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JOÃO, cantor, contrata MANOEL, motorista de uma grande empresa, para transportá-lo, no dia 26 de fevereiro de 2021, de Campos dos Goytacazes, pequena cidade no interior do Estado do Rio de Janeiro onde ambos são domiciliados, até a capital do Estado. No referido dia, será realizada, na cidade do Rio de Janeiro, a primeira pré- seleção de candidatos para participação de um concurso televisivo de talentos musicais, com cerca de vinte mil inscritos. Os mil melhores candidatos pré- selecionados na primeira fase ainda passarão por duas outras etapas eliminatórias, até que vinte sejam escolhidos para participar do programa de televisão. MANOEL costuma fazer o transporte de amigos nas horas vagas, em seu veículo particular, para complementar sua renda. Assim, prontamente aceita o pagamento antecipado feito por JOÃO. No dia 26 de fevereiro de 2021, Manoel se recorda de que se esquecera de fazer a manutenção periódica de seu veículo, motivo pelo qual não considera seguro pegar a estrada. Assim, comunica a João que não poderá transportá-lo naquele dia, devolvendo-lhe o valor que lhe fora pago. João acaba não realizando a viagem até o Rio de Janeiro e, assim, não participa da pré-seleção do concurso. Inconformado, João ingressa com ação indenizatória em face de Manoel menos de um mês após o ocorrido, pretendendo perdas e danos pelo inadimplemento do contrato de transporte e indenização pela perda de uma chance de participar do concurso. Postula, na inicial, a concessão dos benefícios da justiça gratuita, alegando não possuir condições financeiras para arcar com as custas processuais e os honorários sucumbenciais. A ação foi regularmente distribuída para a Vara Cível da Comarca de Campos de Goytacazes do Estado do Rio de Janeiro. Citado, o réu alegou em contestação que João errou ao não tomar um ônibus na rodoviária da cidade, o que resolveria sua necessidade de transporte. Demonstrou que João possuiria 3 (três) imóveis, além de participação societária em 2 (duas) empresas, e condição financeira apta ao pagamento das custas e dos honorários, requerendo o indeferimento da justiça gratuita à João. O juiz concedeu o benefício da justiça gratuita que havia sido postulado na inicial em decisão interlocutória e, após, julgou procedentes os pedidos formulados por João, tendo o juízo fundamentado sua decisão nos seguintes argumentos: i) o inadimplemento contratual culposo foi confessado por Manoel, devendo ele arcar com perdas e danos, nos termos do Art. 475 do Código Civil, arbitrados no montante de cinco vezes o valor da contraprestação originalmente acordada pelas partes; ii) o fato de João não ter contratado outro tipo de transporte para o Rio de Janeiro não interrompe o nexo causal entre o inadimplemento do contrato por Manoel e os danos sofridos; iii) João sofreu evidente perda da chance de participar do concurso, motivo pelo qual deve ser indenizado em montante arbitrado pelo juízo em um quarto do prêmio final que seria pago ao vencedor do certame. A sentença foi disponibilizada no DJE em 08/09/2021, quarta-feira, sendo certo que não possui omissão, obscuridade ou contradição. Considerando apenas as informações expostas, elabore, na qualidade de advogado(a) de Manoel, a peça processual cabível para defesa dos interesses de seu cliente, que leve o tema à instância superior, indicando seus requisitos e fundamentos, nos termos da legislação vigente. O recurso deverá ser datado no último dia do prazo para apresentação. Desconsidere a existência de feriados nacionais ou locais.