Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DOCÊNCIA EM SAÚDE EMFERMAGEM E O PLANEJAMENTO FAMILIAR 1 Copyright © Portal Educação 2012 – Portal Educação Todos os direitos reservados R: Sete de setembro, 1686 – Centro – CEP: 79002-130 Telematrículas e Teleatendimento: 0800 707 4520 Internacional: +55 (67) 3303-4520 atendimento@portaleducacao.com.br – Campo Grande-MS Endereço Internet: http://www.portaleducacao.com.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - Brasil Triagem Organização LTDA ME Bibliotecário responsável: Rodrigo Pereira CRB 1/2167 Portal Educação P842e Enfermagem e o planejamento familiar / Portal Educação. - Campo Grande: Portal Educação, 2012. 94p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-8241-264-0 1. Enfermagem especializada. 2. Enfermagem – Planejamento familiar. I. Portal Educação. II. Título. CDD 610.736 2 SUMÁRIO 1 PATERNIDADE RESPONSÁVEL E DIREITO DE LIVRE ESCOLHA DOS CASAIS ................ 4 2 PROGRAMA DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHER (PAISM) ............................ 5 3 FUNDAMENTAÇÕES DO ARTIGO 226, § 7°, DA CF............................................................... 8 4 ATUAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE ........................................................................ 10 5 QUALIDADE DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM E EFETIVIDADE DO PLANEJAMENTO .............................................................................................................................. 13 6 ASSISTÊNCIA À INFERTILIDADE ........................................................................................... 19 6.1 Causas da Infertilidade ........................................................................................................... 19 6.2 Índice Prognóstico e Avaliação da Probabilidade de Gravidez ........................................... 21 6.3 Reprodução Humana Assistida .............................................................................................. 28 7 ASSISTÊNCIA À CONTRACEPÇÃO ....................................................................................... 31 7.1 Avaliação dos Usuários .......................................................................................................... 31 8 TAXA DE FALHA DOS ANTICONCEPCIONAIS ...................................................................... 33 8.1 Método da Lactação com Amenorreia ................................................................................... 36 8.2 Métodos Comportamentais .................................................................................................... 38 8.3 Tabela de Ogino-Knauss ......................................................................................................... 39 8.4 Temperatura Corporal Basal .................................................................................................. 41 8.5 Método Cervical ou Billings .................................................................................................... 42 8.6 Método Sintotérmico ............................................................................................................... 43 8.7 Coito Interrompido .................................................................................................................. 44 3 8.8 Métodos de Barreiras .............................................................................................................. 45 9 ANTICONCEPÇÃO EM SITUAÇÕES ESPECIAIS ................................................................... 68 9.1 Anticoncepção no Pós-Parto e Pós-Aborto .......................................................................... 68 9.2 Anticoncepção na Adolescência ............................................................................................ 71 9.3 Anticoncepção de Emergência............................................................................................... 73 9.4 Anticoncepcionais Orais ......................................................................................................... 74 9.5 Dispositivo Intrauterino .......................................................................................................... 77 10 ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO A VÍTIMAS DE ABUSO SEXUAL ........................................ 80 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 90 4 1 PATERNIDADE RESPONSÁVEL E DIREITO DE LIVRE ESCOLHA DOS CASAIS Planejamento familiar é um tema que vem sendo amplamente discutido em nossa sociedade, não apenas entre profissionais e gestores de saúde, mas também entre líderes da comunidade, representantes religiosos, adolescentes, enfim, entre pessoas de distintos seguimentos sociais. Essa repercussão do tema impulsionou o reconhecimento da assistência à concepção e contracepção como um direito de todos os cidadãos. O Poder Legislativo passou a reconhecer esse direito e a atribuir ao Sistema Único de Saúde o dever de promover ações educativas e fornecer todos os métodos aos usuários, cabendo aos profissionais de saúde a tarefa de intervir na assistência orientando, esclarecendo e providenciando formas benéficas de manter/buscar/restabelecer a saúde sexual e reprodutiva. Apesar de abordarem conceitos como atenção integral, autonomia e acessibilidade, as leis que fundamentam as políticas públicas acerca do planejamento familiar não se apresentam tão viáveis na prática. Diante disso, persiste o desafio para que gestores e profissionais de saúde definam ações que busquem concretizar as diretrizes que regem a prática do planejamento familiar no Brasil. E esses desafios seguem lado a lado com outros determinantes sociais que constituem barreiras para as práticas de saúde em geral. 5 2 PROGRAMA DE ASSISTÊNCIA INTEGRAL À SAÚDE DA MULHER (PAISM) Diante da representatividade dos problemas relacionados à saúde da mulher no Brasil, tais como mortalidade materna, aborto, gravidez indesejada e doenças sexualmente transmissíveis (DST), o Ministério da Saúde decide lançar, em 1983, o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM). Enquanto política de saúde, o PAISM surge como resposta aos problemas de saúde e às necessidades da população feminina (MATTOS, 2001). Representou a primeira iniciativa do Ministério da Saúde de incluir o planejamento familiar nas ações de atenção à saúde da mulher. Nas diretrizes do PAISM, no tocante ao planejamento familiar, é possível identificar os seguintes destaques (BRASIL, 1984): Oportunidade de acesso às informações; Abandono de qualquer espécie de ação coercitiva; Relação constante e integral com o sistema único de saúde (SUS). O PAISM rompeu com a lógica do exagerado intervencionismo sobre o corpo da mulher, considerando-as sujeitos de transformação de suas realidades, com direitos e deveres. Nesse sentido, destaca o caráter de autonomia, condizente com os ideais feministas, que defendiam o lema “nosso corpo nos pertence” (ÁVILA e CORREIA, 1989). Na política do PAISM, o planejamento familiar ganha destaque nas questões referentes à acessibilidade da população aos meios reversíveis de contracepção. Foi disponibilizado grande número de métodos contraceptivos e desenvolvida, a nível nacional, a capacitação de profissionais de saúde para promover assistência qualificada durante o planejamento familiar. Essas ações obtiveram impactoinicial, mas não se verificou continuidade e resultados significativos na acessibilidade da população a métodos conceptivos e contraceptivos nas décadas seguintes (COSTA, 1999). 6 Uma das principais razões atribuídas à desaceleração das ações do PAISM residiu na interrupção, em 1997, do fornecimento de métodos e insumos pelo Governo Federal. Quando o ministério descentralizou o PAISM, atribuindo aos estados e municípios a compra e distribuição de métodos conceptivos e contraceptivos, ocorreu expressiva queda na oferta de métodos contraceptivos à população (BRASIL, 2005). Em 2000 o Ministério da Saúde retomou a compra de métodos contraceptivos. Essa estratégia representou aumento da distribuição de métodos e insumos para as secretarias estaduais de saúde. Em nível municipal, todavia, foram identificadas condições inadequadas de armazenamento, assim como distribuição irregular. Diante disso, a aquisição de métodos pelo governo federal foi novamente interrompida. Em 2001, uma comissão formada por representantes das secretarias estaduais, municipais e do Governo Federal decidiu ampliar a distribuição de métodos anticoncepcionais. A aquisição de métodos reversíveis voltou a ser atribuição do Ministério da Saúde, sendo que os municípios a serem beneficiados deveriam obedecer a, pelo menos, um dos seguintes requisitos (BRASIL, 2005): o Possuir, no mínimo, uma equipe do programa de Saúde da Família Habilitada; ou o Estar com o termo de adesão ao Programa de Humanização Pré-natal e Nascimento aprovado; ou o Contar com pelo menos uma equipe do Programa de Interiorização do trabalho em saúde. Os municípios beneficiados recebem os métodos contraceptivos sob duas formas: o kit básico ou o kit complementar. O kit básico é composto por pílula combinada de baixa dosagem, pílula exclusiva de progestágeno e preservativo masculino. O kit complementar comporta o dispositivo intrauterino (DIU) e o anticoncepcional injetável trimestral (BRASIL, 2005). O critério de elegibilidade para fornecimento do kit complementar reside no fato de o município possuir população igual ou superior a 50.000 habitantes, ou quando os médicos forem capacitados para inserir o DIU (BRASIL, 2005). Diante disso, é importante ressaltar a necessidade de que, cada vez mais, profissionais de saúde se qualifiquem na assistência ao 7 planejamento familiar, a fim de assegurar o acesso da população a todos os métodos contraceptivos disponíveis. Essa estratégia tem possibilitado acesso a maior quantidade de métodos contraceptivos. Verifica-se que, a cada ano, tem aumentado o número de métodos distribuídos aos municípios. Entre as perspectivas para os próximos anos estão as seguintes (BRASIL, 2005): Ampliação da oferta de métodos anticoncepcionais reversíveis no SUS; Elaboração e distribuição de manuais técnicos e de cartilhas educativas; Capacitação de profissionais de saúde da atenção básica para assistência em planejamento familiar; Atenção em Reprodução Humana Assistida na rede SUS; Ampliação do acesso à esterilização cirúrgica voluntária no SUS; Ampliação do Programa Saúde e Prevenção nas Escolas. 8 3 FUNDAMENTAÇÕES DO ARTIGO 226, § 7°, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL (CF) O planejamento familiar constitui uma das práticas do enfermeiro no âmbito da promoção da saúde sexual e reprodutiva, visando uma maternidade/paternidade responsável e desejada. Dessa forma, o planejamento familiar configura-se como uma atividade que vai além do “antinatalismo”, uma vez que incorpora princípios relacionados, por exemplo, à conscientização e ao direito de evitar a concepção por meio da escolha do método mais conveniente, à assistência em casos em que a concepção é desejada e não é conseguida naturalmente, e em casos em que a concepção ocorreu de forma não consentida (estupro). Concernente a isso, a Constituição da República Federativa do Brasil, por meio do artigo 226, § 7°, norteia a atuação de profissionais de saúde no âmbito do planejamento familiar. A Lei do Planejamento Familiar desloca o debate sobre controlismo versus natalismo para o enfoque do direito humano, da autonomia e da escolha consciente. Essa ideia é observada na descrição da Lei, assim apresentada: “Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas (BRASIL, 1996)”. A lei representou avanços, mas ainda permanecem obstáculos relacionados ao acesso a muitos métodos contraceptivos, bem como o conhecimento sobre vantagens e desvantagens de cada um. Esses aspectos são importantes e necessitam ser considerados durante a 9 assistência de enfermagem no planejamento familiar, no intuito de assegurar o direito de aderir ao método mais adequado para a situação de cada casal. 10 4 ATUAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE A efetividade do planejamento familiar está pautada em muitos determinantes, que vão desde o fornecimento de todos os contraceptivos à correta utilização do método por parte do casal. Nessas entrelinhas, a atuação do profissional de saúde exerce grande influência. Eis algumas das importantes funções do profissional de saúde no planejamento familiar: Oferecer os métodos disponíveis aos usuários do serviço de saúde: a oferta de todos os métodos está diretamente relacionada não apenas ao direito de livre escolha, mas também à maior probabilidade de adesão e uso adequado. Quando a mulher, o homem ou o casal dispõe de várias alternativas, tende a selecionar o método mais adequado à sua realidade, o que diminui a possibilidade da falha ou abandono do método conceptivo ou contraceptivo. Explicar vantagens, desvantagens e taxas de falhas de cada um: uma escolha adequada implica em uma escolha consciente. Para que isso ocorra, é necessário que o profissional de saúde ofereça informações acerca das vantagens, riscos, desvantagens, benefícios e taxas de falha de cada método. Orientar como utilizar cada método de forma a proporcionar o máximo de êxito: a assistência de enfermagem no planejamento familiar vai além da primeira consulta, estendendo-se por todo o período em que o usuário do serviço de saúde utiliza o método escolhido. Para garantir o uso correto do método, o enfermeiro deve dispensar boa parte do tempo da consulta para verificar se as informações sobre o uso do método foram completamente assimiladas. Uma das técnicas para averiguar se o usuário apreendeu as orientações consiste em solicitar que ele repita ou demonstre as etapas necessárias ao uso do método escolhido. Conhecer o contexto dos casais ou indivíduos e auxiliá-los a escolher o método mais adequado: antes de qualquer indicação de método, o profissional de saúde precisa investigar o estilo de vida, crenças e necessidades dos casais, a fim de que nenhum determinante externo prejudique a eficácia do método. 11 Prestar assistência contínua, principalmente no período de adaptação ao método selecionado: o profissional não deve oferecer barreiras no acesso das pessoas que fazem uso de algum método conceptivo ou contraceptivo ao serviço de saúde. Isso inclui disponibilidade, em casos de urgência e emergência, em qualquer dia e horário. Orientar casais que desejam a concepção, mas que não a obtêm naturalmente: alguns serviços e profissionais de saúde consideram que o planejamento familiar se restringe à assistência à contracepção, o que não é verdade. Mesmo não dispondo de equipamentos e técnicas voltadas à concepção,os serviços de saúde devem acolher os casais com suspeita de infertilidade, oferecendo-lhes apoio e esclarecimentos. E, quando necessário, devem realizar o encaminhamento para outros serviços. Assistir mulheres que sofreram abuso sexual e que estão com risco de gravidez indesejada: a assistência a vítimas de abuso sexual deve ser prioritária nos serviços de saúde. Essa assistência deve incluir, também, a prevenção de DST/HIV. A gravidade dessa situação requer discussão mais detalhada. Por conta disso este assunto será discutido no último módulo desta obra. Essas funções são complexas e exigem a articulação entre a equipe multidisciplinar, de forma que os profissionais utilizem a interdisciplinaridade, a fim de que seja realizada uma assistência integral e integrada. Nesse contexto, o enfermeiro, por estar em contato mais próximo dos casais ou indivíduos, exerce papel de mediador entre o sistema de saúde e a população, sendo a educação em saúde sua ferramenta para promover a conscientização dos usuários. Em busca de um planejamento familiar efetivo, alguns parâmetros devem ser valorizados. Entre eles: Atender os usuários de forma personalizada; Tratar os usuários com dignidade e manter sua privacidade; Informar e tranquilizar os casais inférteis quanto ao tratamento a que estão se submetendo; Informar aos usuários ou às usuárias sobre os métodos disponíveis; Manter o serviço com boas condições de higiene e organização; Oferecer serviços durante todo o horário de funcionamento do serviço de saúde; 12 Manter um abastecimento adequado de anticoncepcionais e insumos. Na consulta de enfermagem e administração do serviço de saúde o enfermeiro encontra a oportunidade de executar estes parâmetros por meio do diálogo com o casal, de forma a instigá-los a refletir sobre suas realidades e sobre como e quando pretendem planejar a concepção de um novo ser. 13 5 QUALIDADE DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM E A EFETIVIDADE DO PLANEJAMENTO FAMILIAR Atenção Personalizada Cada indivíduo ou casal que busca o serviço de saúde para realizar o planejamento familiar carrega consigo sua trajetória, expectativas, situação familiar, desejos, planos para o futuro profissional, entre outros elementos subjetivos. Entre estes aspectos, alguns podem ser comuns a muitos casais, mas outros podem apresentar peculiaridades inerentes às características próprias do indivíduo ou casal, ou à situação vivenciada no momento da consulta. Tomemos como exemplo a história fictícia de dois casais que, aparentemente, possuem as mesmas características: jovens, recém-casados, que desejam planejar a concepção do primeiro filho. Durante a consulta de enfermagem, todavia, o enfermeiro observa que os casais apresentam contextos de vida diferentes. Casal 1 – casados há um ano. Ela está desempregada. Ele é administrador de uma empresa multinacional e terá que assumir uma filial em outro estado, onde será liberado para ver a esposa apenas uma vez por mês. Nunca utilizaram métodos contraceptivos. Casal 2 – casados há dois anos. Ela trabalha como garçonete. Ele foi promovido na empresa onde trabalha. Nunca utilizaram métodos contraceptivos. Pela situação apresentada, podemos supor que o casal 1 deseja a contracepção, pois o marido não terá tempo disponível para dar assistência à esposa, uma vez que passará a maior parte do tempo trabalhando e longe de casa. O casal 2, por sua vez, apresenta situação 14 favorável à concepção, pois possuem tempo de casamento razoável, situação financeira estável e condições de vivenciar juntos o processo da gestação e parto. É necessário salientar, entretanto, que na assistência de enfermagem no âmbito do planejamento familiar, o desejo do casal é prioridade. O papel do enfermeiro é auxiliar o casal, de forma não coercitiva, a escolher o método mais adequado, seja para contracepção ou concepção. A atenção personalizada consiste exatamente em procurar “escutar” anseios, dúvidas e angústias do casal e direcionar a assistência com base no contexto de vida dos envolvidos. Retomando os casos retrocitados, poderia acontecer a seguinte situação: o casal 1 poderia desejar a concepção por considerar que um filho fortaleceria o vínculo familiar, já que o marido estaria ausente durante boa parte do tempo. O casal 2, por exemplo, poderia buscar a contracepção por desejarem vivenciar de forma plena o crescimento profissional do marido. As possibilidades são muitas e são oriundas dos sentimentos do casal. Não cabe ao profissional de saúde decidir o que é melhor para seus usuários, apenas informar sobre riscos e benefícios de cada escolha, bem como orientá-los e direcioná-los para uma escolha consciente. Orientação efetiva A orientação efetiva faz parte da atenção personalizada e consiste em uma ação necessária tanto para quem está iniciando o planejamento familiar como para quem já faz uso de algum método destinado à concepção ou contracepção. Esta orientação está pautada no princípio de livre escolha, sem imposição ou coerção. O enfermeiro deve abster-se de julgamentos sobre os métodos contraceptivos ou sobre a necessidade de o casal conceber ou não. A prevenção de doenças sexualmente transmissíveis (DST) também constitui um dos elementos da orientação efetiva, uma vez que o planejamento familiar envolve a relação sexual e visa à promoção da saúde sexual e reprodutiva dos indivíduos. Por conta disso, torna-se necessário explicar e, de certa forma, estimular o uso de métodos que previnam DST e gravidez concomitantemente. 15 Nos casos em que se busca a concepção, o enfermeiro deve explicar aos casais a relação entre os métodos contraceptivos e o risco de DST, ressaltando a importância de que o casal verifique a existência de possíveis sinais e sintomas de DST, a fim de que não haja transmissão. Caso seja confirmada a DST, deve-se tratar a doença antes de iniciar algum método voltado à concepção, inclusive para preservar a saúde do ser que será concebido. Em casais em que a infertilidade foi confirmada, o enfermeiro deve observar fatores inerentes à complexidade da situação, pois, muitas vezes, isso representa um problema para o relacionamento afetivo do casal, além de possuir um caráter cultural de identidade feminina (gerar um filho) e masculina (progenitor). Nos casos de infertilidade, é importante explicar não só os métodos disponíveis para fertilização, mas também descrever as etapas e oferecer apoio emocional a casais que não alcançaram a concepção. A infertilidade é uma situação tão complexa que exige a articulação de diversos profissionais de saúde, no intuito de oferecer ao casal suporte terapêutico. Assim, o enfermeiro, como membro da equipe multidisciplinar em contato mais próximo do cliente, deve buscar a articulação com os demais profissionais de saúde e, sempre que necessário, acionar outros serviços de saúde. A orientação efetiva tem como propósito assegurar que o casal que deseja contracepção ou concepção receba uma assistência qualificada, que possa escolher um método que seja mais coerente com sua realidade, que esteja consciente dos riscos e benefícios de cada método e que o utilize de forma efetiva. Assim, alguns fundamentos são apontados como essenciais para uma orientação efetiva: Compreender e respeitar os direitos das usuárias. Obter a confiança das usuárias; Conhecer as características de todos os métodos anticoncepcionais; Compreender os fatores culturais e emocionais que afetam a decisão da mulher/homem (ou casal) de utilizar um método anticoncepcional específico; Estimular as usuárias a fazer perguntas; Orientar sem julgar, demonstrando respeito e gentileza aos usuários e às usuárias; Apresentar informação sem emitir juízo de valor;16 Escutar ativamente, mostrando-se sensível às preocupações e dúvidas das usuárias; Reconhecer quando não pode ajudar uma usuária, encaminhando-a; Compreender o efeito da comunicação não-verbal. Acessibilidade aos métodos Tanto a contracepção como a concepção envolvem multideterminantes que vão desde elementos subjetivos que norteiam o comportamento dos casais ao investimento na disponibilização de métodos por parte dos gestores de saúde. A enfermagem, por conseguinte, desenvolve-se entre esses processos e precisa considerá-los na prestação de um cuidado no âmbito do planejamento familiar. Como já foi discutido, a atuação dos enfermeiros na atenção personalizada e na orientação efetiva exige sensibilidade e comprometimento pessoal pela busca de uma ação eficaz. Um terceiro fator importante consiste na acessibilidade ao método conceptivo ou contraceptivo; todavia, muitas vezes este fator não está ao alcance do enfermeiro, pois evoca a alocação de recursos financeiros do estado ou município. Apesar disso, o profissional de enfermagem poderá atuar juntamente aos gestores municipais e estaduais, mostrando os benefícios da disponibilização de métodos contraceptivos para a população. Sobre a relação entre a enfermagem e a acessibilidade aos métodos contraceptivos observa-se um movimento em prol da discussão e reivindicação, junto ao Estado, por meio de grupos organizados da sociedade, a fim de que se façam cumprir as prerrogativas do artigo 226, § 7°, da Constituição da República Federativa do Brasil (COELHO, 2005). Afinal, como categoria profissional, o enfermeiro deve representar a voz do povo, intercedendo pelos direitos daqueles que, por conta de adversidades, não têm oportunidade de lutar por condições de saúde dignas. É importante salientar o caráter de conscientização que deve estar presente nas ações de educação em saúde do enfermeiro. Os enfermeiros, na busca pela excelência nas ações de educação em saúde no âmbito do planejamento familiar, precisam transcender os limites que lhes são impostos, como carência de recursos financeiros e barreiras socioculturais, procurando 17 superar dificuldades por meio da identificação de recursos complementares no processo de emancipação dos educandos. A acessibilidade aos métodos conceptivos e contraceptivos está atrelada ao dever do estado, por meio do SUS, de fornecer não só os métodos propriamente ditos e insumos, mas, sobretudo de informar sobre vantagens e desvantagens de todos os métodos (BRASIL, 1996). Alguns estudos acerca da acessibilidade a informações sobre os métodos contraceptivos demonstram que a população brasileira sabe quais os métodos conceptivos e contraceptivos, mas não possui entendimento sobre riscos, vantagens e forma de utilização. Além disso, poucos são os estudos que investigam conhecimento e prática acerca do uso de contraceptivos (PANIZ, FASSA E SILVA, 2005). O enfermeiro, em sua prática, deve, portanto, procurar saber o que os usuários do serviço de planejamento familiar sabem a respeito dos métodos conceptivos e contraceptivos, e investigar como esses métodos estão sendo utilizados. Um fator importante que está relacionado à barreira cultura que dificulta o acesso ao método contraceptivo consiste nas crenças e mitos. Estes elementos, uma vez transmitidos e compartilhados, podem comprometer a eficácia dos métodos. Um dos exemplos dessa realidade é a ideia de que o uso concomitante de dois preservativos diminui a taxa de falha deste método (SOUSA, 2007). Nesse caso, cabe ao enfermeiro informar ao cliente sobre a resistência do preservativo e sobre sua eficácia quando utilizado de forma correta, assim como a possibilidade de rompimento ou vazamento quando não são seguidas as orientações do fabricante. Elementos culturais presentes nas comunidades devem ser valorizados, pois eles tendem a ser compartilhados e transmitidos entre gerações. A cultura possui essa característica e tem a capacidade de guiar comportamentos, de modo que as pessoas passam a considerar o padrão cultural como correto e coerente (mesmo que ele não possua fundamentação científica). Trabalhar crenças, mitos e tabus não significa tentar desfazer esses padrões, mas sim negociar formas benéficas de cuidado que não se choquem com a cultura do usuário. O choque cultural tende a distanciar o usuário do serviço de saúde e criar uma barreira, por isso essa atitude deve ser evitada. A substituição de métodos também deve ser acessível a homens, mulheres ou casais que procuram o planejamento familiar. Queixas sobre incômodos, alterações fisiológicas ou 18 mesmo patologias não podem ser negligenciados em uma consulta de enfermagem. A não aceitação ou não adaptação ao método pode promover recusa ou falhas na utilização ou parte do casal, o que compromete a eficácia do método e a confiança no profissional de saúde. Nas situações em que, mesmo após devidamente orientado e esclarecido, o usuário não se adapte a determinado método, o profissional de saúde deve apresentar alternativas, não impondo escolhas. Essa substituição de métodos, entretanto, precisa ser realizada com base em um criterioso exame físico e anamnese. E, quando necessário, deve-se providenciar encaminhamento para profissional ou centro especializado. A inconsistência no uso, falhas do método em si e a dificuldade de acesso contínuo nos serviços de saúde foram apontadas, em uma pesquisa do Ministério da Saúde, como as principais causas de gravidezes indesejadas entre brasileiras (BRASIL, 2007). Esses dados revelam a gravidade da falta de acessibilidade ao material e à informação. Na medida em que mais métodos estão disponíveis e que os profissionais de saúde se disponham a prestar assistência continuada, as pessoas poderão encontrar o método mais adequado para suas situações específicas. Em tese, mais métodos corresponde a mais opções, o que, por sua vez, significa maior probabilidade de uso frequente e correto. 19 6 ASSISTÊNCIA À INFERTILIDADE O ser humano sempre esteve intimamente relacionado à reprodução, seja como forma de perpetuação da espécie, seja como luta pelo direito de decidir quando e como deve acontecer a concepção. Durante séculos o desejo de ter filhos permaneceu como fundamento maior do matrimônio. A paternidade como símbolo de virilidade e a maternidade como representação social da mulher ideal (capaz de procriar). A fertilidade, até os dias atuais, tem significado importante para muitos casais. E não ser capaz de procriar pode ocasionar prejuízos de ordem moral e psicológica. Os estudos acerca da infertilidade e de métodos em busca da fertilização em casais que apresentavam dificuldade para conceber datam do século XVII, quando Lázaro Spallanzani coletou o sêmen de um cachorro e conseguiu introduzir e fecundar uma cadela. Em 1970 o experimento foi replicado em seres humanos, com êxito. Desde então cada vez mais se tem pesquisado acerca do tema. No Brasil, o grande marco das pesquisas sobre fertilização é representado pelo nascimento do primeiro bebê de proveta, em 1984, resultante da técnica de fertilização in vitro. Compreende-se, portanto, que a assistência à infertilidade constitui componente tão importante quanto a assistência à contracepção. É considerada não apenas um direito reprodutivo, mas, sobretudo, um direito humano. 6.1 Causas da infertilidade Uma das situações mais complexas enfrentadas pelo profissional de enfermagem durante o planejamento familiar consiste na assistência à infertilidade. Ocasionalmente, mulheres, homens ou casais podem procurar assistência de enfermagem alegando o desejo de 20 conceber. E muitas vezes esse desejo vem acompanhando da angústia de várias tentativas de concepção frustradas. Inicialmente, é necessário que o enfermeiroinvestigue a história do paciente, pois, em grande parte dos casos, a dificuldade de engravidar não constitui infertilidade propriamente dita. Um casal é considerado infértil ou subfértil apenas quando, após 1 ano de relações sexuais regulares sem uso de métodos anticoncepcionais, a concepção não é alcançada. Este conceito baseia-se no fato de que, a cada mês, um casal que mantêm relações sexuais regulares apresenta 25% de chance de conceber; e, após o período de um ano, cerca de 85% dos casais nas condições descritas obtêm a gestação (CEARÁ, 2002). O diagnóstico de infertilidade ou subfertilidade, contudo, não é obtido apenas por meio da história clínica do casal, mas também com suporte em exames mais detalhados. Outro aspecto a destacar refere-se à consideração da idade da mulher, que pode ser um fator determinante para as condições biológicas propícias à concepção. As causas da infertilidade ou subfertilidade podem advir das condições fisiológicas do homem, da mulher ou não apresentar causa diagnosticável, ou seja, as causas da infertilidade são desconhecidas. Verifica-se que, a cada 100 casais que não conseguem a concepção, 40 são resultantes da infertilidade masculina, 40 são oriundos de alterações fisiológicas da mulher e 20 possuem causa desconhecida ou não diagnosticável (BRASIL, 2004). As alterações masculinas e femininas podem ser identificadas pela anamnese, exame clínico, exame do esperma, dosagens hormonais (identificar falta de ovulação), ultrassonografia (Identificar falta de ovulação), radiografia das trompas e laparoscopia (identificar obstrução tubária), e teste pós- coito (verificar quantidade e qualidade do muco cervical), dependendo de cada caso. O quadro a seguir apresenta as principais causas de infertilidade masculina e feminina (CEARÁ, 2002). No homem: Número insuficiente de espermatozoides; Ausência de espermatozoides oriunda de falha na produção no testículo ou 21 por um processo de obstrução; Espermatozoides com alteração desfavorável na mobilidade, dificultando o encontro com o óvulo; Espermatozoides com alterações morfológicas que dificultam ou impedem a penetração no óvulo; Distúrbio na ejaculação ou impotência; Na mulher: Ausência da ovulação: esta causa deve-se a alterações hormonais, as quais podem ocasionar crescimento folicular inadequado e a liberação de um óvulo imaturo; Obstrução tubária, que funciona como barreira, impedindo o encontro do espermatozoide com o óvulo. Alterações uterinas/patologias, sendo que entre estas se destacam os miomas, as infecções, as aderências e as má-formações. Essas alterações ou patologias geram uma implantação incorreta do embrião. Alterações do mucocervical: quantidade ou qualidade. 6.2 Índice de prognóstico e avaliação da probabilidade de gravidez Além das causas fisiológicas ou patológicas, discutidas anteriormente, alguns parâmetros devem ser avaliados na assistência a mulheres, homens ou casais inférteis. As 22 variáveis relacionadas à infertilidade são: idade da mulher, duração da infertilidade, infertilidade propriamente dita, teste pós-coito, infertilidade na família do marido e mortalidade espermática. Essas variáveis podem ser expressas em escores e subsidiar o cálculo da probabilidade de gravidez do casal. É importante que o enfermeiro se aproprie dessas informações a fim de que possa prestar uma assistência qualificada e avaliar a necessidade de encaminhamento para serviço especializado. Ao estabelecer primeiro contato com o usuário do serviço de planejamento familiar o enfermeiro deve investigar se os parâmetros de infertilidade estão presentes e, caso positivo, em que proporções eles se apresentam. Apresentamos, a seguir, um quadro demonstrativo sobre os parâmetros de infertilidade (CEARÁ, 2002). PARÂMETROS ESCORE IDADE DA MULHER 21 a 25 26 a 30 31 a 35 36 a 40 41 a 45 0 2 4 6 8 DURAÇÃO DA INFERTILIDADE 01 ano 02 anos 03 a 04 anos 05 a 06 anos > 07 anos 0 2 4 8 12 INFERTILIDADE Primária Secundária 7 0 23 TESTE PÓS-COITO Normal Anormal 0 20 INFERTILIDADE NA FAMÍLIA DO MARIDO Sim Não 5 0 MORTALIDADE ESPERMÁTICA 60% 40% - 60% >20% - 40% 0% - 20% 0 3 7 10 De posse das informações sobre os parâmetros de infertilidade caberá ao enfermeiro avaliar quais as chances, em percentagem, que o casal dispõe para conceber no espaço de um mês e de um ano. O quadro a seguir apresenta o cálculo dessa chance, segundo o escore obtido. 24 IP Em 1 ano Em 1 mês 0 85 17 5 71 12 10 57 8,5 15 44 6 20 33 4,1 25 24 2,8 30 17 2 35 12 1,3 40 8 0,9 45 6 0,6 50 4 0,4 55 3 0,3 60 2 0,2 O índice de probabilidade não representa o diagnóstico de infertilidade, mas oferece subsídios para que o profissional fundamente as razões para a dificuldade de concepção do casal, bem como possa estimar o tempo necessário para que a gravidez seja conseguida. Isso pode consistir em uma forma de situar o casal na situação vivenciada, explicando a demora no processo de concepção. Após a avaliação da probabilidade de gravidez o enfermeiro deve providenciar os cuidados e orientações necessários ao estabelecimento de situação favorável à gravidez. Os principais aspectos a se considerar são: 25 Registro dos ciclos menstruais: é importante que o enfermeiro oriente a mulher a registrar a data do início dos ciclos menstruais. Esses dados possibilitam ao profissional de saúde avaliar a regularidade da menstruação, identificar o provável período fértil da mulher, avaliar uma possível gravidez e, quando esta for confirmada, realizar o cálculo da idade gestacional. Além disso, menstruações irregulares ou amenorreia podem indicar alterações na ovulação. Aferição dos sinais vitais e peso: essa ação deve ser efetuada em todas as consultas de enfermagem, a fim de que se possam identificar alterações que estejam comprometendo a saúde do casal, as quais poderão, inclusive, estar interferindo nas condições fisiológicas propícias à gravidez. Exame de prevenção do câncer de colo uterino: é necessário que a mulher seja incentivada a realizar anualmente estes exames. O exame ginecológico fornece informações acerca de possíveis inflamações, infecções e alterações uterinas malignas ou benignas. Essas condições podem interferir na concepção ou mesmo ocasionar aborto ou parto prematuro. Deve-se, portanto, estimular a realização desses exames, explicando que o útero consiste no abrigo do feto e que, por isso, deve manter-se saudável. Abordagem sindrômica para DST/HIV: algumas DST são responsáveis por um grande número de abortos e partos prematuros (PASSOS, 2006). Por conta disso, a investigação de sinais e sintomas de DST deve ser um passo fundamental a ser dado antes de iniciar qualquer tentativa de concepção. Avaliação da situação vacinal da mulher: uma gravidez bem assistida deve envolver a vacinação antecipada contra rubéola e tétano, a fim de que se possa proteger tanto a mulher quanto a criança. A vacina contra rubéola é produzida a partir de vírus vivos atenuados. Quando aplicada durante a gravidez, esta vacina pode representar riscos ao feto. Diante disso, o Ministério da Saúde recomenda que a vacinação contra rubéola seja realizada antes da gravidez, com antecedência mínima de três meses. Já a vacina contra o tétano pode ser aplicada durante a gravidez; entretanto, quanto maior a antecedência, maior a probabilidade de se aplicar as três doses recomendadas antes do parto (BRASIL, 2005). Verificar a presença de fatores de risco maternos, tais como idade avançada e complicações em gestações anteriores. 26 A infertilidade ou subfertilidade também pode possuir causas que vão além das fisiológicas e patológicas. Muitos estressores psicológicose hábitos inadequados interferem negativamente nas chances de concepção. Durante a anamnese e o exame físico o enfermeiro pode reconhecer esses fatores e indicar formas de cuidado satisfatórias e favoráveis à concepção. Entre os principais fatores psicológicos e hábitos da mulher que dificultam a concepção, destacam-se: Uso excessivo de drogas, cafeína, fumo e álcool; Excesso de atividade física; Pacientes obesas (IMC maior que 7); Pacientes magras (IMC menor que 17). Para os homens esses fatores estão relacionados aos seguintes aspectos: Dificuldade de ereção; Problemas de ejaculação; Trauma testicular; Parotidite. Em casos mais complexos, exames clínicos e laboratoriais podem ser solicitados e realizados a nível primário, secundário e terciário de atenção à saúde, afim de que se chegue à real causa da infertilidade ou subfertilidade. A solicitação desses exames dependerá da situação apresentada pelo casal na anamnese e exame físico. Listamos, a seguir, os principais exames que compõe a assistência a casais com dificuldade de obter a concepção. Na atenção primária: Histerossalpingografia (ou uterossalpingografia ou uterotubografia) – consiste na radiografia dos órgãos genitais. O procedimento inicia-se solicitando à paciente que se deite 27 sobre a mesa e flexione os joelhos junto ao peito. Após essa manobra, insere-se o espéculo na vagina, retira-se o excesso de secreções do colo uterino, introduz-se corante no útero e nas trompas de Falópio. Em seguida realiza-se a radiografia. O exame permite avaliar a presença de anormalidades, que são ressaltadas com o auxílio do corante. Espermograma – avalia a quantidade e qualidade dos espermatozoides. Apesar de não representar a garantia de fertilidade masculina, é muito útil na identificação de deficiências. Para a realização deste exame o homem precisa ficar de três a cinco dias sem ejacular. Durante o exame, solicita-se a ejaculação e, em seguida, verifica-se o volume do sêmen, a concentração dos espermatozoides, mobilidade dos espermatozoides e morfologia dos mesmos. Considera-se normal o volume de sêmen igual ou maior que 2 ml, a concentração de espermatozoides igual ou maior que 20 milhões por ml, a presença de mobilidade para deslocamento em pelo menos metade dos espermatozoides e morfologia normal (oval) em, no mínimo, 14% dos espermatozoides (UNIFESP, 2009). Progesterona sérica – realizado no 220 ou 240 dia do ciclo menstrual. Ultrassonografia – para visualização, por meio de ondas eletromagnéticas, dos órgãos genitais internos. Verifica-se presença ou ausência de massas, nódulos e outras alterações. Teste pós-coito - o casal é aconselhado a manter relação sexual no 110, 120 ou 130 dia do ciclo menstrual (dias próximos da ovulação). No dia seguinte, cerca de 6 a 12 horas após a relação, a mulher deve comparecer para que seja realizada a coleta do muco cervical, que é feita por meio de um espéculo vaginal. Os possíveis resultados do exame classificam-se em “bom” e “ruim”. Um teste bom é aquele em que são identificados pelo menos cinco espermatozoides movimentando em linha reta. Na atenção secundária: Dosagens hormonais – Gonadrotofinas hipofisárias, estrogênio e outros hormônios devem ser avaliados no meio do ciclo menstrual, ou seja, entre o 130 e o 150 dia. Já a progesterona deve ser mensurada entre o 21o e 23º dia do ciclo. O exame é sanguíneo. Histeroscopia diagnóstica – consiste em uma espécie de endoscopia tanto para o diagnóstico quanto para o tratamento de afecções ginecológicas. 28 Na atenção terciária: Laparoscopia diagnóstica e cirúrgica – permite tanto identificar a obstrução das trompas de Falópio como desobstruí-las, restabelecendo a passagem do óvulo. Esse procedimento é muito utilizado em casos de aderências. 6.3 Reprodução Humana Assistida A reprodução humana assistida, como parte das ações de planejamento familiar, consiste em um direito daqueles que desejam conceber, mas não obtêm êxito de forma natural. Para isso, o Ministério da Saúde, por meio da portaria SAS 388, instituída em 06 de julho de 2005, determina que “... as Secretarias de Saúde dos estados e do Distrito Federal adotem em conjunto com os municípios, as providências necessárias para organizar e implantar as redes estaduais, municipais e do Distrito Federal de Atenção em Reprodução Humana Assistida, sendo o Estado o responsável pela coordenação da rede, conforme Anexo I e III desta Portaria” (BRASIL, 2005). A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), por meio do artigo XVI, ressalta que “Os homens e as mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de raça, nacionalidade ou religião, têm o direito de contrair matrimônio e fundar a família” (DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIERITOS HUMANOS, 1948). Considerando o filho como um dos membros da família, compreende-se a importância da concepção como direito humano e da responsabilidade dos gestores em assegurar este direito. A realidade brasileira, no entanto, vai de encontro a essas prerrogativas. Em nosso país dispomos de apenas seis unidades de tratamento de reprodução assistida que pertencem ao âmbito da saúde pública (DOSSIÊ REPRODUÇÃO ASSISTIDA, 2004). Como explicamos anteriormente, a assistência a mulheres, homens e/ou casais inférteis deve ser personalizada, 29 realizada após a identificação da causa da infertilidade ou subfertilidade. Com base nisso, muitas técnicas podem ser administradas a fim de que o problema seja solucionado. A técnica da fertilização in vitro e transferência de embriões (FIV-RE), contudo, consiste na mais importante e mais complexa. Popularmente conhecida como “bebê de proveta”, a técnica da fertilização in vitro consiste, basicamente, na fecundação do óvulo pelo espermatozoide fora do corpo humano. Foi desenvolvida inicialmente para mulheres que possuíam trompas obstruídas ou ausentes. Atualmente esta técnica vem sendo utilizada também para infertilidade. As principais indicações para a FIV-RE são: Obstrução tubária Infertilidade masculina Infertilidade sem causa identificada ou aparente Outros casos de infertilidade que não obtiveram êxito por meio de outras técnicas. Sobre a técnica da FIV-RE propriamente dita, é possível destacar as seguintes etapas: 1ª. Estímulo de amadurecimento de óvulos 2ª. Avaliação do crescimento dos folículos 3ª. Coleta de óvulos 4ª. Coleta do sêmen (no mesmo dia da coleta dos óvulos) 5ª. Inseminação in vitro – após seleção dos óvulos maduros e do sêmen capacitado 5ª. Aguarda três dias – FERTILIZAÇÃO 6ª. Transferência dos embriões para o útero 7ª. Suporte na fase lútea 30 8ª. Diagnóstico da gravidez Outra variedade de fertilização in vitro é a injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI). Nesse caso a diferença consiste no fato desta técnica utilizar um microscópio potente e uma pipeta injetora de espermatozoide. Essa técnica é utilizada em casos mais complexos. 31 7 ASSISTÊNCIA À CONTRACEPÇÃO 7.1 Avaliação dos Usuários Ao procurar o serviço de saúde para realizar o planejamento familiar, a mulher, o homem ou o casal pode não possuir conhecimento algum sobre os métodos contraceptivos disponíveis, pode conhecê-los e ter o desejo de iniciar o uso de um método específico, ou, ainda, pode já fazer uso de algum método sem (ou com) indicação de um profissional de saúde. Em todos esses casos é imprescindível que o enfermeiro realize uma minuciosa investigação a fim de verificar se o usuário está apto a utilizar algum método contraceptivo e qual o método que oferecerá maiores benefícios com menor ou nenhum risco à saúde. Isso considerando as aspirações, angústias e dúvidas do usuário. Os principais aspectos quedevem ser observados na primeira consulta de planejamento familiar se referem à verificação de uma possível gravidez já instalada, se há contraindicação a algum método e se existem condições que, embora não contraindiquem um método contraceptivo, exigem acompanhamento mais frequente. Essa avaliação não deve constituir, contudo, barreira ao acesso dos usuários à assistência no planejamento familiar. Quando não for possível a realização de uma avaliação mais complexa e quando não for identificada uma necessidade importante, os métodos anticoncepcionais podem ser oferecidos com base na avaliação clínica. Um dos aspectos mais importantes da avaliação da mulher consiste na verificação da existência de gravidez já instalada. Para isso, não é necessário o teste de gravidez, pois, muitas vezes, este exame apresenta-se dispendioso, adiando a utilização do método contraceptivo. Para auxiliar o profissional de saúde a descartar a possibilidade de gravidez, durante a anamnese, o enfermeiro pode realizar os seguintes questionamentos (CEARÁ, 2002): 32 Após a última menstruação, você estabeleceu alguma relação sexual? Usou corretamente algum método anticoncepcional? Está entre os sete dias do início de sua menstruação? Está entre as quatro semanas do puerpério? Está amamentando, há menos de seis meses e sem sangramento menstrual? A resposta positiva a qualquer uma dessas cinco perguntas oferece razoável segurança ao profissional de saúde para que ele forneça algum método contraceptivo à mulher (CEARÁ, 2002). As únicas exceções se referem à inserção do DIU e à ligadura de trompas, pois são métodos invasivos e requerem maior segurança em relação à existência de gravidez. Nestas situações a dosagem de B-HCG, que consiste em um exame laboratorial sensível e confiável, pode ser realizada a partir do 10o dia da concepção. 33 8 TAXA DE FALHA DOS ANTICONCEPCIONAIS No módulo I discorremos sobre orientação efetiva e atenção personalizada. Retomamos agora estes conceitos a fim de ressaltar a relevância do conhecimento e valorização da taxa de falha dos anticoncepcionais, no intuito de prestar uma assistência visando a conscientização e autonomia dos casais. Inicialmente é necessário destacar que nenhum método contraceptivo é 100% eficaz, ou seja, nunca apresentou falha. Todavia, alguns métodos podem apresentar-se bastante eficazes em algumas situações. Muitos fatores podem interferir na eficácia de um método. A eficácia do condom, por exemplo, pode ser prejudicada em casais que não possuem conhecimento acerca da forma de utilizá-lo. O anticoncepcional oral, por sua vez, pode não apresentar efeito satisfatório em mulheres que não mantêm um padrão adequado de dia e horário de tomada da pílula. Outros fatores que podem inferir no sucesso dos métodos podem se referir ao nível educacional, adesão do parceiro e condições fisiológicas, por exemplo. A taxa de falha dos métodos contraceptivos é fundamentada na pesquisa sobre o número de gravidezes por cada 100 mulheres que utilizaram o método pelo período de 1 ano. Apresentamos a seguir os métodos disponíveis e as respectivas taxas de falha. Métodos contraceptivos No. De gravidezes por 100 mulheres/ano Lactação com amenorreia (LAM) 1 a 2 gravidezes/100 mulheres nos 06 meses pós-parto, em amamentação exclusiva e amenorreia. Tabela ou Ogino-Knauss 9 a 20 gravidezes/ 100 mulheres/ano Muco cervical ou Billings 3 a 20 gravidezes/100 mulheres/ano Coito interrompido 4 a 18 gravidezes/100 mulheres/ano 34 Condom 2 a 12 gravidezes/100 mulheres/ano Espermicida 3 a 21 gravidezes/100 mulheres/ano Diafragma 6 a 18 gravidezes/100 mulheres/ano DIU TCU 380 0,6 0,8 gravidezes/100 mulheres/ano Pílula combinada 0,1 a 8 gravidezes/100 mulheres/ano Pílula exclusiva de progestágeno 0,5 a 1 gravidez/100 mulheres/ano Injetável combinado 0,3 gravidez/100 mulheres/ano Injetável exclusivo de progestágeno 0,2 gravidez/100 mulheres/ano Vasectomia 0,15 a 1 gravidez/100 mulheres/ano Laqueadura 0,2 a 1 gravidez/100 mulheres/ano Fonte: Hatcher (2001) apud Ceará (2002). É importante destacar que as taxas apresentadas sobre a pílula combinada e a pílula exclusiva de progestágeno possuem como fator determinante das variações o uso correto por parte da usuária. Outro aspecto que deve ser estimulado pelo profissional de saúde consiste no uso de métodos combinados. Esta técnica diminui a taxa de falha, permitindo maior segurança por parte da usuária. Um dos exemplos dessa combinação é o método do diafragma com espermicida. Os métodos contraceptivos apresentam, também, distinções em relação ao mecanismo de ação ou, de uma maneira geral, ao método de atuação. Os métodos contraceptivos podem atuar baseando-se nas alterações que ocorrem durante o ciclo menstrual, como barreira, impedindo o encontro do espermatozoide com o óvulo ou regulando a liberação de hormônios de forma a dificultar/impedir o desenvolvimento de condições propícias à gravidez. Sendo assim, os métodos contraceptivos podem ser classificados em: comportamentais, hormonais e de barreira. Considerando essa classificação, os métodos podem ser assim divididos: 35 Comportamentais: Método Sintotérmico Tabela de Ogino-Knauss – identificação do período fértil da mulher. Mucocervical – determinação do período fértil da mulher a partir da observação das características do muco cervical. Temperatura corporal basal – determinação do período fértil a partir da tomada diária da temperatura corporal basal. Hormonais: Pílula combinada – estrogênio associado a progestágeno. Impede a ovulação. Pílula exclusiva de progestágeno – impede a ovulação. Injetável combinado – impede a ovulação. Injetável exclusivo de progestágeno – impede a ovulação. De barreira: Condom – retenção do esperma durante a ejaculação. Espermicida – inativadores dos espermatozoides. Diafragma – impede a passagem do espermatozoide ao útero. 36 É importante esclarecer que o DIU é o único método que pode funcionar como método de barreira e como método hormonal, uma vez que ele pode ser de cobre ou de progesterona. 8.1 Método da lactação com amenorreia (LAM) O método da lactação com amenorreia, assim como outros, possui vantagens e desvantagens. Apesar de ser um método gratuito e de não ocasionar efeitos colaterais, necessita que a usuária esteja ciente das condições que asseguram a eficácia da LAM. Fonte: BRASIL, 2006 Condições para o sucesso do método A lactação com amenorreia é um dos métodos que, quando utilizado de forma adequada, oferece maior segurança e maior eficácia. Fundamentado nos efeitos hormonais provocados pela amamentação, a LAM chega a proporcionar 98% de eficácia na prevenção de gravidez (CEARÁ, 2002). Essa proteção, todavia, só é garantida quando a mulher respeita três regras básicas que constituem requisitos necessários ao sucesso do método. 37 1ª) Regra – A mulher deve se encontrar dentro dos seis primeiros meses de pós-parto; 2ª) Regra – Ausência da menstruação; 3ª) Regra - Amamentação exclusiva ou, pelo menos, representando 85% da alimentação do bebê. Nos casos em que a criança mame menos de seis vezes por dia, a eficácia da LAM poderá ser diminuída. Em algumas comunidades culturais pode existir a crença de que a LAM não evita gravidez, apenas quando associada a métodos hormonais. Essa crença é derivada de experiências mal conduzidas e mal sucedidas. Na maioria dos casos, trata-se de mulheres que não foram bem instruídas a respeito das três regras para a eficácia da LAM, o que ocasionou falha do método. Essas experiências são compartilhadas e transmitidas entre gerações, gerando descrença na LAM. O profissional de enfermagem, nesse contexto, possuium papel imprescindível, o de esclarecer as vantagens e desvantagens do método, assim como as condições exigidas. Além disso, o enfermeiro, juntamente à equipe de saúde e à usuária, deve avaliar se a LAM é o método mais benéfico para a paciente ou se é preferível adotar outro método, isso se baseando na relação entre risco e benefício. Mecanismo de ação O método de amenorreia e lactação é fundamentação na regulação fisiológica da ação hormonal. O mecanismo de ação é estimulado pela sucção da mama pelo recém-nascido. Essa ação estimula a produção da betaendorfina hipotalâmica, a qual, por sua vez, suprime a atividade ovariana. Quanto mais a mulher amamentar seu bebê, maior tempo ela terá de segurança contra a concepção (MCNEILLY, 1997). A LAM favorecerá o retardamento da menstruação ou permitirá que a mulher, mesmo menstruando, não ovule. Por medida de segurança, todavia, a amenorreia é tida como condição para a LAM, não sendo aconselhável a mulheres que desejam a anticoncepção e que estejam menstruando mantenham relação sexual sem uso de outro método contraceptivo associado. Situações especiais O profissional de saúde é o responsável pela divulgação e esclarecimentos sobre a LAM. Nesse contexto, cabe a ele identificar situações em que poderá ocorrer falha do método e, 38 consequentemente, descrença na LAM por parte da comunidade. A seguir, apresentamos quatro situações que requerem maior atenção e avaliação do profissional de saúde em relação a puérperas que desejam a contracepção. Situação 1 – a mulher amamenta, mas o aleitamento não chega a constituir 85% da alimentação do bebê. Nesse caso, há risco de gravidez, pois o estímulo da betaendorfina hipotalâmica poderá não ser eficaz, ocasionando a ovulação. Situação 2 – a menstruação recomeçou. Nessa situação, a mulher poderá estar ou não ovulando. Como não se pode ter a certeza de que, mesmo menstruando, ela não está ovulando, esta situação constitui risco para gravidez. Situação 3 – a amamentação é exclusiva, mas o bebê mama em intervalos superiores a 4 horas durante o dia e a 6 horas durante a noite. A frequência na amamentação também é um fator influente no sucesso da LAM. Portanto, em situações em que o bebê mantém um intervalo extenso entre as mamadas, a eficácia da LAM poderá estar comprometida. Situação 4 – o bebê completou seis meses de idade. Recomendações: em todas as quatro situações, o profissional de saúde deve estimular a mulher a continuar amamentando, tendo em vista os benefícios do aleitamento materno para a mulher e para o bebê. Considerando o risco de gravidez, todavia, é recomendável que a mulher seja auxiliada a escolher outro método (CEARÁ, 2002). 8.2 Métodos Comportamentais Os métodos comportamentais são assim definidos por se basearem na observação da mulher sobre as modificações que ocorrem durante seu ciclo menstrual, sobre as alterações que indicam qual o período que há maior ou menor probabilidade de gravidez. Esses métodos são fundamentados, essencialmente, na regularidade do ciclo menstrual, nas alterações da temperatura corporal basal e nas modificações do muco cervical. 39 8.3 Tabela de Ogino-Knauss Utilizada tanto por mulheres que desejam a concepção como por mulheres que buscam a contracepção, a tabela fundamenta-se na identificação do período fértil, ou seja, do período em que a mulher possuirá maior probabilidade de engravidar. Trata-se, entretanto, de um método mais recomendado para casos em que a concepção é desejada, uma vez que pode apresentar taxa de falha de até 20% em mulheres com ciclo regular ou até mais em mulheres que não possuem regularidade no ciclo menstrual (BRASIL, 2002b). Uma maneira de oferecer certa segurança na indicação do método consiste em verificar a regularidade do ciclo menstrual da usuária. Para isso, o profissional de saúde deve solicitar à usuária que registre, durante seis meses, o início e fim dos ciclos menstruais (do primeiro dia da menstruação à véspera da menstruação seguinte). Em seguida, verifica-se a diferença entre o ciclo mais curto e o ciclo mais longo, que são as variações extremas da usuária. Se essa diferença for inferior a 10, avalia-se o ciclo como regular (BRASIL, 2002b). Verificada a regularidade do ciclo menstrual da usuária, resgatam-se novamente os ciclos mais curto e mais longo. Subtrai-se o número de dias do ciclo mais curto de 18 e do ciclo mais longo de 11. Esse cálculo vai fornecer o início e o fim do período fértil da mulher (BRASIL, 2002b). Para quem deseja engravidar, aconselha-se manter relações sexuais nesses dias; para quem deseja a contracepção, devem-se evitar relações sexuais nesses dias. A seguir, apresentamos um exemplo de cálculo do período fértil. 40 1º. Ciclo = 29 dias 2º. Ciclo = 30 dias 3º. Ciclo = 28 dias 4º. Ciclo = 31 dias 5º. Ciclo = 32 dias 6º. Ciclo = 30 dias O ciclo menor e o maior são, respectivamente, de 28 e de 32 dias. Realizando o cálculo verifica-se que: Ciclo menor: 28 – 18 = 10 Ciclo maior: 32 – 11 = 21 Conclusão: o período fértil vai do 10º ao 21º dia do ciclo menstrual. 41 8.4 Temperatura corporal basal Fonte: Brasil, 2002. Método fundamentado na variação de temperatura após a ovulação. Essa variação é ocasionada pela elevação dos níveis de progesterona, que se mantêm altos até o início da próxima menstruação. Para utilizar este método, a mulher deve obedecer às seguintes etapas (BRASIL, 2002b): 1ª) A partir do 1º dia do ciclo menstrual, registrar a temperatura sublingual pela manhã, antes de levantar, todos os dias, durante cinco minutos e de preferência no mesmo horário. Esse registro deve ser feito em papel quadriculado, fazendo-se uma relação entre a temperatura e o dia do ciclo menstrual. 2ª) Identificar o surgimento de variação de 0,3 a 0,8º C na temperatura. 3ª) Estabelecer, com base na temperatura mais alta, uma linha limite, considerada “linha da temperatura”. 4ª) Quando a temperatura ultrapassar esta linha, contar 3 dias consecutivos. Após estes dias, inicia-se a fase de infertilidade. Esse método é indicado tanto para casais que desejam a concepção como para os que desejam a contracepção. É necessário lembrar, contudo, que o método é passível de falhas em virtude de outros fatores, tais como ingestão de bebidas alcoólicas, variações no padrão de sono e infecções (CEARÁ, 2002). Em virtude disso, o método é mais recomendado em casos de busca da concepção ou, em casos de contracepção, associado a outro método. 42 8.5 Muco cervical ou Billings As alterações hormonais típicas do ciclo menstrual também ocasionam alterações na qualidade e quantidade do muco cervical. Assim, para a utilização deste método, é necessário que a mulher desenvolva a habilidade de diferenciar a quantidade e qualidade de seu muco cervical nos períodos do ciclo menstrual. O método do muco cervical baseia-se na identificação do período fértil. O muco cervical, no início do ciclo menstrual, apresenta-se grumoso, esbranquiçado e em pequena quantidade. No período próximo à liberação do óvulo, o muco torna-se elástico, transparente e abundante. Isso indica que a mulher está ovulando ou perto de ovular (BRASIL, 2002b). A imagem a seguir representa as qualidades do muco cervical no período não-ovulatório e no período ovulatório. PERÍODO NÃO-OVULATÓRIO Fonte: Brasil, 2002b. 43 PERÍODO OVULATÓRIO Fonte: Brasil, 2002b. Na escolha desse método como contraceptivo, deve-se orientar que a mulher deverá evitar manter relação sexual nos dias em que o muco apresenta-se transparente, elástico e abundante. Deverá também observar o último dia em que o muco se manteve com estascaracterísticas. Este dia é também conhecido como dia ápice, com grande risco para engravidar. Após o dia ápice, a mulher deverá esperar 3 dias, podendo manter relação sexual no 4º dia (CEARÁ, 2002). 8.6 Método sintotérmico Este método consiste, basicamente, na associação do método da temperatura corporal basal com o método do muco cervical. Por tratar-se de uma associação de métodos, sua taxa de falha é bem menor do que a dos métodos retrocitados quando utilizados de forma separada. Para maior eficácia, o casal poderá, também, observar outras alterações fisiológicas que possam indicar que a mulher está ovulando, como por exemplo: dor abdominal, aumento do volume das 44 mamas e alterações da libido. A utilização deste método fundamenta-se na obediência à regra mais conservadora, ou seja, quando a determinação do fim do período fértil for diferente a partir do muco cervical e do método da temperatura basal, o casal deverá adotar, por medida de segurança, o método que identifica a fase fértil mais longa (CEARÁ, 2002). Fonte: BRASIL, 2002b. 8.7 Coito interrompido Consiste na retirada total do pênis antes da ejaculação. Apesar de apresentar uma taxa de falha relativamente alta quando comparado a outros métodos, o coito interrompido ainda é um método utilizado. Sua efetividade, todavia, poderá estar comprometida em casos de 45 ejaculação precoce, quando o homem não tem controle sobre a retirada do pênis antes da ejaculação. Outro risco para falha consiste quando o homem ejaculou há menos de 24 horas, pois, nesse caso, espermatozoides poderão permanecer vivos no canal uretral e estarem presentes na secreção pré-ejaculatória, o que ocasionaria risco de gravidez mesmo se o homem retirasse o pênis antes da ejaculação (CEARÁ, 2002). De posse desses riscos e decidido a utilizar esse método, o casal deve atentar para as seguintes orientações antes de manter relação sexual: 1. Antes da relação sexual, o homem deverá urinar, para liberar espermas de relações anteriores que possam estar presentes no canal uretral; 2. Higienizar a extremidade do pênis, para eliminar espermas de relações anteriores; 3. Durante a relação sexual, quando for ejacular, retirar totalmente o pênis e averiguar se a ejaculação ocorreu totalmente fora da vagina. É necessário alertar que casais que possuem condições que dificultem o controle da ejaculação, que possuem alto risco reprodutivo ou nos casos em que a gravidez ocasionará risco de para a saúde, o método deverá ser avaliado comparando a relação risco/benefício. 8.8 Métodos de Barreira Os métodos de barreira consistem naqueles que, por meios físicos ou químicos, dificultam a entrada dos espermatozoides no canal cervical. São eles: camisinha masculina, camisinha feminina, diafragma e espermicidas. Camisinha 46 Consiste em um dispositivo de látex, bastante resistente, que envolve o pênis durante a relação sexual e retém o esperma durante a ejaculação, impedindo sua passagem para o canal vaginal. Por ter a função de prevenir algumas doenças sexualmente transmissíveis, além da gravidez, a camisinha é um método bastante incentivado. As principais vantagens da camisinha em relação a outros métodos são: avaliação imediata da efetividade; não ocasiona riscos à saúde; disponível tanto nos serviços de saúde como no comércio em geral e oferece proteção contra algumas DST e contra a AIDS. Já as desvantagens são: requer conhecimento e certa habilidade para colocá-la de forma adequada; alguns casais podem apresentar reação alérgica ao material; pode ter a eficácia comprometida em homens que possuem má-formação peniana; está sujeita à rejeição por conta de barreiras culturais e pode reduzir a sensibilidade do pênis (UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, 2004). A eficácia da camisinha como contraceptivo está relacionada ao uso correto e em todas as relações sexuais. O profissional deve esclarecer a importância desses dois requisitos para a mulher, para o homem ou para o casal, explicando, principalmente, a maneira correta de utilizar a camisinha. A seguir, ilustramos os passos para o uso adequado da camisinha masculina (BRASIL, 2002): 1º) Colocar a camisinha com o pênis em ereção, antes de qualquer contato do pênis com a vagina, com o ânus ou com a boca. Fonte: BRASIL, 2002. 47 2º) Segurar a ponta da camisinha com os dedos para retirar o ar. Nenhuma bolha de ar deve ficar dentro da camisinha, para que não se rompa. A ponta da camisinha deve estar livre, servindo de depósito para o esperma após a ejaculação. Fonte: BRASIL, 2002. 3º) Colocar a camisinha na cabeça do pênis e ir desenrolando até cobrir todo o pênis. Fonte: BRASIL, 2002. 4º) Imediatamente após a ejaculação e antes de o pênis perder a ereção, retirar a camisinha, segurando-a com cuidado pela base, para que o esperma não vaze. Fonte: BRASIL, 2002. 5º) Cada camisinha pode ser usada uma única vez. Depois de usada, deve-se dar um nó na camisinha, embrulhá-la em papel higiênico e colocá-la no lixo. 48 Fonte: BRASIL, 2002. Além dos cuidados em relação ao uso correto, outras precauções devem ser tomadas a respeito da conservação da camisinha masculina, entre eles (BRASIL, 2002b): Guardar em lugar seco, fresco e arejado; Evitar o uso de lubrificante, uma vez que atualmente as camisinhas vêm com lubrificação própria. Se necessário utilizar lubrificante, optar por lubrificantes à base de água, pois lubrificantes á base de óleo podem ocasionar rompimento da camisinha. Camisinha feminina Fonte: BRASIL, 2002. O mecanismo de ação é semelhante ao da camisinha masculina; entretanto, a camisinha feminina apresenta a vantagem de oferecer um maior controle por parte da mulher. Além disso, o material de que é feita a camisinha feminina é mais resistente que o látex e ela pode ser inserida antes do início da relação sexual (CEARÁ, 2002). As recomendações sobre os cuidados com a conservação da camisinha feminina são 49 as mesmas da camisinha masculina. O uso correto da camisinha feminina, no entanto, deve obedecer às seguintes orientações (BRASIL, 2002b): 1ª) Verificar a data de validade e observar se o envelope está bem fechado e seco; 2ª) Abrir o envelope na extremidade indicada pela seta; 3ª) Esfregar suavemente a camisinha para ter certeza de que seu interior está lubrificado; 4ª) Colocar a camisinha na vagina na posição que achar mais confortável: deitada de costas com as pernas dobradas, de cócoras, de pé, com uma perna apoiada em uma cadeira ou na beira da cama, sentada com os joelhos afastados; 5ª) Com os dedos polegar e médio, apertar a camisinha pela parte de fora do anel interno, formando um 8. Fonte: BRASIL, 2002. 6ª) Com a outra mão, abrir os grandes lábios e empurrar o anel interno com o indicador, até sentir o colo do útero. Fonte: BRASIL, 2002. 50 7ª) Introduzir um ou dois dedos na vagina para se certificar de que a camisinha não ficou torcida e que o anel externo ficou do lado de fora. Fonte: BRASIL, 2002. 8ª) Segurar o anel externo da camisinha com uma das mãos e utilizar a outra mão para direcionar o pênis para o interior da vagina. 9ª) Após a relação sexual, segurar as bordas do anel externo, dar uma leve torcida e puxar a camisinha delicadamente. 10ª) Dar um nó, embrulhá-la em papel higiênico e colocá-la no lixo. Fonte: BRASIL, 2002. Nota: a mulher deve sempre se certificar, durante a relação sexual, de que o pênis está introduzido na camisinha, e não entre esta e o canal vaginal. Diafragma Fonte: BRASIL, 2002. 51 O diafragma é artefato em forma de anel, composto de látex. Ao ser inserido na vagina, funciona como barreiraentre os espermatozoides e o colo uterino. Considerando as diferenças anatômicas entre as mulheres, é necessário que um profissional de saúde realize a medição do tamanho do colo uterino, a fim de que a usuária adquira um diafragma ideal e com maior probabilidade de ser eficaz. Apesar de não oferecer a mesma proteção contra DST que é oferecida pela camisinha, o diafragma proporciona alguma proteção contra algumas dessas doenças, principalmente por, de certa forma, preservar o colo uterino. É importante ressaltar, entretanto, que o diafragma não deve substituir a camisinha em situações em que se deseja prevenir DST. O primeiro passo da assistência a uma mulher que decidiu utilizar o diafragma como método contraceptivo consiste em realizar a medição do diafragma. Essa técnica é desenvolvida por meio das seguintes etapas: 1ª) Introduzir os dedos indicador e médio na vagina; 2ª) Verificar se o dedo médio alcançou o fundo do saco vaginal posterior; 3ª) Com o polegar da mesma mão, procurar o local em que o dedo indicador toca a sínfise púbica e marcar; Fonte: BRASIL, 2002. 4ª) Realizada esta medição, retirar os dedos da vagina, mantendo-os na mesma posição; 5ª) Procurar um diafragma que corresponda, em diâmetro, à medição realizada com os dedos; ou seja, um diafragma que possua um diâmetro correspondente à distância entre a extremidade do dedo médio e a marcação do polegar; As contraindicações ao diafragma se limitam a mulheres para as quais a gravidez poderá ocasionar risco à saúde; mulheres com alteração ou anomalia genital e mulheres com história de infecção urinária recorrente. Após selecionar o tamanho do diafragma, cabe ao profissional de saúde testar a adequação do mesmo no corpo da mulher e avaliar se ela 52 compreendeu as orientações sobre como utilizar o diafragma. Para isso, é importante que o profissional de saúde solicite à usuária que realize todos os passos de introdução e retirada do diafragma. Essas etapas devem ser assim realizadas: 1ª) Esvaziar a bexiga e lavar as mãos; 2ª) Averiguar se o diafragma está intacto, sem furos. Isso poderá ser feito colocando água; 3ª) Caso a usuária esteja utilizando o diafragma associado ao espermicida, colocar uma colher de chá deste na parte interna do diafragma e unir suas bordas. Fonte: BRASIL, 2002. 4ª) Levantar um pé sobre uma cadeira ou sanitário ou manter outra posição que facilite o acesso ao canal vaginal; 5ª) Abrir os grandes lábios e colocar o diafragma no fundo do canal vaginal, empurrando a parte anterior do diafragma para trás do osso púbico; Fonte: BRASIL, 2002. 53 6ª) Verificar se o diafragma está cobrindo todo o colo uterino; Fonte: BRASIL, 2002. 7ª) Remover o diafragma com o dedo indicador; 8ª) Lavar o diafragma com água e sabão neutro; 9ª) Secar o diafragma e guardar no estojo. A permeância do diafragma no corpo antes e após a relação sexual também exige cuidados. Assim, deve-se recomendar que a usuária mantenha o diafragma até 6 horas antes da relação sexual e, após a relação, permaneça com o mesmo por, no mínimo, mais 6 horas antes de removê-lo. O tempo máximo de permanência do diafragma no corpo, sem ocasionar riscos, é de 24 horas (CEARÁ, 2002). As posições indicadas para inserção do diafragma são: deitada, de cócoras ou em pé, com uma das pernas levantadas ou sentada na beira de uma cadeira. 54 Fonte: BRASIL, 2002b. Como o diafragma é determinado de acordo com o tamanho do colo uterino e este pode sofrer alterações com o decorrer dos eventos no ciclo vital da mulher, é necessário que a usuária retorne para reavaliação a cada 2 anos ou nas seguintes situações (CEARÁ, 2002): Parto Aborto Aumento ou perda de peso de 5 kg Cirurgia vaginal 55 Cirurgia perineal Espermicidas Fonte: BRASIL, 2002. Consistem em produtos químicos que alteram as características do espermatozoide, dificultando ou impedindo seu movimento e sua capacidade de fertilização. Os espermicidas podem ser usados isoladamente ou associados ao diafragma. O uso do espermicida deve seguir as orientações de cada fabricante, pois, dependendo de sua formulação, poderá ter orientações de uso específicas. Em geral, recomenda-se às usuárias que (BRASIL, 2002b): Se forem utilizar espermicidas em tabletes, aguardem 15 minutos após a inserção para manter a relação sexual; Se forem utilizar espermicida em gel ou creme, não é necessário aguardar esse tempo, mas deverão aplicar-lo no fundo da vagina, de modo a cobrir todo o colo uterino; A técnica de uso do espermicida consiste em: Destampar o tubo e conectar o aplicador Fonte: BRASIL, 2002b. 56 Pressionar o fundo do tubo até que o aplicador esteja completamente cheio Fonte: BRASIL, 2002b. Desconectar o aplicador, fechar o tubo e enroscá-lo desde o fundo. Fonte: BRASIL, 2002b. Inserir o aplicador na vagina, o mais profundo possível. Fonte: BRASIL, 2002b. Após utilizar o aplicador, lavá-lo com água e sabão, desmontando-o em partes, a fim de garantir que ele se mantenha limpo e sem risco de alojamento de micro-organismos que possam causar malefícios à saúde da mulher. Dispositivo intrauterino (DIU) 57 Fonte: BRASIL, 2002a. O DIU é um artefato que é inserido na cavidade do útero que tem a função de provocar alterações no muco cervical, no endométrio e, em alguns casos, na ovulação, promovendo a anovulação, dificultando a migração dos espermatozoides, o encontro destes com o óvulo e a concepção. Essas funções dependerão da formulação contida no DIU, uma vez que este poderá liberar cobre ou progestágeno (CEARÁ, 2002). O DIU que libera cobre funciona como um corpo estranho no endométrio, promovendo a alteração de sua espessura e na qualidade do muco cervical, tornando-se mais espesso e de difícil movimentação por parte do espermatozoide. Já o DIU que libera progestágeno, além dessas funções, promove alterações hormonais, como a anovulação e proliferação do endométrio (CEARÁ, 2002). Fonte: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, 2004. A inserção do DIU deve ser realizada por profissional de saúde capacitado para tal procedimento. É importante esclarecer, contudo, que, apesar de se tratar de um método 58 relativamente simples, o método é delicado e, se não for corretamente realizado, poderá ocasionar gravidez de risco e/ou prejudicar a saúde da mulher. Nos casos em que a mulher decidiu pela inserção do DIU, deve-se avaliar o risco de uma possível gravidez já instalada ou de complicações devida a outros determinantes. Para evitar agravos, é recomendável que o enfermeiro direcione as seguintes perguntas à mulher (CEARÁ, 2002): 1ª) O primeiro dia de sua última menstruação foi há mais de sete dias? 2ª) Você tem outros parceiros sexuais? 3ª) Você tem alguma DST ou infecção do trato genital? 4ª) Nos últimos três meses, você teve alguma infecção pélvica ou gravidez ectópica? 5ª) Seu sangramento menstrual é abundante ao ponto de você necessitar utilizar mais de dois absorventes por hora? 6ª) Seu sangramento menstrual dura mais de oito dias? 7ª) Você sente cólicas menstruais fortes ao ponto de necessitar de analgésicos? 8ª) Você apresenta sangramento ou mancha entre os períodos das relações sexuais ou depois destas? 9ª) Você possui doença valvular cardíaca sintomática? Para maior segurança do profissional de saúde, é necessário que a mulher responda não a todas as perguntas acima, a fim de que seja afastada qualquer suspeita de gravidez ou de complicação que possa surgir pela inserção do DIU. Se houve alguma resposta positiva, procede-se à avaliação detalhada sobre o foco da pergunta. A técnica de inserção do DIU é relativamente simples, mas requer atenção a todos os
Compartilhar