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Identidade lingua e cultura 1

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Identidade, Língua e Cultura - Unidade 1 - Conceitos e Pós Modernidade 
 
 
 
Identidade, Língua e 
Cultura 
 
 
Unidade 1 - Conceitos e Pós 
Modernidade 
 
 
 
Carolina Berbet 
 
 Identidade, Língua e Cultura - Unidade 1 - Conceitos e Pós Modernidade 
 
 
Introdução 
O indivíduo, desde o seu nascimento, é apresentado e inserido em uma 
língua, e assim inicia o processo de interação com os seus semelhantes. Dessa 
forma, seria a língua um instrumento de significação social do sujeito, fazendo-o 
conhecer ideologias, culturas e identidades? 
Sabemos que o reconhecimento de um povo pode ocorrer por meio de 
suas características físicas, linguísticas ou culturais. Será que a cultura, então, 
juntamente com a manifestação da língua, é capaz de expressar a tradição e a 
identidade de um povo? Quais são os conceitos de identidade, língua e cultura? 
Seriam elementos em constante transformação e influência da pós-
modernidade? 
Nesta unidade, compreenderemos o que identidade, língua e cultura 
significam na sociedade e quais as influências da pós-modernidade sobre esses 
princípios. 
Boa leitura! 
1. Definições de Identidade, Língua e Cultura 
A identidade é definida como a qualidade do que é idêntico, ou seja, é 
formada por características capazes de individualizar uma pessoa e de promover 
a identificação de um grupo, por meio dos seus elementos unificadores, ou seja, 
os ritos, crenças, mitos, símbolos, tradições e histórias protagonizadas por esse 
coletivo. 
Por outro lado, a língua, que é um instrumento utilizado pelo ser humano 
para se expor e conectar com o exterior e seus demais semelhantes, faz parte dos 
elementos característicos de um grupo e pode estar inserida na composição da 
identificação coletiva. 
A cultura, por sua vez, pode ser definida como um conjunto de práticas, 
costumes e comportamentos repassados por gerações de uma sociedade 
específica. 
 Identidade, Língua e Cultura - Unidade 1 - Conceitos e Pós Modernidade 
 
1.1. A língua e seus significados 
Sausurre, linguista e filósofo suíço, compreende a língua como um fato 
social, a qual representa uma coletividade e sustenta as interações existentes em 
uma sociedade. O linguista realiza uma comparação entre língua e sistema 
financeiro, de modo que, no ambiente das finanças, as notas têm suas 
importâncias e valores fixados devido à comparação com as demais notas, ou 
seja, o valor de R$2,00 é perceptível ao compará-lo com R$10,00 e os demais 
valores existentes. Sendo assim, seguindo a mesma linha de raciocínio, a língua 
também funcionaria como um sistema, em que cada palavra tem seu valor e 
atribuição definidos pela atuação em conjunto com os demais vocábulos, de 
maneira que a significação e o entendimento se dá pela compreensão do 
conjunto linguístico como um todo. 
Pela visão de Mário Perini, linguista brasileiro, a língua funciona como um 
sistema existente em nosso cérebro, que é capaz de formular um código que 
represente os nossos sentidos e pensamentos. A língua seria o resultado de 
fatores técnicos, como formação de palavras, regras de pronúncia e significados; 
fatores léxicos, que compreendem as propriedades gramaticais das palavras; e 
fatores idiomáticos, que englobam certos ditados e expressões pertinentes a 
determinada língua. Dessa forma, a língua utilizada pelo indivíduo, representaria 
seus desejos e expressões, obedecendo a certa sequência lógica e metodológica. 
A língua é, portanto, considerada um instrumento de pensamento e 
comunicação, utilizado para que o indivíduo externe suas percepções e seja capaz 
de construir interações, por meio de um sistema complexo de construção e 
manifestação lógica do que se deseja expressar. Entretanto, a complicação não 
se faz perceptível, já que a língua é naturalmente produzida pelo cérebro e pelas 
relações construídas com os demais sujeitos, o que faz com que o indivíduo, 
desde o seu nascimento, tenha predisposição a utilizá-la. 
Ademais, a língua pode ser considerada como uma maneira de 
exteriorização das expressões de um povo, que utiliza um código em comum para 
manifestar suas ideologias e reflexões. 
1.2. Abordagens sobre cultura ao longo da história 
Na Grécia Antiga, nos primórdios da Civilização Ocidental, a cultura era 
conhecida como o cultivo do espírito humano, de modo que era considerada 
 Identidade, Língua e Cultura - Unidade 1 - Conceitos e Pós Modernidade 
 
como a manifestação dos valores morais transmitidos por meio da educação, ou 
seja, os costumes repassados e ensinados pelas gerações a formavam e 
buscavam a construção da personalidade ideal do homem. Embora a sociedade 
grega estivesse bastante vinculada a atividades nos campos da filosofia, escultura, 
artes, jogos e religião, o conceito de cultura era incorporado ao vocábulo “areté”, 
que tinha que significava virtude. 
 
 
Figura 1 - Grécia Antiga. Fonte: Incrível História. 
Apesar da antiguidade do termo cultura, o seu estudo passou a ter 
relevância somente quando a Antropologia obteve status de área do 
conhecimento, por volta do século XVIII. Nesse período, os antropólogos 
buscaram compreender e interpretar as ocorrências da cultura. O novo âmbito 
científico focou suas atuações na análise de temas sociais, como o trabalho, a 
escola, as relações familiares, a mobilidade social, as atividades desempenhadas 
nos tempos livres, as festas, os desportos, etc. A antropologia teve como objetivo 
o estudo dos povos primitivos e seus costumes, engajada em registrar o máximo 
possível das tradições conhecidas e existentes. 
 Identidade, Língua e Cultura - Unidade 1 - Conceitos e Pós Modernidade 
 
Edward Tylor, um dos pioneiros no campo antropológico, conceitua a 
cultura como a representação dos hábitos e das capacidades adquiridas por 
indivíduos durante as suas convivências em sociedade e acreditava em um 
progresso cultural evolucionista, de maneira que as sociedades primitivas 
precisariam evoluir culturalmente para chegar ao nível das sociedades civilizadas. 
Em contrapartida ao evolucionismo defendido por Tylor, o antropólogo 
americano Franz Boas procura dar outro sentido a cultura, tendo em sua atuação 
a presença da etnografia, ou seja, da observação direta das sociedades primitivas. 
Franz apresenta reflexões sobre a diferenciação dos grupos humanos e defende, 
a partir de suas observações, que as diferenças são causadas por características 
culturais e não raciais ou físicas, contrariando o pensamento comum. Para ele, 
não existiria uma cultura universal, que representasse a espécie humana, mas 
uma pluralidade de culturas, que manifestariam as particularidades de cada 
povo. 
Clifford Geertz, por sua vez, apresenta-se como um antropólogo do século 
XX e visualiza a cultura como uma condição de existência para os seres humanos, 
de maneira que se manifesta como um procedimento contínuo, capaz de fornecer 
valor e sentido às ações humanas. 
Na contemporaneidade, a cultura pode assumir três concepções diversas. 
Primeiramente, pode ser definida como um sistema de significados 
produzidos pelo homem, por meio das suas relações sociais, ou seja, sua forma 
de viver, pensar e agir, manifesta em símbolos, crenças, valores, pensamentos e 
comportamentos. 
A segunda visão sobre o termo é mais restritiva, podendo ser chamada de 
“Economia da Cultura”, pois acredita que a cultura se relaciona com o campo das 
artes, da atividade intelectual, do entretenimento, estando associada a atividades 
econômicas. Além das atividades culturais tradicionais, como dança, artes, 
literatura, teatro, música, artesanato e arquitetura, teríamos também a 
propaganda, moda, aparelhos eletrônicos, esportes e o turismo. Dessa forma, as 
produções culturais seguiriam roteiros com pensamentos norteadores e se 
manifestariam de maneiras específicas, dotadas de planejamentos criados para 
agradar certo tipo de público. Neste sentido, a cultura auxiliano desenvolvimento 
dos povos e na geração de emprego e renda para os componentes das 
sociedades. 
 Identidade, Língua e Cultura - Unidade 1 - Conceitos e Pós Modernidade 
 
Por fim, uma terceira concepção, que estaria vinculada ao desenvolvimento 
social, de maneira que a cultura atuaria com intuito sócio-educativo. Sendo assim, 
as atividades culturais estariam voltadas para o desenvolvimento de senso crítico, 
estimulação da cidadania e da atuação política, incentivo ao interesse nos 
estudos, descoberta de habilidades e enfrentamento de problemas sociais. Desse 
modo, a utilização de ferramentas culturais poderia auxiliar até mesmo na 
ressocialização de pessoas e na ocorrência de doenças, sendo considerada uma 
técnica para reduzir problemas comuns ao campo social. 
Como podemos perceber, existem diversas abordagens e não há consenso 
na definição do termo cultura, o qual possui uma atuação ampla, embora seja 
comum associá-lo a um modo de vida de um grupo específico, que se manifesta 
por meio da história, tradição e costume de uma sociedade organizada, que 
possui crenças, valores, instituições e vivências em comum. 
2. Cultura-mundo 
Na visão do filósofo Gilles Lipovetsky, os tempos atuais está representado 
por rupturas e reconstruções relacionadas à cultura, de maneira que este 
complexo humano, em sua visão tradicional, cede lugar a uma “cultura-mundo”, 
que está em constante expansão. É uma cultura global, que tem modificado a 
relação da humanidade consigo mesma e com o seu entorno. As estruturas 
sociais, que existiram por séculos, garantiam uma segurança emocional aos 
indivíduos, mesmo que reduzissem o espaço das liberdades e atuações 
individuais, entretanto, atualmente, têm se transformado. As regras atuais são 
mais flexíveis e dinâmicas, exigindo que o seres humanos se adaptem de forma 
rápida às mudanças. 
A cultura-mundo, resultado de um panorama globalizado, com uso da 
tecnociência, das mídias, do consumo em massa e do excesso de informação, traz 
novos problemas globais, como preocupações ecológicas, crises econômicas, 
terrorismos, fenômenos migratórios, além dos distúrbios nos indivíduos, como 
crises de identidade e de personalidade. 
2.1. Unificação e desterritorialização da cultura 
Desde os primórdios da humanidade, podemos estudar e perceber 
características específicas das sociedades existentes, por exemplo, aquelas 
classificadas como extrativistas, agrícolas, caçadoras, guerreiras, comerciantes, 
 Identidade, Língua e Cultura - Unidade 1 - Conceitos e Pós Modernidade 
 
colonizadoras. Dessa forma, cada uma dessas sociedades apresentavam uma 
cultura que se conectava com o seu modo de viver e se comportar perante o 
mundo. 
O mundo atual é formado por sociedades com culturas distintas, civilizadas 
e formadas de diferentes maneiras. O processo de construção de uma civilização 
é longo e se expressa por meio da conservação das tradições, da transmissão de 
costumes e conhecimentos e sendo regulado pela própria cultura existente. 
Entretanto, atualmente, cada vez mais os povos e as culturas têm se aproximado 
e se assemelhado. 
O contato entre diferentes culturas e povos, deu-se principalmente após a 
Segunda Guerra Mundial, em que o mundo estava polarizado e dividido em 
barreiras nacionais. Nesse período, houve a fomentação da disseminação da 
informação, buscando romper os entraves anteriormente existentes, 
principalmente relativos aos campos sociais, políticos, culturais e econômicos. É 
perceptível que, ao fim da Guerra Fria, os temas culturais, sobre identidade e 
diferenças sociais tem se tornado presentes em diversos meios, não somente 
acadêmicos. 
A globalização ocorrida pós-Guerra Fria representou uma conexão entre os 
países, evidenciada pelo destaque do capital e do mercado. No setor econômico, 
houve certa diminuição da supremacia dos estados e da condução que alguns 
faziam sobre os rumos da economia mundial. Já no âmbito cultural, há certa 
perda de identidade e anulação de aspectos culturais, visto que indivíduos de 
diferentes locais têm desenvolvido gostos semelhantes e alcançado os mesmos 
tipos de produtos e modos de vida. 
O mundo globalizado pressupõe a falta de fronteiras, produzindo a 
sensação de desterritorialização, de maneira que os indivíduos perdem as 
referências nacionais e passam a ter contato com costumes, produtos e estilos de 
vida internacionais. Dessa maneira, o sujeito perde a noção de pertencimento a 
um território, em que há um elo de identificação, seja político, social ou cultural e 
passa a compartilhar com indivíduos de diversos locais as suas crenças, 
convicções, reflexões, tradições e gostos. 
A sociedade pós-moderna é marcada pela desterritorialização, evidenciada 
pela ocorrência da mobilidade, dos amplos fluxos de informação, produtos e 
pessoas, do incentivo ao livre comércio, da descentralização de empresas, da 
 Identidade, Língua e Cultura - Unidade 1 - Conceitos e Pós Modernidade 
 
disseminação de produtos pelo mundo, do desenraizamento nacional dos 
indivíduos e da junção de diferentes matrizes culturais. 
O hibridismo cultural é reflexo do diálogo entre culturas, o qual tem as 
tornado cada vez mais mescladas e heterogêneas. Dessa forma, por meio do 
encurtamento das distâncias e da difusão dos meios de comunicação em escala 
global, a conexão entre as pessoas tem se fortificado, além de uma intensa 
ocorrência da uniformização do consumo. 
 
Figura 2 - O fenômeno da globalização. Fonte: Educação Globo. 
3. Hipermodernidade 
O filósofo francês Gilles Lipovetsky criou o termo “hipermodernidade” para 
se referir ao momento atual da sociedade humana. Para ele, os tempos 
hipermodernos, em que vivemos, são caracterizados pela radicalização de 
valores. Em sua visão, o homem hipermoderno vive intensamente o presente, 
mas possui grande preocupação com o futuro, pois acredita não possuir garantias 
sobre nada. Portanto, o indivíduo hipermoderno busca atuar em diversas frentes 
para auxiliar na construção de um bom futuro, o que gera a escassez de tempo 
para realização de desejos atuais. 
3.1. Hipercapitalismo e hipertecnicização 
Gilles estuda a expansão da cultura ocidental, que, segundo ele, tem 
significado o fim da heterogeneidade da cultura no mundo. Dessa forma, as 
 Identidade, Língua e Cultura - Unidade 1 - Conceitos e Pós Modernidade 
 
culturas têm deixado de ser múltiplas e seguido certos padrões de consumo. O 
homem tem sido afetado pelas mudanças na cultura, as quais têm influenciado 
na forma de agir consigo mesmo e com o seu entorno, visto que o indivíduo, 
atualmente, não consegue se separar do mundo e é frequentemente afetado por 
ele. 
O filósofo acredita que a humanidade passou por algumas etapas 
evolutivas. Inicialmente, as relações sociais estavam restritas à família ou ao 
grupo social ao qual os indivíduos pertenciam; e essa cultura, repassada de 
geração em geração, não deixava espaço para o individualismo. Posteriormente, 
as interações foram maximizadas, por meio do surgimento das democracias 
modernas, da substituição do lugar de destaque da religião pela ciência e da 
evidência da racionalidade, além da promoção de artes vistas como “comerciais”, 
as quais buscavam atender aos interesses do público, destacando certa influência 
do capitalismo. No período atual, denominado hipermodernidade, há o 
individualismo exacerbado, com uma constante busca pela liberdade, igualdade, 
informação e conexão. Entretanto, há também a generalização dos modos de 
vida. Segundo Gilles, as informações em excesso e as ofertas semelhantes, que 
podem ser encontradas em todo o mundo, como tipos de comida, música, roupa 
e acessórios, têm gerado certa desorientação na sociedade. 
Há pouco controle no mercado atual, o qual é reflexo do hipercapitalismo, 
marcado pelo livre comércio e pela criação de grandes blocos econômicos, 
integrando regiões que antigamente nãoeram participantes ativos da economia 
mundial. Dessa forma, há uma instabilidade financeira que reflete na insegurança 
pessoal dos indivíduos, os quais perderam os antigos mecanismos regulatórios e 
de proteção social. O hipercapitalismo, além de influenciar no ambiente 
econômico, tem atuado livremente no campo cultural, a partir do momento em 
que o excesso de informação está diretamente conectado ao indivíduo e impacta 
nas suas visões sobre gostos pessoais, valores, relacionamentos, trabalho, artes, 
educação, etc. 
O ambiente econômico tem se apoiado na tecnociência, o qual produz um 
considerável aumento de riqueza para os países envolvidos, mas também gera 
novos problemas ao mundo, como a ocorrência do desperdício e de graves 
mudanças e necessidades ecológicas. O indivíduo que vive na era do 
individualismo, marcado pela necessidade de satisfação imediata, pelo egoísmo 
 Identidade, Língua e Cultura - Unidade 1 - Conceitos e Pós Modernidade 
 
e pela exigência de rapidez não consegue lidar com os novos problemas 
mundiais, o que gera certa insegurança quanto ao futuro. 
3.2. A cultura individualista 
O individualismo característico do período atual e objeto de estudo do 
filósofo Gilles, seria resultado de acontecimentos sociais, como duas revoluções 
individualistas, que moldaram e culminaram no modo de vida que presenciamos 
no presente. 
A primeira revolução individualista teria sido fruto do Iluminismo, que é 
denominado como um movimento cultural, desenvolvido na Inglaterra, Holanda 
e França, nos séculos XVII e XVIII. Nesse período, ocorreu grande 
desenvolvimento intelectual, de forma que as reflexões eram difundidas pelos 
filósofos e economistas, que defendiam conceitos de liberdade política e 
econômica. Sendo assim, o individualismo foi divulgado por meio dos ideais de 
liberdade, que pregavam que o homem deveria ser um cidadão livre e autônomo 
e não apenas parte integrante do todo social. A influência política do Iluminismo, 
que resultou na Revolução Francesa, a qual consolidou os ideais de igualdade, 
liberdade e fraternidade, é um exemplo da construção de um individualismo de 
singularidade, onde o indivíduo deveria se portar como um ser racional e agir 
conforme os seus pensamentos e conhecimentos, destoando da política feita à 
época, em que os eleitores eram manipulados pelos governantes e pelas 
instituições. 
 
 Identidade, Língua e Cultura - Unidade 1 - Conceitos e Pós Modernidade 
 
 
Figura 3 - Iluminismo. Fonte: Colégio Web. 
A segunda revolução individualista, segundo Gilles, ocorreu por meio do 
ideário romântico do século XIX. O Romantismo, movimento artístico, político e 
filosófico surgiu na Europa e se difundiu pelo mundo, atuando de forma contrária 
a racionalidade do Iluminismo, mas explorando o romantismo, o lirismo, a 
emoção e a subjetividade. A narrativa romântica era focada no “eu”, de maneira 
que o indivíduo era o centro das atenções do universo e seus dramas, ideais e 
desejos eram foco de concentração da época. Neste período, a defesa era de que 
o indivíduo não deveria focar apenas na sua liberdade, como na primeira 
revolução, mas na sua unicidade, ou seja, naquilo que o faz ser único, culminando 
em um individualismo que defende o ser como particular e insubstituível. Devido 
à ênfase que a arte romântica dava ao imaginário, valorizando a intuição, o 
instinto e a emoção, o sujeito romântico era altamente subjetivo e pessoal, 
reforçando a ideia do individualismo. 
 
 Identidade, Língua e Cultura - Unidade 1 - Conceitos e Pós Modernidade 
 
 
Figura 4 - "A balsa da Medusa", de Théodore Gericault, representando a ênfase que a 
arte romântica dava ao imaginário. Fonte: Significados. 
Já o individualismo contemporâneo, resultado das duas revoluções 
apresentadas, é representado por um indivíduo focado em si mesmo, na sua 
própria subjetividade. Dessa forma, segundo Gilles, surgem os tempos 
hipermodernos e o sujeito hipermoderno, que deseja viver intensamente o 
presente, alcançando seus objetivos e desejos com muita rapidez, consciente da 
liberdade e autonomia que possui. 
Uma das grandes características da hipermodernidade destacada por 
Gilles é a presença de uma cultura individualista, de maneira que o indivíduo não 
é orientado e regulado por tradições, mas pode viver da forma que prefere, 
tendendo ao individualismo. Na sociedade atual, o homem não se sente mais 
obrigado a integrar um grupo, podendo viver de forma solitária, o que muitas 
vezes, configura um fardo, pois precisa construir seu caminho sozinho. O filósofo 
acredita que, quanto mais liberdade o ser humano tem, mais frágeis são suas 
relações sociais. Nesse sentido, o momento é marcado por excessos e pela busca 
efêmera de realização dos desejos pessoais, com comportamentos narcisistas. 
3.3. O hiperconsumismo 
Gilles também menciona sobre o hiperconsumismo, que é característico 
das sociedades hipermodernas. O filósofo acredita que o movimento consumista 
 Identidade, Língua e Cultura - Unidade 1 - Conceitos e Pós Modernidade 
 
é resultado de alguns fatores. O primeiro deles seria o individualismo, que faz 
com que o indivíduo hipermoderno busque incessantemente saciar suas 
vontades particulares e obter prazeres por meio daquilo que consome. 
Outro fator influenciador seria a passagem do capitalismo de produção 
para uma economia de consumo, segundo o filósofo, visto que o consumidor não 
compra apenas aquilo que precisa, mas o que o atrai e seduz. Cada vez mais, as 
marcas buscam lançar produtos e experiências que não atendam somente às 
necessidades humanas, mas que gerem sensações de felicidade aos indivíduos, 
com impactos positivos, relaxantes, motivadores, afetivos. Tudo isso alinhado a 
uma comunicação de massa, que influencia no comportamento do consumidor e 
que faz com que o desejo de obter o produto se amplifique. Gilles acredita que 
os consumidores hipermodernos não buscam o consumo como forma de 
sobressair socialmente, ou seja, de destaque frente ao outro, mas como uma 
maneira de obter uma maior qualidade de vida. Os produtos não são criados para 
gerar sedução nos consumidores, mas para suprir um desejo de ser seduzido já 
existente. É a era do consumo individualista. 
O filósofo menciona também sobre a mudança perceptível na organização 
da sociedade que, anteriormente, tinha seu comportamento definido por 
algumas regras sociais, valorizando a disciplina, o que atualmente deu lugar a 
liberdade e a vontade de usufruir daquilo que está em alta, ou seja, do que tem 
se tornado “moda”. 
Você quer ver? O filme “Clube da Luta”, de 1999, dirigido por David Fincher, é 
aclamado pelos críticos e pelo público. O seu enredo destaca a história de um 
homem solitário, focado no trabalho, que passa o seu tempo livre consumindo 
produtos caros, numa tentativa de preencher o vazio que possui. É um exemplo 
interessante do modo de vida da sociedade hipermoderna. 
 
4. O mundo em rede e a identidade cultural 
O mundo em rede ou o mundo pós-moderno é marcado por todas as 
características apresentadas anteriormente: a cultura-mundo, a 
 Identidade, Língua e Cultura - Unidade 1 - Conceitos e Pós Modernidade 
 
hipermodernidade, o capitalismo exacerbado, o hiperconsumismo e também por 
transformações linguísticas e ideológicas, além de debates sobre a existência ou 
a anulação de identidades culturais. 
Para Stuart Hall, sociólogo jamaicano, a concepção de um indivíduo dotado 
de uma identidade fixa e única deu lugar a um sujeito com múltiplas identidades. 
Embora as culturas nacionais impactem na formação da identidade cultural, o 
descentramento do modo de viver humano e o hibridismo cultural têm 
influenciado na formação e no aparecimento de sujeitos com identidades 
variáveis. 
4.1. As três concepções de identidade 
Stuart Hall, em seus estudos, define três concepções de identidade do ser 
humano: o sujeito do Iluminismo,o sujeito sociológico e o sujeito pós-moderno. 
O sujeito do Iluminismo seria o indivíduo dotado de pensamento racional, 
que foi formado também pelo movimento Humanista, o qual priorizava o caráter 
individual do ser humano e o colocava como centro do universo, ou seja, 
valorizava o pensamento antropocêntrico. 
O sujeito sociológico, que surge na transição para o Renascimento, e a sua 
identidade é formada a partir da interação do indivíduo com a sociedade, já que 
o seu núcleo interior passa a sofrer modificações devido ao contato com outros 
indivíduos e identidades. 
O sujeito pós-moderno é aquele que passa pelo processo de 
descentramento do indivíduo, causado pela ocorrência da globalização, que 
fomentou o fluxo de pessoas, produtos e culturas. Dessa forma, as múltiplas 
facetas existentes e divulgadas aos indivíduos pelos meios de comunicação 
globais, além da possibilidade de um contato intenso com outras identidades 
culturais, permitem que haja maior superficialidade existente no sujeito e que sua 
identidade seja mais flexível por meio da absorção de outras identidades 
culturais. 
O sujeito do iluminismo e o sujeito sociológico possuíam identidades fixas 
e construídas por meio das culturas e identidades nacionais, as quais não estão 
amplamente presentes no contexto do sujeito pós-moderno, que não se sente 
fixado em identidades específicas. 
 Identidade, Língua e Cultura - Unidade 1 - Conceitos e Pós Modernidade 
 
A mudança do sujeito sociológico para o pós-moderno é explicitada por 
Hall, de maneira que o descentramento do sujeito ocorre devido a cinco 
acontecimentos: as tradições do pensamento marxista, que geram 
questionamentos sobre a posição do indivíduo na sociedade; o inconsciente 
descoberto por Freud, o qual defende a mobilidade da identidade através dos 
processos conscientes e inconscientes; a atuação de Saussure, linguista que 
defende a teoria de que não somos autores daquilo que afirmamos, mas somos 
influenciados por tudo aquilo que vem antes e depois das nossas falas e 
pensamentos; o trabalho de Michel Foucault sobre a importância do poder 
disciplinar, que influencia no surgimento das instituições coletivas da pós-
modernidade; e os movimentos que emergiram nos anos 60, como feminismo, 
que produz reflexões sobre as questões de gênero. Para Stuart, essas cinco 
ocorrências influenciaram na descentralização do sujeito e de sua identidade. 
4.2. A prática linguístico-cultural 
O relacionamento estabelecido entre múltiplas identidades, a conexão 
entre diferentes culturas, o mundo globalizado na economia, tecnologia, cultura, 
política, que tem aproximado cada vez mais diferentes culturas e línguas 
culminam na exigência de um novo comportamento do sujeito pós-moderno. 
Nesse sentido, faz-se necessário assumir a identidade de cidadão mundializado e 
buscar por novas competências linguísticas para que faça parte do acelerado 
processo de globalização do conhecimento. 
Síntese 
Nesta unidade estudamos e entendemos os conceitos de identidade, 
língua e cultura e como as mudanças advindas do mundo globalizado, que pode 
ser chamado também de mundo pós-moderno, têm influenciado nos modos de 
vida dos sujeitos e de suas culturas e identidades. 
Percebemos que o mundo pós-moderno tem aproximado indivíduos de 
diferentes realidades e tem feito com que adquiram costumes em comum, 
influenciados pelo hipercapitalismo e pela comunicação em massa. 
Portanto, compreendemos: 
● As diferentes concepções sobre o que a cultura representa; 
 Identidade, Língua e Cultura - Unidade 1 - Conceitos e Pós Modernidade 
 
● A existência de uma cultura-mundo que tem se sobreposto às 
culturas tradicionais; 
● Os efeitos da hipermodernidade nos comportamentos e nas 
relações do sujeito pós-moderno; 
● O fenômeno do hiperconsumismo; 
● A identidade cultural e suas vertentes, na qual a mais recente tem 
permitido que o sujeito apresente uma identidade variável. 
Na próxima unidade estudaremos sobre culturas nacionais, mudanças 
linguísticas e conexão entre identidade, língua e cultura. Até breve! 
 
 
 
Bibliografia 
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro, 
Lamparina, 2014. 
LIPOVETSKY, Gilles; SERROY, Jean. A cultura-mundo: resposta a uma sociedade 
desorientada. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. 
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<http://www.scielo.br/pdf/tem/v14n28/a10v1428.pdf>. Acesso em: 05 ago. 2019. 
PERINI, Mário A. Sobre Língua, Linguagem e Linguística. Disponível em: 
<http://www.revel.inf.br/files/entrevistas/revel_14_entrevista_perini.pdf>. Acesso 
em: 05 ago. 2019. 
RODRIGUES, Rômulo da Silva Vargas. Saussure e a Definição da Língua como 
Objeto de Estudos. Disponível em: 
<http://www.revel.inf.br/files/artigos/revel_esp_2_saussure_e_a_definicao_de_lin
gua.pdf>. Acesso em: 04 ago. 2019. 
Referências imagéticas: 
Figura 1 - Incrível História. Retrato da cultura da Grécia Antiga. Disponível em: 
https://incrivelhistoria.com.br/grecia-antiga-resumo/> Acesso em 04/08/2019. 
https://incrivelhistoria.com.br/grecia-antiga-resumo/
 Identidade, Língua e Cultura - Unidade 1 - Conceitos e Pós Modernidade 
 
Figura 2 - Globo. O fenômeno da globalização. Disponível em: 
http://educacao.globo.com/provas/uerj-2-exame-de-qualificacao-
2014/questoes/53.html>. Acesso em 05/08/2019. 
Figura 3 - Colégio Web. Iluminismo. Disponível em: 
https://www.colegioweb.com.br/historia/o-que-foi-o-iluminismo.html.> Acesso 
em 05/08/2019. 
Figura 4 - Significados. "A balsa da Medusa", de Théodore Gericault, 
representando a ênfase que a arte romântica dava ao imaginário. Disponível em: 
https://www.significados.com.br/romantismo/.> Acesso em 06/08/2019. 
http://educacao.globo.com/provas/uerj-2-exame-de-qualificacao-2014/questoes/53.html
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https://www.colegioweb.com.br/historia/o-que-foi-o-iluminismo.html
https://www.significados.com.br/romantismo/

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