as propostas curriculares vigentes. • Contextualização dos conteúdos e temas com a situação histórica e geográfica contemporânea,com vistas a fortalecer a interligação do que é aprendido na sala de aula com as experiências de vida ocorridas fora desta. • Dialogia contínua com as áreas correlatadas da Geografia e com demais campos do saber, com o objetivo de criar pontes temáticas, por trans, inter e multidisciplinaridade nos conteúdos, habilidades e competências exigidos em cada etapa do percurso escolar. • Diversificação e enriquecimento das estratégias de avaliação, de modo a propiciar aos estudantes diferentes formas de demonstrar seus aprendizados e compreensões a respeito do que está sendo estudado. • Utilização do recurso de maior participação e protagonismo estudantil na sala de aula com, por exemplo, a adoção de metodologias ativas de produção de saberes a partir do que está sendo aprendo sobre os postulados científicos na escola. • Entendimento e adaptação do que há de mais recente nos estudos acadêmicos para a atualização dos conteúdos e competências curriculares, em diferentes áreas. No caso da Geografia esta premissa aplica-se tanto aos estudos ambientais e naturais quanto aos voltados para a cultura e sociedade. 37 A Construção do Saber Geográfico: Ideologias Geográficas e o Ensino e Aprendizagem de Geografia Escolar Capítulo 1 Como vimos anteriormente, o conhecimento acompanha as mudanças da sociedade, altera-se, retrai ou avança, de acordo com um conjunto inumerável de fatores. No caso da Geografia, por possuir o espaço como categoria central, precisa de constante acurácia epistemológica para acompanhar as mudanças da realidade, em sua esfera natural e social. Aproximar-se do lastro didático-pedagógico não é uma alternativa, e sim uma condição primária, sem a qual não apenas a Geografia escolar, mas quaisquer outros campos do saber não alcançarão seus objetivos de tornar inteligíveis seus paradigmas, correntes de pensamento, métodos de análises, hipóteses e visões de mundo. Geografia, assim como outros campos do saber, precisa atentar-se, sempre, para as mudanças do mundo contemporâneo. Acompanhar uma nova movimentação política, uma alteração climatológica, um desastre natural, um programa de avaliação e critérios de análise demográfica governamental, alianças e decisões geopolíticas etc. Como o espaço abrange o mundo, o objeto de estudo da Geografia torna-se tão mais dinâmico quanto maiores forem nossas formas de acompanhar estas mudanças. FIGURA 9 - O MUNDO EM TRANSFORMAÇÃO FONTE: <http://bit.ly/2IWN1wb>. Acesso em: 27 abr. 2019. 38 Currículos de Geografia Dar sentido ao saber, eis o maior desafio dos professores. A escola ocupa um lugar de singular notoriedade por agregar em seu ambiente possibilidades imensuráveis de apresentar e propiciar aos estudantes os meios pelos quais eles compreenderão, questionarão e poderão compreender o seu papel, como sujeito e parte de uma coletividade no mundo que habita e transforma: Estudar Geografia é uma oportunidade para compreender o mundo em que se vive, na medida em que esse componen- te curricular aborda as ações humanas construídas nas dis- tintas sociedades existentes nas diversas regiões do planeta. Ao mesmo tempo, a educação geográfica contribui para a formação do conceito de identidade, expresso de diferentes formas: na compreensão perceptiva da paisagem, que ganha significado à medida que, ao observá-la, nota-se a vivência dos indivíduos e da coletividade; nas relações com os lugares vi- vidos; nos costumes que resgatam a nossa memória social; na identidade cultural; e na consciência de que somos sujeitos da história, distintos uns dos outros e, por isso, convictos das nossas diferenças (BRASIL, 2017, p. 311). Devemos nos perguntar, então, o que seria pensar pedagogicamente a Ge- ografia no ambiente escolar, e com base no que apresentamos até aqui acres- centa-se: “pensar pedagogicamente os saberes geográficos numa perspectiva metodológica e significativa para os alunos implica desenvolver ações que rees- truturem os conteúdos, inovem os procedimentos e estabeleçam com clareza os objetivos” (CASTELLAR, 2005, p. 220). FIGURA 10 - A GEOGRAFIA ESCOLAR FONTE: O autor 39 A Construção do Saber Geográfico: Ideologias Geográficas e o Ensino e Aprendizagem de Geografia Escolar Capítulo 1 A partir deste organograma observamos que o pensamento espacial e geo- gráfico, a instrumentação de ensino, as tendências e teorias de ensino e apren- dizagem, o pensamento geográfico e espacial e as correntes de pensamento da Geografia bem como a epistemologia do Ensino da Geografia correlacionam-se, para formar a totalidade do que entendemos por Geografia escolar, em suas sin- gularidades e complexidade. É fundamental termos presente que a aprendizagem envolve compreensão, pois o que se aprende sem compreender não é verdadeiro. Estudar os nomes dos rios do Brasil ou da Rússia e os eixos viários que dão acesso às principais metrópoles do País somente será válido se for para a construção de significados, ou seja, se esses estudos tiverem significado na vida das pessoas e dos nossos alunos (PONTUSCHKA; PAGANELLI; CACETE, 2007, p. 31). Se não houver a compreensão do que está sendo apresentado então o co- nhecimento não atingirá seu alcance de significado, ou seja, estará esvaziado de sentido. Mesmo que haja todo esforço teórico, metodológico, procedimental e ins- trumental, bem como o referencial histórico e epistemológico por parte dos pro- fessores, se esta carga didático-pedagógica não se conectar aos estudantes, os saberes, conceitos, categorias e princípios apresentados perderão o seu potencial de aprendizagem, tornando-se apenas mais um aglomerado de compêndios enci- clopédicos passageiros na vida escolar daquele sujeito. A relação escalar parte/todo e sujeito/mundo é um dos pontos-cha- ve para a Geografia escolar. Posicionar o estudante em si mesmo e na sociedade que este faz parte é uma da maneira mais profícuas de se aproveitar o potencial dialógico e pedagógico da ciência geográfica. Para cada conteúdo apresentado, seja mais próximo dos estudos ambientais ou culturais, é importante fazer este exercício de correlação escalar, bus- cando significar o que está sendo ensino com a realidade proximal do estudante e com o mundo que este está inserido como sujeito. A nova BNCC de Geografia tem com um dos seus pilares formativos o diálogo interdisciplinar como parte da busca por uma nova significação da aprendizagem. É um caminho que promove o desencadeamento de múltiplos desafios aos professores, que precisarão repensar suas fronteiras formativas, de modo a construírem pontes de diálogo que deem conta da nova proposta curricular nacional. 40 Currículos de Geografia Geografia escolar e Epistemologia do ensino de Geografia caminham juntas, é claro, mas de nada adiantará colocá-las em relevo se o conhecimento não obtiver significado aos estudantes. A escola deve ser o ambiente no qual todo o esforço de reflexão e prática educativa deve se voltar, mas não de maneira cerrada nos muros deste ambiente, pelo contrário, tendo como objetivo sempre conectar os sabres aprendidos na sala de aula com a realidade do outro lado, compreendendo o saber geográfico como algo unificado, em suas diferentes escalas de síntese, análise e aprendizagens. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Iniciamos a nossa discussão com o pensar a epistemologia da Geografia, que se refere à teoria desse conhecimento (dessa ciência). A nossa proposta aprofundou a epistemologia geográfica com ênfase na noção de epistemologia para o ensino da Geografia (o estudo do espaço na perspectiva escolar - tendo o espaço como a maior unidade do debate geográfico). Concentramos esforços no sentido de expor as contradições, a diversidade conceitual, as críticas aos docu- mentos oficiais em face das práticas sociais, a história da Geografia e as possibi- lidades de leituras e compreensões do desenvolvimento dessa ciência e as suas possibilidades educativas. Trabalhamoscom as representações geográficas e de- monstramos a sua relação com as práticas pedagógicas nesse campo. Esse exercício foi conduzido de modo a permitir ao estudante a noção da complexidade dessa ciência apontando as direções e as provocações aos profes- sores. Explicitamos que os conceitos são compostos em contextos e cenários que colocam o ser humano na condição de centralidade. A partir do desenvolvimento deste primeiro capítulo, fomos posicionados para participar de uma experiência formativa que viabilizou a edificação ou a constru- ção de uma jornada ou caminho epistemológico capaz de dotar o especializando de saberes que lhe possibilita a uma escolha melhor fundamentada dos conteú- dos, habilidades, competências, eixos temáticos e referenciais teóricos dos currí- culos não apenas da Geografia, mas de todas as áreas do saber. Em suma, esta proposta apresentada, neste primeiro capítulo, se consolida como a trilha que nos leva aos pilares, influências e posturas dialogais presentes nas atuais propostas curriculares para a Geografia escolar, objetivo primeiro desta obra. A abordagem desenvolvida nesse primeiro capítulo conseguiu dar conta de pontos decisivos para uma leitura geográfica mais avançada em que se consegue pensar a geografia como um olhar espacial privilegiado da realidade concreta, com sustentação em bases epistemológicas e metodológicas que se ancoram em 41 A Construção do Saber Geográfico: Ideologias Geográficas e o Ensino e Aprendizagem de Geografia Escolar Capítulo 1 categorias, conceitos, ideias, noções e princípios geográficos. Assim sendo, a ge- ografia é apresentada como um mirante privilegiado que tem como pressuposto as suas bases teóricas, metodológicas, filosóficas e culturais. Essa perspectiva elucidada nos assegura uma caminhada com clareza e ma- turidade para pensar essa ciência, seus meandros, efeitos e reflexos na vida em sociedade. O ensino de geografia, nesse tocante, se apresenta como crucial para o desenvolvimento de ideias, posturas e compreensões tendo em vista a constru- ção do futuro. Para tanto, é crucial a discussão do andamento das diretrizes de ensino dessa disciplina, o entendimento dos movimentos curriculares que, a rigor, expressam um quadro social em um dado tempo, a reflexão acerca da orientação filosófica que se situa como pano de fundo para determinadas escolhas e ênfases em determinado campo da ciência geográfica, dentre outros aspectos. Com base nos pontos apresentados ao longo do capítulo ficou evidenciado a importância de se dominar os referenciais concernentes as distintas correntes de pensamento e os paradigmas da geografia que são postulados como matizes fundamentais para o fazer e o pensar geográfico. Refletir epistemologicamente é ser capaz de compreender o porquê que um conteúdo tem a tendência de ser trabalhado de um modo e não de outro ou até mesmo poder desvendar o porquê de se trabalhar com esse conteúdo e não com outro, mas, ao mesmo tempo, con- seguir perceber os movimentos teóricos e as suas conseqüências para os rumos da política, da economia e da cultura e qual é o grau de contribuição do ensino de geografia nessas dinâmicas de formação de um sujeito em seu papel na socieda- de e mundo que faz parte. REFERÊNCIAS BRASIL. Base Nacional Comum Curricular: Educação Infantil e Ensino Fundamental. Brasília: MEC/Secretaria de Educação Básica, 2017. CALLAI, Helena Copetti. Geografia: um certo espaço, uma certa aprendizagem. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo, 1995. CASTELLAR, Sonia. Educação Geográfica: A psicogenética e o conhecimento escolar. Cad. Cedes, Campinas vol. 25 n.66 pg. 209-225 maio/agosto 2005. LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 2013. LUCKESI, Cipriano. Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez, 2011. 42 Currículos de Geografia PONTUSCHKA, Nidia Nacib.; PAGANELLI, Tomoko lyda; CACETE, Núria Hanglei. Para Ensinar e Aprender Geografia. São Paulo: Ed. Cortez, 2007. TONINI, Ivaine Maria, GOULART, Lígia Beatriz; MARTINS, Rosa Elisabete Militz Wypyczynki; CASTROGIOVANNI, Antonio Carlos e KAERCHER, Nestor André (organizadores). O ensino de Geografia e suas composições curriculares. Porto Alegre: UFRGS, 2011 CAPÍTULO 2 O Ensino de Geografia e o Papel do Estado: os Elementos Normativos Que Compõem a Construção de um Currículo A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem: � Identificar a presença do poder estatal na formulação de diferentes estratégias de acompanhamento, liberação ou restrição dos caminhos teóricos, práticos, práticos e ideológicos da construção do currículo escolar. � Encontrar os pontos de influência e interferência do poderio de regulação das instituições e atores estatais na normatização de propostas curriculares, especialmente no caso da ciência geográfica. � Correlacionar a presença da figura do Estado com a prática docente no Ensino Básico, tendo a BNCC como referência de um processo contínuo, composto por aspectos de consonância e contradições, do que é proposto nacional, estadual ou localmente com a prática docente no cotidiano escolar. 44 Currículos de Geografia 45 O Ensino de Geografia e o Papel do Estado: os Elementos Normativos Que Compõem a Construção de um Currículo Capítulo 2 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Iniciamos nosso diálogo com uma declaração inspiradora do professor Arioval- do Umbelino de Oliveira, na qual assevera que “[…] o ensino em todos os níveis de uma forma geral, e especificamente o de geografia, vem passando por uma intensa e profícua discussão e transformação” (OLIVEIRA, 1994, p. 4). Em matéria de en- sino de geografia é preciso considerar que muitos elementos estão em jogo em um cenário marcado pela crise do capital, a qual se refere a uma das faces da profunda crise civilizatória. É uma crise do padrão de poder. Então, é preciso entender as forças relacionadas ao sistema/mundo moderno capitalista. É justamente esse sis- tema que está em crise e que exige novas posturas e reflexões. Para tanto, não basta chamar povos como os indígenas de minorias, preci- samos ir além: reconhecer a centralidade da crise civilizatória e valorizar a nossa diversidade como uma das maiores populações indígenas da América. O Brasil possui 305 etnias (274 línguas) e isso o posiciona como a maior diversidade in- dígena da América. Trata-se de um país pluriétnico e plurinacional. Assim, temos uma responsabilidade com nosso patrimônio no sentido de defender os nossos biomas como patrimônios naturais relacionados à cultura de uma ocupação mile- nar. A exemplo disso, há uma estimativa de presença indígena em Monte Alegre no Pará da ordem de 11.200 anos (GONÇALVES, 2004). Neste sentido, pensar acerca dos nossos saberes e os rumos do ensino de geografia é um passo crucial para a constituição de caminhos distintos daqueles oriundos de um pensamento único que nos orienta em direção à dependência eco- nômica e aprofundamento da exploração das nossas riquezas sem controle, res- ponsabilidade e retorno social. A principal orientação do pensamento geográfico precisa se concentrar na construção de uma geografia escolar que se insira na luta em prol de se estabelecer novos padrões civilizatórios que busquem dar conta de priorizar a vida, a dignidade e o território. Assim, a construção de um currículo de geografia é uma trincheira importante para a atuação do educador em geografia. 46 Currículos de Geografia 2 O ESTADO E O ENSINO: NORMATIZAÇÕES PEDAGÓGICAS BRASILEIRAS - BREVE HISTÓRICO DO ENSINO DE GEOGRAFIA FIGURA 1 - MUNDO DE MAFALDA FONTE: <https://veja.abril.com.br/galeria-fotos/quino-pai-da-mafalda-faz-80-anos/>. Acesso em: 21 jul. 2019. A partir da observação da figura anterior, que retrata a Mafalda em uma relação e contemplação profunda com o globo terrestre (representação clássica da ideia de geografia), podemos perceber que o homem precisa o tempo todo
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