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Resenha crítica "O Nome da Rosa"

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO
ESCOLA DE CIÊNCIAS JURÍDICAS
Disciplina: História do Direito
Aluna: Maria Eduarda Leite Santos
Resenha crítica do Filme "O nome da Rosa"
O contexto do filme se passa na idade média, onde os homens eram submetidos ao poder da igreja católica. Na época, a sociedade era feudal, as pessoas eram divididas em três categorias: clero, nobreza e camponeses (servos), onde o clero exercia um poder de dominância perante a população geral. Somente membros do clero tinham acesso ao conhecimento, livros e outros conteúdos de cunho intelectual, portanto, a população era facilmente manipulável. O mecanismo de esconder o conhecimento era a “arma” da igreja católica para manter vivo o seu domínio. 
A trama de “O Nome da Rosa” gira em torno da visita do frei William e seu noviço Adso aos monges beneditinos. Antes da chegada de William, havia acontecido a morte misteriosa de um dos monges que moravam neste mosteiro, pelas circunstâncias da época, em que o misticismo imperava sob as crenças da religião e da explicação divina para a existência humana. Por isso, dentro do mosteiro, acreditava-se que a morte teria acontecido por uma presença demoníaca no local. Pouco tempo depois mais mortes acabam acontecendo no mosteiro de forma igualmente enigmática. Mas, mesmo assim, o frei William, por ser um homem que não se deixava cegar pelas ideias de algo sobrenatural acometendo o mosteiro, passa a investigar junto a Adso possíveis motivos para as mortes recorrentes e enigmáticas.
Após a terceira morte, o frei encontra vestígios no cadáver que se assemelhavam aos outros dois falecimentos anteriores, sempre dedos e línguas manchadas de preto. Paralelamente a isso, o frei havia encontrado uma possível biblioteca oculta a qual os monges mais antigos não permitiam acesso por dizerem que seriam livros sagrados e proibidos. Com isso, William passou a juntar as pontas soltas e conseguiu achar nessas tais obras secretas um possível motivo para as mortes, pois, não coincidentemente, os falecidos teriam tido acesso ao local proibido pouco antes de suas mortes.
Percebeu-se então, que as páginas dos livros proibidos possuíam uma espécie de veneno, o qual era posto ali para impedir que quem os lesse, divulgasse o seu conteúdo. William e Adso viram então o monge mais antigo do mosteiro com estas obras em mãos e questionaram o porquê de serem tão bem escondidas. Encurralado, ele afirma que são obras de Aristóteles, que eram comédias das quais poderiam despertar a falta do temor a Deus pela sociedade, podendo então, enfraquecer a soberania da Igreja naquela época.
Ao final da obra, após um incidente, houve um incêndio no mosteiro, poucas obras conseguiram ser salvas. Com tudo que foi visto, podemos ligar a obra ao contexto histórico vivido naquela época, em que o domínio do clero dominava a sociedade, pode-se observar vários aspectos ligados à história do direito, tendo como exemplo a predominância da doutrina católica. A igreja possuía um caráter universal, com as missas e ensinamentos oralizados toda a população poderia ter acesso aos seus ensinamentos, tornando-se capaz de exercer soberania perante o povo e manipulando informações quando necessário para manter-se sempre no topo da relação de poder.
Acerca da questão do conhecimento, como a sociedade era dividida em 3 estamentos no qual o clero ocupava o topo da hierarquia, eles possuíam acesso a todo tipo de conhecimento, inclusive, assim como o filme, os mosteiros e igrejas costumavam ter uma vasta biblioteca onde apenas membros do clero podiam ter acesso. Detendo para si todo o conhecimento, ficava cada vez mais fácil manter a população nas rédeas da igreja. 
O poder clerical era tão supremo que o direito da época era aplicado pelos líderes católicos. Assim como visto na obra, existia a inquisição, em que membros do clero julgavam diante das leis “divinas” a população e aplicavam uma pena pelos seus pecados. Muitas pessoas foram mortas na inquisição por irem contra os ensinamentos católicos, portanto, além da falta de acesso a doutrinas contrárias ou dogmas católicos, o medo da coerção do poder canônico afastava ainda mais a disseminação de ideais opostos. Portanto, se torna válido tomar como referência ao texto O ponto e a linha de Paolo Grossi, “O Estado não só pretende criar o direito, mas também se afirmar como o único sujeito produtor do mesmo”.
A dominação estatal da Igreja naquele contexto não girava apenas em torno da detenção do conhecimento. a instituição católica usava de seus dogmas para extorquir a povo. em pouco tempo, a sociedade feudal conseguiu deixar o clero com um patrimônio inestimável com acúmulo de bens doados pelos aristocratas da época, impostos altíssimos e dízimo pago pelos fiéis. Isso pôde ser visto ao início do filme, visto que a motivação por trás da visita do frei ao mosteiro foi para participar de uma espécie de júri para dar destino a parte dos bens da igreja. A concentração do poder administrativo junto ao domínio do conhecimento tornou a igreja católica cada vez mais forte.
O ideal da época se apoiava na filosofia medieval, o principal nome da época era o de Santo Agostinho, o qual defendia a fé como a única forma de alcançar a felicidade e o místico como explicação para o universo. Na obra, pode-se perceber uma certa aversão dos membros do clero às obras de Aristóteles, o medo em relação a elas serem lidas se justificava por ele ser um filósofo que defendia o conhecimento lógico, diferente do clero, que prezava pelo místico. O acesso à biblioteca era restrito, porque os escritos ali presentes poderiam pôr um fim no monopólio do poder da Igreja, isso impedia que o conhecimento fosse disseminado ao povo para mantê-los sempre fiéis aos dogmas pregados pela Igreja.
Existia na investigação do Frei William, uma associação entre o uso da racionalidade e a cegueira dos monges que moravam no mosteiro em relação à religião e a explicações sobrenaturais. À medida que o frei procurava justificativas lógicas na morte ocorrida, os clérigos acreditavam que tudo foi fruto de castigo divino, que acometeu a morte do monge inicialmente morto, pela curiosidade que ele teve de ir atrás dos livros que a igreja proibia. Sendo assim, observa-se que o filme tenta passar a imagem da ciência como o meio de levar à verdade e a religião como uma rota da irracionalidade.
A todo momento, o filme critica tanto o combate da razão versus sobrenatural quanto a supremacia da igreja e seu poder exacerbado perante a sociedade. Percebe-se o frei como alguém que preferia pensar racionalmente e buscar na razão o sentido para os acontecimentos no mosteiro do que apenas apoiar-se nos dogmas da doutrina cristã que pregava apenas o lado mítico. Pode-se perceber que os pensamentos dos outros monges aparentam ser jocosos aos nossos olhos por não terem fundamento algum quando comparados às possíveis explicações lógicas. A obra brinca com essas questões nos fazendo passear pela era medieval mostrando claramente uma linha entre o monopólio do poder da igreja e a “cegueira” da população (e até mesmo de alguns dos membros do clero) para a razão, tornando a igreja, por muitos anos, uma instituição tirana, que usava do poder para se engrandecer e tomar conta das leis, do poder e da administração através dos seus ensinamentos. A obra, sem sombra de dúvidas, tece uma crítica ao sistema da época nos mostrando que a razão e o conhecimento sempre serão o mecanismo mais poderoso para livrar-nos da ignorância e nos dar autonomia para fugir de sistemas autoritários como os vividos na idade média.

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