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História do brasil colonia 3

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HISTÓRIA DO 
BRASIL 
COLÔNIA
Caroline Silveira Bauer
Expansão territorial
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Analisar a relação estabelecida entre metrópole e suas colônias.
  Caracterizar a estrutura administrativa no território colonial.
  Descrever a organização das capitanias hereditárias.
Introdução
O Brasil esteve sob domínio português durante mais de três séculos. 
Ainda que a cultura brasileira tenha sido composta a partir de influências 
africanas, europeias e indígenas, a estrutura formada para administração 
colonial reproduzia instituições e práticas jurídicas de conhecimento dos 
portugueses, ou seja, provenientes da Europa e do colonialismo. Por isso, 
ao tratar da estrutura administrativa, institucional e política da América 
portuguesa, o conceito de Antigo Regime nos trópicos é bastante eficaz 
para compreender as relações estabelecidas entre Portugal e sua colônia 
na América.
Neste capítulo, você vai estudar as relações entre a metrópole e o 
Brasil Colônia no âmbito do Império Português. Conhecerá a estrutura 
administrativa da colônia, seus principais órgãos e suas funções. Além 
disso, compreenderá de que forma se deu a gestão da terra e sua pro-
priedade, chegando ao regime das capitanias hereditárias.
1 A relação metrópole–colônia
Para além das interpretações econômicas das relações estabelecidas entre 
a metrópole portuguesa e suas colônias na Ásia, África e América, existem 
aqueles historiadores que se preocuparam em compreender outras formas de 
relacionamento e reprodução de padrões comportamentais e de relacionamento 
metropolitano nos domínios ultramarinos.
Além disso, as críticas contemporâneas à noção de absolutismo permiti-
ram uma revisão nas interpretações sobre as relações entre a metrópole e a 
colônia, evidenciando a existência de uma autoridade negociada: “ao invés de 
metrópoles onipotentes e colônias submissas, teríamos contínuas negociações 
entre ambas” (FRAGOSO, 2002, documento on-line).
Por isso, nosso foco neste capítulo será voltado à relação metrópole–colônia 
inserida na ideia da monarquia pluricontinental, um sistema político baseado 
em uma concepção corporativa e polissinodal da sociedade, ou seja, uma 
monarquia que se baseava em uma constelação de poderes concorrentes. Isso 
funcionava pelo sistema de mercês, elos de dependência e reciprocidade que, 
transpostos para a América lusa, configuravam o Antigo Regime nos trópicos 
(FRAGOSO; MONTEIRO, 2017).
De acordo com Fragoso (2002, documento on-line):
A presença do Antigo Regime não só era percebida nas rotas marítimas ou 
nos negócios cotidianos internos de Angola ou de Portugal, mas também 
tal presença deixou suas marcas em instituições como a Câmara Municipal 
e a Santa Casa de Misericórdia. De origem reinol, elas se espalharam por 
diferentes espaços ultramarinos: de Recife a Macau. Mais do que isto, 
as Câmaras serviam, à semelhança das lusas, como locus de negociação 
entre a “nobreza da terra” local e os poderes do centro. Portanto, em meio 
àqueles vários vínculos ultramarinos, não há por que se espantar com a 
existência de redes políticas que, partindo de Goa ou do Rio de Janeiro, 
chegavam ao paço lisboeta, sendo base de conf litos e negociações nos 
rumos do Império.
Em outras palavras, podemos afirmar que as relações entre a metrópole e 
a colônia não se restringiam ao aspecto comercial, notadamente o exclusivo 
ou monopólio colonial, e não se enquadram em aspectos de dominação e 
subjugação, mas comportam espaços de negociação entre os colonos e en-
tre os colonos e a metrópole. Conforme Fragoso, Gouvêa e Bicalho (2000, 
Expansão territorial2
documento on-line), essa abordagem tinha como objetivo “analisar o ‘Brasil 
Colônia’ através das relações econômicas com a Europa do mercantilismo [...] 
centrada na ênfase da oposição metrópole versus colônia e na contradição de 
interesses entre colonizadores e colonos”.
Para citar apenas um dos autores que se inserem nesse quadro interpretativo, 
vamos analisar brevemente a relação que Caio Prado Júnior, em Formação 
do Brasil contemporâneo, estabelece entre a colônia e a metrópole. De acordo 
com o autor (PRADO JÚNIOR, 1971, p. 31–32):
[...] se vamos à essência de nossa formação, veremos que na realidade nos 
constituímos para fornecer açúcar, tabaco, alguns outros gêneros [...] e em 
seguida café, para o comércio europeu [...]. Foi com tal objetivo, objetivo 
exterior, voltado para fora do país e sem atenção a considerações que não 
fossem do interesse daquele comércio, que se organizaram a sociedade e a 
economia brasileiras. Tudo se disporá naquele sentido: a estrutura, bem como 
as atividades do país. 
Para o autor, ir à “essência de nossa formação” significa buscar um 
sentido para a colonização do Brasil de determinada forma. Trata-se da 
busca de um objetivo, que será um “objetivo exterior, voltado para fora 
do país e sem atenção a considerações que não fossem o interesse daquele 
comércio [europeu]”, PRADO JÚNIOR, 1971, p. 31, acréscimo nosso). 
Percebe-se por essas afirmações que não haveria uma alternativa à colônia 
brasileira senão se organizar de acordo com os interesses metropolitanos 
portugueses.
Portanto, a economia e sociedade brasileiras do século XVI ao século 
XIX organizaram-se a fim de atender a uma demanda externa. Aqui, pode-se 
perceber uma referência aos “ciclos de produção” brasileiros, primeiramente do 
cultivo do açúcar, em seguida do ouro, sucedido pelo café (PRADO JÚNIOR, 
1971). A relação metrópole–colônia foi abordada pelo autor apenas por seu viés 
mercantil, ignorando as estruturas internas de economia e aspectos culturais 
e políticos na estruturação da sociedade.
Já para compreender as relações metrópole e colônia a partir do viés pro-
posto por Fragoso, Gouvêa e Bicalho (2000), é fundamental entender de 
que forma os privilégios influíam nessa relação e como importantes órgãos 
locais, como as câmaras e seus agentes, os administradores do ultramar, 
relacionavam-se com a metrópole.
3Expansão territorial
Nessa nova percepção da relação da metrópole com a colônia, como se conformava 
a hierarquia social na América portuguesa? Além do aspecto econômico, essa hie-
rarquia era construída por aspectos culturais e políticos, em que os grupos sociais se 
distinguiam e se reconheciam por “qualidades”. As pessoas de “melhor qualidade” 
seriam aquelas que governariam localmente nas câmaras. Esses cargos, seguindo o 
direito consuetudinário luso, poderiam ser hereditários, criando uma “governança 
da terra”, que deu origem a uma “nobreza da terra”, em uma hierarquia estamental 
e excludente. “Em outras palavras, algumas famílias detinham parte do mando local, 
por terem melhor qualidade que as demais mortais. Como tais, as primeiras famílias 
interferiam na vida da República e nos seus negócios, em particular no mercado. 
Neste ambiente, o cabedal [riqueza material] era visto como meio para sustentar a 
qualidade” (FRAGOSO, 2002, documento on-line). Dessa forma, não é de surpreender 
que no século XVI as “melhores famílias”, as com “mais qualidades”, fossem aquelas 
que aprisionavam indígenas e que traficavam africanos escravizados.
Quanto aos privilégios, lembremos a existência do sistema de mercês e 
da “economia do dom”, que estabelecia uma série de redes clientelares, bem 
como a disputa pelos cargos concelhios, que permitiam ascender hierarqui-
camente na colônia e utilizar instrumentos de negociação com a metrópole. O 
sistema de mercês consistia em uma rede clientelar de troca, que estabelecia 
elos de reciprocidade e dependência (FRAGOSO; MONTEIRO, 2017) em 
que a aristocracia, por ocupar certos cargos na colônia, recebia do rei novas 
concessões, em cargos, terras, títulos ou serviços. Esses privilégios acabaram 
formando uma “nobreza da terra”, que, muitas vezes, precisou negociar com 
a metrópole por áreas de atuação ou interesses divergentes.
Segundo as análises de Fragoso, Gouvêa e Bicalho (2000), coma atribuição 
de cargos e ofícios civis e militares e a concessão de privilégios comerciais 
a indivíduos e grupos, foi possível formar uma cadeia de poder e redes de 
hierarquias que se formavam na metrópole e se estendiam até os colonos, com 
quem eram estabelecidos vínculos estratégicos. 
Através da distribuição de mercês e privilégios, o monarca não só retribuía o serviço 
dos vassalos ultramarinos na defesa dos interesses da cora e, portanto, do bem 
comum. Ele também reforçava os laços de sujeição e o sentimento de pertença dos 
mesmos vassalos à estrutura política do Império, garantindo a sua governabilidade. 
Materializava-se, assim, forjando a própria dinâmica da relação imperial, uma dada 
noção de pacto e de soberania, caracterizada por valores e práticas tipicamente do 
Antigo Regime, ou, dito de outra forma, por uma economia política de privilégios 
(FRAGOSO, GOUVÊA, BICALHO, 2000, documento on-line).
Expansão territorial4
2 A estrutura administrativa da América 
portuguesa
A estrutura administrativa da América portuguesa foi forjada nos quadros 
do sistema colonial, porém em uma tentativa explícita de transposição do 
modelo e dos valores portugueses de administração pública para a colônia. 
Esse modelo de administração passou por adaptações devido às especifi cidades 
da vida colonial e, pela autonomia administrativa de alguns órgãos, gerou-se 
confl itos com a metrópole.
Nesta seção, veremos quais eram as principais instituições e órgãos da 
estrutura administrativa da América portuguesa que adquiriram mais es-
pecialização depois da criação do governo geral. Até então, não havia essa 
burocracia, e determinadas figuras podiam exercer tarefas administrativas e 
judiciárias que, inúmeras vezes, sobrepunham-se às tarefas de outra autoridade, 
gerando inúmeros problemas.
Podemos afirmar, desta forma, que os órgãos administrativos coloniais 
se dividiam em três grandes grupos: o militar, o da justiça e o da fazenda 
(FAUSTO, 1995). Em relação ao aspecto militar, afirma o historiador Boris 
Fausto (1995) que as forças armadas de uma capitania compunham-se da 
tropa de linha (contingente regular e profissional, composta quase sempre de 
regimentos portugueses), das milícias (tropas auxiliares, recrutadas entre os 
colonos, para serviço obrigatório e não remunerado) e dos corpos de ordenança 
(força local composta pelo restante da população masculina de 18 a 60 anos, 
exceto os padres).
Quanto aos órgãos de justiça, que às vezes desempenhavam funções 
administrativas:
eram representados pelos vários juízes, entre os quais se destacava o ouvidor 
da comarca, nomeado pelo soberano por três anos. Para julgar recursos das 
decisões, existiam os Tribunais da Relação, presididos pelo governador ou 
pelo vice-rei, a princípio só na Bahia e depois na Bahia e no Rio de Janeiro. 
Por sua vez, o principal órgão encarregado de arrecadar tributos e determinar à 
realização despesas era a Junta da Fazenda, presidida também pelo governador 
de cada capitania (FAUSTO, 1995, p. 64).
Por fim, é importante fazer referência às câmaras municipais que, para 
muitos historiadores, eram os órgãos mais importantes da administração 
colonial. As Ordenações Manuelinas estabeleciam a vida administrativa das 
vilas e povoações, com estrutura jurídica semelhante às da metrópole.
5Expansão territorial
O que eram as ordenações? O conjunto das leis de Portugal estava reunido em um 
código, chamado “ordenações”. As primeiras ordenações foram as Afonsinas, que, no 
começo do século XV, reuniram todas as leis vigentes no reino. No início do século 
seguinte, as leis foram recopiladas e publicadas em um novo código, chamado Ordena-
ções Manuelinas, que permaneceram em vigor até 1603, quando, após novo trabalho 
de compilação e publicação, foram editadas as Ordenações Filipinas (TORRES, 2002).
As câmaras eram sediadas nas vilas e nas cidades e eram compostas de 
membros natos (não eleitos) e de representantes eleitos. “Votavam nas elei-
ções, que eram geralmente indiretas, os ‘homens bons’, ou seja, proprietários 
residentes na cidade, excluídos os artesãos e os considerados impuros pela 
cor e pela religião, isto é, negros, mulatos e cristão novos” (FAUSTO, 1995, 
p. 64). De acordo com Torres (2002, p. 27):
Fundar e organizar municípios no Brasil foi para Portugal um fator de apre-
ensão. De um lado, foi uma decorrência necessária do povoamento e defesa 
da terra, de sua exploração e das necessidades de tributação e arrecadação 
fazendária. Porém, especialmente nos dois primeiros séculos de colonização, 
as relações entre os conselhos municipais e o governo central, seja colonial ou 
metropolitano, foram muitas vezes de tensão. A amplidão do território gerou 
o isolamento e o autonomismo das povoações, característica que buscavam 
resguardar, defendendo seus interesses locais.
As experiências das câmaras municipais variaram muito em todo o terri-
tório português na América, algumas tornando-se a principal autoridade nas 
capitanias, sobrepondo-se aos governadores. 
As câmaras possuíam finanças e patrimônio próprios. Arrecadavam tributos, 
nomeavam juízes, decidiam certas questões, julgavam crimes como pequenos 
furtos e injúrias verbais, cuidavam das vias públicas, das pontes e chafarizes 
incluídos no seu patrimônio. Elas foram controladas, sobretudo até meados do 
século XVII, pela classe dominante dos proprietários rurais e expressavam 
seus interesses (FAUSTO, 1995, p. 64).
Por fim, é necessário fazer referência à administração eclesiástica colonial. 
A jurisdição espiritual do território português na América pertencia à Ordem 
de Cristo, fundada em 1319, e depois passaria à diocese de Funchal. O padroado 
Expansão territorial6
possuía o direito de cobrar e administrar os dízimos eclesiásticos, que eram 
uma importante fonte de receita (SALGADO, 1985). Como contrapartida, 
deveriam expandir a fé cristã e criar e manter locais de culto; para isso, foram 
enviados “funcionários eclesiásticos” à colônia. Essa expressão demonstra 
“como a Igreja nascente nas terras americanas dependia do Estado português, 
situação que se prolongou por todo o período colonial [...]. Além da integração 
político-religiosa, a coroa se beneficiou, e muito, da sua condição de adminis-
tradora dos dízimos eclesiásticos, em muitas regiões talvez a principal fonte da 
renda colonial” (SALGADO, 1985, p. 115). Ainda segundo Salgado (1985), das 
várias ordens atuantes no Brasil, as mais importantes foram a dos jesuítas, dos 
beneditinos, dos franciscanos e dos carmelitas, com atividades relacionadas 
à catequese, à educação (religiosa e laica), além das atividades econômicas.
3 As capitanias hereditárias
As capitanias hereditárias foram a primeira forma de administração política 
da colônia, implementadas a partir de 1534. O sistema já havia sido empre-
gado anteriormente nas colônias portuguesas no Atlântico, e sua reprodução 
na colônia americana deveu-se às difi culdades econômicas de Portugal em 
fi nanciar o empreendimento colonial. “O sistema de capitanias hereditárias 
existiu no Império Português por mais de três séculos, compreendidos entre 
a doação da primeira capitania, a do Machico, na Madeira, em 1440, e a 
incorporação das últimas que ainda havia (Funchal, Porto Santo e o mesmo 
Machico, todas na ilha da Madeira), em 1770, no contexto de centralização 
do poder no reinado de D. José I” (CABRAL, 2015, p. 65).
A coroa portuguesa entregava lotes de terra, chamados donatarias, que 
variavam em extensão, aos interessados em explorá-las com recursos próprios, 
ou seja, por meio de capital privado. Entre 1534 e 1536, o rei de Portugal, D. 
João III, dividiu as possessões portuguesas na América em 15 donatarias, 
doando-as a 12 capitães-donatários, também chamados de governadores, 
mediante as cartas de doação. Esses homens não estavam subordinados a 
autoridade alguma dentro da colônia, o que gerou certa descentralização do 
poder (CABRAL, 2015). Boris Fausto (1995, p. 44) afirma que: “eles cons-
tituíam um grupodiversificado, no qual havia gente da pequena nobreza, 
burocratas e comerciantes, tendo em comum suas ligações com a coroa. [...] 
Nenhum representante da grande nobreza se incluía na lista dos donatários, 
pois os negócios na Índia, em Portugal e nas ilhas atlânticas eram por essa 
época bem mais atrativos”.
7Expansão territorial
Mediante outro documento, a “carta foral”, era estabelecida uma série de 
direitos e deveres do donatário. Boris Fausto (1995, p. 44) cita alguns desses 
deveres dos capitães-donatários: “os donatários receberam uma doação da 
coroa, pela qual se tornavam possuidores, mas não proprietários da terra. Isso 
significava, entre outras coisas, que não podiam vender ou dividir a capitania, 
cabendo ao rei o direito de modificá-la ou mesmo extingui-la”. Havia, no 
entanto, outros elementos na escolha desses donatários: eram homens que já 
haviam prestado algum serviço à coroa e que, além de povoar essas áreas, 
levariam a fé cristã a esses territórios (CABRAL, 2015).
Em relação aos direitos, eles incluíam poderes administrativos e econômi-
cos. Em relação ao aspecto administrativo, os capitães donatários “tinham o 
monopólio da justiça, autorização para fundar vilas, doar sesmarias, alistar 
colonos para fins militares e formar milícias sob seu comando” (FAUSTO, 
1995, p. 44). Quanto ao aspecto econômico, os capitães-donatários poderiam 
doar sesmarias. “A atribuição de doar sesmarias é importante, pois deu origem 
à formação de vastos latifúndios. A sesmaria foi conceituada no Brasil como 
uma extensão de terra virgem cuja propriedade era doada a um sesmeiro, com 
a obrigação — raramente cumprida — de cultivá-la no prazo de cinco anos e 
de pagar o tributo devido à coroa” (FAUSTO, 1995, p. 44–45). Os donatários 
também arrecadavam impostos dos sesmeiros caso esses desejassem instalar 
engenhos de açúcar e moinhos de água, além de armazenar sal. Também 
eram cobrados no caso da exploração do pau-brasil, de metais preciosos e de 
derivados da pesca (FAUSTO, 1995).
Além disso, os donatários também podiam fundar vilas. As vilas eram 
administradas por um alcaide nomeado pelo donatário e pela câmara muni-
cipal, onde atuavam os vereadores. De acordo com Boris Fausto (1995, p. 45):
[...] ao instituir as capitanias, a coroa lançou mão de algumas fórmulas cuja 
origem se encontra na sociedade medieval europeia. É o caso, por exemplo, 
do direito concedido aos donatários de obter pagamento para licenciar a 
instalação de engenhos de açúcar; esse direito é análogo às ‘banalidades’ 
pagas pelos lavradores aos senhores feudais. Mas, em essência, mesmo na 
sua forma original, as capitanias representaram uma tentativa transitória e 
ainda tateante de colonização, com o objetivo de integrar a colônia à economia 
mercantil europeia.
Seja como for, a administração colonial nos moldes das capitanias heredi-
tárias não obteve os resultados esperados. Os capitães-donatários enfrentaram 
uma série de dificuldades, tais como a descentralização administrativa, au-
sência de auxílio da coroa e falta de recursos, dificuldades de comunicação, 
Expansão territorial8
problemas na defesa do território, confronto com os indígenas, etc. (FAUSTO, 
1995). A consequência foi a falência ou a renúncia de seus direitos e o aban-
dono das capitanias por seus capitães-donatários, excetuando-se aquelas que 
obtiveram êxito, devido às atividades econômicas relacionadas à produção 
do açúcar e às negociações com os indígenas — a capitania de São Vicente 
e a capitania de Pernambuco (FAUSTO, 1995). Assim, foi criado o Governo 
Geral, mas o sistema de capitanias foi extinto somente em 1759.
O Governo Geral
Criado pela Carta Régia de 7 de janeiro de 1549, sua função era centralizar a 
administração colonial, sediada na capitania da Bahia. Conforme Guilherme 
Amorim Carvalho (2013), o Governo Geral não extinguiu o sistema das capi-
tanias hereditárias, mas esse foi perdendo a importância devido à retomada 
das capitanias por parte da coroa e sua transformação em “capitanias régias”.
Além disso, o rei limitou consideravelmente a alçada em assuntos de justi-
ça que antes era conferida aos capitães-donatários, ainda proprietários das 
capitanias. A instituição do Governo Geral significou, assim, um reforço do 
sistema de capitanias, que não havia logrado garantir efetivamente a posse 
das terras americanas, e que nesse momento passaria a contar com maior 
intervenção régia. Nesse sentido, pode-se observar que a colonização das 
terras americanas pela coroa portuguesa apresentou uma dinâmica específica 
em comparação às outras áreas; seu objetivo imediato era a garantia da posse 
da terra, o que apenas se conseguiu por meio do povoamento de fato, e foi 
somente em razão dessa necessidade de ocupação e posse efetiva do território 
e, portanto, para oferecer um suporte econômico a esse povoamento, que se 
estabeleceu uma produção de gêneros para o comércio europeu (CARVALHO, 
2013, documento on-line).
Além dessa função administrativa, o Governo Geral deveria intensificar 
as ações de colonização por meio do povoamento; pacificar as relações com 
os indígenas; mediar as relações entre os capitães-donatários e os sesmeiros 
e enfraquecer a influência dos capitães-donatários; exercer o poder judiciário 
e militar na defesa da colônia; e estimular as atividades econômicas, princi-
palmente a produção de cana-de-açúcar.
De acordo com Boris Fausto (1995), a decisão de D. João III de estabelecer 
o Governo Geral do Brasil ocorreu em um momento de crise na carreira das 
Índias e de derrotas militares da coroa portuguesa no Marrocos. O sistema de 
organização política segundo o Governo Geral pode ser resumido da seguinte 
forma:
9Expansão territorial
  poder central: Governo Geral;
  poder regional: capitão donatário;
  poder local: câmara municipal.
A colônia possuiu três governadores gerais. Vejamos alguns dos eventos 
de seus respectivos governos. O primeiro governador geral foi Tomé de Souza 
(1549–1553). Durante seu governo, fundou-se a primeira cidade brasileira, 
Salvador (1549), que se transformou na capital da colônia; podemos citar 
como um acontecimento de seu governo a vinda dos primeiros jesuítas da 
Companhia de Jesus e a introdução da pecuária na economia interna. De 
acordo com Boris Fausto (1995, p. 46):
Tomé de Souza era um fidalgo sisudo, com experiência na África e na Índia. 
Chegou à Bahia acompanhado de mais de mil pessoas, inclusive quatrocentos 
degredados, trazendo consigo longas instruções por escrito conhecidas como 
Regime de Tomé de Souza. As instruções revelam o propósito de garantir a 
posse territorial da nova terra, colonizá-la e organizar as rendas da coroa. 
Foram criados alguns cargos para o cumprimento dessas finalidades, sendo 
os mais importantes o de ouvidor, a quem cabia administrar a justiça, o de 
capitão-mor, responsável pela vigilância da costa, e o de provedor-mor, en-
carregado do controle e crescimento da arrecadação.
O segundo governador geral foi Duarte da Costa (1553–1558). Seu governo 
enfrentou duas questões bastante importantes: o confronto entre jesuítas e 
sesmeiros em relação à escravidão indígena e a invasão francesa na região 
do Rio de Janeiro. Em seu mandato, foi fundada a cidade de São Paulo (1554) 
pelo padre jesuíta José de Anchieta (VAINFAS, 2000).
O terceiro e último governador geral foi Mem de Sá (1558–1572). Em seu 
mandato, houve a introdução dos africanos escravizados na economia colonial. 
Mem de Sá foi responsável pela expulsão dos franceses do território português, 
fundando a cidade do Rio de Janeiro (1565) (VAINFAS, 2000).
Após a morte de Mem de Sá, ocorrida em 1572, a coroa portuguesa di-
vidiu o Brasil em dois governos gerais: o governo do norte, que abrangia o 
território da capitania de Porto Seguro à capitania de Pernambuco, com sede 
em Salvador, governado por Luiz de Brito; e o governo do sul, que abrangia o 
território da capitania de Ilhéus aos limites do território português no sul da 
colônia, com sede no Rio de Janeiro,governado por Antônio Salema. Lem-
bremos que o limite ao sul era estabelecido pelo Tratado de Tordesilhas, e que 
Expansão territorial10
seria frequentemente desrespeitado. Essa forma de administração da colônia 
fracassou e em 1578 Lourenço da Veiga foi nomeado único governador geral 
do Brasil, permanecendo no cargo até 1581. Posteriormente, houve uma nova 
divisão do território e em 1621, durante o domínio espanhol em função da 
União Ibérica, a administração colonial foi dividida em Estado do Maranhão 
e Estado do Grão-Pará, com o objetivo de melhorar as defesas do território e 
facilitar a comunicação com a metrópole.
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11Expansão territorial
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Leituras recomendadas
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Expansão territorial12

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