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TRABALHO CIVIL

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QUESTÕES DE DIREITO CIVIL
1- O simples fato de haver testamento deserdando o filho gera sua exclusão imediata da sucessão? 
Dada a circunstância ora mencionada, observa-se o desejo de Janete em deserdar seu filho e que fora manifesto em seu testamento, constando a causa de deserdar, qual seja, a agressão sofrida enquanto morava com seu filho, Kléber, que quase culminou em sua morte. Assim, o Código Civil versa:
Art. 1.964: “Somente com expressa declaração de causa pode a deserdação ser ordenada em testamento”.
Além disso, com base na argumentação expressa de Janete, em que expôs a tentativa de homicídio causada por seu filho, a lei trás à luz claramente a situação elucidada. Com isso, tem-se:
Art. 1.814. “São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários:
I - que houverem sido autores, co-autores ou partícipes de homicídio doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente”.
Além disso, é bom evidenciar o Art. 1962, em que:
Art. 1.962. Além das causas mencionadas no art. 1.814, autorizam a deserdação dos descendentes por seus ascendentes:
I - ofensa física;
II - injúria grave;
Conforme magistério Silvio Rodrigues: “Deserdação é o ato pelo qual alguém, apontando como causa uma das razões permitidas em lei, afasta de sua sucessão, e por meio de testamento, um herdeiro necessário”. Tal realidade abrange diretamente a situação em que Janete decidiu, espontaneamente, aplicar a um de seus herdeiros diretos a deserdação. 
Ainda, Carvalho (2019) atenta para o fato de que aos herdeiros necessários, a quem é resguardada a legítima, podem ser afastados da sucessão através da deserdação. Este serve como escudo de amor e retribuição, que também pode converter-se numa espada de vingança e ódio (VENOSA, 2019).
Sem que houvesse vontade expressa, Kléber, apesar de tudo, teria direto na herança de sua mãe, por se tratar de herdeiro legítimo. Contudo, sua mãe relatou os motivo que a levou a tomar tal decisão, conforme o disposto no artigo 1.814 supracitado, que menciona que o crime de tentativa de homicídio configura como sendo uma razão pela qual a legislação autoriza a deserdação do filho.
Mas, acima de tudo, vale evidenciar um fato importante: a deserdação obedece a um procedimento próprio, não incidindo de forma imediata. Além de o testador mencionar expressamente, em testamento, a causa da deserdação estabelecida em lei, há a exigência de uma posterior confirmação por sentença judicial.
APELAÇÃO. DIREITO CIVIL. SUCESSÃO. AÇÃO DE DESERDAÇÃO. 
1. Nos termos do art. 1.965 do CCB, a eficácia da disposição testamentária de deserdação exige a comprovação da veracidade da causa arguida pelo testador 
2. Caso concreto em que o autor não se desincumbiu do ônus de demonstrar a veracidade das imputações apostas no testamento e atribuídas à demanda, tornando ineficaz, por falta de operosidade, a referida disposição testamentária. RECURSO PROVIDO. (Apelação Cível Nº 70081282667, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator Liselena Schifino Robles Ribeiro. Julgado em 29/05/2019) 
Na decisão tomada pela Desembargadora Liselena Schifino, a relatora mostrou que é necessário comprovar a veracidade alegada em testamento para que tenha validade no campo cível. Em outras palavras, sendo provado que é legítima e verdadeira a necessidade de deserdar o herdeiro, este será o feito.
Para a efetivação da deserdação, após a morte do autor da herança um interessado qualquer ajuizará no prazo de 4 (quatro) anos, a contar da abertura do testamento, Ação Declaratória de Deserdação, onde deverá elaborar provas a fim de ser declarada a deserdação.
Tribunal de Justiça do São Paulo TJ-SP Agravo de Instrumento: Al 994092890876 SP
Inventário. Deserdação. Efeitos somente produzidos após confirmação por sentença . Artigo 1.965 do Código Civil. Pendência de ação de deserdação. Questão prejudicial. Suspenção do inventário da facultada. Decisão agravada parcialmente alterada. Confirmação do efeito ativo concedido no sentido de suspender o feito. Agravo provido para acolher o pedido sucessivo. 
(TJ SP – Al 994092890876 SP, Relator: Claudio Godoy , data de Julgamento : 31/08/2010, 2ª turma cível, data de publicação: 08/09/2010)
Como observado na decisão do Desembargador Claudio Godoy, vê-se que todos os efeitos da deserdação passarão a valer após confirmação de sentença, tendo em vista o Art. 1.965 do Código Civil. Com isso, na legislação, tem-se:
Art. 1.965. “Ao herdeiro instituído, ou àquele a quem aproveite a deserdação, incumbe provar a veracidade da causa alegada pelo testador.
Parágrafo único. O direito de provar a causa da deserdação extingue-se no prazo de quatro anos, a contar da data da abertura do testamento”.
 2- Considerando que Janete faleceu e foi aberto o seu inventário. Como serão cumpridas as cláusulas testamentárias diante da renúncia de Maria, logo após abertura da sucessão? 
Antes de tudo, vale a pena ressaltar que não se pode aceitar ou renunciar a herança em parte; ou se aceita tudo ou não aceita nada. O que se aceita é a condição de herdeiro e de legatário, e não os objetos dentro da herança ou do legado. Entretanto, pode aceitar ser herdeiro legítimo, mas não testamentário; pode aceitar ser legatário, mas não herdeiro.
Art. 1.808 . Não se pode aceitar ou renunciar a herança em parte, sob condição ou a termo.
§ 1º - O herdeiro, a quem se testarem legados, pode aceitá-los, renunciando a herança; ou, aceitando-a, repudiá-los.
Se for herdeiro legítimo e testamentário, deverá manifestar duas vezes a aceitação ou a renúncia. Pode renunciar uma e aceitar a outra condição; ou aceitar ambos e recusar ambos.
  O ato de aceitação da herança é quando há concordância do herdeiro em receber todos os bens, direitos e obrigações deixados pelo falecido, não podendo o herdeiro aceitar a herança em parte, devendo perceber sua totalidade e ainda sob condição e termo, conforme prevê o art. 1808 do Código Civil.
Superior Tribunal de Justiça STJ – Recurso Especial : REsp 1236671 SP2011/ 0022736-7
DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RENÚNCIA À HERANÇA. REQUISTOS FORMAIS. MANDATO. TRANSMISSÃO DE PODERES. 1.- O ato de renúncia à herança deve constar expressamente de instrumento público ou de termo nos autos, sob pena de invalidade. Daí se segue que a constituição de mandatário para renúncia à herança deve obedecer à mesma forma, não tendo a validade a outorga por instrumento particular.
 Recurso Especial Provido.
(STJ – Resp :1236671 SP 2011/0022736-7 – Relator Ministro MASSAMI UYEDA, Data de Julgamento: 09/10/2012. T3 – TERCEIRA TURMA. Data de Publicação: DJe 04/03/2013.
Diante do exposto pelo ilustríssimo Ministro Desembargador Massami Uyeda, vê-se que a renúncia à herança precisa constar em instrumento público ou nos autos, a fim de que possa ter validez. E, ainda, a legislação versa termo em que:
Art. 1806. A renúncia da herança deve constar expressamente de instrumento público ou termo judicial.”
 Quando a renúncia é realizada por herdeiro testamentário ou legatário, a sua parte será acrescida aos outros co-herdeiros ou co-legatários, conforme preconizam os arts. 1941 a 1944 do Código Civil. Ainda, cabe referir que a herança renunciada por único co-herdeiro ou legatário retornará ao acervo sucessório para ser distribuída entre herdeiros legítimos. 
Art. 1.941. “Quando vários herdeiros, pela mesma disposição testamentária, forem conjuntamente chamados à herança em quinhões não determinados, e qualquer deles não puder ou não quiser aceitá-la, a sua parte acrescerá à dos co-herdeiros, salvo o direito do substituto”.
Art. 1.944. “Quando não se efetua o direito de acrescer, transmite-se aos herdeiros legítimos a quota vaga do nomeado.
Parágrafo único. Não existindo o direito de acrescer entre os co-legatários, a quota do que faltar acresce ao herdeiro ou ao legatário incumbido de satisfazer esse legado, ou a todos os herdeiros, na proporção dos seus quinhões, se o legado se deduziu da herança”.

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