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UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI FACULDADE INTERDISCIPLINAR DE HUMANIDADES DANIELE MIRANDA DA SILVA ISADORA HONÓRIO ALMEIDA JÉSSICA FERNANDES MOURÃO A ESCOLA DOS ANNALES: CONSIDERAÇÕES SOBRE A HISTÓRIA DO MOVIMENTO DIAMANTINA 2021 O presente trabalho se propõe a apresentar e debater alguns pontos importantes sobre a obra “A Escola dos Annales: considerações sobre a história do movimento” de José Costa D’ Assunção Barros. Ele é graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro em Música (1989) e História (1993) e Doutor em História pela Universidade Federal Fluminense (1999). José Costa D’ Assunção Barros é professor associado no curso de História tanto na graduação quanto na pós-graduação da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Dentro da História, suas principais áreas de interesse e atuação são a Teoria da História, Historiografia, Metodologia da História, História Cultural, História da Arte, História da Música, História da Literatura, História da Cidade, Cinema- História e História das Desigualdades e Diferenças. O movimento da "Nouvelle Historie" foi inaugurado pela Escola dos Annales e durante o artigo a expressão é utilizada em sentido ampliado, pois, abrange a Escola dos Annales e a corrente de pensamento que surge nos anos 1970. José Costa Barros, afirma que existe um debate complexo em torno do estudo sobre a influência que os Annales teriam recebido de outras correntes historiográficas e elenca uma série de diálogos e contraste desses historiadores com outros movimentos, tais como: o materialismo histórico, a oposição a Historiografia lançada desde o século XVIII e a divergência em relação às correntes que surgem no pós-modernidade. O historiador pontua sobre as diferentes visões em relação às continuidades e descontinuidades do movimento. François Dosse afirma que a Nouvelle Historie promoveu drásticas rupturas com o projeto que foi consolidado pelos fundadores da Escola dos Annales. De acordo com Dosse, a interdisciplinaridade proposta pela Nouvelle Historie ameaça a identidade da História e acaba pulverizando a produção historiografia. Além disso, rompeu com o diálogo entre passado- presente e o passado começa a ser um campo de análise a ser contemplado unidirecionalmente. Já Peter Burke, compreende as continuidades entre os historiadores novos e clássicos e não rejeita os novos dirigentes da Revista, os quais ele denomina de "Terceira geração dos Annales". Em contraposição aos historiadores citados, José Carlos Reis, procura fazer um panorama crítico para abordar o período se passagem da "História total" para a denominada "História em Migalhas", ao fazer isso ele elenca diversos momentos de transferência, dentre eles a passagem da síntese para à especialização, da explicação à descrição e a mudança da análise que compreendia o social para o individual. José Costa Barros descreve os grandes fundadores da Escola dos Annales, a importância de cada um e a individualidade de suas obras. Lucien Febvre ocupa um lugar único dentro do movimento e suas três principais obras conseguem deixar evidente sua perspectiva. Em Philippe II e Lutero, Febvre, faz sua análise partindo da interpretação do individual para a compreender o coletivo. Já na obra Rebelas, ele inverte sua concepção e passa a analisar como a consciência coletiva incide sobre a individual, evidenciando que por mais singular que um indivíduo possa ser, essa singularidade sempre vai ser dissolvida ao encontrar o coletivo. Outra particularidade do estudo de Lucien Febvre é a valorização do quadro geográfico. Em seguida Barros afirma que o ensaio de Febvre foi uma contribuição extremamente importante para o modelo de História-Problema que os primeiros annalistas trouxeram e que tinha a intenção de confrontar aqueles modelos historiográficos que eram factuais. Barros acrescenta que além de “abrir futuros caminho para a História das Mentalidades” (p. 10) também foi um dos pontos principais em que Febvre usou para discutir a questão do anacronismo dentro da historiografia. De acordo com o texto o interesse de Febvre pelo anacronismo vem justamente do estudo realizado a respeito Rabelais e a Descrença no século XVI já que se atribui a Rabelais a qualidade de ateu, mas o ateísmo não era algo possível naquela época. Partindo deste pressuposto, Febvre desenvolve uma análise que aponta que não se pode atribuir a Rabelais a qualidade de ateu como aparece em escritos da época uma vez que não apenas o ateísmo não existia, mas também uma série de conceitos que seriam fundamentais para fundamentar a negação de uma divindade. A partir disso a intenção de Febvre se torna clara, ele passa a demonstrar que as piadas que pareciam ser blasfêmias e que muitos passaram a enxergar como racionalismo, ou pelo menos um princípio dele, era na verdade uma herança do que ele apontava como uma antiga tradição medieval de paródia. Febvre conclui então que os renascentistas do século XVI não tinham nenhuma forma de desenvolver uma abordagem racionalista e ateísta porque não contavam com nenhum aparato para isso, inclusive a linguagem e a maneira imprecisa ao tratar do tempo. Desta forma Febvre chega à conclusão de que o problema não era apenas em relação a Rebelais e por esse motivo seu estudo do autor, segundo Barros, tornou um ponto de partida para que investigasse o que hoje entendemos como a “mentalidade de época” (p. 11). O texto deixa bastante clara a importância do estudo de Febvre sobre o anacronismo. Em outro ponto Barros fala sobre como Marc Bloch contribuiu para as gerações posteriores da Escola dos Annales. A principal obra de Bloch, “Os Reis Taumaturgos” (1924) que traz uma abordagem onde Bloch se propõe em analisar duas dinastias europeias, desenvolvendo assim o campo historiográfico da História Comparada, mas esta não é única. De acordo com o texto, “Os Reis Taumaturgos” foram uma contribuição essencial para outro campo que surgiria a partir da década de 1960, qual seja, a História das Mentalidades. Além disso, Bloch idealizou este ensaio para que fosse uma contribuição ao campo da História Política com uma abordagem que não estivesse apenas restrita à descrição dos eventos, mas à maneira como o poder ia se estabelecendo a partir das práticas e representações coletivas. Apesar da grande importância do ensaio supracitado e da obra “Les Caractères Originaux de L'histoire rurale française” de 1931 que propõe o “método regressivo” que se empenha a entender a história de uma forma invertida, indo das temporalidades mais próximas da época do historiador para as mais distantes, a extraordinária contribuição de Bloch vem com A Sociedade Feudal de 1939 onde ele abraça a História Total e, nas palavras de Barros, “nada escapa, aqui, às análises de Bloch” (p.12) que vão desde os laços de dependência que permeiam a “coesão social” até a análise das maneiras de “pensar e sentir” durante a Idade Média. Barros então passa a analisar Labrousse e outros autores e suas contribuições para a História Serial e a História Quantitativa. Segundo o autor, Labrousse foi um dos primeiros a trazer para a historiografia a “quantificação com vistas à percepção das conjunturas econômicas” (p.12) o que contribuiu para o que o autor afirma que acontece a seguir: a expansão da História Serial-Quantitativa que observava as conjunturas econômicas. Esse método historiográfico obteve tamanha aceitação que dominou a historiografia do século XX por quatro décadas e só passou a ser discutido a partir do surgimento de novas modalidades historiográficas quesurgiram com a terceira geração da Escola dos Annales. Barros aponta que a História Serial-Quantitativa acabou se separando e formando dois campos, História Serial e História Quantitativa, a partir da década de 1930. Os dois campos eram interligados geralmente, mas continuava sendo uma novidade trazida pela escola. Outra mudança que ocorreu foi a de que houve uma mudança de percepção que passou a levar em conta a perspectiva demográfica e econômica, o que por sua vez possibilitou o surgimento da História das Mentalidades. Em seguida o texto aponta que a possibilidade de se ter uma História Serial está intimamente ligada possibilidade de se enxergar o conceito de série dentro do campo. Essa linha de pensamento propõe que se enxergue os documentos ou fontes históricas, não como algo único e singular, mas como parte de algo que é maior e mais complexo que apenas ele, ou seja, seriam uma parte de uma “grande cadeia de fontes” (p.12) que vai proporcionar uma abordagem a partir de uma visão de conjunto. O próximo ponto que o texto aborda é Braudel e o fato de que ele é o líder e, por consequência, o grande nome da Segunda Geração dos Annales. Barros aponta que a Primeira Geração é liderada por Febvre e tem Bloch como outro grande nome, mas que Fernando Braudel é visto como o grande nome da Segunda Geração depois de 1956, quando Febvre morre. De acordo com Stoianovich, Braudel foi o verdadeiro criador do que se entende como “paradigma dos Annales” e que o modelo estrutural desenvolvido naquele momento alia “permanência e mudança sob a égide do conceito de ‘longa duração’ adquire sua forma mais bem acabada” (p.13-14) e este novo paradigma passa a ser seguido por novos historiadores. Braudel passa então a reacender o debate que existia entre as teorias de Bloch e Febvre que representavam uma ameaça para a “primazia da História” (p. 14), Em seguida passa a medir forças, segundo o texto, com Lévi-Strauss dentro da Antropologia Estrutural e o próximo passo do autor é dialogar com as ciências econômicas. Barros afirma em certo ponto que Braudel fez tudo isso para apresentar a História como sendo o campo mais completo da Ciências Humanas de longa duração, a única que perceberia a relação entre “estrutura, conjuntura e evento” (p.15). O projeto de Braudel, aponta o texto, era desenvolver uma teoria que ultrapassasse indivíduos e eventos isolados, mas que ao mesmo tempo não lhes negasse a sua importância em uma conjuntura de acontecimentos. Essa teoria ficou conhecida como “dialética das durações” e ele cria duas metáforas para que se possa compreender esta questão. Uma é a metáfora das ondas e das correntes profundas, sendo que os acontecimentos nada mais seriam do que espumas que se formam na crista das ondas, estas mesmas impulsionadas por correntes profundas. Outra é a metáfora dos vagalumes que brilham contra a escuridão noturna: os eventos que brilham, chamando atenção para si seriam os eventos; mas caberia aos historiadores, sobretudo, estudar a densa obscuridade que permanece para além deles. Esta obscuridade corresponderia às economias, à vida coletiva, às mentalidades, à vida coletiva, à organização social em classes, às civilizações; tudo, enfim, que permanece, se repete e se recicla, independentemente do fugaz, embora intenso, brilho dos vagalumes. (BARROS, 2010, p. 15) Pode-se entender a partir das metáforas acima que há uma questões individuais e eventos isolados, mas que eles configuram algo maior que eles mesmos. O papel do historiador para Braudel de acordo esse pensamento seria analisar um sem deixar de lado o outro para formar um entendimento da história mais completo e menos simplista. Braudel consegue estabelecer seu projeto de uma “dialética das durações” ao lançar “O Mediterrâneo e o Mundo Mediterrânico na época de Felipe II” lançado em 1949 e que é dividido em três grandes volumes. No primeiro deles ele analisa a duração extraordinariamente longa do relacionamento do homem mediterrâneo com o espaço que é limitante, mas que ao mesmo tempo permite suas ações. É importante que se ressalta que neste caso, quando ele fala sobre essa duração extraordinariamente longa está se referindo muito mais ao ritmo em que as mudanças que acontecem naquele espaço do que propriamente ao tempo e que dão uma impressão quase que de imutabilidade da história. No segundo volume da obra ele examina as estruturas e conjunturas, ou seja, Braudel se propõe a analisar a economia, relações tanto bélicas quanto diplomáticas, trocas e choques culturais causados pela interação com outras culturas. Aqui temos uma percepção então de duração média já que esse tipo de relação tende a ocorrer de maneira menos lenta, mas podem levar algum tempo para se desenvolverem Já no terceiro e último volume, Braudel se propõe a analisar os tempos curtos, aqueles relacionados à política e que o texto aponta como sendo “vagalumes que se encaixam no tempo médio das conjunturas da mesma forma que estas se apóiam no tempo longo das estruturas articuladas” (p. 16). Fernando Braudel pensava a segunda perspectiva de uma articulação, entre seus três níveis de duração: a curta duração, média duração e a longa duração em o Mediterrâneo. A noção de "História Total" era uma de duas alternativas presentes na Historiografia dos Annales, ou seja, a História total como História de Tudo ou como História do Todo. A presença de um terceiro conceito abordado por Pierre Vilar que trata a História total como noção que destina ao sinal científico de compreender tudo historicamente, sendo assim, na escola dos Annales, tal conceito se mostrava muito ambíguo, podendo se admitir modificações. A expressão de "História total", no artigo do Jacques Revel empregada também na primeira geração da Revista dos Annales no "Paradigmas dos Annales" a "História Total" abordada aqui não seria a história do todo, mas a história de Tudo ,ou seja, ideia tinha como objetivo representar o crescimento da História- conhecimento para todos os campos históricos, levando em consideração a noção de que a História agora poderia estudar qualquer coisa, e remetendo que todo o passado merece ser estudado. Nesse sentido, a expressão "História total" com a ampliação do campo de estudo trouxe possibilidades de estudos, tinha consigo um objetivo certo que seria a rejeição da História Política como campo de privilégio. O "materialismo histórico" suplicava a compreensão de uma sociedade no tempo, uma camada de totalidade que correspondia ao conceito de "modo de produção". O ano de 1968 é apontado como um marco, muitos enxergam como o fim do movimento, ou seja, o início de uma nova historiografia, já para outros seria o início da terceira geração dos Annales. A definição concebida de 1968 foi como marco que daria início a terceira fase dos Annales, anunciado pelo Fernando Braudel como uma novo tempo da escola. Em 1968 também ficou evidente como cenário de movimentos sociais, políticos e contraculturais mundialmente. momentos marcantes como: Guerra do Vietnã, morte do Martin Luther King e de Robert Kennedy, período de protestos, além de greves e manifestações estudantis. Outros avaliavam esse período como ruptura, para um novo tempo. Em suma, a terceira fase dos Annales abriu-se uma ampla dimensão de estudos, conhecimentos historiográficos, uma história sem tamanha limitação, ou seja uma história para tudo aquilo que é humano, como propunha o Le Roy Ladurie até mesmo uma "História sem Homens" em sua "História do clima" destrinchando assim, novos campos Historiográficos a serem analisados e estudados. trouxeram paraa História mais cientificidade, com análises seriais, com controle do que se repete. Importante destacar também a interdisciplinaridade trazida pela linguística, campo de conhecimento e prática que passou a ser utilizada não só pelos historiadores, mas como objeto de autoanálise do seu próprio campo de produção, desse modo os diálogos com a linguística possibilitaram a considerar a História como discurso de padrões literários a serem investigados. No artigo, “Escola dos Annales: Considerações sobre a História do Movimento”, Barros apresenta um panorama das três gerações da Escola dos Annales, discutindo sobre os principais autores, obras e marcos do movimento. Barros traz as perspectivas dos fundadores da Escola dos Annales, Lucien Febvre, interpreta em suas obras as relações sociais e a influência do coletivo sobre o individual e vice- versa. Também evidencia as contribuições essenciais de Marc Bloch para a historiografia da História Comparada, História das Mentalidades e História Política. Ernest Labrousse introduz na historiografia o campo da História Serial/Quantitativa posteriormente se dividiria e se tornaria História Serial e História Quantitativa, dois campos independentes, mas interligados. Fernando Braudel, pensa a História sobre a perspectiva de três durações de tempo: longa, média e curta. Para Braudel, o papel do historiador é compreender os eventos isolados e os indivíduos sem ignorar o cenário do tempo. Já Le Roy Ladurie, propõe uma História sem limitações, uma História Total. Assim, novos campos que haviam sido ignorados seriam analisados, trouxe maior cientificidade para a História. Em suma, José Costa D’Assunção Barros, apresenta o movimento de forma didática e auxilia na construção do conhecimento sobre a Escola dos Annales apontando principais acontecimentos, autores, teorias e obras. A partir da leitura do artigo fica evidente a importância do movimento para a História, pois, rompe com diversos paradigmas que existiam até o surgimento do mesmo. REFERÊNCIAS BARROS, José Costa D’Assunção. Escola dos Annales: considerações sobre a História do Movimento. Revista História em Reflexão: Vol. 4 n. 8 – UFGD - Dourados jul./dez. 2010 UFRJ – Programa de Pós-Graduação em História. Disponível em: <https://cursos.ufrrj.br/posgraduacao/pphr/jose-costa-dassuncao-barros-doutor-em- historia-uff-2/>. Acesso em: 17 de setembro de 2019 https://cursos.ufrrj.br/posgraduacao/pphr/jose-costa-dassuncao-barros-doutor-em-historia-uff-2/ https://cursos.ufrrj.br/posgraduacao/pphr/jose-costa-dassuncao-barros-doutor-em-historia-uff-2/
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