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1 Última atualização: 06/08/2021 1. Introdução afecções do epitélio estratificado vulvo-vaginal cau- sadas por inflamação, infecção ou desequilíbrio da flora vaginal normal. São causas comuns de corrimento vaginal patológico. 2. Fisiopatologia Os lactobacilos mantêm o pH normal fisiológico, através do metabolismo da glicose realizado utilizando o glicogênio no epité- lio vaginal. A glicose é convertida em ácido lático, tornando o pH vaginal normal entre 3,5 e 4,5. Essa acidez também é parte dos mecanismos de defesa contra infecções. O meio vaginal é composto pelo resíduo vaginal, restos celu- lares e microrganismos, tanto aeróbios quanto anaeróbios. Dentre os microrganismos presentes, incluem patógenos oportunistas que, na mulher saudável, não ocasionam doença. Alguns fatores podem acabar desequilibrando esse ecossis- tema: muco cervical, sêmen, antibióticos, duchas vaginais, doen- ças sexualmente transmissíveis, sangue menstrual, doenças sistê- micas (diabetes mellitus, por exemplo), gravidez e menopausa. 3. Exames Ginecológicos • baseia na mudança de cor do papel colorimétrico, indicando diferentes valores de pH. Coloca uma fita em contato com a parede vaginal lateral, evi- tando o conteúdo do fundo de saco vaginal ou colo uterino. A cor que o papel adquire irá variar de acordo com o pH do con- teúdo da vagina. • coloca 1 a 2 gotas de KOH a 10% na superfície (espátula ou adesivo) com conteúdo vaginal, e sente o odor das aminas quando há alterações que aumen- tem a flora vaginal anaeróbia (vaginose bacteriana, tricomo- níase, vaginite aeróbica por microtraumatismos ou ulcera- ções). Ao entrar em contato com substância básica, há rea- ção com liberação de aminas voláteis, que possuem odor ca- racterístico. • coleta conteúdo da parede va- ginal usando espátula de madeira ou cotonete. O material en- tão é disposto em três lâminas de vidro, em esfregão. Uma seleção é usada para a coloração de Gram; outra, coloca uma gota de soro fisiológico a 0,9% e, na outra, uma gota de KOH a 10%. Observa: Na lâmina do SF: Trichomonas móveis, clue cells, celula- ridade e se a flora é bacilar ou cocácea (cocos); Na lâmina do KOH: hifas e blastóporos; Na lâmina do Gram: células de defesa, tipo de flora, Tri- chomonas fixados, clue cells, hifas e blastóporos. 4. Vaginose Bacteriana Desordem mais frequente do trato genital inferior em mulhe- res de idade reprodutiva e a causa mais comum de odor fétido no corrimento, responsável por 45% a 50% dos casos de corrimento vaginal patológico. Sua patogênese está relacionada ao desequilí- brio na flora vaginal, com perda de lactobacilos e aumento de bac- térias com a Gardenerella vaginalis; outras bactérias podem tam- bém estar em supercrescimento, como a Mycoplasma hominis, Ureaplasma urealyticum e Mobiluncus spp. Sem lactobacilos, o pH normalmente ácido aumenta e a Gar- dnerella vaginalis produz aminoácidos, que são quebrados em aminas voláteis, aumentando mais o pH e causando o odor desa- gradável muito referido pelas pacientes. Apesar de muitos fatores de risco estarem relacionados à ati- vidade sexual, a VB não é considerada uma doença sexualmente transmissível, e não está indicado o tratamento do parceiro. – QUADRO CLÍNICO – Caracterizado por corrimento de odor fétido (que piora após o coito e no período menstrual), bolhoso e branco a acinzentado. Além disso, não há irritação nem inflamação vulvar ou vaginal. – DIAGNÓSTICO – Em 1983, foram criados os critérios de Amsel e colaborado- res, dos quais devem estar presentes três: → Corrimento vaginal homogêneo; → pH > 4,5; → Presença e clue cells no exame citológico a fresco (células epi- teliais superficiais recobertas por cocos Gram-variáveis); → Whiff teste positivo (odor fétido das animas com adição de KOH a 10%). ! Os achados de clue cells e whiff teste positivo são patogno- mônicos da doença, mesmo em pacientes assintomáticas. Vários desfechos ginecológicos adversos podem ocorrer em decorrência da VB: vaginite, endometrite, doença inflamatória pél- vica não associada à Neisseria ou Chlamydia e infecções pélvicas agudas pós-cirurgias pélvicas. – TRATAMENTO – Alguns esquemas de tratamento foram propostos para a VB em mulheres não-grávidas: PRINCIPAIS ESCOLHAS Metronidazol VO 2x ao dia, por 7 dias Metronidazol gel a 0,75% 1x ao dia, por 5 dias Clindamicina creme a 2% Antes de deitar, por 7 dias OUTRAS ALTERNATIVAS Tinidazol VO Diariamente, 3 dias Clindamicina VO 7 dias 5. Candidíase Vulvovaginal A Candida albicans faz parte da flora oral, retal e vaginal de forma comensal e, durante a vida reprodutiva, 10% a 20% das mu- lheres são colonizadas de forma assintomática. A maioria das candidíases vulvovaginais são classificadas como não-complicadas. As formas não-complicadas incluem aquelas com todos os seguintes critérios: esporádica ou infre- quente; leve a moderada; cujo provável agente é a Candida albi- cans e em pacientes não-imunocomprometidas. A candidíase complicada inclui qualquer uma das seguintes características: infecção recorrente por cândida (4 ou mais surtos em um ano); infecção grave; candidíase não-albicans; diabetes não controlado; imunossupressão; debilidade ou gravidez. – QUADRO CLÍNICO – Inclui: prurido; ardência; corrimento geralmente grumoso, inodoro, com aspecto de queijo “cottage” e aderente à parede va- ginal; dispareunia de introito vaginal; disúria externa. Os sinais característicos são: eritema e fissura vulvares, cor- rimento grumoso com placas aderidas à parede vaginal, de cor branca, edema vulvar, escoriações e lesões satélites. 2 Última atualização: 06/08/2021 – DIAGNÓSTICO – À citologia a fresco, o pH vaginal é normal (ácido) < 4,5; e o exame microscópico da leucorreia, após aplicação de solução sa- lina ou KOH a 10%, mostra a levedura ou hifas. Essa citologia deve ser realizada antes de prescrever o tratamento empírico. Caso ve- nha negativa, colhe-se a cultura. – TRATAMENTO – O tratamento da candidíase não complicada pode ser feito através de vários esquemas, levando em consideração particula- ridades e preferências da paciente. Para as formas não-complica- das, os azóis costumam ser muito eficazes: VIA ORAL Fluconazol dose única Itraconazol 12/12h por 1 dia Cetoconazol 12/12h por 5 dias Nistatina oral CREME E ÓVULOS VAGINAIS Butoconazol dose única Clotrimazol 3 esquemas – 3, 7 e 14 dias Miconazol 4 esquemas Tioconazol dose única Isoconazol dose única ou 7 dias Fenticonazol, terconazol ou nistatina 14 dias Quando a candidíase é complicada, não se trata com doses e esquemas curtos como na candidíase não-complicada. Usa um esquema vaginal de 7 dias ou múltiplas doses de fluconazol. Nas CVV recorrentes, em sua maioria causadas pela C. albi- cans, após controle dos fatores subjacentes (diabetes, doenças autoimunes, antibióticos, etc.) faz indução de terapia azólica por 14 dias (tópica ou oral), seguida de regime supressivo de 6 meses de fluconazol semanal, durante seis meses. Em CVV causadas por outras espécies de cândida, a nistatina é a primeira escolha; pode usar também óvulos de anfotericina via vaginal. Na Candida glabarata, vale aplicar ácido bórico tópico em cápsulos gelatinosas por 14 dias. ! O tratamento da CVV não muda em pacientes HIV-positivas. 6. Tricomoníase Considerada a doença sexualmente transmissível não-viral mais comum no mundo. Constitui importante fonte de morbidade reprodutiva e facilitadora da infecção pelo HIV. Mais comumente diagnosticada em mulheres, pois a maioria das infecções em homem é assintomática, e a coinfecção com Neisseria gonorrhoeae é comum, bem como outros patógenos. A transmissão vertical durante o parto é possível. – QUADRO CLÍNICO – A manifestação clínica é constituída por corrimento,por vezes abundante, de fluido a espesso, amarelado ou esverdeado e com odor fétido. A vagina, uretra, ectocérvice e bexiga podem ser afe- tadas. Disúria, dispareunia, prurido vulvar e dor podem também estar presentes. – DIAGNÓSTICO – Ao exame ginecológico, há vulvite discreta, hiperemia difusa da vagina, secreção amarelada ou esverdeada abundante e colo com aspecto de framboesa ou morango. Pode haver, além da leu- correia, hemorragias subepiteliais ou “manchas vermelhas” na vagina e no colo uterino. Ao teste de Schiller, o colo adquire as- pecto de “pele de tigre”. Ao exame citológico a fresco, o pH vaginal é geralmente superior a 5 e o teste de KOH costuma ser positivo. O diagnóstico pode ser obtido pelo próprio exame citológico a fresco, com visualização de protozoários em exame microscópico do conteúdo vaginal (sensibilidade é baixa). A cultura tem sensi- bilidade muito maior, mas se torna impraticável devido à necessi- dade de um meio especial (meio Diamante). O teste rápido para tricomonas, disponível para uso em consultório e com resultado rápido, é uma opção. Pode ainda ser observado no Papanicolau, caso positivo, su- gere exame microscópico antes de iniciar o tratamento. – TRATAMENTO – Uso de antibióticos de acordo com a orientação médica, podendo ser 2 vezes ao dia por 5 a 7 dias ou dose única. Os remé- dios mais utilizados são: tinidazol e metronidazol, por via oral. ! Por se tratar de uma DST, deve haver tratamento simultâneo de parceiros sexuais. SINAIS E SINTOMAS NORMAL VAGINOSE BACTERIANA (VB) CANDIDÍASE VULVOVAGINAL TRICOMONÍASE Queixa Nenhuma Odor fétido associado ao coito ou menstruação Prurido, ardor, corrimento Corrimento espumoso com odor, disúria, prurido Características do corrimento Claro, fluido, es- branquiçado Esbranquiçado ou cinzento, flu- ido, escasso, aderente às pare- des vaginais Esbranquiçado, espesso com gru- mos Verde-amarelado, espu- moso, aderente, abundante Teste das aminas Negativo Positivo (odor de “peixe podre”) Negativo Pode ser positivo ou negativo pH vaginal 3,8-4,2 > 4,5 > 4,5 > 4,5 Microscopia Células epiteliais, lactobacilos Clue cells, raros lactobacilos / leucócitos, morfotipos de Gar- dnerella / Mobiluncus Brotos, hifas, pseu-hifas (forma invasiva) Tricomonas móveis (solução salina) 7. Formas Menos Comuns • o quadro clínico pode imitar o da candidíase, levando a paciente a tratamentos repetidos com anti-fúngicos sem sucesso. A flora de lactobacilos está exacerbada e, ao exame mi- croscópico, há citólise. Não há terapia com evidência consis- tente para essa patologia, mas costuma tratar com alcalini- zação vaginal, usando creme vaginal com tampão borato e duchas vaginais de água com bicarbonato de sódio. Suas manifestações incluem corrimento branco, prurido vulvo-vaginal, dispareunia, disúria e ardência perineal. Esses sintomas se intensificam na fase lútea do ciclo menstrual. Os principais sinais são: corrimento branco homogêneo, pH vaginal entre 3,5 e 4,5, teste de aminas negativo, hiperpopulação de lactobacilos na microbiologia e, à citolo- gia: citólise de células intermediárias ricas em glicogênio, leu- cócitos raros. Parâmetros para diagnóstico: → Flora tipo I (bacilar) intensa; → Escore de Nugent 0 a 3; → Células descamativas numerosas; → Leucócitos ausentes ou em grande quantidade (0 a 1 por campo); → Lise celular intensa, com núcleos desnudos e muito ma- terial celular no esfregaço. • vaginite própria da paciente hipoes- trogênica, gerando dispareunia pela atrofia. Manifestações incluem: prurido vulvo-vaginal, dispareunia, queimação ou ardor vaginal, disúria, ITU ou incontinência urinária e urgência 3 Última atualização: 06/08/2021 urinária. A atrofia e o aumento do pH vaginal predispõem a vagina a traumatismos e infecções. O tratamento consiste em terapia estrogênica, sistêmica ou vagina. • geralmente ocorre com infecção bac- teriana secundária, apresentando descarga purulenta. Deve ser tratada após exame microbiológico. • pode mimetizar a tricomoníase e assemelha à colpite atrófica inicial, devido ao hipoestroge- nismo. Sintomas incluem desconforto urinário, prurido e se- cura vaginais, leucorreia e dispaneunia. O pH geralmente está alcalino e há poucos bacilos na microbiologia, aumento de cé- lulas basais e parabasais, e diminuição de células superficiais. É tratada com clindamicina ou acidificação com vitamina C vaginal. • causada por agentes químicos e o tratamento é a suspensão destes. Causa ardor, prurido e eri- tema. • pode ser causada por uma gama de substâncias que desencadeiem uma reação alérgica, por meio da hipersensibilização. Ardor vaginal, prurido e eritema fazem parte do quadro. Anti-histamínicos costumam ajudar a dessensibilizar a paciente e melhorar os sintomas, podendo associar corticoi- des orais ou sistêmicos.
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