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1 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – Aula 8 INCIDÊNCIAS Existem três incidências básicas de raio X: PA (póstero-anterior), AP (anteroposterior) e perfil. • PA: raio vai do posterior pro anterior (das costas pra frente do paciente). Uma característica clássica é a presença da bolha gástrica (concentrado de ar no estômago). Melhor para avaliar patologias do pulmão e mediastino. • Perfil: complementa o póstero-anterior. É difícil dar diagnóstico com apenas uma incidência de raio X, principalmente em relação ao pulmão direito (3 lobos – superior, médio e inferior). • AP: Os raios incidem do anterior para o posterior do paciente. feita com o paciente deitado. É como se as estruturas se espalhassem mais no tórax. Ruim pra ver a área cardíaca, porque as estruturas torácicas acabam se alargando mais. Tem que encher o pulmão e prender a respiração por alguns segundos até que o raio passe. Incidência de Laurell – raios horizontais em decúbito lateral: muito utilizada antigamente para visualização de derrame. O paciente fazia o exame lateralizado para o lado do derrame (exemplo. Se o derrame é do lado esquerdo, o paciente é lateralizado para o lado esquerdo. Hoje, se quiser quantificar um derrame pleural, faz-se uma USG, que tem uma precisão muito melhor do que os outros exames. NOMENCLATURA Cada exame de imagem vai ter uma nomenclatura diferente. Radiolucente → estruturas aeradas, bolha de ar do estômago, traqueia, brônquios, pulmão. Radiopaco → O que for mais denso, que não tiver ar, como coração, osso, tecido de musculatura subcutânea. Em tomografia, se fala muito em hiper densidade, hipodensidade e isodensidade (em alguns casos, a depender do que está analisando). Ecocargdiograma tem hipocoico, hipercoico. Ressonância magnética tem hipersinal, hiposinal. PASSO A PASSO • Conferir nome do paciente e data (número de atendimento ou matrícula da clínica). • Inspiração: feita na inspiração profunda pra visualizar as costelas e ver melhor o parênquima pulmonar. O ideal é contar de 8 a 12 costelas POSTERIORES. Na prática, não se sai contando a quantidade de costelas na emergência. As costelas da imagem são as posteriores, que vão fazer a volta pra se encaixar no esterno. • Avaliar a penetração dos raios: Diferenciar corpos vertebrais. ❖ Pouco penetrado → não consegue ver quase nada nem diferenciar as estruturas. Dá uma imagem de filme apagado. ❖ Muito penetrado → ideia de filme queimado, parede que tem um pneumotoráx, não dá pra ver as coisas direito. Desenha toda a vértebra, podendo ser bom pra ver osso. Dá pra ver a traqueia, bifurcação brônquica a nível da carina, mas não dá pra avaliar o parênquima pulmonar. ❖ Normal: O ideal é que se consiga ver uma quantidade de vértebras até chegar na estrutura mediastinal (nível do hilo pulmonar, Radiografia de Tórax 2 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – Aula 8 divisão da carina, bifurcação dos brônquios). Pulmão com tons de cinza. Há uma boa visualização do parênquima pulmonar, e diferencia-se bem as estruturas. Quando começa a adentrar demais, chegando a região do coração, não é possível contar mais as vértebras.. • Rotação: eixo da coluna X eixo do esterno. Alinhamento das clavículas. O eixo vertical tem que estar alinhado com relação a traqueia e vértebra. O eixo horizontal é visto pelo ângulo da clavícula (clavícula direita e esquerda tem que estar no mesmo ângulo de inclinação). Quando uma clavícula está mais inclinada que a outra, significa que teve rotação do raio X. • Corpos estranhos. Dreno de tórax na parte do hemitórax superior esquerdo do paciente, que possivelmente teve um pneumotórax e foi drenado. Na outra imagem, tem um marcapasso definitivo implantando, com o fio desembocando na VCS, no átrio ou ventrículo direito, pois o coração é muito denso e não dá uma boa visualização. A partir do momento que o fio do marcapasso entra no coração (estrutura densa) perde a definição do local de entrada do fio. Sonda nasoenteral no pulmão direito do paciente (lembrar de analisar o local da sonda após a sua inserção com a realização de um raio X). Pode causar uma pneumonite química (iatrogenia). Se tem dúvida de que a sonda está ou não no estômago do paciente, repita o raio X quantas vezes for preciso, até ter a certeza da localização ideal. Imagem 1: sonda erroneamente no pulmão direito. Imagem 2: cateter venoso, muito provavelmente passado na jugular direita, posicionado na desembocadura da veia cava superior do átrio direito. Imagem 1: PAF (projéteis – radiopacidade - hiperdensidade metálica em 2 pontos do raio X). O paciente deve ter feito um pneumohemotórax, inclusive devido à espessura de um dreno muito mal colocado. Imagem 2: o paciente tem fios de sutura (estrutura metálica no esterno) pois provavelmente já abriu pra revascularizar. Além disso, tem a presença de um cateter que desce pela jugular direita, passa pelo átrio direito, ventrículo direito, tronco da artéria pulmonar direita, ramificações da artéria pulmonar direita. O cateter de monitorização hemodinâmica (Swangans) permite a visualização de PVC, débito cardíaco, saturação venosa central, pressão de artéria pulmonar em cunha, porém não é muito utilizado (benefício e custo não proporcionais). • Seios costofrênicos: É o ¨V¨ formado entre a linha diafragmática e o arcabouço costal direito e esquerdo. Quando não é possível a visualização do V (ou seja, tem um 3 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – Aula 8 apagamento), possivelmente o paciente tem um nível de derrame pleural, que será quantificado com a USG. O raio X não consegue pegar pequenos volumes. No derrame pleural, tem o sinal da parábola (característica). Na imagem 1, mostra que o seio costofrênico esquerdo tá mantido, enquanto que do lado direito existe a sinal da parábola com apagamento do V. Na imagem 2 tem um derrame pleural bilateral (pequeno à esquerda e grande à direita). Apagamento do seio costofrênico + desenho da parábola → características do derrame pleural. • Silhueta cardíaca: é o sombreamento feito pelo coração entre os pulmões. É o ¨desenho¨dele na imagem. Imagem 1: normal. É como se a silhueta cardíaca fosse desenhada. Se tiver apagada por algum motivo, é chamada de borramento ou apagamento da silhueta cardíaca (sinal da silhueta). Imagem 2: Apagamento da silhueta cardíaca, não sendo possível delimitar nem na direita nem na esquerda → cosgetão e infiltrado pulmonar. Quando bilaterais, falam muito a favor de edema agudo de pulmão (EAP). Quando unilateral, deve-se pesquisar algum infiltrado pneumônico, processo inflamatório viral. • Padrões de infiltrados: ❖ Infiltrado alveolar: infiltrado mais homogêneo, também chamado de condensação alveolar. Característico das pneumonias. ❖ Infiltrado hilar: condensação de estruturas hilares. Basicamente, perto do hilo pulmonar, nas entradas do brônquio fonte direito e brônquio fonte esquerdo. Congestão. Quando bilaterais, podem ser características de edema agudo. *Quando o infiltrado do edema agudo de pulmão está restrito aos hilos, significa comprometimento menor, mas quando sai do hilo e faz aquela ¨teia de aranha¨ ou ¨asa de borboleta ¨ (infiltrado clássico do EAP) já é mais extenso. ❖ Infiltrado intersticial: tem 3 tipos diferentes, mas no geral são mais difusos. O alveolar e hilar são mais homogêneos, o intersticial é mais heterogêneo (difuso). TIPOS DE INFILTRADOS INTERSTICIAIS Micronodular: bem heterogêneo, ¨pontinhos pretos e brancos¨. Clássico da tuberculose miliar. Parede que o pulmão tá pinchado. Reticular: pinche menos micro. Mais homogêneo que o micronodular. Clássico de pneumonia viral. Reticulonodular. Tem partes homogênease partes heterogêneas. É uma mistura dos 2. Equivaleria ao vidro fosco na tomografia. Clássico de doenças ocupacionais (abestose, pneumomicoses, silicose). Também pode ser pneumonia viral. • Estrutura cardíaca: o raio X não é muito bom pra visualizar as estruturas do coração. 4 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – Aula 8 O átrio esquerdo é a câmara mais desprezada no raio X. VCS: veia cava superior; AA: aorta ascendente; AD: átrio direito; VD: ventrículo direito; VE: ventrículo esquerdo – observar que quando maior essa angulação da silhueta do VE maior é o VE, e assim como com as outras câmaras; TcAP: tronco da artéria pulmonar; *AE: átrio esquerdo não é possível visualizar bem por conta do posicionamento/sobreposição de estruturas. Coração globalmente sobrecarregado (forma de bola – esfera). Cardiomegalia global, coração clássico chagásico. Essa linha vermelha representa o índice cardíaco, que nada mais é do que a distância de uma ponta e outra do coração (nos maiores eixos). O índice cardíaco tem que ser menor do que a metade do que o índice torácico (mede a distância entre um seio costofrênico e outro). Se a medida IC for maior que o IT, pode-se dizer que há uma cardiomegalia. PADRÕES DE ATELECTASIAS Cachos alveolares. Pode ser por pneumonia muito extensa, quantidade muito grande de secreção, colabamento. Existem diversas causas de atelectasias, mas o que se deve ter em mente é que se um cacho alveolar não é utilizado, aquela unidade toda é atelectasiada. Atelectasias extensas fazem desvio de estruturas mediastinais, como por exemplo, a traqueia (centrada → desvio para direita ou esquerda). O pneumotórax desvia as estruturas para o lado contralateral. A atelectasia faz desvio ipsilateral. Imagem: mediastino desviado para direita. No pulmão, existe o sinal da vela do barco, que representa um pulmão atelectasiado (deveria estar preto, mas não está, porque não tem ar). Atelectasia de lobo médio do pulmão direito → sinal da vela do barco. Pulmão esquerdo grosso. Imagem: algo semelhante, porém no pulmão esquerdo. Atelectasia de lobo inferior de pulmão esquerdo. Os alvéolos, por estarem colapsados, não recebem ar. Atelectasia é quando se tem cachos inteiros sem serem utilizados! Imagem 1: atelectasia de todo o pulmão direito. Traqueia desviada para o lado direito, além do desvio do coração. O pulmão esquerdo não é pra ser visto grande desse jeito. Uma IOT seria mais complicada. Imagem: atelectasia menos nítida em relação ao sinal da vela do parto. Traqueia sendo repuxada para o lado ispilateral a atelectasia. O pulmão esquerdo é mais fino na base por conta da presença do coração. Portanto, quando há atelectasia, a base pulmonar esquerda fica mais larga. PNEUMOTÓRAX Enquanto a atelectasia puxa pro lado ispilateral, o pneumotórax rebate as estruturas do mediastino para o lado contralateral. Nada mais é do que ar no espaço entre a pleura visceral e a pleura parietal. O espaço pleural (entre a pleural visceral e parietal – 5 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – Aula 8 espaço virtual) se enche de ar, fazendo com que o pulmão não consiga se manter com o seu volume normal, porque ele é literalmente esmagado. Pode ser espontâneo (exemplo: Lupus) ou traumático (principal causa, principalmente por trauma perfurante – facada, tiro; fechado). O pulmão fica colapsado, portanto, na maioria das vezes, atelectasiado. Todo pneumotórax tem uma linha em que é possível ver onde o pulmão esmagado está. Encarceramento pulmonar por pneumotórax. TREINAMENTO DAS PATOLOGIAS EXEMPLO 1 Condensação parahilar. Perfil: lobo superior do pulmão esquerdo. Desvio de traqueia. Condensação pneumônica não costuma fazer desvio de traqueia, mas massa consegue. Portanto, essa condensação é uma massa estriada - característica de câncer. As massas (>3cm) pulmonares são divididas em parahilares e periféricas, sendo importante a sua diferenciação por conta de: mais central – fala mais a favor de carcinoma de células escamosas. Periférica (ápice, base) → adenocarcinoma. Existem 2 tipos de câncer de pulmão: • Carcinoma de pequenas células: mais raros. • Carcinoma de não pequenas células: adenocarcinoma (mais comum de todos, tanto em quem fuma quanto em quem não fuma), carcinoma de células escamosas (quase que exclusivo de quem fuma) e carcinoma de grandes células. Parahilar é carcinoma de células escamosas, pois fica no centro. EXEMPLO 2 Derrame pleural volumoso à direita. Tem o sinal clássico da parábola. Não há seio costofrênico na direita, na esquerda tá borrado. Apagamento da silhueta cardíaca por conta do líquido. O coração está mais aumentado do que empurrado. No raio X, não dá pra diferenciar hemotórax de derrame pleural nem pus de líquido citrino. Se fizer uma toracocentese e ver que o líquido é sangue, pode ser um hemotórax. Imagem 1: derrame pleural. Imagem 2: depois da punção de alívio. Lembrar que toda punção faz um pneumo, já que se fura o espaço com jelco 14 (o maior que tem). EXEMPLO 3 Condensação alveolar à direita. Característica de pneumonia redonda, clássica do pneumococo. Derrame à esquerdo (apagamento de seio costofrênico á esquerdo). EXEMPLO 4 Infiltrado intersticial clássico de edema agudo. Sinal da asa de borboleta (pulmão mais branco), as asas saem do hilo. Derrame pleural bilateral. 6 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – Aula 8 *EXTRA: asa de morcego é clássico de pneumonia fúngica. EXEMPLO 5 Aqui tem uma cavitação clássica de tuberculose em lobo superior esquerdo. Se tivesse uma tomografia, essa parte mais densa, reticular, seria o aspecto de árvore em brotamento, uma disseminação broncogênica de conteúdo cavitário. A árvore em brotamento dá para ver muito melhor na tomografia. Nódulos de Ghon de tuberculose é em tuberculose primária, da infância, não tem nessa imagem, e cavitação é a característica de tuberculose secundária, que é a do adulto. Dentro da cavitação tem muita secreção. já que o ambiente intracavitário é um ambiente muito inflamatório, então tem várias células como os macrófagos se unindo em células gigantes de langerhans, comendo bacilo e comendo um parênquima junto, o que gera muita secreção e faz com que o parênquima pulmonar gere muito líquido de inflamação, muito líquido exsudativo, e esse líquido chega uma hora que ele entra na cavidade e transborda os brônquios, que movem esse líquido para os hilos pulmonares e concentra-se mais nos hilos. EXEMPLO 6 Isso aqui é uma atelectasia. Aqui o triângulo é muito grande! Perceba que o mediastino tá mais centralizado ao invés de tá mais pra direita, inclusive ele tem mais coração à direita do que à esquerda. Então mediastino tá mais jogado para a direita, a traqueia está mais desviada para a direita. Isso é uma atelectasia de lobo médio. Quando verem uma consolidação, alguma coisa branca no pulmão, tem que ver se tá repuxando as estruturas mediastinais porque pode ser atelectasia. EXEMPLO 7 Aqui é um tumor. É uma consolidação maior do que 3 centímetros, massa mais periférica. Provavelmente adenocarcinoma. EXEMPLO 8 Aqui é umpneumotórax dos grandes. Ele está com muito ar no pulmão, o pulmão encarcerado e as estruturas todas lançadas por lado contralateral, pulmão esmagado sem conseguir utilizar nada, porque ar não chega. O coração foi todo para esquerdo, esse é o coração mais do lado esquerdo que vocês vão ver a vida de vocês. O diagnóstico de pneumotórax hipertensivo é clínico. Desvio de estruturas ipsilaterais → Atelectasia. Desvio de estruturas contralaterais → massa ou pneumotórax. Lembrar que todo pneumotórax tem uma linha.EXEMPLO 9 Cavitação com nível hidroaéreo - empiema. Normalmente isso fala mais a favor de abscesso do que de tuberculose em si, porque a da tuberculose é mais heterogêneo e o de abscesso é mais homogêneo. A conduta é drenagem e antibiótico. EXEMPLO 10 Infiltrado mais reticular, algumas nodulações. Mais característico de pneumonites e doenças ocupacionais. 7 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – Aula 8 EXEMPLO 11 Imagem 1: derrame pleural extenso. Imagem 2: após drenar. Perceba que sempre que você faz uma toracocentese de alívio, acaba fazendo um pneumotórax também. EXEMPLO 12 Derrame pleural importante a esquerda, mas tem umas coisas a mais, como por exemplo: alargamento de área cardíaca, de mediastino, de traqueia ... possivelmente tem uma massa mediastinal. As principais massas mediastinais são: timoma, tumor de tireoide (bócio mergulhante), teratoma, terrível linfoma e aneurisma de aorta torácica.
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