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GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS GRAVIDEZ DE ALTO RISCO 1.Discutir sobre a estratificação de risco gestacional. Estratificação de Risco Linha de Cuidado Materno - Infantil Aprovada na CIB/PR em 24.02.2021 A Linha de Cuidado Materno Infantil da Secretaria de Estado da Saúde tem como finalidade a organização da atenção e assistência nas ações do pré-natal, parto, puerpério e acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento das crianças, em especial no seu primeiro ano de vida. Como resultado desse projeto tem se notado redução da mortalidade materno-infantil em especial a materna. Isso acontece devido varias ações: ➡ Organização dos processos de atenção; ➡ Acolhimento precoce das gestantes no pré-nata; ➡ Estratificação de risco ➡ Vinculação da gestante conforme estratificação de risco ao hospital mais adequado para atender o seu parto; ➡ Processos de capacitação dos profissionais de saúde. Tendo em vista as mudanças ocorridas no perfil das gestantes desde a implantação da rede materno-infantil, identificou-se a necessidade de revisar e atualizar os critérios para estratificação de risco das gestantes, afim de qualificar a Atenção Pré-Natal. De início a estratificação de risco era dividida em dois nível - risco habitual e alto risco. No entanto, com a implantação da rede de atenção a saúde materno-infantil, evidencio-se a necessidade de uma revisão dos critérios e dos estratos de risco com vistas a uma segurança Página 1 Gravidez de Alto Risco GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS ainda maior para determinadas situações de risco para a gestante ou para o neonato - dessa forma foram propostos dois outros estratos de risco - médio risco e muito alto risco. A estratificação de risco é dividida em: ➡ Risco habitual; ➡ Risco intermediário ➡ Alto risco. ➡ Muito Alto Risco * ALTO RISCO: aquela na qual a vida ou saúde da mãe e/ou do feto e/ou do recém-nascido, têm maiores chances de serem atingidas que as da média da população considerada. *MUITO ALTO RISCO - para caracterizar um risco maior para a gestante (doenças não controladas) e/ou para o neonato (pela presença de malformações ou intercorrências que levam à prematuridade extrema), riscos estes que podem ser identificados durante o pré-natal, definindo, previamente ao parto, fluxos assistenciais diferenciados. Essa estratificação de risco possibilita uma atenção diferenciada segundo as necessidades de saúde, ou seja, a atenção certa, no lugar certo, com o custo certo e com a qualidade certa - atendendo as particularidades de cada gestante. Os critérios normalmente utilizados para a estratificação de risco gestacional referem-se ás: ➡ Características individuais da gestante: idade, estatura e peso. ➡ Condições socioeconômicas: escolaridade, ocupação e uso de substâncias psicoativas. Página 2 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS ➡ História reprodutiva anterior: intervalo interpartal, prematuridade e abortamento. ➡ Intercorrências clinicas e obstétrica na gravidez atual: gestação múltipla, ganho ponderal, patologias controladas ou não e fatores de risco fetais. Risco habitual LOCAL QUE É ATENDIDA? - Atenção Primária à Saúde (Unidade de Saúde). PROFISSIONAL QUE A ATENDE? - Equipe da Atenção Primária à Saúde. QUEM É A GESTANTE? ➡ Características individuais e socioeconômicas: ✦ Obesidade Grau I e Grau II (IMC<40); ➡ História reprodutiva anterior: ✦ Abortos precoces (até 12 semanas) em gestações anteriores (até dois abortos); ➡ Condições e intercorrências, clínicas ou obstétricas, na gestação atual: ✦ Ameaça de aborto; ✦ Hipotireoidismo; ✦ Tabagismo (Fagerström < 8 pontos); ✦ Etilismo sem indicativo de dependência (T-ACE < 2 pontos); ✦ Anemia leve (hemoglobina entre 9 e 11 g/dl); ✦ Depressão e ansiedade leve; Página 3 A estratificação de risco deve ser realizada em todos os atendimentos, ou seja, na primeira consulta e em todas as subsequentes programadas, ou sempre que for identificado um fator de risco GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS ✦ Sífilis (exceto sífilis terciária OU resistente ao tratamento com penicilina benzatina OU com achados ecográficos suspeitos de sífilis congênita). Risco intermediário LOCAL QUE É ATENDIDA? - Atenção Primária à Saúde (Unidade de Saúde) e Atenção Ambulatorial Especializada (Ambulatório Municipal, Regional ou Hospitalar). PROFISSIONAL QUE A ATENDE? - Equipe da Atenção Primária à Saúde e Equipe Multiprofissional Especializada. QUEM É A GESTANTE? ➡ Características individuais e condições socioeconômicas e familiares: ✦ Idade < 15 anos ou > 40 anos; ✦ Baixa escolaridade (<3 anos de estudo); ✦ Gestantes em situação de vulnerabilidade: em situação de rua, indígenas, quilombolas ou migrantes; ✦ Gestante negra (preta ou parda); Tabagismo com dependência de tabaco elevada (Fagerström: 8 a 10 pontos); ✦ Etilismo com indicativo de dependência (T-ACE: 2 pontos ou mais). ➡ História reprodutiva anterior: ✦ Histórico de óbito fetal (natimorto) em gestação anterior; ✦ Abortos tardios ( entre 13 e 20 semanas) em gestações anteriores (até dois abortos); ✦ Histórico de pré-eclâmpsia grave ou eclâmpsia em gestação anterior; ✦ Cirurgia bariátrica prévia estabilizada (acima de 2 anos de pós- operatório) e sem comorbidades. Página 4 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS ➡ Condições e intercorrências, clínicas ou obstétricas, na gestação atual: ✦ Diabetes gestacional não-insulinodependente; ✦ Anemia moderada (hemoglobina entre 8 e 8,9 g/dl); Alto risco LOCAL QUE É ATENDIDA? - Atenção Primária à Saúde (Unidade de Saúde) e Atenção Ambulatorial Especializada (Ambulatório Municipal, Regional ou Hospitalar). PROFISSIONAL QUE A ATENDE? - Equipe da Atenção Primária à Saúde e Equipe Multiprofissional Especializada. QUEM É A GESTANTE? ➡ Características individuais e socioeconômicas: ✦ Dependencia de drogas ilícita; ✦ Obesidade mórbida (IMC≥40) ➡ Condições clínicas prévias à gestação: ✦ Cardiopatias em tratamento e ou/ acompanhamento; ✦ Cirurgia bariátrica prévia com peso não estabilizado (com menos de 2 anos de pós-operatório) e/ou com comorbidades; ✦ Cirurgia uterina prévia fora da gestação; ✦ Colelitíase com repouso repercussão na atual gestação; ✦ Diabetes mellitus tipo I e tipo II; ✦ Doenças autoimunes (ex: lúpus eritematoso e/ou outras doenças sistêmicas graves comprometedoras da evolução gestacional); ✦ Doenças hematológicas: ✦ -doença falciforme (exceto traço falciforme); ✦ -outras hematopatias; ✦ Doenças neurológicas (epilepsia, AVE, aneurisma e outras); ✦ Exames de rastreamento oncológico recentes: citopatológico com lesão de alto grau e/ou mamografia com classificação BIRADS ≥4; ✦ Hipertensão arterial crônica; ✦ Hipertireoidismo; Página 5 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS ✦ Histórico de tromboembolismo; ✦ Má formação útero-vaginal; ✦ Nefropatias em tratamento e com repercussão na atual gestação (ex: nefrolitíase com repercussão na atual gestação: ✦ Neoplasias; ✦ Pneumopatias descompensadas ou graves; ✦ Psicose ou depressão grave. ➡ História reprodutiva anterior: ✦ Abortos de repetição em qualquer idade gestacional (3 ou mais abortos espontâneos consecutivos); ✦ Histórico de 3 ou mais cesáreas anteriores. ➡ Intercorrências clínicas/obstétricas na gestação atual: ✦ Anemia grave (Hemoglobina<8); ✦ Diabetes gestacional insulinodependente; ✦ Doenças infectocontagiosas: ‣ HIV, HTLV, toxoplasmose, rubéola, tuberculose, hanseníase, citomegalovírus, Zika vírus, vírus respiratórios (influenza, coronavírus e outros) com complicações maternas e/ou fetais, hepatites virais, sarampo, febre amarela e outras arboviroses; ‣ Sífilis terciária OU resistente ao tratamento com penicilina benzatina OU com achados ecográficos suspeitos de sífilis congênita; ✦ Doença hemolítica perinatal; ✦ Gestação gemelar;✦ Infecção do trato urinário recorrente (3 ou mais episódios na gestação atual) OU Pielonefrite na atual gestação (1 episódio). ✦ Isoimunização Rh (TIA/ Coombs indireto positivo); ✦ Incompetência Istmo-cervical; ✦ Má formação fetal confirmada; ✦ Macrossomia fetal (Peso fetal estimado acima do percentil 90); ✦ Oligodrâmnio ou polidrâmnio; ✦ Placenta acreta/acretismo placentário; ✦ Placenta prévia (após 22 semanas); ✦ Restrição de crescimento intrauterino (peso fetal estimado abaixo do percentil 10); Página 6 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS ✦ Síndromes hipertensivas na gestação: hipertensão gestacional e pré-eclâmpsia; ✦ Trabalho de parto prematuro abaixo de 37 semanas (persistente após manejo em hospital de risco habitual ou intermediário); ✦ Tromboembolismo na gestação; ✦ Trombofilias na gestação; ✦ Senescência placentária com comprometimento fetal. Muito alto risco ➡ Fatores de risco gestacional: ✦ Doença obstétrica na gravidez atual – não controlada; ✦ Intercorrências clínicas – patologias não controladas; ✦ Malformações fetais; ✦ Isoimunização. LOCAL QUE É ATENDIDA? Unidade Básica de Saúde + Centro de Referência em Atenção Secundária / Serviços de Referência para Gestação de Alto Risco + Serviço de Medicina Fetal Página 7 Prevalência das estratificações: Quanto à prevalência, estima-se que: ➡85% das gestantes sejam de risco habitual e de médio risco; ➡11,2%, de alto risco; ➡3,8%, de muito alto risco (incluindo 0,7% de malformação). *Na ocorrência de transição de cuidado da Atenção Ambulatorial Especializada (AAE) para a Atenção Primária à Saúde (APS) é de extrema importância a elaboração do Plano de Cuidados da Gestante, bem como, a definição de condições que poderão determinar novo encaminhamento para avaliação e conduta da equipe da AAE e apoio matricial. Pelo o que eu entendi dessa frase é que em toda consulta é feita a classificação do risco gestacional, loga a gestante pode transitar entres mas classificações de acordo com a sua piora ou melhora. GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS OBSERVAÇÕES: *Teste de Fagerstrom - tabagismo. *TESTE T-ACE - etilismo. Tabagismo A OMS recomenda que se suspenda o uso de tabaco durante a gestação. Todas as gestantes devem ser questionadas sobre o uso de tabaco. Diante de resposta positiva ao uso de tabaco deve ser aplicado o Teste de Fagerstrom - afim de avaliar o grau de dependência da gestante. Teste de Fagerstrom É um teste que mede o grau de dependência à nicotina. Deve ser aplicado nas gestantes tabagistas na primeira consulta e quando necessário em consultas subsequentes. As perguntas devem ser feitas as gestantes - de acordo com cada resposta ela recebe uma pontuação e no final é feita a somatória desses pontos onde ela é classifica em: DEPENDÊNCIA DO TABACO: ➡ Muito baixa: 0 - 2 pontos ➡ Baixa: 3 - 4 pontos ➡ Média: 5 pontos ➡ Elevada: 6 -7 pontos ➡ Muito elevada: 8 - 10 pontos. PERGUNTAS FEITAS DURANTE O TESTE: 1- Em quanto tempo depois de acordar você fuma o primeiro cigarro? ➡ Dentro de 5 minutos - 3 pontos; ➡ 6 a 30 minutos - 2 pontos; ➡ 31 a 60 minutos - 1 ponto; ➡ Depois de 60 minutos - 0 pontos. 2- Você acha difícil ficar sem fumar em lugares onde é proibido (por exemplo: igreja, cinema, bibliotecas e outros)? ➡ Sim - 1 ponto ➡ Não - 0 ponto 3- Qual o cigarro do dia que traz mais satisfação? Página 8 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS ➡ O primeiro da manha - 1 ponto ➡ Outros - 0 ponto 4- quantos cigarros você fuma por dia? ➡ Menos de 10 - 0 ponto; ➡ De 11 a 20 - 1 ponto; ➡ De 21 a 30 - 2 pontos; ➡ Mais de 31 - 3 pontos. 5- Você fuma mais frequentemente pela manhã? ➡ Sim - 1 ponto; ➡ Não - 0 ponto. 6- Você fuma mesmo doente quando precisa ficar na cama a maior parte do tempo? ➡ Sim - 1 ponto; ➡ Nao - 0 ponto. Etilismo Todas as gestantes devem ser questionada sobre a ingestão de bebidas alcoólicas. Diante de resposta positiva ao uso de álcool deve ser aplicado o teste de T-ACE, para verificar a decência alcoólica da gestante. Teste T-ACE T: tolerância A: aborrecida C: cortar E: abrir os olhos. PERGUNTAS: T (tolerância) - qual a quantidade que você precisa beber para se sentir desinibida ou “mais alegre”? - avaliar conforme o número de doses. ➡ Não bebo - 0 ponto; ➡ Até duas doses - 1 ponto; ➡ Três ou mais doses - 2 pontos. Página 9 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS A (aborrecida) - alguém tem lhe incomodado por criticar o seu modo de beber? ➡ Não - 0 ponto; ➡ Sim - 1 ponto. C (cortar) - você tem percebido que deve diminuir seu consumo de bebida? ➡ Não - 0 ponto; ➡ Sim - 1 ponto. E (abrir os olhos) - você costuma tomar alguma bebida logo pela manhã para manter-se bem ou para livrar-se do mal estar do “dia seguinte”(ressaca)? ➡ Não - 0 ponto; ➡ Sim - 1 ponto. https://www.conass.org.br/liacc/wp-content/uploads/2015/02/ Oficina-3-Estratificacao-de-Risco-GESTANTE.pdf http ://www.saude .ba .gov .br/wp-content/up loads/2017/09/ Manual_gestante_de_alto-risco.pdf Estratificação de risco - Linha de cuidado materno Infantil.pdf 2.Explicar os conceitos, a fisiopatologia e quadro clínico, a abordagem diagnóstica e o tratamento (inclusive o mecanismo de ação dos fármacos) das síndromes hipertensivas. Doença hipertensiva específica da gestação A doença hipertensiva específica da gestação (DHEG) é uma das complicações mais frequentes da gravidez. A evolução acaba sendo favorável nas pacientes que apresentam as formas leves da doença, no entanto, aquelas que evoluem para a forma grave (como: eclâmpsia e síndrome de HELLP) constituem importante causa de morbidade materna e mortalidade materna e perinatal. Página 10 https://www.conass.org.br/liacc/wp-content/uploads/2015/02/Oficina-3-Estratificacao-de-Risco-GESTANTE.pdf https://www.conass.org.br/liacc/wp-content/uploads/2015/02/Oficina-3-Estratificacao-de-Risco-GESTANTE.pdf http://www.saude.ba.gov.br/wp-content/uploads/2017/09/Manual_gestante_de_alto-risco.pdf http://www.saude.ba.gov.br/wp-content/uploads/2017/09/Manual_gestante_de_alto-risco.pdf GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS Segundo a OMS - a hipertensão é responsável por 14% dos óbitos maternos no mundo. Nos últimos 30 anos, a hipertensão foi a principal causa de morte materna no Brasil. Além da eclâmpsia e da síndrome de HELLP, outras situações graves podem estar associadas à doença hipertensiva específica da gestação como: ➡ Descolamento prematuro de placenta - DPP; ➡ Coagulação intravascular disseminada - CIVD; ➡ Hemorragia cerebral; ➡ Edema pulmonar; ➡ Insuficiência hepática; ➡ Insuficiência renal aguda. Além disso podem surgir complicações perinatais como: ➡ Prematuridade; ➡ Restrição do crescimento fetal - RCF ➡ Sofrimento fetal ➡ Morte perinatal. Página 11 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS Formas clínicas Existem várias classificações para as síndromes hipertensivas na gestação. As mais citadas na literatura são variantes da classificação inicial de Hughes, de 1972. Nessa classificação, definem-se: PRÉ-ECLÂMPSIA: desenvolvimento de hipertensão arterial, com proteinúria significativa e/ou edema de mãos e face que ocorre após 20 semanas. Era considerada hipertensa a mulher com pressão arterial sistólica de pelo me-nos 140 mmHg e/ou pressão arterial diastólica de pelo menos 90 mmHg. A proteinúria significante era definida como pelo menos 0,3 g/L em urina de 24 horas ou de pelo menos 1+ pelo método quantitativo de fita. ECLÂMPSIA: aparecimento de convulsões em paciente com pré- eclâmpsia. Página 12 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS HIPERTENSÃO CRÔNICA: hipertensão arterial persistente anterior à gravidez ou anterior a 20 semanas e que se mantém após o puerpério. PRÉ-ECLÂMPSIA OU ECLÂMPSIA ASSOCIADA À HIPERTENSÃO ARTERIAL CRÔNICA: aparecimentode pré-eclâmpsia ou eclâmpsia em paciente com antecedente de hipertensão arterial crônica. HIPERTENSÃO TRANSITÓRIA: elevação dos níveis pressóricos no final da gestação ou no início do puerpério (24 horas de pós-parto), sem proteinúria e que retorna aos valores normais em até 10 dias após o parto. DOENÇA HIPERTENSIVA NÃO CLASSIFICÁVEL: em que as informações obtidas não são suficientes para a classificação. PRÉ-ECLÂMPSIA A pré-eclâmpsia consiste no desenvolvimento de hipertensão arterial, com proteinúria significativa e/ou edema de mãos e face que ocorre após 20 semanas, que pode estar presente no máximo até 12ª semanas do puerpério. Era considerada hipertensa a mulher com pressão arterial sistólica de pelo me-nos 140 mmHg e/ou pressão arterial diastólica de pelo menos 90 mmHg. A proteinúria significante era definida como pelo menos 0,3 g/L em urina de 24 horas ou de pelo menos 1+ pelo método quantitativo de fita. Pré-eclâmpsia se refere a uma síndrome sistêmica caracterizada por disfunção endotelial materna difusa, manifestada clinicamente por hipertensão, edema e proteinúria durante a gravidez. Página 13 Pre-eclampsia GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS Ocorre em aproximadamente 3% a 5% das gestantes, geralmente no último trimestre e mais comumente em primíparas. Essas mulheres podem evoluir para quadros mais graves, desenvolvendo convulsões - eclâmpsia. Outras complicações originadas da disfunção endotelial sistêmica incluem hipercoagulabilidade, insuficiência renal aguda e edema pulmonar. Aproximadamente 10% das mulheres com pré-eclâmpsia grave desenvolvem hemólise, elevação das enzimas hepáticas e baixas plaquetas - síndrome HELLP. A pré-eclâmpsia deve ser distinguida da hipertensão gestacional que pode se desenvolver na gravidez sem proteinúria. No entanto, devemos nos atentar que existem casos de pré-eclampsia sem proteinúria, nesses casos é possível definir PE quando se verificam as condições clínicas e/ou laboratoriais ilustradas na TABELA. Página 14 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS Patogenia Os mecanismos exatos que levam ao desenvolvimento da pré- eclâmpsia ainda estão sendo investigados; contudo, está claro que a PLACENTA desempenha um papel central na patogenia da síndrome, uma vez que os sintomas desaparecem rapidamente após a eliminação da placenta. As anormalidades críticas na pré-eclâmpsia consistem em disfunção endotelial difusa, vasoconstrição (levando à hipertensão) e aumento da permeabilidade vascular (resultando em proteinúria e edema). Trabalhos recentes demonstraram que estes efeitos mais provavelmente são mediados por fatores derivados da placenta, liberados na circulação materna. Embora a liberação destes fatores e a síndrome clínica ocorram no final da gestação, a patogenia da doença parece estar intimamente ligada aos eventos mais precoces da gravidez e da placentação. As principais aberrações fisiopatológicas parecem ser as seguintes. VASCULATURA PLACENTÁRIA ANORMAL: O evento inicial na patogenia da pré-eclâmpsia é a implantação trofoblástica anormal e a falta de desenvolvimento das alterações fisiológicas nos vasos maternos necessárias para a perfusão adequada do leito placentário. Na gravidez normal, as células trofoblásticas extravilosas fetais (células trofoblásticas não associadas às vilosidades coriais) no local de implantação invadem a decídua materna e os vasos deciduais, destroem a musculatura lisa vascular e substituem as células endoteliais maternas por células trofoblásticas fetais (formando vasos sanguíneos híbridos Página 15 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS materno-fetais). Este processo transforma as artérias espirais deciduais de vasos de resistência de pequeno calibre em vasos uteroplacentários de grande capacidade que não possuem um revestimento de músculo liso. Na pré-eclâmpsia, este remodelamento não ocorre, deixando a placenta pouco equipada para satisfazer as maiores demandas circulatórias do final da gestação e preparando o cenário para o desenvolvimento de isquemia placentária. DISFUNÇÃO ENDOTELIAL E DESEQUILÍBRIO DOS FATORES ANGIOGÊNICOS E ANTIANGIOGÊNICOS: Embora não formalmente comprovado, se postula que, em resposta à hipóxia, a placenta isquêmica libere fatores na circulação maternal, o que causa um desequilíbrio nos fatores angiogênicos e antiangiogênicos circulantes; por sua vez, isto provoca disfunção endotelial materna sistêmica e os sintomas clínicos da doença. Suportando esta teoria, os níveis sanguíneos de dois fatores antiangiogiênicos derivados da placenta, tirosina quinase semelhante a fms solúvel (sFltl) e endoglina, estão muito mais elevados em mulheres com pré-eclâmpsia que em controles saudáveis. A hipóxia placentária causa uma produção excessiva de sFltl pelo trofoblasto viloso; sFltl é uma forma solúvel truncada do receptor de VEGF, que atua como um receptor chamariz, se ligando à VEGF e ao fator de crescimento placentário na circulação e consequentemente neutralizando sua atividade pró- angiogênica. Do mesmo modo, a endoglina circulante, uma forma solúvel do receptor TGF-β, pode se ligar a TGF-β e inibir a sinalização por receptores celulares de TGF-β. Normalmente, no final da gestação, os níveis sanguíneos de sFltl e endoglina solúvel aumentam, enquanto o fator de crescimento placentário Página 16 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS e o fator de crescimento endotelial vascular diminuem, levando a uma redução da atividade angiogênica. Na pré- eclâmpsia, altos níveis de sFltl e endoglina solúvel provocam a redução da angiogênese muito antes que na gravidez normal. O resultado é um desenvolvimento vascular defeituoso na placenta. ANORMALIDADES DA COAGULAÇÃO: A pré-eclâmpsia está associada a um estado hipercoagulável; trombose de arteríolas e capilares pode ocorrer em todo o organismo, particularmente no fígado, rins, cérebro e hipófise. Esta hipercoagulabilidade provavelmente está relacionada a uma produção endotelial reduzida de PGI2, um potente fator antitrombótico, e maior liberação de fatores pró-coagulantes. A produção de PGI2 é estimulada tanto por VEGF quanto por TGF-β e foi constado que mulheres com pré- eclâmpsia apresentam diminuição da produção endotelial de PGI2. Página 17 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS DEFICIÊNCIA DA INVASÃO TROFOBLÁSTICA No primeiro trimestre, ocorre a primeira onda de invasão do trofoblasto, que atinge os vasos da decídua. A placentação normal completa-se com a invasão da camada muscular média das artérias espiraladas do endométrio pelo sinciciotrofoblasto até aproximadamente o final da 20ª semana, diminuindo a resistência vascular e aumentando o fluxo sanguíneo placentário. Página 18 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS A placenta torna-se órgão extremamente vascularizado, que permite as trocas materno-fetais. Esse processo vascular deriva de um intrincado balanço de fatores angiogênicos, antiangiogênicos, citocinas, m e t a l o p r o t e i n a s e s , m o l é c u l a s d o p r o c e s s o p r i n c i p a l d e histocompatibilidade, antígenos leucocitários e fatores de crescimento que cada dia mais são implicados na fisiopatologia da doença. Embora a segunda onda tenha sido mais valorizada, é pouco provável que a primeira onda seja normal, considerando-se as alterações nos vasos deciduais. Na DHEG, o fluxo uteroplacentário diminui, o que leva à diminuição da oxigenação fetal. Esse efeito é causado pela invasão inadequada do trofoblasto intravascular, impedindo as mudanças fisiológicas normais, principalmente das artérias miometriais. Por diversos motivos, contrariamente ao esperado para uma gestação normal, as artérias espiraladas não modificadas pela invasão deficiente do trofoblasto intravascular mantêm a camada muscular média com diâmetro menor e alta resistência. Além disso, também podemsurgir alterações ateromatosas na parede dos vasos. O resultado final é a redução do fluxo sanguíneo no espaço interviloso. Admite-se ainda que essas alterações na perfusão placentária possam ser responsáveis pela ativação endotelial seguida de vasoespasmo (responsável pela ocorrência de hipertensão arterial, oligúria e convulsões), pelo aumento da permeabilidade capilar (responsável pela ocorrência de edema, proteinúria e hemoconcentração) e pela ativação da coagulação (responsável pela plaquetopenia). Página 19 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS Paciente com pré eclampsia tem maior risco de desenvolver um DDP (descolamento de placenta). Gestante normal: Essas fistulas arteriovenosas feitas nas invasões troflobaastica diminui a resistência do vaso e com isso aumenta o fluxo - queda na Pressão. Conduta nas doenças hipertensivas gestacional Conduta: Tripé para tratamento Anti hipertensivo: não é indicado para todas - so quando a pa for maior que 160/110 msg - o anti hipertensivo tem como objetivo manter PAS 140-155 e PAD 90-100. Pois não podemos deixa- la hipotenusa também.Crise - usa hidralazina ev e para manutenção metildopa. Sulfato: o sulfato compete com o cálcio na placa motora, por isso devemos nos atentar ao reflexo patelar (normal:presente), respiração (normal: maior que 16) e a diurese, pois ele tem um metabolismo renal, ele é eliminado pela urina - diurese maior que 25ml/h. Página 20 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS Retirada do bebê: em casos leves que o paciente está evoluindo bem - espero o bebê chegar ao termo para fazer a retirada do feto. No entanto, quando é casos graves (ex: eclâmpsia) realizo o pato. Você suspendo o uso de sulfato quando se tem ausência de reflexo patelar + respiração menor que 12 - deve suspender, pois a paciente está tendo intoxicação por sulfato e realiza o antídoto (glucanaco de cálcio). Se apenas a diurese estiver alterada, não necessito retirar o medicamento - realizo apenas o reajuste de dose. Aspecto Clínico A pré-eclâmpsia mais comumente começa após 34 semanas de gestação, mas começa mais cedo em mulheres com mola hidatiforme ou doença renal, hipertensão ou coagulopatias preexistentes. O início é tipicamente insidioso, caracterizado por hipertensão e edema, seguido por proteinúria dentro de vários dias. Cefaleias e perturbações visuais são eventos sérios e indicativos de pré-eclâmpsia grave, muitas vezes exigindo o parto. Página 21 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS DIAGNÓSTICO CLÍNICO-LABORATORIAL A maioria das gestantes na fase inicial da pré-eclâmpsia é assintomática. A rotina propedêutica cuidadosa, com ênfase na anamnese e no exame físico, é fundamental para o diagnóstico precoce. * Exame de acido úrico - indicar queda na filtração glomerular ou a alterações de reabsorção e excreção tubular. O diagnóstico de DHEG deve ser presumido nas gestantes com hipertensão arterial, edema e/ou proteinúria significativa após 20 semanas de gestação. A probabilidade de acerto no diagnóstico clínico é maior se a paciente for primigesta e com história familiar de pré- eclâmpsia ou eclâmpsia. CONDUTA CLÍNICA NA PRÉ-ECLÂMPSIA O tratamento adequado da pré-eclâmpsia visa a diminuir a incidência de complicações maternas, como acidentes vasculares cerebrais, e a morbidade e a mortalidade por eclâmpsia. Embora o tratamento definitivo seja o parto, o controle da doença pelo tratamento conservador permite reduzir as taxas de prematuridade e o tempo de permanência do recém-nascido no berçário. A seguir, serão apresentadas as normas assistenciais seguidas na Clínica Obstétrica do HC-FMUSP MEDIDAS NÃO FARMACOLÓGICAS ➡ REPOUSO Recomenda-se repouso para as pacientes portadoras de DHEG. Página 22 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS O repouso em decúbito lateral esquerdo promove o aumento do fluxo plasmático renal, intensifica a natriurese e, consequentemente, diminui os níveis de pressão arterial. Somado a isso, melhora ainda o fluxo uteroplacentário. ➡ DIETA HIPOSSÓDICA A recomendação é a dieta hipossódica contendo 2 a 3 g de sal/dia. A redução da oferta de sal acarreta queda dos níveis séricos de sódio, com diminuição da reatividade vascular e queda da pressão arterial. Considerando-se que a dieta habitual contém de 10 a 12 g de sal/dia. MEDIDAS TERAPÊUTICA FARMACOLÓGICA ➡ SEDAÇÃO As gestantes portadoras de DHEG apresentam resposta vascular lábil perante as alterações emocionais. Assim, para diminuir as oscilações pressóricas, recomenda-se a sedação. Nas formas leves, em gestantes acompanhadas em regime ambulatorial, pode-se, eventualmente, optar pela sedação com benzodiazepínicos – diazepam (5 a 10 mg por via oral a cada 12 horas). Nas formas graves, para gestantes internadas, prefere-se a levomepromazina na dose de 3 mg (3 gotas da solução oral de levomeproma-zina a 4%) a cada 8 horas. ➡ HIPOTENSORES O tratamento das doenças hipertensivas na gravidez é objeto de controvérsias. Nas formas graves, é bem definido que o tratamento reduz a mortalidade e a morbidade maternas graves, diminuindo o risco de eclâmpsia e acidentes vasculares cerebrais. Na hipertensão leve e moderada, em contrapartida, as revisões e os estudos questionam o Página 23 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS benefício do tratamento, com a alegação de que não haveria diferença nos desfechos, com possibilidade de maior ocorrência de restrição de crescimento fetal (RCF). TRATAMENTO DAS COMPLICAÇÕES HIPERTENSIVAS AGUDAS As complicações hipertensivas agudas caracterizam-se por pressão arterial muito elevada, acompanhada de sinto-mas, com necessidade de avaliação clínica adequada, incluindo exame físico detalhado e exame de fundo de olho. RESUMINDO O TRATAMENTO A conduta na pré-eclâmpsia difere, dependendo da idade gestacional e da severidade da doença. Para gestações a termo, o parto é o tratamento de escolha, independentemente da severidade da doença. Em gestações pré-termo, quando o parto pode não ser a melhor opção para o Página 24 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS feto, as pacientes com doença leve podem ser tratadas com conduta expectante, com monitoramento atento da mãe e do feto. Espuma de urina (excesso de urina) + Escotomas cintilantes + epigastralgia = eminência de eclâmpsia Sintomas agudos - hidralazina ev Metildopa em caso de pré-eclampsia gestacional - em casos que não esta tendo sinais de agudização. ECLÂMPSIA A eclâmpsia caracteriza-se pelo aparecimento de convulsões tônico clônicas (tipo de convulsão que envolve perda de consciência e contrações musculares violentas) generalizadas, excluindo-se aquelas de outras causas ou alterações do sistema nervoso central (SNC), em gestantes com sinais e sintomas de pré-eclâmpsia. Pode-se manifestar durante a gestação, durante o parto ou no puerpério. Incidência Sua incidência varia segundo a literatura, sendo mais frequente em condições socioeconômicas desfavoráveis, atendimento pré-natal deficiente e acompanhamento inadequado da pré-eclâmpsia. Entre as formas hipertensivas, a eclâmpsia constitui a principal causa de morte materna e perinatal. Complicações maternas - devido a eclâmpsia As complicações maternas mais frequentemente associadas à eclâmpsia são hemorragia cerebral, edema agudo dos pulmões, Página 25 Eclampsia GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS insuficiência respiratória ou renal, coagulopatia, hipoxia secundária às convulsões maternas e o descolamento prematuro de placenta. Classificação Prognóstica da eclâmpsia Na dependência da concomitância de outras intercorrências clínicas, a eclâmpsia pode ser classificada em: ➡ Não complicada; ➡ Complicada; ➡ Descompensada. Essa classificação torna possível distinguir o pior prognóstico materno e perinatal relacionado aos casos consideradoscomplicados e, ainda mais, aos descompensados. Fisiopatologia A pré-eclâmpsia e a eclâmpsia possuem processos fisiopatológicos comuns. A eclâmpsia, por sua vez, consiste em uma manifestação do comprometimento do SNC da pré-eclâmpsia e, portanto, o motivo do aparecimento das convulsões é desconhecido. Página 26 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS Foi sugerida a participação do edema cerebral, da isquemia, da encefalopatia hipertensiva, do infarto cerebral e da hemorragia cerebral. Estudos recentes têm avaliado o papel de fatores circulantes (fatores de crescimento, citocinas, fatores pró-inflamatórios e antiangiogênicos) no endotélio dos vasos cerebrais, demonstrando aumento da permeabilidade capilar; a atividade de aquaporinas também seria reduzida em pacientes com pré-eclâmpsia, dificultando a drenagem de líquido acumulado no cérebro. Contudo, nenhuma dessas condições tem explicado de maneira satisfatória a fisiopatologia da eclâmpsia. QUADRO CLÍNICO O processo de instalação da eclâmpsia é geralmente gradual, embora em alguns casos a instalação seja rápida e devastadora, e se inicia com a elevação da pressão arterial e ganho excessivo de peso (> 1.000 g/se-mana), além de edema generalizado. A convulsão típica da eclâmpsia evolui clinicamente em quatro fases. 1. Fase de invasão 2. Fase de contrações tônicas 3. Fase de contrações clônicas 4. Fase de coma FASE DE INVASÃO: pode ser silenciosa ou precedida de grito ou aura. Surgem fibrilações, principalmente em torno da boca, com o aparecimento de contrações em outras regiões faciais. A língua pode ser exteriorizada e, com o fechamento da boca, pode ser atingida e lesada. Os membros superiores ficam em pronação, com o polegar sobre a mão fechada. Esta fase dura cerca de 30 segundos. FASE DE CONTRAÇÕES TÔNICAS: tetanização de todo o corpo com opistótono cefálico (distinção e aumento involuntário da contração Página 27 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS muscular). Os masseteres se contraem com força, fechando a boca. O rosto se mostra cianótico e pletórico, com os olhos voltados para cima e as pupilas dilatadas. FASE DE CONTRAÇÕES CLÔNICAS: inspiração profunda seguida de expiração estertorosa e saída de muco sanguinolento pela lesão da língua. Pode haver incontinência de fezes e urina. FASE DE COMA: surge diante de convulsões repetidas ou prolongadas em que há perda de consciência e ausência de reflexos com duração de alguns minutos até horas ou dias. Outras manifestações clínicas de insuficiência de diversos órgãos são comuns na eclâmpsia: oligúria ou anúria, insuficiência respiratória, cianose, icterícia e sangramentos. Além disso, pode haver aumento do tônus e da frequência das contrações uterinas e diminuição da frequência dos batimentos cardíacos fetais. Essas alterações em geral acontecem durante as convulsões ou imediatamente depois delas e desaparecem após alguns minutos desde que a hipoxemia materna seja corrigida. Há situações em que o diagnóstico é dificultado pelos achados do exame físico, que podem sugerir outras entidades clínicas. Nesses casos, deve ser considerado o diagnóstico diferencial com outros estados convulsivos. Página 28 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS TRATAMENTO CLÍNICO A eclâmpsia é uma emergência obstétrica e necessita de atendimento especializado imediato. O tratamento visa a manutenção da função cardiorrespiratória e da oxigenação materna, controle da pressão arterial e correção da hipoxemia e da acidose materna. Para o planejamento terapêutico, torna-se importante a realização de alguns exames complementares, como hemograma com contagem de plaquetas, coagulograma, dosagem de ureia, creatinina, sódio, potássio, enzimas hepáticas, ácido úrico, bilirrubinas totais e frações, DHL, gasometria arterial, proteinúria, exame de fundo de olho, eletrocardiograma e tomografia computadorizada (se houver persistência do quadro convulsivo). Página 29 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS O mais importante no início é avaliar o estado geral e simultaneamente garantir a oxigenação materna, proteger a língua com cânula de Guedel e evitar a aspiração. Contraindica-se o uso de benzodiazepínicos, pois a convulsão é auto limitada, além de favorecer a depressão respiratória e neurológica e promover a diminuição dos reflexos laríngeos, o que facilitaria a aspiração do conteúdo gástrico. Para a prevenção de novas convulsões, utiliza-se o sulfato de magnésio. As observações clínicas e os estudos sugerem que o sulfato de magnésio exerce sua ação anticonvulsivante ao agir diretamente no córtex cerebral. Pelo menos três mecanismos são aventados: possui efe i to vasod i l atador, b loque ia a exc i tação e promove transmissibilidade elétrica no tecido cerebral. A vantagem dele sobre os demais anticonvulsivantes é o fato de essa droga, em doses habituais, não produzir depressão do SNC, tanto materno como fetal, ainda que ultrapasse rapidamente a barreira placentária. Quanto a outros agentes anticonvulsivantes, como a FENITOÍNA, os estudos controlados não têm demonstrado vantagens em relação ao sulfato de magnésio. ADMINISTRAÇÃO DO SULFATO DE MAGNÉSIO O sulfato de magnésio pode ser administrado segundo três diferentes esquemas. Página 30 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS INTOXICAÇÃO POR SULFATO DE MAGNÉSIO A administração intravenosa apesar de não provocar dor ou hematoma local no entanto, apresenta maior risco de toxidade pelo magnésio e a monitorização da magnesemia torna-se imprescindível. ➡ Níveis de magnésio de até 7 mEq/L não provocam toxicidade,; ➡ Primeiro sinal na mãe de toxidade é a perda do reflexo patelar (quando se tem concentrações plasmáticas superiores a 7 e até 10 mEq/L.) Página 31 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS ➡ Comprometimento dos músculos envolvidos na respiração (quando a concentração plasmática supera 15 mEq/L). ➡ Parada cardíaca (concentrações superiores a 30 mEq/L) A depressão neonatal ocorre apenas nos casos de hipermagnesemia grave. O antídoto utilizado em casos de hipermagnesemia, é o GLUCONATO DE CÁLCIO A 10% na dose de 10 mL intravenosos em 3 minutos. PERSISTÊNCIA DE CONVULSÕES Com a persistência de convulsões, apesar da utilização do sulfato de magnésio, ou nos casos confirmados de hemorragia cerebral, realiza-se a administração de fenitoína na dose de 250 mg (1 ampola diluída em soro fisiológico, 250 mL intravenosos em 10 minutos), e repete-se o esquema a cada 30 minutos até completar 750 mg. USO DE HIDRALAZINA O tratamento hipotensor está indicado diante de pressão arterial diastólica ≥ 110 mmHg, decorridos 20 a 30 minutos da dose venosa do esquema de ataque com sulfato de magnésio. Utiliza-se a hidralazina na dose de 5 mg por via intravenosa a cada 15 minutos até o controle da pressão arterial, ou seja, redução de 20 a 30% da pressão arterial diastólica em relação às medidas iniciais. Página 32 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS É preciso lembrar que a hidralazina deve ser diluída em 19 mL de água destilada (1 ampola = 1 mL = 20 mg). Para cada aplicação, são utilizados 5 mL da solução. Monitorização fetal Com a estabilização materna, deve-se dar início à avaliação da idade gestacional, do peso e da vitalidade fetal. Bradicardias fetais transitórias com duração de 3 a 5 minutos são comuns após as convulsões e não indicam que a interrupção da gestação deva ser imediata. Depois do episódio convulsivo, é comum o aparecimento de taquicardia fetal compensatória com desacelerações transitórias que desaparecem em 20 a 30 minutos. Apesar de a interrupção da gestação constituir o tratamento definiti-vo da eclâmpsia, é importante que as avaliações maternas e fetais sejam adequadas e que todas as medidas de correção sejam realizadas antes do nascimento. A estabilização clínicaantes do parto melhora as condições perinatais e reduz os riscos maternos. Página 33 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS Síndrome de HELLP A síndrome HELLP é uma entidade clínica que pode ocorrer na pré- eclâmpsia ou na eclâmpsia e se caracteriza por um conjunto de sinais e sintomas associados a hemólise microangiopática, elevação das enzimas hepáticas e plaquetopenia. HEMÓLISE O aumento da destruição de eritrócitos é responsável pela hiperbilirrubinemia não conjugada, daí o aparecimento de icterícia. No entanto, a icterícia só é observada quando o nível de bilirrubina ultrapassa 3 mg/dL. Além disso, quando há apenas hemólise, a hiperbilirrubinemia em geral é leve. Valores elevados de bilirrubina sugerem disfunção hepática, com aumento da bilirrubina conjugada. Como as hemácias possuem grande quantidade de DHL, a hemólise promove a elevação da atividade dessa enzima no soro. Entre os achados da anemia hemolítica microangiopática, observam- se alterações eritrocitárias em que há diminuição do nível de hemoglobina e presença de lesões vasculares. Entre as alterações eritrocitárias, destaca-se a presença de esquizócitos e equinócitos. O esquizócito, também denomina-do de célula capacete ou fragmentada, caracteriza-se por apresentar forma discoide alterada, com duas ou três espículas nas extremidades. Acredita-se que essa fragmentação eritrocitária seja secundária à passagem do sangue por pequenos vasos sanguíneos que possuem lesão da camada íntima e/ou deposição de fibrina. Página 34 Sindrome de Hellp GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS O equinócito é outra alteração da morfologia do eritrócito, caracterizada por apresentar várias espículas em sua superfície. ELEVAÇÃO DE ENZIMAS HEPÁTICAS Em decorrência da necrose das células hepáticas, ocorre a elevação das enzimas TGO e TGP. Além disso, no comprometimento hepático, pode haver elevação da DHL, embora em níveis inferiores aos da TGO e da TGP. Página 35 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS PLAQUETOPENIA A redução do número de plaquetas (< 100.000/mm3) na síndrome HELLP é consequência do aumento da sua destruição. Acredita-se que as plaquetas circulantes aderem ao colágeno vascular exposto pela lesão endotelial. Além disso, o consumo de plaquetas exacerba-se diante da coagulação intravascular disseminada, situação em que se observam também baixos níveis plasmáticos de fibrinogênio (< 300 mg/dL) e de antitrombina III (< 80%) e aumento do tempo de protrombina (< 70%), além de elevação dos produtos de degradação da fibrina (> 40 mg/ mL). Pelo menos três desses valores alterados indicam a presença de coagulação intravascular disseminada, e dois valores alterados, a sua suspeita. Mas há ainda outras causas de aumento de destruição plaquetária, como as imunológicas, as medicamentosas e as idiopáticas. INCIDÊNCIA A incidência da síndrome HELLP varia de: ➡ 4 a 12% nas gestantes com pré-eclâmpsia grave; ➡ e de 11% nas gestantes com eclâmpsia. Página 36 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS MORTALIDADE MATERNA E PERINATAL Os riscos maternos e perinatais são muito elevados. Tem-se relatado: ➡ Mortalidade materna em até 24% dos casos ➡ Perinatal em até 30 a 40%. QUADRO CLÍNICO As manifestações clínicas são geralmente múltiplas e imprecisas e superpõem-se às da pré-eclâmpsia: ➡ Cefaleia; ➡ Dor epigástrica e/ou no hipocôndrio direito; ➡ Perda de apetite; ➡ Náuseas; ➡ Vômitos; ➡ Escotomas; ➡ Níveis pressóricos elevados. Nos casos mais graves, como na iminência de eclâmpsia e na eclâmpsia, as pacientes apresentam-se com alteração do estado de consciência. DIAGNÓSTICO O diagnóstico deve ser o mais precoce possível, e é predominantemente laboratorial. A síndrome HELLP é dita completa quando todos os critérios diagnósticos laboratoriais se encontram presentes e parcial quando se verifica apenas parte deles. Página 37 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Algumas situações clínicas podem raramente estar associadas à gravidez e simular a síndrome HELLP. O diagnóstico diferencial deve ser feito com anemias hemolíticas e doenças hepáticas. TRATAMENTO CLÍNICO O tratamento inicial é o mesmo utilizado para as formas graves de hipertensão arterial, ou seja: ➡ Estabilização das condições clínicas maternas; ➡ Profilaxia da convulsão; ➡ Terapia anti-hipertensiva; ➡ Avaliação da vitalidade fetal. Portanto, o caso deve ser conduzido em hospital terciário, com estrutura laboratorial completa, banco de sangue e equipe médica multidisciplinar. Página 38 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS Na presença de coagulação intravascular dissemina-da e/ou contagem de plaquetas abaixo de 70.000/mm3 com iminência de eclâmpsia ou eclâmpsia, ao utilizar o sulfato de magnésio, opta-se pelo esquema intravenoso de Sibai. Ao se decidir pela conduta conservadora, o acompanhamento dessas gestantes impõe rigoroso controle dos níveis pressóricos, da intensidade da hemólise, da lesão hepática, da função renal e da coagulação sanguínea (plaquetas, fibrinogênio, produtos de degradação da fibrina, tempo de protrombina) e da função respiratória (ausculta pulmonar e gasometria arterial). Dessa maneira, os exames laboratoriais utilizados para o diagnóstico da síndrome HELLP devem ser repetidos com inter-valos de no máximo 6 a 12 horas para avaliar a evolução da doença. Além disso, a presença de dor epigástrica e no hipocôndrio direito, quando se prolonga, pode ser decorrente de ruptura hepática, complicação rara, porém muito grave. O diagnóstico da ruptura hepática é sugerido pela presença de líquido livre na cavidade peritoneal à ultrassonografia, pela queda da hemoglobina, por sinais de hipotensão arterial e por sinais sugestivos observados na tomografia computadorizada e na ressonância nuclear magnética. O diagnóstico de insuficiência renal é realizado diante de creatinina sérica acima de 1,2 mg%, associada à oligúria (diurese menor que 400 mL/dia). O diagnóstico de coagulação intravascular dissemina-da pode ser clínico quando ocorrer sangramento em di-versas regiões do corpo Página 39 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS (gengivorragia, hematomas, petéquias, hematúria). E também pode ser feito por meio de diagnóstico laboratorial. USO DE CORTICOSTEROIDE O uso do corticosteroide no período anteparto tem demonstrado produzir melhoras nos parâmetros laboratoriais (plaquetas, enzimas hepáticas e bilirrubinas). Dessa maneira, indica-se o corticosteroide para os casos cuja interrupção da gestação seja necessária por óbito fetal ou pela gravidade do quadro clínico materno com fetos in-viáveis, com o intuito de melhorar as condições clínicas e laboratoriais maternas, principalmente visando à elevação da contagem de plaquetas, o que permite maior segurança para o procedimento obstétrico. Utiliza-se dexametasona, 10 mg, a cada 12 horas até o parto. TRATAMENTO OBSTÉTRICO A conduta obstétrica na síndrome HELLP, em idades gestacionais precoces, é controversa na literatura: ➡ Conduta conservadora - estabilizar o curso da doença e reduzir a morbidade e a mortalidade perinatais e também as complicações mater-nas. ➡ Postergar a gestação com menos de 34 semanas por apenas 48 horas. ➡ In te r r upção da ges tação é s e m p r e i n d i c a d a , independentemente da idade gestacional. A melhor via de parto para essas gestantes é a vaginal, visto que determina menor sangramento intraoperatório. Assim, se o colo uterino Página 40 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS revelar boas condições, induz-se ou conduz-se o trabalho de parto, com vigilância contínua da vitalidade fetal. Diante da impossibilidade de parto vaginal, alguns cuidados são recomendados para a realização da cesárea. Cuidados com os níveis de plaquetas, pressãoarterial, observar se não esta tendo falência dos órgão. PROGNÓSTICO Mulheres com história de DHEG apresentam risco de recorrência em gestações subsequentes, principalmente aquelas que tiveram instalação precoce da doença, as que apresentam formas mais graves e aquelas com hipertensão arterial de base. Na maioria dos casos, a hipertensão arterial e a proteinúria desaparecem após o parto. Se o quadro hipertensivo persistir por mais de 3 meses, deve-se suspeitar de hipertensão arterial crônica. Em relação ao desaparecimento da proteinúria, os dados são mais controversos. De acordo com alguns estudos é possível haver doença Página 41 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS renal de base quando a proteinúria persiste por mais de 12 semanas de pós-parto. Estudos realizados nos últimos anos indicam que a DHEG pode predispor à hipertensão arte-rial e a complicações cardiovasculares e renais futuras na mulher. Quanto ao impacto remoto sobre a saúde do concepto de mães que tiveram DHEG, estudos têm observado que existe maior predisposição a obesidade, hipertensão e eventos vasculares cerebrais (na infância e na fase adulta) quando comparados a filhos de mães que não tiveram essa intercorrência. HAS A hipertensão arterial (HA) intercorrente na gestação, independentemente de sua etiologia, acarreta expressiva elevação dos riscos maternos e perinatais, podendo limitar o desenvolvimento fetal, implicar altas taxas de prematuridade, além de riscos elevados de morte ou limitações orgânicas maternas definitivas. HAS NA GESTAÇÃO Hipertensão arterial na gestação é definida pela pressão arterial sistólica (PAS) maior ou igual a 140 mmHg e/ou pressão arterial diastólica (PAD) maior ou igual a 90 mmHg. Hipertensão gestacional é identificação de HA após a 20ª semana, sem outro comprometimento clínico ou laboratorial, definida como “transi- tória” se há normalização após o parto. Página 42 Has GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS HAC Hipertensão arterial crônica (HAC) condição identificada antes da gestação ou definida antes da 20ª semana de gestação ou ainda que permaneça além da 12ª semana de puerpério. Referências KUMAR, V. et al. Robbins. Patologia básica. 8a ed., Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. Urbanetz, Almir A. Ginecologia e Obstetrícia Febrasgo para o Médico Residente. Disponível em: Minha Biblioteca, Editora Manole, 2016. Zugaib, Marcelo, e Rossana Pulcineli Vieira Francisco. Zugaib obstetrícia 4a ed.. Disponível em: Minha Biblioteca, (4th edição). Editora Manole, 3.Explicar sobre as doenças trofoblásticas gestacionais. Doença trofoblástica gestacional é um termo genérico que engloba um conjunto de alterações que surgem a partir do trofoblasto e apresentam como característica comum a origem gestacional. Essas alterações se caracterizam pela proliferação anormal dos diferentes tipos de epitélio trofoblástico (sinciciotrofoblasto, citotrofoblasto viloso e trofoblasto intermediário). O termo neoplasia trofoblástica gestacional refere-se às doenças que possuem potencial para invasão local e metástases. Classificação da doença trofoblástica gestacional MOLA HIDATIFORME ➡ Mola completa ➡ Mola parcial Página 43 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS NEOPLASIA TROFOBLÁSTICA GESTACIONAL ➡ Mola invasora ➡ Coriocarcinoma gestacional ➡ Tumor trofoblástico do sítio placentário ➡ Tumor trofoblástico epitelioide OUTRAS LESÕES TROFOBLÁSTICAS ➡ Nódulo de sítio placentário ➡ Sítio placentário exagerado Uma característica importante da doença trofoblástica gestacional é o fato de apresentar marcador biológico fidedigno à gonadotrofina cor i ôn i ca humana (hCG) , p roduz ida pr i nc i pa lmente pe l o sinciciotrofoblasto. Na mola hidatiforme, na mola invasora e no coriocarcinoma, há uma correlação direta entre os valores de hCG, o número de células trofoblásticas e a carga tumoral, refletindo assim o comportamento da doença. Porém, o mesmo não ocorre com o tumor trofoblástico do sítio placentário, tumor trofoblástico epitelioide, sítio placentário exagerado e nódulo de sítio placentário, pois são lesões originárias do trofoblasto intermediário Mola Hidatiforme Tumor benigno que se desenvolve no útero como resultado de uma gestação não viável. Também denominada: Tumor trofoblástico gestacional. Pode ou não haver a presença de um embrião ou tecido placentário, logo a mola hidatiforme pode ser dividida em mola completa e mola parcial. Se houver um embrião, infelizmente, ele não sobreviverá. Página 44 Mola Hidatiforme GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS A gestação pode parecer normal no início, mas quando os sintomas se desenvolvem, incluem sangramento vaginal que pode ser marrom escuro ou vermelho vivo, durante o primeiro trimestre, além de náuseas e vômitos. Ao exame físico, pode-se notar a discordância entre o volume uterino e o atraso menstrual. O aumento exagerado do volume, consequência da proliferação do conteúdo molar, é o segundo sinal mais frequente em pacientes com mola hidatiforme. Nas molas volumosas, pode-se observar doença hipertensiva específica da gestação (DHEG) antes de 20 semanas, podendo, inclusive, ocorrer evolução para eclâmpsia. É preciso remover o tumor para evitar complicações graves. Fatores de risco para desenvolvimento da mola: Infecções virais, estado nutricional, defeito das células germinativas, paridade, *idade materna (mulheres com idade nos extremos da vida reprodutiva, adolescentes ou acima dos 40 anos, têm maior probabilidade de desenvolver mola hidatiforme), consanguinidade, contracepção oral, *antecedente de mola hidatiforme e influência do meio ambiente. MOLA COMPLETA ➡ Não há desenvolvimento de embrião, membranas e cordão umbilical. ➡ Tem o aspecto de “cacho de uva”, em decorrência da formação de vesículas que correspondem às vilosidades coriônicas edemaciadas. ➡ Não há vaso ou hemácia fetal na vilosidade coriônica. ➡ A principal característica histológica é a hiperplasia difusa do citotrofoblasto e do sincicio-trofoblasto. Página 45 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS No entanto, molas completas precoces (no início do primeiro trimestre) não apresentam alterações histológicas significativas, tornando o diagnóstico histopatológico desafiador. Na dúvida diagnóstica, é possível lançar mão da imuno-histoquímica com marcador p57, que está ausente no trofoblasto viloso de molas completas e presente no trofoblasto viloso de molas parciais de abortamentos não molares. Do ponto de vista genético, a mola completa tem seus cromossomos exclusivamente de origem paterna e em sua maioria são 46,XX. Por um mecanismo pouco conhecido, os cromossomos do óvulo estão ausentes. O óvulo “vazio” é fecundado por um espermatozoide 23,X. Ocorre, então, a duplicação do genoma paterno (monospermia), originando uma célula 46,XX. Cerca de 5 a 10% das molas completas são 46,XY e se originam da fecundação de um óvulo sem carga genética por dois espermatozoides (dispérmica) contendo cromossomos X e Y. Do ponto de vista clínico, em razão da maior proliferação trofoblástica, a mola completa apresenta níveis mais elevados de hCG e maior taxa de complicações clínicas nos casos diagnosticados tardiamente, quando com-parados à mola parcial. Em relação à evolução clínica, a mola completa progride para neoplasia trofoblástica gestacional em torno de 15 a 20% dos casos. Página 46 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS MOLA PARCIAL ➡ Tem a formão de um embrião , no entanto não é compatível com a vida. ➡ A inclusão do trofoblasto dentro do estroma, ainda que não seja patognomônica, é altamente sugestiva de mola parcial. ➡ A hiperplasia é focal e em geral limitada ao sinciciotrofoblasto. Do ponto de vista genético, aproximadamente 90% das molas parciais se originam da dispermia, que consiste na fecundação de umóvulo normal por dois espermatozoides, resultando em uma célula triploide (69,XXX ou 69,XXY), enquanto os 10% restantes são tetraploides. Página 47 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS A mola parcial apresenta menor potencial de evolução para neoplasia trofoblástica gestacional, aproximada-mente 5% dos casos progridem para formas malignas de doença trofoblástica gestacional. Exames complementares DOSAGEM DE BETA-HCG: a hCG é uma glicoproteína produzida pelo trofoblasto, normal ou patológico. Valores séricos elevados de hCG, especialmente acima de 200.000 mUI/mL, são altamente sugestivos de doença trofoblástica gestacional; todavia, títulos elevados desse hormônio também são encontrados em casos de gestação múltipla normal. Em gestantes com mola parcial, a concentração de hCG raramente ultrapassa valores acima de 100.000 mUI/mL. ULTRASSONOGRAFIA: A ultrassonografia é o exame mais utilizado no diagnóstico da gestação molar. O aspecto ecográfico da mola hidatiforme depende da idade gestacional e do tamanho das vesículas. O padrão ultrassonográfico mais descrito consiste em múltiplas áreas anecoicas entremeadas por ecos amorfos (imagem em “flocos de neve”) (Figura 5), mas esses achados podem estar ausentes em casos de mola parcial ou mola completa inicial. TRATAMENTO Página 48 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS Como forma de tratamento é realizado o ESVAZIAMENTO MOLAR. ESVAZIAMENTO MOLAR + HISTERECTOMIA: tem uma indicação bem restrita. Atualmente, só encontra respaldo em casos de mola parcial com feto grande, hemorragia genital considerável e colo desfavorável à indução, pois a realização de histerotomia está associada a maiores taxas de neoplasia trofoblástica gestacional. ACOMPANHAMENTO APÓS ESVAZIAMENTO MOLAR Pacientes com mola hidatiforme completa ou parcial devem ser submetidas a dosagem seriada da fração beta da gonadotrofina coriônica humana (beta-hCG) e avaliação clínica. Os sintomas da gestação regridem rapidamente e o sangramento vaginal não costuma permanecer por mais de 1 semana. O útero e os cistos tecaluteínicos diminuem para as dimensões pré-gestacionais em 2 a 3 semanas e em 2 a 4 meses, respectivamente. Os títulos séricos de beta-hCG devem ser avaliados semanalmente ou a cada 15 dias até se tornarem indetectáveis (inferiores a 5 mUI/mL). Os retornos devem ser mensais por pelo menos 6 meses após a negativação. Geralmente, os valores séricos de beta-hCG tornam-se negativos entre 8 e 10 semanas após o esvaziamento molar Página 49 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS NEOPLASIA TROFOBLÁSTICA GESTACIONAL A neoplasia trofoblástica gestacional inclui as formas malignas da doença trofoblástica gestacional, caracterizadas histologicamente como : ➡ Mola invasora; ➡ Coriocarcinoma gestacional; ➡ Tumor trofoblástico do sítio placentário; ➡ Tumor trofoblástico epitelioide. MOLA INVASORA A mola invasora representa uma sequela da mola hidatiforme e caracteriza-se por apresentar vilosidades molares invadindo profundamente o miométrio, portanto, a preservação da estrutura vilositária. Ainda que raramente, pode emitir metástase, sobretudo para pulmões e estruturas pélvicas. É a forma mais encontrada de neoplasia trofoblástica gestacional posterior à mola hidatiforme, sendo de 6 a 10 vezes mais frequente que o coriocarcinoma gestacional. CORIOCARCINOMA GESTACIONAL O coriocarcinoma gestacional é uma forma extremamente agressiva de neoplasia trofoblástica gestacional e caracteriza-se por invadir profundamente o miométrio e os vasos sanguíneos, causando hemorragia e necrose. Esse tipo de tumor dissemina-se de maneira rápida por via hematogênica e emite metástases preferencialmente para pulmões, vagina, fígado e sistema nervoso central (SNC), e com menos frequência para baço, rins e intestinos. Página 50 Neoplasia Trofoblastica Gestacional GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS Ao passo que a mola invasora sempre é precedida de mola hidatiforme, o coriocarcinoma gestacional pode se originar de qualquer tipo de gestação, estimando-se que em até 50% dos casos surge após gestação não molar (abortamento, gestação normal ou gravidez ectópica). Macroscopicamente, apresenta-se como um tumor sólido vermelho- escuro, cresce em contato com a cavidade uterina e pode invadir profundamente o miométrio, estendendo-se para o peritônio. Ao contrário da mola hidatiforme e da mola invasora, não se evidencia vilosidade coriônica. TUMOR TROFOBLÁSTICO DO SÍTIO PLACENTÁRIO O tumor trofoblástico do sítio placentário constitui uma forma rara de neoplasia trofoblástica gestacional e tem como característica a ausência de vilosidade coriônica, com proliferação das células trofoblásticas intermediárias do sítio de implantação. Esses tumores apresentam-se como massas sólidas circunscritas ao miométrio; algumas vezes, porém, ocorre projeção do tumor para dentro da cavidade uterina. Podem exibir áreas de hemorragia e necrose, contudo são menos proeminentes que as encontradas no coriocarcinoma gestacional. Metástases a distância são infrequentes, mas podem ser encontradas nos pulmões, fígado, encéfalo, retroperitônio e linfonodos.1 Entre 53 e 78% das lesões têm como antecedente gestacional uma gravidez de termo, mas o restante é originado de mola hidatiforme ou abortamento. Página 51 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS TUMOR TROFOBLÁSTICO EPITELIOIDE O tumor trofoblástico epitelioide também é uma forma rara de neoplasia trofoblástica gestacional e apresenta várias semelhanças com o tumor trofoblástico do sítio placentário: é formado a partir de células trofoblásticas intermediárias; origina-se, com maior frequência, após gestação termo; e produz pouca quantidade de hCG, que em geral não ultrapassa 2.500 mUI/mL. Seu padrão de crescimento é nodular, enquanto o do tumor do sítio placentário é do tipo infiltrativo. DIAGNÓSTICO: a estabilização ou o aumento da concentração de hCG, após esvaziamento molar, desde que afastada a hipótese de gravidez, impõe o diagnóstico de neoplasia trofoblástica gestacional. Zugaib, Marcelo, e Rossana Pulcineli Vieira Francisco. Zugaib obstetrícia 4a ed.. Disponível em: Minha Biblioteca, (4th edição). Editora Manole, 4. Apresentar a fisiopatologia, a abordagem diagnóstica e terapêutica das alterações do líquido amniótico. Os distúrbios do líquido amniótico caracterizam-se pelo excesso de volume do líquido, denominado polidramnia, e pela escassez de volume de líquido, denominada oligoidramnia. POLIDRAMNIA DEFINIÇÃO: polidrâmnio ou hiperidrâmnio é o acentuado excesso de líquido amniótico, reconhecido ao exame físico – útero grande para a idade gestacional – e, eventualmente, confirmado por generosa aspiração de fluido à amniocentese transabdominal ou pelo escoamento desmedido Página 52 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS no momento do parto. A polidramnia está presente em 1 a 3% das gestações. Antes do advento da ultrassonografia (US), a polidramnia era definida como o volume de líquido amniótico maior que 2 litros. Atualmente, e com maior precisão, define-se a polidramnia quando há bolsão de líquido amniótico com diâmetro vertical maior que 8 cm. QUADRO CLÍNICO Distingue-se em forma aguda de crônica. FORMA AGUDA: é rara (5%) e precoce, característica do segundo trimestre. O aumento volumétrico, de instalação rápida, agrava-se dia a dia, alcançando, após poucas semanas, volume considerável (3, 4, 5 litros ou mais). Os sinais comuns estão associados às for mas crônicas, mas são graves os sintomas decorrentes do súbito crescimento do útero. As condições maternas podem exigir a interrupção da gravidez, ou a expulsão ocorre após amniorrexe espontânea. Provocada ou não, a interrupção, antes do termo, é o desfecho habitual, sendo considerados exceções os casos de normalização e prosseguimento da gravidez. FORMACRÔNICA: mais frequente, inicia-se nos últimos meses da gestação; a expansão do útero é gradativa, mas pode alcançar volume considerável . O prognóstico fetal é melhor, embora ainda seja ruim. O sofrimento materno pode ser intenso, em razão da pressão do útero, muito desenvolvido, sobre o diafragma, com dispneia acentuada, alentecendo a circulação venosa de retorno dos membros inferiores, provocando edema, varizes e hemorroidas e comprimindo o sistema gastrointestinal; além disso, há dores difusas, abdominais e lombares. Página 53 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS EXAME FÍSICO O exame revela o grande volume do útero, em desproporção com a idade gestacional. Há edema nas porções baixas do ventre, como em todo o crescimento desmesurado do órgão gestante, e a pele do abdome distendida, lisa e brilhante apresenta extensas estrias. À palpação, nota-se a consistência cística e, muita vez, não se percebe o feto e nem mesmo a sensação de “rechaço”. CAUSAS É conhecida a relação entre a polidramnia e as anomalias congênitas fetais, presentes em cerca de 4 a 45% dos casos, especialmente as do sistema nervoso central (anencefalia, defeitos do tubo neural) e as atresias altas do tubo digestivo (esôfago e duodeno). O excesso de fluido decorre do desequilíbrio resultante da falta de deglutição fetal, visto que a excreção urinária, fonte produtora, continua normalmente. Há grande incidência de polidrâmnio nos casos de hidropsia fetal não imune, diabete melito, doença hemolítica perinatal, gemelidade Página 54 O que é rechaço fetal? Sinal de rechaço fetal intra-uterino. Um discreto impulso no útero, durante o toque vaginal, produz o deslocamento do feto no líquido amniótico para longe do dedo do examinador. A tendência de retorno do feto À sua posição inicial permitirá novamente sua palpação e a sensação de rechaço fetal. O que significa a palavra rechaço? substantivo masculino Ação ou efeito de rechaçar; ato de repudiar ou repelir; repúdio ou resistência. GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS (monocoriônica) e patologia placentária (corioangioma, placenta circunvalada). As infecções fetais associadas à polidramnia incluem: parvovírus B19, citomegalovírus, toxoplasmose e síilis. Em 1/3 dos casos de polidrâmnio, no entanto, mãe e feto são normais (polidramnia idiopática). Atualmente, sabe-se que não é comum a recorrência dessa apresentação idiopática em gestações subsequentes (5%). Quanto maior o grau de polidramnia, mais elevada a possibilidade de malformações fetais. DIAGNÓSTICO A US confirma o diagnóstico. Quando a US mostra bolsão de líquido amniótico maior que 8 cm no seu diâmetro vertical, confirma-se o diagnóstico de polidramnia. TRATAMENTO No feto normal (à US e ao cariótipo), não havendo evidência de malformação, a conduta é procurar prolongar a gravidez, aliviando, simultaneamente, os sintomas decorrentes do excessivo volume amniótico. Na forma aguda, clinicamente, dominam os sintomas decorrentes do aumento rápido de volume da matriz. As condições maternas se agravam e exigem, muitas vezes, o esvaziamento do excesso de líquido, que pode ser obtido por amniocentese transabdominal, seguida de aspiração; trata-se, teoricamente, de um procedimento conservador. Página 55 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS Na forma crônica, o prognóstico é reservado, mas não são poucas as possibilidades de a gravidez alcançar o termo ou suas proximidades. Entre 24 e 34 semanas de gravidez, diante da possibilidade do parto pré-termo, o uso de corticosteroide está indicado. No feto malformado e/ou cariótipo anormal, é autorizada por lei a interrupção da gravidez somente no caso de anencefalia. A indução será realizada com perfusão de ocitocina e com amniotomia; também é útil o misoprostol vaginal. A AMNIOCENTESE TEM POR INDICAÇÃO: ➡ Diminuir o desconforto da paciente e atender à sintomatologia grave nos polidrâmnios muito volumosos; ➡ Favorecer a evolução da gravidez; ➡ Acelerar a transformação da contratilidade uterina na fase de pré-parto ou, se iniciado o parto, encurtá-lo. PROGNÓSTICO O prognóstico materno é bom, apenas agravado por algumas complicações e do parto. O mesmo não ocorre com o feto: são muito frequentes as malformações, a prematuridade e as lesões anóxicas e traumáticas. OLIGOIDRAMNIA DEFINIÇÃO: A diminuição significativa do volume de líquido amniótico sempre trará consequências ominosas ao feto. A oligoidramnia é responsável pela complicação de 0,5 a 5,5% de todas as gestações. A quantidade adequada do líquido amniótico é indispensável para o desenvolvimento do pulmão fetal, possibilita o livre movimento do concepto e ainda atua como barreira contra a infecção. Página 56 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO Embora o diagnóstico de oligoidramnia seja suspeitado clinicamente, na maioria das vezes (útero pequeno para a idade gestacional), sua confirmação é feita pela US, que mostra o maior bolsão de líquido amniótico < 2 cm no seu diâmetro vertical. Outros critérios são: ausiência óbvia de líquido amniótico; diminuta interface líquido/feto; aconchegamento exagerado das pequenas partes fetais. Ao tornar-se extremamente escasso (300 a 400 mL), o líquido amniótico fica espesso, viscoso e turvo. Nos casos mais acentuados, fala-se em adramnia. CAUSAS Condições fetais graves estão associadas à oligoidramnia: doença renal, crescimento intrauterino restrito (CIR), amniorrexe prematura e pós-maturidade. No segundo trimestre, 50% dos casos de oligoidramnia são decorrentes de amniorrexe prematura. Outras causas relacionadas são: malformações fetais, insuficiência placentária, anormalidades da gravidez gemelar, descolamento prematuro da placenta, CIR e causa idiopática. TRATAMENTO HIDRATAÇÃO MATERNA: A infusão venosa de fluidos parece aumentar o volume de líquido amniótico, o que pode ser interessante quando a conduta expectante for uma opção. Portanto, a hidratação poderia auxiliar no manejo da oligoidramnia. O benefício da hidratação Página 57 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS materna também depende da causa básica de oligoidramnia. Casos decorrentes de malformações fetais provavelmente não irão se beneficiar dessa terapêutica. AMNIOINFUSÃO: é o procedimento no qual é infundido soro fisiológico na cavidade amniótica por meio da amniocentese. Pode ser realizada para diagnóstico, para melhorar a visualização das estruturas fetais na US, ou com o propósito terapêutico, na tentativa de diminuir a incidência de hipoplasia pulmonar ou de sofrimento fetal intraparto. No caso do uso intraparto, a amnioinfusão não se mostrou eficaz na prevenção de síndrome de aspiração meconial. A amnioinfusão não é isenta de riscos, podendo haver aumento do risco de hipertonia uterina, alteração do ritmo cardíaco fetal, amnionite, ruptura uterina e insuficiência respiratória ou cardíaca materna. PROGNÓSTICO O parto, na oligoidramnia, costuma ser antecipado e transcorre com anomalias contraturais. O pequeno escoamento de líquido configura o chamado “parto seco”. Complicações fetais incluem: morte do feto, hipoplasia pulmonar (antes de 24 semanas), diversas anormalidades esqueléticas e faciais (síndrome de Potter). Oligoidramnia acentuada no segundo trimestre de gravidez é sinal de prognóstico reservado, com morte fetal in útero ou no período neonatal por hipoplasia pulmonar. Referência Urbanetz, Almir A. Ginecologia e Obstetrícia Febrasgo para o Médico Residente. Disponível em: Minha Biblioteca, Editora Manole, 2016. Página 58 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS 5. Discutir sobre o puerpério (fisiológico e patológico) inclusive sobre mortalidade perinatal e near miss. PUERPÉRIO FISIOLÓGICO PUERPÉRIO: O puerpério, ou período pós-parto, tem início após a dequitação e se estende até 6 semanas completasapós o parto. Essa definição é baseada nos efeitos acarretados pela gestação em diversos órgãos maternos que, ao final desse período, já retornaram ao estado pré-gravídico. Entretanto, pelo fato de nem todos os sistemas maternos retornarem à condição primitiva até o término da sexta semana, alguns estudos postergam o final do puerpério para até 12 meses após o parto. CLASSIFICAÇÃO Admitindo como tempo de duração normal do puerpério o período de 6 a 8 semanas, este pode ser dividido nos seguintes períodos: ➡ Puerpério imediato: até o término da segunda hora após o parto. ➡ Puerpério mediato: do início da terceira hora até o final do décimo dia após o parto. ➡ Puerpério tardio: do início do 11o dia até o retorno das menstruações, ou 6 a 8 semanas nas lactantes. MODIFICAÇÕES ANATÔMICAS E FISIOLÓGICAS ➡ Involução uterina ➡ Vagina e vulva ➡ Tremores ➡ Parede abdominal ➡ Alterações sanguíneas e plasmáticas Página 59 Puerperio Fisiologico GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS ➡ Sistema endócrino ➡ Perda ponderal ➡ Alterações dermatológicas ➡ Sistema urinário INVOLUÇÃO UTERINA Imediatamente após a dequitação, o útero inicia o pro-cesso de involução. Pelo fato de o útero contraído comprimir os vasos sanguíneos, o útero puerperal tem aparência isquêmica, se comparado ao útero hiperemiado da gestante. A contração uterina também é res-ponsável pela constrição dos vasos intramiometriais, reduzindo o fluxo sanguíneo e prevenindo a hemorragia pós-parto. Além disso, vasos calibrosos obliteram-se (trombose), constituindo um mecanismo hemostático secundário para a prevenção da perda sanguínea. O fundo uterino tipicamente atinge a cicatriz umbilical 24 horas após o parto, alcançando a região entre a sínfise púbica e a cicatriz umbilical depois de 1 semana. VAGINA E VULVA A vagina encontra-se alargada e lisa imediatamente após o parto. A redução de suas dimensões é gradual e raramente elas se igualam ao período pré-gravídico. Página 60 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS TREMORES Tremores pós-parto são observados em 25 a 50% das pacientes após parto vaginal.Iniciam-se entre 1 e 30 minutos após a dequitação e têm duração de 2 a 60 minutos. Sua patogênese ainda não está esclarecida. ALTERAÇÕES SANGUÍNEAS E PLASMÁTICAS Durante a gestação, verifica-se aumento médio de 30% da massa eritrocitária em comparação com o período ante-natal. Após o parto, perde-se em média 14% da série vermelha. SISTEMA ENDÓCRINO Após a dequitação, observa-se que o desaparecimento da fração beta da gonadotrofina coriônica humana (beta-hCG). Os valores de hCG tipicamente retornam ao normal em 2 a 4 semanas após o parto, podendo levar um tempo maior. PERDA PONDERAL Aproximadamente metade do ganho ponderal adquirido durante a gravidez é perdida nas primeiras 6 semanas após o parto. A perda imediata de 4,5 a 6 kg é atribuída ao feto, placenta, líquido amniótico e perda sanguínea. ALTERAÇÕES DERMATOLÓGICAS Pode haver aparecimento de estrias, variando sua cor de vermelha a prateada. O cloasma habitualmente desaparece no puerpério. Página 61 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS SISTEMA URINÁRIO No puerpério imediato, a mucosa vesical encontra-se edemaciada em consequência do trabalho de parto e do parto em si. O fundo uterino contraído comprime os ureteres junto à sua porção de entrada na pequena pelve. A bexiga apresenta, além disso, maior capacidade, havendo frequentemente distensão excessiva e esvaziamento incompleto, demonstrado pela presença de urina residual após a micção. Por outro lado, também pode ocorrer incontinência urinária no período pós-parto. PUERPÉRIO PATOLÓGICO No puerpério patológico podem ocorrer: ➡ Infecção puerperal; ➡ Mastite puerperal; ➡ Complicações urinária; ➡ Psicose puerperal; ➡ Acidentes tromboembólicos; ➡ Supressão de lactação ➡ Hemorragias; ➡ Alterações da involução uterina; ➡ Complicações vasculares - hemorroidal e flebite. PERIODO PERINATAL O período perinatal começa em 22 semanas completas (154 dias) de gestação (época em que o peso de nascimento é normalmente de 500 g), e termina com sete dias completos após o nascimento. Taxa de Mortalidade Perinatal: Número de óbitos fetais a partir de 22 semanas completas de gestação (154 dias) acrescido dos óbitos Página 62 Puerperio Patologico GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS ocorridos até o 7º dia completo de vida, por mil nascimentos totais (óbitos fetais mais nascidos vivos), em determinado período, no espaço geográfico considerado. ◦ Essa taxa indica: ➡ a probabilidade de um feto nascer sem qualquer sinal de vida ou, nascendo vivo, morrer na primeira semana. ➡ A taxa é influenciada por numerosos fatores, sendo de especial interesse os vinculados à gestação e ao parto, entre eles o peso ao nascer e a qualidade da assistência prestada à gestante, à parturiente e ao recém-nascido. ➡ Taxas elevadas estão geralmente associadas a condições insatisfatórias de assistência pré-natal, ao parto e ao recém- nascido. PRINCIPAIS CAUSAS DE MORTALIDADE PERINATAL: As principais causas da mortalidade perinatal estão associadas à prematuridade, à asfixia, às infecções intra-uterinas, à toxemia gravídica e às malformações múltiplas. NEAR MISS As mulheres que sobrevivem a complicações graves da gravidez, parto e pós-parto têm muitos aspectos em comum com aquelas que morrem destas mesmas complicações. Essa semelhança levou ao desenvolvimento do conceito de near miss materno, cuja definição foi estabelecida pela OMS como: “uma mulher que quase morreu, mas sobreviveu à complicação que ocorreu durante a gravidez, parto ou até 42 dias após o fim da gestação”. Os casos de near miss materno são mais frequentes que a morte materna, permitindo análises mais robustas acerca dos problemas e obstáculos da assistência prestada à mulher durante o ciclo gravídico- puerperal. Dessa forma, a identificação dos casos de near miss materno emerge como uma promissora estratégia alternativa e complementar para redução das mortes. http://www2.datasus.gov.br/cid10/V2008/WebHelp/definicoes.htm Página 63 http://www2.datasus.gov.br/cid10/V2008/WebHelp/definicoes.htm GRAVIDEZ DE ALTO RISCO - SP5 CAMILA JOINHAS QUEREMOS http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/idb2000/fqc05.htm https://www.scielo.br/j/ramb/a/fGPDbchWqpMfByv5grfMVcm/? lang=pt https://www.scielo.br/j/csp/a/w9xDWCgRSvgRn5NZmP4LckK/? lang=pt 6.Estudar sobre exames de imagem sobre sofrimento fetal inclusive o MINTI EXAMES DE IMAGEM PARA AVALIAÇÃO DE SOFRIMENTO FETAL A avaliação fetal no período anteparto se tornou possível, principalmente, com o advento da ultrassonografia em tempo real. Apesar da monitoração eletrônica da frequência cardíaca fetal (FCF), por meio da cardiotocografia, ter sido um dos métodos pioneiros, sua elevada taxa de falso-positivo fez com que outros métodos fossem aprimorados para a avaliação do bem-estar fetal. Nesse sentido, o perfil biofísico fetal (PBF), foi o método que possibilitou a avaliação mais completa do bem-estar fetal. O PBF é o método propedêutico de avaliação do bem-estar fetal utilizado no manejo de gestações de alto risco, nas quais existe risco de sofrimento fetal. É um método não invasivo, de fácil realização e permite avaliar sinais de comprometimento fetal. A identificação precoce da asfixia fetal permite que sejam realizadas intervenções oportunas para a prevenção de resultados adversos perinatais. BASES FISIOLÓGICAS Todas as atividades biofísicas fetais são reguladas e controladas por centros localizados no sistema nervoso central, e são sensíveis a alterações locais e sistêmicas. A presença dessas atividades, dentro dos padrões da normalidade, denota integridade dos centros reguladores, enquanto a perda de atividade biofísica normal pode significar o comprometimento fetal por hipoxemia ou hipóxia. É importante
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