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INFECÇÃO PELO HIV


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INFECÇÃO PELO HIV 
 
A pandemia da síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS) começou oficialmente 
em 1981, o relato de cinco casos de homens jovens homossexuais com pneumonia por 
Pneumocystis carinii diagnosticados em Los Angeles, USA. 
 
DEFINIÇÃO: A pneumonia por Pneumocystis (PPC) é uma infecção pulmonar causada 
pelo organismo fúngico Pneumocystis jirovecii. Causa doença clínica em pacientes 
gravemente imunocomprometidos, como pacientes positivos para vírus da 
imunodeficiência humana (HIV) com contagem de células CD4. 
➔ gp41 (glicoproteína 41): uma proteína no envelope do HIV. A gp41 tem entrada 
do HIV na célula T CD4+, facilitando a fusão das membranas do vírus e da célula 
➔ gp120 (glicoproteína 120): glicoproteína do envelope do HIV. Se liga à molécula 
CD4+ da célula T auxiliar durante a infecção 
 
Sarcoma de Kaposi é um câncer de pele que causa 
múltiplas placas planas róseas, avermelhadas ou roxas 
ou inchaços na pele, pode evoluir para manchas violáceas 
e escuras, pp em membros inferiores. Mais comum 
homens maiores de 60 a. Ele é causado por infecção 
pelo herpesvírus humano tipo 8. 
 
TRANSMISSÃO: através da relação sexual (heterossexual ou homossexual), pelo 
sangue, pelo aleitamento materno e vertical, da mãe infectada para o feto durante a 
gestação ou durante o trabalho de parto. 
 
A infecção do HIV pode ser dividida nos seguintes estágios: 
1. transmissão viral 
2. infecção primária, também denominada aids aguda ou síndrome aguda da 
soroconversão 
3. soroconversão 
4. período de latência clínica com ou sem linfadenopatia persistente generalizada 
5. infecção sintomática inicial pelo HIV, anteriormente conhecida como complexo 
relacionado à aids 
6. aids propriamente dita, definida pelos critérios dos CDC, que incluem contagem 
de linfócitos abaixo de 200 células/mm3 
 
 
ETIOPATOGENIA: 
A aids é causada por um retrovírus (família Retroviridae) do gênero Lentivirus, da 
espécie human immunodeficiency vírus (HIV), com dois tipos biológicos, HIV-1 e HIV-2. 
O quadro clínico da aids causada pelo HIV-2 tem curso mais benigno, causando menor 
imunodeficiência que o HIV-1. Ambos replicam nos Linfócitos T CD4. O vírus é 
composto de duas cópias de RNA que são parte do complexo proteico e ácido nucleico. 
As partículas virais possuem todos os equipamentos enzimáticos necessários para sua 
replicação intracelular: a transcriptase reversa, uma integrase e uma protease. Tais 
enzimas são alvos estratégicos para o desenvolvimento de terapia antirretroviral. 
 
Chave inicial para a infecção: “GP120 + CD4” 
O HIV tem uma glicoproteína de superfície, a (GP-120) a qual liga-se às células 
dendríticas através dos receptores CD4 presentes no epitélio das mucosas, amígdalas 
e adenóide. A molécula CD4 é uma glicoproteína que pode ser detectada na superfície 
de cerca de 60% dos linfócitos T. A ligação da GP-120 ao CD4 é crucial para a entrada 
do vírus na célula, mas também interfere com as vias dos sinais de transdução 
intracelular e promove apoptose nas células CD4. Desse modo, a molécula CD4 é um 
receptor primário e necessário para o HIV-1 e o HIV-2. 
 
Infecção dos linfócitos 
O vírus pode se ligar aos linfócitos através de 2 proteínas coligantes na membrana 
celular: receptores CCR5 e receptores CXCR4. Há vírus que podem se ligar a ambos 
os correceptores e são chamados duo-tropic vírus (vírus com tropismo duplo para os 
correceptores CCR5 e CXCR4). Com base nesses conhecimentos, medicamentos 
capazes de inibir os receptores CCR5, denominados inibidores de entrada. A 
importância do CCR5 como correceptor predominante deriva de outra observação, em 
que as pessoas que possuem um defeito genético homozigoto e não expressam o 
receptor CCR5 na superfície são resistentes à infecção com o HIV. 
 
A replicação viral 
Uma vez que o HIV entra nas células T, irá ocorrer no citoplasma uma conversão do 
RNA viral em DNA viral, mediada pela enzima viral conhecida como transcriptase 
reversa (TR), o que é um passo essencial no ciclo de replicação viral. Uma vez dentro 
do núcleo, ocorre transcrição dos genes do HIV para o genoma do hospedeiro. Uma vez 
no genoma, pode ocorrer ativação da replicação viral e síntese de proteínas para 
geração de novas partículas virais. 
 
Fase aguda: Replicação viral e primeiras manifestações clínicas 
As células infectadas com o HIV se fundem com linfócitosbCD4 e disseminam o vírus 
pelo organismo, que é detectado nos linfonodos regionais dentro de 2 dias da exposição 
e no plasma surgem em mais 3 dias, aproximadamente. Outros órgãos são também 
infectados pelo HIV, como cérebro, baço e demais linfonodos. Nessa fase, o organismo 
ainda não desenvolveu qualquer resposta imune, e a medida quantitativa do RNA viral 
circulante (carga viral) revela níveis significativamente elevados. É aqui que podem 
ocorrer manifestações clínicas de uma infecção aguda viral, muitas vezes semelhantes 
às da mononucleose infecciosa (síndrome da infecção aguda pelo HIV). 
 
Fase aguda 
Em resposta a essa invasão, o organismo solicita imunidade específica contra o HIV 
mediada pela atividade citotóxica dos linfócitos CD8. Os anticorpos desenvolvidos 
contra o HIV não são neutralizantes e, portanto, sua apresentação revela infecção viral 
presente. O diagnóstico da fase aguda é feito exatamente pela soroconversão que 
ocorre entre dois exames colhidos no início dos sintomas da doença aguda e 30 a 60 
dias após, respectivamente. Contudo a soroconversão é descrita até 6 meses após o 
contato infeccioso. Entre 50% e 90% dos pacientes com infecção primária pelo HIV 
apresentam sintomas inespecíficos 2 a 4 semanas após ocorrer a transmissão do vírus. 
 
Fase de latência 
Após essa fase aguda, o indivíduo entra no estado de latência clínica e poderá 
permanecer assintomático por muitos anos. Nessa fase, o vírus se multiplica 
principalmente nos centros germinativos dos linfonodos e em materiais de biópsias 
ganglionares observa-se presença de grande número de células infectadas. Os níveis 
plasmáticos da carga viral, que são menores na fase de latência clínica, aumentam nas 
fases terminais da aids. A velocidade de desenvolvimento da doença depende do nível 
da carga viral e o estado imunitário pode ser mensurado pela contagem dos linfócitos 
CD4. O período de latência clínica, em média, de 5 a 10 anos, quando então começa a 
apresentar sinais clínicos da imunodeficiência causada pela ação do vírus, em especial 
nos linfócitos CD4. 
 
EXAME PARA DIAGNÓSTICO DO VÍRUS: 
➔ Detecção de anticorpos contra o HIV (sorologia) ou detecção de antígenos do 
HIV 
➔ Etapa 1: ELISA (enzyme-linked immunosorbent assay): sensibilidade e a 
especificidade desses testes são superiores a 98%. Resultado: não-reativo, 
reativo e indeterminado (gestação, doenças autoimunes e reumatológicas, 
neoplasias, infecções). O falso reativo pode ocorrer nos casos de LES 
Os testes que detectam o antígeno p24 reduzem a janela imunológica, tornando-
se positivo cerca de 5 a 10 dias antes do aparecimento dos anticorpos anti-HIV. 
➔ Etapa 2: teste confirmatório: (Western Blot): detecta a presença de anticorpos 
contra diferentes proteínas (antígenos) do HIV. Essas proteínas podem ser do 
core, que é a porção central do vírus (p17, p24, p55), da polimerase (p31, p51, 
p66) ou do envelope (gp41, gp120, gp160) 
resultado “negativo”: ausência de bandas 
resultado “positivo”: presença de ao menos duas das três principais bandas 
resultado “indeterminado”: presença de qualquer padrão de bandas que não 
corresponda aos critérios para positividade 
➔ Testes de biologia molecular podem contribuir para o esclarecimento do 
diagnóstico, especialmente durante a gestação. O teste qualitativo para 
detecção do DNA pró-viral pode ser realizado nessa situação, junto com a 
quantificação de RNA viral plasmático (carga viral) 
➔ Teste da saliva: consiste em coletar saliva e concentrar imunoglobulinaIgG para 
a realização de teste EIA 
 
Indicações para a realização da Sorologia para o HIV: 
➔ Avaliação de achados sugestivos de imunodeficiência 
➔ Presença de doença sexualmente transmissível (DST) 
➔ Pessoas de alto risco: usuários de drogas injetáveis, relação sexual sem uso 
regular de preservativo, receptores de sangue ou derivados antes de 1985, 
parceiros sexuais de pessoas de risco ou com infecção pelo HIV 
➔ Pessoas que se consideram de risco ou que pedem para fazer o exame 
➔ Gestante, parturiente ou puérpera 
➔ Crianças expostas ao HIV (filhos de mães HIV positivas ou amamentados por 
mulheres infectadas pelo HIV) 
➔ Tuberculose ativa 
➔ Acidente com material biológico – tanto o profissional quanto a fonte do acidente 
devem ser testados 
➔ Doadores de sangue, sêmen, órgãos: essa é a única categoria na qual a 
testagem é compulsória 
 
EXAME PARA AVALIAÇÃO E ACOMPANHAMENTO: 
Contagem de Linfócitos CD4+: Os valores normais são de 800 a 1.000 células/mm³. 
Os valores são aferidos por percentual: percentual de CD4+ inferior a 14% correlaciona-
se com CD4+ inferior a 200 células/mm³, enquanto percentuais acima de 29% estão 
relacionados à contagem de CD4+ superior a 500 células/mm³. Contagem de linfócitos 
CD4+ inferior a 200 células/mm³ é diagnóstico da síndrome da imunodeficiência 
adquirida (aids), mesmo em pacientes assintomáticos, uma vez que esses pacientes 
têm grande risco de apresentar uma infecção ou neoplasia oportunista e evoluir para a 
morte em curto prazo. 
 
D.D. de CD4+ baixo: Além da infecção pelo HIV, síndrome de DiGeorge (aplasia 
tímica), agamablobulinemia, síndrome de Sjögren, sarcoidose, radiação, linfoma, uso 
de corticosteroide podem ser causas de contagem de linfócitos CD4+ baixa. Há também 
uma síndrome, chamada linfocitopenia de CD4+ idiopática, que cursa com contagem de 
CD4+ inferior a 300 células/mm³ e ausência de infecção pelo HIV ou de qualquer outra 
condição conhecida associada a níveis baixos de CD4+. 
 
Quantificação do RNA do HIV Plasmático (Carga Viral do HIV): Avalia a 
concentração do HIV no plasma. Pode ser feito através de diferentes técnicas: reação 
em cadeia da polimerase (PCR) do RNAHIV (Amplicor HVI-1), branched chain DNA 
(bDNA) ou amplificação baseada em sequência de ácidos nucleicos (nucleic acid 
sequence bases amplification ou NASBA), PCR em tempo real (RT-PCR Abbott). 
 
Indicações para Realização da Carga Viral: 
1. Avaliar o prognóstico da infecção: durante a infecção aguda há uma intensa 
multiplicação viral, traduzida por valores muito elevados da carga viral, 
geralmente superiores a 500.000 cópias/mL. O paciente com carga viral de 500 
cópias/mL e sem TARV tem uma sobrevida de mais de 10 anos, enquanto nas 
mesmas condições o paciente com carga viral acima de 30.000 cópias tem a sua 
sobrevida reduzida para cerca de 4 anos 
2. Monitorar a resposta ao tratamento: sabe-se que o uso de TARV cursa com 
queda significativa da carga viral. O efeito antiviral máximo é atingido após 4 a 6 
meses de tratamento. O objetivo do tratamento é atingir carga viral indetectável 
3. Avaliar o risco de transmissão vertical e definir o tipo de parto: há uma forte 
correlação entre o nível de carga viral da gestante e o risco de transmissão do 
HIV para o bebê. Esse exame deve ser realizado na primeira avaliação da 
gestante 
4. Diagnóstico de infecção aguda pelo HIV: como nessa fase os níveis de carga 
viral são extremamente elevados, esse exame pode ser utilizado no período que 
antecede a soroconversão, ou seja, enquanto a sorologia ainda está negativa ou 
inconclusiva. O exame deve ser realizado fora da vigência de infecções 
 
Análise genotípica e fenotípica do vírus para a utilização de antirretrovirais: São 
testes moleculares que identificam determinadas cepas de vírus que pode ser 
resistentes a alguns antirretrovirais. São realizados, quando há falha terapêutica. 
Hemograma: Quando não se dispõe da contagem de linfócitos CD4+, o hemograma é 
útil, pela avaliação da linfometria total, uma vez que valores abaixo de 1.000 
linfócitos/mm³ estão relacionados com contagem de CD4+ inferior a 200 células/mm³. 
Útil para monitorar a ocorrência de efeitos colaterais de várias medicações que o 
paciente infectado pelo HIV utiliza ao longo do tempo. 
Bioquímica do sangue: Inclui TGO, fosfatase alcalina, gama-GT, bilirrubina, ureia, 
creatinina, glicemia, triglicerídeos, colesterol total e frações, desidrogenase lática. 
Sorologias para Sífilis (VDRL), Toxoplasmose, Hepatites Virais 
Radiografia de tórax 
PPD: Considera-se teste PPD positivo uma enduração igual superior a 5 mm. 
Exame Papanicolau: HPV 
Exame Urina 1 
Parasitológico de fezes 
 
 
 
 
 
 
Infecção Aguda: Síndrome Retroviral Aguda: Após a infecção, em 2 dias os vírus 
migram para os linfonodos regionais, alterando sua arquitetura, destruindo os centros 
germinativos e diminuindo a sua função imunológica. A viremia acontece em 5 dias, com 
intensa migração para o sistema nervoso central (SNC). Em cerca de 40% dos 
pacientes, a fase aguda é assintomática. No período de 1 a 4 semanas, pode surgir uma 
síndrome febril inespecífica, com febre elevada ou moderada, acompanhada de 
cefaleia, dor retro-orbitária, sudorese noturna, mialgia, artralgia, odinofagia, 
adenomegalias. 
 
Infecção Crônica Assintomática e Linfadenopatia Generalizada Persistente: Fase 
de latência clínica, mas não virológica. É um período biologicamente ativo, com 
replicação viral, no qual o paciente transmite o vírus por sangue, esperma e secreções 
genitais. Há uma replicação viral lenta e persistente, que vai eliminando as células T 
CD4+ por citotoxicidade direta ou apoptose por via indireta. Essa replicação ocorre nos 
tecidos linfáticos que passam a ser o maior reservatório do HIV. Alguns pacientes 
apresentam também longos períodos de febre, de 38ºC a 39ºC, intermitente ou 
contínua, emagrecimento, fadiga, sudorese noturna e diarreia. 
 
Síndrome Pré-AIDS: Os primeiros sinais de baixa imunidade são de doenças menos 
graves, como candidíase oral de repetição, leucoplasia pilosa, herpes zoster em 
pacientes com menos de 60 anos, queilite angular, gengivite e úlceras recorrentes na 
boca e infecção respiratória alta (tonsilite, sinusite) de repetição, candidíase 
vulvovaginal persistente ou resistente, angiomatose bacilar. Também fazem parte dessa 
fase as alterações cutâneas. Febre sem foco definido, emagrecimento. 
 
Aids: Define-se como portador de aids o paciente com dois testes de triagem para 
detecção de anticorpos anti-HIV e um teste confirmatório reagentes, que tenha uma 
contagem de LT CD4 no sangue abaixo de 350/mm3, independentemente de outras 
causas de imunodeficiência, ou que apresente uma doença definidora de aids com 
qualquer nível de LT CD48.