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Síndrom� Ictéric� DEFINIÇÃO: É um sinal clínico que se refere à coloração amarelada/alaranjada da pele e mucosas, bem como de outros tecidos, causadas pelo acúmulo anormal de pigmento biliar, chamada de bilirrubina. Cerca de 20% dos neonatos de termo têm icterícia na primeira semana de vida. METABOLISMO DA BILIRRUBINA: A bilirrubina é o produto de degradação da proteína heme - envolvidas no transporte ou metabolismo do oxigênio. Os adultos normais produzem cerca de 4 mg de bilirrubina por quilograma de peso do corpo por dia. Entre 70 a 90% da bilirrubina são derivados da hemoglobina dos eritrócitos, que são sequestrados e degradados pelas células fagocíticas mononucleares do sistema reticuloendotelial, principalmente no baço, fígado e medula óssea. O heme é convertido em biliverdina, pigmento esverdeado hidrossolúvel não tóxico. Depois, é reduzida a bilirrubina não conjugada - insolúvel e, por isso, é transportada para o fígado através da ligação forte, mas reversível, à albumina. No fígado, ocorre o aporte da bilirrubina não conjugada por um processo de difusão facilitada, depois é conjugada em uma bilirrubina solúvel - aumentando assim a sua eliminação do corpo e reduzindo a sua capacidade de se difundir através das membranas biológicas, incluindo a barreira hematoencefálica. Depois, são transferidas para os canalículos biliares por meio de transporte ativo (bile) e parte é transportada ao plasma, onde acaba sendo excretada por via renal Após a secreção canalicular da bile, a bilirrubina conjugada passa para o trato gastrointestinal sem reabsorção pela vesícula ou pela mucosa intestinal e parte vai para as fezes (são a coloração as fezes), outra parte (20%) é convertida em urobilinogênio por ação das bactérias no íleo e no cólon, onde o urobilinogênio é reabsorvido → regressa ao fígado pela circulação portal e é reexcretado na bile - processo de recirculação êntero-hepática ou chega a circulação sistêmica e é eliminado pelos rins (menor parte) - a excreção urinária normal é de 4 mg/dia ou menos Cerca de 95% da bilirrubina plasmática encontra-se na forma não conjugada, ligada à albumina, não sendo filtrada pelos rins AUMENTO DA CARGA DE BILIRRUBINA DIRETA: ● Doenças Relacionadas ao Fígado e à excreção da bile: Lesão hepatocelular direta (hepatites virais, hepatite alcoólica), doenças genéticas (Síndrome de Rotor e de Dublin-Johnson) pode ocasionar deficiência no mecanismo de excreção da bilirrubina conjugada para os canalículos biliares - transporte ativo (dependente de energia) → pode ocasionar hiperbilirrubinemia conjugada ou mista ● Obstrução das Vias Biliares: Doenças que obstruem o sistema biliar fazem a bile se acumular e, por consequência do transporte reverso, acumula-se no plasma. Nesses casos, é comum o paciente apresentar colúria (excreção aumentada de bilirrubina por via renal) e acolia fecal (fezes sem pigmento) ● Hemólise: Aumenta a carga de bilirrubina que entra no intestino e, assim, aumenta a quantidade de urobilinogênio formado e reabsorvido → os níveis plasmáticos de urobilinogênio aumentam e mais urobilinogênio é excretado na urina DIMINUIÇÃO DA CARGA DE BILIRRUBINA DIRETA: Antibióticos que reduzem a conversão bacteriana de bilirrubina a urobilinogênio → diminuem acentuadamente a formação e excreção urinária de urobilinogênio AUMENTO DA CARGA DE BILIRRUBINA INDIRETA: ● Aumento da degradação do substrato heme: (malária, por ex.) quando há hemólise (não ultrapassa 3-4 mg/dL), degradação anormal das hemácias e reabsorção de grandes hematomas, faz com que a produção de bilirrubina indireta seja superior a taxa de conjugação, gerando acúmulo de bilirrubina não conjugada. ● Redução da captação e deficiência enzimática: Algumas drogas podem inibir a proteína transportadora e, assim, afetar a captação da bilirrubina não conjugada pelos hepatócitos. Há também situações que diminuem o fluxo de sangue hepático (ICC, por ex.), podendo aumentar a bilirrubina não conjugada. O processo de glucoronização é fundamental para o sucesso na excreção da bilirrubina pela bile ou urina → a deficiência da proteína UGT1A1 (bilirrubina UDP glucoroniltransferase) gera problemas na conjugação da bilirrubina - doença de Gilbert e síndrome de Crigler-Najjar 1 e 2 são exemplos de doenças genéticas relacionadas à redução da atividade da UGT1A1 ● Em recém-nascidos: vários mecanismos levam a um aumento de bilirrubina não conjugada e é fundamental avaliar a icterícia no neonato para que seja feito a fototerapia, já que, quando as taxas de bilirrubina não conjugada estão muito elevadas, há risco de desenvolver disfunção neurológica relacionada a passagem de bilirrubina através da barreira hematoencefálica CONCENTRAÇÃO SÉRICA DE BILIRRUBINA: Em crianças e adultos o normal fica abaixo de 1 mg/dL Acima de 2 ou 3 mg/dL pode ser detectado a icterícia clínica O grau de icterícia pode ser classificado qualitativamente com base na escala de uma a quatro cruzes em que, + significa leve alteração da coloração normal, enquanto ++++ indica coloração intensa ANAMNESE: História clínica detalhada e exame clínico para a formulação de hipóteses diagnósticas a fim de nortear a solicitação de exames adequada Casos que necessitem de intervenção urgente são incomuns, mas é de extrema importância serem identificados - Aspectos da identificação auxiliam na construção da epidemiologia desse paciente ∟ Procedência ajudam a inferir a possibilidade de doenças infecciosas e endêmicas, como a malária ∟ Profissão ajudam a pensar em diversas exposições a toxinas ambientais, exposição a material biológico contaminado e nas condições de saneamento, como hepatites A, B e C (B e C não desenvolve icterícia, a menos que haja cirrose) ∟ Faixa etária - algumas doenças passam a ser mais prevalentes que outras, como neoplasias em idosos - Medicamentos recentemente utilizados e os de uso contínuo: ∟ Intoxicação aguda por paracetamol, caracterizada por uso acima do recomendado, pode gerar necrose hepatocelular, com consequente icterícia após alguns dias da exposição ∟ Outros fármacos frequentemente associados: Isoniazida (antituberculoso), a metildopa (anti-hipertensivo) e o cetonazol (antifúngico) - Ingesta de álcool → quantificação, frequência, carga prévia e grau de dependência - é importante tanto pelo risco de cirrose alcoólica, susceptibilidade aumentada de intoxicação por outras drogas hepatotóxicas como para avaliar hepatite alcoólica - Também é importante perguntas sobre o padrão alimentar (betacarotenos), vacinação, uso de drogas injetáveis, vida sexual, transfusões sanguíneas, etilismo, cirurgias prévias, anemia, etc. Descrever a queixa de icterícia na Anamnese: Caracterizar a icterícia, com: Início de aparecimento; Localização; Persistente ou Intermitente; Fatores de melhora ou piora; Sinais e sintomas associados (febre, calafrios, colúria, acolia, dor abdominal) EXAME FÍSICO: Tanto a bilirrubina conjugada quanto a não conjugada podem se depositar em todos os tecidos, principalmente no conjuntivo. Por sua afinidade com a albumina, acumula-se onde há maior quantidade dessa proteína. O exame deve ser realizado de preferência sob iluminação natural. Habitualmente, pesquisa-se icterícia nas escleras (por ter cor de base branca, torna-se o lugar onde mais facilmente se consegue observar a icterícia) e na mucosa oral (frênulo lingual e palato duro), mas também pode ser notada nos lábios, regiões ungueais, pele e mãos. Em pacientes afrodescendentes, o fotoescurecimento da esclera pode muitas vezes ser confundido com sinal de icterícia, por isso se deve avaliar a região da esclera sob a pálpebra inferior, onde não há exposição à luz solar. - Exame físico completo do abdome, com hepatimetria e percussão do espaço de traube, palpação do fígado e baço - Ascite e hepatomegalia dolorosa de início muito rápido devem conduzir à possibilidade de trombose da veia hepática ou de síndrome de obstrução sinusoidal - Anemias associadas a icterícia leve, com história de hemoglobinopatias ou suspeita de anemias hemolíticas devem ser investigadosBETACAROTENO: Indivíduos com alta ingestão de alimentos contendo betacaroteno (cenoura, beterraba) podem apresentar tonalidade ligeiramente amarelo-alaranjada e ser confundidos com pacientes ictéricos. Apesar do betacaroteno alterar a cor da pele, particularmente das mãos, não provoca alterações nas escleras ou na mucosa oral SÍNDROMES ICTÉRICAS: - Anemias Hemolíticas Talassemia Anemia Falciforme Medicamentos: antimaláricos, rifampicina; cetoconazol Deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD) - Lesão Hepatocelular ou Colestática Hepatites: Viral, alcoólica, autoimune Febre amarela Medicamentos: paracetamol Leptospirose Coledocolitíase Tumores de vias biliares EXAMES COMPLEMENTARES: Hemograma completo; Dosagem de bilirrubina total e frações; Sorologia para hepatites A e B; etc; Referências bibliográficas: Semiologia clínica / editores Mílton de Arruda Martins ... [et al.]. - 1. ed GOLDMAN, Lee et al. Goldman-Cecil Medicina ; 25 edição
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