Buscar

Capitulo Digital - Abertura ao novo e fechamento

Prévia do material em texto

Desenvolvendo Habilidades Socioemocionais: Abertura ao Novo e Fechamento
 Workshop Gestão 
DESENVOLVENDO 
HABILIDADES SOCIOEMOCIONAIS:
Abertura ao Novo e Fechamento
2
Workshop Gestão
 INTRODUÇÃO
Docente: Anita Lilian Zuppo Abed
Psicóloga (USP), Psicopedagoga (PUC), Mestre em Psicologia (São Marcos), Neuroeducadora (CE-
FAC), Consultora da UNESCO sobre o tema “O desenvolvimento das habilidades socioemocionais como 
caminho para a aprendizagem”. Doutoramento pela UNIFESP, com pesquisa sobre a utilização de jogos 
para o desenvolvimento de habilidades socioemocionais e a construção do conhecimento. Atuação 
profissional: psicoterapeuta de adultos, adolescentes e crianças (30 anos); psicopedagoga clínica (20 
anos); psicopedagoga institucional no Núcleo Psicopedagógico Integração (10 anos) e na Mind Lab (14 
anos), desenvolvendo projetos para aplicação em escolas e outros espaços de aprendizagem; docente 
em cursos de Pós-graduação em Psicopedagogia em várias instituições de ensino do Brasil, nas discipli-
nas “O jogo como recurso pedagógico” e “Psicopedagogia da Educação Matemática”; palestrante sobre 
vários temas relacionados à interface Educação e Saúde; elaboração de conteúdos didáticos e de análi-
ses técnicas de materiais voltados ao desenvolvimento de habilidades e à utilização de recursos lúdicos 
e artísticos em Educação.
 Apresentação do Workshop
Parte integrante do Programa de Desenvolvimento dos Estudantes, o workshop “Desenvolvendo 
Habilidades Socioemocionais” tem o objetivo de prover os alunos dos cursos de graduação com conheci-
mentos teóricos sobre o que são habilidades socioemocionais e a sua importância na vida e no mundo 
do trabalho, oferecendo dicas práticas de como os estudantes podem desenvolver essas competências 
em si mesmos e nas pessoas que integram seus grupos sociais. 
Neste Workshop, vamos estudar a macrocompetência Abertura ao Novo, e propor algumas re-
flexões finais.
 1. FECHAR... ABRINDO!
Intencionalmente, esse Workshop trata do tema Abertura ao Novo. E qual foi a intenção? Evi-
denciar que a vida é feita de ciclos, que o fechamento de cada um deles sempre implica na abertura de 
novas possibilidades. É a mensagem do símbolo do infinito: transitamos sem parar pela estrada do ir e 
vir da vida...
Fonte: Freepik
A fita de Möbius acrescenta mais um elemento a essa metáfora da vida: o interno e o externo em mo-
vimento contínuo, alternando-se, opondo-se e ao mesmo tempo complementando-se, formando a unidade 
“dupla face” que nos constitui em nosso “ser-no-mundo-com-os-outros” (citando/retomando Heidegger)1..
1 Reveja no texto que acompanhou a primeira aula.
3
Desenvolvendo Habilidades Socioemocionais: Abertura ao Novo e Fechamento
Ouroborus2 é mais um símbolo que ilustra bem os ciclos da vida, o infinito, a renovação: uma 
serpente (ou um dragão) que engole a própria cauda formando um círculo. Na imagem escolhida para 
ilustrar este curso, Ouroborus está acompanhada das fases da lua, mais um fenômeno que nos remete 
a ciclos que se repetem, como também são os movimentos de rotação (a Terra em torno de si mesma) 
e de translação (a Terra em torno do Sol). Movimentos, fases, ciclos que geram o tempo: o dia e a noite, 
os meses, as estações do ano. 
Nascimento, crescimento e morte. O calor e o frio. O claro e o escuro. A alegria e a tristeza. O co-
meço, o meio e o fim. Cada uma desses aspectos que compõem a vida tem suas características próprias, 
suas riquezas, seus ensinamentos e suas limitações. Assim como nós. Tanto no externo como no interno, 
como diz Lulu Santos em sua música “Como uma onda”: 
Há tanta vida lá fora
Aqui dentro sempre
Como uma onda no mar
Aliás, essa música é puro ensinamento, vale muito a pena refletir sobre cada verso e cada lição que 
esta letra nos oferece.
Como uma Onda (Zen-surfismo) (Lulu Santos)
Nada do que foi será
De novo do jeito que já foi um dia
Tudo passa, tudo sempre passará
A vida vem em ondas
Como um mar
Num indo e vindo infinito
Tudo que se vê não é
Igual ao que a gente viu há um segundo
Tudo muda o tempo todo no mundo
Não adianta fugir
Nem mentir
Pra si mesmo agora
Há tanta vida lá fora
Aqui dentro sempre
Como uma onda no mar
Fonte: Pixabay.
Desde a primeira aula, estamos usando o oceano como uma poderosa metáfora para compreen-
dermos as habilidades socioemocionais. No modelo Big Five, no qual nos sustentamos, as iniciais em 
2 Do grego Οὐροβόρος: ‘que consome a cauda’: οὐρά: ‘cauda’ + βόρος ‘consumo’.
4
Workshop Gestão
inglês dos cinco domínios formam a palavra “OCEAN”, oceano, o que nos remeta à amplitude, riqueza, 
variedade, múltiplas intensidades, profundidades e manifestações das nossas emoções, daquilo que 
sentimos e pensamos ao longo do “ir e vir de nossas ondas do mar”. 
 Habilidades socioemocionais - Big Five
 » Openness (Abertura ao Novo)
 » Conscientiousness (Autogestão): 
 » Extraversion (Engajamento com os Outros)
 » Agreeableness (Amabilidade)
 » Neuroticism (Resiliência Emocional)
Em cada uma das macrocompetência que estudamos, refletimos amplamente sobre a busca de 
equilíbrio entre as diferentes forças (muitas vezes opostas), entre os múltiplos aspectos que constituem 
as mais variadas situações que vivemos (“dentro” e “fora” de nós). Quando pensamos na “abertura ao 
novo”, mais uma vez é fundamental não cair em extremos, procurando equilibrar os dois polos da ba-
lança: por um lado, manter uma certa disponibilidade interna para viver novas experiências e, por outro, 
analisar possíveis riscos que podem estar envolvidos em um “novo”. 
Ou seja, nem todo o desconhecido deve ser experimentado. É essencial reconhecer quando esse 
“novo” envolve riscos, principalmente se os riscos forem alto demais ou até mesmo irreversíveis. Por 
exemplo, experimentar uma droga ou dirigir em alta velocidade pode trazer a emoção do novo, mas 
será que vale a pena? 
O espírito aventureiro e o gosto pelo perigo são características presentes em muitas pessoas (e 
em outras, não), e com certeza foi graças a pessoas que se arriscaram no passado que a humanidade 
caminhou e conquistou inúmeros saberes. 
Arriscar-se é uma tomada de decisão, e para isso é necessário ter consciência de prováveis ou pos-
síveis consequências. E mesmo aqueles que têm “espírito aventureiro” precisam por vezes atracar em 
porto seguro para poder seguir em frente.
O que já sabemos e dominamos nos convida a habitar nossa “zona de conforto”, composta de 
experiências que nos fortalecem, nos trazem a sensação de segurança e de descanso. Por outro lado, o 
desafio de encarar o desconhecido (o novo) traz consi-
go o potencial de conquistas que ampliam nossas ha-
bilidades, nossos conhecimentos, nossos saberes, tor-
nando nossa “zona de conforto” maior e mais variada. 
É um equilíbrio dinâmico e contínuo que vai nos cons-
truindo, que vai enriquecendo o nosso mundo interno.
Gail Sheehy, em seu livro “Passagens, crises previ-
síveis da vida adulta” (1988) compara o desenvolvimen-
to humano ao crescimento de um crustáceo - uma la-
gosta, por exemplo. 
Os crustáceos têm “exoesqueleto”, uma carapaça 
externa que protege o animal mas, ao mesmo tempo, 
limita o seu crescimento. Quando começa a “ficar aper-
tado”, o crustáceo larga a sua casca e cria outra maior. 
Este é um momento de grande vulnerabilidade, mas se ele não acontecer o crustáceo simplesmente 
não irá se desenvolver. 
Fonte: Pixabay
5
Desenvolvendo Habilidades Socioemocionais: Abertura ao Novo e Fechamento
Para a autora, nós, humanos, crescemos como os crustáceos, criando, habitando e largando 
cascas protetoras. 
Durante a mudança ficamos expostos e vulneráveis (sofremos e nos machucamos), po-
rém efervescentes e embrionários, em plena criação e aquisição de novos estágios de 
consciência. Finalmente construímos uma nova casca, mais ampla, mais confortável, 
mais madura, que nos dará relativo equilíbrio... até o momento em que novamente não 
cabemos mais nela!!! E tudo recomeça... (ABED, 1996, p. 16)
Crescer não é fácil. Crescer muitas vezes dói,pois envolve perdas e lutos que precisam ser proces-
sados. Ansiedades, angústias, fantasias, defesas - um universo de emoções com as quais é necessário li-
dar. É preciso “pagar o preço” do crescimento, o que às vezes pode ser tão difícil que a pessoa “estaciona” 
na sua casca protetora atual, tornando-se rígida e defendida.
Seria surpreendente que não experimentássemos alguma dor (...) mas a disposição de 
atravessar cada uma das passagens equivale à disposição de viver abundantemente. 
Se não mudamos, não crescemos. Se não crescemos, não estamos realmente vivendo. 
(SHEEHY, 1988, apud ABED, 1996, p.17)
 2. MACROCOMPETÊNCIA “ABERTURA AO NOVO”
No modelo do Instituto Ayrton Senna, essa macrocompetência compreende três facetas: 
 » Curiosidade para Aprender: Interesse e paixão pelo conhecimento; desejo e motivação 
para entrar em contato e investigar sobre temas e fatos, procurando ampliar a compreensão 
do mundo.
 » Imaginação Criativa: Busca por alternativas inovadoras na resolução de problemas; flexibi-
lização; criação de algo novo ou de um novo uso para algo já conhecido.
 » Interesse Artístico: Valorização, apreciação e utilização de variadas formas de expressão, 
utilizando diferentes linguagens para comunicar ideias, pensamentos e emoções.
 2.1 Curiosidade para Aprender
Nós, humanos, somos seres de aprendizagem. Ao contrário dos animais, que dispõem de muitos 
comportamentos inatos/instintivos, nós, exemplares da espécie homo sapiens, vamos nos constituindo 
nas relações de aprendizagem que estabelecemos com o mundo desde nossos primeiros meses de vida. 
Fonte: https://www.racoesreis.com.br/
Quem tem gato sabe: não é preciso ensinar os bichanos a usar a caixa de areia, esse comporta-
mento já vem com eles! As crianças, por outro lado, precisam de alguém que lhes ensine os hábitos de 
higiene vigentes em seu meio sociocultural. A cada segundo, as situações de aprendizagem que vive-
mos, desde muito cedo, vão nos construindo.
6
Workshop Gestão
Isso não quer dizer que os animais não aprendem, é claro! Quando ensinados, os cães passam a 
saber que seu banheiro é no jornal, no tapetinho higiênico ou até mesmo na rua. Tenho cinco gatos, e 
todos sabem que não é permitido subir na mesa de jantar nem na pia da cozinha. E os que tomam água 
no bico da torneira esperam a sua vez, uma graça! Eu ensinei, eles aprenderam.3
Fonte: Acervo da autora.
O prazer em aprender e o gosto pelo conhecimento são características essenciais, constituintes 
na espécie humana. Mas ninguém se interessa por tudo ou deseja aprender sobre todos os assuntos. 
O arcabouço de saberes já construídos pela humanidade é imenso, é totalmente impossível aprender 
todos os conhecimentos já construídos. Nosso cérebro é seletivo, escolhemos no que prestar atenção (a 
quantidade de estímulos que chega a nós a todo instante é incomensurável!) e o que guardar na nossa 
memória de longo prazo. 
A habilidade socioemocional “Curiosidade para Aprender” está relacionada ao desejo, à disposi-
ção e à motivação para comparecer em situações de aprendizagem, sejam formais (na escola, no traba-
lho), sejam informais, no dia a dia. Muitas vezes essa motivação é interna (intrínseca), impulsionada por 
nossos interesses e necessidades, mas há situações em que é externa, como por exemplo tirar nota em 
uma prova ou cumprir corretamente uma obrigação. 
Quando a motivação é externa (ou extrínseca), uma dica interessante é analisar e compreender os 
aspectos envolvidos na situação para poder tomar decisões e posicionar-se da melhor maneira possível. 
De preferência, construindo uma motivação intrínseca que possibilite ter mais prazer no processo de 
aprendizagem e, quem sabe, mais satisfação em relação ao conteúdo estudado. Muitas vezes achamos 
que não gostamos de algo sem nem ao menos experimentarmos.
É comum nos depararmos com alunos questionando “mas para que eu vou usar isso?”, como se 
apenas o pragmatismo (o uso) fosse importante na vida! Será que o simples prazer de entrar em contato 
com esse novo conhecimento não deveria ser suficiente para despertar ao menos a curiosidade?
Outro aspecto importante: a obrigação. Se preciso garantir nota nas diferentes disciplinas que 
compõem o currículo do curso que estou frequentando, então, gostando ou não gostando, pelo 
menos o mínimo vou precisar aprender. Se não tem outro jeito, melhor “aceitar que dói menos” e 
tentar aproveitar ao máximo tudo de bom que aquele estudo pode oferecer. Quando encontramos 
uma motivação interna, mesmo que seja apenas um “Vou assumir e aceitar que preciso estudar esse 
tema, e vamos nessa!”, a sensação de preenchimento e de prazer pelo ato conhecer algo novo tende 
a ficar fortalecida. 
Mais uma situação que merece reflexões: quando tentamos aprender alguma coisa para agradar 
alguém - os pais, por exemplo. Aí a pergunta que fica é: “Preciso mesmo agradar o outro?” Não é mais 
importante saber o que agrada a mim mesmo?
3 Acervo pessoal.
7
Desenvolvendo Habilidades Socioemocionais: Abertura ao Novo e Fechamento
Em síntese, desenvolver a competência “Curiosidade para Aprender” não implica gostar de tudo e 
aprender tudo, mas sim estar disposto a entrar em contato com os mais diferentes conhecimentos para 
poder tomar decisões e se posicionar de maneira autônoma e consciente em relação a esses saberes. 
 2.2 Imaginação Criativa
A competência socioemocional “Imaginação Criativa” está bastante relacionada à função execu-
tiva “Flexibilidade”, sem a qual fica difícil (ou até impossível) criar algo inédito ou encontrar novos usos 
para aquilo que já conhecemos. Quem está fixo em “verdades únicas” tem dificuldade em se abrir para 
novas possibilidades e não consegue “ampliar seu exoesqueleto”.
O filósofo grego Platão (428 a.C. – 348 a.C.) já dizia, há milhares de anos, que “A necessidade é a 
mãe da inovação”. É facinante a capacidade criativa do ser humano, incrível como ao longo dos milênios 
fomos construindo maneiras criativas e inovadoras de lidar com os problemas, com os desafios, com 
as necessidades. Um processo interminável que foi se acelerando cada vez mais conforme nossas so-
ciedades foram se tornando mais complexas, e de maneira ainda mais exponencial na atualidade, em 
especial com a invenção das tecnologias digitais. 
Criar, inovar, testar, experimentar... Acertar, errar, tentar de novo... Enfrentar as incertezas... Às 
vezes, viver a alegria do sucesso, mas por vezes, a tristeza do insucesso... 
Pois é, a imaginação criativa (e a abertura ao novo, de maneira geral) tem ligação estreita com a 
macrocompetência Resiliência Emocional. Quem se arrisca a criar algo novo está sujeito ao erro e a sen-
timentos que não são fáceis de vivenciar, como frustração, raiva, angústia, insegurança. 
Para “alargar o exoesqueleto”, é necessário abrir-se e viver situações de vulnerabilidade. Interes-
sante como costumamos associar a vulnerabilidade à fraqueza. Nesta perspectiva, a vulnerabilidade é 
força criativa, é potência.4
O próprio conceito de “erro” tem que ser flexibilizado. Quantas invenções não nasceram de algo 
que não deu certo, como o post-it ou o picolé? Quantas descobertas aconteceram por acaso, como a 
penicilina que salva tantas vidas?
Desenvolver a imaginação criativa não implica necessariamente gerar grandes inovações, saltos gi-
gantes realizados com novidades incríveis. Esse tipo de novidade não acontece o tempo todo! E é claro 
que o habitual, o já conhecido e o já dominado continuam sendo absolutamente imprescindíveis, senão 
corremos o risco de achar que precisamos “reinventar a roda” a cada dia. O desenvolvimento desta compe-
tência socioemocional implica flexibilizar o pensamento, flexibilizar o olhar. Abrir-se para construir novos 
ângulos, novas formas de enxergar, de se aproximar, de atribuir significado ao que faz parte do cotidiano. 
Ver de novo e de novo aquilo que vemos todos os dias. Nas pequenas coisas, nos detalhes. Tem tanta coisa 
interessante no mundo! Se mudamos o foco de atenção, podemos fazer descobertas acada novo olhar.
Um exercício bem bacana é observar figuras conhecidas como “Gestalt”, imagens ambíguas que 
carregam em si mais de uma mensagem. Há várias disponíveis na internet. A figura abaixo, por exemplo, 
é simultaneamente um coelho e um pato. 
4 Veja a respeito o TED de Brene Brown: “O poder da vulnerabilidade”.
8
Workshop Gestão
Consegue enxergar? O coelho está voltado para a esquerda, o pato para a direita. A parte superior 
direita do desenho (circulada abaixo em vermelho) representa as orelhas no coelho e o bico no pato. Ao 
mesmo tempo.
Há várias imagens em que o que se altera é aquilo que é visto como figura e o que é visto como 
fundo, como nos exemplos abaixo:
A figura formada pela cor preta representa um castiçal.
A figura formada pela cor branca representa as silhuetas de 
duas pessoas de perfil, olhando uma para a outra.
Figura no preto = solo, árvore e pássaros.
Figura no branco = perfil de dois animais, um gorila e de 
um felino.
Além de ser divertido, observar essas figuras ajuda a desenvolver a flexibilidade do olhar, o mo-
vimento intencional do foco de atenção (figura/fundo), a ampliação de perspectivas, a construção de 
novos sentidos, a tolerância à ambiguidade e ao incerto. 
Na criatividade, por vezes precisamos ir além do incerto, precisamos mergulhar no caos, e isso 
pode provocar emoções muito difíceis. Mas como dizia o filósofo alemão Friedrichi Nietzsche (1844-
1900), “É preciso ter um caos dentro de si para gerar uma estrela dançarina”. Que imagem mais linda, uma 
estrela bailando na imensidão do céu!
Mais um pensamento sobre criatividade, agora do filósofo italiano Giorgio Agamben (1942- ): 
o ato de criação acontece em um “campo de forças estirado entre a potência e a impotência”.5 Ou seja, é 
preciso estar disposto a habitar e a ficar à mercê da própria impotência para que o ato criativo aconteça. 
De Platão aos dias de hoje, a Filosofia nos ensina o valor inestimável da criatividade. 
5 AGAMBEN, Giorgio. The Fire and the Tale. Stanford: Stanford University Press, 2017, p. 41 (tradução livre) apud ABED, 
Carolina, 2021.
9
Desenvolvendo Habilidades Socioemocionais: Abertura ao Novo e Fechamento
 2.3 Interesse Artístico 
A competência Interesse Artístico vai muito além de simplesmente apreciar objetos de arte, re-
fere-se ao uso e à valorização de diferentes linguagens para comunicar, expressar, processar, acessar, 
compreender, compartilhar ideias, pensamentos, emoções, reflexões, sentimentos.
A arte comunica por meio de metáforas, que são ferramentas poderosas para promover a integra-
ção entre a razão e a emoção, entre conhecimento e afetividade. A utilização de recursos metafóricos, 
como narrativas, jogos, músicas, imagens, objetos artísticos e tantos outros, potencializa a criação, a 
apropriação e a ampliação de sentidos e significados, como mostra pesquisa realizada por esta autora 
(ABED, 2002)6. 
Uma metáfora funciona como uma pedrinha lançada no lago, que reverbera em múltiplas ondas 
de sentidos. (Uma metáfora para explicar a metáfora...)
Fonte: ibc.org.br
Segundo Paul Ricoeur (apud ABED, 2002; 2004), os recursos metafóricos veiculam mensagens 
(função cognitiva) ao mesmo tempo em que provocam cadeias de imagens (função imagética ou ima-
ginativa) carregadas de sentidos afetivos (função emocional). A linguagem metafórica corporifica, traz 
concretude às ideias que estão representando, aumentando o processo de subjetivação, coautoria e 
aprendizagem dos conceitos em questão. 
Recursos lúdicos, como jogos e brincadeiras, podem ser pensados como “metáforas da vida”. O 
Xadrez, por exemplo, simula uma guerra entre duas nações, uma luta por território e por poder de 
um reino sobre o outro. Essa possibilidade de vivenciar situações da vida real por meio de um jogo 
potencializa o desenvolvimento de inúmeras funções, habilidades, estratégias e saberes em um “con-
texto de folga”7, de uma forma leve e divertida. Que bom seria se os humanos guerreassem apenas 
nos jogos!
Mais uma reflexão relacionada ao desenvolvimento da Abertura ao Novo e do Interesse Artístico: 
as tarefas do dia a dia, como lavar uma louça, também podem ser revestidas de ludicidade, como mos-
tram as fotos abaixo.8
6 Uma síntese da pesquisa, suas bases teóricas e principais achados encontra-se no artigo “Metáfora: um caminho psicopeda-
gógico em Educação”.
7 Ver a respeito as contribuições de Lino de Macedo, grande estudioso de jogos da USP (Universidade de São Paulo). 
8 Acervo pessoal.
10
Workshop Gestão
Antes: Depois:
Fonte: Acervo da autora
Em pleno domingo, arrumar a cozinha ficou muito mais divertido porque eu acrescentei à tarefa 
o desafio de conseguir acomodar toda a louça no escorredor de pratos e seu entorno... Não enxuguei 
uma peça sequer! Vivaaaaa! Vitória!!! 
Essa é uma brincadeira que tenho comigo mesma desde a adolescência, quando comecei a lavar 
a louça para a minha mãe. Quantas soluções criativas foram se desenvolvendo, inúmeras “boas ideias” 
(outras nem tanto), procedimentos eficientes que fazem com que eu observe o produto final do serviço 
e fique orgulhosa de mim mesma e da minha obra. Notem o detalhe dos encaixes entre as peças em um 
arranjo único, minha criação!
Fonte: Acervo da autora
Recursos metafóricos vêm sendo aplicados também no mundo do trabalho. Um exemplo disso é 
o “Método dos 6 chapéus”, desenvolvido por Edward de Bono como estratégia para organizar o debate 
de ideias, tornando-o mais rápido, eficiente e produtivo.
azul verdevermelhopretoamarelobranco
CONTROLE IDEIASSENTIMENTOSCRÍTICASBENEFÍCIOSFATOS
usado pelo
facilitador
para controlar
e organizar
o processo
momento de
criatividade,
de sugestões,
opções e
alternativas
emoções
positivas e
negativas
relacionadas
à situação
cuidado,
pessimismo,
o advogado
do diabo
buscar de forma
otimista o valor
da situação,
os benefícios
relatar os fatos
e informações
relacionados
à situação, neutro
e objetivo
11
Desenvolvendo Habilidades Socioemocionais: Abertura ao Novo e Fechamento
A apreciação estética é mais uma faceta importante desta competência. Quando desenvolvemos 
a nossa sensibilidade, nos damos conta de que o mundo é repleto de coisas belas – imagens, sons, pai-
sagens, acontecimentos... Isso não anula o fato de que há também muita dor e muita coisa ruim, é claro! 
Mas praticar o encantamento com aquilo que pode trazer “prazer aos olhos” preenche a alma, faz bem 
ao corpo e à vida da gente.
Uma música que nos provoca emoções, uma carícia no 
animalzinho de estimação, uma comida especialmente saborosa, 
uma cena agradável... Experiências assim provocam o aumento na 
disponibilização dos hormônios de prazer no cérebro, o que em si já 
é uma enorme vantagem. Então, vamos abrir os olhos para enxergar 
belezas, aguçar os ouvidos para acalentar-se ao som das melodias. 
Observar uma planta brotando, uma formiga carregando uma grande 
folha em suas costas. Encantar-se como esta raiz abraçando a grade de 
um parque, como aconteceu certo dia comigo.9
Colocar um pequeno vaso na mesa da sala, arrumar a comida no 
prato de forma esteticamente agradável, acrescentar um pequeno deta-
lhe na mesa de trabalho, como um porta-retrato, por exemplo, são cami-
nhos bastante viáveis, simples e baratos de cultivar o interesse artístico. 
Por fim, é uma mentira da Modernidade que o único conheci-
mento válido é o científico. A arte também ensina, como podemos 
perceber ao refletir sobre o tema “autoridade” a partir destas duas obras de arte:
Fonte: Elaborado pela autora
Como uma das características dos recursos metafóricos é a polissemia, há inúmeras implicações 
para o tema em cada uma das obras, as possíveis associações são virtualmente inesgotáveis. Muitas 
interpretações serão comuns entre as pessoas, outras tantas serão atribuições bastante pessoais. Essa 
é uma das belezas do recurso metafórico: não há certo ou errado, há “tangências” de variados sentidos 
possibilitados pela aproximação metafórica entre o literal e o figurado:
9 Acervo pessoal.
Fonte:Acervo da autora
12
Workshop Gestão
Aproximando significados pelas semelhanças ao mesmo tempo em que abre infinitas possibilida-
des pelas dessemelhanças, emissor e ouvinte podem “rechear” a metáfora de múltiplas interpretações, 
carregadas de imagens e repletas de sentimentos. (Abed, 2004, p. 4).
Abrir-se para o aprender; flexibilizar o olhar e o pensamento para percorrer caminhos de inovação, 
de criatividade; apreciar, usufruir e criar arte, no sentido mais amplo do termo, são habilidades ao alcan-
ce de todos nós. Vamos exercitá-las?
 3. FECHAMENTO DO WORKSHOP 
Preparamos este workshop especialmente para vocês, estudantes, com o objetivo de mobilizar o 
desenvolvimento das suas habilidades socioemocionais. 
Muitos foram os conceitos teóricos, muitas foram as reflexões e as provocações. Com tudo o que 
trabalhamos juntos, desejamos ter colaborado com a construção de relações mais próximas e equili-
bradas entre razão e emoção, ajudando vocês a se conhecerem melhor, a desenvolverem uma maior 
tolerância para consigo mesmo e para com os outros, a se posicionarem, em suas vidas, com mais cons-
ciência, autonomia e responsabilidade.
Parabenizo a FAEL pela iniciativa de oferecer este curso aos seus alunos. Uma ação concreta e 
estruturada visando a preparação do seu corpo discente para ocupar o seu lugar no mundo trabalho. 
Sabemos que habilidades como saber atuar em equipe, criatividade, tomada de decisões, resolução de 
problemas e tantas outras (por vezes chamadas de “não cognitivas”) são cada vez mais requeridas pelas 
empresas, como demonstram várias pesquisas. Então, cabe à educação no Ensino Superior incluir, em 
seus currículos, ações pedagógicas especialmente pensadas para esse fim. 
Não só no trabalho, mas também na vida pessoal, familiar, social, enfim, em todos os âmbitos do 
dia a dia, o investimento na promoção da maturidade socioemocional é fundamental para que possa-
mos construir recursos internos que nos habilitam a encarar os desafios da vida. Viver nem sempre é 
fácil ou agradável, mas todas as experiências são fontes potenciais de aprendizagem. Para quem puder 
e quiser aprender com elas.
Para trilhar esta jornada chamada vida, as referências que nós estudamos ao longo deste workshop 
(o Big Five e as Funções Executivas) servem como espelhos que nos ajudam a olhar para nós mesmos e 
para os outros de forma mais respeitosa, amável, paciente, amorosa, sensível, compassiva.
BIG FIVE
 » Abertura ao novo
 » Autogestão
 » Amabilidade
 » Engajamento com os outros
 » Resiliência Emocional
FUNÇÕES EXECUTIVAS
 » Avaliação
 » Execução
 » Planejamento
 » Motivação
13
Desenvolvendo Habilidades Socioemocionais: Abertura ao Novo e Fechamento
Compassivo... Adoro essa palavra! No dicionário, vemos o seu significado: “que tem ou revela com-
paixão; que se compadece”. Tudo a ver com a competência Empatia (macrocompetência Amabilidade). 
Mas não é por isso que essa palavra me mobiliza, é o fato dela me remeter à ideia de “com paixão”. 
Paixão por estar vivo, pela beleza e a alegria de fazer diferença na vida das pessoas, pelos benefícios 
que o exercício o bem podem trazer para o mundo, para a sociedade, para nós mesmos. É como na 
jardinagem: tendemos a colher aquilo que plantamos...
Fica então o convite final: olhe no espelho das habilidades socioemocionais, reconheça seus po-
tenciais e suas fragilidades, estabeleça metas de desenvolvimento pessoal em diferentes tempos (curto, 
médio, longo prazo). Tome posse do lugar onde você pisa, invista em ser, a cada novo dia, a melhor 
versão de você mesmo. 
Valorize cada “pequena conquista”, pois no campo do “lidar com as emoções”, nenhum avanço 
pode ser considerado pequeno! Cada um sabe o quanto custa avançar em cada etapa do seu desenvol-
vimento pessoal. Afinal, “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”, como nos ensina Caetano Veloso.
Vamos juntos desenvolver uma cultura de paz, um mundo em que todos torcem pelo bem estar 
de todos? 
Juntos, somos mais fortes! 
Referências Bibliográficas
ABED, Anita. O desenvolvimento das habilidades socioemocionais como caminho para a apren-
dizagem e o sucesso escolar de alunos da educação básica. São Paulo: 2014. Disponível em: www.
recriar-se.com.br (site da autora).
ABED, Anita. Metáfora: um caminho psicopedagógico em educação. Revista Construção Psicopeda-
gógica, Instituto Sedes Sapientiae. São Paulo: ano XII, nº 9, 2004. Disponível em: www.recriar-se.com.br 
(site da autora).
ABED, Anita. Recursos metafóricos no processo ensino-aprendizagem: um estudo de caso. São Pau-
lo: Universidade São Marcos. Programa de Pós-graduação em Psicologia. Dissertação de Mestrado, 2002. 
Disponível em: www.recriar-se.com.br (site da autora).
ABED, Anita. O jogo de regras na Psicopedagogia clínica: explorando suas possibilidades de uso. Mo-
nografia. São Paulo: PUC-SP, 1996. Disponível em: www.recriar-se.com.br (site da autora).
ABED, Carolina. Caos e Criação. São Paulo: 2021. Disponível em: https://www.lapislaboratorio.site/lapis-
-laboratorio-teoria/teoria-lapis-laboratorio/teoria-literaria-caos-criacao. Acesso em: 28.01.21
SHEEHY, Gail. Passagens: crises previsíveis da vida adulta. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1988.

Mais conteúdos dessa disciplina