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PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO CIVIL – TEORIA GERAL DOS CONTRATOS Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 1 TEORIA GERAL DOS CONTRATOS Conceito: contrato é um acordo de vontades, de natureza patrimonial. É um negócio jurídico e como tal, segundo o disposto no artigo 107 do Código Civil, não exige formal especial, a não ser quando a lei exigir. Art. 107. A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir. Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País. Faz parte da nossa sociedade celebrar contratos, de modo a permitir a consecução de objetivos comuns, por meio de acordo de vontades. O acordo é um acordo de vontades, sempre de natureza patrimonial. Qual é a natureza jurídica do contrato? Ele é um negócio jurídico. Qual é mesmo a diferença entre ato jurídico e negócio jurídico? A diferença na possibilidade de escolha dos efeitos que serão produzidos. Ato jurídico lato sensu (em sentido amplo) – é a ideia de conduta humana que gera efeitos jurídicos, externando uma vontade.... É o gênero do qual são espécies o ato jurídico strictu sensu e o negócio jurídico. Ato jurídico stricto sensu (em sentido estrito) – é uma espécie de ato jurídico lato sensu, assim como o negócio jurídico, mas seus efeitos não dependem da minha vontade, uma http://www.proordem.com.br/ http://goiania.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO CIVIL – TEORIA GERAL DOS CONTRATOS Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 2 vez que estão previamente previstos em lei. Ex: se eu adoto uma criança, eu não posso escolher os efeitos que advirão dessa minha conduta. Essa criança será meu filho (já que não há distinção entre parentesco civil e parentesco natural). Negócio jurídico – as partes escolhem os efeitos que decorrerão de sua manifestação de vontade. É um acordo de vontades. EXCEÇÃO: o testamento é um exemplo de negócio jurídico unilateral. Pergunta: o casamento é um negócio jurídico ou um ato jurídico? É tema de divergência doutrinária. Há os que afirmam que é negócio jurídico porque podemos escolher os efeitos decorrentes do ato, como, por exemplo, o regime de bens. O entendimento mais atualizado, todavia, não é esse. Para a maioria da doutrina, o casamento é um ato jurídico strictu sensu, uma vez que, embora se possa escolher certos efeitos, há diversos outros que estão previamente estabelecidos em lei e que não podem ser alterados pela vontade das partes. Um exemplo são os deveres conjugais: Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges: I - fidelidade recíproca; II - vida em comum, no domicílio conjugal; III - mútua assistência; IV - sustento, guarda e educação dos filhos; V - respeito e consideração mútuos. Além disso, o casamento marca o início do parentesco por afinidade. Emancipa se um dos cônjuges é menor de 18 anos. Art. 5 – parágrafo único - Cessará, para os menores, a incapacidade: I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de http://www.proordem.com.br/ http://goiania.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO CIVIL – TEORIA GERAL DOS CONTRATOS Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 3 homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos; II - pelo casamento; III - pelo exercício de emprego público efetivo; IV - pela colação de grau em curso de ensino superior; V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria. Embora tenha conteúdo contratual, já que há proposta e aceitação, o casamento não é um negócio jurídico, mas um ato jurídico strictu sensu. Voltemos ao conceito de contrato: é um negócio jurídico bilateral, de conteúdo patrimonial. O contrato pode ser unilateral, bilateral, ou plurilateral. Quando eu falo em contrato em contrato bilateral, eu falo em duas manifestações de vontade e em duas prestações. No contrato de compra e venda, por exemplo, o comprador tem a obrigação de pagar o preço e o vendedor a obrigação de entregar a coisa. Quando eu falo em contrato unilateral, não significa que haja apenas uma vontade. Haverá duas manifestações de vontade, mas apenas uma prestação. Ex: doação. O doador entrega o bem e o donatário recebe. Você conhece um sinônimo de contrato bilateral? É o chamado contrato sinalagmático. Em termos práticos, não há diferença. Mas, em termos técnicos, há diferença... todo contrato bilateral é sinalagmático. O que é contrato sinalagmático é o que tem sinalagma (causalidade das prestações). A prestação de uma das partes é causa da prestação de outra parte. Ex: compra e venda (o comprador só paga porque o vendedor entrega a coisa e o vendedor só entrega a coisa porque o comprador paga o preço). http://www.proordem.com.br/ http://goiania.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO CIVIL – TEORIA GERAL DOS CONTRATOS Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 4 1ª Máxima contratual: todo contrato bilateral é sinalagmático. Pergunta: contrato de doação com encargo (ou modus) é um contrato unilateral, ou bilateral? Ele é bilateral (porque tem obrigações para as duas partes)? Não. Esse contrato tem obrigação para ambas as partes, mas ele não é sinalagmático. Ex: eu te dou minha casa, mas quero que você construa no quintal um espaço reservado a crianças carentes. A causa para a donatária cumprir o encargo é o fato de eu ter doado a minha casa pra ela. Para o doador, todavia, a doação é mera liberalidade, ou seja, eu não estou doando minha casa pra ela porque eu quero que ela construa o espaço para crianças carentes. Estou doando, porque eu quero. Trata-se de uma liberalidade. Art. 538. Considera-se doação o contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra. A doação com encargo não tem sinalagma. Se todo contrato bilateral é sinalagmático, ele só pode ser unilateral. Ele é denominado pela doutrina de contrato unilateral imperfeito (há prestação para ambas as partes, mas uma prestação não é causa da outra...). Há autores que o denominam de bilateral imperfeito.... Quais são os efeitos de se diferenciar se o contrato é unilateral ou bilateral. EX: Carla e José celebraram um contrato de compra e venda. Se José não cumpre a prestação dele, ou seja, não pagou o preço, Carla também não cumprirá a dela, ou seja, não entregará a coisa. Para total surpresa de Carla, José entra com ação judicial, pedindo a entrega da coisa. O que ela pode alegar em defesa? http://www.proordem.com.br/ http://goiania.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO CIVIL – TEORIA GERAL DOS CONTRATOS Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 5 Você é o advogado... e aí? Alegue que o contrato é bilateral e, portanto, sinalagmático. A prestação de uma parte é causa da condição da outra parte. Se José não cumpriu a parte dele, eu nãoposso exigir que Carla cumpra a dela. Trata-se da exceção do contrato não cumprido (exceptio non adimpleti contractus). Em que contrato cabe alegação de contrato não cumprido? Nos contratos bilaterais, porque eles são sinalagmáticos, ou seja, a prestação de uma das partes é condição da prestação da outra. Art. 476. Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro. Art. 477. Se, depois de concluído o contrato, sobrevier a uma das partes contratantes diminuição em seu patrimônio capaz de comprometer ou tornar duvidosa a prestação pela qual se obrigou, pode a outra recusar-se à prestação que lhe incumbe, até que aquela satisfaça a que lhe compete ou dê garantia bastante de satisfazê-la. Logo, a primeira grande diferença entre contrato unilateral e contrato bilateral é que, neste, você pode alegar a exceção do contrato não cumprido. O contrato bilateral tem uma cláusula resolutória tácita, implícita. No exemplo do José e da Carla, por exemplo, um não precisa esperar o outro cobrar pra ele poder se defender e dizer que não vai cumprir. Diante do inadimplemento, pode-se pedir a resolução do contrato (término do contrato por fato superveniente – inadimplemento). Esta é a segunda diferença. A terceira diferença é a equivalência econômica – como uma prestação é causa da prestação do outro, deve existir um mínimo de equivalência econômica entre elas. Se eu http://www.proordem.com.br/ http://goiania.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO CIVIL – TEORIA GERAL DOS CONTRATOS Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 6 compro um apartamento avaliado em 200 mil reais por 150, 180, 200, 230, 250, tudo bem, afinal, é normal ser um pouco acima ou abaixo do valor de mercado. Se eu, todavia, compro um apartamento de 200 mil reais por 3 mil reais, isso não é mais compra e venda. Trata-se de simulação de doação. Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma. § 1º Haverá simulação nos negócios jurídicos quando: I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem; II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira; III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados. § 2º Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado. No contrato bilateral, eu posso pedir a resolução do contrato em razão do inadimplemento da outra parte. Num contrato social (contrato plurilateral), eu posso pedir o fim do contrato social porque o meu sócio não cumpriu a parte dele, ou seja, não integralizou as quotas que havia subscrito? Claro que não. Ele é sócio remisso (sócio que não integraliza o capital social por ele subscrito). Ele será cobrado pela sociedade, podendo, inclusive, ser excluído da sociedade. Passemos à segunda classificação... os contratos podem ser onerosos (traz vantagens para ambos os contratantes) ou gratuitos (oneram apenas uma das partes, proporcionando vantagem à outra, sem qualquer contraprestação. A primeira diferença está na hermenêutica contratual. Vejamos o artigo 112: http://www.proordem.com.br/ http://goiania.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO CIVIL – TEORIA GERAL DOS CONTRATOS Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 7 Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem. Nos contratos onerosos, interprete nos termos do artigo 112. Mas nos contratos gratuitos, interprete de forma mais restrita, de acordo com a literalidade. Quando o negócio é gratuito, a interpretação deve ser restrita. Quando ele for oneroso, deve ser interpretado nos termos do art. 112, buscando a real intenção dos contratantes, ou seja, a finalidade teleológica do contrato. Irresponsabilidade pela evicção e vício redibitório. O alienante, quando aliena um bem, implicitamente, responde por evicção e vicio redibitório. Isso só acontece nos contratos onerosos. Nos gratuitos, não. Art. 552. O doador não é obrigado a pagar juros moratórios, nem é sujeito às conseqüências da evicção ou do vício redibitório. Nas doações para casamento com certa e determinada pessoa, o doador ficará sujeito à evicção, salvo convenção em contrário. Contrato comutativo x aleatório Comutativo é o contrato em que as partes conseguem antever os efeitos que serão produzidos por aquele contrato. No aleatório (vem de alea, que significa risco, sorte), as partes não conseguem antever os efeitos que serão produzidos, porque é um contrato de risco. O contrato de seguro é um contrato aleatório (embora haja divergência doutrinária) O contrato comutativo não tem risco intrínseco, sendo, portanto, seguro. Ex: compra e venda. Não há risco. Se houver inadimplemento, você pode cobrar judicialmente. http://www.proordem.com.br/ http://goiania.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO CIVIL – TEORIA GERAL DOS CONTRATOS Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 8 Efeito dessa classificação: irresponsabilidade por evicção e vício redibitório nos contratos aleatórios. Nos contratos aleatórios, você assume o risco, ou seja, para que o alienante responda por vício redibitório e pela evicção, o contrato deve ser oneroso e comutativo. Os contratos aleatórios podem ser naturalmente aleatórios ou atipicamente aleatórios. Os naturalmente são os que assim são por sua própria natureza. Ex: jogo, aposta. Já os acidentalmente são aqueles que, em regra, são comutativos, mas que, em razão de uma circunstância excepcional, se tornam aleatórios. Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado. Art. 458. Se o contrato for aleatório, por dizer respeito a coisas ou fatos futuros, cujo risco de não virem a existir um dos contratantes assuma, terá o outro direito de receber integralmente o que lhe foi prometido, desde que de sua parte não tenha havido dolo ou culpa, ainda que nada do avençado venha a existir. Art. 459. Se for aleatório, por serem objeto dele coisas futuras, tomando o adquirente a si o risco de virem a existir em qualquer quantidade, terá também direito o alienante a todo o preço, desde que de sua parte não tiver concorrido culpa, ainda que a coisa venha a existir em quantidade inferior à esperada. Parágrafo único. Mas, se da coisa nada vier a existir, alienação não haverá, e o alienante restituirá o preço recebido. Art. 460. Se for aleatório o contrato, por se referir a coisas existentes, mas expostas a risco, assumido pelo adquirente, terá igualmente direito o alienante a todo o http://www.proordem.com.br/ http://goiania.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO CIVIL – TEORIA GERAL DOS CONTRATOS Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 9 preço, posto que a coisa já não existisse, em parte, ou de todo, no dia do contrato. Art. 461. A alienação aleatória a que se refere o artigo antecedente poderá ser anulada como dolosa pelo prejudicado, se provar que o outro contratante não ignorava a consumação do risco, a queno contrato se considerava exposta a coisa. O artigo 95 estabelece que os frutos e produtos podem ser objeto de negócio jurídico, ainda que não tenham sido separados do bem principal. São os chamados bem móveis por antecipação Art. 95. Apesar de ainda não separados do bem principal, os frutos e produtos podem ser objeto de negócio jurídico. O adquirente pode assumir o risco na existência ou na quantidade. Se ele assumir o risco na existência (emptio spei – venda de esperança), mesmo que não venha nenhuma laranja, o negócio estará consumado e o alienante ficará com o preço pago. Ele só poderá deixar de pagar se provar que o adquirente agiu com dolo ou culpa. Se o adquirente, todavia, assumir o risco apenas na quantidade (emptio rei speratae – venda de coisa esperada), ele pagará se vier em quantidade menor que a esperada, mas ficará dispensado de pagar se não viver nada. Consensual x real Contrato consensual é o formado pelo acordo de vontade das partes. É a regra. Contrato real é o que se forma com a tradição, com a entrega do bem. Há apenas 3 contratos reais: mútuo (art. 587), comodato (art. 579) e depósito (art. 627 e ss). Há divergência sobre o contrato estimatório (venda em consignação). http://www.proordem.com.br/ http://goiania.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO CIVIL – TEORIA GERAL DOS CONTRATOS Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 10 Art. 579. O comodato é o empréstimo gratuito de coisas não fungíveis. Perfaz-se com a tradição do objeto. Art. 586. O mútuo é o empréstimo de coisas fungíveis. O mutuário é obrigado a restituir ao mutuante o que dele recebeu em coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade. Art. 627. Pelo contrato de depósito recebe o depositário um objeto móvel, para guardar, até que o depositante o reclame. Art. 628. O contrato de depósito é gratuito, exceto se houver convenção em contrário, se resultante de atividade negocial ou se o depositário o praticar por profissão. Bem fungível é aquele que pode ser substituído por outro de mesmo gênero, quantidade e qualidade. Diferença: No contrato de mútuo, eu transfiro a propriedade do bem. No contrato de comodato, há transferência de posse, não de propriedade. O mesmo bem deve ser devolvido. Um contrato de comodato pode ser de um bem fungível, mas que se tornou infungível por vontade das partes. Ex: bem fungível com extremo valor sentimental (carro dado por seu pai, antes de falecer) – commmodatum pompae vel ostentationis. O contrato de mútuo é real, ou seja, o empréstimo bancário não está formalizado quando você assina o documento com o gerente, mas quando o dinheiro efetivamente cai na sua conta. Contrato real (direito obrigacional é o direito pessoal, de natureza patrimonial. Eu estou vinculado a uma pessoa.) X direito real (me vincula a um bem, a uma coisa – art. 1225). Os direitos reais são oponíveis erga omnes, ao passo que, na seara contratual a regra é o http://www.proordem.com.br/ http://goiania.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO CIVIL – TEORIA GERAL DOS CONTRATOS Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 11 princípio da relatividade, segundo o qual o contrato, em regra, gera efeitos entre as partes, não atingindo terceiros. Propriedade é um direito real, que nasce da formalização de um contrato de compra e venda. Ex: hipoteca (dar em garantia bem imóvel) e penhor (dá em garantia bem móvel). Na hipoteca, o imóvel permanece comigo, mesmo tendo ele sido dado em garantia. No penhor, o bem móvel fica com a CEF. Eu posso vender um bem hipotecado? Claro que pode. Aliás, a lei até prevê a nulidade da cláusula que proíba a venda de bem hipotecado (art. 1475). Se eu não pagar, todavia, o Banco vai tomar a casa, porque ele tem um direito real de hipoteca, que é oponível erga omnes. Então, o Banco pode retomar a casa, se eu não pagar, inclusive do terceiro que comprou o bem hipotecado. Efeito: o contrato real é unilateral. Um contrato de mútuo é unilateral ou bilateral? Eu vou ao banco e peço um empréstimo. Parece que é bilateral, porque o banco deposita o dinheiro na minha conta e eu tenho a obrigação de pagar as prestações.... Certo? Não...CUIDADO!!! Como o mútuo é um contrato real, ou seja, que se formaliza com a tradição, o ato de banco de depositar o dinheiro na minha conta não é uma consequência do contrato, mas um elemento constitutivo do contrato. Quando ele deposita, o contrato está pronto. Logo, só quem tem obrigação sou eu, que tenho que pagar as prestações; o Banco, não. Portanto, é um contrato unilateral. Lembra que todo contrato bilateral é oneroso e, ainda, que o unilateral é presumidamente gratuito (ex: doação)? Há EXCEÇÕES, ou seja, situações em que o contrato, embora unilateral, é oneroso: Mútuo feneratício (contrato de empréstimo a juros.) http://www.proordem.com.br/ http://goiania.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO CIVIL – TEORIA GERAL DOS CONTRATOS Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 12 O mútuo feneratício é unilateral (porque só tem prestação pra quem tem que pagar as prestações) e oneroso (os dois perdem e os dois ganham – o mutuário perde, porque pagou juros, e ganhou, porque ficou com o dinheiro por um tempo; já o mutuante, ganhou os juros, mas perdeu a disponibilidade temporária do bem). PRINCÍPIOS CONTRATUAIS Contrato é, antes de qualquer coisa, um acordo de vontades. Mas será que essa vontade, de fato, é refletida no contrato? A ausência dessa voluntariedade é o que caracteriza a crise dos contratos. Como o serviço é essencial, ou eu contrato feliz, ou eu contrato infeliz. Não há opção. Na verdade, essa crise não é tão grande quanto parece, porque os contratos de adesão são bem controlados. No que se refere aos serviços públicos, há as agências reguladoras, que fiscalizam isso e colocam limitações. 1) Princípio da voluntariedade (autonomia da vontade) A vontade é de extrema importância nos contratos, tanto que é o elemento diferenciador do negócio jurídico e dos fatos jurídicos strictu sensu e dos atos jurídicos strictu sensu. A declaração de vontade é o elemento central e mais característico do negócio jurídico. Essa autonomia de vontade, todavia, não é absoluta, encontrando limitações em normas de ordem pública. Há o dirigismo legal (quando o contrato tem limitações decorrentes da própria lei, como, por exemplo, o locador, que fica adstrito aos termos da lei de locação – lei 8.245/91, a impossibilidade de compra e venda de bens confiados à administração – art. 497, nulidade das cláusulas abusivas prevista no art. 39 do CDC; venda de ascendente para descendente é anulável, caso não haja autorização dos demais descendentes e do cônjuge do alienante (496 do CC.) http://www.proordem.com.br/ http://goiania.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO CIVIL – TEORIA GERAL DOS CONTRATOS Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 13 O dirigismo judicial (o qual é exercido pelo juiz, através das cláusulas gerais (conceitos jurídicos indeterminados). O Ministro Gilmar Mendes, no RE 201.819/RJ, asseverou expressamente que as cláusulas gerais são a porta de entrada dos valores constitucionais nas relações privadas (eficácia horizontal dos direitos fundamentais). Esse entendimento é brilhante, pois o preenchimento dos conceitos legais indeterminados que constam da atual codificação privada (função socialdos contratos e boa-fé objetiva) deve-se se dar a partir de valores constitucionais, como a dignidade da pessoa humana, solidariedade social e da igualdade substancial. Em razão dessas limitações, não se fala mais em autonomia da vontade, como no CC de 1916, mas em autonomia privada, a qual deve se pautar pela função social dos contratos. A função social dos contratos não elimina totalmente a autonomia privada ou a liberdade contratual, mas apenas reduz ou atenua o alcance desse princípio. Esse entendimento foi previsto no Enunciado n.º 23 do CJF/STJ, na I Jornada de Direito Civil: 23 - Art. 421: a função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, não elimina o princípio da autonomia contratual, mas atenua ou reduz o alcance desse princípio quando presentes interesses metaindividuais ou interesse individual relativo à dignidade da pessoa humana. A interação entre os direitos patrimoniais e os direitos de personalidade é inegável.... Nesse contexto, fala-se em estatuto jurídico do patrimônio mínimo (Luiz Edson Fachin) – piso mínimo de direitos patrimoniais. O contrato, portanto, não é mais formado pela mera vontade dos contratantes, mas por uma soma de fatores. O problema, hoje, está na denominada “crise dos contratos”. Hoje em dia, raramente se encontra contratos paritários (que são aqueles que em que se senta com o outro contratante e se discute cláusula por cláusula). Hoje, prevalecem os http://www.proordem.com.br/ http://goiania.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO CIVIL – TEORIA GERAL DOS CONTRATOS Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 14 contratos de massa (contratos de adesão, também chamados de contratos standard – take it or leave it), sendo que muitos deles se referem a serviços públicos essenciais. CUIDADO! A premente necessidade ou eventual inexperiência poderá fazer com que um contrato desfavorável seja celebrado (onerosidade excessiva), o que leva à caracterização da lesão, possibilitando a anulação do negócio (art. 157), ou sua revisão (art. 157, § 2). Em suma, a autonomia privada consiste no direito indeclinável da parte de autorregulamentar os seus interesses, decorrente da dignidade da pessoa humana, mas que encontra limitações em normas de ordem pública. No contrato de adesão, eu perco a possibilidade de discutir cláusulas do contrato, mas eu não perco a prerrogativa de não querer celebrá-lo.... por isso que o contrato de adesão não perde a natureza de contrato. Não confundir contrato de adesão (contrato de franquia) com contrato de consumo (Ex: compra de um tapete, numa loja especializada, com ampla discussão de preço, prazo de entrega, forma de pagamento). 2) Princípio da função social dos contratos É uma limitação na hora de contratar, no momento da elaboração do contrato. O CC, no art. 421, previu tal princípio. Ele estabelece que o contrato não interessa somente aos contratantes, atingindo a sociedade como um todo. Miguel Reale, na exposição de motivos do anteprojeto do CC, asseverou que o objetivo do novo CC, ao prever expressamente o princípio da função social dos contratos, era tornar explícito que a liberdade de contratar só pode ser exercida em consonância com os fins sociais do contrato, implicando os valores sociais da boa-fé e da probidade. http://www.proordem.com.br/ http://goiania.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO CIVIL – TEORIA GERAL DOS CONTRATOS Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 15 A luz da constitucionalização do Direito Civil, pode-se afirmar que a real função do contrato é dar efetividade à segurança jurídica? Claro que não. A real função é atender aos interesses da pessoa humana. Art. 421. A liberdade contratual será exercida nos limites da função social do contrato. (Redação dada pela Lei nº 13.874, de 2019) Parágrafo único. Nas relações contratuais privadas, prevalecerão o princípio da intervenção mínima e a excepcionalidade da revisão contratual. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) Art. 421-A. Os contratos civis e empresariais presumem-se paritários e simétricos até a presença de elementos concretos que justifiquem o afastamento dessa presunção, ressalvados os regimes jurídicos previstos em leis especiais, garantido também que: (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) I - as partes negociantes poderão estabelecer parâmetros objetivos para a interpretação das cláusulas negociais e de seus pressupostos de revisão ou de resolução; (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) II - a alocação de riscos definida pelas partes deve ser respeitada e observada; e (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) III - a revisão contratual somente ocorrerá de maneira excepcional e limitada. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) A previsão da função social dos contratos no CC não se restringe ao art. 421, constando ainda do art. 2035, parágrafo único. “Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos”. Por meio desse princípio, o Estado-Juiz pode ordenar e reordenar esse contrato. É uma técnica de interpretação, podendo o juiz decidir inclusive pela resolução do contrato. http://www.proordem.com.br/ http://goiania.proordem.com.br/ http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13874.htm#art7 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13874.htm#art7 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13874.htm#art7 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13874.htm#art7 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13874.htm#art7 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13874.htm#art7 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13874.htm#art7 PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO CIVIL – TEORIA GERAL DOS CONTRATOS Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 16 O Centro de estudos da Justiça Federal organiza Jornadas de Direito Civil. É interpretação doutrinária importante. São os Enunciados do CJF; Veja o 21 e o 22: 21 - Art. 421: a função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, constitui cláusula geral a impor a revisão do princípio da relatividade dos efeitos do contrato em relação a terceiros, implicando a tutela externa do crédito. 22 - Art. 421: a função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, constitui cláusula geral que reforça o princípio de conservação do contrato, assegurando trocas úteis e justas. 5 23 - Art. 421: a função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, não elimina o princípio da autonomia contratual, mas atenua ou reduz o alcance desse princípio quando presentes interesses metaindividuais ou interesse individual relativo à dignidade da pessoa humana. Um exemplo prático de aplicação desse princípio é o disposto na Súmula 302 do STJ “É abusiva a cláusula contratual de plano de saúde que limita no tempo a internação hospitalar do segurado.” Em resumo, o contrato não pode mais ser concebido como uma bolha que envolve as partes, ou uma corrente que as aprisiona. Trazendo um sentido de libertação negocial, a função social dos contratos funciona como uma agulha, forte e contundente, que fura a bolha, como a chave que abre as correntes. A função social do contrato mitiga a força obrigatória do contrato e protege a parte vulnerável da relação contratual. Vejamos alguns dispositivos:Art. 6º São direitos básicos do consumidor: http://www.proordem.com.br/ http://goiania.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO CIVIL – TEORIA GERAL DOS CONTRATOS Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 17 V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas; Arts. 39 e 51 (práticas e cláusulas abusivas). O princípio pode ainda ser percebido pela interpretação contratual mais benéfica ao consumidor, conforme prevê o art. 47, bem como pela não vinculação de cláusulas incompreensíveis, ininteligíveis ou desconhecidas por parte do consumidor vulnerável (art. 46). NO CC: Art. 78 do CC (domicílio contratual) Art. 78. Nos contratos escritos, poderão os contratantes especificar domicílio onde se exercitem e cumpram os direitos e obrigações deles resultantes. CPC - Art. 63. As partes podem modificar a competência em razão do valor e do território, elegendo foro onde será proposta ação oriunda de direitos e obrigações. § 1º A eleição de foro só produz efeito quando constar de instrumento escrito e aludir expressamente a determinado negócio jurídico. § 2º O foro contratual obriga os herdeiros e sucessores das partes. § 3º Antes da citação, a cláusula de eleição de foro, se abusiva, pode ser reputada ineficaz de ofício pelo juiz, que determinará a remessa dos autos ao juízo do foro de domicílio do réu. § 4º Citado, incumbe ao réu alegar a abusividade da cláusula de eleição de foro na contestação, sob pena de preclusão. art. 108 (proteção aos vulneráveis – escritura obrigatória somente para imóveis acima de 30 salários mínimos), 157 (lesão), 187 (responsabilidade civil do que age com abuso de direito também na esfera contratual, 413 (redução do valor da cláusula penal pelo juiz) http://www.proordem.com.br/ http://goiania.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO CIVIL – TEORIA GERAL DOS CONTRATOS Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 18 Art. 413. A penalidade deve ser reduzida eqüitativamente pelo juiz se a obrigação principal tiver sido cumprida em parte, ou se o montante da penalidade for manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do negócio. Art. 423 e 424 Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente. (ex: se o contrato trouxer duas formas de pagamento, prevalecerá o que for mais interessante ao aderente). Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio. (pode existir cláusula que desfavoreça o aderente. O que não pode é “não nos responsabilizamos por objetos deixados no interior do veículo”. Quando eu deixo o meu carro no estabelecimento, eu formalizo um contrato de depósito, que tem como premissa a transferência da posse de um bem, cabendo ao depositário devolvê-lo ao depositante, assim como o pegou”. Logo, a responsabilidade faz parte do negócio, não podendo haver cláusula que a suprima. O fundamento para se cobrar uma indenização, em caso de eventual dano ao veículo, neste caso, é o 424. A lei não está ferindo a isonomia, privilegiando o aderente? Claro que não... o verdadeiro princípio da isonomia é o que determina que os iguais sejam tratados de forma igualitária, e os desiguais de forma desigualitária, na medida de sua desigualdade. É a denominada isonomia material, ou aristotélica (Ética a Nicômaco). O aderente é mais fraco que o proponente, porque este estabelece unilateralmente as cláusulas deste contrato. http://www.proordem.com.br/ http://goiania.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO CIVIL – TEORIA GERAL DOS CONTRATOS Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 19 Há uma relação direta entre a função social dos contratos e a proteção do aderente, para busca de uma isonomia material. Visando a um diálogo das fontes entre os sistemas civilista e consumerista, prevê o Enunciado 172 do CJF/STJ: “As cláusulas abusivas não ocorrem exclusivamente nas relações jurídicas de consumo. Dessa forma, é possível a identificação de cláusulas abusivas em contratos civis comuns, como, por exemplo, aquela estampada no art. 424 do CC de 2002). Art. 426 do CC – pacta corvina, vedação dos pactos sucessórios. (nulidade virtual – art. 166, VII, 2ª parte do CC). A lei estabeleceu sanção? Não... veja o art. 166. 3) Princípio da obrigatoriedade, ou força obrigatória dos contratos Você é livre para contratar, mas contratou, tem que cumprir. O contrato faz lei entre as partes. Trata-se do pacta sunt servanda (os pactos são para serem cumpridos). Uma questão interessante é se o CC adotou o princípio da obrigatoriedade. Claro que adotou, entretanto, o novo Código Civil não o adotou de forma integral. Ele mitigou o pacta sunt servanda, trazendo dentro de si a cláusula “rebus sic stantibus”. (coisa assim ficar) Desde a origem dos contratos, fala-se em pacta sunt servanda. Na idade média, existiam constantes guerras e, por mais que se tentasse, não tinha como cumprir os contratos em razão das guerras. Nos contratos escritos, passou-se a estipular uma cláusula segundo a qual o contratante estaria obrigado aos termos do contrato, se não houvesse guerra. Por essa cláusula, expressamente prevista no contrato, excluía-se a responsabilidade do contratante se houvesse guerra, ou seja, se houvesse mudança na situação fática. http://www.proordem.com.br/ http://goiania.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO CIVIL – TEORIA GERAL DOS CONTRATOS Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 20 O novo Código Civil tornou implícito nos contratos a cláusula rebus sic stantibus, quando ele adotou a teoria da imprevisão (teoria da onerosidade excessiva). Ex: o contrato de leasing (contrato de arrendamento mercantil (aluguel), em que você paga mensalidades e, no final, pode adquirir a propriedade pagando um valor residual). Ele tinha o valor atrelado ao dólar. Quando o valor do dólar subiu demais, houve uma desproporção absurda. Houve um fato superveniente e imprevisível que o tornou excessivamente oneroso para uma das partes, o que possibilitava o pedido de resolução desse contrato. O CC, ao inovar com a teoria da imprevisão, adotou a cláusula rebus sic stantibus (lá da Idade Média.), com duas diferenças: não precisa vir expresso no contrato, já que é uma causa implícita, e não incide só em situação de guerra. Basta qualquer causa superveniente e imprevisível que desequilibre o contrato. Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação. Todo contrato se sujeita à teoria da imprevisão? Não. O contrato, quanto ao momento de execução, pode ser de 3 tipos: de execução instantânea (é aquele contrato que eu cumpro minha prestação no momento da conclusão do contrato), de execução continuada (eu cumpro minha prestação de forma continuada, pagando em quotas periódicas de prestação (Prestação é o objeto da obrigação), ou de execuçãodiferida (eu pago em uma vez, no futuro) Nesses 3 contratos eu me submeto à teoria da imprevisão? Claro que não, afinal, o próprio artigo diz “nos contratos de execução continuada ou diferida”. Nos contratos de http://www.proordem.com.br/ http://goiania.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO CIVIL – TEORIA GERAL DOS CONTRATOS Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 21 execução instantânea, pode acabar o mundo que nada muda no contrato, já que o pagamento foi feito a vista. Para eu conseguir a resolução do contrato com base na teoria da onerosidade excessiva, não basta que tenha ficado ruim pra mim. A outra parte tem que ter uma vantagem excessiva. Lembre-se de que a lei diz “com extrema vantagem pra outra”. Assim, no caso da perda do emprego, não caberá a resolução do contrato. No caso do leasing, em que o dólar pulou de 50 para 90 mil, houve vantagem extrema pra outra parte. Por isso que era possível a resolução do contrato. O acontecimento deve ser extraordinário e imprevisível. Algo bem parecido com esse requisito foi visto, na parte geral, quando analisamos os defeitos do negócio jurídico. A lesão e o estado de perigo são bem parecidos, não? Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa. Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. Existe uma situação que obriga a contratar e a pagar mais caro que eu deveria (no estado de perigo, para me salvar ou a pessoa da minha família. Na lesão, em razão de premente necessidade ou por inexperiência.) Tanto na lesão quanto na teoria da onerosidade excessiva, existe uma prestação muito alta. A diferença é que na lesão (e no estado de perigo), o contrato já nasce viciado. Na http://www.proordem.com.br/ http://goiania.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO CIVIL – TEORIA GERAL DOS CONTRATOS Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 22 teoria da onerosidade excessiva, o contrato nasce perfeito, mas ele se vicia em razão de um fato superveniente. Na lesão, o problema é de invalidade do contrato. Pede-se a anulação. Na onerosidade excessiva, o contrato é válido. O que se pede é a resolução. Na lesão, como é inválido, nenhum efeito é produzido, afinal, ato inválido não gera efeitos. Na onerosidade excessiva, dá-se a resolução do contrato, ou seja, embora esteja findo o contrato, gerou efeitos válidos. A sentença, embora não seja de invalidade, retroage, e mata os efeitos praticados a partir da citação. Os efeitos produzidos até a citação são válidos. Dá para evitar a resolução do contrato? Veja o artigo 479: Art. 479. A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a modificar eqüitativamente as condições do contrato. 4) Princípio da boa-fé objetiva Acabou a ideia de que os contratantes devem se dar bem um em cima do outro. As partes são obrigadas a agir com probidade e boa fé. Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé. boa fé objetiva = boa-fé subjetiva (boa intenção) + probidade (lealdade) Não é uma recomendação, uma exortação. Trata-se de uma ordem. http://www.proordem.com.br/ http://goiania.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO CIVIL – TEORIA GERAL DOS CONTRATOS Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 23 24 - Art. 422: em virtude do princípio da boa-fé, positivado no art. 422 do novo Código Civil, a violação dos deveres anexos constitui espécie de inadimplemento, independentemente de culpa. 27 - Art. 422: na interpretação da cláusula geral da boa-fé, deve-se levar em conta o sistema do Código Civil e as conexões sistemáticas com outros estatutos normativos e fatores metajurídicos. Não é fazer o que a pessoa acha certo... é fazer o que as pessoas, em geral, acham certo... é necessário seguir um padrão normal de conduta.... O Código Civil alemão (BGB), em seu § 243, definiu a boa-fé como “treu und glauben” (verdade e confiança). O princípio da boa-fé objetiva, segundo Álvaro Villaça Azevedo, “assegura o acolhimento do que é lícito e a repulsa ao ilícito”. As palavras são exatas, eis que aquele que contraria a boa-fé comete abuso de direito, respondendo no campo da responsabilidade civil, conforme prevê o art. 187 do CC. Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. O maior especialista no mundo é o português Antônio Menezes Cordeiro, o qual sustenta que o princípio da boa-fé objetiva tem tríplice função: 1) Função interpretativa: consiste na análise hermenêutica. O juiz deve interpretar o contrato, levando-se em consideração a boa-fé. Ex: art. 113 Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração. http://www.proordem.com.br/ http://goiania.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO CIVIL – TEORIA GERAL DOS CONTRATOS Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 24 § 1º A interpretação do negócio jurídico deve lhe atribuir o sentido que: (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) I - for confirmado pelo comportamento das partes posterior à celebração do negócio; (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) II - corresponder aos usos, costumes e práticas do mercado relativas ao tipo de negócio; (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) III - corresponder à boa-fé; (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) IV - for mais benéfico à parte que não redigiu o dispositivo, se identificável; e (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) V - corresponder a qual seria a razoável negociação das partes sobre a questão discutida, inferida das demais disposições do negócio e da racionalidade econômica das partes, consideradas as informações disponíveis no momento de sua celebração. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) § 2º As partes poderão livremente pactuar regras de interpretação, de preenchimento de lacunas e de integração dos negócios jurídicos diversas daquelas previstas em lei. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) Esse artigo trazia tanto a boa-fé objetiva quanto a função social dos contratos, em uma relação de inteiração. Com a redação dada pela Lei de 2019, houve uma perda substancial da proteção do vulnerável na relação contratual. 2) Função constitutiva de deveres anexos ou de proteção: representou uma revolução na estrutura da relação obrigacional, uma vez que todo contrato, em razão da boa-fé objetiva, tem, implicitamente, deveres anexos, acessórios, de conteúdo ético e exigibilidade jurídica, cuja violação pode ensejar a resolução do contrato. Como deveres anexos, podem ser citados: a) O dever de cuidado em relação à outra parte negocial; b) O dever de respeito; c) O dever de informar a outra parte quanto ao conteúdo do negócio; d) O dever de agir conforme a confiança depositada; http://www.proordem.com.br/ http://goiania.proordem.com.br/ http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13874.htm#art7 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13874.htm#art7http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13874.htm#art7 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13874.htm#art7 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13874.htm#art7 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13874.htm#art7 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13874.htm#art7 PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO CIVIL – TEORIA GERAL DOS CONTRATOS Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 25 e) O dever de lealdade e probidade f) O dever de colaboração ou cooperação g) O dever de agir conforme a razoabilidade, a equidade e a boa razão. A expressão que a doutrina utiliza para a violação de deveres anexos é “violação positiva do contrato”. É positiva por decorrer de uma ação. Ela vem sendo reconhecida por parte da doutrina contemporânea como nova modalidade de inadimplemento obrigacional. No caso de descumprimento do contrato, há responsabilidade civil, a qual, em se tratando de deveres anexos, é objetiva (não depende de dolo ou culpa). Veja o Enunciado 363 do CJF: “Os princípios da probidade e da confiança são de ordem pública, estando a parte lesada somente obrigada a demonstrar a existência da violação”. Você compra um carro de 30 dias depois ele sai de linha, o que gera uma depreciação de 50% no seu valor de mercado. O que fazer? A concessionária pode ser responsabilizada por violação positiva do contrato, caracterizada por violação ao direito de informação. Não importa se a concessionária sabia ou não, uma vez que a responsabilidade é objetiva. Outro exemplo de dever anexo é o dever de confidencialidade, ou de sigilo. Por isso que as empresas devem perguntar se podem repassar seus dados. Se repassar sem autorização, há quebra da boa-fé objetiva. Alguns autores falam em nulidade virtual (nulidade do contrato por violação ao princípio da boa-fé objetiva). O artigo 422 é bastante criticado, por ter o legislador dito menos que deveria, uma vez que a boa-fé se aplica na fase pré e na pós contratual. http://www.proordem.com.br/ http://goiania.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO CIVIL – TEORIA GERAL DOS CONTRATOS Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 26 O exemplo mais famoso de quebra da boa-fé objetiva na fase pré contratual é dos plantadores de tomate da CICA. Todo ano a CICA comprava a produção dos tomateiros. Um ano, ela não quis e o TJ/RS entende que houve quebra da boa-fé objetiva. Um exemplo de violação da boa-fé objetiva na fase pós contratual é divulgar seus dados, após a finalização do contrato, ou quando um cirurgião plástico famoso tenta se divulgar espalhando que uma atriz famosa fez cirurgia com ele. 3) Função colmatadora: auxilia no preenchimento de lacunas, uma vez que a boa- fé é um princípio geral do direito (art. 422) Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé. Quanto à aplicação da boa-fé em todas as fases negociais, foram aprovados dois enunciados: 25 - Art. 422: o art. 422 do Código Civil não inviabiliza a aplicação pelo julgador do princípio da boa-fé nas fases pré-contratual e pós -contratual. (dirigida ao juiz) 170 – “A boa-fé objetiva deve ser observada pelas partes na fase de negociações preliminares e após a execução do contrato, quando tal exigência decorrer da natureza do contrato (dirigido às partes do negócio jurídico). Exemplos de aplicação da boa-fé objetiva na fase pré-contratual: a) CASO DOS TOMATES – a CICA distribuía sementes a pequenos agricultores gaúchos sob a promessa de lhes comprar a produção futura. Isso ocorreu de forma continuada e por diversas vezes, o que gerou uma expectativa quanto à celebração do contrato de compra e venda da produção. Até que certa feita a empresa distribuiu as sementes e não adquiriu o que foi produzido. Os agricultores, então, http://www.proordem.com.br/ http://goiania.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO CIVIL – TEORIA GERAL DOS CONTRATOS Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 27 ingressaram com demandas indenizatórias, alegando a quebra da boa-fé, mesmo não havendo contrato escrito, obtendo pleno êxito.] “Contrato. Teoria da aparência. Inadimplemento. O trato, contido na intenção, configura contrato, porquanto os produtores, nos anos anteriores, plantaram para a CICA, e não tinham porque plantar sem a garantia da compra (TJRS – EI 591083357). b) CONCESSIONÁRIA - O TJ/RS condenou recentemente uma concessionária de veículos do RJ a indenizar um casal de gaúchos pelas despesas de transporte, estadia e alimentação, diante da expectativa gerada para uma suposta celebração de um contrato definitivo de compra e venda de veículo. Além da indenização material, ainda foi determinado o ressarcimento moral, diante dos aborrecimentos causados. O entendimento do julgado é que o futuro comprador acreditou na celebração do contrato definitivo, crença que foi frustrada pela má-fé da outra parte. “Reparação de danos materiais e morais. Responsabilidade pré-contratual. Princípio da boa-fé objetiva dos contratos. Negociações preliminares a induzir os autores a deslocarem-se até o RJ para a aquisição de veículo seminovo da ré, na companhia de seu filho ainda bebê, gerando despesas. Deslealdade nas informações prestadas, pois oferecido como uma jóia de carro impecável, gerando falsas expectativas, pois na verdade o veículo apresentava pintura mal feita, a revelar envolvimento em acidente de trânsito. Omissão no fornecimento do histórico do veículo que poderia confirmar as suspeitas de tratar-se de veículo batido. Danos materiais, relativos às passagens aéreas e estadia e danos morais decorrentes do sentimento de desamparo, frustração e revolta diante da proposta enganosa formulada. Sentença confirmada por seus próprios fundamentos (TJRS – 2ª Turma recursal. Recurso n.º 71000531376). c) ZECA PAGODINHO – Ele tinha contrato com a Schincariol S/A, mediante o bordão “Experimenta”. Ainda vigente o contrato com a Schin, ele participou de http://www.proordem.com.br/ http://goiania.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO CIVIL – TEORIA GERAL DOS CONTRATOS Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 28 uma propaganda da Brahma, cedendo a sua imagem. Nela, ele cantava “Fui provar outro sabor, eu sei. Mas não largo meu amor, voltei”. Houve, além de descumprimento contratual, violação da boa-fé objetiva, o que culminou na sua condenação, em primeiro grau, a indenizar a Nova Schin em 930 mil a título de danos materiais e 930 mil a título de danos morais, tanto pela violação contratual quanto pelos danos causados à autora pela campanha publicitária da Brahma. Em sede de recurso, reduziu-se o valor dos danos morais pra 420 mil e decidiu-se que o valor dos danos materiais deveria ser apurado em sede de liquidação de sentença. A Schin, de vingança, lançou nova campanha publicitária, em que, numa festa num bar, havia um sósia do cantor e sobre ele uma placa: prato do dia: traíra. Zeca Pagodinho entrou com ação de indenização, alegando violação a seu direito da personalidade. O juiz julgou improcedente, tendo asseverado que “A conduta do autor, de bandear-se para outras sendas na vigência de um contrato, é típica do traidor, de desleal e, por isso, não há ofensa alguma a ser considerada. Está em grau de recurso.... Exemplosde aplicação da boa-fé objetiva da fase pós contratual: a) Uma dona de uma boutique famosa encomendou a uma confecção 120 casacos de pele. A confecção fez os casacos e os entregou para a boutique. Liquidado este contrato, a mesma confecção fez mais 120 casacos, idênticos, e os vendeu para a dona da boutique vizinha. Há evidente deslealdade e falta de boa-fé pós factum finitum b) Um indivíduo queria montar um hotel e procurou e conseguiu o melhor a mais barato carpete para colocar no seu empreendimento. Conseguiu uma fornecedora que disse ter o melhor preço, mas não fazia a colocação. Ele pediu, então, à vendedora a informação de quem poderia colocar o carpete. A firma entregou a http://www.proordem.com.br/ http://goiania.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO CIVIL – TEORIA GERAL DOS CONTRATOS Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 29 mercadoria e indicou o nome de uma pessoa, que já tinha prática na colocação de carpete, mas não disse ao colocador que o carpete vendido era de um tipo novo, diferente. O colocador de carpete usou uma cola inadequada e, semanas depois, todo o carpete estava estragado. A vendedora alegou ter cumprido sua parte no contrato, pois entregou, recebeu o preço, o carpete era o escolhido e fez o favor de indicar um colocador. Segundo a regra da boa- fé, porém, ela não agiu com diligência, porque, no mínimo, deveria ter alertado que se trata de um carpete novo, diferente (espécie de dever de informação, após o término do contrato). Há, nesse caso, responsabilidade pós contratual. A boa-fé subjetiva era consagrada no CC de 1916, sendo um estado psicológico de inocência. Ex: terceiro de boa-fé, pessoa que não sabia dos defeitos do marido. A boa-fé objetiva traduz uma cláusula geral, de natureza principiológica, dotada de conteúdo ético e exigibilidade jurídica. Os princípios da função social do contrato e da boa-fé objetiva mostram uma mudança de paradigma. Trata-se do dirigismo judicial do contrato, substituindo o dirigismo legal. Antes, era a lei controlando o contrato. Agora, é o juiz, por meio das cláusulas gerais (conceitos abertos), que controla o contrato.... Essas expressões vagas traduzem os conceitos jurídicos indeterminados (conceito de baixa densidade normativa, que prescinde de um juízo de valor a ser dado pelo aplicador do Direito, no caso concreto). PASSEMOS À ANÁLISE DOS INSTITUTOS DO DIREITO COMPARADO QUE TEM FUNÇÃO DE INTEGRAÇÃO DA BOA-FÉ OBJETIVA. 26 - Art. 422: a cláusula geral contida no art. 422 do novo Código Civil impõe ao juiz interpretar e, quando necessário, suprir e corrigir o contrato segundo a boa-fé objetiva, entendida como a exigência de comportamento leal dos contratantes. http://www.proordem.com.br/ http://goiania.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO CIVIL – TEORIA GERAL DOS CONTRATOS Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 30 Os institutos supressio, surrectio, tu quoque, exceptio doli e venire contra factum proprium devem ser utilizados com função integrativa, suprindo lacunas do contrato e trazendo deveres implícitos às partes contratuais. 1) SUPRESSIO É a supressão, por renúncia tácita, de um direito ou de uma posição jurídica, pelo seu não exercício com o passar dos tempos. O seu sentido pode ser notado pela leitura do art. 330 do CC: Art. 330. O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do credor relativamente ao previsto no contrato. Ex: num contrato de locação, estabelece-se que o pagamento será feito no domicílio do locador, entretanto, o locador passa na casa do locatário pra receber todo mês. Essa repetição leva à presunção de que o locador renunciou ao que estava disposto no contrato. Seu comportamento levou a essa perda de direito. 2) SURRECTIO Ao mesmo tempo que o credor perde um direito por esta supressão, surge um direito a favor do devedor, por meio da surrectio, direito este que não existia juridicamente até então, mas que decorre da efetividade social, de acordo com os costumes. Em outras palavras, enquanto a supressio constitui a perda de um direito pelo seu não exercício no tempo, a surrectio é o surgimento de um direito diante de práticas, usos e costumes. São duas faces da mesma moeda. “Direito civil. Locação residencial. Situação jurídica continuada ao arrepio do contrato. Aluguel. Cláusula de preço. Fenômeno da surrectio a garantir seja mantido a ajuste http://www.proordem.com.br/ http://goiania.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO CIVIL – TEORIA GERAL DOS CONTRATOS Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 31 tacitamente convencionado. A situação criada ao arrepio de cláusula contratual livremente convencionada pela qual a locadora aceita, por certo lapso de tempo, aluguel a preço inferior àquele expressamente ajustado, cria, à luz do Direito civil moderno, novo direito subjetivo, a estabilizar a situação de fato já consolidada, em prestígio ao princípio da boa-fé contratual”. (TJMG – j. 07.03.2007) 3) TU QUOQUE Um contratante que violou uma norma jurídica não poderá, sem a caracterização do abuso de direito, aproveitar-se dessa situação anteriormente criada pelo desrespeito. Em resumo, o sujeito viola uma norma jurídica e, posteriormente, tenta tirar proveito da situação em benefício próprio. Não se deve fazer aos outros o que não queremos que seja feito conosco. Embargos à execução. Título executivo extrajudicial. Cheque oriundo de negócio jurídico de cessão de cotas sociais. Alegação de vício no negócio. Impossibilidade de a parte invocar proteção por regra contratual que haja infringido ou, ao menos, colaborado para infringir (tu quoque). (TJSP – 2009). 4) EXCEPTIO DOLI É a defesa do réu contra ações dolosas, contrárias à boa-fé. A exceção mais conhecida no Direito Civil brasileiro é a exceptio non adimpleti contractus, pela qual ninguém pode exigir que uma parte cumpra com a sua obrigação se primeiro não cumprir com a própria. Ela é encontrada em outros dispositivos: 175, 190, 273, 274, 281, 294, 302, 837, 906, 915 e 916. http://www.proordem.com.br/ http://goiania.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO CIVIL – TEORIA GERAL DOS CONTRATOS Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 32 5) VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM Por esta máxima, determinada pessoa não pode exercer um direito próprio contrariando um comportamento anterior, devendo ser mantida a confiança e o dever de lealdade decorrentes da boa-fé objetiva, depositada quando da formação do contrato. A relação com o respeito à confiança depositada, um dos deveres anexos à boa-fé objetiva, é, portanto, muito clara. Enunciado 362 do CJF – “A vedação do comportamento contraditório (venire contra factum proprium) funda-se na proteção da confiança, como se extrai dos artigos 187 e 422 do CC”. Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. A mais conhecida decisão envolvendo a venire, proferida pelo STJ, envolveu um contrato de compromisso de compra e venda. O marido celebrou o referido negócio sem a outorga uxória, o que, na vigência do CC de 1916, era motivo de nulidade absoluta do contrato. A esposa, entretanto, informou em uma ação que concordou tacitamente com a venda. Dezessete anos após asua celebração pretendeu sua nulidade, o que foi afastado pela presença de comportamentos contraditórios entre si. “Promessa de compra e venda. Consentimento da mulher. Atos posteriores. Venire contra factum proprium. Boa-fé. A mulher que deixa de assinar o contrato de promessa de compra e venda juntamente com o marido, mas depois disso, em juízo, expressamente admite a existência e validade do contrato, fundamento para a denunciação de outra lide, e nada impugna contra a execução do contrato durante mais 17 anos, tempo em que os promissários compradores exerceram pacificamente a posse sobre o imóvel, não pode http://www.proordem.com.br/ http://goiania.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO CIVIL – TEORIA GERAL DOS CONTRATOS Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 33 depois se opor ao pedido de fornecimento de escritura definitiva. Doutrina dos atos próprios. Art. 132 do CC (STJ – RESP 95.539- SP, j. 03.09.1996). 6) DUTY TO MITIGATE THE LOSS É a mitigação do prejuízo pelo próprio credor. Enunciado 169 – “O princípio da boa-fé objetiva deve levar o credor a evitar o agravamento do próprio prejuízo”. Importante figura, desenvolvida no Direito Norte-Americano, e que, especialmente nos últimos tempos, tem despertado a atenção da nossa doutrina e da jurisprudência pátria, consiste no duty to mitigate the loss (dever de mitigar o prejuízo). A sua noção é simples. Como decorrência do princípio da boa-fé objetiva, deve, o titular de um direito (credor), sempre que possível, atuar para minimizar o âmbito de extensão do dano, mitigando, assim, a gravidade da situação experimentada pelo devedor. EMILIO BETTI, ilustre professor de Direito da Universidade de Roma, em sua clássica obra “Teoria Geral das Obrigações” (Bookseller, 2006, 1. Ed), já reconhecia, na atualidade, a existência de uma verdadeira “crise de cooperação” entre as partes da relação jurídica obrigacional. Em verdade, a exigência de que o credor – posto seja titular de um direito – deva atuar, em sendo possível, para minimizar a situação do devedor, traduz uma recomendável atenuação desta crise relacional, em prol inclusive do princípio da confiança. Figuremos um exemplo. http://www.proordem.com.br/ http://goiania.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO CIVIL – TEORIA GERAL DOS CONTRATOS Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 34 Imagine que FREDIE BACANA conduz o seu carro no estacionamento da Faculdade. Em uma manobra brusca e negligente, colide com o carro de SALOMÉ VIENA. Esta última, vítima do dano e titular do direito à indenização, exige que FREDIE chame um guincho. Muito bem. Enquanto FREDIE se dirigia à secretaria da Faculdade para fazer a ligação, SALOMÉ – credora do direito à indenização – verificou que uma pequenina chama surgiu no motor do carro. Poderia, perfeitamente, de posse do seu extintor, apagá- la, minimizando a extensão do dano. Mas assim não agiu. Em afronta ao princípio da boa- fé e ao dever de mitigar, pensou: “quero mais é que o carro exploda, para que eu receba um novo”. Neste caso, se ficar demonstrado que o credor poderia ter atuado para minimizar o dano evitável (“avoid his avoidable damages”), não fará jus a um carro novo. Apenas receberá, por aplicação do duty to mitigate, o valor correspondente à colisão inicial. Observe a multiplicidade de situações reais em que este instituto poderá ser aplicado, a exemplo da hipótese em que o credor, beneficiado por uma medida judicial de tutela específica, podendo fornecer ao Juízo elementos concretos para a sua efetivação, prefere “rolar a multa diária”, para, ao final do processo, perceber uma vultosa quantia. Se ficar demonstrado que poderia ter atuado para efetivar a medida de imediato, e não o fez, deve o juiz reduzir o valor devido, com fulcro no aludido dever de mitigar. Ao encontro de todo o exposto, colacionamos decisão do Superior Tribunal de Justiça: DIREITO CIVIL. CONTRATOS. BOA-FÉ OBJETIVA. STANDARD ÉTICO- JURÍDICO. OBSERVÂNCIA PELAS PARTES CONTRATANTES. DEVERES ANEXOS. DUTY TO MITIGATE THE LOSS. DEVER DE MITIGAR O PRÓPRIO PREJUÍZO. INÉRCIA DO CREDOR. AGRAVAMENTO DO DANO. INADIMPLEMENTO CONTRATUAL. RECURSO IMPROVIDO. http://www.proordem.com.br/ http://goiania.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO CIVIL – TEORIA GERAL DOS CONTRATOS Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 35 1. Boa-fé objetiva. Standard ético-jurídico. Observância pelos contratantes em todas as fases. Condutas pautadas pela probidade, cooperação e lealdade. 2. Relações obrigacionais. Atuação das partes. Preservação dos direitos dos contratantes na consecução dos fins. Impossibilidade de violação aos preceitos éticos insertos no ordenamento jurídico. 3. Preceito decorrente da boa-fé objetiva. Duty to mitigate the loss: o dever de mitigar o próprio prejuízo. Os contratantes devem tomar as medidas necessárias e possíveis para que o dano não seja agravado. A parte a que a perda aproveita não pode permanecer deliberadamente inerte diante do dano. Agravamento do prejuízo, em razão da inércia do credor. Infringência aos deveres de cooperação e lealdade. 4. Lição da doutrinadora Véra Maria Jacob de Fradera. Descuido com o dever de mitigar o prejuízo sofrido. O fato de ter deixado o devedor na posse do imóvel por quase 7 (sete) anos, sem que este cumprisse com o seu dever contratual (pagamento das prestações relativas ao contrato de compra e venda), evidencia a ausência de zelo com o patrimônio do credor, com o consequente agravamento significativo das perdas, uma vez que a realização mais célere dos atos de defesa possessória diminuiriam a extensão do dano. 5. Violação ao princípio da boa-fé objetiva. Caracterização de inadimplemento contratual a justificar a penalidade imposta pela Corte originária, (exclusão de um ano de ressarcimento). 6. Recurso improvido. (REsp 758.518/PR, Rel. Ministro VASCO DELLA GIUSTINA (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RS), TERCEIRA TURMA, julgado em 17/06/2010, REPDJe 01/07/2010, DJe 28/06/2010) Atribui-se a introdução da tese em nosso país à Professora Véra Maria Jacob de Fradera, e a sua aplicação já rompe barreiras, chegando, até mesmo, aos domínios do processo penal (STJ: HC 171753/GO). http://www.proordem.com.br/ http://goiania.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO CIVIL – TEORIA GERAL DOS CONTRATOS Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 36 5) Princípio da relatividade (res inter alios) Esse princípio funda-se na ideia de que o contrato só produz efeitos em relação às partes contratantes, não afetando ou atingindo terceiros. Esse entendimento se coaduna ao modelo clássico de contrato, que tinha por objetivo exclusivo a satisfação das necessidades individuais, só produzindo efeitos entre aqueles que o haviam celebrado, mediante acordo de vontades. Essa visão foi abalada pelo Código Civil de 2002, que não mais concebe o contrato apenas como um instrumento de satisfação de interesses pessoais dos contratantes, mas lhe reconhece uma função social. Isso possibilita que terceiros, que não são propriamente partes do contrato, possam nele influir em razão de serem por ele atingidos de maneira direta ou indireta. Desta forma, a nova concepção da função social do contrato representa, se não ruptura, pelo menos abrandamento do princípio da relatividade dos efeitos do contrato, tendo em vista que não mais subsiste o caráterabsolutamente individualista do contrato como forma de satisfação de interesses exclusivamente privados. Enunciado 21 do CJF: 21 - Art. 421: a função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, constitui cláusula geral a impor a revisão do princípio da relatividade dos efeitos do contrato em relação a terceiros, implicando a tutela externa do crédito. O contrato está situado na esfera dos direitos pessoais, constituindo negócio jurídico bilateral e fonte principal do direito das obrigações. http://www.proordem.com.br/ http://goiania.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO CIVIL – TEORIA GERAL DOS CONTRATOS Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 37 Quando a lei quer estender a todos, estabelece que, com o registro ou com a tradição, nasce um direito real, que é oponível erga omnes. (lembrar do exemplo da hipoteca – 1225, inciso IX) O CC traz 3 contratos que produzem efeitos com relação a terceiros: estipulação em favor de terceiro (art. 436 e ss), promessa de fato de terceiro (art. 439) e contrato com pessoa a declarar (art. 467). ESTIPULAÇÃO EM FAVOR DE TERCEIRO Caracteriza-se quando, no contrato celebrado entre duas pessoas, denominadas estipulante e promitente, convenciona-se que a vantagem resultando do ajuste reverterá em benefício de terceira pessoa, alheia à formação do vínculo contratual. Nela, figuram três personagens: o estipulante, o promitente e o beneficiário (o qual é estranho à convenção). Ocorre, comumente, nos contratos de seguro de vida, em que a convenção beneficia quem não participa da avença, e nos divórcios consensuais, nos quais se inserem cláusulas em favor dos filhos do casal, bem como nas convenções coletivas de trabalho, em que os acordos feitos pelo sindicato beneficiam toda uma categoria. Pergunta: como a capacidade do agente é requisito de validade do negócio jurídico, nos termos do art. 104, é válido um contrato em que o beneficiário seja incapaz? A capacidade é requisito de validade do negócio jurídico, o qual é firmado pelo estipulante e pelo promitente. Logo, só esses dois devem ser capazes, sob pena de invalidade. Não se exige capacidade do beneficiário, pois ele não é parte contratante, ele é terceiro (O NOME TEM QUE SERVIR PRA ALGUMA COISA). EXCEÇÃO! http://www.proordem.com.br/ http://goiania.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO CIVIL – TEORIA GERAL DOS CONTRATOS Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 38 Art. 793. É válida a instituição do companheiro como beneficiário, se ao tempo do contrato o segurado era separado judicialmente, ou já se encontrava separado de fato. Este artigo estabelece uma restrição nos contratos de seguro, proibindo a instituição de beneficiário impedido de receber a doação do segurado, como a amante de um homem casado. Na formação do vínculo obrigacional, não é necessário o consentimento do beneficiário, uma vez que se exige a manifestação de vontade das partes contratantes, ou seja, estipulante e promitente. Entretanto, na fase de execução do contrato, o beneficiário deve manifestar sua vontade, aceitando ou não a estipulação feita em seu favor. CONCLUSÃO: Embora no plano da validade a vontade do beneficiário seja irrelevante, ela é muito importante para que o negócio jurídico tenha eficácia. (lembrar escada ponteana). Isso comprova a natureza contratual sui generis da estipulação em favor de terceiro. Fala- se em sui generis porque a prestação não é realizada em favor do próprio estipulante, como seria o natural, mas em benefício de outrem, que sequer integra o contrato. Logo, a existência e validade do contrato não dependem do beneficiário, mas a sua validade é condicionada à aceitação dele. Embora haja grande divergência na doutrina, a teoria contratualista da estipulação em favor de terceiro foi consagrada no CC, tanto que os arts. 436, parágrafo único, 437 e 438 referem-se a ela utilizando o vocábulo “contrato”. Art. 436. O que estipula em favor de terceiro pode exigir o cumprimento da obrigação. Parágrafo único. Ao terceiro, em favor de quem se estipulou a obrigação, também é permitido exigi-la, ficando, todavia, http://www.proordem.com.br/ http://goiania.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO CIVIL – TEORIA GERAL DOS CONTRATOS Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 39 sujeito às condições e normas do contrato, se a ele anuir, e o estipulante não o inovar nos termos do art. 438. Art. 437. Se ao terceiro, em favor de quem se fez o contrato, se deixar o direito de reclamar-lhe a execução, não poderá o estipulante exonerar o devedor. Art. 438. O estipulante pode reservar-se o direito de substituir o terceiro designado no contrato, independentemente da sua anuência e da do outro contratante. Parágrafo único. A substituição pode ser feita por ato entre vivos ou por disposição de última vontade. O terceiro não precisa ser desde logo determinado. Basta que seja determinável, podendo, inclusive, ser futuro, como a prole eventual. OBSERVAÇÕES IMPORTANTES: 1) A obrigação assumida pelo promitente pode ser exigida tanto pelo estipulante como pelo beneficiário, que assume, na execução do contrato, as vezes de credor. 2) O estipulante pode se reservar o direito de substituir o terceiro designado no contrato, independentemente da sua anuência e da do outro contratante (art. 438) 3) Caso se estipule que o beneficiário poderá reclamar a execução do contrato, o estipulante perde o direito de exonerar o promitente (art. 437), tornando-se a estipulação irrevogável. 4) Se não houver previsão desse direito ao beneficiário, ele se sujeitará à vontade do estipulante, que poderá desobrigar o devedor, bem como substituir o beneficiário, na forma do 438 (ato entre vivos ou por disposição de última vontade). E se o contrato for silente quanto a isso? No silêncio do contrato, o estipulante pode substituir o beneficiário, não se exigindo para isso nenhuma formalidade, a não ser a comunicação ao promitente, para que este saiba a http://www.proordem.com.br/ http://goiania.proordem.com.br/ PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL DIREITO CIVIL – TEORIA GERAL DOS CONTRATOS Prof. André de Almeida Dafico Ramos Curso Proordem – Unidade Goiânia www.proordem.com.br / (62) 3932 0765 - 3087 2536 40 quem deverá efetuar o pagamento. No seguro de vida, isso ocorre por simples endosse da apólice ou por testamento. PROMESSA DE FATO DE TERCEIRO Trata-se do denominado contrato por outrem ou promessa de fato de terceiro. O único vinculado é o que promete, assumindo obrigação de fazer que, não sendo executada, resolve-se em perdas e danos. Isso porque ninguém pode vincular terceiros a uma obrigação. Ela parece com a fiança, mas com ela não se confunde, porque a garantia fidejussória é contrato acessório, ao passo que a promessa de fato de terceiro é principal. Art. 439. Aquele que tiver prometido fato de terceiro responderá por perdas e danos, quando este o não executar. Parágrafo único. Tal responsabilidade não existirá se o terceiro for o cônjuge do promitente, dependendo da sua anuência o ato a ser praticado, e desde que, pelo regime do casamento, a indenização, de algum modo, venha a recair sobre os seus bens. Art. 440. Nenhuma obrigação haverá para quem se comprometer por outrem, se este, depois de se ter obrigado, faltar à prestação. O exemplo mais apontado pela doutrina é o de um promotor de eventos que promete um espetáculo
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