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Estudo Dirigido 1

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ESTUDO DIRIGIDO 1 – MICROBIOLOGIA APLICADA ÀS ANÁLISES CLÍNICAS 
 
Nome: Leticia Guedes Morais Gonzaga de Souza 
Data: 05/10/2020 
 
1. Qual o conceito de microbiota normal e como ela é estabelecida? 
 A microbiota normal consiste na população de microrganismos que habita pele 
e mucosas dos individuos sadios. Tal população é estabelecida a partir do 
nascimento, uma vez que a maioria dos animais são livres de microrganismos no útero 
materno. 
 Os lactobacilos da vagina representam o primeiro contato do recém-nascido 
com microrganismos e estes se tornam predominantes no intestino do bebê. 
Eventualmente, com a respiração e alimentação, são introduzidos outros 
microrganismos no corpo do indivíduo. 
 
2. Qual a importância benéfica da microbiota normal? 
 Pesquisas que a microbiota normal fornece a primeira linha de defesa contra 
patógenos microbianos, auxilia na digestão, desempenha papel na degradação de 
toxinas e contribui para a maturação do sistema imunológico em recém-nascidos. 
 Dentre as funções que beneficiam o hospedeiro, destaca-se: 
a) Síntese de vitamina K e complexo B, além de absorção de nutrientes pelos 
integrantes da microbiota residente no trato intestinal; 
b) Nas mucosas e pele, microbiota residente impede colonização por patógenos, 
por meio do antagonismo microbiano e exclusão competitiva, bem como 
possível desenvolvimento de doença por interferência bacteriana; 
c) Estímulo ao desenvolvimento de defesas imunológicas, de forma a resultar em 
resposta secundária efetiva por meio da ação das imunoglobulinas; 
d) Metabolismo de toxinas e substancias não digeríveis, sendo que algumas se 
tornam fonte de energia para o hospedeiro. 
 Cabe ressaltar que a microbiota normal não é essencial para a vida, entretanto, 
a microbiota residente de alguns sítios desempenha papel definido na manutenção da 
saúde e na função normal. 
 
3. Como deve ser feita a coleta do líquor cefalorraquidiano? 
 A coleta é feita por meio da punção lombar, geralmente, entre a terceira e a 
quarta vértebras lombares; entretanto, a punção pode ocorrer entre a quarta e quinta 
vértebras lombares, bem como pode ser adotado a punção de cisterna ou lateral. Para 
tal procedimento, faz-se antissepsia da pele e recomenda-se que paciente esteja em 
jejum. Uma agulha espinal é inserida e a amostra do líquido cerebrospinal é colhida 
para exames laboratoriais. 
 Idealmente, o líquido é colhido em três tubos estéreis com 2 mL cada, na 
seguinte ordem: 
 
 A ordem apresentada tem como finalidade reduzir as interferências e erros 
causados durante a coleta. Contudo, pode haver apenas um tubo para coleta e, nesse 
caso, deve-se priorizar os exames microbiológicos. 
 É recomendado evitar utilizar tubos de ensaio de vidro para coleta, uma vez 
que a adesão celular ao vidro afeta a contagem celular e a analise diferencial. Ainda, 
o laboratório deve ser informado qual foi o sítio da amostragem devido as mudanças 
dos parâmetros bioquímicos e citológicos entre um local e outro. 
 Por fim, as amostras devem ser enviadas, em até duas horas, ao laboratório e 
processadas em tempo ágil. Não se deve refrigerar a amostra durante o transporte. 
 
 
4. Como a dosagem de glicose no líquor pode auxiliar no diagnóstico 
microbiologico das infecções do Sistema Nervoso Central? Explique com 
detalhes. 
Tubo 1
•Estudo de proteínas, glicose, VDRL e antígenos
•Exames bioquímicos e imunológicos
Tubo 2
•Realização da coloração de Gram e cultura, 
faz-se coloração com Azul de Metileno
•Estudos microbiológicos
Tubo 3
•Destinado à contagens de células totais e 
contagem diferencial
•O tubo pode conter EDTA
•Exames citológicos
 Em condições normais, a glicose presente no líquor corresponde a 
aproximadamente 60% dos valores plasmáticos, sendo que a proporção entre essas 
glicoses varia de 0,3 a 0,9 conforme flutuações nos níveis sanguíneos. Neste sentido, 
a redução dos valores no líquor indicam anormalidade. 
 É considerado hipoglicorraquia quando os valores no líquor estão abaixo de 40 
mg/dL ou quando a proporção é menor a 0,3. Esse achado indica meningite 
bacteriana, tuberculosa e fúngica. Tal associação é devido aos microrganismos 
envolvidos nessas infecções consumirem glicose como fonte de energia e 
proliferação. Ainda, nessas condições, os leucócitos também irão consumir glicose. 
Em alguns tipos de meningoencefalites virais, observa-se níveis reduzidos de glicose. 
Para além, nota-se a redução dos níveis de glicose em decorrência de glicólise 
anaeróbia no tecido cerebral. Outras condições que podem acarretar hipoglicorraquia 
incluem transporte de glicose comprometido, atividade glicolítica aumentada no 
Sistema Nervoso Central e carcinoma metastático, bem como presença de ameba 
(Naegleria), meningite sifilítica aguda, cisticercose, hemorragia subaracnóidea e 
meningite reumatoide. 
 O aumento dos níveis de glicose no líquor podem estar associados a uma 
hiperglicemia, como também a uma punção traumática, dado que o sangue apresenta 
níveis elevados de glicose quando comparado aos níveis do líquor. 
 Neste contexto, conclui-se que a partir dos níveis de glicose presentes no 
líquor, é possível prever qual a patologia envolvida, de forma a facilitar a investigação 
laboratorial e consequentemente o seguimento terapêutico. 
 
5. Como deve ser feita a cultura do líquor? Descreva passo a passo. 
 
 
 No fluxograma, observamos o passo a passo da realização de cultura. (1) O 
primeiro passo consiste em incubar a amostra entre 5 a 10% de CO2, com 
temperatura variando entre 35 a 36ºC. (2) Após 24 horas desta incubação, faz-se a 
primeira leitura do resultado. (3) Se positivo, o laboratório deve identificar os 
microrganismos patológico e realizar testes de suscetibilidade aos antimicrobianos. 
Ressalta-se que estes testes devem estar de acordo com o preconizado pelas normas 
do CLSI (Clinical & Laboratory Standards Institute). Se negativo, deve-se incubar 
novamente a amostra e realizar outras leituras no decorrer de 72 horas. (4) O 
resultado final deve ser emitido e se positivo, o médico precisa ser comunicado de 
imediato. 
Observações: 
 Quando há suspeita de Haemophilus, pode-se adicionar tiras de X-V na placa 
de ágar sangue; o isolamento deve ser realizado em ágar sangue ou ágar chocolate 
suplementado. Se há suspeita de meningite fúngica, o líquor deve ser inoculado em 
Incubar amostra em 5 a 
10% de CO2 em 
temperatura entre 35 a 
36ºC
Após 24h: realizar 
primeira leitura
Se positivo: identificar 
microrganismo e realizar teste 
de suscetibilidade aos 
antimicrobianos (em acordo 
com normas do CLSI)
Informar médico 
imediatamente
Se negativo: reincubar e 
realizar leituras diárias até 72h 
após início
Emitir resultado final (se 
positivo, comunicar 
médico imediatamente)
placa com ágar dextrose de Sabouraud, Mycosel ou BHI. Em casos de suspeita de 
micobactérias, inocular em caldo e ágar Middlebrok e se há suspeita de infecção por 
Mycobacterium tuberculosis, semear em ágar Lowestein-Jensen e incubar durante 60 
dias. Culturas de Neisseria devem ser em ágar Thayer-Martin (5% CO2) e recomenda-
se fazer o teste β-lactamase com disco de nitrocefina. Cryptococcus devem ser 
semeados em duplicata e incubados a 35ºC (amostra 1) e temperatura ambiente 
(amostra 2). 
 Em casos graves, indica-se a hemocultura devido a bacteriemia ser presente 
em aproximadamente 50% dos casos de meningites por meningococos e 
pneumococos. Destaca-se que se paciente já está em uso de terapia antibiótica 
anterior à coleta da amostra, a recuperação de microrganismos pode ser 
significativamente reduzida. 
Em casos de empiema: 
 A amostra deve ser centrifugada em velocidade entre 4500 a 5000 rpm durante 
15 minutos. Após centrifugação, uma parte é destinada ao Gram e outra parte é para 
realização da cultura. O líquor é semeado em ágar sangue, chocolate e MacConkey 
e incubado a 35ºC em estufa com 5% de CO2 durante24 horas. Se positivo, é 
identificado o microrganismo e emitido o resultado final. Se negativo, é emitido 
resultado parcial negativo e a amostra é incubada por mais 24 horas. Decorrida essas 
horas, o resultado final é emitido. 
 
6. Streptococcus pyogenes é o principal agente de faringites bacterianas. 
Descreva, passo a passo, como deve ser feito o diagnóstico 
microbiologico deste microrganismo? 
 O agente etiológico da faringite bacteriana, neste caso o Streptococcus 
pyogenes, pode ser identificado da seguinte maneira: em coloração de Gram, os 
microrganismos dispostos em coco gram positivos negativos ao teste de catalase, são 
testados a presença de β-hemólise e α-hemólise. Se confirmado que os 
microrganismos da amostra são β-hemolíticos, a amostra será submetida a novos 
testes para diferenciação. Caso a amostra demonstre PYR positivo e sensível à 
presença de Bacitracina, há a confirmação da presença de S. pyogenes. 
 Foram desenvolvidos testes rápidos, como latex e imunocromatografia, para 
pesquisa de S. pyogenes. A sensibilidade varia entre 70 a 95% e a especificidade 
aproxima a 95%; contudo, teste não diferencia estado de portador. 
 
7. Como deve ser feita a coleta de escarro para o diagnóstico microbiologico 
de infecções do Trato Respiratório Inferior? 
 O escarro pode ser coletado por meio de duas abordagens: amostra 
expectorada ou induzida após nebulização com solução salina. 
 
 A amostra deve ser encaminhada imediatamente ao laboratório e processada 
no prazo de uma a duas horas, a fim de não perder patogenos fastidiosos e evitar 
proliferação de bacilos gram-negativos. 
 
8. Como deve ser feita a validação das amostras de escarro e do aspirado 
endotraqueal? 
 Para validação das amostras de escarro e do aspirado endotraqueal, deve-se: 
(1) realizar coloração de Gram e observar espécime, em microscópio com aumento 
de 100x, a presença de 25 ou mais leucócitos polimorfonucleares (PMN) e 10 ou 
menos células epiteliais descamadas por campo. (2) Após observação, deve-se 
realizar a média de dez campos. 
Escarro expectorado
• Prefere-se colher a primeira amostra da manhã, dado sua natureza
concentrada.
• Anterior à coleta, recomenda-se que paciente retire próteses e higienize a
boca com escova e água destilada estéril, de forma a remover microbiota
superficial e assim, evitar contaminação da amostra. Ainda, deve-se intruir
paciente sobre o material desejado da coleta, ressaltando diferenças entre
tosse profunda e saliva; com isso, há maior garantia de se obter amostra
de boa qualidade.
• Em seguida, colhe-se a amostra obtida, após tosse profunda, em um
frasco estéril de boca larga.
Escarro induzido
• O escarro é coletado após nebulização do paciente com 20 a 30 mL de
solução salina (cloreto de sódio 3%).
• Anterior à coleta, paciente deve ter a boca higienizada.
• Essa coleta é adotada quando pacientes possuem pouco escarro ou
apresentam dificuldade de eliminar o escarro. Para além, pode ser utilizada
para pacientes com suspeita de infecção por Mycobacterium tuberculosis e
em pacientes soropositivos para HIV com suspeita de Pneumocystis
jirovecii.
 Destaca-se que, em pacientes neutropênicos, o número de PMN deve ser 
desconsiderado. Ainda, a aplicação desses critérios deve ser repensada para 
amostras originárias de pacientes com suspeita de infecção por Legionella, 
micoplasmas ou diagnosticados com fibrose cística. 
 
9. Como deve ser feita a cultura do aspirado endotraqueal? 
 Da amostra colhida, dilui-se 1 mL em 9 mL de solução salina (1:10); em 
seguida, faz-se diluição 1:100 e 1:1000. Após obter a diluição 1:1000, com o auxílio 
da alça de Drigalski, semeia-se 0,1 mL da diluição nas placas de ágar sangue, ágar 
chocolate e MacConkey. Conta-se 106 UFC/mL. 
 Posteriormente, incuba-se as placas. As placas de ágar sangue e MacConkey 
são incubadas entre 35 a 37ºC durante 48 a 72 horas; decorrido o tempo, são 
examinadas após 18 a 24 horas. Quanto a placa de ágar chocolate, a mesma é 
incubada entre 35 a 37ºC em tensão de 5% de 𝐶𝑂2, em jarra de vela, por 48 a 72 
horas; após o tempo determinado, examina-se amostra após 18 a 24 horas. 
 Anterior às diluições, amostras com materiais muito espessos podem ser 
tratadas com um agente mucolítico, como N-acetil-L-cisteína a 1%, de forma a 
alcançar diluição final igual a 1:20.000. Alternativamente, pode-se adotar alça 
calibrada de 1 µL para a semeadura a partir da primeira diluição. 
 
10. Como deve ser feito o diagnóstico microbiológico das infecções fúngicas 
do Trato Respiratório Inferior? 
 O diagnóstico microbiológico de infecções fúngicas pode ser obtido a partir de 
uma pesquisa a fresco. Para isso, utiliza-se com hidróxido de potássio ou hidróxido 
de sódio a 20%, a fim de clarificar estruturas fúngicas, e pesquisa, por meio da 
microscopia, as estruturas particulares de fungos em objetiva de 40x. 
 Quando se tratar de fungos leveduriformes, adota-se hidróxido de potássio ou 
hidróxido de sódio a 20% e corante, como azul algodão ou azul de lactofenol. Em 
casos de suspeita de Cryptococcus, pode-se fazer exame direto com tinta nanquim 
(tinta chinesa). Quanto a suspeita de pneumonia causada por Pneumocystis jirovecii, 
o diagnóstico pode ser feito por meio do exame direto de amostras de lavado 
broncoalveolar ou escarro induzido coradas por Giemsa ou azul de toluidina, bem 
como biopsias pulmonares, a procura de cistos ou trofozoitos. 
 Em relação à cultura, amostras com fungos devem ser semeadas em meios 
específicos, como Mycosel e Sabouraud, em duplicata, e incubar a temperatura 
ambiente e 35 a 37ºC durante semanas. Os exames macroscópicos e microscópicos 
das colônias obtidas podem ser realizados após 4 semanas. 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
BRASIL, Anvisa. Microbiologia Clínica para o controle de IRAS. Módulo 3: Principais 
síndromes infecciosas. Brasília, 2013. 
BROOKS, G. F. et al. Microbiologia Médica de Jawetz, Melnick e Adelberg. 26ª ed. 
Porto Alegre. Editora McGraw-Hill, 2014. 872p. 
HENRY, J. B. Diagnósticos Clínicos e Tratamento por Métodos Laboratoriais. 20ª ed. 
Manoele: Barueri, 2008. 
TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 10ª ed. Porto Alegre: 
Editora Artmed, 2012.

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