Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
EXAMES LAB. EM NEFROLOGIA Principais exames para avaliar a função renal. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O INTRODUÇÃO • Doenças renais tem muita variedade de apresentação clínica • Sintomáticos x Assintomáticos: Muitos não apresentam nenhum sintoma. o Renais: Hematúria macroscópica, dor lombar. o Extra-renais: Edema, hipertensão o Anormalidades laboratoriais • Avaliação da função renal: Servem para avaliar o estadiamento, progressão e diagnóstico etiológico. • Laboratório + exames de imagem REVISÃO → FISIOLOGIA RENAL FILTRADO GLOMERULAR • Formado pela ação da pressão hidrostática no interior das alças capilares, em oposição a diver- sas outras forças (oncótica, pressão do líquido nos túbulos e do interstício renal) • Autorregulação da taxa de filtração glomerular: Diversos mecanismos usados pelo rim para manter a pressão constante nas alças glomerulares. • Autorregulação do fluxo sanguíneo renal: Se mantém pela adaptação do tônus da arteríola aferente (vasodilatação e constricção), consegue manter variações de pressão média de 80 mmHg até 200 mmHg. o Mecanismo: Receptores de estiramento presentes nos miócitos da arteríola aferen- te, respondendo a isso. AUTORREGULAÇÃO DA TFG: 4 MECANISMOS 1. Vasoconstição da arteríola eferente: Mais muscu- losa que a arteríola aferente, age em resposta à liberação sistêmica de angiotensina II, em situação de baixo fluxo renal, o que ativa o sistema renina- angiotensina-aldosterona. 2. Vasodilatação da arteríola aferente: Também mediado pelo hipofluxo, estimula a liberação de substâncias vasodilatadoras (PGE2, cininas e óxido nítrico), aumentando o fluxo e a pressão. 3. Feedback tubuloglomerular: As células da mácula densa estão em pleno contato com a arteríola aferente, sendo capaz de ajustar a filtração de acordo com a reabsorção de cloreto pelas células da mácula densa. Ou seja, quando passa pouco cloro, os rins entendem que estão filtrando pouco, gerando vasodilatação aferente e aumentando a filtração. Se passa muito NaCl, eles entendem que estão filtrando muito, fazendo vasoconstrição aferente. 4. Retenção hidrossalina e natriurese: Situações de baixa perfusão ativam o sistema renina-angiotensi- na-aldosterona, que age aumentando a reabsor- ção de sódio e água e excretando potássio, fazendo com que a TFG e o fluxo restaurem. Já em situação de alto fluxo, o organismo inibe o sistema renina e aumenta a liberação de Peptídeo Natriurético Atri- al (PNA), que induz a excreção de sódio e água. AÇÕES NO TÚBULO CONTORCIDO PROXIMAL (TCP) • O TCP é a draga do sistema tubular: Ele que absorve o grosso do filtrado (cerca de 65%), o que equivale a 90L/dia! • Reabsorção de sódio: É o principal eletrólito reabsorvido, esse transporte acontece de forma ativa, pela enzima NaK-ATPase presente na mem- brana basolateral das células tubulares. • A reabsorção de sódio tem que ser acompanhada pela reabsorção de ânions: Para manter o equilí- brio eletroquímico no lúmen tubular. o Bicarbonato (HCO3-): Principal ânion a ser reabsorvido na primeira porção do TCP. o Cloreto (Cl-): Principal ânion a ser reabsorvido na segunda porção do TCP. • Reabsorção de água: Por osmose! Passam pelos espaços intercelulares e levam consigo outros eletrólitos (convecção ou solvente drag), principal- mente o potássio, sódio e cloreto. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O • Reabsorção de solutos → Glicose, aminoácidos, fosfato e ácido úrico: Atrelada à reabsorção de sódio através de carreadores duplos. REABSORÇÃO DE BICARBONATO • Via indireta: A célula tubular não possui carreador específico pra ela. • Para entrar, precisa ser convertido em CO2 e água: Utilizando o H+ secretado no lúmen em troca de sódio, a enzima anidrase carbônica junta esses dois, formando ácido carbônico (H2CO3), que vai ser clivado em CO2 + H2O e reabsorvido. • Volta a ser bicarbonato na célula tubular: Pela ação da anidrase carbônica intracelular, que faz a reação inversa (da direita pra esquerda) abaixo. *A Acetazolamida (Diamox) tem seu efeito baseado na inibição da anidrase carbônica, inibindo a reabsorção de bicarbonato e sódio (ou seja, alcalinização urinária). AÇÕES NA ALÇA DE HENLE • Reabsorção de 25% de sódio filtrado • Controle da osmolaridade urinária: Através do mecanismo de contracorrente, que vai manter um interstício hiperosmolar e um fluido tubular hipo- osmolar. MECANISMO DE CONTRACORRENTE • O filtrado glomerular inicial será uma osmolarida- de semelhante ao do plasma: 300 mOsm/L. • A porção descendente é permeável à água e impermeável aos solutos: Promovendo aumento da tonicidade do fluido (1000 mOsm). • Na porção ascendente não há reabsorção de água e há reabsorção de solutos: Através do carreador Na-K-2Cl, que vai levar soluto pro interstício, fazen- do com que tenhamos uma urina hipo-osmolar (100 mOsm/L) e um interstício hiperosmolar. • Essa tonicidade é fundamental para o ADH diluir ou concentrar a urina: Uma medula renal hipotôni- ca vai inibir a ação do ADH, estimulando a diurese. *A inibição do carreador de Na-K-2Cl é o mecanismo de ação dos diuréticos de alça (Furosemida): Essa inibição acaba com o mecanismo de contracorrente e promoverá a diurese. AÇÕES NO TÚBULO CONTORCIDO DISTAL (TCD) • Reabsorção de 5% do líquido e sódio filtrados • Carreador Na-Cl: Presente na membrana do TCD, é nesse carreador que agem os diuréticos tiazídicos. • É no TCD que está a mácula densa: Sendo ele responsável pelo feedback tubuloglomerular. • É o principal sítio de reabsorção tubular de cálcio: Mediado pelo PTH. AÇÕES NO TÚBULO COLETOR (TC) • Reabsorção de 5% do líquido e sódio filtrados • O néfron distal (TCD + TC) é responsável pelos ajustes finos na reabsorção e secreção: Essa área responde à ação de vários hormônios reguladores. • Duas porções → Cortical e Medular: A porção cortical é responsiva à aldosterona! V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O MECANISMO DA ALDOSTERONA (PORÇÃO CORTICAL) • Reabsorção de sódio eletrogênica: Diferente de todas, nessa porção o sódio é reabsorvido sem um ânion o acompanhando, gerando um potencial negativo intraluminal que atrai K+ e H+. o Célula principal: É o nome dado à célula tubular responsiva à aldosterona. o Célula intercalada: Ao lado da célula prin- cipal, é encarregada da secreção de H+. • A aldosterona estimula a célula principal: O que aumenta a expressão de NaK-ATPase da membra- na basolateral, aumentando K+ no interior da célu- la, estimula também os canais de Na+ e K+ da membrana luminal, aumentando a reabsorção de Na+ e a secreção de K+ pela célula principal. • Secreção de H+ na célula intercalada: Via um carreador H+-ATPase, secretando hidrogênio contra um amplo gradiente de concentração. Essa enzima consegue acidificar a urina até 4,5 (pH). INFORMAÇÕES IMPORTANTES SOBRE O EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE • As acidoses metabólicas cursam classicamente com hipercalemia: Por aumento na reabsorção desse eletrólito. Regra geral: A cada 0,1 de pH que cai, deve-se esperar um aumento de 0,5 mEq de potássio no sangue. • Qual a principal alteração ácido-básica da hiper- tensão renovascular? Alcalose metabólica hipoca- lêmica! (Aumento do SRAA) • Qual a principal alteração ácido-base do hipoal- dosteronismo primário: Ácidose metabólica hiper- calêmica! (Inibição do SRAA) • Qual um possível efeito adverso ácido-base do Captopril (IECA)? Acidose metabólica hipercalê- mia também, por inibição do SRAA. AÇÕES DA PORÇÃO MEDULAR (ADH) • Interstício medular hiperosmolar:Pela ação da N- K-2Cl, que vimos anteriormente (1.200 mOsm). • O ADH aumenta a permeabilidade à água nesse segmento: Aumentando a expressão de aquapori- nas, a água sai do menos concentrado para o mais. SUMÁRIO DE URINA • Exame informativo e não invasivo: Resultado imediato. • Papel fundamental na avaliação das doenças re- nais: Diferencia doenças agudas e crônica, etc. • Primeiro achado de patologia subclínica QUANDO SOLICITAR? • Evidência de doença renal crônica ou albuminúria : HAS, DM2 e doença renal familiar. • Suspeita clínica de doença renal • Pacientes com suspeita de litíase renal • Assintomáticos com alterações no dipstick • Pacientes com doenças infecciosas: Cistite, pielonefrite. COMO FAZER O EXAME • Coletar a urina em ambiente limpo e seco • Higienizar a genitália e colher urina no jato médio: • Orientações para coleta por SVD: • Armazenar por no máximo 2h em temperatura ambiente ou refrigerar • Método: 10 ml de urina → Centrifugar por 5 minutos a 3 mil rpm e usar 0,5 ml para avaliação. O QUE AVALIAMOS NA URINA? • Aspecto: Turbidez e coloração. o Turbidez: Clara x Turva o Coloração: Amarela, fisiologicamente. • Dipstick: o Heme: Ausente! Não diz se é hemácia ou hemoglobina. o Estearase leucocitária: Ausente! Enzima dos leucócitos, lise de neutrófilos. o Nitrito: Negativo. Produzido por Enterobactérias que produzem nitrato redutase. (GRAM NEGATIVOS!) o Proteína: Ausente. Avaliado até 4+. o pH: 4,5-8. Infecções por Proteus alcaliniza a urina. o Densidade: 1005-1010. Tem relação com a diluição e concentração urinárias. o Osmolaridade: 275-290 mOsm/kg. Pode ser alterada pela presença de glicose. o Glicose: Ausente! A sua presença nos faz pensar em DM2 ou doença tubular proximal. • Análise do sedimento urinário: o Cristais V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O o Bactérias ou fungos o Hemácias o Leucócitos o Células tubulares: Segmento do túbulo que descama do néfron. o Cilindros: Patológicos ou não. *O QUE SÃO CILINDROS? QUAIS OS TIPOS? • Cilindros hialinos: São proteínas de Tamm Horsfall, um tipo de proteína produzida na alça de Henle que se acumula na forma de cilindros. É normal em qualquer pessoa sadia! • Cilindro hemático/eritrocitário: Característico da síndrome nefrítica, por conta do acúmulo de hemá- cias no túbulo (formando o formato cilíndrico). • Cilindro leucocitário/celulares: Tem importância nas condições túbulo intersticiais. • Cilindro granuloso: Descamação do epitélio do túbulo, tem importância nos quadros de necrose tubular aguda. • Cilindros graxos: Na síndrome nefrótica o paciente tem tanta gordura que filtra em excesso, apresentando lipidúria e cilindros graxos. URÉIA • Composto orgânico produzido no fígado: É um produto terminal do metabolismo proteico. • Valores de referência: 20-40 mg/dL. • Isolada em 1773: Para quantificar funcionalmente o rim! Atualmente não é um grande marcador. • Inadequada para avaliação renal: Ela não é produzida em taxa constante, tem uma concentração sanguínea variável e é parcialmente reabsorvida após filtração glomerular. o Concentração aumenta: Ingestão proteica , sangramento gastrointestinal, corticoide. o Concentração reduz: Insuficiência hepáti- ca, desnutrição. o Reabsorção aumenta: Na depleção de volume (ICC, desidratação). o Reabsorção reduz: Expansão volêmica (infusão salina e SIADH). CREATININA • Derivado do metabolismo proteico: Catabolismo da fosfocreatina muscular e varia com a ingesta de carne e suplementos. • Liberada em taxas constantes na corrente sanguínea • Livremente filtrada pelo glomérulo • Não é ligada a proteínas plasmáticas • Não é reabsorvida, nem metabolizada nos rins • 10-40% da creatinina urinária ocorre na secreção tubular proximal: Isso significa que a creatinina depende muito da função tubular proximal. • Secreção intestinal: Deflagrada pela flora bacteriana. • Diretamente relacionada à massa muscular: Ingestão e secreção. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O RELAÇÕES DA CREATININA MÉTODOS DE DOSAGEM • Valor de referência: 0,7-1,3 mg/dl. • Método de Jaffe: 20% de erro! • IDMS: Padrão ouro • HPLC: Cromatografia líquida de alta frequência. RELAÇÃO URÉIA/CREATININA • Útil em pacientes com quedas rápidas da TFG • U/Cr = 30: Em média! • U/Cr < 30: Hemofiluição • U/Cr > 30: Desidratação, ICC, estados febris prolongados ou em excesso de diurético. RELAÇÃO CREATININA x TFG TAXA DE FILTRAÇÃO GLOMERULAR • Filtração média: 180 L/dia no plasma ou 125 ml /min. É dada pela filtração média de cada néfron x o número de néfrons nos rins. • Valores normais: 120-130 ml/min/1,73m² • Variações: o Ajustada para superfície corporal o TFG reduz com a idade o 8% maior em homens o Gravidez: Aumenta 50% no 1ºT! o Variação diária: 10% menor 00h. o Uso de medicamentos TEORIA DO NÉFRON INTACTO • Não usamos 100% da capacidade dos nossos néfrons para manter a TFG normal: Não há o recrutamento de todos os néfrons para manter essa taxa de filtração. • Por isso, podemos ter danos renais substanciais antes que a TFG diminua • Quando a TFG vem diminuir, você já perdeu metade deles V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O CLEARENCE • Fórmula: Clearence = (Concentração x Volume urinário)/Concentração plasmática • Marcador ideal: Livremente filtrado pelos glomérulos, não tóxico, não secretado/reabsorvido, excretado sem modificações e não tem interferência por substâncias endógenas e exógenas. • Padrão-ouro → Inulina: Possui todos esses pontos. • Clearence de Creatinina o Marcador endógeno mais utilizado o Homens: 85-125 ml/min/1,73m² o Mulheres: 75-115 ml/min/1,73m² o Urina de 24h: Possui muitos problemas para a coleta ambulatorial. o Coleta de creatinina sérica o Problemas: Coleta incompleta de urina e aumento na secreção de creatinina • Clearence estimado: Utiliza a creatinina sérica! o Apresenta comodidade o Seguras para avaliar mudanças na TFG ao longo do tempo o Não servem para avaliar alterações rápidas na TFG: Lesão renal aguda! FÓRMULAS PARA CLEARENCE ESTIMADO REDUÇÃO DA TFG COM O PASSAR DOS ANOS PROTEINÚRIA • Variação: Até 150 mg/24h • Albuminúria: o Valor normal: < 30 mg/24h o Microalbum.: 30-300 o Macroalb./Proteinúria: > 300 • Marcador de doenças glomerulares • Preditor de progressão de DRC! o MDRD e REIN: Redução de 1g/24h retarda em 1-2 ml/min/ano a queda da TFG. • Monitorização: o 2-3 meses: Proteinúrias nefróticas. o 4-6 meses: Proteinúrias não-nefróticas. • Métodos: Semiquantitativos e quantitativos. • Métodos semiquantitativos: o Dipstick: 0-4+ o Sumário de Urina: Ausente-4+ • Métodos quantitativos: o Proteinúria de 24h: Padrão-ouro! 150 mg o Relação proteína/creatinina urinária: 0,15 é bom pois pega uma amostra isolada de urina, tem resultados semelhantes a proteinúria de 24h, só depende da excreção de creatinina e da proteína que varia ao longo do dia. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O AVALIAÇÃO PROGNÓSTICA DA DRC • Considera não só a TFG, mas também a albuminúria
Compartilhar