Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE AULA 6 Profª Mariana Andreotti Dias 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, falaremos sobre um dos assuntos mais importantes para a perspectiva do meio ambiente e sustentabilidade: as conferências mundiais. É de suma importância para qualquer ser humano a consciência ambiental e a compreensão das questões políticas em torno desses eventos internacionais. Ao abordar a questão ambiental contemporânea e sua dimensão política, analisaremos as grandes conferências mundiais sobre o meio ambiente e desenvolvimento; as convenções sobre a biodiversidade e o clima, e a agenda 21. Terminaremos com uma apresentação da educação ambiental. Almejamos, como objetivo geral, evidenciar a trajetória da questão ambiental e a discussão na contemporaneidade assim como a dimensão política que a envolve. Especificamente, estudaremos: • Os principais desdobramentos e decisões tomadas na Conferência de Estocolmo 1972, Eco 92, Rio+10 (de 2002) e a Rio+20 (de 2012). • A biodiversidade como contribuição para o discurso em pautas políticas; • O estabelecimento de compromissos e obrigações para o controle das alterações climáticas. • A utopia ou realidade sobre os padrões de desenvolvimento no mundo. • A educação ambiental como forma de conscientizar a sociedade. TEMA 1 – A ORIGEM DOS MOVIMENTOS AMBIENTALISTAS A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Humano, realizada em 1972, em Estocolmo, representa um ponto-chave para a questão ambiental. Ela reuniu diversos cientistas de todas as áreas do conhecimento e de todas as partes do mundo, além de políticos, líderes de estado e ambientalistas para debater sobre os rumos do planeta no que concerne ao meio ambiente. No encontro, a relação existente entre a economia e o meio ambiente foi amplamente debatida, de modo que a dimensão ambiental e o uso dos recursos naturais passaram a ser tratados como condicionadores e limitadores do modelo tradicional de crescimento econômico (Mendonça; Dias, 2019). 3 Além disso, muitos debates foram travados, como a insatisfação dos países em desenvolvimento com o discurso proposto de “não crescimento” (no growth, em inglês), atestando a concordância da exploração de seus recursos naturais por empresas multinacionais com sede em países desenvolvidos. Com isso, registrou-se, no relatório final, a prioridade das nações menos abastadas de buscar o desenvolvimento humano. Contudo, também fora atestada a necessidade de inserir em suas estratégias de desenvolvimento a questão ambiental, de maneira a não cometer os mesmos equívocos dos países ricos em relação a suas áreas naturais (Mendonça; Dias, 2019). Ao fim da conferência, foi publicada a Declaração da ONU (Organização das Nações Unidas) quanto ao ambiente humano, reunindo os resultados dos debates travados em Estocolmo em vinte e seis princípios básicos para a preservação e conservação do meio ambiente. Um dos mais importantes resultados diretos da Conferência de 1972 foi a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), com o intuito de financiar programas e iniciativas voltadas ao meio ambiente. Esse programa da ONU passou a desempenhar uma liderança global enquanto autoridade ambiental (Mendonça e Dias, 2019). Vinte anos após a Conferência de Estocolmo ter sido realizada, em 1992, na cidade do Rio de Janeiro, uma nova reunião mundial para a discussão da questão ambiental foi promovida pelas ONU. Ela se constituiu na Primeira Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Também conhecida como Cúpula da Terra ou Eco-92, contou com a presença de 108 chefes de estado e promoveu discussões sobre temas ambientais mais específicos tais como a biodiversidade e as mudanças climáticas (ONU, 1992; citado por Mendonça; Dias, 2019). Nessa conferência, o termo Desenvolvimento Sustentável passa a ser mais usual, estando presente na lista dos princípios publicados na Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Destaca-se nesse estágio uma maior responsabilidade incumbida aos países desenvolvidos frente à expressiva degradação ambiental mundial, incitando a necessidade de compensar tais problemas por meio da criação de programas ambientais. Entretanto, foi dada a prioridade a programas voltados a atender os países mais pobres e mais ambientalmente vulneráveis (como na 4 África), assim como uma atenção especial à erradicação da pobreza (Mendonça; Dias, 2019). Também é destacada a atitude dos Estados Unidos nos debates, tendo em vista a posição defensiva que o país assumiu diante das acusações de nefasta atuação ambiental. Além do discurso prioritário em defesa da manutenção de políticas industriais e econômicas, os americanos mostraram uma atitude paradoxal durante a conferência já que, à época, eram o país mais poluidor do mundo e, ao mesmo temo, o que mais apoiava os programas ambientais (Mendonça; Dias, 2019). Ao fim da conferência, dentre as proposições e encaminhamentos firmados, estão: a criação da Agenda 21, a Convenção sobre Biodiversidade, a Convenção do Clima, o Acordo sobre Desertificação (que prevê a cooperação para lutar contra o avanço dos desertos e a melhora das políticas hídricas) e a Declaração de Princípios sobre Florestas (que apresenta uma série de propostas acerca do manejo florestal, incentivos à implantação de sistemas de certificação florestal sustentável e compromissos com o reflorestamento (Mendonça; Dias, 2019). No ano de 2002, a Conferência Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento acontece apresentando a solidez da temática ambiental, desta vez denominada de Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (CDMS), na cidade de Johannesburgo, África do Sul, sendo também conhecida como Rio+10. (Mendonça; Dias, 2019). Com o agravamento dos problemas ambientais gerais, em todo o mundo, especialmente no contexto da globalização, os chefes de estado se reúnem em uma nova conferência na cidade do Rio de Janeiro, para discutir os rumos do desenvolvimento e sua relação com o meio ambiente. Foi na Conferência das Nações Unidas para Desenvolvimento Sustentável – Rio+20, a quarta grande reunião de representantes de quase todos os países do mundo. As conferências atestam o fato de que a questão ambiental se tornou uma das mais importantes questões políticas contemporâneas (Mendonça; Dias, 2019). No centro dos debates desta nova conferência se colocava o paradoxo da economia verde versus o desenvolvimento sustentável. O documento final elaborado pelos participantes de todo o mundo foi intitulado “O Futuro que Queremos” (ONU, 2012 citado por Mendonça; Dias, 2019). 5 A Rio+20 ainda se distinguiu do evento anterior por possuir um caráter reavaliativo e não de cúpula, algo que torna flexível a presença dos chefes de estado, o que culminou, por exemplo, na ausência de chefes de importantes estados do capitalismo moderno, como o então presidente norte-americano Barack Obama e a chanceler alemã Angela Merkel. TEMA 2 – A CONVENÇÃO DA BIODIVERSIDADE Um dos principais desdobramentos da Eco 92, já mencionado anteriormente, foi a organização da Convenção da Diversidade Biológica ou Convenção da Biodiversidade (CDB). A CDB contribuiu com um documento firmado por 168 países. Como objetivos principais: a conservação da biodiversidade, o uso sustentável de seus elementos constituintes, o usufruto justo e igualitário dos benefícios provenientes de recursos genéticos (Mendonça; Dias, 2019). A cada dois anos é realizada uma conferência entre as partes, denominada COP-MOP (Conference of Parties – Meeting of Parties), que tem o intuito de discutir a questão ambiental periodicamente. O Brasil já sediou uma delas, em 2006, em Curitiba (PR). Dentre alguns aspectos da CDB, ressalta-se a ampla distinção entre países industrializadose em desenvolvimento, presente ao longo do texto. O documento propõe ainda privatizar os dois lados do processo, propondo que os recursos genéticos não mais sejam patrimônios da humanidade, e sim, objetos da soberania de cada país individualizado, de modo que o acesso e exploração desses seja compensado com a transferência de tecnologia (Mendonça; Dias, 2019). Segundo Assad (2000), essa condição de uso dos recursos genéticos propostos pela CDB é primordial para garantir o desenvolvimento científico e tecnológico dos países em desenvolvimento, mas há fortes clamores contrários a essa ideia. Mendonça e Dias (2019, p. 222-223) apontam que a CDB incita os países a manterem ou criarem instrumentos que permitam a conservação da biodiversidade in situ e ex situ. A conservação in situ define-se como a ação de conservar a diversidade biológica em suas comunidades naturais, ou seja, em seus 6 próprios ecossistemas, sendo as Unidades de Conservação, em seus variados formatos, seu maior exemplo. A conservação ex situ, por outro lado, envolve a conservação de elementos da diversidade biológica fora de seus habitats, tais como jardins botânicos, zoológicos, entre outros. Analisando a influência da CDB na política brasileira, Assad (2000) aponta a criação das Reservas Particulares do Patrimônio Nacional (RPPN) como uma grande incentivadora e agente expansora das áreas protegidas no Brasil. Segundo a autora, essa designação, criada em 1996: têm por finalidade propiciar a preservação em áreas específicas, de propriedade privada, que apresentem paisagens de grande beleza, que sejam significativas para a proteção da diversidade ou que reúnam condições que justifiquem ações de recuperação ambiental (Assad, 2000; citada por Mendonça; Dias, 2019, p. 223) Para Prates e Irving (2015; citados por Mendonça; Dias, 2019, p. 223), do ponto de vista legal, o Brasil tem criado instrumentos suficientes para garantir a manutenção de sua biodiversidade, conforme atestado e ratificado pela CDB. Entre os instrumentos brasileiros, destaca-se o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), que se mostra como um dos sistemas de conservação mais bem elaborados do planeta, aliando proteção e utilização dos recursos naturais presentes. Contudo, os autores atestam a real necessidade de uma maior inserção da sociedade nesta discussão. A integração entre as políticas públicas brasileiras e a sociedade como um todo acaba por tornar-se o maior desafio do país no âmbito da conservação da biodiversidade. TEMA 3 – A CONVENÇÃO DO CLIMA A criação da Convenção do Clima foi outro importante resultado da Eco 92, e entrou em vigor em março de 1994. No início daquela década, também foi criado o IPCC (International Panel on Climate Change), instituição que aglutina a produção científica acerca das mudanças climáticas e embasa as políticas globais visando a contenção do aquecimento climático do planeta e suas repercussões (Mendonça; Dias, 2019). As mudanças climáticas sempre ocorreram na superfície da Terra. Elas tornaram-se tema de alta relevância na atualidade em função de 7 catastróficas repercussões de mudanças que poderão ocorrer neste século. Todavia, três perspectivas estão na base das discussões sobre o tema (Mendonça; Dias, 2019, p. 224): 1. As temperaturas vão aumentar entre 2 °C a 4,5 °C neste século, e a principal causa são as atividades humanas (visão do IPCC). 2. As temperaturas do planeta tendem ao resfriamento, e seu controle está diretamente ligado à natureza do planeta e ao processo de radiação sol- terra-espaço (visão dos negacionistas ou céticos). 3. Há muita incerteza sobre o futuro do clima do planeta e, mesmo havendo forte influência humana no processo, a natureza controla essa dinâmica e o futuro ainda é marcado por incertezas (visão dos críticos). Os futuros catastróficos construídos com uma roupagem científica, notadamente aqueles do IPCC, apontam para condições de vida extremamente difíceis no planeta especialmente para as populações pobres. Além do aquecimento global, e relacionado a ele, as paisagens seriam marcadas por alteração profunda nos regimes pluviais e hídricos; as inundações, secas e tempestades irão se acentuar, certas doenças comuns em ambientes mais aquecidos irão se proliferar, haverá migrações em massa devido à elevação do nível dos mares etc. As perspectivas veiculadas pelos documentos e informações do IPCC apresentam, em geral, situações e cenários preocupantes para o futuro do planeta (Mendonça; Dias, 2019). Porém, discussões acerca das mudanças climáticas já não constituíam tema novo em 1975; Wallace Broecker expôs, pela primeira vez, a ideia de aquecimento global em seu artigo intitulado “Climatic Change: Are We on the Brink of a Pronounced Global Warming?”, (“Mudança climática: estamos à beira de um aquecimento global pronunciado?”) apontando a influência das emissões de CO₂ na atmosfera para o clima do planeta. Contudo, apenas em 1992 é oficialmente reconhecida a existência desse problema (Mendonça; Dias, 2019). O objetivo principal do tratado é minimizar a concentração de gases de efeito estufa, prevenindo interferências do homem no sistema climático global e atuando na prevenção de suas repercussões sobre as sociedades humanas. São listados ainda cinco princípios básicos que norteiam as ações da convenção, entre eles, ressaltam-se: a diferenciação de responsabilidade entre países desenvolvidos e em desenvolvimento e a necessidade da 8 promoção de um sistema econômico favorável ao crescimento e desenvolvimento econômico dos países emergentes, propiciando assim melhores condições para enfrentar os problemas oriundos das mudanças no clima (Mendonça; Dias, 2019). Assim como realizado na CDB, anualmente ocorre a Conferência das Partes (COP) sobre a Convenção do Clima, sendo que a primeira delas foi em 1995, na cidade de Berlim. Durante uma dessas COP, realizada em 1997, em Kyoto (Japão), foi criado um dos primeiros e mais importantes protocolos relacionados às mudanças no clima, o Protocolo de Kyoto. Esse documento propunha uma série de medidas visando reduzir, no período entre 2005 e 2012, os níveis e emissões de gases de efeito estufa em 5,2% quando comparado aos valores de 1990 (Mendonça; Dias, 2019). O protocolo em si aponta três mecanismos para a redução de emissões, que são: execução conjunta (joint implementation), comércio de emissões (emissions trade) e mecanismo de desenvolvimento limpo (clean development mechanism). O Protocolo de Kyoto teve sua validade até o ano 2012. Embora a maioria de seus objetivos não tenha sido atingida (as emissões aumentaram em 16,2% entre 2005 e 2012), foi notável a preocupação internacional com a questão climática abrindo portas para novos projetos e oportunidades (ONU, 2016; citado por Mendonça; Dias, 2019). TEMA 4 – A AGENDA 21: UTOPIA OU REALIDADE? A Agenda 21, ou Plano 21, foi um plano de ações das Nações Unidas criado e aprovado ao longo da Eco 92 com o intuito de garantir o desenvolvimento sustentável pleno no planeta ao longo do século XXI. O documento composto por quatro seções e 40 capítulos aborda as dimensões sociais, econômicas, ambientais e conservacionistas do desenvolvimento sustentável, elencando: a erradicação da pobreza, mudança nos padrões de consumo, papel da mulher, juventude e conservação e gerenciamento de recursos ambientais (Mendonça; Dias, 2019). A última seção é designada a apresentar formas de implementação a fim de alcançar os objetivos anteriormente citados, apontando o caminho em meio aos mecanismos financeiros existentes e previstos. Segundo Malheiros et al. (2008; citado por Mendonça; Dias, 2019, p. 229), a Agenda 21 Brasileira, concluída em 2002, é entendida como o mais 9 importante documento no que tange “a formulação de políticas focadas no desenvolvimento sustentáveldo país, incorporando os objetivos traçados pela Agenda 21 Global e contextualizando-os para o Brasil”. Em documento publicado em 2004, o Ministério do Meio Ambiente do Brasil aponta as chamadas Ações Prioritárias da Agenda 21 Brasileira, norteando as ações do governo de maneira objetiva e sucinta. Esse trabalho contextualiza a Agenda 21 e apresenta meios de execução no Brasil discorrendo sobre os avanços obtidos entre a Rio 92 e a Rio+10, contudo seu foco maior está na plataforma de ações prioritárias do governo na qual são dispostos os 21 objetivos acordados para a realidade brasileira. Segundo Mendonça e Dias (2019, p. 229), são eles: • Produção e consumo sustentáveis contra a cultura do desperdício; • Eco eficiência e responsabilidade social das empresas; • Retomada do planejamento estratégico, infraestrutura e integração regional; • Energia renovável e biomassa; • Informação e conhecimento para o desenvolvimento sustentável; • Educação permanente para o trabalho e a vida; • Promoção da saúde e contenção de doenças, democratizando o SUS; • Inclusão social e distribuição de renda; • Universalização do saneamento ambiental protegendo o ambiente e a saúde; • Gestão do espaço urbano e da autoridade metropolitana; • Desenvolvimento sustentável do Brasil rural; • Promoção da agricultura sustentável; • Promoção da Agenda 21 local e do desenvolvimento integrado e sustentável; • Implantação do transporte de massa e da mobilidade sustentável; • Preservação da quantidade e melhoria da qualidade da água nas bacias hidrográficas; • Política florestal, controle do desmatamento e corredores de biodiversidade; • Descentralização e pacto federativo: parcerias, consórcios e o poder local; • Modernização do Estado: gestão ambiental e instrumentos econômicos; • Relações internacionais e governança global para o desenvolvimento sustentável; • Cultura cívica e novas identidades na sociedade da comunicação; • Pedagogia da sustentabilidade: ética e solidariedade. Apesar do sucesso obtido com a elaboração da Agenda 21 Brasileira, os autores ressaltam as dificuldades encontradas na execução das mesmas em cidades do país, configurando a implantação das Agendas 21 Locais. Dados coletados na pesquisa com as Agendas Locais, demonstram que a realidade brasileira é bastante distinta para cada região do país, de modo que 10 as regiões norte e nordeste situam-se como aquelas com maior percentual de municípios que iniciaram as Agendas 21 Locais. Tal fato chama a atenção porque essas duas regiões são as que historicamente possuem mais fragilidades socioeconômicas. A região Centro-Oeste vem em seguida, com um total de 18,4% de municípios com Agendas 21 Locais iniciadas, contudo, é também a região com maior índice de municípios que desconhecem o conceito, com 12,4%. As regiões Sul e Sudeste, historicamente as mais industrializadas e de maior concentração de capital do país, apresentam os maiores percentuais de municípios que não iniciaram o processo de elaboração de Agenda 21, com 77,5% e 75,7%, respectivamente, fato preocupante ao levarmos em conta que são as regiões do país com o maior contingente populacional e onde a degradação ambiental é mais antiga e mais flagrante (Mendonça; Dias, 2019). Os dados evidenciam a triste realidade do Brasil em relação à implementação dessa política que almeja a prática da sustentabilidade. Apesar do processo em escala nacional ter sido deflagrado há anos, e ter seguido a ideia global de participação popular, no âmbito mais local observa-se uma grande dificuldade na execução dos objetivos citados, sobretudo na aplicação como o grande problema da Agenda 21 no Brasil. TEMA 5 – EDUCAÇÃO AMBIENTAL Em meio à realização de grandes reuniões e conferências mundiais, nacionais e locais, da formulação de leis e políticas voltadas à preservação e conservação ambiental, da compreensão dos riscos ambientais em várias escalas e do envolvimento da sociedade, torna-se fundamental rever o triste e absurdo quadro da degradação ambiental de nosso tempo (Mendonça; Dias, 2019). Anteriormente, falamos em apostar em processos de sensibilização e de conscientização da população para a questão ambiental, movimento que se constitui como urgente no mundo contemporâneo. A maneira como o ser humano, enquanto indivíduo e sociedade, percebe e convive com a natureza passa por mudanças gradativas, de modo que, hoje, a humanidade não pode mais se ver como o centro do planeta e sim como apenas uma parte de um sistema mais amplo (Mendonça; Dias, 2019). 11 Nesse sentido, a educação ambiental surge como uma estratégia chave para o homem conhecer e reconhecer a si mesmo e ao ambiente do qual é parte. Desde Rousseau (1712-1778), para quem “a natureza é o nosso primeiro mestre”, até os dias de hoje, encontramos inúmeras correntes pedagógicas concordantes com tal prerrogativa, indicando o meio ambiente como fonte educativa e caminho de aprendizagem (Novo, 1996; citado por Mendonça; Dias, 2019, p. 233). A educação ambiental, tema recorrente nas conferências da ONU, obteve apenas no ano de 1968 sua aceitação oficial quando da publicação do documento “Estudo Comparativo sobre o Meio Ambiente na Escola”, firmado por 79 países. Para Czapiski (1998), este documento aponta conceitos primordiais para a educação ambiental: indicando que o estudo do meio ambiente começa pelo entorno imediato e progride gradativamente para os ambientes mais distantes, além de apontar o ambiente não apenas como o entorno físico do ser humano, mas também compreendendo aspectos sociais, culturais e políticos, dentre outros (Mendonça; Dias, 2019). Quatro anos após o lançamento desse documento, em 1972, o papel da educação ambiental volta a ser ressaltado na Declaração sobre o Meio Ambiente Humano (ONU, 1972; citado por Mendonça e Dias, 2019, p. 234), fruto da Conferência de Estocolmo. Dentre os 26 princípios básicos enumerados ao fim desse evento, evidenciamos o de número 19, que trata da educação ambiental: é indispensável um esforço para a educação em questões ambientais, dirigida tanto às gerações jovens como aos adultos e que preste a devida atenção ao setor da população menos privilegiada, para fundamentar as bases de uma opinião pública bem informada, e de uma conduta dos indivíduos, das empresas e das coletividades inspirada no sentido de sua responsabilidade sobre a proteção e melhoramento do meio ambiente em toda sua dimensão humana. É igualmente essencial que os meios de comunicação de massas evitem contribuir para a deterioração do meio ambiente humano e, ao contrário, difundam informação de caráter educativo sobre a necessidade de protegê-lo e melhorá-lo, a fim de que o homem possa desenvolver-se em todos os aspectos. (ONU, 1972; citado por Mendonça; Dias, 2019, p. 234) Passados três anos da Conferência de Estocolmo, em 1975, é lançado pela ONU, com enfoque interdisciplinar, o Programa Internacional de Educação Ambiental (PIEA), que atesta a necessidade de aproximação entre a questão ambiental e o ensino formal. Esse programa serviu como 12 embasamento para ações coordenadas no âmbito educativo por todo o mundo até os dias de hoje (Mendonça; Dias, 2019). Fruto inicial do PIEA, a Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental ocorrida em 1977 em Tbilisi, na Geórgia (então parte da União Soviética), é considerada o marco mais importante para a educação ambiental (Lima, 2008). O evento se propôs a tratar os principais problemas ambientais das sociedades contemporâneas e o comprometimento da educação enquanto ferramenta preventiva e paliativa para esses problemas (Mendonça; Dias, 2019). O conceito de educação ambiental: um processo participativo contínuo e dinâmico, cuja pretensão é despertar nos indivíduos uma consciência sobre a necessidade de se alcançar um desenvolvimento mais próximo possível de sersustentável, foi aceito de forma ampla (Mendonça; Dias, 2019). No Brasil, a educação ambiental é citada legalmente pela primeira vez em 1973, quando da criação da Secretária Especial do Meio Ambiente (SEMA), atrelada à presidência da República. Contudo, segundo Carvalho (2008), somente a partir dos anos 1980 – sobretudo em 1984, com a criação do Programa Nacional de Educação Ambiental (PRONEA) – é que são registrados avanços nas políticas que envolvem a educação ambiental, evidenciada como um direito de todos e dever do estado brasileiro, de acordo com a Constituição Brasileira de 1988 (Mendonça; Dias, 2019). Entende-se que os processos educacionais no âmbito do meio ambiente têm como mote a formação de cidadãos conscientes e críticos de seu papel na sociedade. Os problemas enfrentados na atualidade não são frutos de ações individuais isoladas, mas sim resultantes de um processo produtivo concentrador de riquezas e disseminador da pobreza, característica primeira de uma sociedade industrial capitalista excludente (Mendonça; Dias, 2019). A Educação Ambiental desempenha, nesse contexto, importante papel que ajuda a despertar a consciência socioambiental de crianças, jovens e adultos, educando promovendo amplas reflexões acerca de sua sociedade e do meio no qual ela está inserida e do qual faz parte (Mendonça; Dias, 2019). De certa maneira, estamos a assistir a formação de uma sociedade utópica, que cria políticas de sustentabilidade ambiental, de tolerância zero para com o desmatamento, de gestão de bacias hidrográficas, de delimitação 13 de áreas de preservação, de gestão ambiental e preservação consciente etc., ou seja, discursos alicerçados no bem-estar social e no bem comum. Contudo, o bem comum torna-se completamente comprometido quando se faz necessária a distribuição da riqueza (Mendonça; Dias, 2019). NA PRÁTICA Vamos realizar uma reflexão sobre o documentário A cúpula da terra – Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (1992). Saiba mais O documentário A cúpula da terra está disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=hraPn_XFgg8>. Acesso em: 21 nov. 2019. Após assistir ao filme, responda e reflita sobre essas questões: 1. Qual o principal objetivo da conferência? 2. Quais os principais pontos levantados na Conferência “A Cúpula da Terra”? 3. O secretário da ONU Boutros Boutros-Ghali faz um apelo no início do seu discurso para que aconteça a mobilização dos Estados. Reflita sobre tal apelo e explique por que razão o secretário o faz. FINALIZANDO Tivemos a oportunidade de debater, esclarecer, dialogar e nos envolver com a questão ambiental. Nesta aula, as questões contemporâneas que envolvem a temática ambiental e principalmente o seu espectro político foram exemplificados por meio das conferências da ONU. Destacaram-se em nossas discussões os compromissos acatados nesses eventos e os documentos que foram elaborados e serviram de embasamento para políticas públicas nos diversos países membros da ONU. Discutiu-se também as Convenções da Biodiversidade, do Clima e a Agenda 21, todas essas ferramentas organizadas pela ONU têm o intuito de aprofundar a participação dos países e o seu comprometimento para com a questão ambiental. Os debates envolvendo o futuro das sociedades humanas são sempre travados nessas convenções, e, portanto, fazem da educação ambiental uma ferramenta importante para garantir que as próximas gerações se atentem para a realidade ambiental de maneira crítica e consciente. 14 REFERÊNCIAS A CÚPULA da terra – Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (1992). ONU Brasil. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=hraPn_XFgg8>. Acesso em: 21 nov. 2019. AGENDA 21 brasileira – ações prioritárias. Ministério do Meio Ambiente. 2004. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/responsabilidade- socioambiental/agenda-21/agenda-21-brasileira>. Acesso em: 21 nov. 2019. ASSAD, A. L. D. Biodiversidade: institucionalização e programas governamentais no Brasil. Tese (Doutorado em Geociências) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2000. MALHEIROS, T. F.; PHILIPPI JUNIOR, A.; COUTINHO, S. M. V. Agenda 21 nacional e indicadores de desenvolvimento sustentável: contexto brasileiro. Saúde e Sociedade, v. 17, n. 1, p. 7-20, 2008. MENDONÇA, F. O estudo do clima urbano no brasil: evolução, tendências e desafios. In: MONTEIRO, C. A. F.; MENDONÇA, F. (Org.). Clima Urbano. São Paulo: Editora Contexto, 2003. _____. Riscos, vulnerabilidades e resiliência socioambientais urbanas: inovações na análise geográfica. Revista da ANPEGE, v. 7, n. 1, número especial, p. 111-118, 2011. MENDONÇA F.; DIAS, M. A. Meio ambiente e sustentabilidade. Editora InterSaberes, 2019. NOVO, M. La Educación Ambiental: Bases Éticas, Conceptuales y metodológicas. Madrid: Editorial Universitas, 1996. ONU – ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração do Rio sobre meio ambiente e desenvolvimento. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ea/v6n15/v6n15a13.pdf>. Acesso em: 21 nov. 2019. _____. Declaração da Conferência da ONU no Ambiente Humano. Estocolmo, 1972. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/acao/meio- ambiente/>. Acesso em: 21 nov. 2019. 15 _____. O futuro que queremos. Disponível em: <http://www2.mma.gov.br/port/conama/processos/61AA3835/O-Futuro-que- queremos1.pdf>. Acesso em: 21 nov. 2019. _____. Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/agencia/onumeioambiente/>. Acesso em: 21 nov. 2019. PRATES, A. P. L.; IRVING, M. de A. Conservação da biodiversidade e políticas públicas para as áreas protegidas no Brasil: desafios e tendências da origem da CDB às metas de Aichi. Revista Brasileira de Políticas Públicas. v. 5, n. 1, 2015.
Compartilhar