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Carla Bertelli – 5° Período Diabetes Mellitus Tipo 1 – Revisar a Fisiologia do Pâncreas Endócrino – Classificar os tipos de Diabetes – Compreender a epidemiologia, etiologia, fisiopatologia e manifestações clínicas da DM tipo 1 – Entender o diagnóstico (exames complementares) – Analisar o tratamento farmacológico e não farmacológico É uma glândula exócrina e ó 99% das células exócrinas estão dispostas em grupos chamados Ácinos (produzem as enzimas digestivas). Espalhados entre os Ácidos existem as á ou Ilhotas de Langerhans. Cada Ilhota Pancreática apresenta 4 tipos de células secretoras de hormônios: As é constituem cerca de 17% das células das ilhotas pancreáticas e secretam As é constituem cerca de 70% das células das ilhotas pancreáticas e secretam As é constituem cerca de 7% das ilhotas pancreáticas e secretam As é constituem o restante das células das ilhotas pancreáticas e secretam í á As interações dos 4 hormônios pancreáticos são complexas e não completamente compreendidas. Sabemos que o Glucagon eleva o nível sanguíneo de glicose e a Insulina reduz. A somatostatina atua de maneira parácrina para inibir a liberação tanto de insulina quanto de glucagon das células beta e alfa vizinhas. Além disso, pode funcionar como hormônio circulante para retardar a absorção de nutrientes do sistema digestório. Ademais, a somatostatina inibe a secreção de GH. O polipeptídio pancreático inibe a secreção de somatostatina, a contração da vesícula biliar e a secreção de enzimas digestivas pelo pâncreas. çã A principal ação do glucagon é de elevar o nível sanguíneo de glicose que se encontra abaixo do normal. A insulina, por outro lado, ajuda a reduzir o nível de glicose sanguínea que se encontra muito elevado. O nível de glicose sanguínea controla a secreção de glucagon e insulina via feedback negativo Diabetes Mellitus Tipo 1 Carla Bertelli – 5° Período 1 – O nível sanguíneo baixo de glicose (hipoglicemia) estimula a secreção de Glucagon pelas células Alfa 2 – O Glucagon atua nos hepatócitos acelerando a conversão do Glicogênio em Glicose (glicogenólise) e promovendo a formação de glicose a partir do Ácido Láctico e de determinados Aminoácidos (Glicogênese) 2 – Consequentemente, hepatócitos liberam glicose no sangue e a glicemia se eleva 3 – Se a glicemia continuar subindo (hiperglicemia) é inibido a liberação de Glucagon (feedback negativo) 5 – A hiperglicemia estimula a secreção de Insulina pelas células Beta 6 – A insulina age em várias células do corpo para acelerar a difusão facilitada de glicose para as células, para apressar a conversão da glicose em glicogênio (glicogênese); para intensificar a captação de aminoácidos pelas células e para aumentar a síntese de proteína; para acelerar a síntese de ácidos graxos (lipogênese); para retardar a conversão de glicogênio em glicose (glicogenólise) e para tornar mais lenta a formação de glicose a partir do ácido láctico e aminoácidos (glicogênese) 7 – Resulta em queda da glicose no sangue 8 – Quando o nível sanguíneo de glicose cai para abaixo do normal, ocorre inibição da liberação de insulina (feedback negativo) e estímulo à liberação de glucagon. Embora o nível sanguíneo de glicose seja o regulador mais importante da insulina e do glucagon, diversos hormônios e neurotransmissores também regulam a liberação desses dois hormônios. Além das respostas ao nível sanguíneo de glicose descritas anteriormente, o glucagon estimula a liberação de insulina de maneira direta; a insulina exerce o efeito oposto, suprimindo a secreção de glucagon. Conforme o nível de glicose no sangue vai declinando e menos insulina é secretada, as células alfa do pâncreas são liberadas do efeito inibitório da insulina de forma que possam secretar mais glucagon. Indiretamente, o hormônio do crescimento humano (GH) e o ACTH estimulam a secreção de insulina porque atuam para elevar a glicose sanguínea. O diabetes melito (DM) representa um grupo de doenças metabólicas com etiologias diversas, caracterizado por hiperglicemia, que resulta de uma secreção deficiente de insulina pelas células beta, resistência periférica à ação da insulina ou ambas. As duas principais etiologias são o DM tipo 2 (DM2), que corresponde por 90 a 95% dos casos, e o DM tipo 1 (DM1), que corresponde a 5 a 10%. A hiperglicemia crônica do diabetes frequentemente está associada a dano, disfunção e insuficiência de vários órgãos, principalmente olhos, rins, coração e vasos sanguíneos – Segundo a International Diabetes Federation (IDF), atualmente, 9,3% dos adultos entre 20 e 79 anos de idade – 463 milhões de pessoas – vivem com diabetes (1 em cada 11 adultos).2 Na faixa etária acima de 65 anos, 136 milhões de indivíduos teriam DM.2 Um em cada dois adultos com diabetes não é diagnosticado. Um milhão e cem mil crianças e jovens menores de 20 anos de idade têm DM1, com cerca de 130 mil casos novos a cada ano. O DM e suas complicações também implicam redução da expectativa de vida e elevada mortalidade, resultando em 4 milhões de mortes em 2019. A doença predomina em crianças e adolescentes (pico entre 10 e 14 anos), mas pode surgir em qualquer idade, inclusive em octogenários. Estima-se que o DM1 acometa 0,3% da população geral com idade igual ou inferior a 20 anos, e 0,5 a 1% se considerarmos todas as faixas etárias. Até recentemente, estimava-se que havia em torno de 1,4 milhão de casos nos EUA e 10 a 20 milhões no mundo. Convém citar que, nas últimas décadas, tem aumentado significativamente o número de casos de DM1, em diversos países, sobretudo em crianças com idade < 5 anos. A classificação do DM proposta pela American Diabetes Association (ADA) se baseia na etiologia e pode ser dividida nas seguintes categorias gerais: https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737180/epub/OEBPS/Text/chapter56.html#re2 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737180/epub/OEBPS/Text/chapter56.html#re2 Carla Bertelli – 5° Período • – Pode ser autoimune ou mais raramente idiopático; destruição das células beta pancreáticas resultando em deficiência absoluta de insulina • – Resultante da perda progressiva da secreção adequada de insulina pelas células B, frequentemente antecedida pela resistência a insulina é causado pela combinação de resistência periférica à ação da insulina e resposta secretória inadequada das células β pancreáticas (“deficiência relativa de insulina”). Aproximadamente 90% a 95% dos pacientes diabéticos têm o diabetes do tipo 2, e a maioria deles é obesa. Dependendo da gravidade, ele pode ser controlado com atividade física e planejamento alimentar. Em outros casos, exige o uso de insulina e/ou outros medicamentos para controlar a glicose. • – Hiperglicemia diagnosticada durante a gravidez, geralmente surgindo a partir da 24° semana • í – Síndromes Monogênicas de diabetes (DM neonatal e diabetes da maturidade dos jovens); doenças do pâncreas exócrino (pancreatite); DM induzido por fármacos ou produtos químicos. • – acontece devido a uma alteração no equilíbrio de líquidos no corpo, que é administrado pelo hormônio antidiurético (ADH), também chamado de hormônio vasopressina. No diabetes insipidus central, a alteração no equilíbrio dos líquidos do corpo é causada por um problema no cérebro, que pode acontecer devido a traumatismos cranianos ou a tumores e cirurgias no cérebro. As doenças autoimunes também podem causar o diabetes insipidus. Já o diabetes insipidus nefrogênico acontece por um problema nos rins. Nesses casos, o cérebroproduz normalmente o hormônio ADH, mas por algum motivo, os rins não respondem aos comandos ç O DM1 geralmente surge na infância e adolescência, enquanto o DM2 predomina em adultos com excesso de peso e idade > 30 a 40 anos. A classificação é importante para definir terapia; entretanto, muitos pacientes não são claramente definidos como DM1 ou DM2 no momento do diagnóstico. Os sintomas clássicos de DM1 (poliúria, polidipsia, polifagia) estão presentes em praticamente 100% dos casos. Em contraste, muitos pacientes com DM2 são assintomáticos ou oligossintomáticos, sendo diagnosticados ao acaso em exames de rotina. Carla Bertelli – 5° Período Possui autoanticorpos (Anti-Ilhota, anti- GAD, anti-IA-2) identificados como marcadores da doença autoimune, que muitas vezes aparecem nos exames antes mesmo das manifestações clínicas. á Não possui marcadores de doença autoimune, não sendo identificada a sua causa. O DM1A pode ter herança monogênica (doenças que afetam um único gene) ou, mais frequentemente, poligênica. A forma monogênica pode se apresentar isoladamente ou associada a duas raras condições: a síndrome poliglandular autoimune do tipo 1 (SPA-1) e a síndrome IPEX (desregulação imune, poliendocrinopatia, enteropatia, ligadas ao X) A forma poligênica do DM1A tem fortes associações com genes ligados ao HLA.11 Nesse contexto, o DM1 é um dos principais componentes da SPA tipo 2 (SPA-2) e SPA tipo 3 (SPA-3). O diabetes do tipo 1 é uma doença autoimune em que a destruição das ilhotas é causada principalmente por células efetoras imunológicas que reagem contra antígenos endógenos das células β Estudos de associação ampla do genoma identificaram múltiplos loci de suscetibilidade genética para o diabetes tipo 1, e o mais importante é o locus HLA no cromossomo 6p21, que, de acordo com algumas estimativas, contribui para até 50% da suscetibilidade genética do diabetes tipo 1. Fatores ambientais Infecções virais anteriores talvez tenham funcionado como gatilho para o desenvolvimento da doença, vírus podem partilhar antígenos com epitopos das ilhotas, e a resposta imunitária aos vírus resulta em reatividade cruzada e destruição dos tecidos das ilhotas, um fenômeno conhecido como mimetismo molecular Propensão Genética → Fator Desencadeante O DM1 caracteriza-se por deficiência absoluta na produção de insulina, decorrente, na maioria dos casos, de uma destruição autoimune indolente das células beta (DM tipo 1A [DM1A]). Acredita-se que o processo seja desencadeado pela agressão das células beta por fator ambiental (sobretudo, infecções virais) em indivíduos geneticamente suscetíveis. A anomalia imunológica fundamental no diabetes tipo 1 é uma falha da auto tolerância em células T específicas para antígenos das ilhotas Células T ativadas causam lesão as células betas (autoimune). No diabetes tipo 1 ocorre destruição das células beta do pâncreas, usualmente por processo autoimune ou menos comumente de causa desconhecida. Na forma autoimune há um processo de insulite e estão presentes autoanticorpos circulantes (anticorpos anti- descarboxilase do ácido glutâmico, anti-ilhotas e anti- insulina). De uma forma geral, a instalação do quadro de diabetes tipo 1 autoimune é relativamente abrupta e muitas vezes o indivíduo pode identificar a data de início dos sintomas. A consequência da perda das células beta é a deficiência absoluta da secreção de insulina, o que por sua vez deixa os pacientes suscetíveis à ocorrência de cetoacidose, muitas vezes a primeira manifestação da doença. O quadro de cetoacidose é a expressão máxima da deficiência de insulina e pode também ocorrer na presença de estresse infeccioso, ou de qualquer etiologia ou ser decorrente do uso inadequado da insulina. No diabetes tipo 1, o intervalo máximo de tempo após o diagnóstico em que o indivíduo pode permanecer sem usar obrigatoriamente insulina, ou seja, período em que não ocorre cetoacidose, é em geral de 1 a 2 anos. Este dado algumas vezes pode ser útil na classificação do indivíduo, já que se assume que o paciente que necessita de insulina apenas após 2 anos do diagnóstico de diabetes é em geral do tipo 2. – O pico de incidência do diabetes tipo 1 ocorre dos 10 aos 14 anos de idade, havendo a seguir uma diminuição progressiva da incidência até os 35 anos, de tal maneira que casos de diabetes tipo 1 de início após esta idade são pouco frequentes. No entanto, indivíduos de qualquer idade podem desenvolver diabetes tipo 1. É responsável por aproximadamente 5% a 10% de todos os casos e consiste no subtipo mais comum diagnosticado nos pacientes com menos de 20 anos O risco é maior quando o pai é afetado, em comparação à mãe. A concordância média entre gêmeos homozigóticos fica em torno de 59%, o que reforça a importância de fatores não genéticos no desenvolvimento da doença https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737180/epub/OEBPS/Text/chapter56.html#re11 Carla Bertelli – 5° Período çõ í DM1 o início clínico é abrupto. Ocorre: • Poliúria • Polidipsia • Polifagia • Emagrecimento • Enurese Noturna • Candidíase Vaginal Cetoacidose Diabética – A deficiência de insulina acoplada com o excesso de glucagon diminui a utilização periférica de glicose enquanto aumenta a glicogênese, exacerbando gravemente a hiperglicemia (os níveis de glicose plasmática estão em geral entre 250 a 600mg/Dl). A hiperglicemia causa diurese e desidratação osmótica, características do estado de cetoacidose. Aumenta os níveis de ácidos graxos livres, esses ácidos graxos nas mitocôndrias hepáticas produz corpos cetônicos. Se a excreção urinária das cetonas estiver comprometida pela desidratação, o resultado é a cetoacidose metabólica sistêmica. Glicosúria – A hiperglicemia resultante excede o limiar renal para a reabsorção e segue-se a glicosúria. A glicosúria induz diurese osmótica e logo poliúria, causando profunda perda de água e eletrólitos. A perda de água renal obrigatória, combinada com a hiperosmolaridade resultante dos níveis aumentados de glicose no sangue, tende a depletar a água intracelular, disparando os osmorreceptores dos centros de sede do cérebro. Desse modo, aparece sede intensa (polidipsia). Insulina ser um dos principais hormônios anabólicos, sua deficiência resulta em um estado catabólico que afeta não somente o metabolismo de glicose, mas também o metabolismo de gordura e proteínas, O catabolismo de proteínas e gorduras tende a induzir um balanço de energia negativo, o que, por sua vez, leva ao apetite aumentado (polifagia) ó O diagnóstico de diabetes mellitus (DM) deve ser estabelecido pela identificação de hiperglicemia. Para isto, podem ser usados a glicemia plasmática de jejum, o teste de tolerância oral à glicose (TOTG) e a hemoglobina glicada (A1c). Em algumas situações, é recomendado rastreamento em pacientes assintomáticos. No indivíduo assintomático, É RECOMENDADO utilizar como critério de diagnóstico de DM a glicemia plasmática de jejum maior ou igual a 126 mg/dl, a glicemia duas horas após uma sobrecarga de 75 g de glicose igual ou superior a 200 mg/dl ou a HbA1c maior ou igual a 6,5%. É necessário que dois exames estejam alterados. Se somente um exame estiver alterado, este deverá ser repetido para confirmação. Indivíduos com DM1 apresentam maior risco de comorbidades autoimunes, quando comparados à população geral. Cerca de 20% a 25% das pessoas com DM1 são diagnosticadas com outra doença autoimune, mais frequentemente doença tireoidiana. E é fundamental rastrear e tratar precocemente doenças autoimunes associadasao DM1. O diagnóstico de diabetes mellitus requer a demonstração laboratorial de hiperglicemia. Excetuando o critério 4, todos os demais precisam ser confirmados numa segunda dosagem, na ausência de hiperglicemia inequívoca! O que isso quer dizer? Muito simples... Se não estivermos diante de franca descompensação metabólica aguda (como cetoacidose ou estado hiperosmolar não cetótico) será preciso repetir o exame. Obs.: a repetição do teste pode ser feita na mesma amostra de sangue ou numa nova coleta. Se a repetição for feita na mesma amostra, recomenda-se que duas metodologias diferentes de testagem sejam empregadas (ex.: glicemia de jejum + hemoglobina glicada). Caso dois testes diferentes tenham sido solicitados ao mesmo tempo, e ambos sejam concordantes para o Carla Bertelli – 5° Período diagnóstico de diabetes, nenhum exame adicional é necessário (ex.: glicemia de jejum + hemoglobina glicada). Por outro lado, se os testes forem discordantes, aquele que estiver alterado deverá ser repetido para confirmação ou não do diagnóstico. Hemoglobina glicosilada (glico-hemoglobina): também denominada hemoglobina A1c, corresponde a uma pequena fração da hemoglobina total que sofreu uma reação de “glicosilação não enzimática” irreversível (consequência da hiperglicemia sustentada). Seu valor normal é de até 6%, dependendo do kit utilizado. Como a meia-vida da hemoglobina é igual à meia-vida da hemácia, que dura em média 120 dias, a dosagem da hemoglobina glicosilada é um elemento valioso para o controle crônico da glicemia. Seus níveis refletem o controle glicêmico dos últimos três meses. Níveis de HbA1c > 7% estão proporcionalmente associados a risco aumentado de complicações crônicas, em particular as complicações microvasculares (retinopatia, nefropatia e neuropatia). ó O tratamento com reposição exógena de insulina reduz a morbimortalidade dos pacientes com DM tipo 1. Sem insulina, a maioria acaba falecendo em cetoacidose diabética. O controle glicêmico deve ser rígido. Insulinoterapia – As pessoas com diabetes Tipo1 fazem sempre tratamento com insulina – insulinoterapia. A insulinoterapia consiste na administração de insulina por via subcutânea (por baixo da pele). Não existem comprimidos de insulina pois não é possível absorvê-la uma vez que os ácidos do estômago a destroem. Mecanismo de Ação da Insulina – Quando a insulina se liga ao seu receptor, ocorre a dimerização desse receptor, e a molécula dimérica resultante possui atividade enzimática de “tirosina-quinase” (isto é, ela passa a fosforilar resíduos de tirosina presentes em outras moléculas). Diversas proteínas intracelulares são assim fosforiladas, como os substratos do receptor de insulina (IRS), tornando-se funcionalmente ativas e exercendo importantes funções intracelulares como a ativação da transcrição genética, ativação de outros sistemas enzimáticos do citoplasma. Dentre esses últimos efeitos, por exemplo, está o estímulo à translocação dos transportadores de glicose GLUT 4 do citoplasma para a membrana celular, evento necessário para a captação de glicose pelo músculo e tecido adiposo. Segundo a American Diabetes Association [ADA] (2012), a rotina diária do indivíduo com DM1 deve incluir, além da administração da insulina (a partir de três vezes ao dia), a aferição da glicemia capilar (a partir de quatro vezes ao dia), a reeducação alimentar e atividades físicas regulares, a fim de manter estáveis os níveis glicêmicos. Desse modo, o tratamento do DM1 inclui uma complexa rede de cuidados pelo resto da vida com vistas ao controle glicêmico. A terapia intensiva com insulina visa reduzir os níveis glicêmicos para valores o mais próximo possível da normalidade. Para que a terapia seja mais segura e eficaz, o paciente deve adquirir um dispositivo capaz de medir a glicemia capilar (chamado de glicosímetro), a fim de acompanhar o efeito do tratamento e detectar o surgimento de hipoglicemia. Idealmente, esta medida deveria ser feita no mínimo quatro vezes ao dia: pré- prandial (antes do café da manhã, almoço e jantar) e antes de dormir... No entanto, para certos pacientes, uma monitorização ainda mais frequente seria ideal (ex.: 6-10 vezes ao dia, acrescentando, por exemplo, medidas entre 1-2h após o início das principais refeições – as chamadas “glicemias pós-prandiais”, que podem ajudar a se chegar numa dose mais adequada de insulina em alguns casos, principalmente quando as glicemias pré- prandiais atingem o alvo desejado, mas o paciente continua com níveis de A1c acima do ideal). O fato é que as doses de insulina podem ser ajustadas conforme os valores mensurados, logo, a monitorização da glicemia capilar é extremamente útil... Existem três esquemas de insulinoterapia mais utilizados: Carla Bertelli – 5° Período Esquema 1: duas aplicações; Recomenda-se fazer 2/3 da dose diária na primeira tomada (manhã) e 1/3 na segunda tomada (noite). Este esquema deve ser ajustado pelas três glicemias capilares pré-prandiais e uma antes de dormir. Esquema 2: múltiplas aplicações de insulina (basal-bolus) Como o diabético tipo 1 não produz insulina endógena alguma, o tratamento com insulina exógena deve tentar reproduzir a resposta fisiológica. Uma insulina de ação intermediária ou prolongada substitui a liberação basal de insulina pelo pâncreas, enquanto que uma insulina de ação rápida ou ultrarrápida simula o pico pós-prandial. É o esquema basal-bolus! Este esquema se baseia no fato de que em um adulto não diabético e de peso normal, aproximadamente 25 unidades de insulina chegam diariamente ao sistema porta, sendo 50 a 60% de forma gradual e lenta (insulinemia basal); e 40 a 50% é liberada de maneira rápida em picos (bolus de insulina). Esquema 3: infusão contínua. Uma bomba de infusão injeta de maneira constante a insulina através de um cateter colocado pelo próprio paciente no tecido subcutâneo, sendo substituído a cada três dias. Esse dispositivo funciona com insulina ultrarrápida, podendo ser programado para liberar uma dose basal de insulina e, através de um toque antes das refeições, liberar um bolus para cobrir o período pós- prandial (utilizando o mesmo cálculo da dose conforme o esquema com múltiplas doses). Este método, assim como o anterior, é considerado adequado para o tratamento intensivo dos pacientes com DM tipo 1, possuindo vantagens e desvantagens com relação ao esquema de múltiplas doses... As vantagens são: elimina a necessidade de múltiplas aplicações de insulina; frequentemente melhora os níveis de A1c; obtêm-se menores variações da glicemia; reduz os episódios de hipoglicemia grave; elimina os efeitos imprevisíveis das insulinas de ação intermediária ou longa; e permite a prática de exercícios físicos sem ingerir grandes quantidades de carboidratos. As desvantagens são: elevado custo do aparelho e sua manutenção; risco de infecção no local de inserção do cateter; e risco de obstrução do cateter, levando à cetoacidose diabética. ã ó Os diabéticos tipo 1 geralmente são magros, necessitando de aporte calórico suficiente para manter o seu peso ideal. Podemos calcular este aporte multiplicando-se o peso ideal por 22. Por exemplo, se o peso ideal for 52 kg, o aporte calórico deve ser 52 x 22 = 1.145 kcal. Classicamente, recomenda-se que a dieta contenha em média 55-60% de carboidratos (especialmente amido e fibras solúveis, presentes em alimentos como verduras, frutas e legumes), 10-20% de proteínas e 30-35% de lipídios (especialmente as gorduras mono ou poli- insaturadas, contidas nos óleos vegetais e azeite). A preferência deve serpara os alimentos com baixo índice glicêmico (que elevam menos a glicemia pós- prandial), como o arroz integral, feijão e fibras solúveis (aveia, cereais, grãos). Os açúcares refinados (sacarose) devem ser limitados, mas não totalmente proibidos. O álcool deve ser desencorajado, por aumentar tanto o risco de hipoglicemia, em usuários de insulina (o metabolismo do álcool inibe a gliconeogênese hepática), quanto o risco de hiperglicemia (no caso de bebidas adocicadas). Pequenas doses diárias de vinho tinto, por outro lado, podem ser consumidas sem maiores problemas... O exercício físico regular é uma medida promotora de saúde, indicada de rotina para diabéticos, sendo ainda mais importante no DM tipo 2 (ver adiante) por ajudar no controle da obesidade, da hipertensão e aumentar a sensibilidade à insulina. No caso do DM tipo 1, vale ressaltar os riscos do exercício físico extenuante sobre o controle glicêmico: pode haver tanto hipoglicemia (se os níveis de insulina estiverem relativamente altos antes do início do exercício – pois o exercício aumenta a sensibilidade do tecido muscular à insulina) quanto hiperglicemia (se os níveis de insulina estiverem relativamente baixos antes do início do exercício – pois o estresse físico aumenta os hormônios contrarreguladores de insulina). Referências: Vilar, Lúcio. Endocrinologia Clínica . Disponível em: Minha Biblioteca, (7ª edição). Grupo GEN, 2020. Puñales M, Chen Susana, Mantovani R, Gabbay M, Lamounier R, Bertoluci M. Rastreamento de comorbidades autoimunes no DM1. Diretriz Oficial da Sociedade Brasileira de Diabetes (2022). DOI: 10.29327/557753.2022-7, ISBN: 978-65-5941-622-6. Apostila Medcurso (Ciclo 1). Diabetes Mellitus e Obesidade, parte clínica e cirúrgica. 2021
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