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[Pneumonia] INTRODUÇÃO – CASO CLÍNICO • Sr. João, 58 anos, natural de Dracena, morando em Adamantina há 30 anos. • Trabalhador rural, caso há 35 anos, com parceria única e tem 3 filhos • Mora com a esposa no sítio da família, ainda faz uso de forno a lenha • Sem deslocamentos recentes • Fuma cigarro de palha 1-2 por dia há 40 anos (que é pior que o cigarro normal e mais difícil de fazer a quantificação) • Faz uso de aguardente, ½ garrafa por final de semana (a cachaça tem em torno de 30-40% de álcool, então considerando uma garrafa de 1 Litro, ele tomaria 400 g de álcool por fim de semana) • Desconhece hipertensão, diabetes ou outra doença (nunca foi de ir ao médico) DO QUE ESTE PACIENTE PODE ADOECER? DPOC, enfisema pulmonar, cirrose, úlcera gástrica, gastrite, esofagite, doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, os vários tipos de câncer (boca, pulmão, entre outros) • Procurou atendimento no PS de adamantina, há 2 dias, pois se queixava de falta de ar • Refere ao plantonista que vinha apresentando tosse há 3 dias, a principio seca, porém se tornou produtiva e passou a apresentar dispneia e febre no dia do atendimento • Por pressão dos filhos que o fizeram procurar atendimento médico, foi contrariado a ir ao hospital • Filhos referem que o paciente tem confundido locais e apresenta dificuldade em saber a data NO EXAME CLÍNICO • Murmúrio vesicular abolido em base direita até 1/3 médio direito, com crepitação em demais áreas à direita. Presença de crepitações em base esquerda → já vemos que o problema parece ser bilateralmente (o MV está abolido não pela pneumonia, a pneumonia causa aumento do FTV e uma macicez a percussão, esse MV abolido é provavelmente por uma complicação já) • Ritmo cardíaco regular, bulhas normofonéticas, sem sopros, clicks ou estalidos • Abdome sem dor, massa ou visceromegalias, ausência de massas pulsáteis, ausência de sopros audíveis, ruídos hidroaéreos normoativos • Pulsos filiformes, pele fria com cianose de extremidades, unhas em vidro de relógio e aumento anteroposterior do tórax → está havendo alguma alteração hemodinâmica que faz com que os pulsos já estejam finos, a cianose indica má perfusão e as unhas em vidro de relógio indicam já uma doença pulmonar crônica. Os filhos perguntam: Dr., é grave? → Você responde: Ainda faltam informações para avaliar SINAIS VITAIS DO PACIENTE • FC é igual ao pulso: 110 bpm • FR: 24 irpm • PA: 110x60 mmHg Esses dados já sugerem uma instabilidade hemodinâmica AGORA, O QUE VOCÊ FARIA? ➔ Não se preocupa com esse paciente? ➔ Se preocupa relativamente? ➔ Se preocupa muito com esse paciente? CRITÉRIOS DE SIRS - 2 OU MAIS DESSES: • Temperatura > 38 ou < 36 • FC > 90 • FR > 20 ou PCO2 < 32 • Contagem laboratorial de leucócitos > 12000 ou < 4000 ou ainda, contagem de células jovens > 10% CRITÉRIOS QSOFA • Respiração maior ou igual a 22 irpm • Alteração do estado mental • Pressão sistólica menor ou igual a 100 mmHg *Primeiro faz a triagem pelo qSOFA e depois faz o SOFA. Observe como esse paciente já apersenta critérios de sepse. ALÉM DISSO, PODEMOS AVALIAR PELO CURB-65 VAMOS TENTAR FAZER O DIAGNÓSTICO • Diagnóstico sindrômico: dispneia febril • Diagnóstico anatômico: sistema respiratório • Diagnóstico etiológico: pneumonia adquirida na comunidade • Diagnóstico diferencial: neoplasia de pulmão, síndrome respiratória aguda grave (principalmente no contexto da pandemia por COVID19) EXAMES LABORATORIAIS DO PACIENTE • Hb: 15 • Ht: 41 • Leucocitose com neutrofilia • Ureia: 95 • Cr: 3,0 Raio-X evidenciando um derrame pleural à direita, e no lado esquerdo observamos uma área de consolidação heterogênea, com presença de pneumonia bilateral. Consolidação e complicação de pneumonia → derrame pleural. O RX da pneumonia geralmente é isso que está circulado: uma consolidação pulmonar *Aluno pergunta: não pode ser um tumor que levou ao derrame pleural? Pode sim, então o melhor seria solicitar uma tomografia para afastar essa possibilidade DIAGNÓSTICO: Pneumonia com complicação de derrame pleural QUAL O PROVÁVEL AGENTE ETIOLÓGICO Sempre o mais provável e mais comum: Streptococcus pneumoniae MAS PROFESSOR, ELE É ETILISTAS.... • Então pense também em anaeróbios (podem ocorrer pequenas aspirações do conteúdo da cavidade oral) ELE TAMBÉM TEM DPOC, E AÍ? Pensar também em alguns agentes comuns no DPOC: • Haemophilus influenzae • Moraxella catarrhalis • Streptococcus pneumoniae • Legionela sp Felizmente a droga que cobre o strepto também cobre as demais. E A QUESTÃO DA ASPIRAÇÃO? E SE ELE FOSSE ACAMADO OU FIZESSE USO DE SONDA NASOGÁSTRICA? • Esse paciente teria uma chance grande de evoluir com um AVC • Se o paciente está acamado é comum ter engasgos com conteúdo alimentar, por isso temos que pensar também em anaeróbios • Assim coloca-se a sonda na tentativa de ajudar... e ela consegue, porém ela mantém o esfíncter esofágico aberto, facilitando ainda mais a presença de anaeróbios MAS E AS BACTÉRIAS ATÍPICAS? • O que são? São as bactérias que não possuem parede celular, portanto não uso beta-lactâmico que inibe a síntese da parede extracelular • Quais são? ➔ Clamydophila pneumoniae ➔ Clamydophila pisittaci (normalmente presente nos animais de bico curvo – calopsita), ➔ Mycoplasma pneumoniae *kpc não é uma bactéria atípica, ela é resistente aos carbapenêmicos PNEUMONIA ADQUIRIDA NA COMUNIDADE • Sem comorbidades: ➔ Strep. Pneumoniae ➔ Atípicas: clamydophila pneumoniae, C. Osittaci, Legionella sp, M. pneumoniae, C. burnetti ➔ Virais • Com comorbidades: ➔ Alcoolismo: Strep. Pneumoniae, H. influenzae ➔ DPOC: H. influenzae, M. Catarrhalis, Strep. Pneumonieae ➔ Pós aspiração: flora oral, Strep. Pneumoniae ➔ Pós obstruição de brônquios: Strep. Pneumoniae, H. influenzae ➔ Pós influenza: Strep. Pneumoniae, Staph. Aureus ➔ Neutropenia, imunossupressão: Pseudomonas aeruginosa ➔ Usuário de droga injetável: Staph. Aureus Grande parte das vezes o patógeno não é identificado, por isso tratamos de forma empírica. Porém, melhor forma de identificar é por cultura de sangue e não por cultura de secreção (pois nesta última é muito comum vir contaminação da boca) QUAIS OS CUIDADOS? • Colher culturas além dos exames gerais • Iniciar antibiótico • Reposição volêmica • Controle de diurese → muitas vezes preciso colocar uma sonda vesical para o controle • Controle da temperatura → cada grau que aumenta gera prejuízo nos mecanismos de defesa do paciente • Controle de glicemia → quanto mais descontrolada, mais difícil de controlar a infecção Fazer a avaliação se esse paciente realmente está em sepse → através do SOFA • Ele tem que ter um aumento de 2 pontos no SOFA em relação ao seu basal QUAIS ANTIBIÓTICOS USAR? • Ceftriaxone: 1-2 mg IV a cada 24 horas (não tem hepatotoxicidade e nem nefrotoxicidade) → cobre principalmente o pneumococo e as bactérias envolvidas no DPOC • Ceftaroline: 600 mg IV a cada 12 horas → não é muito comum ter nos hospitais • Azitromicina: 500 mg IV a cada 24 horas → associamos junto com o ceftriaxone para cobrir os atípicos • Levofloxacin: 750 mg IV ou VO a cada 24 horas → não é recomendada como monoterapia em pneumonia adquirida na comunidade grave • Em pneumonia adquirida na comunidade grave: ➔ Beta-lactâmico + macrolídeo (ex.: azitromicina) ➔ Beta-lactâmico + Quinolonas (ex.: levofloxacino) • Corticosteroides: não é recomendado Resumindo: Ceftriaxone + azitromicina ou ceftriaxone + levofloxacino (em casos graves) ou apenas levofloxacino em casos não graves QUAL A DURAÇÃO DO TRATAMENTO: • Tratamento é de 5-7 dias Já existem artigos que comprovam que o curso mais curto de antibioticoterapiaé eficaz. • A primeira dose do antibiótico deve ser dada a partir de 6 horas do momento que o paciente entrou no hospital com pneumonia grave, melhorando a sobrevivência do paciente • Se o paciente está na sala de emergência, deve ser dada a primeira dose do antibiótico ainda na sala de emergência (isso em sepse e em meningite) • O antibiótico pode ser descontinuado com segurança, depois de 5 dias, nos pacientes que se tornaram afebril por 48 horas de antibióticos ou com 2 dos seguintes sinais: ➔ PAS < 90 ➔ FC > 100 ➔ FR > 24 OS PORQUÊS DOS ANTIBIÓTICOS... • Penicilina G (ex.: amoxicilina, amoxicilina com clavulanato): Strepto. Pneumoniae → praticamente todas as penicilinas são eficazes • Ceftriaxone → Strepto pneumonia também é sensível • Macrolídeos (ex.: azitromicina) → bactérias atípicas • Quinolonas (ex.: llevofloxacino, moxifloxacino) → são eficazes contra bactérias atípicas (lembrando que em pneumonia grave não se deve usar quinolonas isoladamente) • Amoxicilina com clavulanato: abrange anaeróbios (ex. Peptoestreptococos) • Clindamicina também cobre anaeróbios (principalmente os de boca – ela só não cobre o clostridium dificille) → mais utilizada para pele e quadros respiratório • Metronidazol: anaerobicida importante → mais utilizado em quadros abdominais Lembrando que: paciente em sepse: administração precoce de ATB, reposição volêmica, vasopressores se necessário, alimentação enteral, insulinoterapia, sedação enteral eu evito, cateter urinário para medir o volume e o débito urinário, ventilação se necessária Em pacientes não entubados, se você não consegue um lavado broncoaoveloar com broncoscopia, não adianta colher. Agora se o paciente está entubado e você só tem essa opção... aí você colhe. A preferência é sempre pela Hemocultura e não pela cultura de secreção.
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