Buscar

Desmistificando o atendimento de pacientes hipertensos

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 3 páginas

Prévia do material em texto

11
Abuabara e Hoepfner
Atendimento Odontológico ao Hipertenso
Ponto de Vista
Rev Bras Cardiol. 2013;26(1):11-13
janeiro/fevereiro
Ponto
de Vista
1
1 Núcleo de Apoio Técnico (NAT) - Gerência da Unidade de Atenção Básica (GUAB) - Secretaria Municipal da Saúde - Joinville, SC - Brasil
2 Hospital Municipal São José - Universidade da Região de Joinville (Univille) - Joinville, SC - Brasil
Correspondência: Dr. Allan Abuabara
E-mail: allan.abuabara@gmail.com
Secretaria Municipal de Saúde de Joinville, Gerência da Unidade de Atenção Básica, Núcleo de Apoio Técnico (GUAB/NAT)
Rua Araranguá, 397 - América - 89204-310 - Joinville, SC - Brasil
Recebido em: 15/08/2012 | Aceito em: 01/12/2012
Introdução
A hipertensão arterial afeta aproximadamente 20% da 
população mundial e este percentual aumenta com a 
idade1. Na faixa etária >60 anos, metade da população 
está hipertensa1. No Brasil, mais da metade dos 
hipertensos desconhece a presença da doença ou não 
faz o tratamento. Em 2007, entre os hipertensos adultos 
em tratamento na Secretaria Municipal da Saúde de 
Joinville, apenas 36,6% apresentavam níveis de 
pressão arterial dentro dos valores de referência2. É 
plausível suspeitar que muitos pacientes tenham sido 
submetidos a procedimentos odontológicos com a 
pressão arterial acima dos valores de referência. 
Desmistificando o Atendimento Odontológico ao Paciente Hipertenso
Demystifying the Management of Hypertensive Dental Patients
Allan Abuabara1, Clovis Hoepfner2
Resumo
A hipertensão arterial é um problema de saúde pública 
e a literatura carece de um posicionamento direcionado 
ao tratamento odontológico ambulatorial do paciente 
hipertenso. O objetivo deste trabalho é verificar se 
existem limites pressóricos estabelecidos para a realização 
de procedimentos médicos e odontológicos ambulatoriais, 
mediante a revisão das Diretrizes de Hipertensão e de 
Avaliação Perioperatória. Como resultado, não foram 
encontradas evidências em cardiologia que fundamentem 
estabelecer limites pressóricos aos procedimentos 
médicos e odontológicos ambulatoriais e, portanto, 
inexistem motivos para implementar restrições baseadas 
na pressão arterial para a realização desses procedimentos.
Palavras-chave: Hipertensão; Odontologia; Saúde 
pública; Assistência odontológica para doentes crônicos
Abstract
Hypertension is a public health problem and the 
literature lacks an approach focused on the outpatient 
dental treatment of hypertensive patients. The 
purpose of this study is to ascertain whether blood 
pressure limits have been set for medical and dental 
outpatient procedures, through a review of the 
Hypertension and Perioperative Cardiovascular 
Guidelines. As no evidence was found in cardiology 
that underpins the establishment of blood pressure 
limits for medical and dental outpatient procedures, 
there are thus no reasons to implement limits for these 
procedures, based on blood pressure.
Keywords: Hypertension; dentistry; Public health; Dental 
care for the chronically ill. 
Os valores da pressão arterial indicados para 
diagnóstico, classificação, início de tratamento, 
controle e de risco para procedimentos vêm mudando 
constantemente. Há algumas décadas predominavam 
as opiniões de alguns especialistas e eram raras as 
pesquisas acerca do tema. Nos últimos anos atitudes 
agressivas na presença dos níveis elevados da pressão 
arterial (PA) têm sido revisadas, como o uso de 
medicação intensiva ou parenteral, visando ao rápido 
descenso da PA2,3. Atualmente, considera-se adequado 
o tratamento ambulatorial, medicamentoso e não 
medicamentoso, com fármacos orais, objetivando o 
controle em médio e longo prazo. 
12
Abuabara e Hoepfner
Atendimento Odontológico ao Hipertenso
Ponto de Vista
Rev Bras Cardiol. 2013;26(1):11-13
janeiro/fevereiro
As complicações da hipertensão arterial, cardíacas, 
renais, cerebrovasculares e outras surgem somente 
após anos ou décadas de evolução com inadequado 
controle da PA. A presença de hipertensão de valores 
elevados não traz risco imediato à vida do paciente. 
Em clássico estudo realizado na década de 19604 – 
época em que não havia restrição ética para tal 
modelo de estudo – 107 pacientes com PA acima de 
1 8 0 x 11 0 m m H g re c e b e r a m p l a c e b o e n ã o 
apresentaram desenvolvimento de lesão aguda de 
órgão-alvo em intervalo de seguimento superior a 
três meses. 
Submeter-se a um tratamento odontológico é fator 
estressor e pode ser acompanhado de elevação casual 
da pressão arterial5. Trabalhos braçais, exercícios 
físicos, competições, cirurgias e outros procedimentos 
médicos, situações de risco de lesões físicas, emoções, 
também aumentam a PA.
Observações pertinentes
A hipertensão arterial é um fator de risco para 
doença cardiovascular e tem curso assintomático, 
não sendo possível identificar os níveis da PA por 
sinais ou sintomas. Os supostos sintomas referidos 
como consequência da elevação da PA tais como 
cefaleia, dor na nuca, tonturas e outros, costumam 
ser fatores estressores e causa da PA elevada, 
desaparecendo com o tratamento sintomático. Os 
exames de mapeamento ambulatorial ou residencial 
da pressão arterial (MAPA e MRPA) confirmam a 
inexistência de sintomas diretamente ligados aos 
níveis da pressão arterial. O sangramento que ocorre 
em procedimentos odontológicos costuma ter 
origem em capilares ou veias, portanto sem relação 
com a PA. 
A experiência deste grupo no consultório, no serviço 
de emergência e na unidade de terapia intensiva, nos 
últimos trinta anos, mostra que, até então, é inexistente 
a complicação hipertensiva de pacientes em consultório 
odontológico. As raras ocorrências vinculadas à 
cardiologia foram: síncopes de origem vasovagal e 
hemorragias decorrentes do uso de anticoagulantes 
orais.
Evidências
As VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial1 
não contemplam preocupações com a aferição da 
pressão arterial em procedimentos odontológicos 
e médicos ambulatoriais. No curto parágrafo 
dedicado às pseudourgências hipertensivas, essas 
Diretrizes recomendam o tratamento com fármacos 
orais, em nível ambulatorial. Nos ambulatórios e 
consultórios de cardiologia, os especialistas 
prescrevem medicamentos orais e revisões após 
duas ou mais semanas para os portadores de 
hipertensão arterial com níveis pressóricos no 
estágio 3 (PA >180x110 mmHg).
A II Diretriz de Avaliação Perioperatória da Sociedade 
Brasileira de Cardiologia (SBC)6 não faz referências à 
aferição da pressão arterial nem expressa preocupações 
com a hipertensão arterial durante procedimentos 
odontológicos5.
As Diretrizes do American College of Cardiology/ 
American Heart Association7 sugerem que elevações 
leves a moderadas da pressão arterial sistólica ou 
diastólica até 180x110 mmHg são riscos aceitáveis 
para tratamento odontológico, admitindo que 
inexistem evidências científicas para respaldar tal 
sugestão; portanto trata-se apenas de opinião de 
especialistas.
O Departamento de Ergometria e Reabilitação 
Cardíaca (DERC) da Sociedade Brasileira de 
Cardiologia8 admite que um teste ergométrico pode 
ser iniciado com valores pressóricos de até 260x120 
mmHg para indivíduos sem hipertensão prévia e até 
260x140 mmHg para hipertensos conhecidos e em 
tratamento, sem riscos8. Brito9, respaldado na 
experiência de mais de 800 exames de ergometria 
realizados em hipertensos estágio 3, sem nenhuma 
complicação, defende a inexistência de limites 
pressóricos para tal procedimento. Essas conclusões 
podem ser extrapoladas para a realização de atividades 
físicas ou para a realização de procedimentos médicos 
e odontológicos ambulatoriais. 
Portanto, considerando não ter sido encontrada 
literatura científica fundamentada em evidências 
na área da odontologia; considerando a inexistência 
de evidências em cardiologia que fundamentem 
estabelecer limites pressóricos aos procedimentos 
m é d i c o s e o d o n t o l ó g i c o s a m b u l a t o r i a i s ; 
considerando que procedimentos de igual ou maiorrisco cardio e cerebrovascular, como o teste 
ergométrico e os exercícios físicos, têm demonstrado 
segurança com valores de PA ≥260x140 mmHg, 
inexistem motivos para implementar restrições 
baseadas na PA para a realização de procedimentos 
odontológicos. 
Na II Diretriz de Avaliação Perioperatória da 
Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC)6 existe a 
preocupação, entre outras considerações, com o uso 
dos anestésicos locais. O uso de dois a três tubetes 
de lidocaína a 2,0% com 1:100.000 de epinefrina 
(36-54 μg de epinefrina) parece ser bem tolerado na 
13
Abuabara e Hoepfner
Atendimento Odontológico ao Hipertenso
Ponto de Vista
Rev Bras Cardiol. 2013;26(1):11-13
janeiro/fevereiro
maioria dos pacientes, inclusive em indivíduos com 
hipertensão ou outras doenças cardiovasculares, 
sendo que a utilização deste vasoconstritor possui 
mais benefícios do que riscos6.
Concluindo, não há um valor pressórico máximo que 
contraindique qualquer procedimento médico e 
odontológico ambulatorial. Assim, inexistem motivos 
para implementar restrições baseadas na pressão 
arterial para a realização de procedimentos médico e 
odontológicos ambulatoriais.
Potencial Conflito de Interesses
Declaro não haver conflitos de interesses pertinentes.
Fontes de Financiamento
O presente estudo não teve fontes de financiamento 
externas. 
Vinculação Acadêmica
O presente estudo não está vinculado a qualquer programa 
de pós-graduação.
Ponto de vista
As opiniões apresentadas neste artigo são somente as dos 
autores. A Revista Brasileira de Cardiologia acolhe pontos 
de vista diferentes a fim de estimular discussões com o 
intuito de melhorar os diagnósticos e os tratamentos dos 
pacientes.
Referências
1. Sociedade Brasileira de Cardiologia; Sociedade Brasileira 
de Hipertensão; Sociedade Brasileira de Nefrologia. VI 
Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Arq Bras Cardiol. 
2010;95(1 supl. 1):1-51. Erratum in: Arq Bras Cardiol. 
2010;95(4):553.
2. Hoepfner C, Franco SC. Inércia clínica e controle da 
hipertensão arterial nas unidades de Atenção Primária 
à Saúde. Arq Bras Cardiol. 2010;95(2):223-9.
3. Mancia G, De Backer G, Dominiczak A, Cifkova R, 
Fagard R, Germano G, et al; Management of Arterial 
Hypertension of the European Society of Hypertension; 
European Society of Cardiology. 2007 Guidelines for the 
Management of Arterial Hypertension. The Task Force 
for the Management of Arterial Hypertension of the 
European Society of Hypertension (ESH) and of the 
European Society of Cardiology (ESC). J Hypertension. 
2007;25(6) :1105-87. Erratum in: J Hypertens. 
2007;25(8):1749.
4. Effects of treatment on morbidity in hypertension. 
Results in patients with diastolic blood pressures 
averag ing 115 through 129 mmHg. JAMA. 
1967;202(11):1028-34.
5. Bronzo AL, Cardoso CG Jr, Ortega KC, Mion D Jr. 
Felypressin increases blood pressure during dental 
procedures in hypertensive patients. Arq Bras Cardiol. 
2012;99(2):724-31.
6. Gualandro DM, Yu PC, Calderaro D, Marques AC, Pinho 
C, Caramelli B, et al. II Diretriz de Avaliação Perioperatória 
da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Arq Bras Cardiol. 
2011;96(3 supl.1):1-68. 
7. Eagle KA, Berger PB, Calkins H, Chaitman BR, Ewy GA, 
Fleischmann KE, et al; American College of Cardiology/
American Heart Association Task Force on Practice 
Guidelines (Committee to Update the 1996 Guidelines 
on Perioperative Cardiovascular Evaluation for 
Noncardiac Surgery). ACC/AHA guideline update for 
perioperative cardiovascular evaluation for noncardiac 
surgery - executive summary a report of the American 
College of Cardiology/ American Heart Association Task 
Force on Practice Guidelines (Committee to Update the 
1996 Guidelines on Perioperative Cardiovascular 
Evaluation for Noncardiac Surgery). Circulation. 
2002;105(10):1257-67. Erratum in: Circulation. 
2006;113(22):e846.
8. Brito AHX. Fatos e Opiniões. Rev DERC. 2011;17(3):88. 
[acesso em 2012 jul. 14]. Disponível em: <http://
departamentos.cardiol.br/sbc-derc/revista/2011/17-3/
pdf/Rev17-3-pag88.pdf> 
9. Brito AHX. O teste ergométrico no paciente hipertenso: 
proposta para elaboração do laudo do teste ergométrico. 
Rio de Janeiro: Rubio; 2011.

Continue navegando