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Psicologia do Excepcional.
Temas abordados:
Evolução Histórica do Conceito.
Concepções pré-científicas e científicas da excepcionalidade (qualitativa e quantitativa)
Definições estatísticas e pragmáticas da excepcionalidade.
Modos de Classificação da Excepcionalidade: Área ou forma; Grau ou intensidade; Extensão ou amplitude.
Concepções relativas ao comportamento do excepcional.
Evolução Histórica do Conceito.
Ser excepcional é ser raro ou incomum. 
Se pensarmos nos doentes mentais e nos retardados percebemos que seus comportamentos considerados irracionais e bizarros sempre atraíram a atenção.
O diferente exige explicações, entendimento, domínio. Já os comportamentos do indivíduo normal, ou seja, de uma maioria estatística em um dado contexto, é auto-explicativo, dispensando explicações por causarem relativamente poucos problemas à sociedade. Essas pessoas são relativamente previsíveis, podemos usufruí-las, evitá-las ou suportá-las.
Por esperarmos a normalidade, ao nos depararmos com o diferente procuramos compreendê-lo através de algum tipo de classificação, tal como fazemos com tudo o mais que nos cerca, sejam as estações do ano, as profissões, as plantas e os animais, etc. Assim são desenvolvidas categorias para ajustar os desvios e propiciar um grau de previsibilidade nas interações sociais.
Tal procedimento é característico da redução de dissonância cognitiva, normalmente gerada pela Incongruência de status que acontece quando nos deparamos com uma pessoa fisicamente deformada mas altamente inteligente. 
Concepções pré-científicas dos desvios: As interpretações místicas ou sobrenaturais persistiram muito depois das explicações naturalistas.
Concepções qualitativas x concepções quantitativas das diferenças entre os indivíduos excepcionais e os normais:
Concepção puramente qualitativa - os excepcionais constituem categorias ou classes separadas, apresentam traços e características diferentes da regra geral da humanidade. Supõe-se que aprendam, percebam, raciocinem e se ajustem por meios que lhe são únicos.
Essas categorias conceituais são necessárias para compreender e lidar com os excepcionais de uma forma específica segundo as necessidades apresentadas por cada uma delas. Entretanto também facilitam o surgimento dos estereótipos, da rotulação e da discriminação. 
Nos últimos 150 anos, com a valorização dos métodos inerentes à ciência moderna, houve um distanciamento das concepções puramente qualitativas, surgindo um quadro de referências quantitativo.
Concepção quantitativa -> as diferenças são de diferença de grau, não de qualidade. Os processos perceptivos, conceituais, ideacionais e de aprendizagem são fundamentalmente iguais. Todos aprendem, detêm, recordam, percebem, pensam e fazem ajustamentos pessoais e sociais de acordo com os mesmos princípios e padrões genéricos, alguns fazem coisas mais depressa, melhor, com maior exatidão ou adequação. Assim, no caso da deficiência mental, acredita-se que o desenvolvimento cognitivo seja qualitativamente semelhante para todos, a diferença estaria no ritmo e/ou nível de desenvolvimento atingido nas diferentes fases da vida.
Concepções atuais de excepcionalidade:
Recentemente tem-se tratado a excepcionalidade e a anormalidade como conceitos com significados variáveis segundo o contexto social em que são empregados. A exceção desta concepção surge quando, dentro de um processo de estudo, surgem fins administrativos ou de pesquisa. 
Definições estatísticas da excepcionalidade:
Tais definições empregam os recursos estatísticos para a compreensão das diferenças. Utilizam-se das medidas de tendência central – média, moda e desvio padrão.
Por exemplo, os mentalmente retardados são operacionalmente definidos como pessoas significativamente abaixo do normal - QI abaixo de 70, medido pelo escala de inteligência de Stanford Binet. São os 2 ou 3% intelectualmente mais inferiores da população.
Os de audição difícil e surdos são identificados em termos de perda auditiva, medida em decibéis por um audiômetro padronizado.
Os deficientes visuais – cegos e de visão parcial -apresentam acuidade visual de 20/200 ou menos no olho melhor após correção máxima ou campo visual limitado a 20% ou menos. Assim, para identificarem um objeto ou situação visualmente precisam estar dez vezes mais próximos do que a maioria dos sujeitos.
Entretanto, existem outras formas de desvio que não contam com índices quantitativos convencionais. 
A concepção quantitativa é útil em termos de pesquisa por facilitar comparações entre sujeitos de uma dada população e entre populações. Ela também permite que decisões legais sejam tomadas de modo a identificar os desviantes para que estes contem com os benefícios e apoio governamental.
Definições pragmáticas e sociais da excepcionalidade:
Embora a definição quantitativa seja útil e legal para identificar os excepcionais, o teste final da sua validade (critério – concorrente ou preditiva) é a utilidade social.
Os julgamentos de grau de excepcionalidade são validados quando, de fato, os indivíduos identificados requerem e se beneficiam de uma educação e tratamento especificamente destinados a eles em um determinado contexto. Logo, os critérios quantitativos são úteis na medida em que se correlacionam com o sociais. Se os métodos e requisitos educacionais se alterarem, ou se variarem as exigências sociais, ou se modificarem as oportunidades ocupacionais, também será alterada a utilidade e a interpretação dos testes que fornecem os dados quantitativos.
Portanto, nas culturas mais primitivas a aptidão a caça é valorizada, já aprender a ler, escrever, calcular e lidar com conceitos abstratos não é significativo. Em uma comunidade agrícola, o psicótico, o retardado mental, o socialmente inadequado podem até ser um problema familiar, mas não necessariamente uma preocupação social.
As variações entre as pessoas são universais, porém o momento social determina quais os desvios serão considerados como deficiências ou dotes, prejuízo ou ampliação do valor pessoal.
Na prática o que existe é uma combinação de procedimentos tradicionais, valores culturais, necessidades sociais e mesmo pressões políticas que determinam as dimensões e graus de diferença suficientemente significativos para que algo se faça a respeito das necessidades especiais.
Cabe lembrar que, no momento atual, a OMS determina que saúde equivale ao bem-estar bio-psico-social, e que cabe fornecer a todo e a qualquer ser humano as condições que favoreçam o máximo desenvolvimento de suas potencialidades, com a máxima aquisição de autonomia, independência e desempenho.
Assim podemos pensar que a crescente preocupação social com os desviantes intelectuais extremos é reflexo de nossas expectativas e valores culturais: maior demanda de trabalhadores com treinamento profissional, gerencial, científico e técnico. Substituição da força física pelo conhecimento, aquisição de uma força de trabalho educada, criativa e adaptável. 
Neste momento a adaptabilidade e criatividade, mais que a aptidão específica, são qualidades valorizadas. Plasticidade e adaptabilidade – características da inteligência superior - tornam-se imperativas.
Essas mudanças no sistema de valores, crenças e expectativas sociais faz com que os indivíduos mental e/ou educacionalmente retardados se tornem responsabilidade social. 
Surge a necessidade de assistência especializada, de modo a diminuir os rótulos de intelectualmente inferiores, os quais são inadequados em termos das exigências sociais e ocupacionais da cultura contemporânea, especialmente quando tratamos de sujeitos que são desprivilegiados na aquisição e desenvolvimento de conhecimentos e que acabam por engrossar a população dos financeiramente desfavorecidos, com todas as implicações sociais decorrentes: desemprego, fome, doença e violência.
Essas concepções científicas da excepcionalidade geraram formas características de classificação da mesma:1. Área ou forma de desvio: classificação preponderantemente qualitativa, reflete valores culturais sociais. 
1.1. Desvio intelectual e acadêmico: Em uma visão quantitativa equivalem, por um lado, à extremidade inferior da escala de inteligência. São os mentalmente retardados, os limítrofes, os obtusos e os que apresentam aptidões mais específicas para aprendizagem. No outro extremo, estão os criativos (talentosos) e os intelectualmente superdotados, categorias que podem se superpostas mas não idênticas
Desvio sensorial: audição difícil e surdos; visão parcial e cegos. Existem casos raros como a analgesia (insensibilidade à dor), a anestesia cutânea (perda do tato parcial ou completa) ou anafia, e a anosmia (perda do olfato). Tais condições são excepcionais no sentido estatístico, estão mais para curiosidades médicas e psicológicas, mas por não ocasionarem problemas sociais não são tipicamente consideradas nas discussões sobre excepcionalidade.
Desvio motor: aleijados ou deficientes ortopédicos e os que apresentam defeitos na fala.
Desvio comportamental e de personalidade: são produtos do processo de aprendizagem social, caracterizados por transtornos patológicos de personalidade que revelam inadaptação e inadequação social.
Desvio social: delinqüentes. juvenis e criminosos adultos. Consciência social da existência dos grupos subculturais - minorias étnicas e os economicamente desfavorecidos -, que constituem problemas educacionais e sociais.
Problemas da velhice: Todas as categorias anteriores de desvio podem ser encontradas em idosos, mas há problemas de ajustamento social exclusivos dessa faixa etária.
Chamamos de superposição de áreas ou formas de desvio quando um mesmo sujeito pode ser incluído em duas ou mais categorias. Por exemplo, na paralisia cerebral há desvio ortopédico e da fala acompanhados de desvios sensoriais ou intelectuais. Esses sujeitos também podem vir a se tornar desviantes sociais ou da personalidade.
É bom ressaltar que as pessoas física e mentalmente superiores não chegam a constituir um problema social, pois não criam dificuldades. Normalmente reconhecemos e recompensamos a facilidade motora e intelectual. São oferecidos programas de desenvolvimento e estes sujeitos são ambicionados pela maioria dos recrutamentos de RH.
Recentemente também surgiu um crescente interesse pelos indivíduos acima da média em termos de integração da personalidade e ajustamento social (inteligência social, inteligência interpessoal ou inteligência emocional).
Tendências a não categorização: A classificação em áreas ou formas de desvio tem sido duramente criticada em função dos movimentos de desinstitucionalização, de integração à corrente principal (mainstreaming), e de redução dos efeitos da categorização e rotulação dos desviantes. Assim, entende-se que todo deficiente apresenta limitações comuns, mas que alguns problemas terapêuticos, educacionais, sociais e vocacionais são exclusivos de categorias .
Por tanto surgem agrupamentos com base nas necessidades individuais de cuidados, treinamento e educação.
2. Grau ou intensidade da excepcionalidade: Essa é uma forma de classificação predominantemente quantitativa. 
Os excepcionais diferem em grau de desvio, tanto quanto em termos de forma. O desvio tem intensidade (distância da média), assim como direção (distância da média para a direita ou para a esquerda).
Essa classificação também permite o surgimento de grupos. Por exemplo, no caso do desvio mental:
Superdotados: QI entre 120 e 140.
Retardo mental grave ou profundo (antigo idiota) - QI abaixo de 20 ou 30. Totalmente dependentes, custodiais ou institucionais.
Retardo mental moderado (antigo imbecil): treinável. QI entre 30 e 50.
Retardo mental leve (antigo mentecapto): retardo mental educável. QI entre 50 e 70.
Indivíduos de aprendizagem lenta: QI entre 70 e 90 (antes obtuso ou normal obtuso - QI entre 80 e 90), e os limítrofes (QI de 70 a 80).
O grau de retardamento mental é a diferença fundamental entre indivíduos de aprendizagem lenta e o dependente total. O retardamento pode ser menos significativo que a sua intensidade. Educacionalmente as pequenas deficiências auditivas e visuais são pouco importantes, mas é mais difícil indicar objetivamente a intensidade ou grau do desvio nos outros excepcionais, o que consiste em limitação para este tipo de classificação.
Por exemplo, os termos monoplegia, diplegia, etc. indicam o número de membros envolvidos na deficiência, mas desconhece-se o grau de prejuízo funcional. O mesmo acontece com as disfunções da fala – que vão dos desvios articulatórios até a afasia –; e com a epilepsia – pequeno mal (controlada com medicamentos) e grande mal (incapacitadora).
O grau ou intensidade do desajustamento da personalidade é conceituado como distúrbios ligeiros da personalidade, neuroses e psicoses de caráter crônico.
Já o desviante social pode ser categorizado em delinqüente (tipos de crime e número de atos criminosos) ou culturalmente desfavorecido (uso de escalas, ou observação de comportamentos)
A intensidade está atrelada ao grau das diferenças individuais, não apenas entre os grupos de pessoas designadas excepcionais e normais, mas também dentro do próprio grupo de desvio.
3. Extensão ou amplitude da excepcionalidade: Nesta forma de classificação busca-se a especificidade ou generalidade da deficiência ou dotação, buscando compreender como o desvio primário afeta outros aspectos da personalidade e do comportamento.
Superestimamos a amplitude da excepcionalidade (grita com o cego) e estereótipos (superdotados têm saúde frágil e são socialmente desajustados).
É importante lembrar que o retraimento social, a hiperagressividade, a infelicidade pessoal e os comportamentos defensivos são comuns a todos que desviam da norma em termos culturalmente definidos como indesejáveis. Não há uma relação causal direta, mas a interveniência das variáveis sociais.
Problemas de personalidade e comportamento do excepcional - isolamento social real ou a ameaça dele, da dependência pessoal e a negação ou aceitação das limitações sociais.
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