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e PÂNCREAS Órgão de localização retroperitoneal, situando-se no abdome superior, medindo cerca de 15 cm. Divide-se em três partes: cabeça, corpo e cauda. A cabeça possui íntima relação com o duodeno (descansa sobre o arco duodenal). Outra característica importante, sob o ponto de vista embriológico, é que o colédoco passa por uma reentrância na cabeça pancreática e desagua na segunda porção duodenal (papila de Vater ou papila duodenal), junto com o ducto de Wirsung (ducto pancreático principal) que desagua suco pancreático. A papila de Vater contém o esfíncter de Oddi, que possui uma musculatura que envolve o colédoco e uma musculatura separada, que forma o esfíncter envolvendo o ducto pancreático. Desse modo, a pressão do esfíncter que envolve o ducto pancreático é maior do que a do esfíncter que envolve o colédoco, a fim de impedir o refluxo de bile para a via pancreática no momento em que o ducto de Wirsung desagua suco pancreático na papila duodenal. O pâncreas de acordo com a sua capacidade funcional se divide em porção exócrina formado por glândulas mistas túbulo-acinares (a parte ductal é composta por ductos de menores diâmetros que vão se tornando maiores até forma o ducto pancreático principal. Sendo essa a região que vai drenar as enzimas pancreáticas que auxiliam no processo digestivo); e porção endócrina composta por ilhotas de langerhans (células beta, células alfa e células PP). *o pâncreas exócrino tem maior importância ao que diz respeito a pancreatite aguda. Pâncreas exócrino O pâncreas exócrino é regulado pela interação direta entre os sistemas hormonal e neural. Produz e secreta suco pancreático, rico em bicarbonato e enzimas digestivas. Está associado ao processo de digestão de carboidratos, lipídios e proteínas, permitindo que essas substâncias sejam adequadamente clivadas em moléculas absorvíveis e utilizadas para diversos fins. PANCREATITE CLÍNICA MÉDICA I Maria Eduarda Marchi - 2025.1 Secreção diária de 1,5 a 3l de liquido alcalino Ácido gástrico Aumenta a liberação de secretina (mucosa duodenal) Suco pancreático rico em água e HCO3- Nervo vago Efeito permissivo secretina e CCK Estimulo independente secretina e CCK Ácidos graxos, aa essenciais e ácido gástrico Liberação de CCK (mucosa duodenal e jejunal) Secreção pancreática rica em enzimas (proteolíticas, amidolíticas e lipolíticas) e Há 3 estímulos principais para a secreção diária de líquido alcalino: (1) estímulo mediado pela secretina, (2) estímulo pela colecistocinina e (3) estímulo vagal. A secretina é liberada pela mucosa do duodeno e a nível pancreático estimula a secreção de um líquido rico em água e bicarbonato. E o principal estímulo para a secreção da secretina é o próprio suco gástrico. Ou seja, quando o alimento entra em encontro à câmara gástrica tem-se a maior liberação de HCL, que consiste no principal estímulo para que a mucosa duodenal produza secretina, que tem como principais ações: proteger a mucosa duodenal contra o potencial lesivo do suco gástrico ácido e criar um pH alcalino (> 7,00) ótimo para a máxima ação das enzimas pancreáticas. A colecistocinina/colecistoquinina (CCK) libera secreção pancreática rica em enzimas proteolíticas, amidolíticas e lipolíticas. A CCK é liberada pela mucosa duodenal e jejunal desencadeada pelos ácidos graxos, aminoácidos essenciais e pelo próprio ácido gástrico. O estimulo vagal tem ação direta no pâncreas, tendo tanto um efeito permissivo, ou seja facilitando a ação da secretina e CCK; quanto um efeito independente dessas substâncias estimulando a secreção pancreática. Autoproteção do pâncreas Como se sabe, o pâncreas tem um alto potencial digestivo e a fim de evitar a autodigestão há fatores protetivos, sendo eles: (1) armazenamento de proteases pancreáticas na forma de precursores - *principal mecanismo, (2) síntese de inibidores de proteases e (3) diminuição do cálcio intracelular. Explicação da imagem 1: Liberação de HCL pelas células parietais, que estimulam a produção e liberação de secretina pelas células duodenais. Que por sua vez, tem o seu eixo agindo no pâncreas exócrino, estimulando a secreção rica em bicarbonato. Explicação da imagem 2: A presença de constituintes de gordura e proteína no duodeno e no jejuno proximal causa a liberação de CCK das células endócrinas do intestino. A CCK atua diretamente e por meio de mecanismos vagais para estimular a liberação de enzimas das células acinares pancreáticas. PANCREATITE AGUDA A pancreatite aguda é definida como uma condição inflamatória aguda do pâncreas, com acometimento variável das estruturas peripancreáticas e órgãos à distância, cuja gênese depende da autodigestão tecidual pelas próprias enzimas pancreáticas. Nos casos mais graves se comporta como uma doença multissistêmica, pela liberação de citocinas que tem efeito à distância, ocasionando a Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica (SIRS). Há dois espectros: Pancreatite edematosa/intersticial/leve que cursa em 80% dos casos e pancreatite necrosante/necrohemorrágica/grave que cursa nos 20% restante. 1. Etiologia As causas mais comuns de pancreatite aguda são a litíase biliar e o consumo excessivo de álcool (segunda causa mais prevalente). 1.1) litíase biliar Sendo a litíase a causa mais frequente, incluindo microlitíase com cálculos geralmente menores que 5mm. O cálculo formado na vesícula migra através do ducto cístico, até o colédoco distal. E nessa região da papila duodenal há o esfíncter de Oddi, sendo uma das regiões de maior estreitamento, assim, o cálculo pode ficar impactado. Assim, a pressão dos esfíncteres se alteram, levando ao aumento da pressão no interior do ducto pancreático e as enzimas que estavam armazenadas são autoativadas. Acondicionamento de proteases sob a forma de precursores Zimogênios (complexo de golgi) Síntese de inibidores de proteases Inibidores da tripsina secretória pancreática (PSTI) Inibidores de protease serina (SPINK 1) Diminuição da concentração de cálcio no leito vascular pancreático Reduz a atividade da tripsina 1.2) Consumo excessivo de álcool Pancreatite aguda e crônica, não sendo obrigatório o consumo crônico de álcool. Acredita-se que a principal ação causadora da pancreatite é tornar a secreção pancreática mais espessa. 1.3) Hipertrigliceridemia Os pacientes apresentam, geralmente, um soro lipêmico em razão de níveis de triglicerídeos plasmáticos > 1.000 mg/dL. - Há relatos de 500-1000 mg/dl quando tem fatores associados. - triglicerídeos > 4000 e predomínio de VLDL. 1.4) Pós-CPRE A manipulação da segunda porção do duodeno pode desregrar as pressões exercidas pela esfíncter de Oddi, ocasionando a pancreatite. 1.5) Trauma (contuso) Grandes traumas abdominais fechados podem levar ao rechaço da glândula causando um desbalanço dos mecanismos protetores do pâncreas, levando a ativação enzimático e, consequentemente, a autodigestão. 1.6) Cirurgias (especialmente abdominais) - alta mortalidade 1.7) disfunção do esfíncter de Oddi 1.8) Induzida por fármacos Medicamentos são uma causa incomum para pancreatite aguda, devendo ser investigada após a exclusão das causas convencionais. A classe de drogas mais associada com a pancreatite aguda são os imunossupressores, incluindo a azatioprina, 6- mercaptopurina, L-asparaginase. 1.9) Causas menos frequentes Fibrose cística, causas vasculares (vasculites, hipoperfusão), IRC, hipercalemia, câncer de pâncreas, causa idiopática ( 30%), pâncreas divisium, pancreatite autoimune (marcador sérico - IgG4) 2. Patogênese - teoria da autodigestão A quantidade de citocinas e de ativação enzimática que aquele processo agudo ocasionou que vai caracterizar a forma clínica, se for mais leve (pancreatite edematosa)ou mais intensa (pancreatite necrosante). 3. Manifestações clínicas Dor abdominal é a queixa principal e faz parte dos critérios diagnósticos. A dor geralmente é em abdome superior (à esquerda), em barra, de forte intensidade, de irradiação para o dorso, fazendo com que os pacientes tenham dificuldade em encontrar uma posição confortável. Náuseas e vômitos acompanham a dor abdominal em 90% das vezes. • Distensão abdominal e peristalse diminuída • Achados sistêmicos: febre baixa e desidratação • Icterícia devido a compressão extrínseca do colédoco • Nódulos subcutâneos (paniculite) devido ao processo inflamatório difuso • Alterações pulmonares: atelectasia, estertores e derrame pleural a esquerda • Xantomas eruptivos que são característicos de hipertrigliceridemia. *não é sinal patognomônico. • Sinais cutâneos: Equimose em flancos (sinal de Gray-turner) e equimose periumbilical (sinal de cullen), sugerem processo agressivo. O sinal de cullen é uma hemorragia pela digestão enzimática que ocorre para a cavidade peritoneal; já o sinal de gray-turner é uma hemorragia que ocorre para o retroperitôneo. Fase 1: Ativação intrapancreática das enzimas que tem o potencial proteolítico, amidolítico e lipolítico muito alto. Uma vez ativadas, dão início a fase dois. Fase 2: Injúria tecidual, que promover o recrutamento de células inflamatórias, que leva a produção de uma série de citocinas. Fase 3: Consequência da ativação enzimática e citocinas nos órgãos a distância (SIRS), com aumento da permeabilidade vascular. SINAL DE GRAY TURNER SINAL DE CULLEN 4. Diagnóstico laboratorial O diagnóstico de pancreatite via de regra é clínico-laboratorial, ou seja, faz-se necessário os aspectos clínicos citados acima, associado ao aumento das enzimas pancreáticas (amilase e lipase). E esse aumento para ser característico do processo inflamatório precisa ser 3x maior do que o limite superior normal (LSN). - Amilase: Eleva-se em 6 a 12h e normaliza após 48-72h - Lipase: Pode permanecer elevada até 7-14 dias Exames adicionais: leucocitose, hiperglicemia (< liberação de insulina e > de glucagon), aumento de LDH (prognóstico pior), aumento de ptn C reativa, aumento de elastase, TNF e IL-6. 5. Outros exames 5.1 USG abdome Não tem boa acurácia para avaliação pancreática, devido o pâncreas ser um órgão retroperitoneal e pela interposição gasosa. Pede-se esse exame para poder avaliar etiologia biliar. 5.2 TC abdome A TC não deve ser pedida na admissão do paciente quando não houver dúvida sobre o diagnóstico, pois se tomografar no momento 0 provavelmente não terá repercussões macroscópicas dessa inflamação. Só deve ser solicitado na admissão quando houver dúvidas sobre o diagnóstico. A TC tem papel importante na avaliação prognóstica do paciente, dentro de 48-72h, devido ao aparecimento da inflamação da glândula. XANTOMAS ERUPTIVOS PANICULITE Sem relação entre nível de elevação e gravidade da doença. Classificação de Balthazar - *não precisa saber para a prova. Necrose pancreática: TC com contraste IV O pseudocisto consiste em uma complicação da pancreatite. - Fatores prognósticos: Ranson (mais utilizado), APACHE e Balthazar (tomografia). 6. Tratamento 6.1 Pancreatite forma leve • Pacientes com pancreatite aguda leve são mantidos em dieta zero, pelo menos tempo possível. • Deve-se fazer uma hidratação venosa rigorosa. • Analgésicos opioides por via venosa são preferíveis. A morfina promove contração do esfíncter de Oddi, no entanto, esse fato não causa impacto na evolução da pancreatite. - Deve-se fazer um controle rigoroso da glicemia 6.2 Pancreatite grave Pacientes devem ser internados em UTI sob dieta oral zero por períodos prolongados (> 4 semanas), a nutrição enteral jejunal é a mais indicada (dieta rica em proteínas e pobre em lipídeos). Deve ser implementado: • Analgesia potente (opioide). • Hidratação venosa rigorosa. • Antibiótico profilaxia não está recomendada. Maior incidência de infecção por Candida sp. - Tratamento invasivo: Necrosectomia (se necrose infectada) e CPRE com papilotomia (PA biliar com cálculo impactado e má evolução). Avaliação na admissão do paciente: Idade, contagem de leucócitos, nível de glicose, nível de LDH e o nível de TGO. Critérios para realimentar: Melhora da dor, fome e peristalse normalizada. Na pancreatite leve isso ocorre em torno de 3 a 5 dias. Há evidências de que os critérios surgem em até 48 horas da admissão. Um dos motivos para diminuir o tempo de dieta zero é impedir a hiperproliferação bacteriana, que ocorre normalmente a partir do 7º dia de dieta zero. Importante: Além de dosar amilase e lipase na admissão, tem que dosar LDH, glicose, leucócitos e TGO. Hiperglicemia Risco alto de infecção pancreática < liberação de insulina > gliconeogênese < utilização da glicose - Pacientes com PA leve, de causa biliar presumida, devem ser submetidos a colecistectomia, preferencialmente na mesma internação hospitalar. O momento da cirurgia deve ser quando houver o menor grau de inflamação sistêmica. Se não for feita a colecistectomia o paciente terá episódios subsequentes de pancreatite, de maior gravidade do que a primeira. 7. Complicações - Abscesso: Usualmente aparecem após quatro/ seis semanas do processo inflamatório. Apresenta menor gravidade e faz-se necessário aspiração para diagnóstico. O tratamento consiste em drenagem, sem sempre cirúrgica. - Necrose pancreática infectada: Definida como a presença de uma ou mais áreas focais ou difusas de parênquima pancreático inviável. Usualmente aparecem após 2-4 semanas. Considerado grave e o diagnostico é por aspiração. O tratamento é cirúrgico. - Pseudocisto: São coleções precedidas por pancreatite em 15% dos pacientes com PA, que usualmente ocorre em quatro a seis semanas após o processo inflamatório. Menor gravidade, não possui epitélio e a maioria ocorre no corpo e cauda. Não se recomenda cirurgia em pacientes que sejam assintomáticos. Deve fazer diagnóstico diferencial com abcesso pancreático. Abscesso Necrose pancreática infectada Pseudocisto Hemorragia digestiva alta Ascite pancreática Retinopatia de Purstcher
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