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AO MERITÍSSIMO JUÍZO DE DIREITO DA VARA DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE TAUBATÉ/SP Autos nº ... Maria e Ana já qualificada nos autos, vem respeitosamente perante Vossa Excelência, por meio de seu (sua) advogado (a) abaixo assinada, opor, com fulcro nos arts. 1.022 e seguintes do Código de Processo Civil, os seguintes EMBARGOS DE DECLARAÇÃO em face da sentença pelos motivos de fato e de direito abaixo aduzidos. I – DOS FATOS Trata-se de ação de obrigação de fazer cumulada com danos morais, materiais e repetição de indébito interposta pela embargante, em face de Zumbi Telefonia. O processo tramitou regularmente, e, ao final, este Excelentíssimo Juiz proferiu a sentença , no seguinte teor: “Julgo procedente a demanda, obrigando a empresa Zumbi Telefonia a instalar o serviço de televisão por assinatura na residência da autora Maria, constante dos autos, no prazo de 5 dias, sob pena de multa diária fixada em R$ 100,00 (cem reais). Publique-se, Cumpra-se” A qual apresenta omissão na fundamentação, tendo em vista que nem sequer mencionou em sua sentença os pedidos referentes à indenização por danos morais e materiais apontados na inicial. Na decisão, o juiz se referiu apenas à obrigação da empresa Zumbi Telefonia de instalar o serviço de televisão a cabo contratado, sob pena de multa diária, mas não decidiu nada sobre os demais pedidos de indenização, não fazendo qualquer menção a eles na sentença. Destarte, a sentença fora prolata ao dia... do mês... do ano de 2021, e gerou desconforto à parte autora quanto à consequente efetividade da decisão judicial, como se verá a seguir. II – DA TEMPESTIVIDADE Conforme o texto processual civil pátrio, o prazo para oposição de embargos declaratórios é de 5 (cinco) dias. Art. 1.023. Os embargos serão opostos, no prazo de 5 (cinco) dias, em petição dirigida ao juiz, com indicação do erro, obscuridade, contradição ou omissão, e não se sujeitam a preparo. Haja vista a intimação da parte autora da sentença à data de 1º de Março de 2021, tendo transcorrido o total de 3 dias, a presente peça encontra-se tempestiva. III – DO DIREITO Como é cediço em Direito, para alcançar o fim a que se destina, é necessário que a tutela jurisdicional seja prestada de forma clara e completa, sem obscuridade, omissão ou contradição. A própria Carta Magna faz menção à obrigatoriedade da exposição das motivações judiciais: Art. 93. (...) IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação; (grifo nosso) Também é reforçada tal obrigatoriedade no âmbito cível através do artigo 489 do Código de Processo Civil: Art. 489. São elementos essenciais da sentença: (...) II - os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito; (...) § 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que: I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão decidida; II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua incidência no caso; III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão; IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador; V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos; VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento. O dispositivo retromencionado configura-se de tamanho apreço pelo sistema jurídico que é, no novo Código Processual Civil, embasamento para o chamado “Princípio da Motivação das Decisões”, consistindo esse último, segundo Neves (2017)1, na “exteriorização das razões de seu decidir [do juiz], com a demonstração concreta do raciocínio fático e jurídico que desenvolveu para chegar às conclusões contidas na decisão”. Ainda, o próprio CPC reforça a magnânima importância do presente princípio ao dispor expressamente que o juiz deve se ater à expressão da fundamentação judicial de forma clara e precisa. Art. 926. Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e coerente. § 1º Os juízes e os tribunais observarão o disposto no art. 10 e no art. 489, § 1º, quando decidirem com fundamento neste artigo. A jurisprudência cível já teve a oportunidade do confronto das questões de sentenças sem fundamentação, posicionando-se majoritariamente no sentido de que a sentença nesse âmbito deve ser modificada. Neste sentido, temos decisão recente do Superior Tribunal de Justiça: PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. OMISSÃO. ACOLHIMENTO. 1. A existência de omissão no acórdão embargado conduz ao acolhimento da pretensão. 2. Embargos de declaração acolhidos, sem efeitos infringentes. (STJ - EDcl no AgInt nos EDcl no AREsp: 875139 MG 2016/0053672-0, Relatora: Ministra NANCY ANDRIGHI, Data de Julgamento: 19/10/2017, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 31/10/2017) Desta forma, por meio desta exposição, demonstra-se que, ainda tendo uma sentença favorável para a parte autora, devido à falta de um dos elementos essenciais durante a sua prolação, o direito da mesma encontra-se em risco. Para sanar o referido vício, a doutrina aduz que cabe embargos declaratórios em caso de sentença omissa. Segundo o diploma processual civil: Art. 1.022. Cabem embargos de declaração contra qualquer decisão judicial para: (…) II - incorra em qualquer das condutas descritas no art. 489, § 1º. Portanto, estando clara a omissão, com fulcro no art. 1.022, II, do Código de Processo Civil, os embargos declaratórios configuram-se como meio eficaz e necessário para a garantia do direito líquido e certo da parte autora. IV – DOS PEDIDOS Diante do exposto, requer-se: a) que sejam conhecidos os presentes embargos recebidos; b) que, no prazo de 05 (cinco dias) disposto no art. 1.024 do Código de Processo Civil, os mesmos sejam providos, de forma que seja reformada a respeitável sentença, para o fim de sanar a omissão apontada para garantir os direitos da parte autora. Nesses termos, Pede deferimento. Taubaté/SP, 04 de Março de 2021 Josué OAB/… nº...