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Resumo-Neurobiologia da Depressão 1 ⁉ Resumo-Neurobiologia da Depressão O que é a depressão e quais as suas principais características? A depressão é o mais comum dos distúrbios afetivos (definidos como distúrbios do humor); pode variar de alteração muito leve, beirando a normalidade, até a depressão grave (psicótica), acompanhada de alucinações e delírios. No mundo inteiro, a depressão é importante causa de incapacidade e de morte prematura. Além do risco significativo de suicídio, os indivíduos depressivos têm a probabilidade de morrer de outras causas, como cardiopatia ou câncer. A depressão é um distúrbio heterogêneo cujos pacientes apresentam um ou mais sintomas centrais e, geralmente, está associada a outras condições psiquiátricas, incluindo ansiedade, distúrbios alimentares e dependência de fármacos Quais são as três principais monoaminas relacionadas com a depressão? Serotonina, Noradrenalina e Dopamina Quais os principais sintomas da depressão? A depressão é classificada como depressão maior (depressão unipolar) ou depressão bipolar (doença maníaco-depressiva).O risco durante a vida de depressão unipolar é de aproximadamente 15%. As mulheres são duas vezes mais acometidas do que os homens. Os episódios depressivos são caracterizados por humor deprimido ou triste, preocupação pessimista, diminuição do interesse pelas atividades normais, alentecimento mental e falta de concentração, insônia ou aumento do sono, perda ou ganho significativo de peso devido à alteração dos padrões alimentares e de atividade, agitação ou atraso psicomotor, sentimentos de culpa e inutilidade, diminuição da energia e da libido e ideias suicidas, que ocorrem na maioria dos dias por um período de pelo menos duas semanas. Em alguns casos, a queixa principal dos pacientes envolve dor somática ou outros sintomas físicos e pode representar um desafio de diagnóstico para médicos de atenção primária. Os sintomas depressivos também podem ocorrer secundários a outras doenças, como hipotireoidismo, Resumo-Neurobiologia da Depressão 2 doença de Parkinson e doenças inflamatórias. Além disso, a depressão frequentemente complica o tratamento de outras doenças (p. ex., traumatismo grave, câncer, diabetes e doenças cardiovasculares). Cerca de 10-15% das pessoas com depressão grave tentam suicídio em algum momento. Dessa forma, é importante que os sintomas de depressão sejam reconhecidos e tratados em tempo hábil. Quais os principais sintomas emocionais da depressão? Humor depressivo, ruminação excessiva de pensamento negativo, infelicidade, apatia e pessimismo; Autoestima baixa: sentimentos de culpa, inadequação e sentimento de feiura; Indecisão, perda de motivação; Anedonia, perda da sensação de recompensa Quais os principais sintomas biológicos da depressão? Retardo do pensamento e da ação; Perda de libido; Distúrbios do sono e perda de apetite. Quais são os dois tipos de depressões existentes e quais são as suas principais características? Há dois tipos distintos de síndrome depressiva, a saber: depressão unipolar, na qual as alterações de humor são sempre na mesma direção; e distúrbio bipolar, no qual a depressão se alterna com a mania. A mania é, na maioria dos aspectos, exatamente o oposto, com exuberância, entusiasmo e autoconfiança excessivos, acompanhados de ações impulsivas, combinando-se esses sinais frequentemente com irritabilidade, impaciência e agressividade e, algumas vezes, delírios de grandeza do tipo napoleônico. Como com a depressão, o humor e as ações são impróprios para as circunstâncias. A depressão unipolar é comumente não familiar (cerca de 75% dos casos), associa-se claramente aos eventos estressantes da vida e, em geral, é acompanhada de sintomas de ansiedade e agitação; esse tipo algumas vezes é denominado depressão reativa. Outros casos (cerca de 25%, algumas vezes, Resumo-Neurobiologia da Depressão 3 denominados depressão endógena) mostram padrão familiar, não estão relacionados com óbvios estresses externos e têm sintomatologia um tanto diferente. Essa distinção é feita clinicamente, mas há poucas evidências de que os antidepressivos mostrem seletividade significativa entre essas afecções. O distúrbio bipolar, que geralmente aparece no início da vida adulta, é menos comum e resulta em depressão e mania oscilando durante período de algumas semanas. Pode ser difícil diferenciar o distúrbio bipolar leve da depressão unipolar. Além disso, os episódios de mania bipolar podem ser confundidos com episódios de psicose esquizofrênica. Há forte tendência hereditária, mas não foram identificados genes de suscetibilidade específicos através de estudos de ligação genética de famílias afetadas ou por comparação entre indivíduos afetados e não afetados. Quais as principais áreas do Sistema Nervoso que podem ser afetadas na depressão? A depressão não pode ser atribuída à atividade neuronal alterada dentro de somente uma região cerebral; em vez disso, o circuito que liga as diferentes partes no cérebro pode estar afetado. Os estudos de imagens cerebrais indicaram que o córtex pré-frontal, a amídala e o hipocampo podem estar envolvidos em diferentes componentes desses distúrbios. O que é a teoria das monoaminas sobre a depressão? A teoria das monoaminas da depressão afirma que a depressão pode ser causada por déficit funcional de transmissores de monoaminas, norepinefrina e 5-hidroxiptamina (5-HT), em certos locais do cérebro, enquanto a mania resulta de excesso funcional. Essa teoria ainda não foi totalmente comprovada e existe diversas dúvidas e ambiguidades. A teoria das monoaminas, proposta em 1965, sugere que a depressão resulta de transmissão monoaminérgica funcionalmente deficiente (norepinefrina e/ou 5- hidroxitriptamina) no sistema nervoso central. A teoria baseou-se na capacidade de os antidepressivos conhecidos (antidepressivos tricíclicos e inibidores da monoamino-oxidase) facilitarem a transmissão monoaminérgica, e de fármacos, como a reserpina, causarem depressão. Estudos bioquímicos sobre pacientes depressivos não sustentam claramente a hipótese das monoaminas em sua forma simples. Resumo-Neurobiologia da Depressão 4 Embora a hipótese das monoaminas em sua forma simples seja insuficiente como explicação de depressão, a manipulação farmacológica da transmissão de monoaminas continua a ser o enfoque terapêutico mais bem-sucedido. Evidências recentes sugerem que a depressão pode associar-se à neurodegeneração e à redução da neurogênese no hipocampo. Enfoques atuais concentram-se em outros mediadores (p. ex., hormônio liberador de corticotrofina), nas vias de transdução de sinais, em fatores de crescimento etc., mas as teorias continuam imprecisas. Qual a relação dos mecanismos neuroendócrinos com o quadro de depressão? Os neurônios hipotalâmicos que controlam a função hipofisária recebem aferências noradrenérgicas e de 5-HT, que controlam a descarga dessas células. As células hipotalâmicas liberam hormônio liberador de corticotrofina (CRH), que estimula as células hipofisárias a secretar hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), levando, por sua vez, à secreção de cortisol. A concentração plasmática de cortisol geralmente é elevada nos pacientes depressivos. Outros hormônios no plasma também são afetados; por exemplo, a concentração de hormônio do crescimento se reduz e a de prolactina aumenta. Embora essas alterações sejam compatíveis com deficiências na transmissão de monoaminas, não são específicas de síndromes depressivas. O hormônio liberador de corticotrofina distribui-se amplamente no cérebro e tem efeitos comportamentais que são distintos de suas funções endócrinas. Injetado no cérebro de animais de experimentação, o CRH simula alguns aspectos da depressão no homem, tais como diminuição da atividade, perda de apetite e aumento dos sinais de ansiedade. Além disso, as concentrações de CRH no cérebro e no líquido cerebroespinhal de pacientes depressivos estãoaumentadas. Portanto, a hiperfunção do CRH, bem como a hipofunção das monoaminas, pode associar-se à depressão. O aumento nos níveis de CRH está associado ao estresse e, em muitos casos, a depressão é precedida por períodos de estresse crônico. Foi também relatada a ocorrência de desregulação da glândula tireoide em pacientes deprimidos. Até 25% dos pacientes deprimidos apresentam função anormal da tireoide. Essas anormalidades incluem redução da resposta da tireotrofina ao hormônio de liberação da tireotrofina e a elevações dos níveis circulantes de tiroxina durante estados deprimidos. Com frequência, o Resumo-Neurobiologia da Depressão 5 hipotireoidismo clínico ocorre com sintomas depressivos, que desaparecem com a suplementação com hormônio tireoidiano. Os hormônios tireoidianos também são usados em associação com antidepressivos convencionais para aumento dos efeitos terapêuticos desses últimos. Por fim, os esteroides sexuais também estão implicados na fisiopatologia da depressão. Acredita-se que os estados de deficiência de estrogênio, que ocorrem nos períodos pós-parto e pós- -menopausa, desempenham uma função na etiologia da depressão em algumas mulheres. De forma semelhante, a deficiência grave de testosterona nos homens está algumas vezes associada a sintomas depressivos. A terapia de reposição hormonal em homens e mulheres com hipogonadismo pode estar associada à melhoria do humor e à diminuição dos sintomas depressivos. O que é a hipótese neurotrófica da depressão e quais os pros e contras para essas hipótese? Há evidências substanciais sobre a importante função desempenhada por fatores de crescimento dos nervos, como o fator neurotrófico derivado do encéfalo (BDNF, de brain-derived neurotrophic factor), na regulação da plasticidade neural, resiliência e neurogênese. Os dados sugerem que a depressão está associada a uma perda do suporte neurotrófico, e que as terapias antidepressivas efetivas aumentam a neurogênese e a conexão sináptica nas áreas corticais, como o hipocampo. Acredita-se que o BDNF exerça a sua influência sobre a sobrevida neuronal e efeitos de crescimento ao ativar a tirosina-cinase do receptor B tanto nos neurônios como na glia. Estudos realizados em animais e em seres humanos indicam que o estresse e a dor estão associados a uma queda dos níveis de BDNF, e que essa perda de suporte neurotrófico contribui para a ocorrência de alterações estruturais atróficas no hipocampo e, talvez, em outras áreas, como o córtex frontal medial e o cingulado anterior. Sabe-se que o hipocampo é importante tanto na memória contextual como na regulação do eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal (HHSR). De forma semelhante, o cingulado anterior desempenha uma função na integração dos estímulos emocionais e funções de atenção, enquanto se acredita também que o córtex frontal orbital medial desempenha um papel na memória, na aprendizagem e nas emoções. Estudos sugerem que a depressão maior está associada a uma perda de 5 a 10% do volume do hipocampo, embora alguns estudos não tenham reproduzido esse achado. A depressão e os estados crônicos de estresse também têm sido associados a uma perda substancial de volume do cingulado anterior e do córtex frontal orbital medial. A Resumo-Neurobiologia da Depressão 6 perda de volume em estruturas como o hipocampo também parece aumentar em função da duração da doença e quantidade de tempo durante o qual a depressão permanece sem tratamento. Outra fonte de evidências que sustentam a hipótese neurotrófica da depressão provém de estudos dos efeitos diretos do BDNF sobre a regulação emocional. A infusão direta de BDNF no mesencéfalo, no hipocampo e nos ventrículos laterais de roedores tem um efeito semelhante ao dos antidepressivos em modelos animais. Além disso, todas as classes conhecidas de antidepressivos estão associadas a um aumento dos níveis de BDNF em modelos animais com a administração crônica (mas não aguda). Esse aumento nos níveis de BDNF está consistentemente associado ao aumento da neurogênese no hipocampo nos modelos animais. Outras intervenções consideradas efetivas no tratamento da depressão maior, inclusive a eletroconvulsoterapia, também parecem estimular acentuadamente os níveis de BDNF e a neurogênese no hipocampo de modelos animais. Os estudos conduzidos em seres humanos parecem confirmar os dados obtidos de animais sobre a função dos fatores neurotróficos nos estados de estresse. Estudos realizados em camundongos com nocaute (supressão) para o BDNF nem sempre demonstraram aumento do comportamento depressivo ou ansioso esperado no caso de deficiência de BDNF. Além disso, alguns estudos conduzidos em animais verificaram uma elevação dos níveis de BDNF após alguns tipos de estresse social e um aumento, em vez de redução, dos comportamentos depressivos com injeções de BDNF nos ventrículos laterais. Uma explicação proposta para os achados discrepantes na função dos fatores neurotróficos na depressão reside na existência de polimorfismos para o BDNF, que poderiam produzir efeitos muito diferentes. Constatou-se que mutações no gene BDNF estão associadas a uma alteração do comportamento de ansiedade e do comportamento depressivo em estudos tanto de animais como de seres humanos. Por conseguinte, a hipótese neurotrófica continua sendo intensamente pesquisada e tem produzido novas perspectivas e alvos potenciais do tratamento do TDM. Possíveis mecanismos envolvidos na depressão: Resumo-Neurobiologia da Depressão 7 As principais vias pró-depressivas envolvem o eixo hipotalâmico-hipofisário- suprarrenal, que é ativado pelo estresse e, por sua vez, potencializa a ação excitotóxica do glutamato, mediada pelos receptores NMDA e altera a expressão de genes que promovem apoptose neural no hipocampo e córtex pré-frontal. As vias antidepressivas envolvem as monoaminas norepinefrina (NE) e 5-hidroxitriptamina (5-HT), que atuam sobre os receptores acoplados à proteína G, e o fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF), que atua sobre o receptor ligado a quinases (TrkB), ativando genes que protegem neurônios contra apoptose e também promovem neurogênese. Quais as áreas do Sistema Nervoso envolvidas com os sintomas depressivos? Resumo-Neurobiologia da Depressão 8 Quais os níveis de gravidade da depressão? Depressão Leve: Presença de 5 a 6 sintomas depressivos. Paciente apresenta um sofrimento manejável. Pouco prejuízo no funcionamento social e profissional. O uso de drogas não está estabelecido nesse estágio. Nesse caso medidas não farmacológicas como exercício físico, higiene do sono, psicoterapia e acompanhamento ambulatorial são recomendados. Depressão moderada: O número de sintomas, intensidade e/ou prejuízo funcional estão entre o "leve" e o "moderado". Necessário o uso de antidepressivos. Depressão Grave: 7 a 9 sintomas depressivos. Sofrimento grave e não manejável. Grande interferência no funcionamento social e profissional. Necessário o uso de antidepressivos.
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