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15.DIABETES MELLITUS EM PEQUENOS ANIMAIS

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1 
 
Universidade Estadual do Ceará / Faculdade de Veterinária 
Bioquímica Veterinária II 
 
 
Prof. Dr. Genário Sobreira Santiago 
Diabetes Mellitus em 
Pequenos Animais 
 
1. INTRODUÇÃO 
 O diabetes mellitus é um distúrbio complexo que resulta da incapacidade das 
ilhotas de Langerhans secretar insulina e/ou da ação de insulina deficiente nos tecidos. 
Esta é uma endocrinopatia comum em cães e gatos e pode ser fatal se for 
incorretamente diagnosticada ou inadequadamente tratada. O diabetes é uma doença 
que vem sendo amplamente estudada ao longo da história da medicina, já tendo sido 
registrada nos mais longínquos anos (quadro 1). 
 A insulina é produzida nas células 𝛽 das ilhotas de Langerhans do pâncreas e é 
armazenada em vesículas do aparelho de Golgi em uma forma inativa (pró-insulina). 
Nessas células existem receptores celulares que detectam níveis de glicose plasmática 
após uma alimentação rica em carboidratos. A insulina é ativada e liberada na corrente 
sanguínea. 
 A captação de glicose pela célula se dá pelo encaixe da insulina com um 
receptor específico existente na membrana celular. Este complexo sofre endocitose, 
permitindo a entrada de glicose, eletrólitos e água para a célula. A glicose é então 
metabolizada (através da glicólise e do ciclo do ácido cítrico). A insulina sofre 
degradação pelas enzimas intracelulares e o receptor é regenerado, reiniciando-se o 
processo. Quanto mais o complexo insulina/receptor é endocitado, mais glicose entra 
na célula, até que o plasma fique hipoglicêmicos. Essa hipoglicemia, entretanto não é 
imediata, pois a regeneração do receptor é limitante da entrada de glicose na célula, 
2 
 
de forma a possibilitar somente a entrada da glicose necessária, evitando, assim, o 
excesso de glicose intracelular. 
 Como resultado dessas reações, ocorre a queda gradual da glicemia 
(hipoglicemia) que estimula as células 𝛼-pancreáticas a liberar glucagon, hormônio que 
possui ação antagônica a insulina. 
 
Quadro 1. Histórico do estudo do diabetes mellitus 
Gregos O nome diabetes foi dado pelos gregos e significa “passar através 
de um sifão” em referência ao sintoma de poliúria. 
Areteo Descreveu a doença acreditando que o problema radicava nos rins 
Chineses Chamaram a doença de “doença da sede” 
Indianos Chamaram a doença de “doença do mel” 
Charaka & Susruta (Índia) Descreveram aspectos da doença como seu caráter hereditário e 
sua relação com a obesidade 
Cullen (1774) Propôs o nome diabetes mellitus, para diferenciá-la de diabetes 
insípida, originada da deficiência de vasopressina (ADH). 
Cawley (1788) Foi o primeiro a sugerir a relação do pâncreas com o diabetes 
Chevreul (1815) Identificou a glicose como sendo o açúcar da urina 
Ambrosiani (1836) Descobriu que a glicose sanguínea estava elevada nos pacientes 
diabéticos 
Trommer (1841) e Fehling (1848) Desenvolveram métodos rápidos de análise de glicose no sangue 
Peters (1851) Encontrou acetona na urina de diabéticos 
Pavy (1862) Estabeleceu a relação entre hiperglicemia e glicosúria 
Stadelhman (1883) Identificou a presença do ácido beta-hidroxibutírico no sangue de 
diabéticos 
Naunyn A partir dos dados de Stadelhman estabeleceu uma explicação 
para o quadro de acidose encontrado no diabetes 
Paul Langerhans (1905) Estudante de medicina em Berlim, descobriu as ilhotas de 
Langerhans 
Macleod & Banting (1923) Foram agraciados com o Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina, 
com trabalhos relacionados a descoberta da insulina 
Frederick Sanger (1958) Determinou a estrutura primária da insulina 
 
 Os hormônios pancreáticos, insulina e glucagon, possuem ação regulatória 
sobre a glicemia, não sendo os únicos envolvidos no metabolismo dos carboidratos. Os 
hormônios sexuais, adrenalina, os glicocorticoides e os hormônios tireoidianos 
também têm influência sobre a glicemia. 
 A grande maioria das células do organismo é dependente da insulina para 
captar glicose (quadro 2). Com exceção de células que são permeáveis à glicose, 
independente da insulina, como as do cérebro, do cristalino, da retina, dos nervos, da 
mucosa intestinal, do rim, dos eritrócitos, dos vasos sanguíneos, e das ilhotas 
pancreáticas, os demais tecidos, em particular o músculo esquelético, o músculo liso, o 
músculo cardíaco e o tecido adiposo são dependentes de insulina para permear a 
3 
 
glicose da corrente sanguínea. As células hepáticas não dependem da insulina para 
permear a glicose, mas esse hormônio está diretamente relacionado com elas porque 
estimula a atividade da glicoquinase hepática, uma isoenzima da hexoquinase no 
fígado, justamente a de 𝑘𝑚 baixo. A deficiência na produção ou ausência total de 
insulina ou dos receptores caracterizam uma das doenças metabólicas de grande 
importância na prática clínica veterinária. 
 
Quadro 2. Principais transportadores de glicose 
Transportador Tecido Dependência da insulina 
GLUT- 1 Eritrócito Não 
GLUT- 2 Hepatócitos, células β do pâncreas, mucosa 
intestinal e rim. 
Não 
GLUT- 3 Cérebro Não 
GLUT- 4 Músculo esquelético, músculo cardíaco e tecido 
adiposo 
Sim 
Fonte: SILVA (2005) 
 
 
2. CLASSIFICAÇÃO 
 Sob o nome diabetes mellitus são agrupadas uma série de transtornos 
metabólicos caracterizados por hiperglicemia e glicosúria. Tem sido observada em 
quase todos os animais de laboratório, bem como em cavalos, vacas, ovelhas e porcos, 
mas a incidência é maior em cães e gatos. É estimada uma prevalência de 1 caso em 
cada 60 cães e cada 300 gatos. A prevalência nesses animais vem crescendo ano a ano, 
principalmente nos gatos, provavelmente em consequência dos sistemas de 
alimentação, que utilizam carboidratos em animais carnívoros, desafiando o pâncreas 
a produzir mais insulina. 
 São conhecidos pelo menos dois tipos de diabetes mellitus em cães e gatos, 
diferenciados pelo tipo de resposta à insulina diante de uma administração de glicose: 
 
2.1. Diabetes mellitus insulino-dependente (DMID): Equivale à 
diabetes mellitus tipo I ou juvenil dos humanos. Neste tipo de diabetes se observa 
baixos níveis de insulina sanguínea (entre 0-36 pmol/L), com falta de resposta de 
4 
 
insulina a administração de glicose. Em animais, esta parece a forma mais comum, 
observada em cães velhos, maiores de 7 anos, sendo as fêmeas obesas as mais 
suscetíveis (aproximadamente o dobro de casos) para apresentar o problema. Todos 
os cães são suscetíveis ao diabetes, mas é normalmente observado em cães 
de meia idade ou mais velhos. Uma incidência maior é observada em cadelas 
inteiras. Por outro lado há diferenças na predisposição entre raças (quadro 3). 
Quadro 3. Raças que parecem ter maior risco de desenvolver diabetes mellitus 
Keeshond Poodles 
Samoyedo Dachshund 
Malamute do Alasca Schnauzer Miniatura 
Chow Chow Beagles 
Dobermann Pinscher Puli 
Old English Sheepdog Golden Retriever 
Pinscher Miniatura Springer Spaniel Inglês 
Rhodesian Ridgeback Schipperke 
Spitz Finlandês West Higland White Terrier 
Caim Terrier 
Fonte: MSD – Animal Health (2016) 
 
 Nos gatos, é mais comum em machos velhos (> 9anos) e 
castrados. A perda de função das células 𝛽-pancreáticas é irreversível, e os animais 
com DMID necessitam de terapia insulínica para sobreviver. Praticamente todos os 
cães e a maioria dos gatos estão nesse estágio de diabetes no momento do 
diagnóstico. 
2.2. Diabetes mellitus não insulino-dependente (DMNID): Equivale à 
diabetes mellitus tipo II ou adulta em humanos, em que são observados níveis de 
insulina normais (36-143 pmol/L), ou até acima do normal, porém sem resposta de 
insulina à administração de glicose. Em torno de 30% dos casos de diabetes 
5 
 
mellitus felina corresponde a esta forma. Os animais com DMNID podem ser 
tratados com dietas hipoglicêmicas orais ou drogas hipoglicemiantes orais que 
estimulam as células 𝛽-pancreáticas. Entretanto, esses animais devem ser mantidos 
sob observação, pois é provável que aDMNID (deficiência relativa de insulina) preceda 
a DMID (deficiência absoluta de insulina). 
3. FATORES PREDISPONENTES DO DIABETES MELLITUS 
 A etiologia do diabetes mellitus pode dividida em causas que levam a falha na 
produção de insulina – primárias; falha no transporte de insulina ou resistência 
tecidual à insulina – secundárias. Cães e gatos apresentam diferenças na incidência das 
diferentes causas de diabetes mellitus. No gato, as causas mais frequentes são a 
amiloidose e a obesidade, e no caso dos cães, a etiologia genética é encontrada na 
maioria dos casos (quadro 4). 
 O diabetes tem causas multifatoriais. Nos animais, existem alguns fatores 
predisponentes para a apresentação de diabetes, entre os quais se contam os 
seguintes: 
(a) Hiperadrenocorticismo (aumento na produção de glicocorticoides), que estimula a 
gliconeogênese, provocando hipoglicemia crônica e esgotamento das células 𝛽-
pancreáticas. 
(b) Altos níveis de insulinase, enzima que diminui a meia-vida da insulina, forçando 
as células 𝛽-pancreáticas a produzirem mais insulina, com perigo de esgotamento. 
(c) Como sequela de febre aftosa (o vírus danifica as células 𝛽-pancreáticas) 
(d) Pancreatite crônica (no cão principalmente) 
(e) Hiperprodução de glucagon que provoca hiperglicemia crônica 
(f) Hiperprodução de GH. Com resultado similar ao anterior 
(g) Obesidade (causa resistência à insulina) 
6 
 
(h) Estresse 
(i) Formação de amiloidose em gatos: agregação do polipeptídeo amilina (que se 
sintetiza junto com a insulina) nas ilhotas pancreáticas. 
(j) Doenças que causam resistência a insulina (falha da insulina em atuar nos seus 
órgão-alvo), tais como hipertireoidismo, hiperadrenocorticismo e acromegalia. 
 
Quadro 4. Etiologia comparativo diabetes mellitus entre cães e gatos 
CÃES GATOS 
Genética Amiloidose 
Insulinite imuno-mediada Obesidade 
Pancreatite Infecção 
Obesidade Doença concomitante 
Infecção Drogas 
Doença concomitante Pancreatite 
Drogas Genética 
Amiloidose Insulinite imuno-mediada 
Fonte: PELEGRINI et al. (2009) 
 
 Em alguns casos, a diabete pode ser de origem autoimune, como no diabetes 
espontânea em vacas e humanos. Nesses casos, é observada uma infiltração 
linfocitária do pâncreas, quadro típico da resposta autoimune. Em humanos, o 
diabetes mellitus parece ter componente hereditário, o que não têm sido confirmado 
em animais. Entretanto, algumas raças de cães (quadro 3) têm mais predisposição a 
sofrer o transtorno (Samoyedo, Lhasa Apso, Poodle, Schnauzer Miniatura, Pinscher) do 
que outras raças ( Pastor Alemão, Pastor Inglês, Pastor Australiano, Pastor Collie, 
Golden Retriever, Cocker Spaniel, Labrador, Rottweiler). 
 
7 
 
4. IMPLICAÇÕES METABÓLICAS DO DIABETES MELLITUS 
 Os principais efeitos metabólicos que acontecem no diabetes podem ser 
resumidos nos seguintes pontos: 
(a) Diminuição / inibição do ingresso e da utilização de glicose pelos tecidos periféricos, 
resultando em hiperglicemia 
(b) Aumento da degradação de proteínas musculares e de lipídeos no tecido adiposo, 
com consequente aumento da concentração sanguínea de aminoácidos e ácidos 
graxos livres 
(c) Incremento na síntese hepática de uréia, em decorrência do aumento do 
metabolismo dos aminoácidos 
(d) Aumento da gliconeogênese, pelo aumento da atividade das enzimas piruvato 
carboxilase, PEP carboxiquinase e glicose-6-fosfatase, aumentando ainda 
mais o teor de glicose do sangue 
(e) Inibição da lipogênese 
(f) Aumento da produção de acetil-CoA com o consequente aumento na produção e na 
concentração sanguínea de corpos cetônicos e de colesterol 
(h) Cetoacidose 
 A falta absoluta ou relativa de insulina no diabetes mellitus é a causa primária 
da hiperglicemia, devido ao bloqueio da entrada e da utilização e da utilização de 
glicose nas células dependentes de insulina para o transporte de glicose. 
 No caso da DMID (figura 1 A), a diminuição na utilização de glicose por parte 
das células provoca aumento no catabolismo dos lipídeos de reserva como fonte de 
energia, sendo observada uma hiperlipidemia. Além disso, ocorre aumento da 
glicogenólise e da gliconeogênese, o que exacerba a hiperglicemia. 
8 
 
 A degradação de triacilgliceróis aumenta progressivamente à medida que a 
insulina se torna mais deficiente, devido ao aumento da atividade da lipase 
hormônio sensível. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A elevada liberação de ácidos graxos, como consequência da lipólise, e sua 
posterior 𝛽-oxidação, leva ao aumento de acetil-CoA, aumento este agravado por dois 
fatores: 
Figura 1. Efeitos metabólicos no diabetes mellitus. Em A, são mostrados os efeitos do diabetes 
mellitus tipo I. Em B, efeitos do diabetes mellitus tipo II. Setas contínuas representam as rotas 
ou fluxos metabólicos, e as tracejadas indicam bloqueio das mesmas. 
9 
 
(a) Ação inibitória dos ácidos graxos sobre a citrato sintetase, primeira enzima do 
ciclo de Krebs, a qual é fundamental para a completa oxidação do acetil-CoA. 
(b) Pouca disponibilidade de oxaloacetato, o qual é proveniente da glicose 
 Assim, o acetil-CoA deve seguir outras rotas metabólicas, quais sejam, síntese 
de colesterol e / ou de corpos cetônicos. O acúmulo de acetil-CoA provoca um 
aumento na formação de corpos cetônicos (cetose). Os corpos cetônicos 
(acetoacetato, 𝛽-hidroxibutirato e acetona) se acumulam no sangue, provocando uma 
acidose do tipo metabólica. Estes corpos cetônicos, especialmente o acetoacetato e a 
acetona, são excretados pela urina e pelos pulmões, conferindo um odor característico 
à urina e ao hálito do animal diabético, uma vez que a acetona é volátil na 
temperatura corporal. 
 A exagerada mobilização de gordura periférica (triacilgliceróis), com liberação 
de ácidos graxos em circulação, provoca o acúmulo de gorduras no fígado, produzindo 
hepatomegalia e lesão hepática (lipidose), principalmente em gatos. A hiperlipidemia 
provocada pelo aumento dos triacilgliceróis é exacerbada pelo seu impedimento de 
entrar na célula adiposa. 
 Uma vez que os ácidos graxos não são precursores diretos para a 
gliconeogênese, são utilizadas as proteínas de reserva (músculo) como precursores 
para esta rota. Assim, simultaneamente com o aumento do catabolismo de gorduras, 
ocorre aumento do catabolismo proteico. Como consequência, ocorre perda de peso e 
aumento de uréia no sangue e na urina. A concentração relativamente elevada de 
glucagon, cortisol e GH no diabetes mellitus contribui para o aumento do catabolismo 
protéico e da gliconeogênese. 
 No caso da DMNID (figura 1B), o conjunto de efeitos metabólicos é menos 
dramático. Em comum com a DMID, ocorre uma hiperglicemia, porém sem a 
concomitante cetose e uremia. Isso ocorre porque a relação insulina / glucagon não 
está tão diminuída, não havendo, portanto, o acentuado estímulo à lipólise visto na 
DMID. Também não há catabolismo protéico para gliconeogênese. A hiperlipidemia 
10 
 
associada à DMNID é basicamente decorrente do aumento de triacilgliceróis, sem 
aumento de ácidos graxos livres. 
 Em casos crônicos de diabetes mellitus canina é frequente observar a formação 
de cataratas, devido ao acúmulo de sorbitol e frutose no cristalino, à alta concentração 
de glicose intracelular e um suprimento adequado de NADPH que fazem com a aldose 
redutase, encontrada no cristalino e na retina, reduza a glicose até sorbitol. O sorbitol 
e a frutose (agentes hidrofílicos) acumulados nessas células promovem fortes eventos 
osmóticos e subsequentes edema celular, pela retenção de água, com ruptura das 
fibras do cristalino. O processo é irreversível e não ocorre em gatos, 
possivelmente por diferenças no metabolismo da glicose no cristalino. 
 Outro efeito causado pelo diabetes mellitus compromete o processo de 
cicatrização. A hiperglicemia aumenta o gradiente de concentração necessário para 
desviar a glicose do plasma aos tecidos lesados e frequentementemal vascularizados. 
As células na lesão podem metabolizar a glicose em lactato por glicólise anaeróbica, 
rota que fornece energia aos tecidos com suprimento baixo de oxigênio. A falta de 
glicose no tecido promove grandes perdas de proteína tecidual, catabolizada para 
fornecer precursores gliconeogênicos, inibindo a cicatrização. 
 
5. SINTOMATOLOGIA DO DIABETES MELLITUS 
 O animal diabético apresenta uma média de idade de 7-9 anos no momento do 
diagnóstico. Em geral, há histórico de polidipsia, poliúria, polifagia e perda de peso. 
Clinicamente, se observa enfraquecimento, hiperglicemia, glicosúria e, em casos 
avançados, cetonemia e cetonúria, com hálito cetônico. Os gatos apresentam postura 
plantígrada (apoiam as patas traseiras no jarrete) e outros sinais neurológicos, como 
debilidade do trem posterior, ataxia e dificuldade para pular ou interagir com seu 
dono. 
11 
 
 No diabetes, a glicemia está elevada acima do seu valor normal, e quando é 
atingido o limiar renal (em cães 180 mg/dL) a glicose passa a ser detectável na urina 
(glicosúria). Quando isso ocorre, os túbulos renais não são capazes de reabsorver 
completamente a quantidade de glicose filtrada no néfron. É comum no diabetes não 
tratada, observar-se níveis séricos de glicose da ordem de 300-400 mg/dL, tendo sido 
relatados casos de até 1.250 mg/dL, em cães. A perda de glicose na urina exerce uma 
ação osmótica, retendo água nos túbulos renais e causando poliúria e desidratação, 
com consequente polidipsia. 
 Os níveis de triacilgliceróis, colesterol, ácidos graxos e lipoproteínas tornam-se 
muito elevados, podendo o colesterol chegar a 700 mg/dL. A hiperlipidemia no 
diabetes é causada pela mobilização e degradação de triacilgliceróis e pela diminuição 
da lipólise dos quilomícrons e lipoproteínas (VLDL), esta última secundária a uma 
deficiência da enzima lipoproteína lipase. No diabetes mellitus cetoacidótica, ocorre 
um acúmulo de corpos cetônicos em decorrência da alta lipomobilização, o que 
também pode ser causa de aumento de enzimas hepáticas (ALT, FA, GGT) pela 
deposição de gordura no fígado. 
 Os corpos cetônicos induzem cetoacidose e perda de ácidos na urina, 
provocando perda simultânea de 𝑁𝑎+ e 𝐾+, uma vez que os ácidos são eliminados 
como sais. A acidose, a desidratação grave e a perda de eletrólitos são os responsáveis 
pelo coma e morte no diabetes não tratada. A acidose causada pelos corpos cetônicos 
é exacerbada pela drástica redução do ânion bicarbonato (𝐻𝐶𝑂3
−) dificultando o 
processo compensatório. Por outro lado, a utilização dos corpos cetônicos pelos 
tecidos periféricos está diminuída, aumentando ainda mais seus teores no sangue 
(quadro 5). 
 Com a acidose, aumenta a concentração do próton 𝐻+, o qual, em excesso, 
entra nas células, deslocando o 𝐾+ intracelular para o meio extracelular. Associada à 
saída de 𝐾+ há uma entrada de 𝑁𝑎+ nas células. Com o aumento da desidratação e da 
acidose, a concentração plasmática de 𝐾+ pode ficar bastante aumentada 
(hipercalemia), apesar de haver um déficit global de potássio. Contudo, quando uma 
terapia de fluidos é aplicada nessa situação, deve ser levado em consideração que o 
12 
 
𝐾+ extracelular em excesso pode retornar ao interior das células, provocando uma 
hipocalemia. Portanto, a terapia deve incluir 𝐾+, muito embora o quadro mostre uma 
hipercalemia. 
Quadro 5. Valores de referência do perfil bioquímico de cães e gatos sadios 
 CANINOS FELINOS 
Glicose (mg/dL) 65-118 73-134 
Colesterol (mg/dL) 135-270 95-130 
Proteína Total (g/L) 54-71 54-78 
Albumina (g/L) 26-33 21-33 
Globulinas (g/L) 27-44 26-51 
Relação A/G 0,5-1,3 0,45-1,2 
Uréia (mg/dL) 21-60 20-30 
Bilirubina (mg/dL) 0,1-0,5 0,1-0,5 
Creatina (mg/dL) 0,5-1,5 0,8-1,8 
FA (U/L) 20-156 25-93 
ALT (U/L) 21-102 6-83 
CK (U/L) <125 − 
Cálcio (mg/dL) 9-12 6,2-10,2 
Fósforo (mg/dL) 2,6-6,2 4,5-8,1 
Magnésio (mg/dL) 1,8-2,4 1,8-2,6 
Cobre (mmol/L) 15,7-31,5 − 
Ferro (mmol/L) 5,4-32,2 12,2-38,5 
Potássio (mmol/L) 4,4-5,3 4,0-4,5 
Sódio (mmol/L) 141-152 147-156 
Hemoglobina (g/L) 12-18 − 
Hematócrito (%) 37-55 − 
FA-Fosfatase Alcalina; ALT- Alanina Transaminase; CK- Creatina quinase 
Fonte: KANEKO et al. (1997); GONZALEZ et al. (2001) 
 
13 
 
 Na urinálise, a presença de glicosúria é sinal indicativo da existência de 
diabetes. Em algumas ocasiões pode ser encontrada glicosúria aproximadamente 1 
hora depois das refeições, quando são muito ricas em glicídeos. Em cães diabéticos é 
rara a complicação renal crônica que se observa em humanos. A presença de corpos 
cetônicos na urina (cetonúria) só é observada no diabetes avançada e no jejum 
prolongado. No diabetes leve ou inicial, a cetonúria não é frequente. O pH da urina 
não é útil para detectar casos de acidose, pois ele varia somente em casos extremos. 
Apesar da poliúria, a densidade urinária pode estar acima de 1.025 (pela presença de 
glicose) e pode haver proteinúria e bacteriúria, pela predisposição a complicações 
infecciosas. O quadro 6 mostra as principais complicações do diabetes mellitus e sua 
sintomatologia. 
Quadro 6. Complicações do diabetes mellitus e sua sintomatologia 
COMPLICAÇÃO MANIFESTAÇÃO CLÍNICA 
Cetoacidose Vômito, depressão, colapso, taquipnéia, 
Catarata Cegueira 
Retinopatia Lesões oftálmicas 
Neuropatia Fraqueza 
Pancreatite Vômito, dor abdominal 
Insuficiência pancreática exócrina Diarreia, perda de peso 
Lipidose hepática Hepatomegalia 
Glomerulonefropatia Insuficiência renal oligúrica 
Infecções bacterianas urinárias Cistite. Pielonefrite 
Infecções bacterianas respiratórias Pneumonia (tosse, dispneia e febre) 
Infecções bacterianas cutâneas Piodermite 
Fonte: GONZÁLES & SILVA (2006) 
 
 
6. DIAGNÓSTICO DO DIABETES MELLITUS 
14 
 
 No diagnóstico do diabetes mellitus devem estar presentes os sinais típicos 
(poliúria, polidipsia, polifagia e perda de peso), além de hiperglicemia persistente e 
glicosúria. Para confirmar a hipoglicemia persistente, convém dosar a frutosamina ou a 
hemoglobina glicada, proteínas glicosiladas no sangue, que fornecem informação da 
glicemia nas últimas 3 a 6 semanas, respectivamente. 
 
6.1. Teste de tolerância a glicose 
 Quando glicose é administrada oralmente a um animal normal, seus níveis 
sanguíneos sofrem alterações ao longo do tempo de forma trifásica (figura 2), assim: 
(a) Fase I, na qual a taxa de absorção intestinal de glicose é maior do que a taxa de 
remoção da glicose sanguínea pelas células dos diferentes tecidos. 
Consequentemente, os níveis séricos de glicose se elevam, atingindo um pico 30 a 60 
minutos após a administração. Nesta fase, a hiperglicemia, assim como o estímulo de 
hormônios gastrintestinais (gastrina, secretina, colecistoquinina) e do glucagon, 
provoca a liberação de insulina. 
(b) Fase II, na qual os níveis séricos de glicose começam a cair, como consequência do 
aumento da insulina. Nesta fase, a taxa de remoção de glicose do sangue é maior do 
que a taxa de entrada. 
(c) Fase III, na qual os níveis séricos de glicose continuam caindo, até uma condição 
de hipoglicemia temporária para depois voltar a seus valores originais (quadro 5). 
 Em geral, quanto maior a hiperglicemia da fase I, maior a hipoglicemia 
observada na fase III. A análise dos níveis glicêmicos, após a administração oral ou 
intravenosa de glicose, constitui a fundamentação da prova de tolerância à glicose. 
 Em casos de hiperglicemia leve, a utilização da prova de tolerância à glicose é 
fundamental no estabelecimento do diagnóstico. A tolerância normal implica que o 
aumento dos níveis séricos de glicose é pouco elevado, e o retorno aos níveis normais 
15 
 
ocorre em cerca de duas horas. Tolerância diminuída ou intolerância, como ocorre no 
diabetes, é evidenciada pela elevação excessiva de glicose sérica, com retorno 
retardado aos níveis normais. 
 
 No teste oral para caninos e felinos, é utilizada glicose, naquantidade de 4g/kg 
de peso do animal, misturada com carne. Uma primeira amostra de sangue é retirada 
antes da administração de glicose. Uma segunda amostra é retirada 2 horas após. Para 
maior exatidão, podem ser tomadas 3 amostras pós-prandiais, com intervalos de 1 
hora. 
 No animal normal, o valor máximo de glicose (140 mg/dL) é observado em 30 a 
60 minutos após administração de glicose, retornando aos valores normais em 2 ou 3 
horas. Valores de glicemia persistentemente altos após 2 horas da administração de 
glicose podem ser indicativos de diabetes. 
 Na DMNID, também há intolerância à glicose, embora apresentando valores 
normais ou elevados de insulina. Isto significa que o hormônio está inativo devido a 
alguns fatores, tais como (a) deficiência ou bloqueio dos receptores de insulina; (b) 
redução na atividade da insulina, devido a causas não estabelecidas; ou (c) alterações 
estruturais da molécula de insulina. 
 
7. TRATAMENTO DO DIABETES MELLITUS 
7.1. Tipos de Insulina 
Figura 2. Curva de tolerância 
à glicose. Variações da 
glicemia após administração 
oral de glicose (tempo 0). A 
linha tracejada corresponde ao 
nível normal de glicemia 
16 
 
A insulina é classificada pelo início, duração e potência após a administração 
subcutânea. Quanto mais curta a ação, mais potente a insulina é considerada. O 
quadro 7 apresenta as preparações de insulina comumente usadas para o tratamento 
de diabetes mellitus em cães e gatos. 
A insulina regular age rapidamente, porém tem curta duração e é comumente 
utilizada no tratamento emergencial da cetoacidose diabética. É a única forma que 
pode ser administrada IV, IM ou SC. NPH e Lente são formulações de ação 
intermediária. NPH é a insulina recombinante humana e Lente é uma insulina suína 
purificada. São as insulinas de eleição para o tratamento inicial de cães 
com diabetes mellitus. Insulinas ultralentas são formulações de longa duração. A 
insulina glargina é uma insulina de ação lenta análoga, na qual a sequência de 
aminoácidos foi alterada, tornando a insulina glargina mais solúvel em pH ligeiramente 
ácido. A glargina é completamente solúvel em pH 4,0 mas forma microprecipitados no 
tecido subcutâneo quando é injetada e exposta ao pH fisiológico de 7,4. Isto permite 
sua libertação lenta, que pode durar até 24 horas em seres humanos, com mínimos 
picos de ação. A insulina glargina é a escolha inicial para o tratamento do 
gato diabético. 
Quadro 7. Preparações de insulina usadas em cães e gatos 
Tipo de 
insulina (Via) 
Duração da ação Início Tempo de 
efeito máximo 
(h) 
Duração do 
efeito (h) 
Indicação 
Regular (IV, 
IM, SC) 
Rápida 10-30 min 1-5 4-10 Cetoacidose 
diabética 
1NPH (SC) Intermediária 0,5-2 h 2-10 4-18 Cão 
Lente (SC) Intermediária 0,5-2 h 2-10 6-20 Cão 
2PZI (SC) Lenta 1-4 h 3-12 6-24 Cão/gato 
Glargina (SC) Lenta Gato 
1Neutral Protamine Hagedorn; 2Protamine Zinc Insulin 
Fonte: GONZÁLES & SILVA (2006); MEYRER (2014) 
 
17 
 
7.2. Técnica de aplicação da insulina 
Os proprietários devem ser instruídos para o manejo correto da insulina, 
incluindo a técnica de administração, local de injeção, além do manuseio e 
armazenamento da insulina. A técnica de aplicação adequada deve ser revista com o 
cliente e praticada na presença do veterinário, com solução fisiológica. Uma causa 
comum de complicação no controle diabético decorre da inadequada manipulação da 
insulina pelo proprietário. A forma de armazenamento da insulina também deve ser 
considerada. Erros comuns incluem a agitação excessiva do recipiente, insulina 
superaquecida ou pré-congelada e insulina fora da data de validade. 
7.3. Hipoglicemiantes orais 
Fármacos hipoglicemiantes orais, como as sulfoniluréias (glipizida, gliburida), 
podem ser utilizados em gatos, mas são apenas ocasionalmente efetivas. As 
sulfoniluréias estimulam a secreção de insulina pelas células β-pancreáticas. É 
necessário que exista alguma capacidade secretora de insulina pancreática para que 
estas drogas sejam eficazes. 
7.4. Problemas simultâneos 
Doenças simultâneas e fármacos antagonistas à insulina podem interferir na 
resposta tecidual à insulina, resultando em resistência à insulina e no controle 
inadequado do diabetes. A identificação e o tratamento de problemas concomitantes 
são de suma importância para o sucesso do manejo do animal diabético. O quadro 8 
relaciona causas de resistência insulínica em cães e gatos. 
 
8. MONITORAMENTO DO CONTROLE DIABÉTICO 
As ferramentas mais importantes para monitorar o paciente diabético 
veterinário incluem: os sinais clínicos, os níveis séricos de glicose ou curvas glicêmicas 
18 
 
seriadas, os níveis de frutosamina sérica, as concentrações de hemoglobina glicosilada 
e a glicosúria quantitativa. 
8.1. Sinais clínicos e exame físico 
Os parâmetros iniciais mais importantes a se considerar para alcançar o 
controle glicêmico são a opinião subjetiva do proprietário sobre a magnitude dos sinais 
clínicos e do estado geral do animal, as alterações do exame físico e a estabilidade do 
peso corporal. O controle inadequado da glicemia deve ser suspeitado, considerando-
se a necessidade de testes diagnósticos adicionais, se o cliente relatar sinais clínicos 
sugestivos de hiper ou hipoglicemia e o exame físico indicar problemas consistentes 
com o inadequado controle glicêmico. 
Uma boa comunicação com o proprietário é essencial, especialmente durante 
os primeiros meses de tratamento. Os proprietários podem medir o consumo de água 
em casa e manter um registro da ingestão diária. A diminuição no consumo de água é 
muito utilizada em pacientes diabéticos felinos para documentar a resposta à 
administração de insulina. Os donos de cães devem ser encorajados a realizar 
caminhadas com coleira, para que possam estimar melhor a micção. 
Proprietários de gatos devem estar atentos aos sinais de neuropatia, tais como 
a presença de urina/fezes fora da caixa de areia (gatos podem ter dificuldade de entrar 
em caixas profundas), relutância em pular sobre as coisas, detritos nos jarretes, 
indicando uma postura plantígrada. Os donos de cães devem estar cientes de que as 
cataratas podem ser evitadas através de um bom controle glicêmico. 
8.2. Frutosamina 
Frutosaminas são glicoproteínas resultantes de uma ligação irreversível, não 
enzimática e independente de insulina entre a glicose e as proteínas plasmáticas. A 
concentração da frutosamina sérica não é alterada por mudanças agudas na 
concentração de glicose sanguínea, mas pode sofrer interferência da 
hipoalbuminemia, hiperlipidemia ou hipertireoidismo. 
19 
 
Quadro 8. Causas reconhecidas de resistência insulínica em cães e gatos diabéticos 
Resistência Insulínica Grave Resistência Insulínica Discreta 
Hiperadrenocorticismo Obesidade 
Acromegalia (gato) Infecções 
Excesso de progesterona (diestro em cadelas) Pancreatite crônica 
Fármacos diabetogêncios (glicocorticoides, 
progestinas) 
Inflamação crônica 
 Doença de cavidade oral 
 Insuficiência Renal 
 Insuficiência hepática 
 Insuficiência cardíaca 
 Hipotireoidismo 
 Hipertireoidismo 
 Insuficiência pancreática exócrina 
 Hiperlipidemia 
 Neoplasia 
 Glucagonoma 
 Feocromocitoma 
Fonte: MEYRER (2014) 
 
O tempo médio de vida das proteínas séricas em humanos e cães é de 
aproximadamente uma a duas semanas. A vida útil das proteínas em gatos é 
desconhecida, mas foi estimada próximo aos valores humanos e caninos. Assim, a 
frutosamina permite avaliar o controle glicêmico durante um período prévio de duas a 
três semanas. Embora intervalos de referência possam variar entre os laboratórios, 
concentrações de frutosamina sérica abaixo de 400 µmol/L, geralmente representam 
um bom controle glicêmico, enquanto que concentrações acima de 550 µmol/L 
sugerem um controle glicêmico insuficiente. 
 
20 
 
8.3. Hemoglobina glicosilada 
 
A hemoglobina glicosilada (GHb) é o produto deuma ligação irreversível, não 
enzimática, independente de insulina entre a glicose e a hemoglobina. A glicosilação é 
diretamente afetada pela concentração de glicose e a disponibilidade de eritrócitos. A 
avaliação da concentração de hemoglobina glicosilada em cães e gatos fornece 
informações relevantes sobre o controle glicêmico nas últimas seis semanas. No 
entanto, este exame não mostra vantagem aparente sobre a mensuração da 
frutosamina sérica. 
 
8.4. Glicose urinária 
A avaliação da urina é um método adicional para monitoração do controle 
glicêmico. A glicose estará presente na urina se a concentração sanguínea for superior 
ao limiar renal (12 a 14 mmol/L), o que não é raro, durante alguns períodos do dia, em 
animais diabéticos. A mensuração da glicose urinária, no entanto, não deve ser 
utilizada isoladamente para ajustar a dose de insulina. 
Os proprietários de cães podem segurar uma tira reagente de glicose no fluxo 
urinário, enquanto o cão urina. Para gatos, partículas indicadoras podem ser 
adicionadas na caixa sanitária e verificadas num período de doze horas para uma 
alteração na cor. Esses produtos são particularmente úteis para a detecção do início da 
remissão do diabetes mellitus, sendo que a glicemia deve ser aferida caso se 
identifique períodos prolongados sem glicosúria. Os proprietários podem adquirir tiras 
reagentes que identificam, além da glicosúria, também cetonúria. Não é raro pacientes 
diabéticos recém-diagnosticados apresentarem cetonúria leve, porém isso não deve 
ser um achado persistente. Cetonúria em um paciente tratado sugere deficiência de 
insulina ou resistência e deve levar a uma investigação mais aprofundada. 
 
8.5. Determinação única da glicose sanguínea 
 
A mensuração única da glicemia fornece pouca informação sobre o controle 
glicêmico de um animal. As concentrações de glicose sérica podem variar ao longo do 
21 
 
dia, especialmente em pacientes felinos, em momentos de estresse. A mensuração 
única da glicemia é auxiliar somente se for identificada hipoglicemia. A documentação 
da hipoglicemia sustenta a hipótese de excessiva dose de insulina e a necessidade de 
se diminuir a dose, especialmente se o controle glicêmico for insatisfatório. 
 
8.6. Curva glicêmica seriada 
 
Curvas glicêmicas seriadas são importantes para determinar o 
comprometimento do proprietário, adequação da dose de insulina, resistência 
insulínica, duração do efeito da insulina, horário de aplicação e proficiência do 
proprietário na aplicação da insulina. Estas curvas podem fornecer informações sobre 
a farmacologia da insulina em particular num determinado animal. Também é uma boa 
ferramenta para o ajuste fino das doses de insulina em cães diabéticos. Curvas 
glicêmicas seriadas não são recomendadas para o acompanhamento rotineiro de gatos 
diabéticos, devido a propensão destes a desenvolver hiperglicemia induzida pelo 
estresse. 
A curva glicêmica tradicional requer a coleta de amostras sanguíneas a cada 
duas horas para a mensuração da glicemia, iniciando preferencialmente antes da 
administração de insulina. 
Para insulinas de ação intermediária, uma curva de doze horas é suficiente para 
avaliação. Para insulinas de longa ação, uma curva de vinte e quatro horas é indicada. 
Os pacientes devem ser alimentados com sua dieta padrão, no horário habitual, 
durante o processo. 
Uma curva glicêmica ideal (Figura 3) aparecerá como uma curva em sino 
invertido com o nadir (ponto mais baixo) ocorrendo no meio do caminho entre as 
injeções de insulina. O valor máximo na concentração de glicose sanguínea ocorre no 
momento de cada aplicação da insulina, porém isso não ocorre sempre. Se o nadir da 
glicose for maior que 150 mg/dL, a dose de insulina deve ser aumentada, e se o nadir 
for inferior a 80 mg/dL, a dose da insulina deve ser diminuída. Para a maioria dos cães 
diabéticos bem controlados, a concentração inicial da glicose sanguínea próxima ao 
22 
 
horário de administração da insulina é inferior a 300 mg/dL e o nadir da glicemia 
ocorre de oito a dez horas após a administração de insulina. 
 
 
 
 
 
 
 
 
No passado, os pacientes permaneciam internados para a realização da curva 
glicêmica, uma vez que a punção venosa era necessária para a coleta das amostras. 
Curvas realizadas na clínica veterinária têm algumas limitações, incluindo anorexia ou 
hiporexia devido à ansiedade, suspensão da rotina normal de exercícios, além do 
efeito do estresse nos valores da glicemia em felinos. No entanto, os glicosímetros 
portáteis recentes exigem amostras de sangue muito menores e, dessa forma, os 
proprietários são capazes de coletar o volume adequado de um capilar sanguíneo, 
usando uma lanceta ou uma agulha de pequeno calibre. Isso tem incentivado a 
mensuração da glicemia no ambiente doméstico e muitos veterinários já educam seus 
clientes sobre isso no momento do diagnóstico. 
 A maioria dos proprietários rapidamente tornar-se confortável com a coleta de 
amostras, bem como a maioria dos animais tolera o processo com pouco ou nenhum 
desconforto. Vários sítios podem ser utilizados para a coleta, incluindo as bordas de 
Figura 3. Curva glicêmica ideal para uma insulina 
de ação intermediária 
23 
 
orelha (cães e gatos), coxins (cães e gatos), calos do cotovelo (cães) e lábio externo 
(cães). Locais de amostragem ideal podem variar de paciente para paciente e, muitas 
vezes, é útil identificar uma boa localização antes de demonstrar a técnica para o 
proprietário. Além disso, recursos on-line, como vídeos podem ser usados para 
incentivar a confiança do proprietário. 
A seleção de um glicosímetro apropriado é importante, pois os dispositivos 
projetados para humanos são variavelmente discrepantes quando utilizados em 
caninos e felinos. Unidades portáteis usam métodos eletroquímicos ou fotométricos 
para determinar a concentração total de glicose sanguínea, ou seja, a glicose no 
interior dos eritrócitos mais a glicose dissolvida no plasma. A concentração de glicose é 
então extrapolada a partir deste número e exibida pela máquina. Eritrócitos humanos 
contêm uma grande quantidade de glicose, correspondendo a mais de 40% do total 
medido. No entanto, os eritrócitos de caninos e felinos contêm consideravelmente 
menos glicose e, portanto, contribuem muito menos para a quantidade total medida. 
Assim, glicosímetros projetados para uso em seres humanos tendem a subestimar os 
valores de glicemia em cães e gatos. 
 
8.7. Efeito Somogyi 
O efeito Somogyi resulta de uma resposta fisiológica normal a uma dosagem 
excessiva de insulina. Quando a concentração de glicose sanguínea diminui para 
valores inferiores a 65 mg/dL ou quando a concentração da glicose sanguínea cai 
rapidamente, independentemente do nadir, ocorre uma estimulação direta da 
glicogenólise hepática induzida pela hipoglicemia e pela secreção de hormônios 
diabetogênicos, mais notavelmente adrenalina e glucagon, aumentando a 
concentração plasmática de glicose, minimizando os sinais de hipoglicemia e causando 
hiperglicemia evidente nas próximas doze horas pelos mecanismos de 
contrarregulação da glicose. A figura 4 é indicativa de resposta Somogyi, consequência 
de uma elevada dose de insulina. 
 
 
24 
 
 
 
 
 
 
A secreção de hormônios diabetogênicos durante o efeito Somogyi pode 
induzir resistência a insulina, a qual pode durar de 24 a 72 horas após o episódio 
hiperglicêmico. Se a curva glicêmica sanguínea seriada for obtida no dia da 
contrarregulação da glicose, a hipoglicemia será identificada e o diagnóstico será 
estabelecido. Porém, se a curva glicêmica sanguínea seriada for obtida em um dia em 
que a resistência à insulina estiver predominando, a hipoglicemia não será identificada 
e a dose de insulina pode ser incorretamente aumentada em resposta aos altos valores 
da concentração sanguínea da glicose. 
 
8.8. Sistema de monitoramento contínuode glicose (CGMS) 
 
Sistemas de monitoramento contínuo de glicose (CGMS) ainda são pouco 
utilizados em medicina veterinária. Isso é devido, em parte, pelo alto custo, uma vez 
que a maioria das clínicas veterinárias trata um pequeno número de pacientes 
diabéticos, não justificando o investimento no dispositivo. 
O sistema requer a implantação subcutânea de um sensor de glicose de platina, 
utilizando um dispositivo de mola, que pode ser deixado no local durante 72 horas. O 
Figura 4. Efeito Somogyi evidenciando um baixo nadir e 
uma hiperglicemia de rebote 
25 
 
CGMS não elimina completamente a necessidade da coleta de sangue, já que pelo 
menos uma amostra deve ser coletada, para mensuração da glicemia, em cada período 
de 12 horas a fim de calibrar o aparelho e verificar se o sensor continua ativo. 
 Concentrações de glicose do fluído intersticial são aferidas a cada dez 
segundos pelo sensor e um valor médio é registrado a cada cinco minutos. O sensor 
fica conectado a um monitor do tamanho de um Pager, que pode ser anexado ao 
paciente ou mantido em estreita proximidade (1-2 metros). A principal vantagem do 
CGMS é que uma grande quantidade de dados pode ser coletada e analisada sem a 
necessidade de repetidas coletas de sangue 
 
9. LEITURA COMPLEMENTAR: 
“Dieta e exercício” 
Ajustes na dieta são frequentemente necessários no tratamento do diabetes 
mellitus. Em muitos casos, estas mudanças podem ser difíceis para os proprietários. 
Animais que estavam habituados a receber alimento à vontade devem se adaptar a um 
regime de alimentação duas vezes ao dia. Os proprietários devem entender que a 
manutenção da dieta e do horário de alimentação são essenciais para se alcançar o 
controle glicêmico. O objetivo da dieta é reduzir a obesidade e melhorar o controle 
glicêmico, evitando flutuações nos níveis de glicose. 
No cão, isto é mais bem atingido através de uma dieta com elevado teor de 
fibra e baixo teor de gordura. Dietas terapêuticas recomendadas para gatos possuem 
alto conteúdo proteico e baixa concentração de carboidratos. Preocupações dietéticas 
relativas a doenças concomitantes (por exemplo, insuficiência renal crônica, litíase 
urinária, pancreatite), também devem ser consideradas, e muitas vezes tem prioridade 
sobre uma dieta específica “diabética”. O exercício contribui para a perda de peso, 
diminuindo a resistência à insulina induzida pela obesidade. Além disso, a prática de 
exercícios tem como efeito direto baixar a concentração de glicose sanguínea por 
aumentar a mobilização de insulina de seu local de injeção, presumivelmente pelo 
aumento do fluxo sanguíneo e linfático para os músculos em exercício e por estimular 
o transporte de glicose para as células musculares. 
26 
 
Exercícios esporádicos e extenuantes por outro lado, devem ser evitados, pois 
podem levar à hipoglicemia. Estimular os gatos a se exercitar pode ser complicado. A 
ração pode ser escondida na casa para estimular o gato a "caçar" ou podem ser 
utilizadas bolas alimentadoras, de modo que o gato tenha que se exercitar para obter 
a sua refeição. Em casas com vários gatos o fator exercício não é considerado um 
problema, uma vez que a atividade lúdica de dois ou mais gatos, normalmente 
proporciona exercício suficiente. 
(MEYRER, 2014) 
 
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