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1 Última atualização: 04/08/2021 1. Introdução consiste em uma das faces da doença ateroscleró- tica, a qual é oriunda da presença de placas ateromatosas na cir- culação arterial do coração. Evidencia como um quadro instável, que apresenta sintomas anginosos que surgem aos mínimos es- forços e até mesmo em repouso, estando associada a altos índices de morbidade e mortalidade. 2. Epidemiologia A síndrome coronariana aguda ocupa o segundo lugar no quesito de mortalidade global no Brasil, sendo a principal causa do óbito em doenças cardiovasculares, sendo estimados cerca de 300 a 400 mil casos a cada ano. A incidência da doença coronariana aumenta conforme a idade do paciente, sendo que a ocorrência do evento é responsá- vel por limitações na qualidade de vida do indivíduo ao restringir suas atividades em decorrência de incapacidade adquirida após o evento, sendo que a maioria é decorrente de quadros de angina instável e déficits do ventrículo esquerdo. 3. Fisiopatologia Ao longo dos anos ocorre o depósito de colesterol do tipo LDL no subendotélio de vasos arteriais, que em associação com ma- crófagos, formam as chamadas células espumosas, quadro esse que configura a formação de um ateroma, uma estrutura lipídica localizada na região subendotelial do vaso, recoberta por uma capa fibrosa. O quadro em questão é desencadeado pelo instabilização aguda de placa aterosclerótica localizada em campos coronaria- nos, propiciando a agregação plaquetária, de modo a formar um trombo na luz arterial, o que gera um agravamento agudo da obs- trução vascular. O grau de obstrução determinará o aparecimento de diferentes sintomas clínicos, bem como o grau de isquemia ao qual o miocárdio for submetido. Em termos gerais, a rotura da placa consiste na forma mais grave de instabilidade, sendo preponderante entre os casos de in- farto agudo do miocárdio (IAM) fatais. Ocorre porque a placa rota faz com que o sangue seja exposto às substâncias trombogênicas que se encontram no interior da placa, propiciando a formação de um coágulo no local da rotura. Enquanto isso, a erosão da placa está relacionada às formas mais brandas da síndrome coronariana aguda, na qual ocorre a remoção de placas endoteliais vasculares, ocorrendo a exposição de colágeno da membrana basal, que estimula plaquetas circu- lantes, ativando a cascata de coagulação. 4. Seguimento Nos casos de oclusão parcial, o fluxo residual (seja pela por- ção ainda não ocluída ou por circulação colateral) impede a pri- vação completa de oxigênio para as células miocárdicas, preser- vando a integridade dessas e evitando a necrose celular, consis- tindo no quadro característico da angina instável. Caso ocorra oclusão completa temporária da luz vascular, tem, a princípio, um evento que não gera supradesnivelamento do segmento ST, característico do infarto subendocárdico (IAM sem supra de ST), que assim como na angina instável não gera cicatri- zes eletrocardiográficas. Esses dois primeiros quadros possíveis são considerados for- mas mais brandas da doença, em que a trombose costuma ser autolimitada, sem gerar repercussões sintomáticas no paciente. Ambos os casos são tratados de maneira semelhante. Quando ocorre a obstrução completa sustentada, a onda de isquemia se prolonga para além do endocárdio, de modo que a falta de suprimento sanguíneo atinge toda a espessura miocár- dica, gerando o infarto transmural (IAM com supra de ST), o qual gera o aparecimento do supradesnivelamento do segmento ST, bem como o aparecimento de cicatrizes observáveis ao ECG por meio da presença de ondas Q. Esses três quadros fazem parte da Síndrome Coronariana Aguda, sendo o grau de obstrução o determinante da gravidade e da intensidade do quadro clínico desencadeado. 5. Fatores de Risco Apesar do fato de mulheres possuírem uma carga ateroscle- rótica significativa, os homens são mais propensos a desenvolve- rem doenças coronarianas mais precocemente, sendo a prevalên- cia dessa cada vez maior conforme a idade do paciente aumenta. Além dos quadros familiares prévios de desenvolvimento de doença coronariana, que representa um potente fator de risco, há outros fatores considerados modificáveis, como: dislipidemia, hi- pertensão, diabetes mellitus, síndrome metabólica, tabagismo, obesidade, sedentarismo e etilismo, os quais devem ser mitigados e, dentro do possível, eliminados. 6. Quadro Clínico Os sintomas decorrem do desbalanço entre oferta e demanda de oxigênio quanto ao miocárdio, gerando um cenário propício para a isquemia. Predomina a dor precordial, também chamada de angina, geralmente descrita como sensação em aperto no tó- rax, restroesternal, de início súbito, aos mínimos esforços ou em repouso, sem relação com esforço prévio, piorando em situações de exercício e estresse e melhorando um pouco ao repouso e com a administração de nitrato. Pode ser descrita a irradiação dessa para o epigástrio, cérvice, mandíbula, dorso e membro superior esquerdo, sendo que é com sensação de parestesia nesse último. Não possui relação com os movimentos respiratórios e não é ca- paz de ser identificada em um ponto (dor visceral). O paciente com esse quadro poderá se apresentar clara- mente ansioso e desconfortável, podendo também sofrer de taqui- cardia, dispneia, vômitos ou náuseas, bem como elevação da pressão arterial sistêmica. ! Pacientes mais velhos, diabéticos e do sexo feminino podem não apresentar quadro típico de angina presente na doença. Nesse caso, apresentarão o chamado equivalente anginoso ou isquêmico, que consiste na apresentação de sintomas como sudorese, mal-estar súbito, dispneia, náusea, vertigem, arritmias ventriculares e atém mesmo hipotensão (sintomas que podem estar presentes com a angina em outros pacien- tes com síndrome coronariana aguda). A ausculta cardíaca pode variar, podendo estar dentro dos índices de normalidade, ou ainda revelar a presença de B4, pela diminuição da complacência do ventrículo esquerdo, ou ainda B3, caso haja disfunção ventricular. Sopros serão auscultados so- mente nos casos em que a isquemia acometer os músculos papi- lares (sopro característico de insuficiência mitral). 7. Diagnóstico Diferencial A dor torácica não é patognomônica de Síndrome Coronari- ana Aguda, e apesar de muitos acometimentos patológicos que causam dor torácica poderem ser benignos, existem doenças que se manifestam com quadros de dores no peito que podem culmi- nar na morte do paciente. Por isso é importante saber os diagnós- ticos diferenciais de dor torácica: Cardiovasculares: insuficiência coronária (crônica e aguda); pericardite; miocardite; valvopatia aórtica; dissecção aguda de aorta. 2 Última atualização: 04/08/2021 Pulmonares e mediastinais: tromboembolismo pulmonar; pneumonia; pleurite; pneumotórax; pneumotórax; mediasti- nite; timite. Musculoesqueléticas e neurológicas: síndrome do desfila- deiro torácico; costocondrite aguda; trauma; herpes zoster; ansiedade. Trato gastrointestinais: espasmo esofagiano; doença do re- fluxo gastroesofágico; gastrite; doença ulcerosa; distensão hepática; pancreatite; cólica biliar; infarto esplênico. ! A dissecção aguda de aorta consiste em um dos diagnósticos diferenciais de dor torácica, sendo que, se o paciente for tra- tado para SCA, aumenta a possibilidade de óbito, dado que o risco de sangramento aumentará. 8. Diagnóstico Chegando ao serviço, todo paciente que levante suspeita para SCA deve realizar um ECG em até dez minutos desde a sua chegada. A realização desse é fundamental, pois, além de ser um divisor de águas quanto à classificação, revela a situação da per- fusão cardíaca, bem como identifica maior ou menor gravidade do quadro, podendo configurar situação de urgência. Além disso, também no momento de sua chegada, devem ser dosadosos níveis séricos dos marcadores de necrose do miocár- dio. O mais específico utilizado é a troponina, que consiste em um marcador biológico de lesão e de necrose miocárdica, tendo seus níveis sanguíneos aumentados após um acometimento ao mús- culo cardíaco. A proteína começa a elevar após 3 horas do início da dor anginosa, tendo um pico entre 18 e 24 horas, podendo per- sistir por até 10 dias em níveis significativos. O IAM é definido pela presença de lesão miocárdica, a qual é evidenciada por níveis séricos de troponina acima do percentil 99, acompanhada de isquemia miocárdica aguda, e é caracterizada pela presença de ao menos um dos seguintes fatores: → Sintomas característicos de isquemia (angina ou equivalente isquêmico); → Alterações eletrocardiográficas típicas (supra ou infra de ST, inversão de onda T ou onda Q patológica); → Alteração de imagem, como ecocardiograma ou ressonância magnética, revelando área hipocinética (diminuição da mo- bilidade segmentar) nova; → Cateterismo cardíaco com evidência de trombose coronari- ana. O diagnóstico do IAMSST é, aliado à clínica compatível, emi- nentemente eletrocardiográfico, não necessitando que seja aguar- dada a dosagem sérica da troponina, uma vez que essa pode de- morar a se elevar. O supradesnivelamento de ST pode ser caracterizado pela elevação do ponto J em ao menos 1 mm em derivações contíguas (derivações sequenciais). A exceção a essa regra são as deriva- ções V2 e V3, cujo critério para a identificação de supra de ST é um pouco diferente. Nelas, o supradesnivelamento do segmento ST se dá por meio da elevação do segmento J acima de 1,5 mm para mulheres, e para homens esse valor aumenta para 2 mm, naque- les com mais de 40 anos, e para 2,5 mm para aqueles com menos de 40 anos. É importante frisar que a ocorrência de bloqueio de ramo esquerdo novo ou considerado novo deve ser caracterizado como supradesnivelamento do segmento ST. Além da identificação do supradesnivelamento de ST, é im- portante saber identificar a porção miocárdica acometida, de acordo com a derivação que apresenta o supra de ST. DERIVAÇÕES LOCALIZAÇÃO ARTÉRIA DII, DIII, aVF Inferior Coronária direita V1, V2, V3 e V4 Anterior Diagonal V1, V2, V3, V4, V5 e V6 Anterior Extenso Coronária es- querda V5, V6, DI e aVL Lateral Circunflexa V3R, V4R e V1 Ventrículo direito Coronária direita V7 e V8 Lateral Coronária direita Dada a heterogeneidade dos grupos que se enquadram em síndromes isquêmicas sem supra de ST (IAM sem supra e angina instável), faz necessária a estratificação de risco desses pacientes, a qual pode ser realizada principalmente pelo escore TIMI, que pontuará o paciente de acordo com os seus critérios, classifi- cando-o como de risco baixo (0 a 2 pontos), intermediário (3 a 4 pontos) e alto (5 a 7 pontos). ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO – ESCORE DE TIMI Idade > 65 anos 1 ≥ 3 fatores de risco 1 Lesão coronariana ≥ 50% 1 Uso de AAS < 7 dias 1 2 crises de angina < 24 horas 1 Desvio de ST ≥ 0,5 mm 1 ↑ marcador de necrose 1 Outro critério bastante utilizado é o escore de GRACE, o qual é mais complexo, pontuando em mais quesitos e de forma mais refinada. O seu uso pode ser feito a partir de calculadoras facil- mente disponíveis para dispositivos eletrônicos. 9. Medidas Iniciais 1. Triagem diagnóstica de SCA por meio da anamnese, exame físico, ECG e teste de marcadores de necrose miocárdica; 2. Classificação quanto ao risco de morte cardiovascular ou de isquemia recorrente por meio dos achados ao ECG, troponina e escores GRACE ou TIMI; 3. Iniciar cuidados gerais: repouso, ácido acetilsalicílico, nitrogli- cerina e estatinas, considerando a administração de oxigênio, betabloqueadores e morfina; 4. Escolher a estratégia terapêutica adequada para o quadro e a situação na qual o paciente se encontra; 5. Escolher um segundo agente antiplaquetário para ser admi- nistrado junto do AAS, como um inibidor de P2Y12, de acordo com o risco de trombose do paciente, tempo até a realização da terapia de reperfusão, possível necessidade de cirurgia posterior e risco de sangramento; 6. Escolher um agente anticoagulante (enoxaparina, heparina não fracionada ou fondaparinux) de acordo com a estratégia de reperfusão e risco de sangramento. 10. Tratamento da SCA com Supra de ST – TERAPIA DE REPERFUSÃO – A identificação de um IAMSST requer, como necessidade ur- gente, a terapia de reperfusão, caso os sintomas tenham come- çado a menos de 12 horas. É importante que a decisão seja tomada rapidamente, a fim de evitar a progressão da isquemia miocár- dica. A reperfusão miocárdica pode ser feita por meio do procedi- mento percutâneo, via cateterismo, ou por via farmacológica, fa- zendo o uso de fibrinolíticos. E para decidir entre essas duas op- ções da melhor forma possível, deve ter em mente o conceito de tempo porta-balão. Em primeiro lugar o tempo máximo entre o primeiro contato médico e o diagnóstico do ECG deve ser ≤ 10 minutos. Caso o pa- ciente consiga ser encaminhado para a sala de hemodinâmica do hospital para realizar o cateterismo em até 90 minutos após a sua chegada no serviço de emergência, deve optar pela realização da angioplastia primária. Caso o hospital em questão não possua serviço de hemodi- nâmica, mas o paciente pode ser transferido para um outro centro de saúde que o tenha, deve optar pela angioplastia no caso de o tempo porta-balão para esse paciente, incluindo a sua transferên- cia para o serviço especializado, for de até 120 minutos. Caso não haja a possibilidade de cumprir com esses intervalos temporais, é recomendada a terapia fibrinolítica para o paciente, devendo ser seguida a consideração de transferência em um período de 2 a 24 horas para um centro com serviço de hemodinâmica. A angioplastia primária consiste em um tratamento superior à terapia fibrinolítica, uma vez que estudos demonstram que ela 3 Última atualização: 04/08/2021 traz consigo menores índices de mortalidade, reinfarto e AVC. O procedimento consiste na inserção de um cateter por meio de uma entrada arterial. Guia o dispositivo até o ponto coronariano aco- metido, infla um balão, a fim de desobstruir a artéria, e firma a abertura do vaso com um stent, que impede a retração elástica do vaso pós-balonamento. Nos casos em que não seja possível cumprir os requisitos do tempo porta-balão, deve proceder com a terapia fibrinolítica. O ideal é que o tempo de chegada até a punção venosa para iniciar o tratamento (tempo porta-agulha) seja menor do que 30 minu- tos, sendo o ideal em até 10 minutos. A fibrinólise pode ser feita com o uso de estreptoquinase (SK), que possui efeitos colaterais alérgicos, como urticária e hipotensão e, além disso, já não é mais tão utilizada. O tratamento é feito majoritariamente com os novos fibrinolíticos, que apresentam melhores resultados, dado que são fibrinoespecíficos. Os principais representantes são: alteplase (Tpa) e tenecteplase (TNK). Deve atentar para as contraindicações quanto à terapia fibri- nolítica, principalmente no tocante a AVCs hemorrágicos. Contraindicações absolutas: → Qualquer hemorragia cerebral prévia; → Lesão vascular cerebral conhecida; → Neoplasia intracraniana (primária ou metastática); → AVC isquêmico < 3 meses (exceto < 3 horas); → Traumatismo craniano ou facial significativo < 3 meses; → Sangramento interno ativo (exceto menstruação); → Suspeita de dissecção de aorta; → Doenças da coagulação; → Redução da expectativa de vida (coma, sepse, neoplasia). Contraindicações relativas: → História de hipertensão crônica e não controlada; → PAS > 180 / PAD > 110 mmHg apesar do alívio da dor; → AVC isquêmico > 3 meses e outras doenças cerebrais sem contraindicação absoluta; → Uso de anticoagulantes cumarínicos; → Trauma ou cirurgia de grande porte nas últimas3 semanas; → Reanimação cardiopulmonar traumática ou prolongada (> 10 minutos); → Punção vascular não compressível; → Sangramento interno recente (2 a 4 semanas); → Úlcera péptica ativa. Uma vez realizada uma das terapias fibrinolíticas, deve ficar atento para o aparecimento dos Critérios de Reperfusão entre 60 a 90 minutos após o tratamento. O primeiro critério é eletrocardi- ográfico, consistindo na redução de, pelo menos, 30 a 50% do su- pra de ST, devendo ter como referência a derivação que apresen- tava a maior elevação do segmento ST. O segundo critério é sinto- mático e consiste na melhora da dor referida pelo paciente. Em caso positivo, adota a estratégia fármaco-invasiva, na qual, após a fibrinólise, o paciente deve ser encaminhado para o cateterismo dentre 2 a 24 horas, uma vez que se sabe que o fibri- nolítico pode não ser capaz de desobstruir completamente a arté- ria do paciente, de modo que esse necessitará de uma angioplas- tia. Nos casos em que não forem satisfeitos os critérios de reper- fusão, o paciente é classificado como urgente, devendo ser sub- metido a uma angioplastia de resgate. – CONTROLE DA ANGINA – Junto a todo esse tratamento de reperfusão, como medida inicial, a dor anginosa deve ser tratada, a fim de diminuir o tônus simpático, o qual é capaz de gerar mais estresse ao coração que já está acometido. Para isso, administra dinitrato de isossorbida sublingual (Isordil) ou nitroglicerina, que atuará proporcionando a dilatação dos vasos coronarianos, de modo a dar certo alívio à dor causada pela isquemia. Junto a isso, deve ser administrada morfina como analgésico para controle adicional da dor, salvo existência de contraindicações. – TERAPIAS ADIOCIONAIS – • o objetivo consiste na diminuição da formação do trombo branco, bem como na di- minuição do risco de trombose no stent. Administra ácido acetilsalicílico (AAS) pelo resto da vida do paciente. A única exceção consiste na presença de úlcera gástrica ativa e histórico de reação anafilática prévia quando do uso desse fármaco. Casos de alergia leve, como urticária, não há contraindicação, devendo ser prescrita medicação anti-histamínica para o controle de sintomas adversos. A dupla anti-agregação plaquetária é completada pelo uso de inibidores do receptor de P2Y12, cujo uso deve ser feito por um ano. Os principais representantes dessa classe são: clopidogrel, ticagrelor e prasugrel. Esses dois últimos apesar de possuírem uma melhor estabilidade quanto fármaco em comparação com o clopidogrel, no tocante à antiagregação plena, só devem ser utilizados nos casos em que o paciente foi submetido à angioplastia primária, não devendo ser utili- zados nos casos após a terapia fibrinolítica. Como opção de antiagregantes plaquetários, pode fazer o uso de inibidores da glicoproteína IIb/IIIa, cujo uso é mais restrito e infrequente. São administradas por via endovenosa, em bomba de infusão contínua. A prescrição dessas drogas é geralmente feita pelo próprio hemodinamicista, que irá indi- car o uso nos casos de identificação de grande quantidade de trombos no cateterismo, ou ainda quando não há fluxo arte- rial coronariano, mesmo quando o balão é insuflado na coro- nária obliterada. Os fármacos geralmente utilizados nesses casos são o tirofibana e o abciximab. • o objetivo é prevenir a formação do trombo vermelho, dissolvendo a trombina. O fármaco mais utilizado é a enoxaparina, que tem usos distintos a depender da terapia de reperfusão realizada, mas em ambos os casos a administração de ataque é feita por via endovenosa e a de manutenção, por via subcutânea. A segunda opção de anticoagulante é a heparina não fracionada (HNF), que é mais complicada quanto à sua utili- zação, pois é administrada em bomba de infusão contínua. • mostra benéfico para pacientes cuja sa- turação se encontra abaixo de 90%, ou para aqueles cuja ga- sometria arterial acusou pressão parcial de oxigênio menor do que 60 mmHg. • podem ser utilizados, possuindo be- nefício de médio a longo prazo, devendo ser iniciados em até 24 horas. Caso o paciente possua fração de ejeção do ventrí- culo direito reduzida (menor do que 40%), preconizam beta- bloqueadores com benefícios quanto à mortalidade, que são: carvedilol, bisoprolol e succinato de metoprolol. Esses fár- macos são contraindicados nos casos de choque cardiogê- nico, insuficiência cardíaca descompensada e bradiarritmias. • podem ser utilizados, sendo que, caso seja ade- quado, a terapia com esses fármacos deve ser iniciada em até 24 horas. Os pacientes que se beneficiam do uso dessa classe de drogas são aqueles com fração de ejeção do ventrí- culo esquerdo menor do que 40%, diabéticos ou hipertensos. • principal represen- tante é a espirolactona, devem ser utilizados quando já se faz o uso de iECA ou BRA junto com um betabloqueador, diante do cenário de fração de ejeção do ventrículo esquerdo menor do que 40%, com apresentação de insuficiência cardíaca ou diabetes mellitus. Porém, esses fármacos não são utilizados no tratamento inicial, sendo avaliada a necessidade do seu uso em momentos oportunos. • é importante o uso de estatinas de alta potência, dado o seu benefício de reduzir infartos, por meio da estabili- zação das placas ateromatosas. Sendo assim, faz o uso de atorvastatina ou de rosuvastatina. É importante que seja ob- servado o alvo de LDL do paciente diante do uso desses fár- macos, o qual deve ser menor do que 50 mg/ dL. 4 Última atualização: 04/08/2021 METAS DE TEMPO IMPORTANTES PARA TERAPÊUTICA DA SCASSST Tempo máximo entre o primeiro contato médico e o diagnóstico do ECG. ≤ 10 min Atraso máximo esperado do diagnóstico de SCACSST para ICP primária (passagem do fio guia). Se esse tempo não puder ser alcançado, considere fibrinólise. ≤ 120 min Atraso máximo esperado do diagnóstico de SCACSST para ICP primária (passagem do fio guia) em pacientes que se apresentam em hospitais com ICP primária. ≤ 60 min Tempo máximo do diagnóstico de SCACSST para ICP primária (passagem do fio) em pacientes transferidos. ≤ 90 min Tempo máximo do diagnóstico de SCACSST para bolus ou início da infusão de fibrinolítico em pacientes incapazes de cumprir e=os tempos alvo de ICP primária. ≤ 10 min Atraso de tempo desde o início da fibrinólise até a avaliação de sua eficácia (sucesso ou falha). 60-90 min Atraso de tempo desde o início da fibrinólise até a angiografia se a fibrinólise for bem-sucedida. 2-24 horas 11. Tratamento da SCA sem Supra de ST Uma vez diagnosticada a SCASSST, o paciente deve receber de imediato antiagregantes plaquetários, a fim de inibir a forma- ção do trombo branco. Dessa forma, administra ácido acetilsali- cílico, pelo resto da vida do paciente. É realizada a dupla antiagre- gação por meio da administração de um inibidor de P2Y12, geral- mente o clopidogrel, durante um ano. Podem ser utilizados no lu- gar: o ticagrelor ou o prasugrel. Como a principal queixa do paciente com SCASSST é a dor anginosa, o alívio dessa faz necessário para a tranquilização e bem-estar do paciente, bem como para que a colaboração desse para com o tratamento seja adequada. Para tal, pode ser admi- nistrada morfina para o controle da dor e nitratos. Para controle da dispneia, a oxigenoterapia pode ser bené- fica. A suplementação com oxigênio deve ser feita nos casos em que o paciente apresenta sinais de hipoxemia, seja com a satura- ção menor do que 90% ou pela pressão de oxigênio menor do que 60 mmHg na gasometria arterial. Os anticoagulantes devem ser administrados a fim de evitar a formação do trombo vermelho, resultante da agregação de he- mácias. Nos casos de pacientes com SCASSST, a primeira opção consiste na enoxaparina. Deve ser administrada até a realização da angioplastia, ou até a alta do paciente ou por até oito dias. Pode ser utilizadaa heparina não fracionada, mas o seu manejo é mais complicado quando comparado à enoxaparina. O fondaparinux é utilizado principalmente para pacientes com alto risco de san- gramento, devendo ser administrado por via subcutânea. Em até 24 horas após o início do tratamento devem ser admi- nistrados fármacos que melhoram o desfecho quanto ao remode- lamento e quanto à sobrevida a longo prazo, como estatinas de alta potência em dose máxima, betabloqueadores e vasodilata- dores, como inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA) e bloqueadores do receptor de angiotensina (BRA), prin- cipalmente para aqueles cujas sequelas contemplam fração de ejeção reduzida (menor do que 40%). Pacientes classificados pelos escores mencionados como de alto risco, devem seguir para cateterismo cardíaco, enquanto os pacientes de baixo risco, podem ser submetidos a exames para estratificação não invasivos, como o ECO estresse, cintilografia e teste ergométrico, podendo ser prescrito para esse paciente so- mente AAS e estatinas. Pacientes com risco intermediário podem seguir para ambas as estratégias, devendo ser internados, sendo que a escolha de- verá partir do consenso do médico com o paciente, avaliando qual desses se encaixará melhor para a correta avaliação do quadro do paciente. 12. Complicações Mecânicas Pós-Infarto Consiste em uma alteração da anatomia normal do coração, decorrentes dos déficits espaciais gerados pela necrose. Essas complicações são sempre acompanhadas por choque cardiogê- nico, que consiste em um quadro de hipoperfusão gerado por baixo débito cardíaco, dado o acometimento da plena capacidade do coração em suprir as demandas do organismo. Logo, é bem intuitivo que alterações graves como essas sejam mais relaciona- das ao IAMSST (IAM transmural). Há fatores de risco que aumentam a susceptibilidade do pa- ciente para o desenvolvimento desse quadro. O primeiro deles consiste em um pico muito elevado dos marcadores de necrose miocárdica, principalmente a troponina, uma vez que representa maior quantidade de músculo acometido. A escassez de circula- ção colateral, quando de um primeiro evento isquêmico, também aumenta a chance de evolução para complicações mecânicas, dado que o coração, nesse caso, possui poucos vasos para tentar suprir a área isquemiada. Os infartos anteriores se relacionam com o aumento da pro- babilidade de desenvolver comunicação interventricular e de ro- tura de parede livre. Enquanto isso, o IAM de parede inferior se relaciona à maior probabilidade de ocorrência de insuficiência mi- tral aguda. – ROTURA DE PAREDE LIVRE – Ocorre geralmente do terceiro ao quinto dia pós-IAM, po- dendo ocorrer em até duas semanas após o evento. Nesse caso, a isquemia gera a ruptura da parede miocárdica, gerando o extra- vasamento de sangue para o pericárdio e, com isso, gerando o quadro de tamponamento cardíaco. A continuidade desse extra- vasamento faz com que o débito cardíaco caia, uma vez que há menos sangue em circulação, levando o paciente ao choque, evo- luindo na maioria das vezes para óbito nos casos de rotura total da parede ventricular esquerda. O quadro clínico de uma rotura completa caracteriza pela evolução com tamponamento cardíaco, o qual pode ser evidenci- ado no exame físico pela tríade de Beck (bulhas abafadas, estase jugular e o choque), bem como pela presença de pulso paradoxal, ocorrendo variação maior do que 10 mmHg da pressão de pulso quando comparada a inspiração e a expiração. A evolução do quadro geralmente consiste em atividade elétrica sem pulso, cul- minando em morte súbita. Em casos de ruptura incompleta ou su- baguda, ocorre quadro de dor pleurítica, semelhante à pericardite e choque cardiogênico, com ausência de sopro à ausculta. Pode diagnosticar essa complicação por meio do ecocardio- grama, o qual evidenciará a lesão miocárdica de rotura. O trata- mento pode ser feito por meio de uma pericardiocentese para ali- viar a pressão e tratamento cirúrgico da lesão, realizando o fecha- mento do orifício pelo qual ocorreu a saída de sangue. – COMUNICAÇÃO INTERVENTRICULAR – Ocorre entre o terceiro e quinto dia pós-infarto. Essa compli- cação decorre do acometimento do suprimento vascular do septo interventricular, que é suprido pela artéria descendente anterior (em seus dois terços anteriores) e pela descendente posterior (em seu terço posterior). Desencadeia um quadro clínico caracterizada pela presença de instabilidade hemodinâmica, culminando em choque. Junto a isso, observa a preponderância de sinais de insuficiência cardíaca direita (congestão sistêmica), auscultando um sopro muito carac- terístico: holossistólico, focado em ápice (nos casos de comunica- ção apical), mas podendo ser bem auscultado em todos os focos, sendo descrito como de 4 + ou mais (sopro com frêmito). O diagnóstico é dado pelo ecocardiograma, que evidenciará a lesão com sinais de sobrecarga ventricular direita, dado o au- mento de pressão pelo maior volume sanguíneo. O tratamento consiste na administração de vasodilatadores, inotrópicos e diu- réticos, a fim de diminuir o gradiente pressórico na aorta (dado o 5 Última atualização: 04/08/2021 mecanismo de vasodilatação periférica), fazendo com que haja um gradiente pressórico maior entre o ventrículo esquerdo e a aorta, de modo que o sangue tenha maior tendência para se dirigir para ela ao invés de para o ventrículo direito. O diurético atua diminuindo o volume circulante, de modo a haver menos volume a ser transferido para o coração direito pela comunicação. O inotrópico atua melhorando a performance car- díaca em bombear o sangue para a aorta, auxiliando no meca- nismo dos vasodilatadores. Tal conduta é apenas paliativa, a fim de que haja tempo hábil para que a comunicação seja interrom- pida por via cirúrgica, que consiste no tratamento resolutivo. – INSUFICIÊNCIA MITRAL – Ocorrer no período entre 2 a 7 dias após o IAM, decorrente da ruptura do músculo papilar ou das cordas tendíneas da valva mi- tral. Obliterações desses ramos arteriais podem cursar com isque- mia desses músculos, os quais podem se romper por necrose ou podem simplesmente perder a sua potência, gerando frouxidão que cursa com insuficiência desse músculo para sustentar a cor- doalha tendínea. Pacientes com esse quadro apresentam a típica hipotensão do choque cardiogênico, cursando com edema agudo de pulmão, dado o aumento de pressão no átrio esquerdo que se transmite para o pulmão. A ausculta revela um sopro holossistólico regurgi- tativo em foco mitral, classificado de 3 + para baixo (baixa inten- sidade). O diagnóstico é dado por meio do ECO, que evidenciará a frouxidão valvar e a regurgitação intensa ao Doppler. Esse quadro é tratado por meio de vasodilatadores, inotrópi- cos e diuréticos, que aumentará a tendência do sangue a cursar o seu caminho natural para a aorta ao invés de regurgitar e propi- ciar a existência de menos volume circulante, de modo a reduzir, como consequência, o volume que acaba por regurgitar. Pode tra- tar o paciente por meio de um balão intra-aórtico, o qual será alocado na artéria aorta do paciente por meio de um acesso fe- moral. Esse balão insuflará no período da diástole e se esvaziará na sístole, de modo a melhorar a perfusão coronariana, uma vez que essas recebem sangue na diástole, e aumentar a condução aórtica do sangue, dado que o seu esvaziamento auxilia na pro- pulsão do sangue. Ambos os tratamentos são paliativos, sendo o tratamento de- finitivo cirúrgico, para o qual deve ser avaliado o estado do mús- culo papilar. No caso em que esse músculo não estiver preservado, deve ser realizada a troca valvar; caso o músculo ainda esteja em boas condições, pode realizar a valvoplastia mitral, de modo a manter a valva do paciente. ! Além das alterações mecânicas podem ocorrer alterações funcionais(prejudicam o funcionamento correto do coração), tais como: insuficiência ventricular esquerda, insuficiência ventricular direita, choque cardiogênico; e alterações elétri- cas (alterações no ritmo cardíaco), tais como: bradiarritmias (bloqueios atrioventriculares de 1º, 2º e 3º grau), traquiarrit- mias (ventricular e supraventriculares).
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