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1 Disciplina: Educação Física na Perspectiva Interdisciplinar Autores: D.ra Maria Tereza Costa Revisão de Conteúdos: Esp. Irajá Luiz da Silva Revisão Ortográfica: Juliano de Paula Neitzki Ano: 2018 Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança de direitos autorais. 2 Maria Tereza Costa Educação física na perspectiva interdisciplinar 1ª Edição 2018 Curitiba, PR Editora São Braz 3 FICHA CATALOGRÁFICA COSTA, Maria Tereza. Educação física na perspectiva interdisciplinar / Maria Tereza Costa. – Curitiba, 2018. 40 p. Revisão de Conteúdos: Irajá Luiz da Silva. Revisão Ortográfica: Juliano de Paula Neitzki. Material didático da disciplina de Educação física na perspectiva interdisciplinar – Faculdade São Braz (FSB), 2018. ISBN: 978-85-5475-244-6 4 PALAVRA DA INSTITUIÇÃO Caro(a) aluno(a), Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz! Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão Universitária. A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas também brasileiros conscientes de sua cidadania. Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e grupos de estudos o que proporciona excelente integração entre professores e estudantes. Bons estudos e conte sempre conosco! Faculdade São Braz 5 Apresentação da disciplina Prezado (a) estudante: apresento aqui a disciplina Educação Física na Perspectiva Interdisciplinar, parte do curso de Pós-Graduação em Educação Física Escolar. Em nossa primeira aula abordaremos aspectos relacionados ao conceito de interdisciplinaridade enquanto abordagem metodológica que integra conceitos, teorias e fórmulas para a compreensão do objeto de estudo enquanto um fenômeno sistêmico. Nossa segunda aula apresenta as possibilidades da interdisciplinaridade a partir da disciplina de Educação Física e a inserção desta prática no currículo escolar, de forma a permitir o entendimento de um mesmo fato, a partir de diferentes olhares e diferentes enfoques teóricos, para a construção de diferentes saberes. Nosso terceiro encontro versa sobre a reflexão crítica e dialética necessária à prática da interdisciplinaridade, o que envolve repensar o Projeto Político-Pedagógico da escola, em toda a sua dimensão. O quarto e último encontro discute possibilidades do exercício da interdisciplinaridade no âmbito da escola e apresenta uma prática lúdica em que essa alternativa se consolida. 6 Aula 1 – Educação Física e Interdisciplinaridade Fonte:http://www.brasilescola.com/upload/conteudo/images/f880ce2f9e4feb9154d9076db9ab19 26.jpg Apresentação da aula 1 A primeira aula da disciplina “Educação Inclusiva na perspectiva interdisciplinar” irá apresentar o conceito de interdisciplinaridade e sua atuação na educação básica, de forma sistêmica, enquanto vetor de reflexão destinado ao repensar do processo educacional que ainda se apresenta, na escola, de forma fragmentada. A disciplina de Educação Física, enquanto componente curricular da educação básica, tem importante papel na formação dos estudantes, no sentido de sua participação em esportes de diferentes naturezas, jogos, danças, lutas, ginásticas e práticas diversas de aptidão física. Em seu percurso histórico, a Educação Física tem sua presença registrada a partir do final do século XVIII e início do século XIX, sendo trabalhada, no contexto escolar, como prática de ginástica, em função da grande preocupação com o corpo saudável, demonstrando assim a dualidade presente na sua concepção, ou seja, a priorização do trabalho, essencialmente, com o 7 corpo, resultado de uma filosofia que separava corpo e mente, alusão a Descartes, filósofo e matemático francês, criador do pensamento cartesiano, onde a essência do ser é o pensamento, a consciência do ser humano e sua capacidade de pensar, de raciocinar. Saiba Mais René Descartes (1596 – 1650) filósofo, físico e matemático francês, “considerado o pai da filosofia moderna”, cujo nome latino era Cartesius, que deu nome ao pensamento cartesiano. O racionalismo cartesiano é um pensamento estabelecido por Descartes em suas obras o “Discurso do Método” (1637) e “Meditações Metafísicas” (1641), onde expressa sua preocupação com o problema do conhecimento. [...] O Dualismo Cartesiano ou Dualismo Psicofísico (ou ainda Dicotomia Corpo-Consciência), é um conceito segundo o qual o ser humano é um ser duplo, composto de uma substância pensante e uma substância extensa. Isso porque o corpo é uma realidade física e fisiológica e, como tal, possui massa, extensão no espaço e movimento, como também desenvolve atividades de alimentação, digestão etc., sempre sujeito às leis deterministas da natureza, enquanto os fenômenos mentais não têm extensão nem localização no espaço. A mente realiza atividades de recordar, raciocinar, conhecer e querer, sem se submeter às leis físicas, mas são o lugar da liberdade. https://www.significados.com.br/cartesiano/ Ao longo dos tempos, esta concepção de Educação Física passou a sofrer várias influências pedagógicas, no sentido de fortalecer sua existência enquanto disciplina escolar e justificar sua presença no espaço educacional, o que levou estudiosos e pesquisadores da área se debruçarem sobre o tema, no sentido de desenvolver intensas reflexões a respeito da superação da dualidade corpo/mente e a fragmentação da própria disciplina. Campanholi; Palma (2008) registram, em suas pesquisas, que: A Educação Física, nosso foco maior de pesquisa, enfrenta uma grande dificuldade em legitimar-se enquanto área de conhecimento, pois vem a décadas sendo concebida cartesianamente; o que é decorrência de uma concepção de homem dual arrastada e mantida a séculos pelas sociedades. Nessa concepção a Educação Física consiste em ser apenas área de atividade, responsável pelo “corpo”, 8 pela carne, parte esta que, sob esta ótica, não tem participação alguma na tomada de consciência e produção do conhecimento humano (CAMPANHOLI; PALMA, 2008). Superando a divisão cartesiana entre corpo e mente, a Educação Física se insere, em sua dinâmica, no contexto escolar, como uma área que usufrui e produz conhecimentos, onde seus conteúdos têm relação com outras disciplinas, por meio do desenvolvimento de atividades, na forma interdisciplinar. Desta maneira, participa do processo educacional enquanto elucidação da realidade, uma vez que, tendo a capacidade de compreender esta mesma realidade, também age sobre ela. A interdisciplinaridade tem presença constante em espaços que discutem a educação contemporânea, uma vez que busca efetivar a integralidade entre os conhecimentos para que estes não sejam trabalhados de maneira isolada, estanques, como se não houvesse a menor possibilidade de entendê-los enquanto constituintesde um todo. Ultrapassar a visão cartesiana e fragmentada que leva ao reducionismo do conhecimento, para acessar uma concepção unitária do mesmo, permite compreender que as disciplinas contribuem, umas com as outras, para construir um processo de ensino e de aprendizagem que tenha como norte a visão de totalidade, por meio de uma trajetória que rompa com os limites e fronteiras (inexistentes) entre as disciplinas, formando um todo integrado. Para Dórea (2011), [...] há que se desenvolver uma nova metodologia de trabalho que implique diretamente na integração dos conhecimentos; no passar de uma concepção fragmentada para uma concepção unitária de conhecimento; no superar a dicotomia entre ensino e pesquisa, considerando o estudo e a pesquisa, a partir, da contribuição das diversas ciências e um processo de ensino-aprendizagem centrado na visão de que aprendemos ao longo da vida (DÓREA, 2011). Portanto, uma prática pedagógica desenvolvida de forma interdisciplinar vai muito além de apresentar a disciplina e atuar sobre os conteúdos que dela fazem parte. Compreende articular conhecimentos, desenvolver o saber, relacionar este novo conhecimento com aprendizagens prévias e com o cotidiano, percorrer diferentes caminhos, construídos por meio de diferentes olhares sobre o mesmo objeto, refletir sobre esses múltiplos olhares, praticar esse novo saber, para então, enquanto um movimento ininterrupto, uma vez que 9 o exercício do conhecimento é dinâmico, desenvolver teses convidativas de reflexões que permitam construir novos saberes a se efetivarem em importantes mudanças que resultam em novas atitudes a se consolidarem a partir de aprendizagens verdadeiramente significativas. Para Refletir Será que a interdisciplinaridade vem sendo desenvolvida na Educação Básica e está contribuindo para a construção de aprendizagens significativas? A assimilação de um novo conhecimento se dá quando uma nova informação entra em interação com outra já existente na estrutura cognitiva do indivíduo, se tornando significativa na medida em que se apresenta como relevante, ou seja, que realmente faz a diferença na vida da pessoa. Para que uma nova informação seja relevante, torna-se fundamental entendermos que essa relevância diz respeito ao reconhecimento de sua importância e de seu valor, a partir de uma relação afetiva que estabelecemos com este novo objeto do conhecimento, uma relação positiva que exige a vinculação deste com um conhecimento prévio, que dê significado à estrutura cognitiva do sujeito aprendiz. Para Moreira (2010), Aprendizagem significativa é aquela em que ideias expressas simbolicamente interagem de maneira substantiva e não-arbitrária com aquilo que o aprendiz já sabe. Substantiva quer dizer não-literal, não ao pé-da-letra, e não-arbitrária significa que a interação não é com qualquer ideia prévia, mas sim com algum conhecimento especificamente relevante já existente na estrutura cognitiva do sujeito que aprende [...]. É importante reiterar que a aprendizagem significativa se caracteriza pela interação entre conhecimentos prévios e conhecimentos novos, e que essa interação é não-literal e não- arbitrária. Nesse processo, os novos conhecimentos adquirem significado para o sujeito e os conhecimentos prévios adquirem novos significados ou maior estabilidade cognitiva (MOREIRA, 2010). 10 Ví deo Interdisciplinaridade – Atividades “Virando o Jogo”. https://www.youtube.com/watch?v=J002DKjEsMk Conforme o dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, interdisciplinaridade é algo “que estabelece relações entre duas ou mais disciplinas ou ramos de conhecimento” ou “que é comum a duas ou mais disciplinas”. Portanto, interdisciplinaridade é a integração entre duas ou mais disciplinas ou áreas do conhecimento para um fim comum. Refere-se a uma abordagem metodológica que integra conceitos, teorias e fórmulas para compreender o objeto de estudo como um fenômeno sistêmico. No sentido de compreender o termo “sistêmico” vamos encontrar que este diz respeito à “visão sistêmica”, enquanto capacidade de identificar ligações de fatos particulares do sistema como um todo, ou seja, conhecimento do todo, de modo a permitir a análise ou a interferência no mesmo. Importante Em suas pesquisas, leia a respeito da interdisciplinaridade e sua relação com áreas do conhecimento e com outros conteúdos. A inserção e discussão sobre interdisciplinaridade no Brasil teve a presença de dois grandes pesquisadores: Hilton Japiassu e Ivani Fazenda, os quais oferecem significativa e importante contribuição à discussão do tema, por meio de pesquisas, participações em eventos acadêmicos e publicações. Japiassu, em seus estudos sobre interdisciplinaridade, aponta a importância de esclarecer, primeiramente, o termo disciplinaridade, o que faz da seguinte forma: 11 [...] disciplinaridade significa a exploração científica especializada de determinado domínio homogêneo de estudo, isto é, o conjunto sistemático e organizado de conhecimentos que apresentam características próprias nos planos do ensino, da formação, dos métodos, e das matérias; esta exploração consiste em fazer surgir novos conhecimentos que substituem aos antigos (JAPIASSU, 1976). Em Japiassu encontramos o termo interdisciplinar referindo-se à conexão e às trocas teóricas e metodológicas com outras especialidades, permitindo um entrelaçamento de diferentes saberes disciplinares e uma nova concepção voltada aos conhecimentos concernentes à realidade. Assim sendo, interdisciplinaridade, no processo de ensino e aprendizagem da Educação Física, se dá de forma sistêmica, relacionada e pertinente à realidade, ultrapassando ações por meio de conceitos, teorias e práticas desvinculadas de outras disciplinas. Curiosidade Conforme Fazenda (1994), o movimento interdisciplinar surgiu na França e na Itália em meados da década de 1960, época em que surgiam movimentos estudantis que colocavam em discussão a necessidade de um novo estatuto para a universidade e para a escola (FAZENDA, 1994). Este movimento procurou ser representativo de um modelo de educação que trouxesse a interdisciplinaridade como: Promotora de diálogos interdisciplinares, onde, os docentes buscam consolidar a relação existente entre as disciplinas, no sentido de construir uma educação que supere a concepção fragmentada, dando lugar à relação entre as partes, em um exercício de complementaridade. Elucidação da realidade que, para ser verdadeiramente conhecida e exercitada, precisa ter reveladas suas características e seus mais importantes aspectos. Produtora e fornecedora de conhecimentos em uma dimensão que supera a concepção fragmentada, em direção à concepção unitária de saberes. 12 Eliminação de barreiras artificiais entre os conhecimentos produzidos histórica e socialmente, por meio de metodologias voltadas à integração dos mesmos. Promoção de situações em que o estudante tenha acesso ao conhecimento por meio da junção deste com realidade concreta, no sentido de, ao apropriar-se de novos saberes, pode visualizar sua relação com a vida cotidiana e com o ambiente circundante, colocando-os em prática. Materialização dos conhecimentos nas expressões de vida, o que permitirá, ao aluno, superar o comportamento próprio de um ser passivo, para a construção de um ser ativo e agente de sua própria educação. Alcance de aprendizagens significativas por meio do entrelaçamento entre todas as áreas do conhecimento. Ausubel (1976), em sua abordagem sobre “aprendizagem significativa”, a coloca como sendo resultado da incorporação de novos conhecimentos a partir de conhecimentos adquiridos previamente. A ausência de um conhecimento que dê sentido ou significado ao que está sendo proposto, resultará em uma informação a ser armazenadade maneira isolada, mecânica, desvinculada de qualquer aprendizagem ou realidade concreta, correndo o risco de cair no esquecimento. Articulação do conhecer, do saber, do fazer e do viver o cotidiano de maneira reflexiva e vinculada à realidade. Experimentação de diferentes trajetos sociais, os quais ampliam, significativamente, as possibilidades de mobilização das pessoas e o compartilhar de diferentes informações e conhecimentos. Superação da dicotomia entre ensino e pesquisa entendida como princípio educativo e possibilidade de aproximação entre a teoria e a prática. Desta forma, o ensino adquire uma nova configuração, ao deixar de transmitir conhecimentos para adentrar ao mundo ação-reflexão-ação. Presença do educador enquanto sujeito pesquisador e requisito fundamental no processo de formação de atores sociais. 13 Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Os principais problemas da educação física e suas relações com a realidade na/da educação infantil. Artigo que aborda relações entre os profissionais de Educação Física e docentes de outras áreas que atuam em sala, com as crianças. https://periodicos.ufsc.br/index.php/motrivivencia/article/view File/11248/10742 Considerando todos estes aspectos que são fundamentais para o exercício da disciplina de Educação Física na interdisciplinaridade, nos apropriamos da abordagem de Zunino (2008), a saber: A Educação Física é uma das formas mais eficientes pela qual o indivíduo pode interagir e, também é uma ferramenta relevante para a aquisição e aprimoramento de novas habilidades motoras e psicomotoras, pois é uma prática pedagógica capaz não somente de promover a habilidade física como a aquisição de consciência e compreensão da realidade de forma democrática, humanizada e diversificada. Portanto, a disciplina de Educação Física, em sua relação com outras áreas do conhecimento, é capaz de superar a fragmentação entre teoria e prática ainda presente na ação docente, por meio da interdisciplinaridade. Converse Com Seus Colegas Na concepção de que a Educação Física pode ser uma das disciplinas promotoras de diálogos interdisciplinares, como esses diálogos podem acontecer? Para Fazenda, (2002) (...) o que caracteriza a atitude interdisciplinar é a ousadia da busca, da pesquisa: é a transformação da insegurança num exercício do pensar, num construir (FAZENDA, 2002), exercício este que depende da conscientização do educador sobre o que e como trabalhar em cada disciplina, 14 construindo relações possíveis e sustentáveis com outras áreas do conhecimento. Resumo da Aula 1 Neste primeiro encontro abordamos aspectos referentes ao conceito de interdisciplinaridade relacionado à disciplina de Educação Física em sua relação com outras disciplinas, enquanto uma abordagem metodológica que passa a integrar conceitos, teorias e fórmulas imprescindíveis à compreensão do objeto de estudo enquanto um fenômeno sistêmico. Discutimos também o conceito de sistêmico em oposição a uma ação educacional fragmentada, isolada e o conceito de aprendizagem significativa. Atividade de Aprendizagem Desenvolva uma aula de Educação Física para a Educação Infantil em que ações interdisciplinares estejam presentes. Aula 2 – Interdisciplinaridade e currículo Fonte:http://www.brasilescola.com/upload/conteudo/images/f880ce2f9e4feb9154d9076db9ab19 26.jpg 15 Apresentação da aula 2 Neste encontro, além de relembrar o significado de interdisciplinaridade, ela será abordada na dimensão do currículo. Também será trabalhada a interdisciplinaridade no âmbito das Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB nº. 5692/71 e LDB nº. 9394/96, dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). 2.1 Educação Física e Interdisciplinaridade É importante relembrar que o conceito de interdisciplinaridade faz referência as relações que se estabelecem entre duas ou mais disciplinas ou ramos de conhecimento, na perspectiva de abordar o que lhe é comum de forma contextualizada, mas, ao mesmo tempo, relacionada. A interdisciplinaridade, então, nada mais é que a integração entre duas ou mais disciplinas ou áreas do conhecimento, destinada a um fim comum e a uma compreensão não fragmentada e sim baseada na totalidade de determinado fenômeno. Faz referência a uma abordagem metodológica que integra conceitos, teorias e fórmulas para compreender o objeto de estudo como um fenômeno sistêmico. Segundo Fazenda (2008), a interdisciplinaridade caracteriza-se por ser uma atitude de busca, de inclusão, de acordo e de sintonia diante do conhecimento. O conceito de interdisciplinaridade no Brasil consta das Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Lei nº. 5692/71, Lei nº. 9394/96, dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). A partir do acesso a esses documentos, chega-se à compreensão do processo de ensino e aprendizagem como um processo sistêmico, e não como uma abordagem ou leitura estanque de conceitos e teorias. O sistêmico aqui é entendido como aquele que supera o paradigma cartesiano, que divide partes consideradas inseparáveis. As disciplinas escolares muitas vezes se apresentam de forma fracionada, como se fossem constituídas de obstáculos que impedem sua inter-relação, não permitindo que o estudante tenha uma visão global do que foi trabalhado, e sim como se fizesse parte de um processo fragmentado e sem contextualização. 16 Gerhard (2012) dá significado a esta forma fracionada que a escola, muitas vezes, apresenta o conteúdo, ao esclarecer que: A fragmentação do conhecimento científico a ser ensinado manifesta- se na separação das disciplinas na escola, e tem sido danosa para a educação. Até mesmo no contexto de uma dada disciplina o conhecimento é separado em diversos conteúdos relativamente estanques, que são apresentados de maneira desvinculada e desconexa. O resultado da fragmentação do conhecimento a ser ensinado é a perda de sentido, que se manifesta nos alunos como repúdio a determinadas disciplinas, demonstrando que eles não conseguem perceber as semelhanças e relações entre as diferentes áreas do conhecimento (GERHARD, 2012). LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996. Art. 26, § 3º “A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular obrigatório da educação básica, sendo sua prática facultativa ao aluno: I – que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a seis horas; II – maior de trinta anos de idade; III – que estiver prestando serviço militar inicial ou que, em situação similar, estiver obrigado à prática da educação física; IV – amparado pelo Decreto-Lei nº 1.044 de 21 de outubro de 1969; VI – que tenha prole. Na medida em que a LDB 9394/96 define a Educação Física como integrada à proposta pedagógica da escola, busca-se uma ação educacional em que um novo saber, a ser proposto, seja construído com base na superação da perspectiva do isolamento das diferentes áreas do conhecimento, de modo que as disciplinas sejam integradas, evidenciando um constante diálogo entre as diferentes áreas, rompendo as delimitações entre as disciplinas. Para tanto, se faz necessário um trabalho que se efetive na interrelação entre as disciplinas, visando a busca de uma concepção unitária de saberes, que são múltiplos, mas que se entrelaçam na “reciprocidade, respeito e valorização diante dos múltiplos conhecimentos” (Dórea, 2011). As Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação de professores da educação básica apontam que a interdisciplinaridade é um dos elementos da 17 organização e desenvolvimento curricular, o qual deve se voltar à realidade dos sujeitos que se inserem, concretamente,na instituição escolar da educação básica, concepção esta que deve compor o Projeto Político Pedagógico (PPP) da instituição, bem como ser pauta presente em sua gestão. Outro ponto importante diz respeito à compreensão das características de todos os estudantes, sejam eles crianças, adolescentes, jovens ou adultos, o que nos leva a refletir a respeito das relações existentes entre vida, conhecimento, cultura, profissional do magistério, estudante, tempo, espaço e instituição escolar. As mesmas diretrizes curriculares apontam, em seu art. 3º, § 2º, que: [...] a educação contextualizada se efetiva, de modo sistemático e sustentável, nas instituições educativas, por meio de processos pedagógicos entre os profissionais e estudantes articulados nas áreas de conhecimento específico e/ou interdisciplinar e pedagógico, nas políticas, na gestão, nos fundamentos e nas teorias sociais e pedagógicas para a formação ampla e cidadã e para o aprendizado nos diferentes níveis, etapas e modalidades de educação básica (MEC/CEE, 2015). Nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica: diversidade e inclusão, é possível identificar a importância da existência de diálogo contextualizado entre as disciplinas e os conteúdos, o que permitirá, ao estudante, uma visão global do conhecimento. Esta diretriz indica a necessidade da promoção e da ampliação de debates reflexivos sobre a política curricular que orienta a organização da Educação Básica, no sentido de orientá-la para um sistema educacional que se desenvolva de forma articulada e integrada. Para Fazenda (2002), a interdisciplinaridade [...] não pretende a construção de uma superciência, mas uma mudança frente ao problema do conhecimento, uma substituição da concepção fragmentada para a unitária do ser humano (FAZENDA, 2002). Pensar o currículo na concepção de um trabalho interdisciplinar permite pensar na maior interação entre os estudantes e professores, interação pautada pela experiência e pelo convívio grupal. Nesta dimensão, é necessário pensar a interdisciplinaridade como maneira de ver um mesmo fato a partir de diferentes olhares, o que exige repensar o currículo e a metodologia a ser utilizada. Para Veiga (1995), 18 Currículo é uma construção social do conhecimento, pressupondo a sistematização dos meios para que esta construção se efetive; a transmissão dos conhecimentos historicamente produzidos e as formas de assimilá-los, portanto, produção, transmissão e assimilação são processos que compõem uma metodologia de construção coletiva do conhecimento escolar, ou seja, o currículo propriamente dito (VEIGA, 1995). Curiosidade Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB 9394/96, atualizada para o biênio 2017/2018. Art. 26 § 3o A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular obrigatório da educação infantil e do ensino fundamental [...] Integrada à proposta pedagógica da escola e enquanto parte do processo de ensino e de aprendizagem dos estudantes, a Educação Física tem a interdisciplinaridade compondo a dinâmica que visa trabalhar o entrelaçamento das disciplinas e dos conteúdos. Assim sendo, o educador tem o currículo como possibilidade de incorporação de conteúdos diferenciados, entrelaçados em outras disciplinas, para que os estudantes vivenciem diferentes práticas que vão além da prática de esportes e de exercícios físicos. Em Jantsch e Bianchetti (1995), encontramos que: [...] a interdisciplinaridade necessária se dá “mediante o aprendizado social” e implica a “necessidade da teoria”, a “busca de uma construção teórica globalizante”, o “trabalho cooperativo de diferentes cientistas”, a “passagem entre as fronteiras”, mas sem destruir a “autonomia dos parceiros” e dos “respectivos campos que participam” (...) JANTSCH; BIANCHETTI (1995). Portanto, a interdisciplinaridade na escola deve permear a busca pela convergência entre as disciplinas, visando projetos possíveis de serem desenvolvidos por meio de ações que cativem a todos e sustentem os conteúdos. Esta ação só se efetiva, enquanto proposta curricular, mediante pensar e refletir criticamente um projeto que, quando elaborado e colocado em prática, tenha a singularidade respeitada na coletividade. 19 Pensar um currículo com características interdisciplinares é pensar na complexidade que envolve estes dois conceitos que estão presentes no Projeto Político Pedagógico (PPP) - interdisciplinaridade e currículo, uma vez que existe forte relação entre ambos. Para uma compreensão mais ampla, se faz necessária uma breve retomada a respeito do PPP. O PPP é um documento a ser produzido por todas as escolas, conforme a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), que deve ser discutido, elaborado e executado pela comunidade escolar, por meio de um trabalho coletivo. Da mesma forma, é um documento que gera responsabilidades a serem assumidas de forma coletiva e dinâmica, a fim de que os objetivos estabelecidos pela instituição sejam conquistados. Portanto, o PPP da escola não deve ser entendido como um documento estanque, a ser engavetado e/ou desenvolvido de forma fragmentada e isolada, mas sim como um documento guia para o grupo, a ser trabalhado de maneira dinâmica, flexível e, portanto, adaptável às necessidades de cada estudante. Um bom PPP, construído pela comunidade escolar e sustentado por reflexões significativamente fundamentadas no exercício de práticas educativas voltadas ao social, se transforma em um instrumento que permite à escola ultrapassar o papel de transmissora de informação, para conquistar espaços de análises e proposições críticas, onde o estudante se aproprie do conhecimento elaborado e tenha a possibilidade de atribuir significados a objeto do conhecimento, transformando-o em ações concretas a serem utilizadas no cotidiano. Desta forma, é possível valorizar o trabalho coletivo e a expressão dos diferentes saberes que envolvem todos os conteúdos e todas as disciplinas, onde, no exercício da interdisciplinaridade, a Educação Física também tem seu compromisso social. Saiba Mais Projeto: é uma reunião de propostas que têm como objetivo a realização de uma ação. Assim, essa palavra traz a ideia de futuro, que tem como ponto de partida o presente; Político: esse termo se refere à função social das instituições de ensino. Seu significado está relacionado à possibilidade de fazer da escola um espaço emancipatório 20 que atua na formação de cidadãos ativos na construção da sociedade; Pedagógico: a palavra define o conjunto de métodos utilizados na educação para que cada sujeito se desenvolva de forma global. No documento, o termo faz menção a todos os projetos e atividades educacionais que são utilizados nos processos de ensino e aprendizagem. (https://www.somospar.com.br/saiba-o-que-e-o-projeto- politico-pedagogico/) Portanto, a construção coletiva do PPP e sua execução, de forma interdisciplinar, representa uma maneira de ultrapassar o exercício de práticas individualizadas, bem como romper com a fragmentação entre as disciplinas e também entre os conteúdos da mesma disciplina, o que possibilita a construção e o desenvolvimento de propostas eficientes, ao ponto de gerar um novo significado para o trabalho pedagógico. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e os currículos se identificam na comunhão de princípios e valores que [...] orientam a LDB e as DCN. Portanto, a BNCC e os currículos se complementam para assegurar as aprendizagens definidas em cada etapa da Educação Básica, que se materializam a partir de um conjunto de decisões que se configuram em um currículo em ação. Essas aprendizagens, entendidas como essenciais, correspondem ao direito de todos os estudantes desta etapa educacional. A Base Nacional Comum Curricular – BNCC, em referência à EducaçãoFísica e na convergência com outras linguagens e outras disciplinas, conforme o MEC/2017, assim se apresenta: A Educação Física é o componente curricular que tematiza as práticas corporais em suas diversas formas de codificação e significação social, entendidas como manifestações das possibilidades expressivas dos sujeitos, produzidas por diversos grupos sociais no decorrer da história. Nessa concepção, o movimento humano está sempre inserido no âmbito da cultura e não se limita a um deslocamento espaço-temporal de um segmento corporal ou de um corpo todo (MEC, 2017). Dessa maneira, fica evidente o compromisso que a educação tem com a formação e o desenvolvimento humano global, em suas dimensões intelectual, física, afetiva, social, ética, moral e simbólica. Para tanto, a BNCC apresenta 10 competências específicas da Educação Física, conforme a seguir: 21 1.Compreender a origem da cultura corporal de movimento e seus vínculos com a organização da vida coletiva e individual. 2.Planejar e empregar estratégias para resolver desafios e aumentar as possibilidades de aprendizagem das práticas corporais, além de se envolver no processo de ampliação do acervo cultural nesse campo. 3.Refletir, criticamente, sobre as relações entre a realização das práticas corporais e os processos de saúde/doença, inclusive no contexto das atividades laborais. 4. Identificar a multiplicidade de padrões de desempenho, saúde, beleza e estética corporal, analisando, criticamente, os modelos disseminados na mídia e discutir posturas consumistas e preconceituosas. 5. Identificar as formas de produção dos preconceitos, compreender seus efeitos e combater posicionamentos discriminatórios em relação às práticas corporais e aos seus participantes. 6. Interpretar e recriar os valores, os sentidos e os significados atribuídos às diferentes práticas corporais, bem como aos sujeitos que delas participam. 7. Reconhecer as práticas corporais como elementos constitutivos da identidade cultural dos povos e grupos. 8. Usufruir das práticas corporais de forma autônoma para potencializar o envolvimento em contextos de lazer, ampliar as redes de sociabilidade e a promoção da saúde. 9. Reconhecer o acesso às práticas corporais como direito do cidadão, propondo e produzindo alternativas para sua realização no contexto comunitário. 10.Experimentar, desfrutar, apreciar e criar diferentes brincadeiras, jogos, danças, ginásticas, esportes, lutas e práticas corporais de aventura, valorizando o trabalho coletivo e o protagonismo. Conforme a BNCC, a organização interdisciplinar dos componentes curriculares permite fortalecer a competência pedagógica nas equipes escolares, no sentido da adoção de estratégias mais dinâmicas, interativas e colaborativas em relação à gestão do ensino e da aprendizagem. 22 Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Para ampliar seus conhecimentos, pesquise a BNCC no que se refere à Educação Física (item 4.1.3) e suas práticas corporais, em suas diversas formas de codificação e significação social, entendidas como manifestações das possibilidades expressivas dos sujeitos. As práticas corporais concedem, ao estudante, a possibilidade de acesso a uma amplitude de experiências e conhecimentos que, ao serem problematizados, evidenciam os diversos sentidos conferidos pelos grupos sociais às distintas manifestações da cultura corporal de movimento, dando a estes, importantes significados, quando apresentados como componentes da dimensão do conhecimento humano, na sua totalidade, e não de forma deslocada e fragmentada. O MEC (2017), ao referir-se às aulas de Educação Física na BNCC, assim se manifesta: Nas aulas, as práticas corporais devem ser abordadas como fenômeno cultural dinâmico, diversificado, pluridimensional, singular e contraditório. Desse modo, é possível assegurar aos alunos a (re)construção de um conjunto de conhecimentos que permitam ampliar sua consciência a respeito de seus movimentos e dos recursos para o cuidado de si e dos outros e desenvolver autonomia para apropriação e utilização da cultura corporal de movimento em diversas finalidades humanas, favorecendo sua participação de forma confiante e autoral na sociedade (BNCC, 2017). Portanto, a interdisciplinaridade na escola deve permear a busca pela convergência entre as disciplinas, visando projetos possíveis de serem desenvolvidos por meio de ações que cativem a todos e sustentem os conteúdos. Ela só se efetiva, enquanto proposta curricular, mediante pensar e refletir criticamente um projeto que, quando elaborado e colocado em prática, tenha a singularidade de cada disciplina, respeitada na coletividade dos saberes e do conhecimento. 23 Resumo da Aula 2 Nesta aula foi abordada a interdisciplinaridade sob o ponto de vista legal, discutindo a presença de sua concepção no currículo da disciplina de Educação Física e sua inserção prática no desenvolvimento das aulas, enquanto maneira de permitir a construção de conhecimentos por meio de diferentes saberes que compõem um todo. Atividade de Aprendizagem A BNCC, no item 4.1.3, propõe três elementos fundamentais comuns às práticas corporais. Pesquise quais elementos são esses, escolha um deles e proponha como pode ser desenvolvido na aula de Educação Física, atendendo a concepção interdisciplinar. Aula 3 – Interdisciplinaridade: reflexão crítica e dialética Apresentação da aula 3 Nesta aula será discutido sobre o exercício da interdisciplinaridade a partir de uma concepção crítica e dialética do Projeto Político-Pedagógico da escola, entendendo o processo de aprendizagem em uma concepção de conhecimento que ultrapasse a visão fragmentada para se apresentar enquanto totalidade, onde os fenômenos se consolidam na inter-relação entre eles. 3.1 Interdisciplinaridade e currículo escolar Ao se abordar o termo “currículo” se faz necessário entender a sua não neutralidade na transmissão desinteressada do conhecimento, uma vez que a construção do termo se dá a partir de processos históricos e sociais que se bifurcam enquanto registro de carreira construída ao longo do tempo e a construção da carreira de um estudante, de forma concreta, organizada, sequencial e planejada, envolvendo os conteúdos que devem compor a trajetória estudantil, de forma a demonstrar o que deverá ser ensinado e aprendido. 24 O termo currículo deriva de “curriculum”, palavra latina que tem, como raiz, a palavra “cursus” que na Roma Antiga tinha, por definição, designar uma carreira construída, termo hoje identificado no “curriculum vitae”, documento destinado a registrar as informações pessoais, acadêmicas e profissionais, no sentido de apresentar as qualificações, competências, conhecimentos e habilidades de alguém no mercado de trabalho. O currículo escolar, no entanto, deve ser construído de forma a apresentar os conteúdos e as experiências de aprendizagens a serem vivenciadas pelos estudantes durante o processo de ensino e de aprendizagem, bem como a metodologia a ser utilizada nas diferentes etapas e níveis de ensino. O currículo escolar está implicado em relações de poder uma vez que transmite visões sociais particulares e interessadas. Conforme Silva e Moreira (2002), “O currículo não é um elemento transcendente e atemporal - ele tem uma história vinculada a formas específicas e contingentes de organização da sociedade e da educação” (SILVA; MOREIRA, 2002). Na sua não neutralidade, produz identidades individuais e sociais muito particulares, uma vez que envolve diferentes relações de poder, entre elas, inclusive aquelas que acontecem entre professores e estudantes e entre gestores e professores, nas suas diferentes manifestações. Para Freire (2003), educar é um ato político, que tem intencionalidade; educação nuncaé uma prática neutra. Para ele, a educação deve estar alocada sob uma dimensão ética, em que o homem é um ser de relações. Portanto, a neutralidade no processo de construção e desenvolvimento do currículo é inexistente, a partir do momento em que suas ações são baseadas na construção social do conhecimento, a qual se faz no sentido de privilegiar determinada cultura. Para Hornburg; Silva (2007), “A construção de um currículo é orientada por relações advindas de classes sociais (classe dominante/classe dominada) e questões raciais, étnicas e de gênero, não se restringindo a uma questão de conteúdos” (HORNBURG e SILVA, 2007). É preciso refletir sobre um currículo em constante movimento, que tem continuidade na sua elaboração, não sendo, portanto, estático e nem neutro. 25 Importante A reflexão crítica sobre a proposta curricular é indispensável, no sentido de detectar contradições e conflitos, permitir questionamentos a respeito do seu desenvolvimento e ser propulsora de um contexto interdisciplinar e emancipador. Um currículo que não se faz sozinho, mas na dinâmica das relações entre distintas disciplinas e diferentes conteúdos. A reflexão interdisciplinar permite ações que superam a fragmentação e a imobilidade de determinados conteúdos, os quais passam a ser trabalhados a partir de olhares diferentes, dinâmicos, ousados e centrados no desenvolvimento dos estudantes. Para superar o modelo conservador, fragmentado e estático, é importante questionar, em conjunto e de forma interdisciplinar: o que o estudante precisa e deve aprender? Em que momento? Como planejar a aula de forma interdisciplinar? Conforme Sacristán (2000): [...] conceber o currículo como um conjunto de atividades que visam transformar o mundo significa pensar em um currículo articulado a uma prática reflexiva e considerar ainda que nele interagem relações culturais e sociais. Destaca-se, então, que essas práxis não se referem tão somente a comportamentos didáticos da sala de aula (SACRISTÁN, 2000). Portanto, pensar o currículo escolar em toda a sua dimensão é crucial para o exercício da prática pedagógica, o que abre espaços para a discussão a respeito dos conhecimentos a serem ensinados e a maneira como devem ser trabalhados, fato que nos devolve a reflexão sobre práticas interdisciplinares envolvendo a Educação Física e outras disciplinas que compõem o PPP da escola. Assim sendo, precisamos refletir a respeito de: Quem são os estudantes que compõem o grupo ou os grupos com os quais estamos trabalhando? Como se dá o desenvolvimento e o processo de aprender desses estudantes? Como devemos preparar as atividades a serem desenvolvidas? Como pensar esses conteúdos e essas atividades de forma interdisciplinar? Que estratégias são mais eficientes? Que materiais ou equipamentos serão necessários? Como 26 avaliar? Como interpretar os resultados dessa avaliação? Como agir sobre os resultados? Como resignificar a prática quando esta se fizer necessária? Converse Com Seus Colegas Entre os objetivos propostos pela BNCC selecione, em conjunto com seus colegas e para serem desenvolvidos de forma interdisciplinar, aqueles que se harmonizam com as intenções educativas da escola e com a disciplina de Educação Física. A reflexão crítica a respeito da dinâmica da disciplina de Educação Física deve substanciar a construção e a prática do PPP, exercício este diretamente relacionado à gestão da escola, a qual se espera que seja uma gestão democrática, voltada à elaboração interdisciplinar de projetos didáticos, pensados para que o estudante usufrua dos seus conhecimentos prévios e interaja com aqueles pertencentes a outros conteúdos, outras disciplinas e outros grupos sociais. Para Refletir É fundamental estabelecer intensa análise e profunda reflexão teórica que permita romper com determinados paradigmas históricos, que foram incorporados ao longo do exercício docente. A disciplina de Educação Física na BNCC é componente curricular da área das Linguagens, cujo tema central compreende as práticas corporais em suas diferentes maneiras, onde estão presentes as manifestações expressivas e culturais produzidas ao longo da história. Essas práticas devem representar a dinamicidade da cultura, de maneira diversificada, pluridimensional e interdisciplinar, permitindo, aos estudantes, o acesso a um conjunto de conhecimentos que venham a contribuir com a ampliação de sua consciência, 27 no sentido do desenvolvimento e apropriação dos mesmos, a ponto de lhes viabilizar a utilização na sociedade, em distintos propósitos humanos, de forma confiante, autônoma e ética. Também é fundamental uma reflexão crítica, a ser feita por múltiplos olhares e de forma interdisciplinar, uma vez que a existência da própria interdisciplinaridade não será suficiente para a conquista da qualidade na educação. Para tanto e, entre outros requisitos, se faz necessário: Boas relações no interior da escola; Ações didáticas desenvolvidas de forma mais horizontal; Valorização dos conhecimentos prévios dos estudantes; Ações baseadas no diálogo, no coletivo e no reconhecimento do potencial de cada componente da estrutura escolar, envolvendo também os estudantes; Formação continuada de todos os docentes; Docentes e discentes enquanto agentes e sujeitos do processo. Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Leia “Práticas Interdisciplinares na Escola”, organizada por Ivani Fazenda. Esta obra apresenta práticas docentes interdisciplinares variadas, da Pré-Escola à Pós-Graduação. Anuncia novas formas de analisar e pesquisar o fenômeno educativo e novas formas de escrever sobre Educação. Entender a Educação Física enquanto componente da área de Linguagens significa desenvolver atividades que possam contribuir com a construção do saber, por parte dos estudantes e a serem produzidos por estes, de acordo com os contextos em que a linguagem corporal se apresenta. Conforme Neira e Souza Júnior (2016), No contexto da unidade educacional, a BNCC pode inspirar docentes a selecionarem, dentre os objetivos arrolados, aqueles que se coadunam com as intenções educativas da escola, definidos 28 coletivamente e com a participação da comunidade. É notória a existência de indicações de atividades a serem realizadas, métodos adequados ou instrumentos de avaliação ideais. Isso significa que a BNCC, inversamente a tantas propostas curriculares estaduais e municipais, posiciona o coletivo docente como sujeito do processo, cabendo-lhe criar, inventar, recorrer à experiência própria e ao conhecimento dos alunos para organizar e desenvolver o trabalho pedagógico. Isso implica em reconstruir criticamente o patrimônio cultural disponível na comunidade, ampliando-o por meio de experiências elaboradas com essa finalidade. Em termos práticos, quais temas serão abordados, de que maneira e o que será feito para verificar se o processo ocorreu de forma satisfatória é fruto de uma decisão coletiva no interior de cada unidade educacional (NEIRA, M. G.; SOUZA JÚNIOR, 2016). Para que este propósito se efetive se faz necessária uma escola que tenha, como diretriz, uma gestão democrática, que privilegie a participação de todos os envolvidos no processo educacional, que construa e pratique seu PPP de modo coletivo a favor da formação de um estudante que tenha seus saberes sistematizados e seus conhecimentos aprofundados, resultando em uma qualificação que lhe permita, na sociedade, uma participação ética e cidadã. Essa meta, para se concretizar, depende, entre outros requisitos, do entrelaçamento de disciplinas e conteúdos por meio da interdisciplinaridade, sendo esta, a principal ferramenta para que se promova um ensino integrador, não fragmentado, que possa gerar um conhecimento verdadeiramente contextualizado, resguardadasas singularidades presentes em cada um dos componentes do PPP da escola. Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Amplie seus conhecimentos sobre a BNCC no que se refere à Educação Física (item 4.1.3) e suas práticas corporais, em suas diversas formas de codificação e significação social, entendidas como manifestações das possibilidades expressivas dos sujeitos. Cabe ao educador fazer a diferença no exercício da ação pedagógica, selecionando conteúdos e práticas com significado para a vida do estudante e 29 sendo ponte entre este e o conhecimento, para a ocorrência de uma travessia segura e prazerosa. Resumo da Aula Neste encontro discutimos a interdisciplinaridade a partir da análise crítica e dialética da forma de organização do Projeto Político-Pedagógico da escola e do seu exercício prático, bem como a respeito da importância da participação de todos os envolvidos na construção deste processo que deverá ser participativo, dinâmico, contextualizado e democrático. Atividade de Aprendizagem Com base no que foi apresentado nesta aula, elabore um texto em que você identifique, nas aulas de Educação Física, as contradições existentes, em comparação a uma proposta interdisciplinar que envolva uma das unidades temáticas propostas pela BNCC. Aula 4 – Educação Física e sua relação com outras áreas escolares Apresentação da aula 4 O quarto e último encontro reafirma o aspecto legal da interdisciplinaridade e discute possibilidades do seu exercício no âmbito da escola, por meio da apresentação de uma prática lúdica em que essa alternativa se consolida. 4.1. Educação física e a proposta curricular A LDB nº 9394/96, ao abordar sobre a Educação Física, busca estabelecer objetivos que, ao compor a proposta curricular, assumam a responsabilidade pela veiculação pedagógica de conteúdos culturais voltados às ciências 30 humanas, sociais e da saúde. O estabelecimento e a prática desses conteúdos pressupõem uma relação com conteúdo de outras áreas escolares, de forma interdisciplinar. Na BNCC, a Educação Física se apresenta na área de Linguagens, sendo o componente curricular que tematiza as práticas corporais em suas diversas formas de codificação e significação social, [...] produzidas por diversos grupos sociais no decorrer da história. Nessa concepção, o movimento humano está sempre inserido no âmbito da cultura e não se limita a um deslocamento espaço- temporal de um segmento corporal ou de um corpo todo” (BRASIL, 2017). A Educação Física oferece possibilidades de enriquecimento da experiência dos estudantes da Educação Básica, permitindo o acesso a um amplo universo cultural, o qual compreende saberes corporais, experiências estéticas, emotivas, lúdicas e agonistas. Vocabula rio Agonista: adjetivo que deriva da língua latina, mas com raízes etimológicas no idioma grego. Na Grécia antiga, pessoa que se dedicava à ginástica para fortalecer o físico ou como preparação para o serviço militar; lutador. A BNCC, ao apresentar a Educação Física enquanto uma das áreas das Linguagens, exibe, nas práticas corporais, seis unidades temáticas a serem desenvolvidas durante o Ensino Fundamental, a saber: brincadeiras e jogos; danças; esportes; ginásticas (demonstração, condicionamento físico e conscientização corporal); lutas e práticas corporais de aventura. 31 Entre as unidades temáticas abordadas pela BNCC, a serem trabalhadas ao longo do Ensino Fundamental, está a unidade temática brincadeiras e jogos. Fonte:http://www.bhfazcultura.pbh.gov.br/sites/bhfazcultura.pbh.gov.br/files/%5Buid%5D/cck_i mages/BRINQUEDOS%20E%20BRINCADEIRAS.jpg Brincadeiras e jogos compreendem uma unidade temática voltada a atividades voluntárias que são exercidas a partir de limites espaciais e temporais pré-determinados, os quais se caracterizam pela oportunidade que o estudante tem para desenvolver sua criatividade e autonomia, ao mesmo tempo em que desenvolve o respeito pelas regras criadas pelo grupo do qual é participante ou aquelas já consolidadas histórica e socialmente. Também corresponde ao ato de brincar, ao mesmo tempo em que aprecia seu próprio desempenho, podendo aprimorá-lo. As regras que norteiam os jogos e as brincadeiras que chegam até nós, vindos de diversos cantos do planeta, não são estáveis, motivo pelo qual, em diferentes lugares e tempos históricos, podem ser recriadas por distintos grupos culturais. De qualquer modo, muitos desses jogos e brincadeiras são difundidos, ultrapassando fronteiras físicas e temporais e se incorporando a diferentes costumes, conforme a cultura popular onde passam a ser exercidos. 32 O jogo e a brincadeira, muitas vezes, são utilizados pela escola, para atingir determinado objetivo da aprendizagem formal. Para a criança, ela está jogando ou brincando e nem percebe que está alicerçando a aprendizagem de algum conteúdo. Vygotsky (1987) aborda que é por meio do brinquedo, que a criança aprende a agir em uma esfera cognitivista, sendo livre para determinar suas próprias ações, estimular sua curiosidade e autoconfiança, proporcionando desenvolvimento da linguagem, do pensamento, da concentração e da atenção (VYGOTSKY, 1987). O brincar e o jogar têm importantes contribuições no contexto educacional, uma vez que interferem, por meio de atividades lúdicas, nas dimensões cognitivas e afetivas do sujeito. Vocabula rio Lúdico: 1) Relativo a jogo ou divertimento; 2) Que serve para divertir ou dar prazer. Em se tratando do desenvolvimento de habilidades que são básicas para o processo de aprender, o brincar e a brincadeira são fundamentais, uma vez que por meio dessas práticas o cérebro tem a oportunidade de desencadear determinadas atitudes, como resposta aos desafios que lhes foram propostos. Ao brincar e ao jogar, enquanto atividades lúdicas, a criança cruza aspectos motores, afetivos, sociais e culturais, entrelaçando novas dimensões que abrangem o simbolismo, o viver socialmente, a interação com outras pessoas, a obediência às regras, a organização, a capacidade de compreensão e o desenvolvimento intelectual, entre outros aspectos. Conforme a BNCC (2017), [...] as brincadeiras e os jogos têm valor em si e precisam ser organizados para ser estudados. São igualmente relevantes os jogos e as brincadeiras presentes na memória dos povos indígenas e das comunidades tradicionais, que trazem consigo formas de conviver, oportunizando o reconhecimento de seus valores e formas de viver em 33 diferentes contextos ambientais e socioculturais brasileiros (MEC, 2017). Pensar a prática da Educação Física por meio do lúdico requer uma mudança de concepção no que diz respeito ao desenvolvimento do currículo de forma interdisciplinar, uma vez que exige novas maneiras de ensinar, novas maneiras de aprender, novas ações pedagógicas e novas posturas educacionais. Costa e Martins (2015) argumentam: É pensar que a utilização de jogos e brincadeiras na educação prevê uma parceria envolvendo a escola, a família e o estudante, priorizando um trabalho que abrace o contexto escolar e o contexto familiar, em um processo de mediação constante que permita também aos pais acompanhar o desenvolvimento de seus filhos (COSTA; MARTINS, 205). Portanto, a ludicidade e a interdisciplinaridade se articulam no sentido de envolver o epistemológico e o pedagógico, buscando eliminar as barreiras entre as disciplinas e os profissionais que as desenvolvem. Assim sendo, a partir do jogo, a ação pedagógica lúdica interdisciplinar procura valorizar a criatividade, a sensibilidade, a atenção, a organização, a ordem e a afetividade por meio de vivências que se utilizam da ação do pensamento e da linguagem. O jogo Kalah, também conhecidopor Mancala, será aqui apresentado com o objetivo de explorar algumas possibilidades interdisciplinares. É um jogo de tabuleiro jogado em várias partes do mundo, também conhecido como jogos de semeadura ou jogos de contagem e captura. Este jogo faz parte da cultura de diferentes partes do mundo: África, Sul da Ásia, América, Oceania, Brasil e Europa. Segundo Kishimoto (1993), [...] os africanos escravizados misturavam-se ao cotidiano do período colonial brasileiro. Sobre os jogos de Mancala há várias versões para suas origens, mas, a maioria delas citam seu surgimento na África especialmente na Etiópia e no Egito por volta de 2000 a.C. sendo jogado pelos faraós e encerrados em suas tumbas quando estes morriam (KISHIMOTO, 1993). Kalah ou Mancala é um jogo de tabuleiro também conhecido como jogo da semeadura, o qual tem um importante papel em muitas sociedades africanas. Lino de Macedo (2000) apresenta duas versões que constam dos 34 registros históricos sobre o Jogo Mancala. Uma das versões é asiática e apresenta o jogo na sua forma mais simples, jogado por mulheres e crianças. A outra versão diz respeito a uma forma de jogar mais complexa, jogada pelos homens africanos, de uma maneira que parece mais complexa que o jogo de xadrez. Ainda, conforme Macedo (2000), segundo os árabes, a palavra Mancala significa ‘mover’, e as Mancalas são jogos de semeadura e colheita, notadamente relacionadas às atividades de plantio (MACEDO, 2000). Com a escravização de povos africanos, o jogo Mancala foi levado da África para as Américas e, desta forma, para o Brasil, obtendo diferentes nomes e tendo sido jogado, predominantemente, na região nordeste do país. Kallah ou Mancala - é um jogo que favorece o desenvolvimento de competências fundamentais para a matemática: desafios, desenvolvimento do raciocínio, estratégias, busca de soluções, memorização, exercício da antecipação, entre outras. Seu uso nas turmas dos anos iniciais do Ensino Fundamental contribui para o desenvolvimento de noções de quantidade, sequência, operações básicas, noção de direita e esquerda etc. Na Educação das Relações Étnico-Raciais, [...] na busca de relações étnicas e sociais positivas para a construção de uma nação verdadeiramente democrática, inclusive em atenção à Lei nº. 10.639/2003, onde ela altera a LDB no 9.394/96, para incluir, no currículo oficial da Rede de Ensino, a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras providências. Importante Lei 10.639/03 e o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana. Esta Lei versa sobre o ensino da história e cultura afro- brasileira e africana, ressalta a importância da cultura negra na formação da sociedade brasileira. 35 A Lei 10.639/03, ao apresentar novas diretrizes curriculares para o estudo da história e cultura afro-brasileira e africana, indica a importância de que os professores salientem, em suas atividades pedagógicas, a cultura afro-brasileira como formadora da sociedade brasileira, onde os negros são considerados sujeitos históricos. Neste sentido, é fundamental valorizar o pensamento e as ideias de importantes intelectuais negros brasileiros, os quais contribuíram e contribuem, significativamente, com nossa cultura, seja na música, na culinária, na dança, no teatro e nas religiões de matrizes africanas. O contido na Lei 10.639/2003 pode ser trabalhado, de forma interdisciplinar, em todas as áreas do conhecimento. Da mesma forma, o jogo Jogo Kalah ou Mancala pode ser utilizado, de forma interdisciplinar, em Língua Portuguesa, Arte, História e Geografia, entre outras. Parafraseando Câmara e Santos, de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) da Educação de Jovens e Adultos (EJA), os jogos têm a possibilidade de favorecer a criatividade que aflora na elaboração de estratégias a serem utilizadas na resolução de problemas que exigem o encontro de soluções vivas e imediatas, estimulando o planejamento das ações e permitem o desenvolvimento de uma atitude positiva perante os erros, uma vez que as situações sucedem-se rapidamente e podem ser corrigidas de forma natural, no decorrer da ação, sem deixar marcas negativas. Ví deo Jogo Kalah ou Mancala https://www.youtube.com/watch?v=zYiXGWqb3YY Costa e Martins (2015) apresentam as regras para jogar Kalah ou Mancala: [...] jogado por duas pessoas, uma em frente à outra, com um tabuleiro colocado longitudinalmente, entre elas. O território de cada jogador é formado pelas seis casas da fileira à sua frente, acrescido do Kalah à direita (somente utilizado pelo proprietário). Para iniciar o jogo, são distribuídas três (03) sementes em cada espaço, com exceção dos kalahs. Os jogadores decidem quem inicia o jogo e se alternam para 36 jogar, distribuindo as sementes da casa escolhida. Cada jogador, na sua vez, pode partir de qualquer casa de sua fileira. Pega todas as sementes que estão na casa escolhida, colocando-as, uma a uma em cada espaço seguinte, na direção da esquerda para a direita (anti- horário). Sempre há capturas de sementes, sendo a forma de capturar diferente, dependendo do jogo em questão, sempre procurando acumular sementes em seu Kalah. Todas as vezes que o jogador passa pelo seu Kalah, deposita ali uma semente, que passa a pertencer apenas a ele. Ao passar pelo Kalah do adversário, o jogador não coloca sementes e continua a distribuição nas casas da fileira do adversário. Se a última semente cair na sua casa, jogará de novo. Quando a última semente da casa que está sendo distribuída, cair em uma casa vazia da própria fileira, o jogador poderá pegar todas as sementes que estão na casa da frente, na fileira adversária diretamente oposta à sua, e colocá-la no seu Kalah. Quando a última semente distribuída for colocada no seu próprio Kalah, o jogador poderá jogar de novo, escolhendo uma nova casa (da sua própria fileira) para esvaziar. O jogo termina quando um dos jogadores, na sua vez, não tiver nenhuma semente para distribuir. Os jogadores comparam seus Kalahs e vence aquele que tem o maior número de semente em seu Kalah (as sementes restantes no tabuleiro não entram na contagem). [...] Material: um tabuleiro retangular com duas filas, seis casas e, nas extremidades, duas casas, uma para cada participante, a qual denomina-se Kalah. Pode ser feito de E.V.A., caixa de ovos, madeira, pratinhos de isopor, garrafas pet, tampas de maionese ou buracos cavados na terra ou na areia. 36 peças: sementes, grãos, pedras, tampinhas de garrafa, moedas, bolinhas... Por meio do jogo Kalah, são trabalhados, com as crianças, entre outros, os seguintes aspectos: Atenção; Capacidade de antecipação; Contagem matemática; Desenvolvimento de estratégias; Grandezas matemáticas (maior que, menor que, igual, diferente, correspondência um a um); Habilidades quantitativas de julgamento para controlar as sementes a cada jogada; Ideia aditiva e subtrativa; Observação; Raciocínio dedutivo; Raciocínio indutivo (COSTA; MARTINS, 2015). Pesquise Busque regras diferentes para jogar Kalah ou Mancala, bem como outras possibilidades de trabalhar este jogo de forma interdisciplinar, envolvendo outras disciplinas e/ou outros conteúdos. Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Leia “Mancala - o Jogo africano no ensino da Matemática”. Autores: Cunha Jr., Henrique; Pereira e Rinaldo Pevidor. Curitiba/PR: Editora Appris, 2016. 37 Como nos assevera Fazenda: “Que a sala de aula seja um ambiente em que o autoritarismo seja trocado pela livre expressão da atitude interdisciplinar. (Fazenda, 1994). Resumo da Aula Neste encontro foram abordados aspectos relacionados à disciplina de Educação Física na BNCC, enquanto parte da área das linguagens, e a possibilidade do exercício da interdisciplinaridade a ser desenvolvida na unidade temática “brincadeirase jogos”, por meio da apresentação do jogo Kalah ou Mancala. Atividade de Aprendizagem Desenvolva uma aula de Educação Física para o Ensino Fundamental em que ações interdisciplinares estejam presentes. 38 Resumo da disciplina A disciplina Educação Física na Perspectiva Interdisciplinar prioriza discutir as conexões existentes entre os diferentes conteúdos trabalhados na educação básica, por meio de uma abordagem interdisciplinar que ressalte a importância de um ensino integrado, que ultrapasse a barreira de conhecimentos estanques e fragmentados. A reflexão aqui proposta sugere a veiculação de conteúdos de maneira global, incorporados às aprendizagens prévias e diretamente relacionados à prática cotidiana de cada estudante. Desta maneira, é possível desenvolver um trabalho pedagógico de forma interdisciplinar, enquanto importante instrumento para o ensino de qualquer conteúdo de forma integrada a outras disciplinas e a outros conteúdos, de maneira contextualizada e dinâmica. Sendo assim, a disciplina de Educação Física foi apresentada na prática do currículo escolar enquanto maneira de construir um entendimento a partir de diferentes olhares e compreensões de um mesmo fato, o que resulta na construção de diferentes saberes. Para tanto, se faz necessário um olhar crítico, reflexivo e dialético para o Projeto Político-Pedagógico da escola em toda a sua dimensão, uma vez que ele tem, por base, um currículo que se faz na sua não neutralidade e na representação de forças, precisando, portanto, ser superado. Um currículo mais aberto, flexível, vivo, dinâmico e contemporâneo se faz na medida em que ocorram possibilidades de entrelaçamento entre as disciplinas e os conteúdos, o que pode acontecer por meio de jogos e brincadeiras enquanto parte de uma das temáticas da Educação Física, conforme a Base Nacional Comum Curricular e demais documentos legais a ela concernentes. 39 Referências _____. BNCC - Base Nacional Comum Curricular: Educação é a Base. 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