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11111Lato & Sensu, Belém, v. 4, n. 1, p. 3-5, out, 2003. 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 REABILITAÇÃO PULMONAR E QUALIDADE DE VIDA EM PACIENTES COM DPOC João Evandro Carneiro Martins Neto1 Ridailda de Oliveira Amaral2 1 Educador Físico e Especialista em Fisiologia do Exercício, Preparação Física e Personal Trainer. 2 Monitora da disciplina Fisioterapia nas Enfermidades e Distúrbios Funcionais em Neurologia e Ex-Bolsista de Extensão do Programa de Serviços Especializados da Fisioclínica da UNAMA. RESUMO: O presente artigo propõe a reabilitação pulmonar como uma terapia holística, complexa e multidisciplinar, que proporciona suporte tanto de terapia física quanto emocional, consistindo de uma combinação de exercícios e reeducação, tendo ainda o propósito de alcançar e manter o máximo nível de independência e funcionalidade do indivíduo na comunidade, melhorando a sua qualidade de vida. INTRODUÇÃO Conforme PRYOR & WEBBER (2002), a Doença Pul- monar Obstrutiva Crônica (DPOC) é definida como um con- junto de condições que se carac- teriza pela presença de obstrução ou limitação crônica ao fluxo aé- reo de progressão lenta, persis- tente e irreversível. Por sua vez, a Reabilitação Pulmonar tem sido definida como um programa indi- vidualizado e multidisciplinar que procura devolver ao indivíduo a maior capacidade funcional per- mitida, tendo em vista sua limita- ção pulmonar e situação geral de vida. Ainda segundo os autores acima citados, a DPOC é a quarta principal causa de morte nos Es- tados Unidos da América (EUA), excedida apenas por infarto, cân- cer e doenças cerebrovasculares, enquanto no Brasil, não se conhe- ce a real prevalência. Os dados do Ministério da Saúde estimam que 32% da população geral seja tabagista, sendo que, aproxima- damente 5 a 7% dos tabagistas podem ser portadores de DPOC. Entre os pacientes portadores de DPOC, 50% sofrem de limita- ções em suas atividades como conseqüências de déficits respi- ratórios. O estilo de vida sedentário adotado por estes pacientes, atra- vés da redução das suas ativida- des, podem ser considerados um mecanismo favorecedor da dispnéia. Entretanto, tal sintoma pode ser agravado ainda mais pelo descondicionamento. 1. DEFINIÇÃO, OBJETI- VOS E BENEFÍCIOS DA REABILITAÇÃO PUL- MONAR: BRITO (2002), define a Reabilitação Pulmonar como um programa multidisciplinar e con- tínuo, baseado em um diagnósti- co científico e apurado, envolven- do abordagens terapêuticas, su- porte emocional, educação e recondicionamento físico. De acordo com PRYOR & WEBBER (2002), os princi- pais objetivos da reabilitação pul- monar são: • Maximizar a independência funcional do indivíduo em suas atividades de vida diá- ria (AVD’s); • Avaliar e iniciar, quando apro- priado, o treinamento físico para aumentar a tolerância ao exercício; • Encorajar o gasto de energia de forma eficiente; 22222 Lato& Sensu, Belém, v.4, n.2, p. 6, out, 2003. 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 • Proporcionar sessões educativas a pacientes, fami- liares e outras pessoas envol- vidas em relação ao proces- so da doença, medicação e técnicas terapêuticas; • Reduzir os sintomas e me- lhorar a qualidade de vida dos pacientes portadores de inca- pacidades decorrentes de problemas respiratórios. Estudos evidenciaram como principais benefícios da reabilitação pulmonar a melhoria na qualidade de vida, a redução da ansiedade e depressão, a melhoria na tolerância ao exercí- cio, a redução da dispnéia e ou- tros sintomas associados e a ha- bilidade melhorada para realiza- ção de atividades de vida diária (AVD’s). 2. AVALIAÇÃO PRELIMI- NAR À REABILITA- ÇÃO PULMONAR 2.1 Tolerância ao exercício A avaliação da tolerância ao exercício é essencial no início do programa de reabilitação, vis- to que um dos objetivos da reabi- litação é aumentar a habilidade do indivíduo no desempenho da atividade física. O resultado de um teste de exercício é importante para avaliar o nível de incapaci- dade, identificar a limitação do exercício continuado, ajudar na programação de um regime de treinamento e identificar quais- quer benefícios da reabilitação. Como um exemplo de teste sim- ples, tem-se a caminhada de 6- 12 minutos, pois consiste em rea- lizar passo ao próprio ritmo. 2.2 Avaliação da dispnéia Um dos objetivos da rea- bilitação está em ajudar o indiví- duo a controlar e a reduzir a fal- ta de ar (dispnéia). Inevitavelmen- te, a medida precisa da dispnéia é difícil, assim como a sensação de dor é subjetiva, a magnitude do desconforto é aparente so- mente ao indivíduo. Os mais sim- ples instrumentos de avaliar a dispnéia são a escala análoga vi- sual (FAV) e a escala subjetiva de Borg, sendo que ambas as es- calas são úteis, pois podem ser usadas tanto no repouso, como dados significativos podem ser coletados durante ou imediata- mente após o exercício. 2.3 Avaliação músculo- esquelética Muitos pacientes com disfunções respiratórias apresen- tam fatores limitantes à tolerân- cia ao exercício e às atividades funcionais, como por exemplo, problemas de pouca flexibilidade ou anormalidades da coluna ver- tebral torácica, caixa torácica e articulações esternais. Isso pode ser explicado parcialmente pela má postura, diminuição dos níveis de atividade e diminuição da for- ça dos músculos respiratórios, além do provável avanço da ida- de. 3. COMPONENTES DO EXERCÍCIO EM REA- BILITAÇÃO PULMO- NAR 3.1Efeitos do exercício É através de um programa de reabilitação pulmonar que o círculo vicioso da falta de ar, ina- tividade, perda de condicionamen- to físico, isolamento social e de- pressão pode ser revertido. Figura 1: Circulo vicioso da DPOC e da reabilitação pulmonar Fonte: PRYOR (2002) 33333Lato & Sensu, Belém, v. 4, n. 1, p. 3-5, out, 2003. 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 O exercício estimula, a cur- to prazo, respostas benéficas do sistema cardiovascular, assim como os efeitos metabólicos quando repetidos, que podem pro- duzir uma dessensibilização à dispnéia. Outros mecanismos po- tenciais incluem uma maior co- ordenação neuromuscular e au- mento da confiança (AZEREDO, 2002). 3.2 Prescrição do exercício A base fisiológica da pres- crição do exercício para pacien- tes com DPOC pode ser resumi- da em: especificidade, intensida- de e reversibilidade. Primeira- mente, a especificidade relata a resposta mensurável ao treina-mento do exercício, secundaria- mente, a intensidade do treina- mento tem que ser suficiente para produzir um efeito e, finalmente, caso o programa de exercícios seja descontinuado, ocorrerá o desaparecimento ou a reversão do efeito do treinamento. 3.2.1 Treinamento aeróbio The American College of Sports Medicine (ACMS, 2000) propunha que o treinamento aeróbio deveria ser realizado por 20-30 minutos, três a quatro ve- zes por semana, em uma intensi- dade que correspondesse a, apro- ximadamente, 50% do consumo máximo de oxigênio do indivíduo, se esses efeitos puderem ser ob- servados. Para pacientes com doença respiratória crônica, pode ser possível prescrever exercíci- os aeróbios, mais comumente, a caminhada ou bicicleta. Um pro- grama típico para pacientes gra- vemente incapacitados por suas doenças pode requerer que an- dem por apenas 2-3 minutos a um passo estacionário duas vezes ao dia, enquanto aos pacientes mais capazes pode ser indicado cami- nhar diariamente, a uma veloci- dade apropriada por 10 minutos. Uma vez que o paciente seja capaz de alcançar 20 minu- tos, a freqüência pode ser redu- zida a 5 vezes por semana, como sugere a ACMS (2000). Reco- menda-se ainda que antes de qualquer série de treinamento aeróbio, um período de aqueci- mento é recomendado, a fim de aumentar a taxa metabólica em repouso a um nível apropriado para treinamento. 3.2.2 Exercício de membros superiores Para realizar as atividades de vida diária (AVD’s), uma cer- ta quantidade de força e coorde- nação é necessária. Isso está freqüentemente faltando em pa- cientes com DPOC, pois os mús- culos acessórios, freqüentemente, assistem os músculos da respira- ção. Com isso, pelo desempenho das atividades do braço, esse su- porte está perdido e a carga é forçada de volta para os múscu- los respiratórios e, naturalmente, para o diafragma que, por sua vez, já enfrenta dificuldades. Portan- to, todo exercício do membro su- perior precisa ser combinado com a regulação da respiração, pro- duzindo exalação durante o alon- gamento ou esforço. 3.2.3 Treinamento de força Recentemente, tem sido sugerido que a fadiga dos mús- culos periféricos poderia contri- buir à limitação do exercício A maioria dos estudos de reabilita- ção enfoca o regime de treina- mento da resistência. Um aspec- to interessante desses estudos é que o programa de exercícios pode ser repetido em casa com facilidade, não requerendo equi- pamento sofisticado. Os exercí- cios incorporados no programa são simples e incluem, por exem- plo, passar de sentado para em pé, andando no lugar, exercícios de braços completando círculos e exercícios para o quadríceps. 3.2.4 Treinamento muscular ventilatório É confiável que o treina- mento muscular respiratório re- sulte na melhoria da função, e dessa maneira, diminua o esfor- ço da respiração, conseqüente- mente, reduzindo a dispnéia. De forma similar ao treinamento con- vencional, o treinamento muscu- lar respiratório pode ser dividido em treinamento de força e resis- tência. 3.3 Componente educacional Algumas formas de reedu- cação da respiração, aprender a controlar a respiração e ativida- 44444 Lato& Sensu, Belém, v.4, n.2, p. 6, out, 2003. 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 12345678901234567890123456789012123456 des de ritmo do passo são pontos vitais de qualquer programa de sucesso. Ensinar ao paciente exa- lar no esforço, em flexão e ativi- dades de alongamento propicia- rão a habilidade do mesmo tanto para o exercício quanto para realizar as tarefas funcionais. Muitos pacientes necessi- tarão de auxílio em casa, na as- sistência ao banho e atividades gerais de autocuidados. É essen- cial que a terapia por drogas seja otimizada pelo paciente, antes de entrar na reabilitação pulmonar. Entretanto, sessões educacionais aos pacientes sobre medicação, o uso de inaladores, nebulizadores podem ser úteis. O conselho sobre a alimen- tação saudável e de como se manter bem nutrido durante os turnos de extrema falta de ar e infecção são importantes. É fundamental ao sucesso de qualquer programa que os pa- cientes tenham acesso a um gru- po de apoio ou a alguma forma de manutenção da terapia segui- da ao encerramento do progra- ma. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os profissionais envolvidos no processo de reabilitação ne- cessitam garantir aos pacientes todas as informações e recursos que têm disponíveis para assistí- los na maximização de suas fun- ções e atividades. É necessária uma orientação personalizada, de assistência integrada e que incor- pore o suporte físico, emocional e educacional. REFERÊNCIAS BIBLIO- GRÁFICAS ACSM. Teste de Esforço e Prescrição de Exercício. São Paulo: Revinter, 2000. AZEREDO, Carlos Alberto Cae- tano. Fisioterapia Respiratória Moderna. 4. ed. São Paulo: Manole, 2002. ____________. Fisioterapia Respiratória no Hospital Ge- ral. São Paulo: Manole, 2000. _____. POLYCARPO, Monclar R.; QUEIROZ, Alessandra N. Manual Prático de Fisiotera- pia Respiratória. São Paulo: Manole, 2000. BEVILACQUA, Fernando. Fisiopatologia Clínica. 5. ed. São Paulo: Atheneu, 1998. COSTA, Dirceu. Fisioterap0ia Respiratória Básica. Rio de Janeiro: Atheneu, 1999. DOUGLAS, Carlos R. 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