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Etapas, métodos e técnicas da intervenção ergonômica Etapas da intervenção ergonômica O primeiro item da Norma Regulamentadora nº 17 (NR 17) aponta que o principal objetivo da ergonomia é estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente. Quando falamos em “parâmetros”, não estamos falando, necessariamente, de números e questões quantitativas. Percebe-se uma tentativa constante de criar regras, manuais, números, indicadores e tantas outras limitações que acabam restringindo cada vez mais a autonomia das pessoas, na tentativa de alcançar um padrão que molde cada pessoa e cada fazer como se todas as situações fossem iguais. Por exemplo: qual o peso correto para caixas serem carregadas sem prejudicar a saúde das pessoas? Muitos já tentaram estabelecer um padrão. A própria Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em seu Capítulo V, Título II, artigo 198, diz que é 60 kg o peso máximo que um trabalhador pode carregar. O estabelecimento de um peso depende das condições e do contexto onde essas caixas estão. A que altura elas estão do chão (quanto mais baixas, maior esforço na coluna para alcançá-las e manipulá-las)? São fáceis de pegar? Quantas vezes por minuto elas devem ser carregadas? Quanto tempo na jornada o trabalhador dedica para carregá-las? Existe assimetria nesse trabalho de forma a aumentar a sobrecarga na coluna? Por exemplo: qual o peso correto para caixas serem carregadas sem prejudicar a saúde das pessoas? Perceba que o peso das caixas é apenas um dos fatores. Todas essas perguntas podem ser respondidas com uma infinidade de respostas, dependendo de cada situação, de cada trabalho e de cada trabalhador. O papel do ergonomista se foca aqui: os limites de tolerância nem sempre podem ser medidos objetivamente. Às vezes, uma solução sempre é dar maior flexibilidade, autonomia e opções para que o trabalhador escolha a melhor forma de trabalhar Para avaliar o conforto, precisamos nos atentar a NR 17 Os 12 passos para elaboração da Análise Ergonômica do Trabalho Metodologia da ergonomia da atividade: a demanda e a análise global da empresa e dos trabalhadores Toda Análise Ergonômica do Trabalho parte de uma demanda, e este é o primeiro passo: 1) Análise da demanda e do contexto A obrigatoriedade desse estudo de acordo com a Norma Regulamentadora nº 17 tem levado as empresas, muitas vezes, a realizarem a Análise Ergonômica do Trabalho de forma rotineira e protocolar, o que leva a análises superficiais que não contribuem com a melhoria das condições de trabalho. Metodologia da ergonomia da atividade: a demanda e a análise global da empresa e dos trabalhadores 2) Análise global da empresa. Análise global da empresa. Aqui, precisamos identificar características próprias da empresa para contextualizar a situação de trabalho. Dessa forma, identificamos localização geográfica, situação econômica, grau tecnológico, quem são seus clientes, sua regulamentação (regras internas, procedimentos, políticas, estratégias), tipos de produto e serviço (inclusive, padrões de qualidade e certificações), estrutura administrativa (organogramas e fluxogramas de processos que estejam relacionados à demanda), características das matérias-primas, variações sazonais da produção, principais tarefas, arranjo físico (leiaute), automação, metas produtivas, capacidade de produção, índice de produtividade e organização do trabalho (horários, turnos, cadências, ritmos, remuneração, forma de contratação e exigências). Metodologia da ergonomia da atividade: a demanda e a análise global da empresa e dos trabalhadores 3) Análise global da empresa. Aqui, precisamos identificar características próprias da empresa para contextualizar a situação de trabalho. Devemos mapear a política de pessoal, faixa etária, se há rotatividade, tempo de casa, experiência, categorias, níveis hierárquicos, características antropométricas, pré-requisitos, nível de escolaridade e capacitação (quais treinamentos específicos a empresa proporciona para cada tarefa), estado de saúde e absenteísmo. Devemos conhecer os trabalhadores para entender como melhorar o trabalho para eles. É importante ressaltar que, ao tratar da idade e do tempo de casa dos trabalhadores, não apontamos a média de idade, e sim as faixas etárias em histograma Exemplo de histograma com a distribuição de frequências referentes à idade Perceba que as idades estão agrupadas em faixas etárias. Assim, conseguimos visualizar a distribuição de idades e identificar, inclusive, se a empresa permite um envelhecimento da sua população de trabalhadores ou se é uma empresa que emprega apenas jovens. Metodologia da Ergonomia da Atividade: a tarefa e o pré-diagnóstico Após identificar a demanda e reconstruí-la, podemos identificar quais situações de trabalho precisam ser analisadas. Este é o quarto passo: Definição das situações a serem estudadas: Essa definição está totalmente relacionada à demanda reformulada. Estudamos apenas as situações que envolvem a demanda escolhida. Exemplo Por exemplo: um engenheiro de processos pode acreditar que seu sistema de indicadores de desempenho seja a melhor forma de identificar os melhores trabalhadores e busca apontar como elegíveis para promoção apenas os trabalhadores que se dão bem com esse sistema. Pode acontecer, na realidade, de trabalhadores altamente capacitados não serem bem avaliados pelo sistema, o qual não considera aspectos reais do trabalho. 5) Descrição das tarefas (prescritas e reais) e das atividades desenvolvidas para executá-las (como o trabalhador age, pensa, usa seu corpo e sua mente). É importante que a descrição da tarefa permita compreender o que o trabalhador deve fazer (a tarefa), como proceder para atingir esse objetivo (atividade) e as dificuldades que enfrenta. 6) estabelecimento de um pré-diagnóstico e, como o nome indica, ainda não é o diagnóstico final. Nessa etapa, deve ser explicitado às várias partes envolvidas tudo o que foi entendido e analisado com relação à tarefa e situação de trabalho motivada pela demanda. 7) Observação sistemática. Filmar, fotografar, observar livremente, entrevistar (questionários, roteiros semiestruturados) e realizar grupos focais são métodos de coleta de informação 8) diagnóstico ou diagnósticos do problema apontado como demanda para a Análise Ergonômica do Trabalho. Depois de analisar todas as situações em detalhe e sistematizálas, é possível formular um diagnóstico que permitirá o melhor conhecimento da situação de trabalho. 9) validação do diagnóstico: em que o ergonomista o apresenta a todos os atores envolvidos, os quais poderão confirmá-lo, rejeitá-lo ou sugerir maiores detalhes que escaparam à sua percepção; 10) projeto de modificações: alteração para sanar os problemas e transformar realmente a situação do trabalho resolvendo os problemas e reduzindo os fatores que induzem ao adoecimento, à insegurança ou ineficiência 11) cronograma de implantação: traçar um plano de ação com data, responsáveis, objetivos e custos, e de acordo com prazos, prioridades e urgências; 12) acompanhamento das modificações: o ergonomista não deve abandonar o estudo na entrega das informações iniciais.