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1 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 MÓDULO DISPNEIA, DOR TORÁCICA E EDEMA COMPREENDER A EPIDEMIOLOGIA, ETIOLOGIA, FISIOPATOLOGIA, QC, COMPLICAÇÕES, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA PNEUMONIA BACTERIANA COMUNITÁRIA. Pneumonia é definida como doença inflamatória aguda que acomete as vias aéreas terminais e o parênquima pulmonar, causada mais comumente por vírus, bactérias e outros organismos. Pneumonia adquirida na comunidade (PAC) é a que acomete o indivíduo fora do ambiente hospitalar ou se manifesta em até 48 horas da admissão. EPIDEMIOLOGIA Entre as síndromes de infecções respiratórias, a PAC é a de maior risco de morte, e maior número de internações. No Brasil, segundo dados do Datasus, ocorreram 605 mil internações por infecções de vias respiratórias inferiores (PAC ou influenza) em 2015. Indivíduos acima de 60 anos apresentam maior impacto da PAC, com mais episódios com necessidade de internação, e maior mortalidade em decorrência da imunossenescência e comorbidades. Tabagismo, etilismo, dentes em mau estado de conservação e desnutrição são fatores de risco evitáveis. Vacina antinfluenza anual e vacinação antipneumocócica são os fatores de proteção. A PAC é uma das principais causas de morte em pacientes com mais de 65 anos de idade, especialmente aqueles que apresentam comorbidades significativas como doença pulmonar obstrutiva crônica, diabetes melito e insuficiência cardíaca. AGENTES ETIOLOÓGICOS O agente etiológico mais comum da pneumonia comunitária é o Streptococcus pneumoniae – o “pneumococo”, um diplococo Gram-positivo. Os outros agentes da pneumonia comunitária em adultos podem ser separados em grupos, acordo com o seu comportamento biológico. Problema 03 - Faça o que eu digo, mas ... 2 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 1. STREPTOCOCCUS PNEUMONIAE É um diplococo gram-positivo, sendo o patógeno mais comum em quase todas as idades (exceto recém-natos). O quadro clínico é de uma pneumonia típica. A presença de escarro de cor ferruginosa é um dado a favor desta infecção. Os principais fatores de risco são: doenças debilitantes, idade avançada, neoplasia, transplante. O rx mostra mais comumente uma broncopneumonia, mas pode revelar a clássica pneumonia lobar. O tratamento é baseado nos betalactâmicos, sendo o de maior eficácia: amoxicilina, ampicilina. 2. HAEMOPHILUS INFLUENZAE É um cocobacilo gram-negativo, sendo importante gente etiológico da pneumonia em crianças entre três meses a cinco anos, idosos > 65 anos, pacientes com DPOC ou doenças pulmonares estruturais. O quadro clínico é de uma pneumonia típica, com um quadro radiológico de uma broncopneumonia. O tratamento de escolha deve ser uma cefalosporina de 2ª (cefuroxime) ou 3ª geração (ceftriaxone, cefotaxima), ou ainda a amoxicilina- clavulanato. 3. MORAXELLA CATARRHALIS É um diplococo gram-negativo causador da pneumonia em pacientes com DPOC. Possui quadro clínico típico. 4. KLEBISIELLA PNEUMONIAE É um bastonete gram-negativo, capaz de causar uma grave pneumonia, marcado por um extenso infiltrado pulmonar que pode evoluir para uma pneumonia lobar. Quando acomete o lobo superior e faz um abaulamento na sua borda inferior, dar o aspecto da chamada pneumonia do lobo pesado. É um agente comum em alcoólicos e diabéticos. O tratamento deve ser feito com cefalosporinas de 3ª (ceftriaxone, cefotaxima) ou 4ª geração (cefepime), ou com fluoroquinolonas. 5. STAPHYLOCOCCUS AUREUS É um gram-positivo de extrema virulência e que costuma causar uma pneumonia grave. É raro em adultos, a não ser nos usuários de drogas endovenosas, pacientes debilitados ou com infecções com abcesso. Quase 79% ocorrem em crianças com menos de 1 ano. O quadro clinico é agudo, começando com uma broncopneumonia de evolução rápida. Uma característica marcante é a formação de pneumatocele. O tratamento deve contar com a oxacilina venosa. 6. PNEUMONIA ASPIRATIVA POR ANAERÓBIOS Episódios de microaspiração são comuns durante o sono de pessoas hígidas Um episódio de macroaspiração pode ocorrer em indivíduos om queda do nível de consciência ou que apresentam disfagia motora. Os principais exemplos são: vítimas de AVE, convulsões, intoxicação alcóolica. Quando o paciente tem os dentes em mau estado de conservação, a flora de anaeróbios torna-se ainda muito maior, aumentando a chance e a gravidade deste tipo de pneumonia. Vale ressaltar que a aspiração do vômito (suco gástrico) costuma causar uma “pneumonite química aspirativa” – também denominada de síndrome de Mendelson. Esta síndrome é confundida por muitos médicos com pneumonia bacteriana, sendo tratada erroneamente com antibióticos. O quadro clínico é o de uma pneumonia “típica”, com padrão broncopneumônico e consolidativo e uma enorme tendência à formação de empiema e abcesso pulmonar. (ESCARRO ESCURECIDO PENSAR NOS ANAERÓBIOS). A droga de escolha é a clindamicina, seguida pela amoxicilina+ clavulanato. 7. MYCOPLASMA PNEUMONIAE Essas bactérias não têm parede celular e tem uma resistência natural aos beta-lactâmicos. É o principal agente da pneumonia atípica. A maioria das infecções envolve o trato respiratório superior, isto é, um quadro gripal. O paciente apresenta dor de garganta, mal-estar, 3 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 mialgia, febre baixa, cefaleia, e tosse seca que costuma evoluir para produtiva com secreção purulenta e com raias de sangue. A radiografia de tórax mostra um infiltrado broncopneumônico ou intersticial. Uma das principais manifestações extrarespiratórias é a Miringite bolhosa (presença de vesículas na membrana timpânica); Todo paciente jovem com pneumonia ambulatorial deve ser tratado por micoplasma. O tratamento deve ser feito com macrolídeos (eritromicina, azitromicina ou claritromicina) ou a doxiciclina. 8. CLAMYDIA PNEUMONIAE A infecção geralmente é subclínica ou leva a um quadro tipo virose de vias aéreas superiores (faringite, bronquite, sinusite). As manifestações clínicas da pneumonia por clamídia são muito parecidas com a pneumonia por micoplasma. A rouquidão e o aparecimento de sibilos são achados mais frequentes. A infecção acomete qualquer faixa etária, mas predomina nos idosos, sendo a segunda causa de pneumonia branda nesses pacientes. O tratamento é com macrolídeos ou doxiciclina. FISIOPATOLOGIA Na grande maioria dos casos, o micro-organismo causador da pneumonia atinge os alvéolos pulmonares através da microaspiração do material proveniente das vias aéreas superiores (orofaringe, nasofaringe). Ou seja, para infectar o pulmão, o agente primeiro precisa colonizar o epitélio faríngeo e depois ser aspirado para as vias aéreas inferiores. Menos comumente, o germe atinge os alvéolos por inalação de aerossol contaminado do ambiente (Legionella) ou por via hematogênica (S. aureus). A colonização das vias aéreas superiores por bactérias patogênicas geralmente é transitória, durando semanas. As bactérias anaeróbicas são os principais colonizadores do epitélio faríngeo, presentes numa concentração dez vezes maior que a de aeróbios. Em termos de concentração bacteriana na faringe, depois dos anaeróbios vêm os Gram-positivos aeróbios. O epitélio faríngeo dos indivíduos hígidos é revestido por uma camada de fibronectina - uma proteína que serve como receptor para a adesão dos aeróbios gram- positivos. 4 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 A idade avançada e determinadas afecções debilitantes, como DPOC, diabetes mellitus e alcoolismo, podem modificar a flora colonizadora por reduzir a quantidade de fibronectina do epitélio, permitindo a exposição de receptores das células epiteliais para agentes Gram-negativosaeróbios. Assim, bactérias como Haemophilus influenzae, Moraxella catarrhalis e Klebsiella pneumoniae começam a sobressair e colonizar as vias aéreas superiores. A ocorrência da pneumonia depende muito da competição entre bactéria e as defesas do hospedeiro. Para ocorrer pneumonia uma ou mais das seguintes situações tem que estar presentes: 1. Contato do alvéolo com um agente de alta virulência. 2. Contato do alvéolo com um grande inóculo de bactérias; 3. Defeito nos mecanismos de defesa do hospedeiro. As defesas naturais do aparelho respiratório conseguem manter as vias aéreas infraglóticas estéreis. O reflexo de tosse e outros reflexos epiglóticos podem eliminar uma grande quantidade de partículas. Assim como a secreção de IgA é um importante meio de defesa nas vias aéreas superiores contra agentes infecciosos. As partículas “infectantes” muito pequenas, conseguem atingir os bronquíolos terminais e os alvéolos, estruturas desprovidas de cílios. Entretanto, o surfactante alveolar é rico em substâncias de efeito antibacteriano, como IgG, IgM, complemento, fibronectina, lisozimas e proteínas ligadoras de ferro. Os anticorpos antibacterianos específicos agem de duas formas: (1) o IgM ativa o sistema complemento capaz de destruir a bactéria pelo seu poder lítico; (2) o IgG reveste a superfície bacteriana, permitindo o seu reconhecimento pelos fagócitos alveolares. Se a virulência do agente for alta, ele consegue se multiplicar mesmo na presença de macrófagos alveolares. Como é o caso do pneumococo, que possui uma cápsula e a defesa contra ele depende da presença de anticorpos específicos (que pode ser obtido por meio da vacina antipneumocócica polivalente). Existem várias condições que inibem um ou mais mecanismos de defesa contra os agentes da pneumonia comunitária. Algumas delas aumentam a chance de pneumonia por quase todos os germes, como é o caso da idade avançada, tabagismo, DPOC, ICC. QUADRO CLÍNICO 1. TÍPICO O quadro clinico clássico de uma PAC “típica” é caracterizado por uma doença de forma hiperaguda (2-3 dias), com uma história de calafrios com tremores, seguidos de febre alta (39- 40), dor torácica pleurítica e tosse produtiva com expectoração purulenta (esverdeada). O exame físico pode revelar prostração, taquipneia (FR > 24 ipm), taquicardia (FC > 100 bpm) e hipertermia (Tax >38oC). Os achados positivos no exame do aparelho respiratório podem variar desde simples estertores inspiratórios até uma síndrome de consolidação e/ou de derrame pleural. A síndrome de consolidação é caracterizada pela presença do som bronquial (“sopro tubário”), aumento do frêmito toracovocal, submacicez, broncofonia e pectorilóquia fônica. Já a síndrome do derrame pleural é identificada pela abolição do murmúrio vesicular e do frêmito toracovocal, submacicez e egofonia. Os exames laboratoriais inespecíficos geralmente revelam uma leucocitose neutrofílica entre 15.000- 35.000/mm3, com desvio para esquerda. Na gasometria arterial, os achados mais frequentes são a hipoxemia e alcalose respiratória, que são fatores de mau prognostico. 5 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 Obs: Quanto mais velho e mais debilitado for o paciente, mais o quadro clinico se afasta do “esperado”. A febre pode estar ausente ou, se presente, ser mais baixa. Podem faltar outros comemorativos, como a tosse, a expectoração purulenta e a leucocitose. As vezes o único sinal de pneumonia nesses pacientes pode ser a prostração, a desorientação ou a taquidispneia. Obs: Todo paciente idoso debilitado, ou qualquer indivíduo previamente doente, que evolui com um quadro inexplicado de desorientação e queda do estado geral ou simplesmente taquidispneia, mesmo na ausência de febre, tosse produtiva ou leucocitose, deve ter a pneumonia bacteriana como um de seus diagnósticos diferenciais. RADIOGRAFIA DE TÓRAX NO QUADRO TÍPICO Três situações podem explicar a radiografia normal na pneumonia: (1) o infiltrado é retrocardíaco, não sendo visualizado na incidência PA; (2) o infiltrado é muito tênue para ser identificado pela radiografia – mas pode ser visualizado na TC (3) A técnica da radiografia foi incorreta. O que costumamos ver no RX de um paciente com pneumonia é um infiltrado pulmonar. Esse infiltrado, no caso da pneumonia bacteriana geralmente é do tipo alveolar broncopneumônico: múltiplas condensações lobulares coalescentes. A presença de broncograma aéreo caracteriza o infiltrado alveolar, pois os alvéolos em volta do brônquio estão preenchidos de exsudato, contrastando com o ar em seu interior. Algumas vezes, podemos ter uma grande área de consolidação alveolar, constituindo a pneumonia lobar. 6 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 PADRÕES RADIOLÓGICOS SUGESTIVOS DE DETERMINADO AGENTE ETIOLÓGICO PNEUMONIA LOBAR: quase sempre é causada por pneumococo. PNEUMONIA DE LOBO PESADO: é um tipo especifico de pneumonia lobar causada pela Klebisiella pneuminieae, geralmente em alcóolatras ou diabéticos. PNEUMATOCELES: formação de cistos com paredes finas, geralmente múltiplos, comuns pela pneumonia por Staphylococcus aureus. PNEUMONIA REDONDA: é uma condensação de formato arredondado (pseudotumor), típica em crianças, quase sempre pelo Streptococcus pneumoniae. PNEUMONIA NECROSTANTE/ABCESSO: são lesões cavitárias contendo nível hidroaéreo. Pensar em anaeróbios (pneumonia aspirativa); 2. ATÍPICO O quadro clínico atípico de pneumonia se parece com uma virose respiratória prolongada... O principal agente é o Mycoplasma pneumoniae, incidindo geralmente numa faixa etária jovem, acima dos cinco anos e abaixo dos quarenta anos de idade. Ao contrário da pneumonia bacteriana “típica”, a instalação é subaguda (tempo de início médio dos sintomas = 10 dias), abrindo com sintomas gerais de uma síndrome gripal: dor de garganta, mal-estar, mialgia, cefaleia, tosse seca, febre entre 38-39. 7 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 A tosse costuma piorar e ser uma tosse seca, que atrapalha o sono do paciente, mas também pode apresentar-se produtiva. Nestes casos, a expectoração é branca, O laboratório mostra leucocitose neutrofílica em 20% dos casos (o que difere da típica, na qual temos desvio à esquerda), O grande marco da síndrome da pneumonia “atípica” é a importante dissociação clinicorradiológica encontrada nesses pacientes. Enquanto o exame do aparelho respiratório é totalmente normal ou revela apenas discretos estertores crepitantes ou sibilos, a radiografia de tórax mostra um infiltrado pulmonar maior do que o esperado. O infiltrado pode ser do tipo broncopneumônico (típico das infecções por micoplasma ou clamídia) ou do tipo intersticial reticular ou reticulonodular (típico das viroses) DIAGNÓSTICO O diagnóstico de pneumonia comunitária geralmente é feito pelo quadro clinicolaboratorial em conjunto com a radiografia de tórax nas incidências PA e perfil. RAIO X DE TÓRAX: PACIENTES DE BAIXO RISCO é o único exame a ser realizado. A presença de opacidade na radiografia de tórax é considerada padrão-ouro para o diagnóstico de pneumonia. A radiografia de tórax é complementar ao exame físico na avaliação de rotina de pacientes com suspeita de pneumonia. Além de estabelecer o diagnóstico, serve para diferenciar PAC de outras causas de tosse e febre, como traqueobronquite aguda. Quando todo ou quase todo lobo pulmonar é consolidado → PNEUMONIA LOBAR. Cerca de 90- 95% dos casos dessa pneumonia na comunidade tem o STREPCOCCUS pneumoniae como causador. Quando há múltiplos focos coalescentes de consolidação alveolar distribuindo-se na região peribrônquica → BRONCOPNEUMONIA. IMPORTANCIAS DO RAIO X: Auxiliar o diagnóstico: o achado de alteraçãonão aparente antes, como um infiltrado intersticial, consolidação segmentar ou lobar, sugere o diagnóstico. Sugerir diagnóstico diferencial: são exemplos o abscesso pulmonar, a tuberculose e a massa pulmonar. Avaliar a gravidade: identificam-se comprometimento multilobar ou derrame pleural associado. Acompanhar a resposta ao tratamento: recomendam-se as projeções para os casos de tabagistas com mais de 50 anos, a fim de excluir o carcinoma broncogênico, e de sintomas ou achados anormais persistentes no exame físico. IMPORTANTE: Há recomendação para que, em pacientes internados com quadro clínico sugestivo de pneumonia e radiografia de tórax normal, seja iniciado o tratamento empírico com antibiótico e repetida a radiografia de tórax em 24 a 48 horas ou realizada tomografia de tórax em pacientes com alta suspeita clínica para pneumonia. A tomografia de tórax não é recomendada de rotina. O custo é alto e não há 8 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 evidência de que possa melhorar o desfecho em PAC. EXAME DE IMAGEM Outro método de imagem de baixo custo e eficaz para diagnóstico é USG de tórax. A US consegue avaliar e detectar alterações no parênquima pulmonar, bem como consegue identificar possíveis complicações oriundas da PAC, por exemplo o derrame pleura. Em pacientes acamados e gestantes tal exame é recomendado, pois possui uma sensibilidade e especificidade elevada, sobretudo quando é operado por mãos experientes. A TC de tórax apresenta um alta sensibilidade e especificidade para identificação de patologias pneumológicas. Porém, não podemos esquecer do alto custo do exame e a enorme exposição radioativa que paciente é submetido. Por outro lado, o exame permite identificar achados não visualizados por uma simples radiografia. Desse modo, o uso da TC de tórax aumenta o número de diagnósticos de pneumonia. Vale destacar que é um importante exame para diagnóstico diferencial. EXAMES LABORATORIAIS: Para a PAC de grau leve, a solicitação de exames laboratoriais não parece trazer benefícios. Na PAC moderada e grave, terão importância: Hemograma completo: identificação de leucopenia; leucocitose além de plaquetopenia < 100.000 pode significar critério menor de gravidade. A dosagem de ureia sérica acima de 65 mg/d ℓ é um indicador de gravidade; Gasometria arterial: deve ser realizada se a SpO2 estiver abaixo de 92%, ou se houver suspeita de alguma doença pulmonar crônica ou PAC grave. PCR e procalcitonina: a dosagem de proteína C reativa pode ser útil como parâmetro objetivo de evolução do processo inflamatório. A redução do nível de PCR indica controle da infecção e auxilia na redução do tempo de antibiótico. Já a procalcitonina é produzida em resposta a presença de toxinas bacterianas, por isso, valores maiores que 0,25 sugerem infecção bacteriana. No idoso com mais de 65 anos, valor da PCRultrassensível > 61 mg/ℓ é um fator independente associado a aumento do risco de pneumonia. EXAMES DE ETIOLOGIA: Não se deve retardar a instituição da terapia aguardando o diagnóstico etiológico. Do ponto de vista epidemiológico, torna-se relevante a investigação quando o possível impacto do conhecimento de etiologia tem importância, como nos casos de PAC grave. Quando há derrame pleural, deve-se puncionar e analisar o líquido. Em PAC grave, são necessárias hemoculturas (duas amostras) e culturas quantitativas para germes piogênicos por meio de aspirado traqueal ou broncoscopia com lavado broncoalveolar (LBA). Nos casos graves de PAC, deve ser solicitado também o antígeno urinário para S.pneumoniae e para Legionella sp. Se houver suspeita clínica ou radiografia de tórax sugestiva de tuberculose pulmonar, a realização de BAAR (pesquisa do bacilo álcoolacidorresistente) no escarro, no aspirado brônquico ou lavado broncoalveolar (LBA) é importante para o diagnóstico diferencial. ESCORES DE RISCO Praticamente todas as decisões quanto à escolha do tratamento, exames diagnósticos a serem feitos e local de tratamento da PAC baseiam-se na avaliação inicial da gravidade da PAC. Dentre os dois escores mais usados em PAC, o PSI (Pneumonia Severity Index) e o CURB- 65, o mais utilizado é o CURB-65. PSI 9 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 O PSI é composto por 20 itens que incluem características demográficas, comorbidades, alterações laboratoriais, alterações radiológicas e achados do exame físico. Ele classifica os pacientes em cinco categorias, estimando a mortalidade em 30 dias e sugerindo o local de tratamento. O PSI, entretanto, pode subestimar a gravidade da doença em pacientes jovens e sem doenças associadas por ponderar muito a idade e a presença de comorbidades na sua pontuação. CURB-65 O CURB baseia-se em variáveis nas quais deriva o seu nome. A maior limitação desses escores é a falta de inclusão de comorbidades que podem acrescentar maior risco de complicações na PAC, como alcoolismo, insuficiência cardíaca ou hepática e neoplasias. Entretanto, eles se qualificam pela simplicidade, aplicabilidade imediata e facilidade de uso, em ambientes hospitalares ou não. Pacientes com escore de 0 ou 1 (apenas ganhou ponto pela idade) podem ser tratados ambulatorialmente. Escores de 2 ou mais indicam internação do paciente, mas atenção! Avalie o paciente!! NÃO PRECISA FAZER A UREIA EM TODO MUNDO, principalmente se for paciente for de BAIXO RISCO. Então faz-se o CURB simplificado → CRB-65 Mesmo com a utilização de critérios objetivos como números, a avaliação complementar do médico é importante na tomada de decisão. Ela deve considerar a possibilidade de o paciente tomar ou não medicação por via oral, o apoio que o paciente terá durante seu tratamento ambulatorial, a presença de comorbidades que podem ser descompensadas pela pneumonia. QUANDO INTERNAR O PACIENTE EM TERAPIA INTENSIVA (UTI)? 10 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 COMPLICAÇÕES ABCESSO PULMONAR O abscesso pulmonar consiste em me uma lesão cavitaria maior que 2 cm que contém pus acometendo o parênquima pulmonar e presença de nível hidroaéreo. Geralmente, essa degeneração do parênquima é causada por uma infecção causada por um germe piogênico. O abscesso pode ser classificado como primário quando ele decorre de uma pneumonia bacteriana a qual ocasiona lesões brônquica obstrutivas. Quando classificamos em secundário o mesmo pode ser causado por contiguidade extrapulmonares e geralmente se encontra associado a quadro de imunodepressão. As etiologias de germes que cursam com a formação desse tipo de complicação normalmente estão associadas as bactérias anaeróbias presentes na bucofaringe. Além disso, é comum que a infecção do abscesso seja fruto de uma infecção polimicrobiana que contem germes aeróbios e anaeróbios. Condições que predispõe a proliferação dos germes são: depressão do estado de consciência, alcoolismo, epilepsia, distúrbios motores da deglutição (sequela pós-AVE). Dentre as principais bactérias que causam esse quadro temos os Gram-positivos temos S. aureus como principal agente pós-influenza e a infecção estafilococcica com endocardite tricúspide. Dentre os Gram- negativos temos a Klebsiella pneumoniae – pneumonia do alcoólico ou do lobo pesado. O quadro clínico dos pacientes que apresentam abscesso pulmonar é semelhante a apresentação de uma tuberculose, só que o aspecto radiológico difere bastante. Os pacientes apresentem mais de um mês de febre do tipo vespertina, sudorese noturna, perda ponderal e tosse produtiva. Normalmente, a expectoração é de grande quantidade com material purulento e fétido (nossa principal pista diagnóstica). Não podemos desconsiderar que os mesmos podem apresentar ainda bom ou regularestado geral, hipocorado, dentes em mau estado de conservação. Na radiografia de tórax evidenciando a presença de lesões cavitadas de parede espessa e extensão variável. Pode ou não haver presença de infiltrado ou até mesmo linfodenomegalia mediastinal. O tratamento do abscesso pulmonar é realizado com antibiótico que cubra os principais agentes etiológicos que cursam com tal complicação. Desse modo, o uso da Clindamicina 600 mg IV 8/8h até a defervecência, seguido de clindamicina 150-300 mg VO de 6/6h por no mínimo 03 semanas. Não podemos esquecer que podemos lançar mão de metronidazol + penicilina G ou amoxicilina + clavulanato (alto custo). DERRAME PLEURAL O derrame pleural é uma condição associada à pneumonia que pode ser denominado de derrame parapneumônico. Os derrames cursam de uma infecção bacteriana a qual apresenta a presença de líquido visível à radiografia de tórax, sobretudo através do velamento do seio costofrênico. O derrame livre que corre na cavidade pleural é considerável pulcionável quando através da incidência da Lawrell (decúbito lateral em PA) forma uma camada > 10 mm de espessura. O empiema é a presença de líquido pleural purulento em aspecto macroscópio com presença de bactérias de Gram. O tratamento de um derrame simples consiste em antibioticoterapia voltada para a pneumonia de base. Já em derrames complicados e formação em empiema a drenagem pode ser indicada. TRATAMENTO Os pacientes com PAC sem necessidade de internação são tratados com antibióticos escolhidos empiricamente, baseados no patógeno mais provável. 1. AMBULATORIAL PACIENTES PREVIAMENTE HÍGIDOS E SEM CONDIÇÕES DE RISCO: B-lactâmico: Amoxicilina 500mg VO de 8/8h por 7 dias ou amoxicilina + clavulanato 1g de 8/8h por 7 dias. OU Macrolídeos (azitromicina 500mg VO 1xdia por 5 dias ou claritromicina 400mg de 12/12h por 14 dias) PACIENTES COM CORMOBIDADES, DOENÇA MAIS GRAVE OU USO RECENTE DE ATB: B-lactâmicos (Amoxicilina 500mg VO de 8/8h por 7 dias ou amoxicilina + clavulanato 1g de 8/8h por 7 dias) + 11 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 Macrolídeos (azitromicina 500mg VO 1xdia por 5 dias ou claritromicina 400mg de 12/12h por 14 dias) Quinolonas respiratórias somente se alergia aos betas lactâmicos ou macrolídeos. Tratar por 5 a 7 dias; 2. INTERNADOS (ENFERMARIA) B-lactâmicos - Cefalosporina de 3ª geração (Cefriaxone 1g EV 12/12h ou cefotaxima 1-2g EV de 8/8h) OU ampicilina+sulbactam + Macrolídeo (azitromicina ou claritromicina) OU Amoxicilina + clavulanato 1g de 8/8h por 7 dias OU Levofloxacino em monoterapia Tratar por 7 a 10 dias; 3. UTI B-lactâmicos - Cefalosporina de 3ª geração (Cefriaxone 1g EV de 12/12h ou cefotaxima) OU ampicilina+sulbactam 1,5-3g EV de 6/6h + Macrolídeo (azitromicina ou claritromicina) OU Quinolona respiratória (Levofloxacino 500mg EV 1xdia) Tratar por 7 a 14 dias. PACIENTES COM RISCO DE PSEUDOMONAS AERUGINOSAS: Cefepime 1g de 8/8h por 14 dias OU Pipeaciclina/Tazobactan 4,5g EV de 6/6h por 14 dias OU Meropenem 1g EV em BI. Associado ou não com: Cipro 500mg EV de 8/8h ou Levofloxacino 750mg EV 1x ao dia. PACIENTES COM PNEUMONIA ASPIRATIVA: Clindamicina 600mg EV de 8/8h ou 300mg VO de 6/6h. CORTICOIDES A terapia com corticoides sistêmicos tem se mostrado útil em pacientes com choque séptico e insuficiência, ou seja, pacientes graves. RESPOSTA AO TRATAMENTO Com a antibioticoterapia adequada, alguma melhora do quadro clínico deve ser observada nas primeiras 48 a 72 horas. O tempo para resolução do infiltrado pulmonar à radiografia de tórax é variável, podendo geralmente oscilar entre 4 e 12 semanas. A melhora clínica não precisa correr paralelamente à melhora radiológica. Os pacientes que não obtiveram melhora clínica após 72 horas do início do tratamento ou que pioraram nas primeiras 48 horas são considerados como falha terapêutica 2-ENTENDER A DIFERENÇA ENTRE PNEUMONIA BACTERIANA E VIRAL. Define-se pneumonia viral como aquele acometimento em que ocorre anormalidade nas trocas gasosas a nível alveolar, acompanhada por inflamação do parênquima pulmonar. O fenômeno inflamatório do pulmão, comumente, traduz-se em anormalidades de imagem detectáveis por radiografia ou TC. Nas pneumonias virais, os quadros clínicos são muito variáveis, dependendo do agente infectante, bem como da idade e do estado imune do hospedeiro. Nos últimos anos, ganharam notoriedade como causadores de graves pneumonias, que levam à insuficiência respiratória e alta letalidade, os coronavírus (SARS, síndrome respiratória aguda grave), os vírus influenza A tipo H5N1 (da gripe aviária) e os hantavírus americanos. Não existem critérios clínicos em pacientes com pneumonia que sugiram, com absoluta segurança, a etiologia viral. Além disso, existem dificuldades no diagnóstico etiológico geral das pneumonias e, particularmente, no daquelas por vírus, o que limita o conhecimento sobre essas doenças e sobre seus agentes causadores. 12 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 A descrição clássica de uma pneumonia viral grave baseia-se naquela descrita para o vírus influenza A. Os pacientes apresentam tosse, inicialmente não produtiva, mas que pode evoluir com produção de escarro mucoso róseo, e insuficiência respiratória, caracterizada por cianose e hipóxia. Ao exame, o paciente apresenta-se agudamente enfermo e, eventualmente, com rinite e conjuntivite, exibindo um aumento da frequência respiratória e crepitações disseminadas pela zona de projeção do parênquima pulmonar. Nas pneumonias por RSV, ganham importância a bronquite e a bronquiolite associadas à lesão necrótica de mucosa e ao arrolhamento por muco. O tratamento das pneumonias por vírus depende da gravidade do quadro e do agente infectante. Medidas gerais de suporte, especialmente aquelas com ventilação, para tratamento da hipóxia, podem ser críticas para a sobrevida do paciente. A alta frequência com que infecções bacterianas se associam às virais faz com que antibióticos, após a análise microbiológica, possam estar indicados nesses casos. A terapia antiviral está indicada nos casos graves e em imunocomprometidos, baseada nos testes de diagnóstico para vírus. Essa terapia costuma mostrar-se mais eficaz quando iniciada precocemente, ao surgimento da sintomatologia. Quatro drogas antivirais podem ser utilizadas no tratamento das infecções por vírus influenza (amantadina, rimantadina, zanamivir e oseltamivir). Amantadina e rimantadina são ativas contra vírus influenza A. Zanamivir e oseltamivir são ativos contra influenza A e B. Essas drogas reduzem a gravidade da doença e a sintomatologia quando iniciado o seu uso nas primeiras 48 h de doença. Zanamivir e oseltamivir, em pacientes com doença pulmonar obstrutiva, podem induzir broncoespasmo. 3-DESCREVER A DOR TORÁCICA DA PNEUMONIA. (DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL). No Brasil, a tuberculose deve ser sempre considerada e pesquisada, caso não ocorra a resposta esperada do tratamento ou se houver imagem radiográfica com cavidades. A pesquisa de agentes não habituais, como fungos endêmicos, nocardiose e bactérias atípicas, deve ser lembrada nos casos considerados de falha terapêutica. Testes sorológicos podem confirmar o diagnóstico. Outras doenças que podem mimetizar PAC podem ser a causa da inexistência de resposta terapêutica, como as pneumonias organizantes criptogênicas e o carcinoma bronquioloalveolar. Alguns outros diagnósticos diferenciais incluem: gripe comum, rinossinusite, faringite, ICC, embolia pulmonar, atelectasia, SARA, DPOC, herpes zoster. 5-ESTUDAR AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE PREVENÇÃO E PROMOÇÃO DE SAÚDE DAS DOENÇAS RESPIRATÓRIAS. VACINA ANTIPNEUMOCÓCICA Indicadaem pacientes com 60 anos ou mais, necessitando de dose de reforço cinco anos após, e em situações especiais de alto risco (DAC, doença hepática, doença renal, doença pulmonar crônica, DM, alcoolismo, imunocomprometido). Pessoas que receberam a primeira dose após os 65 anos e/ou que não têm /imunodepressão não necessitam reforço. VACINA ANTI-INFLUENZA (vírus inativado) Todas as pessoas com mais de 60 anos, indivíduos com alto risco (Doença cardiovascular, renal, hepática ou pulmonar crônica (incluindo asma), doença metabólica crônica (incluindo diabetes), hemoglobinopatias, gestantes, imunocomprometidos por doença ou medicamento (HIV, pós-transplante), indivíduos com menos de 18 anos em tratamento crônico com aspirina) para complicações da influenza, contatos íntimos de pessoas com alto risco e profissionais de saúde. 13 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022
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