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Kamilla Galiza / 5º Período / APG Objetivos • Conceituar inteligência e suas alterações • Discorrer sobre os eventos da gravidez que podem comprometer a cognição • Identificar as estruturas orgânicas envolvidas na inteli- gência • Explicar o DX e o TTO das alterações da inteligência. Definições básicas A inteligência é um conceito fundamental da psicologia mo- derna que todos utilizam. Entretanto, quase ninguém conse- gue defini-la de modo definitivo ou pelo menos amplamente convincente. A inteligência pode ser definida como o conjunto das habili- dades cognitivas do indivíduo, a resultante, o vetor final dos diferentes processos intelectivos. Refere-se à capacidade de identificar e resolver problemas novos, de reconhecer ade- quadamente as situações vivenciadas cambiantes e encon- trar soluções, as mais satisfatórias possíveis para si e para o ambiente, respondendo às exigências de adaptação bioló- gica e sociocultural. As principais habilidades incluídas no constructo inteligência são: raciocínio, planejamento, resolução de problemas pensamento abstrato, compreensão de ideias complexas, aprendizagem rápida e aprendizagem a partir da experi- ência. A inteligência reflete uma capacidade mais ampla para compreender o mundo ao seu redor. A inteligência tem uma dimensão de rendimento psíquico. Refere-se assim às habilidades intelectivas que, com o mínimo de esforço em- pregado, obtêm o máximo de ganho ou de rendimento fun- cional. Ontogênese da inteligência Para Jean Piaget, a inteligência na criança não é nem so- mente herdada, nem apenas aprendida. A inteligência, os processos mentais que criam, organizam e utilizam adaptati- vamente os conceitos e os raciocínios não são inatos, pois mudam ao longo da vida; não são também apenas aprendi- dos dos adultos, pois estes não nasceram com elas, foram- nas adquirindo ao longo de seu desenvolvimento pessoal. As ideias das crianças sobre o mundo são construções, que en- volvem as estruturas mentais inatas e a experiência sociocul- tural. O desenvolvimento da inteligência, por sua vez, ocorre pela substituição (de esquemas cognitivos prévios), pela aquisição e integração de novos esquemas cognitivos, e não apenas pela adição de habilidades cognitivas. Piaget descreveu quatro estágios do desenvolvimento. Para ele, cada fase do desenvolvimento da inteligência deve ser considerada como formada por estruturas mentais e com- portamentais. Piaget descreveu quatro estágios do desen- volvimento. Para ele, cada fase do desenvolvimento inteligência deve ser considerada como formada por estru- turas mentais e comportamentais distintas em quantidade e qualidade distintas em quantidade e qualidade. Tais es- truturas desenvolvem-se progressivamente ao longo da vida da criança, uma se sucedendo à outra, enriquecendo de forma gradativa a cognição do indivíduo. Período sensório motor • Ocorre nos primeiros dois anos de vida. • Não há ainda a diferenciação eu-mundo: a criança está totalmente centrada em si mesma (egocentrismo). • A partir do segundo ano de vida, desenvolve-se mais cabalmente a percepção do mundo externo. • As estruturas mentais restringem-se ao domínio dos ob- jetos concretos, das percepções e atos concretos. • Na fase inicial, predominam as atividades reflexas con- gênitas, surgindo gradativamente os primeiros hábitos motores, os primeiros esquemas perceptivos organiza- dos e os afetos diferenciados. • Ainda não existem a linguagem e a função simbólica, repousando as atividades mentais exclusivamente em percepções e movimentos. • A imitação é um procedimento fundamental nesse pe- ríodo para o desenvolvimento da cognição. Período pré-operatório • Ocorre entre 2 e 7 anos • São processados, nesse período, o domínio de símbolos e o desenvolvimento da linguagem, dos sentimentos interpessoais e das relações sociais. • Brincar passa a ser uma das principais ferramentas de desenvolvimento cognitivo da criança. • Atividades semióticas, representativas, como o desenho, o brincar e a linguagem, desenvolvem-se nesse período, consequências essenciais para o desenvolvimento só- cio cognitivo: a palavra vai gradativamente se interiori- zando, plasmando-se uma linguagem interior, base do pensamento propriamente dito. • Ocorre o processo de interiorização da ação, isto é, pro- gride-se de um plano basicamente perceptivo e motor para um plano de imagens e experiências pura- mente mentais. Período operatório-concreto • Entre os 7 e os 12 anos de idade • A criança aprende a dominar cabalmente as classes, as relações e os números, assim como raciocinar sobre eles. É o início do pensamento lógico • A socialização desenvolve-se plenamente por meio da escola ou fora dela, surgindo o sentido de cooperação social. • A operatividade, marca do período operatório-concreto, é caracterizada pela possibilidade de a criança agir alterações Kamilla Galiza / 5º Período / APG seguindo uma lógica, em função das implicações e consequências de suas ideias e pensamentos. Período operatório-formal • Dos 12 aos 16 anos • O adolescente se envolve com o domínio do pensa- mento abstrato, com os sistemas simbólicos e as cate- gorias abstratas mais gerais, com o funcionamento mental e cognitivo do "mundo adulto". • Desenvolve-se, nesse último período, a capacidade de analisar o pensamento próprio em relação ao dos ou- tros. • Aqui o adolescente já pode trabalhar com relações complexas e abstratas, podendo, inclusive, prever as si- tuações necessárias para provar ou refutar hipóteses iniciais. O modelo de inteligência múltipla Inteligência social Indivíduo é um ser social, reflexivo, que participa ativamente de seu ambiente e visa objetivos coerentes com tal ambiente. Os processos cognitivos mais importantes se desenvolvem em relação estreita com o mundo em que se vive. Os com- portamentos cognitivos, por serem intimamente conectados com o contexto social, só podem ser compreendidos a partir também da analise de tais contextos. Inteligência emocional A inteligência emocional diz respeito ao conjunto de capaci- dades relativas ao processamento de informações emocio- nais. As várias definições de inteligência emocional incluem habilidades como autoconsciência emocional, empatia, consciência emocional do outro, capacidade de utilizar emo- ções para fazer julgamentos, capacidade de administrar conflitos, habilidade de construir laços de trabalho e de tra- balhar em equipe. Esse constructo tem sido muito difundido na imprensa leiga; entretanto, sua definição é bastante frouxa e excessivamente abrangente. Ela inclui qualidades humanas diversas como flexibilidade, resiliência, confiabilidade, assertividade e compaixão. Inteligência intrapessoal Diz respeito à capacidade de entender e avaliar a si mesmo de forma precisa. Abrange, de certa forma, a inteligência so- cial e a emocional, incluindo a capacidade de se inter-relaci- onar com os outros de forma compatível com o auto enten- dimento. Algumas pessoas, apesar de terem um desempe- nho de modo geral abaixo da média (com es- cores geral- mente inferiores, na faixa de retardo mental ou inteligência li- mítrofe), apresentam habilidades muito de- envolvidas em domínios específicos da cognição. Inteligência, genética e ambiente Há certo consenso na literatura científica de que a inteligên- cia, pelo menos uma parte importante dela, depende de in- fluências genéticas. Entretanto, embora os fatores genéticos sejam importantes, o componente ambiental (aprendizado, estímulos psicossociais nos períodos "cruciais" do desenvolvi- mento cognitivo da criança, nutrição e condições adequadas de saúde, apoio afetivo, escolas de qualidade, ambiente mo- tivador, entre outros) é, seguramente, fundamental para que o indivíduo possa desenvolver de forma plena seu potencial genético. O QI, que avalia quantitativamente o nível de inteligênciade uma pessoa, embora bastante estável, pode mudar com in- tervenções psicopedagógicas adequadas, intensas e preco- ces, bem como declinar com a idade ou devido a doenças. Na velhice, em pessoas com QI mais alto, pode haver perda de até 6 pontos; na esquizofrenia, pode haver perda, pelo efeito da doença, de até 10 a 15 pontos. Já no caso de crianças pequenas que nasceram em ambiente muito ruim (com abandono, negligência, violência), quando são adotadas por famílias adequadas e empenhadas, pode haver aumento de 12 ou mais pontos no QI. Intervenções psicopedagógicas in- tensivas em escolas podem aumentar o escore em 10 pontos ou mais, sobretudo no início da infância (do Nascimento até os 4 ou 5 anos de idade) Inteligência e o cérebro Estudos com RMC funcional (com estímulos que exigem ativi- dade cognitiva) indicam que a ativação do córtex pré-frontal dorsolateral (CPFDL) se relaciona intimamente com a inteligência. Tais estudos sugerem haver correlação entre o fator g de inteligência e a estrutura e a função do CPFDL e do córtex do cíngulo anterior (CCA). A integração dessas regiões frontais com outras áreas fundamentais para a inteligência principalmente nos lobos parietais (mas também nos tem- porais e occipitais), por meio de mecanismos de eficiente co- nectividade via substância branca, é considerada também fundamental para a inteligência humana (Jung; Haier, 2007). Além disso, as bases celulares da cognição têm sido também muito exploradas nas últimas décadas. Sendo os neurônios as unidades básicas do sistema nervoso, condutores dos si- nais e de informações básicas, deve-se atentar particular- mente para as sinapses como local privilegiado do contato entre axônios e dendritos e, portanto, do fluxo e processa- mento de informações. A formação e a poda de sinapses são elementos fundamentais da cognição e da inteligência, as- sim como da plasticidade neuronal e cognitiva. Nesse con- texto, a morfologia e o funcionamento dos dendritos e das es- pinhas dendríticas têm sido investigados em relação ao con- trole e à modulação genética da inteligência. Obs.: Alterações dos dendritos e das espinhas dendríticas têm sido associadas a deficiências intelectuais, sobretudo em condições como síndrome de Down, síndrome do X frágil e síndrome de Rett, assim como nos transtornos do espectro autista. Deficiências intelectuais As deficiências intelectuais são transtornos do neurodesen- volvimento que incluem condições de desenvolvimento Kamilla Galiza / 5º Período / APG comportamental e cognitivo deficitárias, que surgem durante o período de desenvolvimento da infância, geralmente antes de a criança ingressar na escola, e implicam dificuldades significativas na aquisição de fun- ções específicas nas áreas intelectuais, sociais e motoras. Nas DIs, há comprometimento das habilidades cognitivas que são adquiridas desde as primeiras fases de desenvolvimento da criança; assim, essas deficiências se iniciam, obrigatoria- mente, na infância. O prejuízo intelectual nas DIs implica dificuldade significativa ou impossibilidade em áreas como juízos e raciocínios, solu- ção de problemas, planejamento, pensamento abstrato, ca- pacidade de aprendizagem na escola e aprendizagem por experiência. Tais prejuízos devem ser, sempre que possível, confirmados por testes de inteligência devidamente padroni- zados, validados para o idioma e a cultura do indivíduo e apli- cados e interpretados de forma individualizada. O prejuízo em funções adaptativas nas DIs é expresso pelas dificuldades significativas ou impossibilidade da pessoa em ter uma vida independente e autônoma, com as responsabi- lidades sociais concernentes, considerando os padrões da sociedade e da cultura na qual vive. Indivíduos com DI neces- sitam de apoio, geralmente continuado, em diferentes níveis. Sem tal suporte, suas vidas serão limitadas ou prejudicadas em relação a comunicação, participação social e vida inde- pendente em variados ambientes, como em casa, na escola, no trabalho e na comunidade. O diagnóstico de DI só pode ser realizado de forma confiável a partir dos 5 anos de idade; antes disso, deve-se diagnosti- car os atrasos na progressão cognitiva da criança; não é pos- sível concluir que já existe DI. A DI no adulto caracteriza-se pela presença de inúmeras limitações em áreas como lin- guagem e comunicação, autocuidado (saúde, higiene e se- gurança), habilidades em alcançar as expectativas de seu grupo cultural, capacidade de utilização dos recursos comu- nitários e capacidade adaptativa básica na escola, trabalho e/ou lazer. Dessa forma, o diagnóstico de DI exige, além de desempenho inferior a 70 em testes individuais de QI, padro- nizados e validados para o grupo cultural do indivíduo, a iden- tificação de um padrão de dificuldades significativas e/ou in- capacidades para a adaptação e baixos rendimentos cogni- tivos na vida diária. Os diferentes níveis de gravidade: da inteligência limítrofe às DIs profundas Inteligência limítrofe Pessoas com inteligência limítrofe, por definição, não têm DI, e muitas delas não revelam dificuldades especiais na vida. Dificuldades podem surgir quando essas pessoas são con- frontadas com exigências cognitivas mais complexas e sofis- ticadas nos estudos, no trabalho ou na vida familiar. Isso ocorre, sobretudo, quando são confrontadas com responsa- bilidades mais complexas, como em fases do casamento, da criação dos filhos e no trabalho e estudo, quando houver exi- gências e desafios mais complexos. Pessoas com inteligência limítrofe têm uma frequência mais alta de transtornos mentais (TMs, como transtornos do humor, por uso de substâncias e da personalidade) em relação à população geral. Entretanto, deve-se lembrar que pessoas com inteligência limítrofe podem ter uma vida plenamente produtiva e feliz sempre que não sejam confrontados ou dis- criminados por suas dificuldades cognitivas em tarefas e de- mandas mais sofisticadas e exigentes do que podem atender (mas isso também é válido para pessoas com inteligência normal). Deficiência intelectual leve Trata-se do grupo mais frequente de pacientes e compre- ende cerca de 80% de todos os indivíduos com algum grau de DI. As pessoas com grau leve de DI apresentam as seguin- tes características: No domínio conceitual: 1. As aquisições no desenvolvimento neuropsicomotor dos três primeiros anos podem ser normais. A aquisição da linguagem nos primeiros anos de vida pode ter sido nor- mal ou um pouco mais demorada; entretanto, essas pessoas são capazes de usar a fala adequadamente em situações do dia a dia. 2. Dificuldades nas habilidades escolares, como aprendi- zagem de leitura, escrita e matemática, e necessidade de apoio significativo para alcançar as expectativas as- sociadas à idade. 3. Dificuldades em lidar com conceitos abstratos comple- xos e raciocínio lógico, além de problemas matemáti- cos. No domínio social (ou seja, nas interações sociais, em tarefas que impliquem relacionamentos com pares da idade e com familiares): 1. Dificuldades para perceber, com exatidão e acurácia, pistas sociais na relação com pares. 2. As conversas e a linguagem indicam que seu pensa- mento é mais concreto e imaturo do que o de pares da mesma idade. 3. Possíveis dificuldades na regulação das emoções com os pares da mesma idade. 4. Possíveis dificuldades em lidar com a noção de risco, apresentar julgamento social imaturo, além de risco de ser manipulado pelos outros. No domínio prático (ou seja, nas atividades da vida diária e da vida laboral, na autonomia): 1. Podem ser totalmente independentes em relação aos próprios cuidados (alimentar-se, vestir-se, lavar-se, controlar esfíncteres), mas precisar de apoio para reali- zar tarefas complexas da vida diária que envolvam, por exemplo, a organização das compras para a casa, o uso dos meios de transporte, a administração do dinheiro. 2. São potencialmente capazes de realizar atividadesque requeiram mais habilidades práticas que intelectuais, como trabalhos manuais não especializados ou semi- especializados. No período adulto, podem ter vida bas- tante independente e autônoma e requerer apoio para situações mais complexas e mudanças ambientais ab- ruptas. 3. No caso de se casarem e terem filhos, pode haver difi- culdades significativas para lidar com os diversos desa- fios e exigências do casamento e da paternidade/ma- ternidade; podem necessitar de apoio de familiares ou amigos. Deficiência intelectual moderada Kamilla Galiza / 5º Período / APG Pessoas com DI moderada constituem cerca de 10 a 15% do total da população com DI. Elas revelam, nos testes de inteli- gência, QI na faixa de 35 a 49. Esses indivíduos apresentam desenvolvimento neuropsicomotor, particularmente da lin- guagem e da compreensão, lentificado e incompleto. Apre- sentam as seguintes características: No domínio conceitual: 1. A aquisição da fala e de outras habilidades no período pré-escolar é claramente mais lenta em relação à das crianças de mesma idade. 2. A aquisição escolar é bastante limitada. Os progressos em leitura, escrita, matemática, percepção e uso do tempo e do dinheiro são lentos e ficam bem atrás dos de pares de mesma idade. Apenas alguns indivíduos com esse grau de deficiência aprendem elementos de leitura, escrita e cálculo. Dificilmente vão além do pri- meiro ou segundo ano escolar em contextos educacio- nais onde não há aprovação automática. 3. São capazes de realizar tarefas e trabalhos práticos e simples se forem adequadamente estruturados e tive- rem apoio nos vários aspectos do trabalho. No domínio social: 1. Há diferenças importantes em relação aos pares em termos de comportamento social e comunicação. A lin- guagem comunicativa é bem menos complexa do que a de pares de mesma idade. 2. Podem ter e manter amizades satisfatórias e eventual- mente ter relacionamentos românticos (namorar, pa- querar), mas podem apresentar dificuldades para per- ceber regras e pistas sociais. 3. Podem ter dificuldades para tomar decisões, e os rela- cionamentos interpessoais podem ser limitados pelas dificuldades de comunicação e interação social. 4. Têm necessidade de receber apoio social e na comuni- cação para que atividades no trabalho (geralmente ta- refas simples) possam ocorrer com sucesso. 5. Muitos desses indivíduos, apesar de visivelmente defici- entes e desajeitados no contato interpessoal, gostam da interação social e podem estabelecer uma conversa simples. No domínio prático: 1. Uma vida completamente independente na idade adulta poucas vezes é alcançada. 2. Podem ser capazes de dar conta de atividades básicas como alimentar-se, vestir-se, controlar esfíncteres e re- alizar higiene pessoal. 3. As tarefas domésticas, como limpar a casa, lavar pratos, arrumar as camas, podem ser aprendidas depois de paciente período de ensino. 4. Na vida adulta, necessitam de amplo apoio para o ma- nejo de tarefas um pouco mais complexas no trabalho, para o transporte em meios coletivos e para o controle do dinheiro. 5. Epilepsia e incapacidades neurológicas e físicas são mais frequentes na DI moderada do que na leve. Deficiência intelectual grave Na DI grave, a linguagem geralmente está bastante afetada ou há quase total incapacidade na comunicação verbal (de- vendo-se, em vários casos, utilizar comunicação alternativa). Às vezes, os indivíduos não falam ou apenas aprendem algumas palavras. Os pacientes têm QI de 20 a 34. Pessoas com DI grave apresentam: No domínio conceitual: 1. Pouca ou nenhuma compreensão da linguagem escrita e de conceitos que envolvam números, quantidade, tempo e dinheiro. 2. Necessitam de cuidadores praticamente em tempo in- tegral, bem como de grande apoio deles para a solução de problemas ao longo da vida. No domínio social: 1. A linguagem falada é muito limitada em termos de vo- cabulário e gramática. 2. A comunicação falada pode ser composta de palavras isoladas, e é frequente a necessidade de uso de comu- nicação alternativa. A comunicação se atém ao foco do aqui e agora dos eventos diários. 3. Entendem apenas comunicação com discursos simples ou comunicação gestual simples. No domínio prático: 1. Necessitam de apoio para todas as atividades cotidia- nas, inclusive para alimentar-se, vestir-se, tomar banho, urinar e defecar. 2. De modo geral, necessitam de supervisão em todos os momentos de suas vidas. 3. É comum que apresentem certos comportamentos mal adaptativos, como de autolesão. Deficiência intelectual profunda Esse grupo compreende cerca de 1 a 2% dos indivíduos com DI. O QI dessas pessoas fica abaixo de 20. São pacientes que apresentam grave limitação da capacidade de entender (mesmo comandos simples) ou de agir de acordo com soli- citações ou instruções. Muitos dos indivíduos com DI profunda ficam restritos ao leito (devido a distúrbio motor grave), sem capacidade para a fala e sem controle voluntário dos esfínc- teres. Déficits visuais e auditivos também são frequentes, as- sim como epilepsia e outras doenças físicas. Para sobreviver, requerem constante supervisão e cuidados básicos. Apre- sentam: No domínio conceitual: 1. Praticamente não há processos simbólicos, as habilida- des conceituais se restringem ao mundo físico; podem utilizar objetos de forma simples, de maneira direcio- nada a metas, também simples. 2. Podem apresentar algumas habilidades visuoespaciais (combinar e classificar), baseadas em características fí- sicas dos objetos. Entretanto, deficiências sensoriais e motoras podem prejudicar o uso dos objetos. No domínio social: 1. Geralmente não há comunicação falada, pois a comu- nicação simbólica na fala e nos gestos é muito limitada. A comunicação é mais viável de forma não verbal, não simbólica. 2. Podem entender algumas instruções muito simples e gestos elementares. 3. Apreciam relacionamento com pessoas bem conheci- das, mas não conseguem iniciar interações sociais. 4. Com frequência apresentam prejuízos sensoriais e mo- tores que impedem muitas atividades sociais. No domínio prático: 1. Dependem de outras pessoas de forma integral para todos os aspectos do cuidado físico diário. Kamilla Galiza / 5º Período / APG 2. Ações simples com objetos podem servir como base para algumas atividades úteis. 3. Podem gostar de ouvir música, brincar na água, sair para passear, sempre com apoio integral de outras pes- soas. 4. Os prejuízos sensoriais e motores com frequência impe- dem maior participação na vida prática da família. Po- dem ter comportamentos de autolesão. Tabela 1. Aspectos gerais da deficiência intelectual em seus vários níveis. Causas de deficiência intelectual Há alguns fatores de risco importantes para esse tipo de de- ficiência, que se correlacionam com maior chance de a cri- ança apresentá-la, mas que possivelmente agem de forma somatória com outros fatores para a ocorrência de DI. São os seguintes os principais fatores de risco: baixo peso ao nascer (peso menor que 2,5 kg, com risco maior para inferior a 1,5 kg), idade gestacional significativamente menor (crianças que nascem bem antes da data prevista do parto), idade avan- çada da mãe, nível educacional muito baixo da mãe e sexo masculino da criança. A privação psicossocial grave, relacionada a marcantes ne- gligências (ausência total dos pais ou substitutos), desnutri- ção proteicocalórica nos primeiros anos de vida, falta de es- tímulos cognitivos e afetivos adequados e violência em rela- ção à criança (violência verbal ou física, abuso físico, sexual, humilhações), representam fatores relevantes para a DI, so- bretudo de leve e moderada. A DI grave e profunda revela, todavia, na maioria das vezes, uma causa orgânica eventualmente reconhecível e, com fre- quência, vem acompanhada de distúrbios físicos e neuroló- gicos, como epilepsia, déficit visual e/ou auditivo e incapaci-dades motoras. Como um todo, as quatro causas mais fre- quentes de DI são: síndrome de Down, hipoxia-isquemia ce- rebral perinatal, transtornos do espectro alcoólico fetal ou sín- drome alcoólica fetal (SAF) e síndrome do X frágil. Causas genéticas Causas ambientais Cerca de 40% Cerca de 60% Anormalidades cromossô- micas (ACs): com frequên- cia estão associadas a DI: cerca de 25% das DIs são causadas por ACs. Transtornos do espectro alcoólico fetal ou síndrome alcoólica fetal (SAF): expo- sição da gestante (e, con- sequentemente, do feto) ao álcool é a causa ambiental A trissomia do 21 (síndrome de Down) é a AC mais fre- quente, estimando-se que seja a causa de DI em até 20% dos casos. Outras ACs são: trissomias do cromossomo 13 e do 18 e síndrome de Klinefelter* (cariótipo 47, XXY), que ocorre em 1 em cada 650 meninos. (e prevenível) mais fre- quente de DI e inteligência limítrofe; até cerca de 8% das DIs seriam por SAF. Causas monogênicas (CMs): cerca de 10% das DIs são causadas por CMs. A síndrome do X frágil é a DI decorrente de causas mo- nogênicas mais frequente; cerca de 5% das Dis são de- correntes da síndrome do X frágil (mais comum no sexo masculino). Outras causas monogêni- cas: síndrome de Prader- Willi, síndrome de Angel- man, síndrome de Williams, síndrome de Rett, síndrome velocardiofacial. Eventos perinatais no feto ou bebê • Hipoxia/isquemia ce- rebral • Hemorragias periven- triculares em prema- turidade extrema Síndromes neurocutâneas: Neurofibromatose tipo 1 (com manchas na pele de coloração café com leite, habilidades visuoespaciais comprometidas, desaten- ção e déficit em funções executivas). Esclerose tuberosa, com nódulos periventriculares calcificados e túberes corti- cais. Infecções durante a ges- tação e no período perina- tal, sobretudo as do grupo TORCH (Toxoplasmose, Ou- tras – sífilis, varicela-zóster, parvovírus B19 –, Rubéola, Citomegalovírus e infec- ções por Herpes vírus), es- tão associadas a anoma- lias congênitas, inclusive DI. Malformações cerebrais (displasia do córtex, do corpo caloso, do cerebelo, ventriculomegalia) Erros inatos do metabo- lismo: fenilcetonúria, galac- tosemia. Eventos pós-natais como meningite e trauma crani- ano. Desnutrição proteico-ca- lórica nos dois primeiros anos de vida. Combinada com privação psicossocial grave, pode ter consequên- cias nefastas e permanen- tes na criança. Intoxicação por chumbo no início da in- fância também está asso- ciada a DI. Semiotécnica Avaliação inicial, simplificada, para uma primeira inferência sobre a inteligência de uma pessoa. Avaliação simplificada da inteligência - Verificar inicialmente se o paciente está com o nível de consciência preservado, se está orientado tempo e Kamilla Galiza / 5º Período / APG espacialmente, qual o seu grau de concentração e motiva- ção e seu estado de humor (essas variáveis influenciam muito na interpretação do desempenho intelectual). - Qual a escolaridade do paciente? Se repetiu na escola, quantos anos de repetência? Quais os motivos aparentes? (Fugia da escola, brigava muito, faltava, tinha medo da pro- fessora, não conseguia aprender, etc.) - Perguntar (ao paciente ou a um familiar) se ele sabe fazer contas, se sabe lidar com dinheiro (conferir o troco), se se veste sozinho, se é capaz de ir sozinho de ônibus ao centro da cidade, se vê televisão e entende o que acontece nas novelas ou nos filmes. - Após essa triagem inicial, verificar a extensão do vocabulá- rio do paciente: se sabe ler e escrever; se, em algum período de sua vida, leu gibis, revistas, livros ou jornais; se soube es- crever seu nome, bilhetes e cartas. - Verificar informações e conhecimentos gerais: endereço e telefone atuais; nome e idade do cônjuge, dos pais e dos ir- mãos. Perguntar qual a capital do Brasil e a do estado onde se encontra. Quem foram os três últimos presidentes do País? - Tentar, então, verificar a capacidade de abstração, genera- lização e sofisticação da inteligência, perguntando: Que aves (pássaros) você conhece? O que é uma fera? O que é um monstro? O que é um homem covarde? Qual a diferença en- tre fé e conhecimento? E entre ingenuidade e honestidade? De onde se obtém o açúcar? E o mel? E a gasolina? E o álcool? Quem é o maior, a Lua ou o Sol? A Terra ou a Lua? QI e testes de avaliação da inteligência O QI é uma medida convencional da capacidade intelectual do indivíduo baseada na averiguação das distintas habilida- des intelectuais (verbais, visuoespaciais, abstração, cálculo, compreensão, entre outras), sendo obtido por meio de testes individuais padronizados. Por meio da aplicação dos testes em extensas amostras po- pulacionais, obtiveram-se normas quantitativas do QI. A mé- dia populacional do QI é igual a 100. Na faixa de 85 a 115 (QI normal médio), encontram-se 68% da população. Um QI su- perior a 115 ou 120 indica inteligência superior e, acima de 130, inteligência muito superior. Pessoas com QI acima do percen- til 98 (ou seja, os 2% com maior QI), que apresentam, portanto, QI acima de 130, são denominadas “superdotadas”. A avalia- ção da inteligência deve buscar identificar um padrão geral de rendimento intelectual, não se fixando apenas em, ou su- pervalorizando, áreas específicas da inteligência. A interpre- tação dos resultados de testes de QI deve ser feita com cau- tela e flexibilidade; o teste deve ser considerado um guia, um indicativo, e não algo absoluto Teste simplificado de inteligência Teste de Wilson: Com base na capacidade de cálculo de multiplicação, este teste simplesmente solicita ao paciente que faça mentalmente multiplicações por 2, de forma pro- gressiva: 2x 3;2 x6; 2 x 12; 2 x 24; e assim por diante. Teste de Kent Conhecimentos: - De que são feitas as casas? (Resposta: 1 ponto para cada material, até 4 pontos) - Diga-me o nome de algum peixe. (Resposta: 1 ponto para cada peixe, até 4 pontos) - Diga-me o nome de algumas cidades grandes. (Resposta: 1 ponto, cidades pequenas não valem) - O que se pode fazer com a areia? (Resposta: brincar = 1 ponto; usar na construção = 2 pontos; fabricar o vidro = 4 pontos) - Que metal é atraído pelo ímã? (Resposta: aço = 2 pontos; ferro = 4 pontos) - Quais as cores da bandeira brasileira? (Resposta: verde e amarelo = 1 ponto; verde, amarelo, azul e branco = 2 pontos) Resolução de problemas: - Se uma bandeira bate ou ondeia em direção ao sul, de que direção vem o vento? (R: norte – 3 pontos) - A que horas do dia a sombra de uma pessoa, estando sob o sol, é menor? (R: ao meio-dia / 3 pontos) - Por que a Lua parece ser maior que as estrelas? (R: porque ela está mais baixa = 2 pontos; porque ela está mais perto da Terra = 3 pontos; porque objetos mais próximos parecem maiores = 4). - Se a sua sombra aponta para o nordeste, onde, então, está Sol? (R: no Sudoeste = 4 pontos) Nível inte- lectual QI aproxi- mado Escore no teste de Kent Escore no teste de Wilson Deficiente < 70 0 a 18 2 x 12 Borderline 70 a 80 19 a 20 2 x 24 Normal in- ferior 80 a 90 21 a 23 2 x 48 Médio 90 a 110 24 a 31 2 x 96 Normal su- perior 110 x 120 32 a 33 2 x 192 Inteligência superior >120 34 a 36 2 x 384 Avaliação médica da di A avaliação médica de pessoas com DI é feita, de modo mais frequente, em crianças ou adolescentes, e apenas eventual- mente em adultos (presume-se que tal avaliação já deveria ter sido feita na infância). Tal avaliação deve incluir uma anamnese completa com dados sobre a gestação, o parto e o período pós-natal, a história do desenvolvimento neuropsi- comotor e a história familiar (de pelo menos três gerações). A avalição clínica deve também incluir: perímetro cefálico, al- tura (baixa estatura pode sugerir síndrome alcoólica fetal, e alta estatura, síndrome do X frágil e síndrome de Sotos), ava- liação neurológica com exame neurológico, avaliações oftal- mológicas e otorrinolaringológicas,avaliação da pele (anor- malidades de pigmentação), dismorfismos de face e extre- midades e avaliação de malformações internas. Referencias Dalgalarrondo, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos trans- tornos mentais – 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.
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