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Objetivos 1. Identificar a etiologia, os fatores de risco e a epidemiologia do HIV. 2. Compreender a fisiopatologia, as manifestações clinicas e as complicações do HIV. 3. Discorrer sobre o diagnostico e as condutas terapêuticas do HIV Definição O HIV é um retrovírus, ou seja, vírus com duas fitas idênticas de RNA que possui uma enzima fundamental para o seu funcionamento chamada transcriptase reversa, traduzindo o seu material genético, de forma “reversa”, em DNA dupla-fita, possuindo capsídeo viral (composto pelo antígeno p24) e envoltório lipoproteico. A Síndrome da Imunodeficiência Humana Adquirida, popularmente conhecida como AIDS, é causada pelo vírus HIV, resultando numa queda progressiva da contagem de linfócitos T CD4+ e, com isso, começam a aparecer diversas afecções oportunistas, infecções ou até neoplasias, com um estado grave de imunodeficiência – o número de Linfócitos T CD4+ deve estar abaixo de 350 células/mm3 de sangue para ser considerada a existência de AIDS. Epidemiologia No Brasil, o número de casos registrados supera os 700.000, sendo 65% sexo masculino e 35% feminino, porém a epidemia vem se estabilizando com o tempo. A maioria dos casos está entre 25 a 39 anos, mais vista na região Sudeste. A incidência e taxa de mortalidade vem caindo na última década, mas isso representa uma média nacional, já que nas regiões Norte e Nordeste a mortalidade continuou aumentando, e esse aumento é visto, atualmente, principalmente no sexo masculino na faixa etária de 15 a 19 anos, ressaltando a importância de uma contínua estratégia de educação em saúde, informando sobre a necessidade das relações sexuais de forma segura, evitar compartilhamento de agulhas, entre outros. Dos pacientes brasileiros, estima-se que 83% dos portadores de HIV estejam diagnosticados e 52% recebem terapia antirretroviral (TARV). Vale ressaltar que a notificação de infecção pelo HIV é compulsória no Brasil, mesmo que não haja manifestação clínica da AIDS. No cenário mundial, o HIV está presente em cerca de 33,3 milhões de pessoas e mais de 95% dos acometidos residem em áreas de média e baixa renda, e 2/3 estão na África Subsaariana, onde a incidência é maior em mulheres. Mesmo com um cenário ainda negativo, existe uma tendência mundial à queda da mortalidade, principalmente com as estratégias preventivas e terapêuticas bem-sucedidas, além da atenção global sobre o tema, que ganhou ajuda de diversas instituições humanitárias Formas de transmissão Vias principais de transmissão: • Transmissão Horizontal → contato sexual e exposição à fluidos ou tecidos corporais contaminados • Transmissão Vertical → da mãe infectada para o filho durante a gestação, o parto a amamentação • No Brasil, a mais frequente é a sexual Fluidos corporais x Risco de transmissão do HIV • Transmitem o vírus: o Sangue o Sêmen o Fluido vaginal o Líquor o Liquido sinovial o Liquido pleural, pericárdico, peritoneal ou amniótico • Não transmitem o vírus (se houver sangue visível nesses fluidos, há risco de transmissão): o Fezes o Secreções nasais o Saliva o Escarro o Suor o Lágrimas Fisiopatologia O vírus HIV compromete os linfócitos T CD4+, podendo destruir diretamente pela replicação viral ou indiretamente pela resposta imunológica do hospedeiro, que reconhece e agride as células infectadas, quando essa resposta é muito intensa, pode haver disfunção celular ou apoptose. compreendendo A via de transmissão mais frequente é a sexual, e o HIV então atravessa o epitélio da mucosa genital e, já na submucosa, começa a procura pelos linfócitos T CD4+ e a presença dessas células em modo ativado (a replicação do vírus só se dá nesses linfócitos “ativados”) contribui para os primeiros ciclos de replicação viral, já nas primeiras horas de infecção. Os vírions então seguem para os linfonodos, onde a replicação se torna ainda mais intensa e, então, se espalha por todos os tecidos e órgãos do corpo – essa ampliação é temporariamente impedida pela resposta imune do hospedeiro – tanto celular como humoral -, porém apenas uma parcela da viremia é controlada e, após cerca de seis meses a um ano, a análise do estado da viremia pode ser fator prognóstico de capacidade do indivíduo de responder à infecção do HIV. Em média, leva cerca de 10 anos desde a infecção primária e o surgimento da AIDS, porém esse tempo pode ser mais curto naqueles pacientes com resposta imune menos efetiva. O GALT (“GutAssociated Lymphoid Tissue”) é um alvo inicial importante, pois é rico em células TCD4+ ativadas, por isso, considerável parte da amplificação inicial da viremia provem desse tecido). A transmissão por inoculação direta do vírus no sistema circulatório (compartilhamento de agulhas infectadas, transfusões sanguíneas, transmissão vertical...) e os vírions podem ser, inicialmente, removidos pelo baço, órgão importante para o sistema imune, rico em linfócitos TCD4+ e os passos seguintes se assemelham aos da transmissão sexual. Com o passar do tempo, mesmo com a resposta imune operando já de forma adaptativa, a replicação viral continua a acontecer, e essa grande resistência do vírus HIV se dá pelas inúmeras mutações genéticas vantajosas – por isso, mesmo com a contagem de CD4+ suficiente para a atividade imunológica, o vírus pode ser detectado na circulação a todo momento desde a infecção. Essas mutações são rápidas e importante para a resistência viral porque, enquanto os linfócitos TCD4+ específicos para combater o vírus apresentado, já surgiram novas mutações, que irão infectar e destruir essas células imunes. Caso o paciente não faça uso da Terapia Antirretroviral (TARV), haverá uma evolução para uma profunda imunossupressão, com TCD4+ menor do que 350 células/microlitro. Com isso, diversas infecções e neoplasias oportunistas podem surgir, mesmo naquelas pessoas que se mantiveram assintomáticas. Por isso, é importante a adesão terapêutica, que aumenta e melhora a sobrevida mesmo naqueles que já estão nos estágios avançados da doença. 1. Fusão do HIV à superfície da célula 2. Material viral entra na célula hospedeira 3. Formação do DNA viral pela Transcriptase Reversa 4. Integração do DNA viral com o DNA da célula parasitada 5. A partir de agora todo RNA produzido pela célula é viral 6. Novas formas virais imaturas são produzidas 7. Ocorre maturação do vírus, já externo à célula Ciclo vital do HIV 1. Ligação de glicoproteínas virais (gp120) ao receptor específico da superfície celular (principalmente linfócitos T-CD4); 2. Fusão do envelope do vírus com a membrana da célula hospedeira; 3. Liberação do "core" do vírus para o citoplasma da célula hospedeira; 4. Transcrição do RNA viral em DNA complementar, dependente da enzima transcriptase reversa; 5. Transporte do DNA complementar para o núcleo da célula, onde pode haver integração no genoma celular (provírus), dependente da enzima integrase, ou a permanência em forma circular, isoladamente; 6. O provírus é reativado, e produz RNA mensageiro viral, indo para o citoplasma da célula; 7. Proteínas virais são produzidas e quebradas em subunidades, por intermédio da enzima protease; 8. As proteínas virais produzidas regulam a síntese de novos genomas virais, e formam a estrutura externa de outros vírus que serão liberados pela célula hospedeira; 9. O vírion recém-formado é liberado para o meio circundante da célula hospedeira, podendo permanecer no fluído extracelular, ou infectar novas células. Quadro clinico A infecção por HIV se apresenta em três fases clínicas: infecção primária ou aguda, fase crônica assintomática/latência clínica e AIDS. Infecção primária ou aguda tempo entre o contágio e o aparecimento de anticorpos anti- HIV – soroconversão. Geralmente, esse tempo de 4 semanas, e, durante a soroconversão, desenvolve-se a Síndrome RetroviralAguda (SRA), caracterizada como conjunto de sinais e sintomas semelhantes a diversos quadros de virose – febre, mialgia, cefaleia, faringite, dor ocular, rash cutâneo, astenia, linfadenopatia, náuseas, vômitos, letargia - refletindo a resposta imune contra a viremia inicial, porém essa fase também pode ser assintomática. Nesse momento, bilhões de cópias do vírus circulam pelo hospedeiro e, assim, o poder transmissivo é muito alto. Esse quadro dura de 3 a 4 semanas e é autolimitado. A sorologia anti-HIV nesse momento costuma ser negativa, sendo importante a pesquisar por RNA viral circulante. Ocorre aumento na contagem de células TCD4+ e resposta imune celular e humoral contra o HIV. o Febre o Adenomegalia o Faringite o Erupção cutânea o Mialgia e artralgia o Plaquetopenia o Leucopenia o Diarreia o Cefaleia o Náuseas e vômitos o Astenia o Esplenomegalia o Depressão o Adenopatia Fase de latência clínica Resolvida a SRA, o paciente entra na latência clínica, que dura cerca de 10 anos quando não é realizada a terapia. O exame físico pode ser normal, podendo também ser percebida linfadenopatia, algumas pessoas podem desenvolver linfadenopatia generalizada progressiva (LGP). Outros possíveis achados essa fase são plaquetopenia isolada ou anemia normocrômica e normocítica e/ou discreta leucopenia. Nesse momento, os linfócitos TCD4+ continuam a aumentar, enquanto ocorre redução da carga viral plasmática. Mesmo com ausência de sintomatologia, os vírus continuam a se replicar, principalmente nos CD4 de memória. A imunodeficiência começa então a progredir, com redução na contagem de CD4 e manifestações típicas nos indivíduos imunocompetentes começam a aparecer com maior gravidade e frequência. o CD4 < 350: começam a aparecer infecções bacterianas e micobacterianas do trato respiratório (sinusite, pneumonia, tuberculose pulmonar); o CD4 entre 200 e 300: as mesmas manifestações supracitadas começam a se manifestar de forma atípica. A Candidíase Orofaríngea é um indicativo de que a AIDS se aproxima, assim como febre persistente, diarreia crônica e leucoplasia pilosa oral. Outras manifestações sistêmicas são: respiratórias (principais causadoras de morbimortalidade em pacientes infectados pelo HIV) – tuberculose, infecção pelo P. jiroveci, pneumonia bacteriana recorrente, sinusite, traqueobronquite, rodococose, pneumocistose pulmonar; dermatológicas – dermatite seborreica, foliculite, psoríase, herpes zoster, Herpes simplex. AIDS: Caracterizada como intensa supressão no sistema imunológico do indivíduo, com o surgimento de infecções oportunistas e neoplasias. A progressão da infecção é marcada por febre baixa, sudorese noturna e diarreia crônica. As infecções oportunistas mais comuns pneumocistose, tuberculose pulmonar atípica ou disseminada, neurotoxoplasmose, retinite por citomegalovírus, meningite criptocócica; já as neoplasias mais comuns são Sarcoma de Kaposi e, nas mulheres jovens, câncer de colo uterino. Diagnostico O diagnóstico pode ser divido em duas etapas: Etapa 1 Triagem sorológica de anti-HIV-1 e anti-HIV-2, podendo ser combinada a procura por anticorpos e antígenos virais; ELISA, testes rápidos. Esses testes são chamados de imunoensaios → caso o resultado seja reagente ou indeterminado, nova amostra é colhida para fazer a confirmação e, caso o resultado persista, segue-se para a etapa 2. Etapa 2 É o momento de confirmar o diagnóstico. São realizados Imunofluorescência indireta (IFI), Imunoblot/Western blot, entre outros, considerados testes moleculares, por pesquisarem a presença de ácidos nucleicos do HIV. Os dois tipos de testes são capazes de diagnosticar a viremia após os primeiros 10 dias da infecção. Apenas após a análise dos exames das etapas 1 e 2 é que os laudos e interpretação dos resultados podem ser liberados. O teste rápido para HIV está indicado em diversas situações: regiões sem infraestrutura laboratorial, segmentos populacionais móveis, parceiros móveis de HIV, populações vulneráveis, violência sexual (no agressor), acidentes ocupacionais (no paciente fonte), abortamento espontâneo, entre outros. Profilaxia Antirretroviral Pós-Exposição ao HIV (PEP) O protocolo da PEP é formado por 4 etapas: Etapa 1: Avaliação do risco da exposição Momento em que há decisão sobre a indicação ou não de PEP. É necessário esclarecer quando ocorreu a exposição, já que a administração ideal da profilaxia é que seja iniciada em até 2 horas após a exposição, porém, pode ser administrada até 72h após o evento; material ao qual o paciente foi exposto, os considerados infectantes são sangue, sêmen, fluido vaginal e líquidos serosos, amniótico, líquor e líquido articular; tipo de exposição, as que oferecem riscos são aquelas percutâneas, pela mucosa, cutânea com pele não integra, mordeduras com presença de sangue; status sorológico do indivíduo exposto, deve ser avaliada a sorologia anti-HIV do paciente exposto (teste rápido), pois se já for um paciente portador de HIV, não há benefício em se administrar a PEP; status sorológico da fonte, o resultado negativo do teste rápido contraindica a PEP, a não ser que a fonte apresente histórico de possível exposição ao HIV nos últimos 30 dias, se o status da fonte for desconhecido, administra-se PEP. Etapa 2: Prescrição do Esquema AVR Tenofovir (TDF) + Lamivudina (3TC) + Atazanavir potencializado com ritonavir (ATV/r) por 28 dias. TDF está contraindicado em pacientes com disfunção renal importante e neste caso usa-se AZT; ATV/r é contraindicado em usuários de inibidor de bomba de próton, e assim, usa-se LPV/r ou AZT. Etapa 3: Medidas no atendimento à pessoa exposta Lavar e utilizar soluções antissépticas degermantes no local infectado; em casos de exploração sexual de mulheres em idade fértil que não queiram engravidar, indica-se a anticoncepção com o uso de levonorgestrel; profilaxias contra as diversas DSTs existentes; imunização contra o tétano, notificações. Etapa 4: Acompanhamento clinico-laboratorial O acompanhamento deve ser realizado para avaliar toxicidade medicamentosa, realizar testes para HIV e outros exames, reforço às medidas preventivas contra o HIV. o Contagem de LT-CD4+ e exame de CV-HIV o Genotipagem pré-tratamento → indicada apenas para gestantes, casos novos com coinfecção TB-HIV, pessoas que tenham se infectado com parceria em uso de TARV e crianças e adolescentes pré-tratamento com ARV (não se faz para todos, faz-se principalmente para grávidas e quando o tratamento está falhando) o Hemograma completo o Glicemia de jejum o Dosagem de lipídios (colesterol total, HDL, LDL, triglicerídeos) o Avaliação hepática e renal (AST, ALT, FA, BT e frações, Cr, exame básico de urina) o Teste imunológico para sífilis o Testes para hepatites virais (anti-HAV, anti-HCV, HBsAg, anti-HBc total e anti-HBs para verificação de imunização) o IgG para toxoplasmose o Sorologia para HTLV I e II e Chagas → triagem para indivíduos oriundos de áreas endêmicas o Prova Tuberculínica (PT) o Radiografia de tórax Tratamento A terapia antirretroviral (TARV) tem como finalidade diminuir a incidência das doenças oportunistas, melhorando a qualidade de vida e ampliando a expectativa de vida do paciente. Porém, a eficácia da terapia é comprometida em casos de má adesão, intolerância aos medicamentos ou resistência viral. Durante o tratamento, é sempre importante controlara contagem de linfócitos TCD4+, da carga viral e do estado geral de saúde do paciente. O Atualmente, no Brasil, são usadas 3 classes de antirretrovirais: o Inibidores da transcriptase reversa análogos de nucleosídeos e nucleotídeos: zidovudina e lamivudina o Inibidores da transcriptase reversa não análogos de nucleosídeos: efavirens e nevirapina o Inibidores da protease reforçados com ritonavir. O acompanhamento dos pacientes que iniciaram recentemente a TARVdeve ser de 7 a 15 dias, depois 1 vez ao mês (o mesmo vale para aqueles que fizeram alguma alteração na terapia), os pacientes que fazem uso da TARV de modo estável fazem acompanhamento a cada 6 meses. Com o início da TARV, pode ocorrer Síndrome da Reconstituição Imunológica – doenças que estavam subclínicas começam a se manifestar clinicamente com a recuperação de parte do sistema imune, como infecções fúngicas, bacterianas e neoplasias, essas doenças geralmente são autolimitadas e a recomendação é que se mantenha a TARV e trate a patologia oportunista, porém, em casos mais graves, a TARV precisa ser suspensa e corticoides são introduzidos. A TARV deve ser iniciada nos pacientes sintomáticos, e, naqueles assintomáticos, deve iniciar quando CD4 < ou igual a 500, caso esteja superior a esse valor, a TARV deve ser iniciada em pacientes quando existe coinfecção com hepatite B, neoplasias não definidoras ou alto risco cardiovascular.
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