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Enrico Biscarde – 5º Semestre de Medicina (2020.2) Manejo de vias aéreas O controle da via aérea representa um desafio em várias especialidades médicas, com destaque para anestesiologia, terapia intensiva, medicina de emergência e cirurgia de cabeça e pescoço. Para o efetivo controle dessa via, a conduta deverá incluir as seguintes ações: realizar uma avaliação clínica pormenorizada que permita identificar antecipadamente adversidades para ventilação sob máscara facial ou intubação traqueal, definir o risco de aspiração do conteúdo gástrico e planejar estratégias de resgate em caso de falha da abordagem inicial. A oxigenação do paciente é prioridade. ANATOMIA FUNCIONAL DA VIA AÉREA: O conhecimento da anatomia permitirá o planejamento da melhor técnica a ser utilizada a partir de preditores clínicos de via aérea difícil e o posicionamento do paciente. As estruturas anatômicas e as principais implicações estão expostas no quadro abaixo. Enrico Biscarde – 5º Semestre de Medicina (2020.2) Cabe a aplicação e intepretação funcional das características anatômicas, como as distâncias para a instalação adequada do tubo traqueal. Como resultado, evita-se a intubação endobrônquica inadvertida e a extubação acidental. Anatomia Aplicada: Faringe: A faringe é dividida em nasofaringe, orofaringe e laringofaringe • A nasofaringe é constituída pelas vias nasais, aí incluídos septo, conchas nasais e adenoides. • A orofaringe consiste na cavidade oral, incluídos os dentes e a língua. • A epiglote divide a laringofaringe em laringe (que leva à traqueia) e hipofaringe (que leva ao esôfago). Laringe: A laringe, localizada no nível da quarta à sexta vértebra cervical, origina-se no ádito da laringe e termina na borda inferior da cartilagem cricóidea. É constituída por nove cartilagens, três ímpares (tireóidea, cricóidea e epiglótica) e três pares (corniculadas, cuneiformes e aritenóideas); ligamentos e músculos. A cartilagemcricóidea (C5-6), localizada logo inferior à cartilagemtireóidea, é o único anel completo de cartilagem na árvore respiratória. A membrana cricotireóidea une as cartilagens tireóidea e cricóidea e mede 0,9 × 3,0 cm em adultos. A membrana é superficial, fina e não tem vasos importantes na linha mediana, o que a torna importante local para acesso cirúrgico de emergência às vias respiratórias (ver cricotiroidotomia, adiante). Os músculos laríngeos são divididos em dois grupos: músculos que abrem e fecham a glote (cricoaritenóideo lateral [adução], cricoaritenóideo posterior [abdução] e aritenóideo transverso) e músculos que controlam a tensão dos ligamentos vocais (cricotireóideo, vocal e tireoaritenóideo). Enrico Biscarde – 5º Semestre de Medicina (2020.2) Inervação: ➢ Sensorial ➔ O nervo glossofaríngeo (nervo craniano IX) é responsável pela inervação sensorial do terço posterior da língua e da orofaringe desde a junção com a nasofaringe, aí incluídas as superfícies faríngeas do palato mole, epiglote e fauces, até a junção da faringe com o esôfago. O ramo interno do nervo laríngeo superior, um ramo do nervo vago (nervo craniano X), é responsável pela inervação sensorial da mucosa desde a epiglote até as pregas vocais, inclusive. As fibras sensoriais do nervo laríngeo inferior, um ramo do nervo laríngeo recorrente (também um ramo do nervo vago), são responsáveis pela inervação sensorial da mucosa da laringe subglótica e da traqueia. ➢ Motora → O ramo externo do nervo laríngeo superior é responsável pela inervação motora do músculo cricotireóideo. A contração desse músculo tensiona as pregas vocais. As fibras motoras do nervo laríngeo inferior são responsáveis pela inervação motora de todos os outros músculos intrínsecos da laringe. A lesão bilateral dos nervos laríngeos inferiores (p. ex., por lesão dos nervos laríngeos recorrentes) pode causar contração sem oposição do músculo cricotireóideo, com consequente tensão das pregas vocais e fechamento das vias respiratórias. OBS: Danos ao nervo Laríngeo recorrente pode causar paralisias do músculo cricoaritenoideo → principal responsável pela abdução das cordas vocais Glote: A glote é formada pelas pregas vocais, pregas vestibulares e pela rima da glote. A rima da glote é a abertura entre as pregas vocais. A glote é o ponto mais estreito da via respiratória do adulto (mais de 8 anos de idade), enquanto a cartilagem cricóidea é o ponto mais estreito da via respiratória do lactente (nascimento até 1 ano de idade). Vias Respiratórias Inferiores: As vias respiratórias inferiores estendem-se da laringe subglótica até os brônquios. Enrico Biscarde – 5º Semestre de Medicina (2020.2) A laringe subglótica estende-se das pregas vocais até a borda inferior da cartilagem cricóidea (C6). A traqueia é um tubo fibromuscular com 10 a 12 cm de comprimento e diâmetro aproximado de 20 mm em adultos. Estende-se da cartilagem cricóidea até a carina. É sustentada por 16 a 20 cartilagens em forma de U, com a extremidade aberta voltada posteriormente. A observação da ausência posterior de anéis cartilaginosos permite a orientação anteriorposterior durante o exame com fibroscópio da árvore traqueobrônquica. A traqueia bifurca-se em brônquios principais direito e esquerdo na carina. O brônquio principal direito tem cerca de 2,5 cm de comprimento, com um ângulo de bifurcação em torno de 25°. O brônquio principal esquerdo tem cerca de 5 cm de comprimento, com um ângulo de bifurcação em torno de 45°. Relações anatômicas relacionadas à permeabilidade da via aérea: A faringe constitui a via comum entre os tratos digestivo e respiratório. Sua permeabilidade é comprometida em pacientes sedados ou com alterações do nível de consciência, acarretando obstrução. A justificativa tradicional consiste no deslocamento da língua em direção à parede posterior da faringe, em decorrência da redução da atividade do músculo genioglosso. Contudo, o foco de interesse na atualidade é o segmento velofaríngeo. Ele está localizado adjacentemente ao palato mole e apresenta predisposição ao colapso. A resultante limitação do fluxo aéreo torna-se mais significativa em pacientes com desarranjos da fonação, apneia obstrutiva do sono e sob anestesia. Laringospasmo e lesões à inervação da via aérea: A laringe é dedicada ao mecanismo de constrição e relaxamento da VA. Está em continuidade com a traqueia e apresenta função de proteção. A constrição da laringe resulta em rápido fechamento para prevenir a entrada de líquidos e sólidos para a VA inferior. Também possui capacidade vibratória durante a passagem do ar expirado com produção de som. O estímulo do nervo laríngeo superior na topografia supraglótica pode induzir fechamento reflexo da glote. Outros nervos cranianos como trigêmeo e glossofaríngeo, em menor grau, também acarretam esse reflexo involuntário. Quando – após a cessação de estímulos – a glote permanecer fechada, está caracterizado o fenômeno de laringospasmo. Esse estado inicia-se com o estímulo repetitivo do nervo laríngeo superior e progride com a contração sustentada dos músculos adutores inervados pelo nervo laríngeo recorrente. AVALIAÇÃO DA VIA AÉREA: A avaliação da VA compreende a análise conjunta da história clínica e do exame físico, visando antever a presença de Via Aérea Difícil. Enrico Biscarde – 5º Semestre de Medicina (2020.2) As comorbidades que implicam modificações da anatomia da VA, como trauma cervical ou de face, diabetes, acromegalia, tumores, sequelas de queimaduras, trismo, abscessos e alterações congênitas, provocam marcante suspeita da presença de VAD. Considera-se que a facilidade de controle prévio da VA não é garantia de sucesso no futuro. A história de VAD representa o preditor mais confiável de adversidades. A acurácia diagnóstica em predizer uma VAD depende diretamente do hábitode avaliação da VA. Anamnese: A história pregressa de controle difícil das vias respiratórias pode ser o melhor preditor de dificuldade. Caso haja prontuários antigos à mão, convém rever a facilidade de intubação e ventilação (capacidade de ventilar com máscara, número de tentativas de intubação, tipo de lâmina de laringoscópio usada, emprego de estilete ou qualquer outra modificação da técnica). Também é preciso dar atenção especial às doenças que acometem as vias respiratórias. Há que pesquisar sintomas específicos relacionados com o comprometimento das vias respiratórias, entre eles rouquidão, estridor, sibilos, disfagia, dispneia e obstrução das vias respiratórias associada à posição. Artrite ou Doença do Disco Cervical: A artrite ou doença do disco cervical pode reduzir a mobilidade do pescoço. A instabilidade da coluna cervical e a limitação do movimento mandibular são comuns na artrite reumatoide; também pode haver acometimento das articulações temporomandibular e cricoaritenóidea. A manipulação cervical agressiva nesses pacientes pode provocar subluxação atlantoaxial e lesão medular. O risco de subluxação atlantoaxial é maior em pacientes com deformidades graves das mãos e nódulos cutâneos. Infecções: As infecções do assoalho da boca, glândulas salivares, tonsilas ou faringe podem causar dor, edema e trismo, com limitação da abertura da boca. Tumores: Tumores podem obstruir as vias respiratórias ou causar compressão extrínseca e desvio da traqueia. Obesidade: A obesidade mórbida está associada à dificuldade de controle das vias respiratórias. Embora a intubação difícil não seja a regra, pacientes obesos têm diminuição da capacidade residual funcional e alta incidência de apneia obstrutiva. Essa situação acarreta rápida dessaturação após indução da anestesia e alta incidência de dificuldade de ventilação com máscara. A obesidade mórbida associada a outros preditores de intubação difícil, como alta classe de Mallampati (III e IV) e aumento da circunferência cervical, prevê dificuldade de intubação. Trauma: O trauma pode estar associado a lesões das vias respiratórias, lesão da coluna cervical, fratura da base do crânio ou lesão intracraniana. Cirurgias, Radiação ou Queimaduras Prévias: Cirurgias, radiação ou queimaduras prévias podem causar fibrose, contratura e limitada mobilidade tecidual. Enrico Biscarde – 5º Semestre de Medicina (2020.2) Acromegalia: A acromegalia pode causar hipertrofia mandibular e supercrescimento e aumento da língua e epiglote. A abertura da glote pode estar estreitada em virtude do aumento das pregas vocais. Esclerodermia: A esclerodermia pode causar rigidez cutânea, diminuir o movimento da mandíbula e estreitar a abertura oral. Trissomia do 21: Pacientes com trissomia do 21 podem ter instabilidade atlantoaxial e macroglossia. Nanismo: O nanismo pode estar associado a instabilidade atlantoaxial e dificuldade de controle das vias respiratórias em função da hipoplasia mandibular (micrognatia). Outras Anomalias Congênitas: Outras anomalias congênitas podem complicar o controle das vias respiratórias, sobretudo em pacientes com anormalidades craniofaciais, como a síndrome de Pierre Robin, síndrome de Treacher Collins e síndrome de Goldenhar. Conceitos de via aérea difícil: Um dos obstáculos para se estabelecer preditores confiáveis de VAD é a padronização da definição sobre o que é a VAD. Em razão disso, a comparação entre estudos de fatores de risco e complicações torna-se complexa. Logo, procedem as seguintes definições em alinhamento com a presente tecnologia: Via Aérea Difícil: A definida quando um profissional experiente antecipa ou encontra dificuldade em alguma ou em todas as ações de VMF, laringoscopia direta (LD) ou indireta, como a videolaringoscopia (VLC), IT, instalação de DSG ou acesso cirúrgico. Ventilação Sob Máscara Facial Difícil: Após manobras de facilitação (posicionamento da cabeça e pescoço, cânulas nasais ou orais, elevação da mandíbula, aplicação da VMF com duas mãos e auxílio de outro profissional), ocorrem um ou mais problemas, como vedamento facial inapropriado, escape ou resistência ao fluxo de oxigênio (O2). Os sinais de ventilação inadequada incluem: • Ausência ou inadequação dos movimentos do tórax, ou da ausculta ventilatória. • Ruídos sugestivos de obstrução grave. • Cianose. • Entrada de ar e dilatação do estômago. • Queda da saturação de oxigênio. • Ausência ou inadequação do dióxido de carbono (CO2) expirado e das medidas espirométricas do fluxo expiratório. • Hipertensão, taquicardia ou disritmias ligadas à hipóxia ou hipercapnia. Enrico Biscarde – 5º Semestre de Medicina (2020.2) Laringoscopia difícil: Consiste na exposição da laringe grau 3 ou 4, quantificada pela classificação de Cormack-Lehane modificada (figura abaixo), sendo aplicável à LD ou VLC. Deve ser acrescida do número de tentativas e uso de manobras auxiliares Classificação Cormack-Lehane: A classificação de Cormack e Lehane é utilizada para descrever o grau de visualização glótica sob laringoscopia direta Enrico Biscarde – 5º Semestre de Medicina (2020.2) • Grau I: Glote bem visível; • Grau II: Apenas parte posterior da glote visível; • Grau III: Somente a epiglote pode ser visualizada, nenhuma porção da glote é visível; • Grau IV: Nem a epiglote, nem a glote podem ser visualizadas Intubação traqueal difícil: O julgamento quanto à IT deve ser independente do grau de visualização da laringe. É definida pela presença de um ou todos estes critérios: • Múltiplas tentativas ou necessidade de mais de um profissional. • Uso de dispositivo introdutor para facilitar a IT (p. ex., bougie). • Falha do plano inicial para IT, com consequente mudança de dispositivo. Enrico Biscarde – 5º Semestre de Medicina (2020.2) Bougie: Um bougie ou um introdutor é usado quando há uma visão laringoscópica ruim e dificuldade em passar um tubo traqueal. Eles são moldados com uma curva próxima da ponta distal, o que facilita a colocação na via aérea. Um tubo endotraqueal pode ser avançado sobre o bougie ou o introdutor na via aérea. Ele possui a ponta arredondada e macia, em um formato alongado. O uso deste dispositivo acarreta uma inserção menos traumática, pois apresenta uma passagem mais fácil pela traqueia. Video Laringoscópio: Os videolaringoscópios podem ajudar a obter uma visão da laringe, fornecendo visualização indireta da abertura glótica sem o alinhamento dos eixos oral, faríngeo e traqueal e possibilitam a intubação traqueal em pacientes com condições (abertura limitada da boca, incapacidade de flexionar a pescoço) que possam tornar a laringoscopia tradicional difícil ou impossível. Há também uma visão ligeiramente melhorada da laringe porque a câmera está localizada mais distalmente na lâmina, proporcionando um campo visual mais amplo. As vantagens dos videolaringoscópios em comparação com a laringoscopia direta em bebês e crianças incluem (1) capacidade de visualização da abertura da glote e cordas vocais sem alinhamento dos eixos oral, faríngeo e laríngeo; (2) capacidade melhorada de visualização da abertura da glote e cordas vocais em pacientes com extensão limitada do pescoço, mandíbulas hipoplásicas ou via aérea anterior; e (3) capacidade de explicação, uma vez que o aluno e o professor podem visualizar o monitor ao mesmo tempo. As desvantagens incluem o requisito de abertura adequada da boca e a necessidade potencial de aumentar o tempo de intubação. A videolaringoscopia fornece algumas vantagens sobre a laringoscopia direta no paciente traumatizado. Ela oferece maior consciência situacional do grupo e o potencial para a força reduzida necessária para a visualização adequada da glote e é parte de muitas estratégias, melhorando a visualização na primeira tentativa. Em um contexto de aprendizagem,também permite uma supervisão melhor e uma orientação para os novatos. Enrico Biscarde – 5º Semestre de Medicina (2020.2) Broncofibroscopia: A intubação traqueal através de broncofibroscópia ótica não requer movimento do pescoço do paciente e pode ser realizada com o paciente desperto, antes da indução da anestesia geral, permitindo a avaliação da função neurológica do paciente após a intubação traqueal e posicionamento cirúrgico. Indicações: • VAD prevista; • Instabilidade em coluna cervical; • Lesão em VA superior por trauma; • Pode ser realizada com o paciente desperto e anestesia tópica Desvantagens: • Tempo necessário para configurar aparelho e preparar a VA; • Necessidade de treinamento; • Situações que dificultem a passagem ou visualização do aparelho (edema/sangue) Emprego de dispositivo supraglótico difícil: A dificuldade ou falha na oxigenação e ventilação resultante da complexidade no acesso à boca ou à hipofaringe, vedamento ou expansão pulmonar Via aérea cirúrgica transtraqueal difícil: A adversidade consiste em múltiplas tentativas ou tempo excessivo para estabelecer a VA cirúrgica aberta ou percutânea guiada por agulha Falência da via aérea: A consiste em notícia de alerta máximo para solicitação de auxílio e mudança de conduta, como resultado de: • Falha da IT com insucesso de três tentativas com qualquer técnica. • Falha da oxigenação – não intubo, não oxigeno (NINO): ocorre quando, em vista da falha de IT, não é possível oxigenar o paciente com VMF ou DSG. Extubação difícil: A retirada do TT é malsucedida sempre que houver necessidade de reintubação não antecipada Exame físico da via aérea: O exame físico da VA deve ser efetuado visando identificar se os dois principais objetivos no CVA podem ser atingidos: oxigenação e IT. Somente a combinação de múltiplos itens permite elevar o valor preditivo positivo de uma VAD antecipada. Logo, a avaliação de apenas um parâmetro, devido à baixa acurácia, não garante a visualização adequada da glote ou a segurança da VMF. Os testes à beira do leito não foram originalmente detalhados quanto ao modo de execução. A partir de então, buscou-se estabelecer as condições ótimas dos testes, em particular o de Mallampati. Com isso, Lewis e colaboradores realizaram estudo com 24 combinações de exames clínicos sob diferentes modos de aplicação. As recomendações para execução dos exames compreendem sua realização em posição sentada, com a cabeça completamente estendida, protrusão lingual com fonação e mensuração da distância tireomentoniana a partir da face interna do mento. Essa posição acarreta redução da classe do teste de Mallampati, com sensibilidade inalterada e aumento da especificidade e valor preditivo positivo. Outras recomendações compreendem o exame em posição supina associada à fonação. Enrico Biscarde – 5º Semestre de Medicina (2020.2) As informações do exame físico devem servir como fundamento para entender as adversidades daquele paciente, e principalmente como critério de seleção do dispositivo mais adequado para o caso. Tal fato impõe um encadeamento cognitivo, que resulta em redução de surpresas para o CVA. A criação de escores visa integralizar os elementos da avaliação da VA, dispostos nos Quadros abaixo. Outros autores consideram o risco de VMF impossível na presença de dois ou mais destes preditores independentes em ordem decrescente de importância: alterações cervicais por irradiação, gênero masculino, história de apneia obstrutiva do sono, teste de Mallampati classe III ou IV e presença de barba. Achados Específicos: • Incapacidade de abrir a boca; • Diminuição da mobilidade da coluna cervical; • Mandíbula muito pequena (micrognatia); • Língua grande (macroglossia); • Incisivos proeminentes; • Pescoço curto e musculoso Lesões: As lesões da face, pescoço ou tórax têm de ser avaliadas para apreciar sua contribuição no comprometimento das vias respiratórias. Exame da Cabeça e Pescoço: Não existe um preditor de dificuldade de controle das vias respiratórias ao exame físico que seja melhor que os outros; portanto, é necessário fazer um exame detalhado. A presença de vários preditores de dificuldade com as vias respiratórias aumenta a especificidade do exame. Nariz: A permeabilidade das narinas ou a presença de desvio de septo devem ser identificadas pela oclusão de uma narina por vez com avaliação da facilidade de ventilação pela outra narina. Isso é importante principalmente em caso de necessidade de intubação nasotraqueal. Boca: Identificar macroglossia e distúrbios que reduzam a abertura da boca (p. ex., cicatriz ou contratura facial e doença da articulação temporomandibular). Os problemas de dentição podem aumentar o risco de lesão ou avulsão de dentes durante a manipulação das vias respiratórias. É preciso identificar dentes frouxos antes da operação e protegê-los ou removê-los antes do início da manipulação das vias respiratórias. Enrico Biscarde – 5º Semestre de Medicina (2020.2) Pescoço: DISTÂNCIA TIREOMENTONIANA: Se a distância tireomentoniana (distância da borda inferior da mandíbula até a incisura tireóidea, com o pescoço em extensão total) for menor que 6 cm (largura de três a quatro dedos), pode ser difícil ver a glote. É preciso avaliar a mobilidade das estruturas laríngeas e a traqueia deve ser palpável na linha mediana acima da incisura jugular do esterno. Deve-se procurar cicatrizes de cirurgia prévia do pescoço, tireoide aumentada, outras massas paratraqueais e tecidos endurecidos sugestivos de radioterapia. MOBILIDADE DA COLUNA CERVICAL: Os pacientes devem conseguir encostar o queixo no tórax e estender o pescoço posteriormente. A rotação lateral não deve causar dor nem parestesia. TRAQUEOSTOMIA PRÉVIA: A presença de estoma de traqueostomia cicatrizado ou permeável pode indicar estenose subglótica ou4. a. b. c. d. complicações prévias no manejo das vias respiratórias. É preciso ter à mão cânulas traqueais (CT) de menor diâmetro para esses pacientes. Classificação Mallampati: A classificação de Mallampati para prever a dificuldade de intubação baseia-se na constatação de que a visualização da glote é prejudicada quando a base da língua é desproporcionalmente grande. A avaliação é feita com o paciente sentado ereto, cabeça em posição neutra, abertura máxima da boca e protrusão máxima da língua sem emitir som. A classificação modificada compreende as quatro categorias a seguir. Classe I: Identificar se os pilares das fauces, o palato mole e a úvula são visíveis. Classe II: Identificar se os pilares das fauces e o palato mole são visíveis, mas a úvula é encoberta pela base da língua. Classe III: Só o palato mole é visível. Há previsão de intubação difícil. Classe IV: O palato mole não é visível. Há previsão de intubação difícil. Enrico Biscarde – 5º Semestre de Medicina (2020.2) Exames Especiais: Na maioria dos pacientes, a anamnese e o exame físico meticulosos são suficientes para avaliar as vias respiratórias. As técnicas auxiliares são: Laringoscopia Direta: A laringoscopia (direta, indireta ou com fibra óptica) oferece informações sobre a hipofaringe, o ádito da laringe e a função das pregas vocais. Pode ser realizada no paciente consciente sob anestesia tópica ou bloqueio de nervo. Exames de Imagens: As imagens do tórax ou da coluna cervical podem mostrar desvio ou estreitamento da traqueia e deformidades ósseas no pescoço. As imagens da coluna cervical são especialmente importantes em casos de trauma e devem ser realizadas no caso de lesão acima da clavícula ou politraumatismo grave. Em pacientes com alteração do estado mental ou lesões por distração, a radiografia cervical normal não exclui lesão ligamentar importante. É recomendável tomar precauções relativas à coluna cervical durante a intubação e realizar tomografia computadorizada (TC) ou RM, dependendodos protocolos locais. As imagens cervicais laterais podem ser úteis em pacientes sintomáticos com artrite reumatoide ou síndrome de Down para avaliar a subluxação atlantoaxial. Tomografia Simples ou TC de Traqueia: A Tomografias simples ou TC da traqueia delimitam massas obstrutivas nas vias respiratórias. Provas de Função Pulmonar: As provas de função pulmonar e as alças fluxo-volume ajudam a determinar o grau e o local de obstrução das vias respiratórias Gasometria Arterial: As gasometrias arteriais de referência indicam as consequências funcionais de anormalidades das vias respiratórias e alertam o médico sobre pacientes com hipoxemia ou hipercarbia crônica. Via aérea básica versus avançada: Uma VA avaliada como fácil pode se transformar em uma VAD frente a profissionais inexperientes em situações inóspitas, como o atendimento pré-hospitalar. Em contrapartida, a restrição da abertura bucal associada à irradiação cervical pode representar a rotina de um anestesiologista habituado à IT com paciente sob sedação consciente. Em outras palavras, para cada um desses profissionais há uma definição prática e pessoal de VAD, de modo que a predição segura de problemas no CVA é impossível com os métodos disponíveis atualmente. De fato, o maior significado clínico de risco resulta da associação de preditores do exame físico (PHASE checklist) seguida por “fatores de complexidade” (HELP checklist). A partir de então, é possível a distinção entre VA básica e VA avançada – vista no quadro abaixo. Enrico Biscarde – 5º Semestre de Medicina (2020.2) DISPOSITIVOS PARA MANEJO DA VIA AÉREA: Tubo Orofaríngeo (Cânula Orofaríngea): O tubo orofaríngeo é inserido na boca por trás da língua. A técnica preferida é deprimir a língua com um abaixador e, então, inserir o tubo posteriormente à língua, o que poderia bloquear - ao invés de liberar - a via aérea. Esse dispositivo não pode ser usado em doentes conscientes pois induziria o reflexo de vômito, vômitos e aspiração. Doentes que aceitam o tubo orofaríngeo muito provavelmente necessitarão de intubação. Uma técnica alternativa é a inserção do tubo orofaríngeo com concavidade voltada para cima em direção cranial até o palato mole. Após tocar o palato mole, roda-se o dispositivo 180° e desliza-se o tubo por trás da língua. Esse método alternativo não pode ser utilizado em crianças, pois a rotação do dispositivo pode lesionar a boca e a faringe. Este dispositivo garante que a VA esteja pérvia, evitando de forma mecânica o desabamento da parte posterior da língua. Para identificar o tamanho da cânula deve-se posicionar a COF próxima à face do paciente e realizar a medida da distância entre a comissura labial e o lóbulo inferior da orelha do mesmo lado. É ideal o tamanho que alcançar tais extremidades. Enrico Biscarde – 5º Semestre de Medicina (2020.2) Tubo Nasofaríngeo (Cânula Nasofaríngea): O tubo nasofaríngeo é introduzido em uma das narinas e empurrado com cuidado em direção à orofaringe posterior. Ele deve ser previamente bem lubrificado e, então, deve ser introduzido na narina que não esteja aparentemente obstruída. Se durante a introdução do tubo nasofaríngeo for encontrada alguma obstrução, interrompa o procedimento e tente a outra narina. Esse procedimento não deve ser tentado em doentes com suspeita ou possível lesão de placa cribiforme. Enrico Biscarde – 5º Semestre de Medicina (2020.2) Este dispositivo garante que a VA esteja pérvia, evitando de forma mecânica o desabamento da parte posterior da língua. Máscara Facial: A máscara facial é utilizada para realizar pré-oxigenação e ventilação sob pressão positiva (VPP). Além disso, é preciso se atentar para o tamanho adequado, além de dar preferência para máscaras de materiais maleáveis e transparentes. Indicações: • Pré-oxigenação (desnitrogenação) do paciente antes da intubação traqueal; • Assistência ou controle da ventilação como parte da reanimação inicial antes de inserir uma CT; • Administração de anestesia inalatória a pacientes que não correm risco de regurgitação do conteúdo gástrico. Técnica: A técnica requer colocação de máscara facial e manutenção de via respiratória permeável. Máscara: A máscara deve ajustar-se bem ao redor da ponte do nariz, das bochechas e da boca. As máscaras de plástico transparente permitem a observação dos lábios (cor) e da boca (secreções ou vômito). Colocação da máscara → O anestesiologista segura a máscara com a mão esquerda, o dedo mínimo no ângulo da mandíbula, o terceiro e o quarto dedos ao longo da mandíbula e o dedo indicador e o polegar sobre a máscara. A mão direita fica livre para controlar a bolsa reservatório. Pode ser preciso usar as duas mãos para manter a boa vedação da máscara, com a necessidade de um assistente para controlar a bolsa. Podem ser usadas presilhas na cabeça para manter a vedação da máscara. É preciso manter as pressões inspiratórias máximas abaixo de 20 cm H2O para minimizar a insuflação gástrica → Limiar de pressão do EEI. Pacientes Edêntulos: Pacientes sem dentes podem dificultar a vedação adequada da máscara facial em razão da diminuição da distância entre a mandíbula e a maxila. Muitas vezes, a cânula oral corrige esse problema, e as bochechas podem ser comprimidas contra a máscara para reduzir vazamentos. Podem ser necessárias duas mãos para fazer isso. Outra opção é manter a prótese dentária na boca durante a ventilação com máscara. Obstrução das Vias Respiratórias: A obstrução das vias respiratórias durante ventilação espontânea pode ser reconhecida pelo movimento de “balanço” do tórax e do abdome, além de estridor se a obstrução for parcial. As excursões respiratórias na bolsa reservatória estão diminuídas ou ausentes. As pressões máximas nas vias respiratórias aumentam quando há tentativa de ventilação com pressão positiva. Enrico Biscarde – 5º Semestre de Medicina (2020.2) Permeabilidade das Vias Respiratórias: A permeabilidade das vias respiratórias pode ser restaurada da seguinte forma: • Extensão do pescoço. • Anteriorização da mandíbula, colocando os dedos sob os ângulos da mandíbula e empurrando para a frente. • Rotação lateral da cabeça. • Inserção de cânula oral. A cânula pode não ser bem tolerada se o reflexo do vômito estiver conservado. As complicações do uso de cânulas orais são vômito, laringospasmo e trauma dentário. O tamanho errado da cânula pode agravar a obstrução. A cânula curta demais pode comprimir a língua; longa demais, pode comprimir a epiglote. • A cânula nasal ajuda a manter a permeabilidade das vias respiratórias superiores em paciente com obstrução mínima a moderada e é razoavelmente tolerada por pacientes em vigília ou sedados. As cânulas nasais podem causar epistaxe e devem ser evitadas em pacientes com coagulopatia. Dificuldade de Ventilação com Máscara: A dificuldade da ventilação com máscara pode ser prevista em pacientes obesos, edêntulos, que têm pelos faciais, artrite cervical ou história de apneia obstrutiva do sono. É preciso ter à mão cânulas orais e nasais apropriadas, além de máscaras laríngeas (ML). Complicações: A máscara pode comprimir e lesar os tecidos moles ao redor da boca, mandíbula, olhos ou nariz. Pode haver perda da via respiratória causada por laringospasmo ou vômito. A ventilação por máscara não protege contra aspiração do conteúdo gástrico. O laringospasmo, a contração tônica dos músculos laríngeos e faríngeos, causa obstrução das vias respiratórias que pode ser aliviada por anteriorização da mandíbula e aplicação de pressão positiva constante nas vias respiratórias. Se isso falhar, pode ser preciso administrar uma pequena dose de succinilcolina (20 mg IV ou intramuscular no adulto). Dispositivos Supraglóticos: O emprego dos DSGs acarretou uma mudança de paradigma no CVA, com ênfase na ventilação e oxigenação do paciente. Esses dispositivossão utilizados com sucesso tanto como abordagem primária, quanto no resgate no intra ou extra-hospitalar. Sob o aspecto prático, são equivalentes as denominações supraglótico ou extraglótico. Os dispositivos extraglóticos e supraglóticos são úteis no controle de doentes que necessitam de abordagem avançada da via aérea, mas nos quais a tentativa de intubação foi malsucedida, ou naqueles em que se sabe que dificilmente a intubação será conseguida. Entre esses dispositivos pode-se citar a máscara laríngea, o tubo esofágico multilúmen e o tubo laríngeo. Outros equipamentos supraglóticos para o doente traumatizado são atualmente temas de estudo. Máscara Laríngea: A ML clássica e suas muitas variações (ILA, Ambu, Soft seal, I Gel) são dispositivos reutilizáveis de controle das vias respiratórias, que podem ser alternativas à ventilação com máscara e à intubação traqueal em pacientes apropriados. A ML também tem papel importante nas vias respiratórias difíceis. Quando inserida adequadamente, a extremidade apoia-se sobre o esfíncter esofágico superior, as laterais do balonete sobre as fossas piriformes e a borda superior do balonete sobre a base da língua. Essa posição permite ventilação eficaz com insuflação mínima do estômago. Enrico Biscarde – 5º Semestre de Medicina (2020.2) Vantagens: • Fácil colocação • Poucas Alterações hemodinâmicas • Menos tosse e laringoespasmo • Não precisa de Bloqueadores neuromusculares • Manter competência laríngea e função mucociliar Indicações: • Como alternativa à ventilação com máscara ou intubação traqueal para controle das vias respiratórias. A ML não substitui a intubação traqueal nos casos em que esta é indicada. • No manejo de dificuldades conhecidas ou inesperadas com as vias respiratórias. • No manejo das vias respiratórias durante a reanimação de um paciente inconsciente. Contraindicações: • Pacientes sob risco de aspiração do conteúdo gástrico (o uso em emergência é uma exceção). • Pacientes com diminuição da complacência respiratória, porque a baixa pressão de vedação do balonete da ML permite vazamento quando a pressão inspiratória é alta e pode haver insuflação gástrica. É preciso manter pressões inspiratórias máximas abaixo de 20 cm H2O para minimizar os vazamentos sob o balonete e a insuflação gástrica. • Pacientes com previsão ou necessidade de ventilação mecânica prolongada. • Pacientes com reflexos das vias respiratórias superiores preservados, pois a inserção pode provocar laringospasmo. Uso: • As ML estão disponíveis em vários tamanhos para adultos e crianças. O uso do tamanho apropriado maximiza a probabilidade de ajuste apropriado do balonete. A Figura abaixo apresenta as manobras para inserção apropriada da ML. • Esvaziar e lubrificar corretamente o balonete. Deve-se evitar a aplicação de lubrificante na superfície interna ML, pois, se este escorrer para a laringe, pode precipitar laringospasmo. • Seguir os requisitos habituais de pré-oxigenação e monitoramento. • Obter nível adequado de anestesia e inibição dos reflexos das vias respiratórias superiores. • Pôr a cabeça do paciente em posição apropriada. A posição olfatória (sniffing position) (leve flexão da coluna cervical inferior com extensão de C1-2) usada para otimizar a intubação traqueal geralmente também é a melhor posição para inserção da ML. • Inserir a ML. Pode-se usar um bloqueador de mordida macio para impedir que o paciente morda o tubo da ML. Enrico Biscarde – 5º Semestre de Medicina (2020.2) • Insuflar o balonete. Em geral, pode-se ver a expansão oval suave dos tecidos acima da cartilagem tireóidea, com insuflação adequada da ML em posição apropriada. • Manter ventilação adequada. • Conectar ao circuito anestésico. Pode-se fixar a ML com esparadrapo, se necessário. • Retirada daML. A ML geralmente é bem tolerada pelo paciente que está despertando da anestesia geral, desde que o balonete não esteja insuflado demais (pressão inferior a 60 cm H2O). A ML pode ser retirada esvaziando-se o balonete depois que o paciente despertar da anestesia geral e recuperar os reflexos das vias respiratórias superiores. • A ML é uma via respiratória adequada em alguns pacientes submetidos a procedimentos em decúbito ventral. Quando essa técnica é escolhida, os próprios pacientes podem se posicionar na mesa de cirurgia antes da indução. Depois da indução da anestesia, a ML pode ser inserida com a cabeça do paciente girada para um lado e apoiada sobre uma almofada ou cobertores dobrados. Efeitos Adversos: O efeito adverso mais comum é a dor de garganta, com incidência estimada de 10%, que, na maioria das vezes, está associada à hiperinsuflação do balonete da ML. O principal efeito adverso é a aspiração, cuja incidência estimada é semelhante à incidência na anestesia com máscara facial ou endotraqueal. Tubos Traqueais: Os TT foram projetados para a inserção oral e nasal. Os diferentes modelos apresentam em comum a conexão proximal de 15 mm, balonetes de alto volume e baixa pressão, extremidade em forma de bisel e orifício lateral direito chamado de “olho” de Murphy, voltado para evitar atelectasia do lobo superior direito. O tamanho do tubo corresponde ao diâmetro interno em milímetros, enquanto o diâmetro externo varia de acordo com o modelo e fabricante. Vários critérios, como gênero, procedimento cirúrgico e alterações da VA, irão influenciar a escolha do tamanho do TT. Traumas na laringe, na mucosa traqueal e dor após anestesia geral estão associados a TT de grande diâmetro. Em contraste, os TTs de pequeno calibre Enrico Biscarde – 5º Semestre de Medicina (2020.2) predispõem ao fluxo aéreo turbilhonar, aumentam o trabalho respiratório durante ventilação espontânea ou assistida e dificultam a passagem do fibroscópio (FB). De modo geral, TTs de 7 a 7,5 mm são empregados em mulheres, e os de 7,5 a 8 mm, em homens, por via oral, para fins de anestesia geral. O balonete deve ser inflado com o menor volume, de modo que impeça o escape de ar durante a ventilação, e pressão inferior a 25 cmH2O. Como consequência, recomenda-se a mensuração da pressão do balonete por meio de manômetros específicos. Valores de pressão elevados podem acarretar lesão da mucosa traqueal, lesão do nervo laríngeo recorrente com disfunção das pregais vocais e odinofagia. Em casos de uso de óxido nitroso, a pressão pode elevar-se progressivamente devido à sua capacidade de difusibilidade. Indicações Para Tubo Orotraqueal: • Necessidade de fornecer uma via aérea patente; • Proteção de VA (prevenir aspiração de conteúdo gástrico); • Facilitar ventilação com pressão positiva; • Posição cirúrgica não-supina; • Sítio cirúrgico envolvendo VAS; • Manutenção de VAS difícil com máscara; • Insuficiência respiratória aguda não compensada; Indicações Para Tubo Nasotraqueal: • Impossibilidade de posicionar o paciente em decúbito dorsal. • Paciente consciente. • Impossibilidade de visualização de estruturas anatômicas durante a laringoscopia. • Trismo Tubo Laríngeo: O tubo laríngeo (TL) é um dispositivo de via aérea extraglótico com capacidade similar à ML no que tange ao fornecimento de uma ventilação adequada ao doente. O TL não é uma via aérea definitiva e, portanto, é necessário planejar sua substituição por uma via aérea definitiva. Assim como a ML, o TL é colocado sem visualização direta da glote e não demanda manipulação significativa da cabeça e do pescoço do doente para sua inserção. Enrico Biscarde – 5º Semestre de Medicina (2020.2) OXIGÊNIO SUPLEMENTAR: Pré-oxigenação e oxigenação apneica: A dessaturação é definida como o intervalo de tempo entre o início da apneia até que a saturação periférica de O2 atinja valores iguais ou menores que 90%. Em adultos saudáveis respirando ar ambiente, o tempo para dessaturação está entre 1 e 2 minutos. Esse intervalo pode chegar a 8minutos quando precedido por pré-oxigenação (pré-O2). O processo de pré-O2 é utilizado para substituir o ar ambiente rico em nitrogênio nos alvéolos com oxigênio, para absorção durante períodos de apneia induzida. Em pacientes saudáveis, isso pode ser conseguido por 3 a 5 minutos de respiração espontânea ou oito respirações de capacidade vital de uma máscara ajustada sem reinalação e oferta de O2 a 100%. A desnitrogenação também pode ser atingida com fluxo de O2 a 100% pelo sistema ventilatório, com completo vedamento da máscara facial (MF), até atingir a fração expirada de O2 (ETO2) entre 0,87 e 0,9. Isso acarreta elevação da reserva de O2, retardo da dessaturação e permite maior tempo para a LD, IT e, sobretudo, resgate na falha do CVA. Em pacientes gravemente doentes, a eficácia e a estratégia da pré-O2 não estão definidas de modo claro. OBS: Em pacientes com COVID-19 devemos: • Manter o paciente sentado para facilitar a pre-oxigenação; • Preferir pré-oxigenação com unidade “máscara - trach care - filtro HEPA ou HME F – válvula – bolsa – reservatório (figura 2)” (utilizar o fluxo de oxigênio < 15 L/min volume suficiente de forma titulada para manter a bolsa inflada durante a respiração) com cuidado para evitar vazamentos ou utilizar máscara com reservatório não- reinalante com fluxo de 6L a 10 L/min de forma a manter o reservatório inflado durante a respiração. Enrico Biscarde – 5º Semestre de Medicina (2020.2) Sistemas de entrega de oxigênio: Os sistemas de entrega de oxigênio podem ser divididos em baixo ou alto fluxo. CONTROLE DA VIA AÉREA COM INTUBAÇÃO DA TRAQUEIA: Intubação orotraqueal e nasotraqueal por laringoscopia direta: O acesso oral representa a forma mais difundida de intubação por LD. Por meio de um laringoscópio convencional, visualizam-se diretamente as pregas vocais para passagem do TT. Consiste basicamente na obtenção de uma linha de visão direta desde a cavidade oral até a laringe. O deslocamento da língua e da epiglote é indispensável para o sucesso da LD. A possibilidade de sucesso declina de maneira progressiva a cada tentativa de IT. Enrico Biscarde – 5º Semestre de Medicina (2020.2) A técnica de IT por LD com a lâmina curva (Macintosh) está descrita a seguir: • Abertura da boca pela “manobra dos incisivos” ou “técnica sem contato” • Inserção da lâmina do laringoscópio no lado direito da boca do paciente, afastando o lábio inferior dos incisivos • Desvio da língua para a esquerda até a visualização da epiglote. • Posicionamento da ponta da lâmina na valécula. A pressão sobre a valécula causa tensão no ligamento hioepiglótico, o que eleva a epiglote e expõe as pregas vocais. • Tração do laringoscópio para cima e para frente (45°). A força deve ser empregada no cabo, em direção ao teto ou caudal, com o punho fixo e com movimento do ombro e braço esquerdos. O movimento em alavanca não melhora a visualização da glote e pode causar danos ao lábio e aos dentes. • Após a visualização das pregas vocais, introdução do TT, pelo lado direito da boca, a fim de não prejudicar a visão da glote. • Nos casos de TT com balonete, insuflação até pressão máxima entre 25 e 30 cmH2O. • Confirmação da IT por capnografia/capnometria, inspeção e ausculta pulmonar. Manipulação laríngea externa: A qualidade da visualização da glote via LD pode ser modificada por algumas manobras, como BURP, OELM e Sellick. A manobra de BURP (backward upward rightward pressure) consiste no deslocamento manual da laringe em três direções: posteriormente, contra as vértebras cervicais; superiormente, tanto quanto possível; e lateralmente, para a direita e, por fim, a compressão da cartilagem cricoide ou tireoide em direção posterior. A visão pela LD melhora com redução de 1 ou 2 graus da classificação de Cormack- Lehane modificada por Cook. Enrico Biscarde – 5º Semestre de Medicina (2020.2) RECOMENDAÇÕES PARA INTUBAÇÃO EM PACIENTES PORTADORES DE COVID-19: Os procedimentos para acesso invasivo das vias aéreas em pacientes portadores de COVID-19 são extremamente frequentes, dado o caráter eminentemente respiratório desta grave infecção, particularmente suas manifestações de hipoxemia acentuada que promovem a necessidade de intubação orotraqueal. PROCEDIMENTO: Antes de intubar: • Paramentação com equipamento de proteção individual (EPI) para aerossolização: máscara N95, touca, óculos de proteção, face shield, avental impermeável descartável e luvas de cano longo; propes também podem ser recomendados em alguns serviços. • Preparar todo material de intubação fora da área de risco de contaminação, incluindo fármacos de indução/bloqueio neuromuscular já aspirados em seringas e identificados, tubos endotraqueais com cuff testados, videolaringoscópio (e laringoscópio apenas em condição de absoluta ausência ou falha do videolaringoscópio), capnógrafo, dispositivo extraglótico (ou maleta de via aérea difícil), soro fisiológico, fármacos vasopressores e sedação/analgesia pós intubação montadas em bomba de infusão contínua. Assim como deixar preparado o ventilador mecânico com os parâmetros iniciais da ventilação, conforme protocolo institucional. • Fazer um “briefing” sobre o plano da abordagem, definindo funções e a equipe antes de entrar na área contaminada, inclusive definindo posições de cada colaborador ao lado e na cabeceira do leito. Deixar claro para a equipe o que se espera de cada de seus membros durante o procedimento Enrico Biscarde – 5º Semestre de Medicina (2020.2) Fármacos Utilizados: • Quando indicado, Pré-medicação sugerida: o Lidocaína 2% sem vasoconstrictor 1,5mg/kg (NÃO USAR LIDOCAÍNA SPRAY 10%); o Fentanil 2 a 3 ml (100 a 150mcg); • Indução sugerida: o Etomidato 0,3 mg/kg ou Cetamina 2mg/kg; • Neurobloqueadores sugeridos: o Succinilcolina 1-1,5 mg/kg ou rocurônio 1,2 a 1,5 mg/kg (Utilizar o peso real dos pacientes para o cálculo dos BNM). • Fármacos de suporte e manutenção: o Midazolam 5mg/ml; o Fentanil 50mcg/ml; o Solução NaCl 0,9% ou Ringer Lactato 500ml • Para suporte hemodinâmico: o Epinefrina 1mg/ml o Norepinefrina 8mg/4ml Durante a IOT: • Utilizar a sequência rápida de intubação. • Posicionar adequadamente o paciente (sniffing position ou posição olfativa/ramp position). • Cabeceira elevada (30 a 45 graus) para ganhar “capacidade residual funcional” nestes pacientes sabidamente com pouca reserva respiratória. • Evitar ventilação assistida com BVM, pela produção de aerossóis e risco de contaminação do ambiente e dos profissionais. • Lidocaína na dose de até 1,5 mg/kg pode abolir os reflexos laríngeos e potencializar o efeito anestésico de outras drogas, podendo ser utilizada como prémedicação, 3 minutos antes da indução. A lidocaína e fentanil são medicações passíveis de uso como parte da otimização pré- IOT, mas seu uso não é um passo essencial. Múltiplas diretrizes de manejo de via aérea na COVID- Enrico Biscarde – 5º Semestre de Medicina (2020.2) 19 deixam claro que o passo farmacológico mais importante para minimizar o risco de contaminação é o bloqueio neuromuscular efetivo. REFERÊNCIAS: 1) MANICA, James. Anestesiologia: Princípios e Técnicas. 4ª Ed. Porto Alegre: Artmed, 2018. 2) Paul G Barash, Manual de Anestesiologia Clínica. 7ª Ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 3) HANDBOOK OF CLINICAL ANESTHESIA PROCEDURES OF THE MASSACHUSETTS GENERAL HOSPITAL, EIGHTEDITION 4) ATLS 10º Ed.
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