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Fonte: Aula, Medcurso 2019, Sanar e UpToDate 2020 1 FIBROMIALGIA (FM) Gizelle Felinto INTRODUÇÃO ➢ CONCEITO → a Fibromialgia é uma síndrome dolorosa crônica (superior a 3 meses), caracterizada por dor musculoesquelética generalizada e fadiga, podendo estar associada a alterações do sono, distúrbios cognitivos, sintomas psiquiátricos e sintomas somáticos ➢ A fibromialgia é um distúrbio do processamento central dos estímulos álgicos ➢ Essa condição dolorosa crônica tem etiologia desconhecida e fisiopatologia não totalmente elucidada ➢ É importante ressaltar que a fibromialgia não é um diagnóstico de exclusão, ou seja, é comum que um paciente seja portador de determinada comorbidade (Ex: doenças reumatológicas crônicas) e também apresente fibromialgia ➢ Pacientes com fibromialgia não apresentam evidência de inflamação nos músculos, ligamentos e tendões. Além disso, não há anormalidades óbvias no exame físico, exceto sensibilidade generalizada dos tecidos moles, e os estudos laboratoriais e radiológicos das estruturas musculoesqueléticas são normais ➢ Outras denominações dadas por especialidades não- reumatológicas → transtorno somatoforme, síndrome somática funcional, síndrome do estresse corporal... EPIDEMIOLOGIA ➢ Prevalência mundial → 0,2 – 5% ➢ Prevalência no Brasil → 2 a 2,5% ➢ Prevalência de acordo com os critérios do ACR: • ACR 2010 modificado: 1,7% • ACR 1990: 1,7% • ACR 2010: 1,2% ➢ Acomete mais mulheres do que homens (proporção de 6:1) ➢ Idade de início → 25 a 65 anos ➢ É mais prevalente em pacientes com doenças crônicas ➢ A fibromialgia é a causa mais comum de dor musculoesquelética generalizada em mulheres entre 20 e 55 anos ➢ Pode ocorrer em crianças e em adultos FISIOPATOLOGIA ➢ Acredita-se que a origem da Fibromialgia seja multifatorial, com predisposição poligênica. Alguns pacientes abrem o quadro após algum fator precipitante, como infecção viral, trauma físico ou estresse emocional. Porém, muitos pacientes relatam que não tiveram qualquer evento desencadeante para a doença ➢ Entende-se a fibromialgia como um distúrbio de neurotransmissores, pois: • A depleção da serotonina faz aumentar, no Sistema Nervoso Central (SNC), os níveis de substancia P, que é um neurotransmissor importante para a sensibilidade dolorosa → nos distúrbios do sono, na depressão e na fibromialgia, existe uma provável alteração de neurotransmissores no SNC, com redução dos níveis de serotonina e aumento da concentração de substância P, levando a um estado de hipersensibilidade à dor • Esse mecanismo também explicaria a cefaleia tensional, que é bastante comum em pacientes com fibromialgia • Assim, é devido a isso que os Antidepressivos Tricíclicos, como a AMITRIPTILINA, conseguem melhorar os sintomas de fibromialgia, pois eles atuam sobra a dinâmica dos neurotransmissores do SNC ➢ Teorias em estudos observacionais: • Discretas alterações histológicas em biópsia muscular de portadores de fibromialgia → essas mesmas alterações também são observadas em indivíduos sedentários e assintomáticos. Assim, é possível que essas lesões justifiquem a típica mialgia esforço-induzida que os fibromiálgicos apresentam • O sono de má qualidade influi negativamente na performance muscular e na disposição física → um estudo mostrou que submetes indivíduos hígidos a diversos ciclos sucessivos de sono não reparador desencadeia um quadro muito semelhante a fibromialgia ➢ Hipofluxo sanguíneo no tálamo e outras estruturas implicadas na modulação central da dor (demonstrado pelo estudo realizado com SPECT – exame de neuroimagem “funcional”) → níveis reduzidos de cortisol livre urinário e fraca resposta do cortisol à estimulação com ACTH sugerem um possível defeito no eixo hipotálamo-adrenal como parte dos mecanismos fisiopatológicos ➢ Muitos estressores físicos e/ou emocionais podem desencadear ou agravar os sintomas. Nesses estressores estão incluídas algumas infecções, como doenças virais ou doença de Lyme, assim como também trauma emocional ou físico ➢ Sua fisiopatologia tem relação com: • Fatores genéticos • Gatilhos periféricos • Disfunções dos sistemas autônomo e hormonal • Anormalidades psicofarmacológicas e de transmissão ➢ Estudos apontam que o risco de desenvolver fibromialgia e condições dolorosas se deve: • 50% a fatores genéticos • 50% a fatores ambientais ➢ Fibromialgia como uma condição associada à REGULAÇÃO DA DOR: • Na Fibromialgia uma sensibilização central, sendo considerada uma condição associada à regulação da dor • Alterações genéticas e alterações no processamento da dor pelo SNC → essas são características que a fibromialgia compartilha com várias outras condições dolorosas, como enxaqueca, cefaleia tensional, disfunção de articulação temporomandibular e síndrome do intestino irritável • Além disso, alguns estudos têm sugerido que pode haver um papel de mecanismos neuropáticos periféricos ou alterações focais em partes moles de alguns pacientes • Síndrome de Sensibilização Central → ocorre uma alteração na regulação da dor somada a uma dor inadequadamente amplificada. Assim, tem-se uma resposta anormal inadequada do SNC aos estímulos periféricos em decorrência da hiperexcitabilidade neuronal • O sistema de antecipação de alívio da dor não é ativado na fibromialgia, especialmente a área tegmentar ventral (érea de recompensa) por liberar dopamina e GABA ➢ PREDISPOSIÇÃO GENÉTICA E GENES ENVOLVIDOS: Fonte: Aula, Medcurso 2019, Sanar e UpToDate 2020 2 FIBROMIALGIA (FM) Gizelle Felinto • Acredita-se que há um Fator de hereditariedade envolvido, pois: ▪ Parentes de 1º grau de pacientes com fibromialgia tem 8,5 vezes mais chance de ter fibromialgia do que parentes de pacientes com artrite reumatóide • Esse fator de hereditariedade pode contribuir para a dor crônica e as alterações do humor em alguns familiares • Não há uma associação clara entre dor crônica difusa e um gene único específico • A capacidade que algumas drogas antidepressivas têm de melhorar os sintomas sugerem que genes envolvidos nas vias de sinalização e metabolização da Serotonina e/ou Catecolaminas são indicativos de suscetibilidade • Genes relacionados à dor que tem sido associados com fibromialgia: ▪ COMT (Catecol O-Metiltransferase) → polimorfismos do COMT afetam a dor central, pois a COMT regula o catabolismo de neurotransmissores como epinefrina, norepinefrina e dopamina ▪ Receptores opioides ▪ Canais de voltagem de sódio ▪ GABA (ácido gama-aminobutírico) ▪ GTP ciclo-hidrolase 1 • Genes específicos envolvidos na via da serotonina também aumentam o risco de condições como a fibromialgia. Porém, é difícil determinar se são marcadores de um estado psicológico ou de propensão à dor ➢ PROCESSAMENTO DA DOR ALTERADA NO SNC: • Somatório temporal da dor → pacientes com fibromialgia experimentam níveis mais altos da intensidade da dor quando realizados estímulos receptivos nocivos • Inibição endógena da dor diminuída → sistemas analgésicos endógenos são deficientes na fibromialgia. Há tanto uma redução do controle inibitório difuso nocivo quanto uma inabilidade em inibir estímulos sensoriais irrelevantes provindos de uma estimulação não dolorosa repetitiva • Receptores de dor e neuropeptídeos relacionados à dor → há alterações nos receptores opioides, incluindo regulação positiva na periferia e redução no cérebro. A substância P, um neuropeptídeo associado com estados crônicos de dor, está aumentada no líquor de pacientes com fibromialgia. Além disso, o fator neurtrófico derivado do cérebro (BNDF) tem sido encontrado em pacientes com fibromialgia • Aumento do glutamato no córtex posterior da ínsula → níveis aumentados estão associados com menores limiares de dor ➢ ALTERAÇÕES DE SONO/HUMOR/COGNITIVAS: • Umadisfunção do SNC subjacente é sugerida pelos distúrbios do sono, humor e cognitivos observados na maioria dos pacientes com fibromialgia • Alguns estudos demonstraram que o sono não reparador foi um fator preditor independente de início do quadro de dor difusa → pode levar a uma menor atividade de sistemas descendentes de controle da dor • Os distúrbios do sono, humor e cognitivos estão interconectados e correlacionam-se com a severidade da dor na fibromialgia • Hiperatividade da amigdala (grau de alerda a estímulos externos) → ínsula e amígdala integram o sistema nociceptivo ao circuito cerebral de emoções. A hiperatividade desse sistema corresponde a uma resposta emocional exacerbada • Uma maior conectividade entre neurônios do córtex sensorial está associada a maiores níveis de hipervigilância e catastrofização ➢ ESTRESSE/DISFUNÇÃO DO SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO: • A associação de dor com anormalidades do sono, humor e cognição tem sido ligada à reatividade ao estresse e disfunção do sistema nervoso autônomo (SNA) na fibromialgia. Distúrbios do sono aumentam a dor, que por sua vez aumentam a reatividade simpática cardiovascular • Anormalidades no eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA) → ocorrem devido à hiperatividade da resposta ao estresse ➢ MECANISMOS DE DOR PERIFÉRICA: • Geradores de dor periférica na fibromialgia incluem pontos de gatilho miofascial, pontos de gatilho ligamentosos, ou osteoartrite das articulações e da coluna ➢ ANORMALIDADES IMUNOLÓGICAS: • Existem poucas evidências que apoiam o conceito de que a fibromialgia é uma doença imunomediada • Uma revisão sistemática e metanálise realizada em 2011 concluiu que o papel das citocinas na FM é incerto → pacientes com FM tinham níveis séricos mais altos do antagonista do receptor de IL-1, IL-6, e IL-8 e tinham níveis • plasmáticos mais altos de IL-8. A metanálise com os estudos elegíveis mostrou que pacientes com FM tinham níveis plasmáticos de IL-6 mais altos comparados com controles MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ➢ Generalidades sobre o quadro clínico: • A fibromialgia caracteriza-se por dor musculoesquelética generalizada, acompanhada por outros sintomas somáticos, particularmente fadiga e distúrbios do sono, bem como distúrbios cognitivos • Exame físico → revela sensibilidade em vários locais anatômicos do tecido mole • Exames laboratoriais → são normais na ausência de outras doenças • Distúrbios vistos com maior frequência em pacientes com fibromialgia quando comparado à população geral: ▪ Síndrome do Intestino Irritável (em 50 – 80% dos casos) ▪ Enxaqueca (em 50% dos casos) • Características de outros distúrbios associados que podem simular ou exacerbar os sintomas da fibromialgia: ▪ Formas crônicas de artrite → dor musculoesquelética ▪ Depressão, Apneia obstrutiva do sono e Síndrome das pernas inquietas → distúrbios do sono e fadiga Fonte: Aula, Medcurso 2019, Sanar e UpToDate 2020 3 FIBROMIALGIA (FM) Gizelle Felinto ➢ PRINCIPAIS SINTOMAS → presentes por pelo menos 3 meses e não explicados por qualquer outra condição médica • Dor Musculoesquelética Generalizada: ▪ É a manifestação cardinal da fibromialgia ▪ Também chamada de dor multisite (MSP) ▪ Normalmente, pelos menos 6 locais estão envolvidos em pacientes com fibromialgia: ✓ Cabeça ✓ Cada braço ✓ Tórax ✓ Abdômen ✓ Cada perda ✓ Parte superior das costas e coluna vertebral ✓ Parte inferior das costas e coluna (incluindo as nádegas) ▪ Incialmente, a dor pode ser localizada → geralmente no pescoço e nos ombros ▪ Pacientes descrevem que sentem dor predominantemente em todos os músculos, mas frequentemente afirmam que suas articulações doem e, às vezes, descrevem edema articular, embora sinovite não esteja presente no exame ✓ “Sinto como se estivesse doendo tudo” ou “Sinto como se estivesse sempre gripado” • Fadiga e Distúrbios do Sono → são características centrais do diagnóstico de fibromialgia ▪ Fadiga persistente moderada a grave ▪ Tanto atividades menores quanto a inatividade agravam os sintomas de dor e fadiga ▪ Pacientes ficam rígidos pela manhã e não se sentem revigorados, mesmo que tenham dormido 8 a 10h ▪ Rigidez matinal → pode ser difícil de diferenciar da rigidez matinal das doenças reumáticas, como na Artrite Reumatóide ou Polimialgia Reumática ▪ Esses indivíduos acordam frequentemente nas primeiras horas da manhã e têm dificuldade para voltar a dormir ▪ Fadiga → pode ser uma sensação de exaustão física e/ou emocional contínua ▪ Distúrbios do Sono → esses indivíduos costumam ter alterações eletroencefalográficas durante o sono, com predomínio de ondas alfa e delta (sono de ondas lentas) ➢ OUTROS SINTOMAS COMUNS: • Perturbações Cognitivas → estão presentes na maioria dos pacientes ▪ São frequentemente chamados de “névoa fibro” ▪ Pacientes geralmente descrevem: ✓ Problemas de atenção e dificuldade de realizar tarefas que exigem mudanças rápidas de pensamento ▪ Testes neuropsicológicos → revelam anormalidades diferentes daquelas encontradas em transtornos psiquiátricos ✓ Déficits cognitivos subjetivos são muito mais comuns do que mudanças nas medidas objetivas, seja por imagens do cérebro ou instrumentos validados ▪ Esses comprometimentos cognitivos podem ser explicados tanto pelos níveis de dor quanto pela depressão • Sintomas psiquiátricos → depressão e/ou ansiedade estão presentes em 30 – 50% dos pacientes no momento do diagnóstico ▪ Outros transtornos que também são mais comuns em pacientes com fibromialgia do que no restante da população: ✓ Transtornos de ansiedade ✓ Transtorno bipolar ✓ Transtorno de estresse pós-traumático ✓ Características de catastofização e Alexitimia • Cefaleia → estão presentes em mais de 50% dos pacientes com fibromialgia ▪ Enxaqueca → a fibromialgia é especialmente comum em pacientes com enxaqueca episódica ▪ Cefaleia tensional ▪ Cefaleia do tipo mista ▪ A fibromialgia pode se correlacionar com a frequência das dores de cabeça, ansiedade, sensibilidade pericraniana, sono insatisfatório e deficiência física • Parestesias → dormência, formigamento, queimação ou sensação de rastejar, especialmente nos braços e nas pernas ▪ São frequentemente relatadas ▪ A menos que um distúrbio neurológico esteja presente concomitantemente, como síndrome do túnel do carpo ou radiculopatia cervical, uma avaliação neurológica detalhada ou um teste eletrofisiológico formal geralmente não é digno de nota • Outros Sintomas e Distúrbios: ▪ Dor pélvica/abdominal ▪ Síndrome do Intestino Irritável → é a síndrome gastrointestinal mais comum ▪ Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) → é mais comum na fibromialgia do que na população em geral ▪ Sintomas urinários → urgência miccional, polaciúria ▪ Sintomas de disfunção do sistema nervoso autônomo: ✓ Olhos seco → é 1,4 vezes mais comum na fibromialgia do que na população em geral ✓ Pseudo-Raynaud (Fenômeno de Raynaud - FRy) → é comum na fibromialgia, embora as anormalidades termográficas e microvasculares vistas no FRy primário não estejam presentes ✓ Hipotensão ortostática e variabilidade alterada da frequência cardíaca ▪ Perda auditiva → 4 a 5 vezes mais relatada em pacientes com fibromialgia do que na população em geral EXAME FÍSICO ➢ O exame físico tem 2 objetivos: • Afastar outras doenças reumáticas Fonte: Aula, Medcurso 2019, Sanar e UpToDate 2020 4 FIBROMIALGIA (FM) Gizelle Felinto • Revelar a presença de tender points → é a única alteração encontrada no exame físico ➢ Tender Points: • São pontos bastante sensíveis à digitopressão • A palpação desses pontos deve ser feita com a polpa do polegar, com força suficiente para alterar a coloração da unha de rosa para branca e, caracteristicamente, desencadeia uma dor intensade origem muscular e/ou aponeurótica • 18 tender points: ▪ Cervical lateral/suboccipital ▪ Ponto médio da borda superior do trapézio ▪ Região supraescapular ▪ Junção costocondral da 2ª costela ▪ Epicôndilo lateral ▪ Região glútea laterossuperior ▪ Região do trocânter maior ▪ Região medial acima do joelho ▪ O comprometimento é sempre bilateral, por isso que são 18 pontos ➢ Em pacientes com fibromialgia o único achado presente no exame físico é a sensibilidade à palpação modesta em vários locais de tecidos moles, principalmente (mas não exclusivamente) nos locais de pontos doloridos ➢ Os pacientes não ficam tão doloridos nas articulações ➢ A fibromialgia não causa inchaço ou eritema de tecidos moles ou nas articulações ➢ AVALIAÇÃO NEUROLÓGICA → às vezes, revela pequenas anormalidade sensoriais e motoras na ausência de outra condição ➢ Não há sinais de sinovite, tenossinovite ou tendinite no exame físico ➢ A força muscular é normal ➢ O exame de sensibilidade e de reflexos tendinosos não revela alterações sugestivas de neuropatia periférica ou radiculopatia ➢ Podem ser encontrados “nódulos musculares” → são pontos de consistência aumentada nos músculos, geralmente coincidentes com os tender points, em razão de espasmo muscular ➢ Pode haver hipersensibilidade cutânea, além de dermografismo e hiperemia reativa ao estímulo cutâneo EXAMES LABORATORIAIS ➢ A fibromialgia não causa anormalidades nos testes laboratoriais de rotina ou de imagem CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO/DIAGNÓSTICO ➢ CRITÉRIOS PARA CLASSIFICAÇÃO DA SÍNDROME DA FIBROMIALGIA PELO COLÉGIO AMERICANO DE REUMATOLOGIA (ACR) DE 1990: • Paciente deve ter as duas seguintes: 1. Dor difusa por > 3 meses ✓ Dor difusa → dor nos 4 quadrantes (da cintura para baixo e da cintura para cima e do lado direito e esquerdo do corpo) + dor axial 2. Presença de 11 dos 18 pontos dolorosos (tender points) • Sensibilidade de 84% e Especificidade de 87% • Pontos dolorosos (tender points): ▪ Como fazer → aplica-se uma força de 4kg/cm2 de superfície corpórea ▪ Para confirmar a presença de fibromialgia, deve haver dor em 11 desses 18 pontos: ✓ Região suboccipital (direita e esquerda) ✓ Bordo supero-medial da escápula ✓ Terço médio do trapézio ✓ Bordo anterior do terço inferior do esternocleidomastóideo ✓ 2ª articulação costocondral paraesternal ✓ Um pouco abaixo do epicôndilo lateral ✓ Perto do trocânter maior do fêmur ✓ Coxim gorduroso de face medial do joelho ✓ Parte supero-medial do quadrante interno do glúteo • Com o tempo, identificou-se que esses pacientes tinham também outros sintomas associados e que para se avaliar o tender points era necessário fazer um treinamento com o profissional que fosse avaliar, assim alguns profissionais não eram treinados para avaliar o tender poits. Isso fez com que, em 2010, o ACR criasse novos critérios de classificação da fibriomialgia ➢ CRITÉRIOS PARA CLASSIFICAÇÃO DA SÍNDROME DA FIBROMIALGIA PELO COLÉGIO AMERICANO DE REUMATOLOGIA (ACR) DE 2010: • Criou-se critérios que foram divididos em 2 domínios: ▪ Índice de Dor Generalizada (IDG) ▪ Escala de Gravidade de Sintomas (EGS) • Na época em que esses critérios foram elaborados a fibromialgia era considerada um diagnóstico de exclusão (ou seja, só se poderia aplicar os critérios quando fossem excluídas quaisquer outras doenças) • Os sintomas devem estar presentes por pelo menos 3 meses • Esses critérios tem uma Sensibilidade de 86% e uma Especificidade de 90% • Índice de Dor Generalizada (IDG): ▪ São 19 localizações do corpo ▪ Marca-se as áreas em que o paciente sofreu dor nos últimos 7 dias → Pergunta-se ao paciente se nos últimos 7 dias ele sentiu ou está sentindo dor em alguma dessas localizações ▪ Cada local com dor equivale a um ponto Fonte: Aula, Medcurso 2019, Sanar e UpToDate 2020 5 FIBROMIALGIA (FM) Gizelle Felinto ▪ Variação → 0 – 19 pontos • Escala de Gravidade de Sintomas (EGS): ▪ Variação → 0 – 12 • Com esses critérios, considera-se fibromialgia caso se tenha os 3 seguintes: ▪ IDG ≥ 7 + EGS ≥ 5 ou ▪ IDG de 3 a 6 + EGS ≥ 9 e ▪ Sintomas estáveis e presentes por pelo menos 3 meses e ▪ Não haver outra causa que explique os sintomas • Porém devido à difícil aplicabilidade desses critérios, isso acabou sendo modificado. Assim, em 2011, houve uma necessidade de readaptar esses critérios ➢ CRITÉRIOS PARA CLASSIFICAÇÃO DA SÍNDROME DA FIBROMIALGIA PELO COLÉGIO AMERICANO DE REUMATOLOGIA (ACR) DE 2011: • Tentou-se elaborar critérios que pudessem ser autoaplicáveis. Ou seja, que não apenas o médico pudesse avaliar, mas que o próprio paciente também possa preencher esses critérios e saber se tem ou não fibromialgia, podendo ser utilizado em estudos epidemiológicos para fins de pesquisa • Escore de Severidade de Fibromialgia (IDG + EGS ≥ 12)→ o IDG associado ao EGS se somado ≥ 12, considera-se o paciente com fibromialgia • Assim, a mudança foi que os sintomas somáticos presentes nos critérios de 2010, viraram outro domínio em 2011 ESCALA DE GRAVIDADE DE SINTOMAS (EGS) SINTOMAS SEM PROBLEMAS LEVES/ INTERMITENTES MODERADOS/ FREQUENTEMENTE PRESENTES GRAVES/ CONTÍNUOS Fadiga (cansaço ao executar atividades) 0 1 2 3 Sono não reparador (acordar cansado) 0 1 2 3 Sintomas cognitivos (dificuldade de memória, concentração) 0 1 2 3 Para os sintomas abaixo, considerar os últimos 6 meses Sintomas que causam distúrbios significativos: Depressão: (1) Sim (2) Não Cefaleia: (1) Sim (2) Não Dor/Câimbra em abdome inferior: (1) Sim (2) Não Total (cada sim vale 01 ponto): • Variação → 0 – 12 pontos • Porém, em 2016 esses critérios foram rediscutidos ➢ CRITÉRIOS PARA CLASSIFICAÇÃO DA SÍNDROME DA FIBROMIALGIA PELO COLÉGIO AMERICANO DE REUMATOLOGIA (ACR) DE 2016: • Novos conceitos: 1. Dor difusa em 4 de 5 regiões (membros superiores, membros inferiores e região axial) → deve-se ter pelo menos 4 dessas 5 regiões com dor e essa dor deve estar presente por pelo menos 3 meses ✓ Não se considera mandíbula, tórax e abdômen 2. Propôs a validade do diagnóstico independentemente de outros diagnósticos (deixa de ser um diagnóstico de exclusão) → pois há uma maior prevalência de fibromialgia em pacientes com doenças crônicas 3. IDG ≥ 7 + EGS ≥ 5 ou IDG de 4 a 6 + EGS ≥ 9 ➢ Novas Diretrizes para o Diagnóstico da Fibromialgia (Sociedade Brasileira de Reumatologia): • A presença da dor difusa é fundamental para o diagnóstico de pacientes com suspeita de Fibromialgia • Recomendação → o diagnóstico de Fibromialgia deve ser feito com os critérios de 1990 associados aos critérios de 2010 que foram modificados em 2016, pois aumenta a acurácia diagnóstica. Isso não significa dizer que o paciente tem que preencher ambos os critérios, ele pode preencher apenas um dos dois. Porém, usando os dois critérios identifica-se mais a fibromialgia do que apenas utilizando um Fonte: Aula, Medcurso 2019, Sanar e UpToDate 2020 6 FIBROMIALGIA (FM) Gizelle Felinto • Recomendação → a Fibromialgia não deve ser considerada como diagnóstico de exclusão, mas sugerimos sempre considerar os diagnósticos diferenciais com outras síndromes ou doenças com sintomas semelhantes, como recomendado pelos critérios do ACR 2010 • Na prática, são mais utilizados os tender points DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ➢ É feito com outras doenças que podem causar dor difusa ➢ Hipotireoidismo → pode se manifestar com mialgia difusa, confundindo-se com a fibromialgia. Às vezes, os sintomas e sinais típicos do hipotireoidismo podem ser sutis. Deve ser realizada a dosagem de hormônios tireoidianos ➢ Doenças Inflamatórias Reumatológicas(Ex: Artrite Reumatóide) → geralmente apresentam sinais flogísticos nas articulações, anemia de doença crônica, aumento de VHS • Artrite Reumatóide (AR) → altos títulos de fator reumatóide e alteração radiológica das mãos falam a favor de AR • Lúpus Eritematoso Sistêmico → altos títulos de Fator Antinuclear (FAN) e alteração cutâneas e/ou sistêmicas • Polimialgia reumática →costuma se manifestar em idosos, caracterizando-se por dor e rigidez nas cinturas escapular e pélvica, associada a um aumento significativo do VHS, discreta anemia e uma pronta resposta aos corticosteroides ➢ Uso de medicações: • Estatinas • Bisfosfonatos → são usados na osteoporose • Inibidores da Aromatase → usados no câncer • Opioides ➢ Neuropatias: • Neuropatias periféricas • Radiculopatias • Miastenia gravis ➢ Doenças ósseas: • Hiperparatireoidismo • Osteomalácia ➢ Doenças musculares ➢ Doenças neurológicas ➢ Síndrome de Sjogren EXAMES COMPLEMENTARES ➢ Nos critérios diagnósticos da doença não há necessidade de solicitação de exames. Porém, se, após a anamnese e o exame físico, há dúvida diagnóstica e suspeita de ser outra doença que não seja a fibromialgia deve-se pedir exames complementares de acordo com a dúvida • Ex: paciente com muita fadiga e é obesa → uma doença que pode causar esse quadro é o hipotireoidismo. Assim, avalia- se a necessidade de pedir uma função tireoidiana ➢ Pede-se exames complementares quando: • Se tem gatilhos periféricos que podem estar atuando • Há hipóteses de diagnósticos diferenciais • Há uma outra doença associada à fibromialgia ➢ Provas de Atividade Inflamatória → pede-se para alguns pacientes, pois alguns pacientes podem ter VSH e PCR positivos • Pois são exames baratos e existem doenças inflamatórias que tem início com poliartralgia e mialgia. Assim, pede-se esses exames para analisar se não pode ser uma doença inflamatória começando ➢ Não são exames para diagnóstico: • Exames de sangue • Exames de imagem • Termografia • Polissonografia (exame para avaliar o sono) ➢ Não realizar Dosagem de Autoanticorpos! → pessoas sem doença alguma podem ter autoanticorpos, mas isso não quer dizer que elas tenham alguma doença autoimune. Assim, o autoanticorpo só deve ser pedido dentro de um contexto clínico, pois ele pode positivar em pessoas sem doença autoimune, confundindo o diagnóstico TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO ➢ EDUCAÇÃO: • Deve-se discutir com o paciente sobre a doença, para que ele conheça seus sintomas, os objetivos e as etapas do tratamento • Participação ativa do paciente na estratégia terapêutica e nos fatores que influenciam sua sintomatologia • Orientar contra medidas com eficácia duvidosa • Educação Individual ou em grupo, educando também a família • Terapia multicomponente → atividades educacionais + exercícios (dor e fadiga) ▪ Os exercícios são comprovadamente situações que melhoram a dor e a fadiga, pois liberam endorfinas (Serotonina endógena), o que melhora a sensação de bem estar, a dor, o sono, a fadiga... ➢ EXERCÍCIOS: • Mecanismos de ação envolvidos: ▪ Aumento dos níveis de serotonina, melhorando depressão, dor e distúrbios do sono ▪ Estimulação da produção de GH-IGF1, interferindo na dor e fadiga ▪ Regulação do eixo Hipotálamo-Pituitária-Adrenal (HPA) e sistema nervoso autônomo, diminuindo dor, distúrbio do sono, ansiedade, pseudo-Raynaud, sintomas de secura, alteração do hábito intestinal, lipotimia e outros sintomas relacionados à disautonomia • Tem baixo custo, a depender do perfil do paciente, e é seguro • Recomendações para o tratamento da Fibromialgia (EULAR, 2017): ▪ Exercícios Aeróbicos → melhoram a função e a dor, os aspectos emocionais e a qualidade de vida ▪ Exercícios de solo e água → são igualmente efetivos ▪ A associação de exercícios parece ser superior à isolada ▪ Pilates → leva a bons resultados, mas o seu problema é o custo ▪ Exercícios personalizados, levando-se em conta as peculiaridades dos pacientes Fonte: Aula, Medcurso 2019, Sanar e UpToDate 2020 7 FIBROMIALGIA (FM) Gizelle Felinto ▪ Treinos de resistência → melhora a dor e função ➢ TERAPIAS PSICOLÓGICAS: • A participação dos mecanismos de estresse pode ser corrigida com técnicas psicológicas: ▪ Terapia Cognitiva Comportamental (EULAR, 2017) • Outras modalidades → intervenções de realidade virtual, técnicas de meditação, terapia de comprometimento e aceitação (TCA), terapia interpessoal breve, terapia do espelho, terapia corpo-mente (EULAR, 2017) ➢ OUTRAS MODALIDADES NÃO FARMACOLÓGICAS: • Acupuntura • Hidroterapia • Técnicas de meditação → Tai chi, Yoga, Terapia de Consciência Corporal, Qigong ▪ Estudos demonstraram que essas técnicas orientais de meditação têm bons resultados TRATAMENTO FARMACOLÓGICO ➢ Pode ser utilizado e deve levar em consideração: • Limitações dos medicamentos • Geradores periféricos de dor • Comorbidades • Influência dos aspectos emocionais ➢ ANTIDEPRESSIVOS: • Ação → atuam no sistema descendente inibitório do estímulo doloroso, inibindo a recaptação de monoaminas • TRICÍCLICOS: AMITRIPTILINA NORTRIPTILINA ▪ Melhoram a dor, o sono e a fadiga ▪ Causam um pouco de sedação → por isso que, geralmente, são prescritos para tomar à noite ▪ Doses → são mais baixas do que as utilizadas para a depressão (na depressão são usadas até 150mg/dia) ✓ 12,5 – 50mg/dia ▪ Quando se atinge a dose de 50mg/dia, por exemplo, não adiantar tentar aumentar a dose. Assim, deve-se associar a outra medicação ou troca por outra ▪ Efeitos Adversos: ✓ Ganho de peso ✓ Sonolência excessiva ✓ Obstipação intestinal ✓ Perda da libido ✓ Aumento da pressão intraocular → evita-se usar em pacientes com Glaucoma • ANTIDEPRESSIVOS DUAIS: DULOXETINA MILNACIPRAM VENLAFAXINA ▪ Ação → inibição da recaptação de norepinefrina e serotonina ▪ Um estudo sobre a Venlafaxina mostrou que ela melhora a fadiga dos pacientes, mas não é muito boa para dor ▪ Duloxetina → pode melhorar a fadiga e também é boa para a dor ▪ Doses → 60 – 120mg/dia • INIBIDORES SELETIVOS DA RECAPTAÇÃO DE SEROTONINA (ISRS): FLUOXETINA ▪ A fluoxetina tem eficácia analgésica pobre. Assim, não serve para o tratamento da dor da fibromialgia ▪ Só se utiliza a fluoxetina quando o paciente está fazendo uso de uma medicação para a dor e se encontra deprimido. Assim, usa-se a Fluoxetina para tratar a depressão desse paciente ▪ Pode ser usada em combinação com os tricíclicos ▪ Seu uso isolado não é recomendado ➢ MIORRELAXANTES: CICLOBENZAPRINA (Ex: Musculare®) • Tem uma estrutura tricíclica em sua molécula, fazendo com que seus efeitos colaterais sejam bem parecidos com os dos antidepressivos tricíclicos, mas eles não são um antidepressivo • Evita-se associar Ciclobenzaprina com um Antidepressivo Tricíclico • Não tem ação antidepressiva • Ação → reduz a atividade do neurônio motor eferente e na dor, por meio da inibição da recaptação de Serotonina • Doses → 10 – 40mg/dia • Alivia a dor, a fadiga e melhora a qualidade do sono ➢ GABAPENTINOIDES: • Ação → redução da aferência do estímulo doloroso, por meio da atuação nos canais de cálcio do neurônio pré- sináptico PREGABALINA: ▪ É o mais prescrito e que tem melhores resultados ▪ Melhora a dor, a fadiga e o sono ▪ Doses → 150 – 300mg/dia ▪ Efeitos Adversos semelhantes aos antidepressivos → Tontura, Sedação ▪ Alto custo GABAPENTINA: ▪ Melhora a dor ▪ Doses → 1200 – 2400mg/dia ▪ O EULAR afirma para não se utilizar Gabapentina, pois nos estudos tiveram poucos resultados. Porém, na prática, ela é prescrita, pois se tem uma portaria no Ministério da Saúde que dá a Gabapentina para tratar dor crônica ➢ ANALGÉSICOS: TRAMADOL ▪ O Tramadol tem uma ligeira ação inibitória darecaptação de serotonina e noradrenalina (efeito discreto) ▪ Usa-se isolado ou associado ao Paracetamol • Dos analgésicos opioides, o Tramadol é o utilizado • Não se utiliza Morfina e Codeína, pois não melhora a dor do paciente Fonte: Aula, Medcurso 2019, Sanar e UpToDate 2020 8 FIBROMIALGIA (FM) Gizelle Felinto ➢ ANTI-INFLAMATÓRIOS → geralmente não se utiliza, pois não resolve a dor Ibuprofeno, Diclofenaco, Meloxicam... • Exceção para o uso: presença de gatilho periférico → Ex: paciente com uma tendinite do ombro, que é um gatilho periférico, associada à fibromialgia. Assim, o anti- inflamatório é prescrito para tratar esse gatilho periférico ➢ Em relação aos DISTÚRBIOS DO SONO: • Pode-se fazer uso de INDUTORES DO SONO: ZOLPIDEM (5 a 10mg) ZOPLICONE (7,5mg) CLONAZEPAM → só se utiliza se o paciente tem mioclonias e síndrome das pernas inquietas ▪ Não tratam a fibromialgia, mas sim o distúrbio do sono ▪ Assim, se o paciente consegue dormir melhor, fazendo uso dessas medicações, consequentemente há melhora da dor e da fadiga ➢ A escolha de determinada droga deve ser baseada de acordo com o padrão de queixas do paciente → Exemplos: • Dor + insônia → usar drogas com efeito analgésico e facilitador do sono, como: ▪ AMITRIPTILINA ou GABAPENTINA ou PREGABALINA • Dor + depressão/ansiedade → usar drogas com efeito analgésico e antidepressivo/ansiolítico, como: ▪ DULOXETINA ou MILNACIPRAM ➢ Tratamento da dor miofascial → é um tratamento local, principalmente com técnicas de alongamento ou aplicação tópica de frio ou calor. Anestesia local periódica com lidocaína vem sendo usada com sucesso nestes pacientes ➢ Tratamento da Síndrome da Fadiga Crônica → é muito mais focado em hábitos de vida, com programas de exercícios graduais e estímulo cognitivo, do que em tratamento medicamentoso, já que a resposta aos tricíclicos e a outras classes de medicamentos normalmente utilizadas na fibromialgia não tem benefício comprovado neste subgrupo de pacientes CONSIDERAÇÕES FINAIS ➢ A fibromialgia não é uma doença de caráter psicológico, mas sim uma síndrome de sensibilização central que tem relação com uma alteração das vias nociceptivas ➢ É uma doença de abordagem multidisciplinar ➢ Relação Fibromialgia x Trabalho → os pacientes tem uma relação ruim com o trabalho, pois eles acham que estão com dor e não podem trabalhar. Assim, tenta-se não afastar os pacientes do trabalho, pois os pacientes com fibromialgia que se afastam do trabalho não melhoram. Dessa forma, o ideal é que eles continuem trabalhando, mas respeitando suas limitações, realizem exercícios físicos... ➢ “Vulto da compensação” (benefício secundário) → alguns pacientes começam a ganhar com a doença, se afastando do trabalho... ➢ É de suma importância a realização de atividade física
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