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O pâncreas é um órgão retroperitoneal, fato esse que faz com que tenha uma difícil avaliação em alguns métodos de imagem. As principais afecções pancreáticas são a pancreatite (principalmente aguda) e as lesões neoplásicas, destaca-se o adenocarcinoma pancreático. Além dessas, há as lesões císticas, que destacam-se o pseudocisto e as lesões neoplásicas císticas. PANCREATITE AGUDA Inflamação aguda do pâncreas, que pode ter acometimento variável das estruturas peripancreáticas e dos tecidos e órgãos a distância. O processo decorre da autodigestão pelas próprias enzimas pancreáticas, podendo causar desde lesão aguda e autolimitada até condição multissistêmica. As principais formas de apresentação são: (1) forma edematosa/intersticial/leve ou (2) forma necrosante/ necrohemorrágica. 1 Diagnóstico clínico O diagnóstico de pancreatite via de regra é clínico-laboratorial, ou seja, faz-se necessários os aspectos clínicos associado ao aumento das enzimas pancreáticas, a amilase e lipase. - A manifestação clínica característica da pancreatite é dor abdominal, geralmente em abdome superior (à esquerda), em barra, de forte intensidade, de irradiação para o dorso, acompanhada de náuseas e vômitos. De um modo geral, os exames de imagem não são fundamentais para fechar o diagnóstico, assim, os objetivos em solicitar a avaliação por imagem são: (1) Confirmar o diagnóstico e diagnostico diferencial, (2) etiologia, (3) estadiamento, (4) complicações, (5) terapêutica. 2 Métodos de imagem 2.1 Radiologia convencional O RX não é o exame de escolha quanto ao diagnóstico de pancreatite aguda. No entanto, pode haver situações que não há USG ou TC a disposição. Assim, através desse exame é possível visualizar alterações que podem ser útil na emergência para avaliação desse paciente. E essas alterações podem ser vistas na rotina do abdome agudo, que é composta por três incidências básicas: (1) RX tórax em PA, (2) abdome em decúbito e (3) abdome AP ortostático. - As alterações que podem ser visualizadas consistem em: • Derrame pleural/ atelectasias basais: Pode haver irritação diafragmática principalmente a esquerda, causando DP reacional. AULA ALMIR Maria Eduarda Marchi - 2025.1 PÂNCREAS As etiologias mais comuns de pancreatite aguda são litíase biliar e o consumo excessivo de álcool. Além dessas, há causas como hipertrigliceridemia, induzida por fármacos, idiopática, autoimune, viral. • Alça sentinela: Distensão de ação intestinal sobre o pâncreas. Geralmente o processo inflamatório pancreático causa uma paresia da alça intestinal, reduzindo a sua motilidade, deixando-a distendida. • “Cutoff” do cólon: Amputação da coluna aérea do cólon, devido ao processo inflamatório pancreático próximo ao cólon transverso e cólon descendente. • Aumento do espaço gastrocólico: Aumento do espaço entre o cólon de transverso e a grande curvatura gástrica, que normalmente estão bem próximos. • Distensão de alças de delgado: Achado inespecífico, uma vez que é um achado bastante comum em qualquer processo inflamatório na cavidade abdominal. Radiografia de abdome mostrando a imagem da coluna aérea do cólon e onde a seta está indicando é a amputação da coluna área, chamado de “cutoff” do cólon. A imagem abaixo também mostra o “cutoff” do cólon. Aumento do espaço gastrocólico 2.2 Ultrassonografia Esse método de imagem é bastante utilizado mesmo que a visualização seja prejudicada, uma vez que o pâncreas é um órgão retroperitoneal, em virtude da interposição das alças intestinais entre o transdutor e o pâncreas. Assim, esse exame é utilizado em pacientes com pancreatite aguda principalmente para avaliar a vesícula e as vias biliares além de tentar avaliar o pâncreas (*não é a principal função desse método de imagem). E uma vez com o diagnóstico feito, a USG é de serventia para o diagnóstico e acompanhamento de pseudocisto, que consiste na principal complicação da pancreatite. A USG é mandatória em todo paciente com pancreatite aguda, ou seja, deve ser realizado em todos os pacientes com pancreatite aguda que chegam no PS. Pois, é preciso avaliar a vesícula e as vias biliares, para saber se há cálculo, e se este é a causa da pancreatite aguda. Vesícula biliar distendida e imagem ecogênica com sombra acústica posterior, caracterizando cálculo no interior da vesícula biliar. Pâncreas edemaciado por conta da inflamação da pancreatite aguda. Imagem anecoica localizada na cabeça do pâncreas, típica do pseudocisto. 2.3 Tomografia computadorizada Exame de padrão outro para o diagnóstico e estadiamento da pancreatite. Sendo mais útil quanto ao estadiamento, sendo possível identificar a pancreatite é grave. Bem como, orienta quanto a procedimentos intervencionistas. A TC não deve ser solicitada antes de 24h do início dos sintomas, pois provavelmente ainda não terá repercussões do processo inflamatório, tendo a possibilidade se subestadiar o paciente. Assim, a TC deve ser realizada após 24-48h do início dos sintomas, devido a instalação de todo o processo inflamatório. É importante utilizar o contraste venoso na realização do exame, porque é por meio do contraste que é possível identificar a presença de necrose pancreática, que é importante na graduação da pancreatite aguda. Denominação de coleções líquidas peripancreáticas - Pancreatite edematosa < 4 semanas - coleção fluida aguda peripancreática > 4 semanas - pseudocisto - Pancreatite necrotizante < 4 semanas - coleção necrótica aguda > 4 semanas - necrose pancreática delimitada Achados na TC que indicam pancreatite aguda: (1) aumento focal ou difuso, (2) infiltração da gordura peripancreática, (3) espessamento da fáscia látero-conal, (4) espessamento da parede gástrica, (5) redução dos coeficientes de atenuação do pâncreas, (6) necrose, (7) coleções peripancreáticas, (8) hemorragia e (9) infecção. Caso 1: E.L., fem, 40 anos, pancreatite biliar. A paciente queixava-se de dor na região mesogástrica e o exame laboratorial constava aumento de amilase e lipase. Foi realizado uma USG, sendo identificado cálculo na vesícula biliar e fez TC para estadiamento. Caso 2: MRB, fem, 32 anos. Colecistectomia eletiva, que detectou um cálculo no colédoco. Encaminhada à papilotomia endoscópica. 2 dias após a papilotomia, a paciente evolui com um quadro de dor abdominal, aumento de lipase e amilase, caracterizando a pancreatite. Caso 3: J.S., masc., 45 anos, pancreatite alcóolica. É possível visualizar o aumento do pâncreas (a partir da imagem 2). E imagens hipoatenuantes principalmente na região da cauda, desde a imagem 1, representando áreas de necrose pancreática (não capta contraste venoso) de quase 50% da glândula; e com coleções liquidas peripancreáticas, caracterizando Balthazar E. Pâncreas de aspecto normal e sem elevação da gordura peripancreática, indicando pancreatite leve, Balthazar A. Na imagem 1: Aumento do tamanho do pâncreas; Imagem 2: Gordura peripancreática borrada. Caracterizando pancreatite Balthazar C. Espessamento da fáscia látero-conal esquerda Caso 4: A.L.R, masc., 47 anos, pancreatite idiopática? É possível visualizar áreas que não captam contraste (necrose) tanto na cauda quanto na cabeça do pâncreas, aumento do tamanho do pâncreas, coleções líquidas peripancreáticas, encaixando na classificação Balthazar E. Área viável - sem necrose Coleção líquida Feito entre 24h-48h da admissão Caso 5: JLS, masc., 55 anos, icterícia obstrutiva. Foi feito colangiorressonância (imagem1) que mostrou uma imagem preta localizada na cabeça do pâncreas e amputação do colédoco, tratando-se de uma neoplasia de pâncreas. Exame de controle após 15 dias - Presença de gás no interior da coleção, que é indicativo de infecção por bactérias produtoras de gás. Tumor de cabeça de pâncreas A tomografia computadorizada (TC) é um método de imagem que também orienta na punção percutânea das coleções peripancreáticas. 3 dias após o procedimento endoscópico, o paciente apresentou fortes dores abdominais com exames laboratoriais indicando aumento de amilase e lipase. Foi feito Rx sendo encontrado um aumento do espaço gastrocólico. Também foi feita uma nova TC que mostra que o paciente evoluiu com uma complicação, fazendo uma pancreatite necrohemorrágica. Dreno bem localizado 2.4 Ressonância magnética Não é o exame de escolha para diagnóstico e estadiamento. Funciona como uma alternativa para os pacientes que não podem usar contraste iodada e que haja a necessidade de comprovação da existência de necrose. Utilizado na avaliação de pacientes com pancreatite “idiopática”. Além disso, há também a colangiopancreatografia por RM para avaliar pacientes com coledocolitíase, avaliar o ducto de Wirsung, pseudocisto e comunicação com o Wirsung. O pâncreas divisum é uma má formação congênita quando não há fusão dos ductos pancreáticos dorsal e ventral, entrando diretamente no papila menor. E assim, acredita-se que essa seja uma causa de pancreatite. Coleção liquida com gás no interior, indicando infecção. Sendo colocado um dreno. Coleção no flanco esquerdo com dreno. Cálculo no colédoco como causa da pancreatite. 2.5 Outros: CPRE e ultrassonografia endoscópica NEOPLASIAS PANCREÁTICAS 1. Neoplasia de pâncreas exócrino - Adenocarcinoma: Neoplasia mais comum (representa 90 a 95% dos tumores pancreáticos), está localizado em sua maioria na cabeça do pâncreas (65%) e a menor parte no corpo e na cauda, o que confere comportamento clínico diferente. Imagem de uma colangiorressonância indicando que não há fusão do ducto dorsal e ventral. Nessa imagem é possível visualizar um pseudocisto (seta maior) e a sua comunicação com o ducto de Wirsung. O paciente com tumor de cabeça de pâncreas apresenta a icterícia como o principal sintoma, devido a compressão do colédoco, o que facilita no diagnóstico. Os tumores do corpo e cauda crescem de forma insidiosa e apresentam como principal sintoma a dor abdominal em barra, pois já invadiu a gordura peripancreática e o plexo celíaco, já caracterizando um estágio avançado e geralmente já metastáticos. Tumor de pâncreas - imagem ultrassonográfica (1) tumor de cabeça de pâncreas , (2) colédoco e (3) veia porta. É possível visualizar o tumor obstruindo o colédoco, deixando-o dilatado. Tumor de pâncreas - imagem tomográfica A TC e a RM são os melhores métodos de imagem para avaliação de tumor de pâncreas. A imagem 2 indica tumor de cabeça de pâncreas. Como esse tumor causa obstrução colédoco, ele vai causar dilatação dos ductos biliares intra-hepáticas (imagem 1). Importante: A tomografia é fundamental para identificar o envolvimento vascular neoplásico. É de extrema importância avaliar se há invasão ou comprometimento da veia mesentérica superior, uma vez que isso mudo o prognóstico e a conduta cirúrgica. Tumor de colo do pâncreas Tumor de cabeça do pâncreas Tumor de cabeça de pâncreas Veia mesentérica superior Artéria mesentérica . Tumor encostando na veia mesentérica superior AngioTC - Redução do calibre da veia mesentérica superior (SMV) indicando que há um comprometimento devido ao tumor de pâncreas. Faz parte do estadiamento do tumor de pâncreas a identificação de linfonodos peripancreáticos, sendo que o principal sítio de metástase é a via linfática. A imagem ao lado, está indicado pela seta linfonodomegalia localizados no hilo hepático. - Neoplasias císticas: Cistodenoma seroso (microcístico - raramente maligno) e neoplasia cística mucinosa (macrocístico - tem grande potencial de malignidade. Cistoadenoma/ cistoadenocarcinoma) Nódulos hipoatenuantes indicativos de metástase hepática. E indicado pela seta branca tem-se um linfonodo metastático. Imagem de ressonância magnética Cistoadenoma seroso - microcistos - Neoplasia papilífera intraductal mucinosa: Neoplasia que atapeta o sistema canalicular ductal e produz mucina. E a sua principal maneira de apresentação dessa patologia é através de pequenos cistos pancreáticos. • De ducto secundário: Quase sempre benigno e sem dilatação do ducto de Wirsung. • De ducto principal: Potencial de malignidade e dilatação do ducto de Wirsung. Cistoadenoma mucinoso - macrocistos. Nesse tipo tem-se a existência de lesão vegetante (suspeita de malignidade). Cistoadenocarcinoma mucinoso - nódulo mural 2. Neoplasia de pâncreas endócrino - Funcionante (insulinoma, glucagonoma, VIPoma) - Não funcionante 3. Outros: Mesenquimais e metástase Imagem de colangiorressonância: Neoplasia papilífera intraductal mucinosa de ramo secundário. CPRE: Neoplasia papilífera intraductal mucinosa de ramo principal. Ducto de Wirsung dilatado N e o p lasia p ap ilífera in trad u ctal m u cin o sa d e ram o p rin cip al.
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