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Tópico 03 Diagnóstico por Imagem Radioterapia 1. Introdução A descoberta dos raios X se deu pelo professor de física, o alemão Wilhelm Roentgen, em 1985, representando um acontecimento muito importante dentro da medicina moderna (GUNDERMAN, 2007). Logo após essa descoberta, muitos pesquisadores começaram a estudar os raios X e observaram que seus efeitos não se limitavam a impressionar a imagem de um corpo opaco sobre uma chama fotográfica (CAMARGO, 2015). Deste modo, ainda em 1985, foi registrada a primeira tentativa de utilização de raios X para o tratamento de câncer de pulmão em Chicago, nos EUA, por Emil Grubbé (MOURÃO; OLIVEIRA, 2009). Então, querido aluno, que tal conhecer um pouco mais sobre a história da radioterapia? Segundo Mourão e Oliveira (2009), os acontecimentos que fizeram parte da evolução da radioterapia são: 1896 – Antoine Henri Becquerel descobriu a radioatividade natural. 1896 – Victor Despeignes utilizou os raios X para o tratamento de câncer de estômago. 1898 – Pierre e Marie Curie foram responsáveis pela descoberta do polônio e do rádio. 1901 – Dr. Henri A. Danlos realizou o primeiro tratamento de câncer de pele com rádio. 1903 – Nicholas Senn e William A. Pusey descreveram os efeitos da radioterapia nos linfonodos. 1921 – Foi criado o primeiro Instituto de Câncer com serviço de braquiterapia, em Villejuif, na França. 1934 – O casal Joliot-Curie descobriu os radionuclídeos artificiais, que possibilitaram o surgimento de novas tecnologias associadas à radioterapia. Na década de 50, surgiram os primeiros aparelhos de cobralto- 60 (“bombas de cobalto”) e césio-137, possibilitando o uso da radioterapia para tratar de lesões mais profundas sem causar efeitos adversos sobre pele. Logo em seguida, foi desenvolvido o primeiro acelerador linear de partículas, que permitiu a geração de feixes de fótons mais penetrantes do que aqueles gerados pelas “bombas de cobalto” (MOURÃO; OLIVEIRA, 2009). Então, a radioterapia (radio = radiação; terapia = tratamento) é uma modalidade terapêutica que utiliza radiação ionizante para o tratamento do câncer. Para isso, é utilizada uma dose de radiação suficiente para destruir as células tumorais (morte celular) ou impedir a sua multiplicação por mitose. No entanto, é muito importante que a dose de radiação não ultrapasse os limites críticos de tolerância dos tecidos normais adjacentes (MALZYNER; CAPONERO, 2013). Segundo Rodrigues, Martin e Moraes (2016), a radioterapia também pode ser empregada no controle de processos inflamatórios e de tumores benignos, além ser utilizada para aliviar ou reduzir sintomas como dor, sangramento e compressões tumorais a órgãos vitais. Os radionuclídeos ou isótopos são utilizados na forma de tubos, placas, agulhas, fios e sementes que geram radiações, nas quais a quantidade de energia vai variar conforme o elemento utilizado (MEDRADO, 2015). A Tabela 1 apresenta os radionuclídeos comumente utilizados na radioterapia. 2. Indicações da Técnica O uso clínico da radiação é um processo complexo que envolve uma variedade de funções inter-relacionadas e muitos profissionais, como médicos, biomédicos, profissionais das técnicas radiológicas, entre outros. Em muitos casos, o tratamento de radioterapia pode ser realizado de maneira isolada, ou pode ser efetuado em combinação com a quimioterapia e/ou processos cirúrgicos complementares (MOURÃO; OLIVEIRA, 2009). Segundo Guimarães e Chojniak (2014), entre as finalidades da radioterapia estão: Radioterapia curativa: é a principal modalidade de tratamento radioterápico, e visa à cura do paciente. Nesse caso, o paciente apresenta uma probabilidade de sobrevida em longo prazo após a intervenção terapêutica adequada. Radioterapia neoadjuvante: a radioterapia é realizada previamente, com objetivo de diminuir o volume tumoral, facilitando o procedimento cirúrgico, além de tratar precocemente a doença microscópica adjacente. Em geral, é efetuada concomitante com a quimioterapia. Radioterapia adjuvante: a radioterapia é realizada após o tratamento cirúrgico, associada ou não com a quimioterapia, com objetivo de eliminar as células tumorais remanescentes do ato cirúrgico e que causariam uma rápida recidiva tumoral. Radioterapia paliativo: tem por objetivo o alívio de sintomas como hemorragias (radioterapia anti-hemorrágica), compressões e dor (radioterapia antiálgica) causadas por metástases ou pelo tumor primário. Nesse caso, a radioterapia não exerce influência sobre o tempo de sobrevida do paciente, mas proporciona uma melhor qualidade de sobrevida. Por exemplo: uso da radioterapia para aliviar a dor em pacientes como metástases ósseas disseminadas. De acordo com Govindan e Morgensztern (2017), a indicação da radioterapia deve seguir algumas etapas que servem como base para definir a melhor conduta terapêutica. Então, a prescrição de radioterapia deve ser realizada com base nas seguintes informações: 1. Avaliação da extensão do tumor através de exames de imagem, como radiografias simples, ultrassonografia, tomografia computadorizada e ressonância magnética; 2. Conhecimento das características patológicas da doença; 3. Seleção de modalidades apropriadas de tratamento, ou seja, tratamento local ou associado à quimioterapia e/ou processos cirúrgicos. 4. Determinação da dose ideal de irradiação e do volume a ser tratado; 5. Avaliação da condição geral do paciente, acompanhamento periódico de tolerância ao tratamento, resposta do tumor e situação dos tecidos normais adjacentes. Vale a pena conferir! O Instituto Nacional de Câncer (INCA) elaborou uma cartilha com diversos tópicos sobre o tratamento de radioterapia. É uma excelente 3. Técnicas Existentes Quanto às técnicas de radioterapia, é importante entender que elas são divididas em duas modalidades: a irradiação externa (teleterapia ou terapia de longa distância) e a braquiterapia (terapia de curta distância). A escolha da técnica mais adequada para o tratamento depende do tipo de câncer e da extensão do tumor (RODRIGUES; MARTIN; MORAES, 2016). A teleterapia é uma modalidade de radioterapia cuja fonte emissora de radiação ionizante está distante da região a ser tratada (no mínimo, 20 cm de sua superfície) (RODRIGUES; MARTIN; MORAES, 2016). Dentro da modalidade de teleterapia, vamos aprofundar o conhecimento sobre alguns dos equipamentos, como as máquinas convencionais de raios X, as bombas de cobalto e os aceleradores lineares. A teleterapia pode ser realizada com feixes de raios-X, feixes de raios gama, elétrons de alta energia e nêutrons (CAMARGO, 2015). Vale lembrar que a radiação ionizante penetra nos tecidos em diferentes profundidades, dependendo do seu tipo de energia e natureza física (RODRIGUES; MARTIN; MORAES, 2016). Os aparelhos de raios X podem ser utilizados para o tratamento superficial, como no caso de lesões de pele ou infiltração com até 3 cm de profundidade. Segundo Camargo (2015), o equipamento de raios X superficial opera com valores de alta tensão entre 10 e 100 keV (energia baixa) e o de ortovoltagem entre 100 e 250 kVp (energia média). leitura para ter o primeiro contato os principais tipos de tratamento com radioterapia. https://www.inca.gov.br/tratamento/radi oterapia https://www.inca.gov.br/tratamento/radioterapia https://www.inca.gov.br/tratamento/radioterapia O equipamento de telecobalto, também conhecido como “bombas de cobalto”, é composto por uma cápsula contendo o material radioativo de cobalto 60 no interior de um invólucro blindado. Essa fonte de cobalto 60 possui uma pequena abertura através da qual ocorre a emissão do feixe de fótons, sob a forma de raios gama, para o meio externo. Desta forma, a radiação se propaga para meio externo quando a fonte é deslocada e alinhada com o canal de abertura, permitindo que a irradiação seja direcionada para o alvo de tratamento (MOURÃO; OLIVEIRA, 2009). De modo geral, o equipamento de telecobalto possuium cabeçote contendo uma fonte de cobalto-60 que fica preso ao gantry. O gantry é um dispositivo que permite a movimentação da fonte para direcionar o ângulo de incidência do feixe de radiação. É importante destacar que em qualquer ângulo de rotação do gantry, o raio central do feixe irá passar por um ponto central, denominado de isocentro. Outros dois componentes importantes são o diafragma, que restringe o feixe de saída, e o colimador, que possibilita a variação da área de incidência do feixe (MOURÃO;OLIVEIRA, 2009). No entanto, os equipamentos de telecobalto estão cada vez mais em desuso devido ao surgimento dos aceleradores lineares. O acelerador linear é uma evolução dentro da teleterapia, que “O Cobalto 60 é um emissor grama, com meia vida longa (5,27 anos) e boa penetração tecidual. Sua alta energia (1,17 e 1,33 MeV) torna difícil o bloqueio de sua radiação para as estruturas oculares normais e para a equipe cirúrgica.” (CHOJNIAK; ERWENNE, 2002) permite a utilização de dois tipos de radiação: fótons X de alta energia e/ou feixes de elétrons. Os aceleradores lineares são equipamentos que funcionam de forma semelhante ao tubo de raios X convencional, uma vez que seu princípio físico está relacionado com a formação de elétrons acelerados que colidem com um alvo de alto número atômico para gerar um feixe de raios X. Entretanto, os aceleradores lineares utilizam um sistema de micro-ondas para acelerar os elétrons de forma mais intensa (grande velocidade), gerando fótons com energias da ordem de megavolts (> 1 MeV = alta energia). A intensidade dos feixes de fótons se mantém constante ao longo do tempo, pois os aceleradores lineares utilizam a eletricidade (campo elétrico) para acelerar as partículas carregadas (MOURÃO; OLIVEIRA, 2009). Acelerador Linear Os fótons gerados por um acelerador possuem valores de energia muito variados, ou seja, um acelerador de 10 MeV pode produzir fótons X com energia entre 1 e 10 MeV. Segundo Camargo (2015), os aceleradores lineares podem gerar fótons de energia muito maiores que os fótons gerados pelas bombas de cobalto- 60. Sendo assim, os aceleradores apresentam feixes mais penetrantes, o que possibilita o tratamento de lesões mais profundas, minimizando as doses na superfície. Os aceleradores lineares com feixe de elétrons não utilizam alvo de tungstênio para gerar feixe de raios X. Pelo contrário, o próprio feixe de elétrons é direcionado para o tecido alvo. É importante compreender que todos os elétrons que saem pelo diafragma possuem a mesma energia e essa energia depende da alta-tensão do acelerador linear. Entretanto, o feixe de elétrons é menos penetrante que o feixe de fótons (raios X e gama) e, por isso, são utilizados para tratar tumores superficiais, como câncer de pele, labial, lesão conjuntiva, cavidade oral, entre outros (MOURÃO; OLIVEIRA, 2009). Segundo Mourão e Oliveira (2009), antes de iniciar o tratamento com teleterapia é necessário realizar um planejamento para obter informação sobre a região a ser irradiada, com a finalidade de concentrar a maior dose na lesão e minimizar as doses nas áreas adjacentes. A primeira etapa do planejamento consiste em analisar as características morfológicas e o tamanho do tumor a ser tratado, para determinar a dose de radiação necessária para erradicar o tecido tumoral. Do mesmo modo, o planejamento é importante para determinar uma distribuição uniforme da dose no local de tratamento, além de buscar uma minimização da dose nos tecidos normais adjacentes (MOURÃO; OLIVEIRA, 2009). Segundo Govindan e Morgensztern (2017), “a unidade de dose absorvida utilizada nas prescrições de tratamento é o Gray (Gy), e um Gray corresponde à absorção de um Joule de energia por quilograma de massa”. Em seguida, é realizado o planejamento tridimensional (3D) da irradiação tumoral para definir os volumes de tratamento (MOURÃO; OLIVEIRA, 2009). Esses volumes são: volume do tumor visível (GVT- Gross Tumor Volume): é o volume com maior concentração de células malignas observadas pelos exames de imagem (p. ex. tomografia computadorizada). volume alvo de irradiação (CTV – Clinical Tumour Volume): é o volume de tecido que contém o GTV (tumor palpável) e partes microscópicas do tumor não visível; volume alvo interno (ITV – Internal Target Volume): considera o CTV com as margens de variação de posição e formato de órgãos. volume de planejamento (PTV – Planning Target Volume): busca definir as formas de incidência do feixe para garantir a dose absorvida prescrita no CTV. A próxima etapa consiste em estabelecer um programa de fracionamento da dose para minimizar os efeitos sobre os tecidos normais, que inevitavelmente serão irradiados. O intervalo entre as seções de irradiação serve para que as células normais possam se regenerar, visto que as células tumorais são mais sensíveis à radiação e acabam sendo destruídas em maior número a cada ciclo. Por fim, é realizada a escolha da técnica mais adequada a partir da avaliação anatômica do tumor e da sua relação com os órgãos adjacentes. Para isso, é necessário conhecer as curvas de isodose, que são linhas de profundidade que ligam os pontos de mesma dose de radiação. Elas oferecem uma representação visual do comportamento de um feixe ou de uma combinação de feixes em diversos campos de irradiação (MOURÃO; OLIVEIRA, 2009). Antes da liberação da dose que será aplicada no paciente, é realizada uma simulação da profundidade e do tamanho da lesão a ser tratada por meio de aparelhos de radiodiagnóstico com softwares específicos, como o simulador convencional ou o tomógrafo computadorizado (CAMARGO, 2015). Todo procedimento radioterápico deve utilizar acessórios que restringem a área de incidência do feixe. Os colimadores são dispositivos responsáveis pela limitação da área irradiada e formados por blocos móveis feitos com materiais com alta absorção de radiação, como, chumbo, urânio ou tungstênio (MOURÃO; OLIVEIRA, 2009). O uso de acessórios de posicionamento e imobilizadores é importante para manter o paciente na mesma posição durante o processo de irradiação, como triângulo de apoio, suporte de cabeça e pescoço, rampa de mama, colimadores multifolhas, entre outros (CARMAGO, 2015). Além disso, em alguns casos, é necessário utilizar protetores de órgãos sensíveis, principalmente quando estes órgãos estão próximos dos alvos da irradiação (MOURÃO; OLIVEIRA, 2009). De acordo com Camargo (2015), o tratamento com teleterapia pode ser iniciado após a conclusão do planejamento e da simulação do procedimento. De modo geral, cada aplicação dura em torno de 1 a 5 minutos e o paciente deve ficar sozinho na sala de tratamento. No entanto, o técnico de radioterapia observa o paciente e opera o equipamento através de um circuito interno de TV na sala de controle. Os avanços na radioterapia têm sido muito consistentes, principalmente com o desenvolvimento de novas tecnologias que buscam minimizar os efeitos adversos e, ao mesmo tempo, aumentar a eficiência dos tratamentos. Dentre as técnicas avançadas estão: Radioterapia de Intensidade Modulada (IMRT – Intensity Modulated Radiation Therapy): é uma técnica caracterizada pela sua eficiência em distribuir altas doses de radiação no volume alvo, enquanto minimiza de forma significativa a dosagem nos tecidos normais adjacentes, quando comparada com as técnicas convencionais de radioterapia. Trata-se de uma técnica complexa, que envolve o uso de novas ferramentas como: sistema de planejamento com algoritmo inverso, aceleradores com colimadores multilâminas (MLC) e controlado por computador, sistema de qualidade e acessórios específicos para dosimetria (CARMARGO, 2015). Radioterapia volumétrica modulada em arco (VMAT – Volumetric modulated arc therapy): é uma técnica de radioterapia que fornece uma distribuição de dose de radiação calculada e apresentada em formato 3D, conforme o gantry gira em torno do paciente. Alémdisso, essa técnica permite a variação simultânea de três parâmetros durante a aplicação do tratamento, ou seja, é possível ajustar a velocidade de rotação do gantry, a taxa de dose de radiação e o tamanho do campo de irradiação por meio do movimento do colimador multifolhas (TEOH et al., 2011). Radioterapia guiada por imagem (ICRT – Imaging Guided Radiotherapy): é uma técnica que utiliza a obtenção de imagens digitais para melhorar a localização exata de um tumor e o acompanhamento da movimentação da área interna do paciente que será tratado. Desta forma, é possível obter imagens em tempo real antes do procedimento radioterápico para verificar se houve mudanças na localização e no volume alvo durante o tratamento, indicando a necessidade de um novo planejamento (CAMARGO, 2015). Ao contrário das técnicas anteriores, em que a fonte de radiação fica distante do paciente, na braquioterapia os materiais radioativos são implantados no local a ser tratado, isto é, o isótopo radioativo é colocado em contato com a região alvo (lesão). A braquioterapia, também conhecida como curieterapia, tem sido muito utilizada no tratamento de tumores de próstata e ginecológicos, sendo que o iodo-125 e o irídio-192 são os isótopos mais empregados (GUIMARÃES; CHOJNIAK, 2014). As vantagens da braquioterapia estão relacionadas com o uso de altas doses de radiação diretamente no local do tumor, curto tempo de aplicação da dose terapêutica e diminuição da dose nos tecidos adjacentes. A braquiterapia pode ser utilizada no tratamento do câncer em diversas regiões do corpo humano, conforme mostra a seguir: Locais do corpo nos quais a braquiterapia pode ser utilizada para tratar o câncer. Segundo Mourão e Oliveira (2009), a braquiterapia pode ser classificada quanto à localização da fonte, em: Braquiterapia superficial: consiste na implantação de fontes reativas nas áreas superficiais do corpo (pele). Braquiterapia endocavitária: consiste na colocação de fontes reativas nas cavidades naturais, como na boca, nariz, esôfago, faringe, vagina, útero, entre outros. A iodoterapia é um tipo de radioterapia que utiliza iodo reativo (I-131) para tratar pacientes com câncer de tireoide, hipertireoidismo e nódulos. Braquiterapia intersticial: consiste na implantação de fontes radioativas seladas no interior dos tecidos através de incisões ou punções, como nos lábios, na língua, na próstata, na mama, entre outros. Para o procedimento da braquioterapia são utilizados cateteres, agulhas e aplicadores especiais próprios para cada região a ser tratada. As fontes blindadas de pequenas dimensões denominadas de sementes radioativas são instaladas no local da lesão de forma temporária (removíveis) ou permanentes (GUIMARÃES; CHOJNIAK, 2014). As sementes utilizadas na braquiterapia costumam apresentar período de meia-vida curto, sendo que essa característica facilita o seu controle e diminui a possibilidade de acidentes. Vale ressaltar que as sementes utilizadas nas implantações definitivas possuem radionuclídeos com períodos de meia-vida mais curtos ainda (MOURÃO; OLIVEIRA, 2009). A braquiterapia, segundo Mourão e Oliveira (2009), também pode ser diferenciada de acordo com a atividade da fonte que define a taxa de dose de radiação e são classificadas como: Braquiterapia de baixa dose (LDR – low dose rate): a taxa de dose de radiação é de 0,4 a 2 Gy/h (unidade de dose absorvida). Geralmente, o paciente é tratado com uma única aplicação de radiação, que é emitida em um ritmo contínuo por várias horas ou dias. Braquiterapia de alta taxa de dose (HDR – high dose rate): possui taxa acima de 12 Gy/h (unidade de dose absorvida). O elemento radioativo fica por poucos minutos no interior do organismo, uma vez que ele possui alta atividade demandando menor tempo para atingir a dose terapêutica. O planejamento usado na braquiterapia deve ser seguir algumas etapas, conforme mostra o esquema a seguir: Etapas do procedimento de braquiterapia. Vale ressaltar que a dose prescrita para a braquiterapia é administrada com intervalos de tempo variado. Além disso, é necessário realizar o planejamento para proteger os órgãos periféricos e, para isso, utilizam-se métodos de imagem como o ultrassom, os raios X ou a tomografia computadorizada (GUIMARÃES; CHOJNIAK, 2014). 4. Tipos de Radiação (Raios x, Alfa, Beta e Gama A radiação ionizante é o processo que altera a massa e a carga elétrica do átomo ou molécula, de forma natural ou artificial. Vale lembrar que toda radiação perde energia na interação com a matéria, e qualquer tipo de radiação ionizante é capaz de destruir os tecidos e, por isso, constitui um risco para os organismos expostos a ela (CAMARGO, 2015). Segundo White e Pharoah (2015), a radiação é a transmissão de energia através do espaço e da matéria, podendo ocorrer de duas formas: particulada e eletromagnética. Como vimos anteriormente, a radiação ionizante utilizada pela radioterapia pode ser tanto de ondas eletromagnéticas de raios X ou raios gamas, como também de partículas, como a partículas beta, elétrons de alta energia e prótons (RODRIGUES; MARTIN; MORAES, 2016). A radiação de partículas (corpusculares) são aquelas que possuem massa e carga elétrica. Como exemplo, temos: Radiação alfa (α): são partículas com núcleos de hélio (He), construídos por dois prótons e dois nêutrons. Apresenta carga elétrica +2 e número de massa 4. São partículas com baixo poder de penetração, isto é, não conseguem atravessar as camadas externas de células mortas da pele (WHITE; PHAROAH, 2015). Radiação beta (β): essas partículas β- são idênticas aos elétrons. Elas são menores e mais leves, carregam uma única carga negativa e número de massa 0. São partículas com médio poder de penetração, podendo chegar a um máximo de 1,5 cm no tecido. As partículas β- de iodo-131 podem ser utilizadas no tratamento de alguns tipos de câncer de tireoide (WHITE; PHAROAH, 2015). Por outro lado, as radiações eletromagnéticas não possuem carga e nem massa. Elas são formadas por ondas pela combinação de dois campos: elétrico e magnético. As radiações eletromagnéticas mais importantes na radioterapia são: Radiação gama (γ): originam-se nos núcleos dos átomos reativos, não apresentam massa e nem carga. Os raios γ podem atravessar completamente o corpo humano, causando danos irreversíveis, como alterações na estrutura do DNA. Raios X: são produzidos fora do núcleo e resultam da interação de elétrons com grandes núcleos atômicos nos aparelhos de raios X. Assim como os raios γ, os raios X são extremamente penetrantes, sendo detidos apenas por uma chapa grossa de chumbo ou concreto. A figura a seguir mostra que as radiações corpusculares e eletromagnéticas possuem diferentes capacidades para atravessar os materiais e o corpo humano, conforme mostra a figura a seguir: Tipos de radiação. 5. Efeitos Adversos da Radioterapia nas Diversas Regiões do Corpo Como vimos ao longo desse tópico, o uso da radioterapia requer alguns cuidados, uma vez que as altas doses aplicadas para destruir o tumor podem atingir os tecidos normais, causando uma série de efeitos adversos. É importante entender que esses efeitos não ocorrem da mesma forma em todos os pacientes submetidos à radioterapia, pois cada organismo pode apresentar reações diferentes ao tratamento. Deste modo, alguns pacientes apresentam reações mais graves, enquanto outros podem não apresentar sintoma algum (RODRIGUES; MARTIN; MORAIS, 2016). De modo geral, os efeitos adversos da radioterapia variam de acordo com a localização do tumor, da energia utilizada, do volume irradiado, da dose total e do estado geral do paciente (RODRIGUES; MARTIN; MORAIS, 2016). Segundo Mourão e Oliveira (2009), os efeitos adversos podem ser: Mucosite – inflamações que podem acontecer na boca, faringe, laringe, esôfago e outras áreas relacionadas; Xerostomia – boca seca; Alopecia – queda de cabelos; Diarreia por lesão na mucosaintestinal; Disúria – dor e dificuldade para urinar devido à lesão na mucosa vesical e/ou uretral. Algumas reações são relativamente comuns, como as reações de pele, também conhecidas como radiodermite, caracterizadas pela presença de queimaduras nas estruturas internas e externas. Essas reações foram classificadas de acordo com a sua gravidade pela Radiation Therapy Oncology Group (RTOG), conforme apresentado na tabela 2 (RODRIGUES; MARTIN; MORAIS, 2016). *Radiossensibilidade = é o grau e a velocidade de resposta dos tecidos à radiação *Radiocurabilidade = erradicação tumoral no primeiro tratamento Graus RTOG 0 Sem reação 1 Eritema leve, epilação, descamação seca, diminuição da sudorese 2 Eritema brilhante, descamação úmida, irregular, edema moderado 3 Descamação úmida, confluente, edema importante 4 Ulceração, hemorragia e necrose Além disso, os efeitos decorrentes da radioterapia podem ser classificados quanto ao tempo de ocorrência, em efeitos agudos (imediatos) ou efeitos tardios. Efeitos agudos: são efeitos que ocorrem durante ou imediatamente após o tratamento de radioterapia e apresentam curta duração (RODRIGUES; MARTIN; MORAIS, 2016). Geralmente, os efeitos agudos são mais observados nos tecidos com maior capacidade proliferativa, como nas gônadas, na epiderme, na medula óssea, nas mucosas digestiva, urinária e genital. Esses efeitos são reversíveis e incluem azoopermia ou onovulação, epitelites, descamação da pele, mucosites e mielodepressão (RODRIGUES; MARTIN; MORAIS, 2016). Efeitos tardios: são efeitos que podem ser duradouros ou permanentes e, geralmente, aparecem em até 6 meses após o tratamento. Os tecidos mais sensíveis incluem os pulmões, rins, testículos e ovários (RODRIGUES; MARTIN; MORAIS, 2016). Quando a dose de tolerância dos tecidos normais é ultrapassada, podem ocorrer efeitos que se manifestam por meio de atrofias, fibroses e linfodema (CAMARGO, 2015). 6. Conclusão Ao longo desta lição, vimos um pouco sobre a história da radioterapia e os principais eventos que contribuíram para sua evolução. Descrevemos as indicações da radioterapia, que pode ser usada como um tratamento isolado ou em combinações com outros métodos (quimioterapia e/ou cirurgias). Vimos também que o tratamento de radioterapia pode ser realizado de duas formas: teleterapia e braquiterapia. E destacamos que o uso terapêutico da radioterapia envolve uma série de cuidados que garantem a sua eficiência, como o planejamento do tratamento e a prescrição da dose para reduzir os danos nos tecidos normais. Esperamos também que tenha ficado claro para você que a radioterapia pode causar alguns efeitos adversos. No entanto, esses efeitos dependem de uma série de fatores relacionados à dose, à localização do tumor e ao estado de saúde do paciente. Vale a pena assistir! O Dr. João Victor Salvajokk é radio- oncologista e explica sobre os possíveis efeitos colaterais da radioterapia: Hcor | Conheça os efeitos colaterais da radioHcor | Conheça os efeitos colaterais da radio…… https://www.youtube.com/watch?v=4izfB76V68Y Chegamos ao final de mais uma lição e todo esse processo tem sido fundamental para a construção do seu conhecimento. Acredite, todo esse caminho fará de você um excelente profissional da saúde. Até a próxima! 7. Referências CAMARGO, R. Radioterapia e medicina nuclear: conceitos, instrumentação, protocolos, tipos de exames e tratamentos. 1. ed. São Paulo: Érica, 2015. CHOJNIAK, M. M.; ERWENNE, C. M. Braquiterapia com Cobalto 60 para o tratamento do melanoma da úvea: análise dos fatores prognósticos para melhor resposta local. Arq. Bras. Oftalmol., v. 65, p. 199-206, 2002. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/abo/v65n2/9552.pdf. GOVINDAN, R.; MORGENSZTERN, D. Oncologia. 3. ed. Rio de janeiro: Thieme Revinter Publicações, 2017. GUIMARÃES, M. D.; CHOJNIAK, R. Oncologia. 1. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. GUNDERMAN, R. B. Fundamentos de Radiologia: apresentação clínica, fisiopatologia, técnicas de imagem. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. MALZYNER, A.; CAPONERO, R. Câncer e prevenção. 1. ed. São Paulo: MG Editores, 2013. MEDRADO, L. Carcinogênese: desenvolvimento, diagnóstico e tratamento das neoplasias. 1. ed. São Paulo: Érica, 2015. MOURÃO, A. P.; OLIVEIRA, F. A. Fundamentos de radiologia e imagem. São Caetano do Sul: Difusão, 2009. https://www.scielo.br/pdf/abo/v65n2/9552.pdf. RODRIGUES, A. B.; MARTIN, L. G. R.; MORAES, M. W. Oncologia multiprofissional: bases para assistência. Barueri: Manole, 2016. TEOH, M. et al. Volumetric modulated ard therapy: a review of current literature anda clinical use in pratice. The British Journal of Rafiology, v. 84, p. 967-996, 2011. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3473700/pdf/ bjr-84-967.pdf. WHITE, S. C.; PHAROAH, M. J. Radiologia oral: princípios e interpretação. 7. ed. Rio de Janeiro, RJ: Elsevier, 2015. YouTube. (2017) Hcor. Conheça os efeitos colaterais da rapioterapia. 3min27. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=4izfB76V68Y. Parabéns, esta aula foi concluída! O que achou do conteúdo estudado? Péssimo Ruim Normal Bom Excelente https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3473700/pdf/bjr-84-967.pdf. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3473700/pdf/bjr-84-967.pdf. https://www.youtube.com/watch?v=4izfB76V68Y Mínimo de caracteres: 0/150 Deixe aqui seu comentário Enviar
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